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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTE E CULTURA PROF. MILTON SANTOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

MATÉRIA: ECONOMIA POLÍTICA DO DESENVOLVIMENTO

PROFESSORA ELSA KRAYCHETE

DATA: 06/07/2017

ALUNO: EDGARD DA COSTA FREITAS NETO

RESENHA:

MÉSZÁROS, István. O poder da ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004, Capítulo
2

István Mészáros (n. 1930) é um filósofo marxista de origem húngara. Aluno de de


György Lukács, fugiu da Hungria na sequência da revolução húngara e a intervenção
soviética de 1956, estabelecendo-se primeiro na Itália e na sequência na Inglaterra, onde
ainda reside. É professor emérito da Universidade de Sussex.

Sua obra “O poder da Ideologia” foi publicada em 1989 e busca, ao menos


nominalmente, realizar uma crítica sobre a natureza da ideologia e seus reflexos na sociedade
contemporânea. O capítulo 2 busca estabelecer os parâmetros socioeconômicos do discurso
ideológico. O capítulo é dividido em quatro partes, que analisam o discurso “pós-ideológico”
do pós-guerra, a prematura teoria de J. K. Galbraith a respeito do fim da escassez, o que
chama de falácia da tecnologia como solução para os problemas sociais e a cura do
subdesenvolvimento pela modernização.

Na primeira parte do capítulo o autor demonstra como o taylorismo se apresenta como


um “ancestral ideológico” do discurso antiideológico que, segundo ele, vem prevalecendo
após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Partindo de uma premissa estabelecida
anteriormente no Capítulo 1 (1.4.1), de que o discurso que proclama o fim das ideologias é
em si mesmo ideológico Mészáros afirma que o discurso da “administração científica” de
William Taylor tinham como base a manutenção das relações de classe e poder, apenas
mascaradas e suavizadas com uma retórica científica.

~1~
Na sequência Mészáros apresenta uma invectiva contra a ideia apresentada pelo
cientista político canadense de viés marxista Crawford Brough Macpherson (1911-1987) de
que a a ordem econômica aproximava-se de uma “vitória sobre a escassez”, advertindo que
sem o efetivo controle social pelos produtores dos meios de produção esta promessa é
ilusória. Chama a atenção também para o fato de que as legiões de trabalhadores
desempregados, numa sociedade capitalista, não têm e não podem ter condições para a
efetiva satisfação de suas demandas individuais.

O terceiro tópico ataca a promessa “pós-ideológica” de que as transformações na


técnica fariam com que os problemas sociais fossem superados. Argumenta que os autores
que sustentam tal tese, como o J. K. Galbraith (1908-2006) minimizam o problema concreto
do desemprego e da pobreza, projetando uma realidade específica (norte-americana) como se
fosse geral. O argumento de Galbraith de uma “sociedade da opulência” (affluent society) e o
“poder compensatório” (countervailing power) como garantia para uma expansão segura da
economia, cuja ameaça estava na expansão é atacado, com a demonstração de que 1)
Galbraith deliberadamente exclui as alternativas socialistas; 2) que a racionalização da
divergência entre direita e esquerda residia mais sobre uma questão semântica (com o uso do
predicado “moderno” em substituição do que na superação das contradições capitalistas e 3)
que a sociedade industrial teria absorvido o movimento trabalhista

Por fim, Mészáros ataca a ideia de que a “modernização” traria em si uma “cura” para
o “subdesenvolvimento”. O autor argumenta que o paradigma de Galbraith invertia a ordem
do mundo real: “O que era, de fato, uma ‘ilha’ não era o mundo da pobreza, mas o da
sociedade da abundância” (p. 137), alegando que a sociedade industrial permanecia intocada
sob a máscara de “transferência de tecnologia” dos países mais avançados para os menos
avançados, deixando esses últimos com um crescente passivo social e ambiental. Em
realidade, pondera, a emancipação política do dito terceiro mundo não trouxe a
autodeterminação econômica, mas sim manteve o quadro de dependência estrutural. Assim,
ele argumenta o sonho Taylorista de que o excedente acabaria por abundar ao ponto de que a
discussão sobre sua distribuição seria supérflua não se concretizou (e sob a sociedade
industrial, não se concretizará).

