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DATA: 06/07/2017
RESENHA:
MÉSZÁROS, István. O poder da ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004, Capítulo
2
~1~
Na sequência Mészáros apresenta uma invectiva contra a ideia apresentada pelo
cientista político canadense de viés marxista Crawford Brough Macpherson (1911-1987) de
que a a ordem econômica aproximava-se de uma “vitória sobre a escassez”, advertindo que
sem o efetivo controle social pelos produtores dos meios de produção esta promessa é
ilusória. Chama a atenção também para o fato de que as legiões de trabalhadores
desempregados, numa sociedade capitalista, não têm e não podem ter condições para a
efetiva satisfação de suas demandas individuais.
Por fim, Mészáros ataca a ideia de que a “modernização” traria em si uma “cura” para
o “subdesenvolvimento”. O autor argumenta que o paradigma de Galbraith invertia a ordem
do mundo real: “O que era, de fato, uma ‘ilha’ não era o mundo da pobreza, mas o da
sociedade da abundância” (p. 137), alegando que a sociedade industrial permanecia intocada
sob a máscara de “transferência de tecnologia” dos países mais avançados para os menos
avançados, deixando esses últimos com um crescente passivo social e ambiental. Em
realidade, pondera, a emancipação política do dito terceiro mundo não trouxe a
autodeterminação econômica, mas sim manteve o quadro de dependência estrutural. Assim,
ele argumenta o sonho Taylorista de que o excedente acabaria por abundar ao ponto de que a
discussão sobre sua distribuição seria supérflua não se concretizou (e sob a sociedade
industrial, não se concretizará).
~2~
percepção nos parece importante pois apesar de a primeira edição do livro ter sido publicada
em 1989 pouca ou nenhuma atenção foi dada ao poder da ideologia no âmbito da influência
da União Soviética e seus satélites (que em menos de dois anos entrariam em colapso). Ora,
estavam em curso em 1989 tanto a Glasnost quanto a Perestroika. Como eram os parâmetros
socioeconômicos da ideologia soviética vis a vis com as da esfera capitalista?1
1
Ao contrário, Mészáros demonstra certa indulgência para a ideologia marxista, como quando alega (páginas
78/79) que se falar em “crise do marxismo” seria um absurdo, quando o problema residiria, na verdade, no modo
como setores que antes haviam aderido a um marxismo sem reservas teriam abandonado suas estratégias. O
marxismo permaneceria verdadeiro, in limine, mesmo se cada uma das teses adotadas se revelasse falsa, pois,
emulando a 11ª Tese sobre Feuerbach, a questão não seria tanto de interpretar o mundo, mas de muda-lo.
2
Cf. ROTHBARD, Murray. Man, Economy and State. 2ed. Auburn: Ludwig von Mises Institute, 2009, p.
973-988
3
À tragédia de Bhopal (1984), bem referida, poderia ser contraposta a tragédia de Chernobyl (1986), mais uma
vez, demonstrando a insuficiência do argumento construído em torno apenas de ineficiências e externalidades
percebidas no modo de organização capitalista.
~3~
Desta maneira os parâmetros socioeconômicos analisados por Mészáros são
interessantes, mas em exemplos insuficientes, para uma análise da ideologia enquanto tal,
mas apenas talvez, o da ideologia neo-Keynesiana no seu otimismo mais escancarado.
~4~