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A Maçonaria e a
Editorial
Maio é um mês marcado por diversas
comemorações significantes, em especial, o Dia das
Mães, em que, tradicionalmente, no segundo domingo
deste mês, as famílias reúnem-se em seus lares para
homenagear aquela que nos deu o direito à vida! O
Dia das Mães, em verdade é comemorado no dia
13, em diversas partes do mundo, sendo adotado
comercialmente no Brasil, no segundo domingo.
Tal dia se apresenta em meio a outras tantas
Esse mês já começa com uma justa
curiosidades e coincidências, se pudermos assim
homenagem a todos os trabalhadores, no primeiro dia,
tratar. Para tanto, através da matéria, de nossa autoria,
embora os “Garis” e os “Trabalhadores Rurais”, dentre
já publicada nesta Revista e em outros periódicos,
outras profissões, tenham dias específicos, em maio.
intitulada “Uma Visão Oculta do Dia 13 de Maio”,
Especificamente, no dia 13 de maio, além do convidamos a todos a uma profunda reflexão.
“Dia das Mães”, também é comemorado o “Dia da
Fraternidade Brasileira”, data em que é reservada à O temário desta edição, também, busca tratar
celebração de um dos valores mais importantes para e exaltar o hercúleo trabalho dos abolicionistas, contra
manter a união e paz numa sociedade. Criado no a desigualdade de raças. Queremos exaltar o hercúleo
período da Quaresma, no ano de 1961, na “Campanha trabalho de certos maçons, muitos negros livres, que
da Fraternidade”, pela Confederação Nacional dos se impuseram ao sistema e organizaram revoltas,
Bispos do Brasil -CNBB, por três padres, responsáveis rebeliões, criaram sociedades secretas, a exemplo
pela “Cáritas Brasileira” - uma organização humanitária dos “Caifazes”, e conseguiram minar a resistência
da Igreja Católica. escravocrata. Vale, ainda, aqui citar “A Guerra do
Paraguai, quando os negros, convocados a lutar pelo
Sendo um dos conceitos que compõe a “Trilogia Brasil, destacaram-se por sua bravura no campo de
Maçônica”, a ideia da fraternidade está baseada no batalha, ao ponto dos oficiais do Exército Brasileiro,
conceito de que todos os seres humanos são iguais a partir de então, negar-se a perseguir os escravos
e, neste sentido, devem ser tratados igualmente fugitivos.
com dignidade e respeito. Assim, a fraternidade faz
com que todos os seres humanos sejam igualados Ainda, hoje, 131 anos depois da abolição da
ao status de irmãos, devendo possuir direitos iguais, escravidão no Brasil, os negros são sub-representados
independente da orientação sexual, etnia, religião ou em diversas instituições importantes da sociedade,
classe econômica. sendo, também, as maiores vítimas do desemprego
ou do subemprego, da violência criminal e urbana.
Dentro deste escopo, o dia 13 de maio se
destaca, por ter sido, também, neste dia, em 1888,
Que se faça valer, “in totum”, a trilogia maçônica
ainda que tardiamente, proclamada a “Abolição da
– Liberdade – Igualdade – Fraternidade.
Escravatura no Brasil”, através da Lei Áurea, pondo
“fim” a um dos episódios dos mais cruéis da história
Temos um novo encontro na próxima edição!
da humanidade.
A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade
mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados,
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Maçons Negros
U
m dos capítulos memoráveis da história brasileira é referentes às origens dos escravos no Brasil, dificultando,
a relação da maçonaria com a comunidade negra. A com isso, a recuperação da identidade afro-brasileira.
instituição dos pedreiros-livres teve (e tem) grandes Barbosa, no entanto, como maçom da Loja América de São
quadros negros. Ela organizou a luta pela libertação do país Paulo, talvez tenha produzido um dos documentos mais
em diversos momentos históricos – desde fins do século XVII, percucientes do movimento abolicionista. Em 7 de julho de
quando chegou ao Brasil - e se fortaleceu institucionalmente 1868, segundo Tenório de Albuquerque, na Loja América,
ao lutar por mais de 50 anos pela libertação dos escravos. onde, também, pontificou Luiz Gama, Barbosa leu o seu
Este ano, a lei que libertou os escravos completa 131 anos Projeto de Abolição, cuja cópia foi reproduzida em suas
de existência, após ser assinada pela princesa Isabel, obras completas.