Da leutura do capítulo emerge que apesar da intenção declarada ser o estudo da


ideologia Mészáros joga pouca luz (ao menos nos dois primeiros capítulos) sobre a ideologia
em si e mais contra as ideologias em voga na esfera capitalista da humanidade. Essa

~2~
percepção nos parece importante pois apesar de a primeira edição do livro ter sido publicada
em 1989 pouca ou nenhuma atenção foi dada ao poder da ideologia no âmbito da influência
da União Soviética e seus satélites (que em menos de dois anos entrariam em colapso). Ora,
estavam em curso em 1989 tanto a Glasnost quanto a Perestroika. Como eram os parâmetros
socioeconômicos da ideologia soviética vis a vis com as da esfera capitalista?1

Obviamente Mészáros está correto quando aponta a falsidade do otimismo do


discurso “pós-ideologia” ao apontar sua natureza ideológica, ou seja, que parte de uma visão
incompleta do presente para projetar um futuro deslumbrante. Isso inclui, por exemplo, a
crítica acertada à utopia de um mundo pós-escassez de Galbraith (crítica compartilhada por
pensadores liberais da Escola Austríaca, como Rothbard2, mas se revela, na omissão do outro
grande bloco de poder ideológico daquele tempo, igualmente ideológico, por exemplo, ao
rejeitar a possibilidade de um mundo pós-escassez não por ser uma impossibilidade
econômica (como sustentado por Rothbard), mas por não tal não ser possível sem o controle
dos meios de produção pelos trabalhadores (p. 122).

Da mesma forma, as invectivas do autor contra a modernização não parecem estar


inteiramente corretas. O taylorismo, enquanto método de gestão, é apenas um modo de
organização fabril, e como tal depende das condições concretas do cenário econômico em que
se insere para ter sua eficiência avaliada.3 Obviamente Mészáros a isto responderia afirmando
que a ideia de “eficiência” seria, também, ideológica. A organização eficiente dos meios de
produção, entretanto, tendo em vista o princípio da escassez, nos parece uma condição
necessária para a superação do estado de pobreza, já que este é (nos parece, novamente) o
estado natural do homem. Assim, o aumento da eficiência produtiva tem o condão de fazer
baratear os bens de consumo e produção, tornando-os acessíveis àqueles que, em outra
conjuntura histórica, nada teriam.

1
Ao contrário, Mészáros demonstra certa indulgência para a ideologia marxista, como quando alega (páginas
78/79) que se falar em “crise do marxismo” seria um absurdo, quando o problema residiria, na verdade, no modo
como setores que antes haviam aderido a um marxismo sem reservas teriam abandonado suas estratégias. O
marxismo permaneceria verdadeiro, in limine, mesmo se cada uma das teses adotadas se revelasse falsa, pois,
emulando a 11ª Tese sobre Feuerbach, a questão não seria tanto de interpretar o mundo, mas de muda-lo.
2
Cf. ROTHBARD, Murray. Man, Economy and State. 2ed. Auburn: Ludwig von Mises Institute, 2009, p.
973-988
3
À tragédia de Bhopal (1984), bem referida, poderia ser contraposta a tragédia de Chernobyl (1986), mais uma
vez, demonstrando a insuficiência do argumento construído em torno apenas de ineficiências e externalidades
percebidas no modo de organização capitalista.

~3~
Desta maneira os parâmetros socioeconômicos analisados por Mészáros são
interessantes, mas em exemplos insuficientes, para uma análise da ideologia enquanto tal,
mas apenas talvez, o da ideologia neo-Keynesiana no seu otimismo mais escancarado.

~4~

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