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I) Introdução
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Analista Judiciário da 2ª Vara Federal da Seção Judiciária da Paraíba.
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Com a nova redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 05.06.1998, ao caput do
artigo 39 da Constituição Federal de 1988, suprimindo a referência à instituição por lei do
regime jurídico único do servidor público da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, a
Lei nº 8.112 manteve apenas a natureza de regime jurídico estatutário. A partir da EC nº 19,
outros regimes jurídicos, além do estatutário, poderão ser instituídos. Ver, a propósito, a Lei nº
9.986, de 18.07.2000, que estabelece que as agências reguladoras de natureza autárquica
terão suas relações de trabalho disciplinadas pela CLT e legislação trabalhista correlata, em
regime de emprego público. Convém esclarecer, ainda, que os Ministros Néri da Silveira
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“Capítulo V
Dos Afastamentos
Seção I
Do Afastamento para Servir a Outro Órgão ou Entidade
Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercício em
outro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados,
ou do Distrito Federal e dos Municípios, nas seguintes
hipóteses: (redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.1991)
I – para exercício de cargo em comissão ou função de
confiança; (redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.1991)
II – em casos previstos em leis específicas. (redação dada pela
Lei nº 8.270, de 17.12.1991)
§ 1º Na hipótese do inciso I, sendo a cessão para órgãos ou
entidades dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, o
ônus da remuneração será do órgão ou entidade cessionária,
mantido o ônus para o cedente nos demais casos. (redação
dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.1991)
§ 2º Na hipótese de o servidor cedido à empresa pública ou
sociedade de economia mista, nos termos das respectivas
normas, optar pela remuneração do cargo efetivo, a entidade
cessionária efetuará o reembolso das despesas realizadas pelo
órgão ou entidade de origem. (redação dada pela Lei nº 8.270,
de 17.12.1991)
§ 3º A cessão far-se-á mediante Portaria publicada no Diário
Oficial da União. (redação dada pela Lei nº 8.270, de
17.12.1991)
§ 4º Mediante autorização expressa do Presidente da
República, o servidor do Poder Executivo poderá ter exercício
em outro órgão da Administração Federal direta que não tenha
quadro próprio de pessoal, para fim determinado e a prazo
certo. (parágrafo acrescentado pela Lei nº 8.270, de
17.12.1991)
§ 5º Aplicam-se à União, em se tratando de empregado ou
servidor por ela requisitado, as regras previstas nos §§ 1º e 2º
deste artigo, conforme dispuser o regulamento, exceto quando
se tratar de empresas públicas ou sociedades de economia
mista que recebam recursos financeiros do Tesouro Nacional
para o custeio total ou parcial da sua folha de pagamento de
pessoal. (parágrafo acrescentado pela Lei nº 9.527, de
10.12.1997)
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O estudo sobre as condições do exercício de cargo em comissão ou função de confiança no
âmbito da Justiça Federal será aprofundado nos Capítulos III e IV.
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Art. 2º. As requisições para os Cartórios Eleitorais deverão
recair em servidor lotado na área de jurisdição do respectivo
Juízo Eleitoral, salvo em casos especiais, a critério do Tribunal
Superior Eleitoral.
§ 1º - As requisições serão feitas pelo prazo de 1 (um) ano,
prorrogável, e não excederão a 1 (um) servidor por 10.000 (dez
mil) ou fração superior a 5.000 (cinco mil) eleitores inscritos na
Zona Eleitoral.
§ 2º - Independentemente da proporção prevista no parágrafo
anterior, admitir-se-á a requisição de 1 (um) servidor.
Art. 3º. No caso de acúmulo ocasional de serviço na Zona
Eleitoral e observado o disposto no art. 2º e seus parágrafos
desta lei, poderão ser requisitados outros servidores pelo prazo
máximo e improrrogável de 6 (seis) meses.
§ 1º - Os limites estabelecidos nos parágrafos do artigo anterior
só poderão ser excedidos em casos excepcionais, a juízo do
Tribunal Superior Eleitoral.
§ 2º - Esgotado o prazo de 6 (seis) meses, o servidor será
desligado automaticamente da Justiça Eleitoral, retornando a
sua repartição de origem.
§ 3º - Na hipótese prevista neste artigo, somente após
decorrido 1 (um) ano poderá haver nova requisição do mesmo
servidor.
Art. 4º. Exceto no caso de nomeação para cargo em comissão,
as requisições para as Secretarias dos Tribunais Eleitorais,
serão feitas por prazo certo, não excedente de 1 (um) ano.
Parágrafo único – Esgotado prazo fixado neste artigo,
proceder-se-á na forma dos §§ 2º e 3º do artigo anterior.
Art. 5º. Os servidores atualmente requisitados para as
Secretarias dos Tribunais Eleitorais poderão Ter suas
requisições renovadas atualmente.
Art. 6º. Os servidores atualmente requisitados para os Cartórios
Eleitorais, em número excedente ao fixado nos limites
estabelecidos no art. 2º desta Lei, deverão ser desligados pelos
respectivos Tribunais, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da
data da publicação desta Lei, retornando as suas repartições
de origem.
Art. 7º. Ressalva a hipótese do artigo anterior, os prazos de
requisição dos servidores atualmente a disposição da Justiça
Eleitoral consideram-se iniciados na data da entrada em vigor
desta Lei.
Art. 8º. Salvo na hipótese de nomeação para cargo em
comissão, não serão requisitados ocupantes de cargos
isolados, de cargos ou empregos técnicos ou científicos, e de
quaisquer cargos ou empregos do magistério federal, estadual
ou municipal.