sob influência dos ministros maçons, de um Império já
Esse projeto, entre outras medidas, previa que: 1) a
enfraquecido pelo ideário republicano.
maçonaria, dali por diante, deveria lutar pela emancipação
Para se ter uma ideia, o famoso trio abolicionista do do escravo e criar meios para educá-lo para novas tarefas
século XIX - os mulatos André Rebouças, José do Patrocínio em nova sociedade, de fundo capitalista, onde o trabalho
e Luiz Gama - era composto de maçons em lojas cariocas era assalariado e não escravo; 2) todas as lojas maçônicas
e paulistas. Foram eles que fundamentaram a cultura da atuais e futuras não receberiam tal título se não adotassem
libertação dos negros através de artigos, manifestos, a luta pela emancipação dos escravos; 3) todas as lojas
atos públicos, conquista de adeptos para a causa e com deveriam criar um fundo especial para comprar alforrias de
discursos inflamados país afora. Com apoio maçônico, o trio crianças escravas, e mesmo de adultos; 4) todas as lojas
afrodescendente ligou seus nomes, definitivamente, à causa deveriam criar escolas diurnas e noturnas para a educação
da libertação negra. Essa luta contou com a participação, na
época, de quase todas as lojas maçônicas espalhadas pelo
país.
Divulgado em outras lojas, o Projeto de Abolição Todos esperavam que após 1888, o Estado
de Rui Barbosa acabou influenciando as demais unidades brasileiro iria implementar as políticas previstas pelo
maçônicas espalhadas pelo Brasil. No Amazonas, a movimento abolicionista, mas o que foi implantado diferiu
maçonaria comprou um jornal, assumiu sua direção e passou completamente do estabelecido na agenda dos maçons
a veicular a luta abolicionista através de artigos e estudos. negros. Passados 131 anos da libertação, a situação da
No Ceará, o, então, governador maçom Sátiro Dias assinou comunidade negra permanece inalterada. A agenda dos
decreto extinguindo a escravidão naquele estado, em 1884. maçons negros foi perdida, e urge reencontrá-la. Essa
Era o primeiro estado brasileiro a libertar os negros quatro agenda pedia que fossem implementadas para o ex-escravo
anos antes da Lei Áurea, que acabou sendo decretada a 13 a reforma agrária, educação integral, criação de centros de
de maio de 1888, após intenso trabalho dos abolicionistas. saúde, políticas especiais para crianças, qualificação da
mão-de-obra, desenvolvimento comunitário - reivindicações
Uma das indagações mais intrigantes, hoje, é saber
tão comuns, hoje, que parece fora de foco retomar a
por que não vingou a agenda reformista dos maçons negros
discussão dessas antigas pautas reformistas que vivem nos
e de outros abolicionistas na sociedade brasileira - isto é,
assustando.
D
urante a década de 1880, a luta pelo fim da eficácia do movimento foi tão grande que a maioria das
abolição conheceu certa radicalização de alguns cidades paulistas já haviam decretado a libertação dos
de seus setores, conformando o que viria a ser escravos negros antes da Lei Áurea de 1888.
conhecido como movimento abolicionista popular.
Apoiando as fugas em massa e as rebeliões de escravos Os Caifazes constituíram uma das vertentes mais
nas fazendas, essa vertente do movimento abolicionista radicalizadas do movimento abolicionista, aproximando-
aproximava-se das ações autônomas desenvolvidas se e apoiando as fugas dos escravos. O Movimento dos
pelos cativos, fortalecendo a luta contra a escravidão no Caifazes foi organizado por Antônio Bento de Souza e
Brasil. Castro, advogado, juiz e maçom no bojo do movimento
abolicionista paulista. Eles organizavam fugas coletivas
Após a morte em 24 de agosto de 1882 do nosso
no final do século XIX, ou “roubavam os escravos de seus
Irmão, advogado negro, Luiz Pinto da Gama, em São
senhores” para enviá-los ao quilombo do Jabaquara, na
Paulo – cujo sepultamento fora acompanhado por cerca
cidade de Santos e de lá para a província do Ceará,
de 3 mil pessoas numa cidade que, na época, tinha 46 mil
que já decretara a igualdade racial. O movimento de
habitantes – o promotor de justiça e depois juiz, o maçom
libertação dos escravos paulista surgiu com o maçom
Antônio Bento, formado pela Faculdade de Direito do
e poeta Luís Gama e, após sua morte, Antônio Bento
Largo de São Francisco de São Paulo, jurou diante do
assumiu a liderança do movimento.
túmulo de Gama em continuar sua obra abolicionista.