Art. 9º. O servidor requisitado para o serviço eleitoral
conservará os direitos e vantagens inerentes ao exercício de
seu cargo ou emprego.”
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Em se tratando da Justiça Eleitoral, conforme Acórdão nº 176/2000 – TCU, devem ser
observadas as disposições da Lei nº 8.868, de 1994, que cria cargos efetivos e em comissão
na Justiça Eleitoral – lei especial, e Lei nº 9.421, de 1996, que cria as carreiras dos servidores
do Poder Judiciário da União, Distrito Federal e Territórios – lei geral.
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efetivo que não integrem essas carreiras ou que sejam
titulares de empregos públicos, observados os requisitos de
qualificação e de experiência previstos em regulamento.
§ 2º Pelo menos 50% (cinqüenta por cento) dos cargos em
comissão a que se refere o caput, no âmbito de cada órgão do
poder Judiciário, serão destinados a servidores integrantes das
carreiras judiciárias da União, na forma prevista em
regulamento.
Art. 10. No âmbito da jurisdição de cada Tribunal ou Juízo é
vedada a nomeação ou designação, para os cargos em
comissão e para as funções comissionadas de que trata o art.
9º, de cônjuge, companheiro ou parente até o terceiro grau,
inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados, salvo
a de servidor ocupante de cargo de provimento efetivo das
Carreiras Judiciárias, caso em que a vedação é restrita à
nomeação ou designação para servir junto ao Magistrado
determinante da incompatibilidade.”
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A interpretação do § 5º do artigo 93 leva à conclusão de que se trata de servidor dos Estados,
Distrito Federal e Municípios, quando requisitado pela União, uma vez que a disciplina da
cessão de servidor da União a outros órgãos e entidades da própria União, dos Estados,
Distrito Federal e Municípios, está contemplada no caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º.
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consta do § 5º do artigo 93 da Lei nº 8.112, de 1990, acrescentado pela Lei
nº 9.527, de 1997, dispondo que:
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RIGOLIN, Ivan Barbosa. Comentários ao Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos
Civis da União. São Paulo: Editora Saraiva, 1992, pp. 172/174.
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Veja-se, a propósito, que a EC nº 19, dando nova redação ao artigo 241, estabelece que a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os
consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a
gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos,
serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos, analisado em
Curso Prático de Direito Administrativo, sob a coordenação de Carlos Pinto Coelho Motta, Belo
Horizonte, Editora Del Rey, 1999, pp. 182/183.
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MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 21ª ed., São Paulo: Malheiros
Editores, 1996, p. 82.
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Por outro lado, a cessão de servidor dos Estados, Distrito
Federal e Municípios a órgãos e entidades da União, não apenas para o
exercício de cargo em comissão ou função de confiança, ou nos casos
previstos em leis específicas, permite que o servidor cedido adquira
conhecimentos e aperfeiçoe-se em área distinta, equivalente ou correlata a de
sua lotação de origem, proporcionando benefícios ao órgão cedente quando do
retorno do agente público no tocante à profissionalização do seu quadro de
pessoal (os exemplos são muitos: servidor do Fisco Estadual prestando
serviços à Receita Federal; servidor da Justiça Estadual prestando serviços à
Justiça Federal; servidor de Secretaria Municipal de Saúde prestando serviços
ao Ministério da Saúde). Ainda mais quando a profissionalização no serviço
público a cargo da União apresenta-se mais consistente e estruturada em
relação a outros entes federados. Deste modo, é bastante positivo o
intercâmbio, na forma de cessão do servidor dos Estados, Distrito e Municípios.
4) o princípio da legalidade do Direito Administrativo, alçado ao
caput do artigo 37 da Constituição Federal, que vincula a Administração
Pública à prática de atos somente quando expressamente autorizados em lei 9,
não tem o condão de afastar ou sobrepujar os princípios constitucionais da
cooperação e eficiência, sob pena de subverter a ordem jurídico-constitucional
atribuindo prevalência a este ou aquele preceito da Carta Magna em detrimento
de outros, como se fosse possível hierarquizar as normas constitucionais em
critérios de relevância, eficácia e aplicabilidade. E, ademais, conforme a regra
clássica da hermenêutica, interpreta-se a lei conforme a Constituição e não o
contrário10.
A conclusão é a seguinte: o servidor dos Estados, Distrito
Federal e Municípios poderá, com observância do regramento legal do ente
federado ao qual está vinculado, ser cedido à Justiça Federal,
independentemente do exercício de cargo em comissão ou função de
confiança, segundo a conveniência e oportunidade dos órgãos cedente e
requisitante, bem como nas hipóteses previstas em leis específicas 11.
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É a hipótese do § 5º do artigo 93 da Lei nº 8.112, que, dispondo sobre a forma de
remuneração do servidor requisitado para o exercício de cargo em comissão ou função de
confiança, ou conforme a previsão em leis específicas, vem, ao que parece, ensejando o
entendimento do CJF e TCU, segundo o qual apenas nestas duas hipóteses poderá haver
requisição.
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“...não se pode interpretar a Constituição conforme a lei ordinária (gesetzeskonformen
Verfasungsinterpretation). O contrário é que se faz.”. Excerto da ementa do acórdão proferido
no Recurso em Habeas Corpus nº 4.307-5-SP, Relator Ministro Adhemar Maciel, in Revista do
Superior Tribunal de Justiça, Brasília, nº 81, maio, p. 390, 1996.
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Como visto no Capítulo II, inexiste lei específica tratando da cessão e requisição de servidor
público no âmbito da Justiça Federal.