Para tal empreitada, ele organizou uma Um desses grupos que ganharam destaque foi
sociedade secreta chamada “Os Caifazes”, cujos o dos Caifazes. Formado inicialmente por Antônio Bento
membros eram recrutados em todas as camadas sociais de Souza e Castro (1843-1898), o grupo expandiu-se
e nas três principais lojas maçônicas de São Paulo:
“América”, “Piratininga” e “Amizade”. Essa sociedade
retirava, a força, das fazendas paulistas, os escravos
e os encaminhava para o Quilombo de Jabaquara, em
Santos, ou, então, para quilombos do Rio de Janeiro
(Castellani: 1998).
“Eu conheço um grito de angústia, e eu posso escrever este grito de angústia, e eu posso
berrar este grito de angústia, quer ouvir? Sou um negro, senhor, sou um.....negro!”
C
om estas palavras Oswaldo de Camargo, branco, “assumiu” o abolicionismo, levando o Exército, nos
apresentava a dor de ser negro no Brasil há mais anos 80, a se negar a perseguir o escravo fugitivo.
de um século.
Com isso, as classes médias inseriram em suas
Humanos seres trazidos para o Brasil como mão aspirações políticas, o Abolicionismo. Os comerciantes e
de obra escrava, o que era uma “mercadoria” altamente grupos ligados à indústria viam na abolição a possibilidade
lucrativa para os grupos mercantis e para o Estado de ampliação dos mercados consumidores. A aristocracia
metropolitano, esses seres humanos eram tidos pela infame cafeeira do Oeste Paulista, também, tornou-se simpática
ideia de serem inferiores, por serem negros. Infelizmente, ao movimento, devido ao trabalho escravo ser de baixa
essa ideia, ainda, persiste, veladamente, em setores mais produtividade e faltar dinâmica, além de dificultar a
resistentes da nossa sociedade, por uma minoria. imigração.
Sabe-se que sua liberdade não foi um ato de bondade Tomava-se consciência de que o trabalho escravo
da elite política imperial. Muitos pagaram com a própria vida era extremamente prejudicial para a economia de um país,
pela abolição da escravatura. E desde a época colonial, que buscava se modernizar e se dinamizar, o que era a
essa luta já era visível, com a formação dos Quilombos. Os visão de homens, como: Joaquim Nabuco, Silva Jardim,
movimentos revolucionários como a Conjuração Baiana (ou Luiz Gama, José do Patrocínio e outros.
dos Alfaiates) em 1789; a revolução dos negros maleses
O governo, no início, tentou impedir esse movimento
na Bahia em 1835; a Balaiada no Maranhão e outras.
e não conseguindo, tentou uma manobra política para
Porém considerando esses acontecimentos anteriores por
diminuir a campanha abolicionista em 1871, promulgando a
parte dos negros, a campanha abolicionista só começou
Lei do Ventre Livre, de autoria do Maçom primeiro-ministro
mesmo depois da Guerra do Paraguai, em 1870, com a
Visconde do Rio Branco, que muito pouco ou quase nada
participação de algumas personalidades políticas, contando
favorecia aos negros, servindo de uma espécie de “engodo”
com apoio de alguns segmentos sociais. Um dos fatores
para parar o movimento emancipador, o que mais tarde
fundamentais para essa mudança comportamental foi, sem
gerou movimentos incontroláveis, levando o governo a mais
dúvida, a brilhante participação do negro na Guerra do
uma cartada vergonhosa, em 1885, promulgando a Lei dos
Paraguai. Participação, às vezes heroica, que contribuiu
Sexagenários, conhecida, também, como a Lei Saraiva-
para modificar a mentalidade do oficialato do Exército, que,
Cotegipe, que concedia liberdade aos escravos com mais de
consciente da bravura do soldado negro, comparável à do
65 anos de idade. (interessante que, hoje, em dia o governo