Vous êtes sur la page 1sur 6

TUMOR OVARIANO UNILATERAL COM DERRAME PLEURAL:

RELATO DE CASO

ALEXANDRA M. S. DE FREITAS*
KAMILA APARECIDA LONGHI**

RESUMO
Mulher, 82 anos, foi admitida no hospital queixando-se de aumento de volume
abdominal, dispnéia e síncopes. No exame, observaram-se sinais que levantaram
a hipótese de tumor maligno ovariano, recomendando-se tratamento cirúrgico.
Ao anatomopatológico, evidenciou-se tumor de ovário, com 3372,0 gramas. O
diagnóstico histológico foi neoplasia mesenquimal, do tipo fibroma celular. Este
tumor benigno pode cursar com ascite e derrame pleural (Síndrome de Meigs),
porém pode simular neoplasia maligna. Portanto, o diagnóstico adequado é
essencial, já que o tratamento cirúrgico pode ser curativo.

PALAVRAS-CHAVE: Neoplasia de ovário, Fibroma, Síndrome de Meigs.

ABSTRACT
UNILATERAL OVARIAN TUMOR WITH PLEURAL EFFUSION: CASE REPORT
An 82 year-old woman was received in hospital complaining about an increased
abdominal volume, dyspneia, and syncopes. Examination signs evidenced the
hypothesis of malign tumor, and surgical treatment was recommended.
Anatomopatology evidenced an ovary tumor with 3372,0 g. Histological
diagnosis was of mesenquimal tumor of cellular fibroma type. Such benign
tumor can evolve with ascites and pleural effusion (Meigs’ Syndrome) and even
simulate malign tumor. Therefore, the appropriate diagnosis is made essential,
since the surgical treatment may be healing.

KEYWORDS: Ovary tumor, Fibroma, Meigs’ Syndrome.

INTRODUÇÃO

*
Patologista e professora FAMED/Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
(e.mail:amsfreitas@hotmail.com).
**
Acadêmica de Medicina da FURG.
VITTALLE, Rio Grande, 21(1): 37-42, 2009.
37
Os tumores ovarianos são rastreamento como os existentes para
cânceres ginecológicos raros. No outros tipos de cânceres – por exemplo, o
entanto, são os de maior letalidade, exame de Papanicolau para o câncer de
mesmo sendo menos freqüentes que o colo de útero. A incidência aumenta com
câncer de colo de útero¹. No Brasil, está a idade, sendo maior nas mulheres entre
em oitavo lugar entre os cânceres que 50 e 59 anos³, mas os tumores também
acometem mulheres, perfazendo em podem ser encontrados em crianças,
torno de 1,8 % dos casos². O alto índice adolescentes, gestantes e mulheres
de mortalidade deve-se ao diagnóstico idosas4, 5.
tardio e à falta de métodos de

RELATO DE CASO

E.S.A., mulher, branca, oitenta e consistência endurecida, contornos


dois anos de idade, natural e residente irregulares, que media
de Rio Grande/RS, aposentada, viúva, aproximadamente vinte e cinco
dois filhos. Consultou no Serviço de centímetros no seu maior diâmetro. A
Pronto Atendimento do Hospital paciente foi então submetida à
Associação de Caridade Santa Casa do laparoscopia diagnóstica e terapêutica
Rio Grande, em maio de 2008. A pela alta probabilidade de se tratar de
paciente queixava-se de piora recente da neoplasia maligna. No transoperatório
dispnéia e leve dor torácica, relatando evidenciou-se tumor ovariano à direita,
início do quadro de dificuldade sendo realizada ooforectomia direita. O
respiratória há três anos, com piora laudo do anatomopatológico descreveu
progressiva, associado à perda de peso uma massa medindo 22,0 x 19,0 x 15,0
estimado em torno de três quilos nos cm e pesando 3372,0 gramas (figuras 1
últimos dois meses. Como antecedentes e 2) sendo diagnosticado como
pessoais, refere cirurgia de neoplasia mesenquimal ovariana do tipo
histerectomia aos quarenta anos de fibroma (figuras 3 e 4). Do ponto de
idade. No exame físico apresentava-se vista clínico, o quadro apresentado foi
em bom estado geral. Ao exame considerado como síndrome de Meigs,
respiratório observou-se diminuição do que consiste na associação de um tumor
frêmito tóraco-vocal e murmúrio ovariano benigno com derrame pleural.
vesicular à direita, associado a macicez A paciente evoluiu bem no pós-
à percussão. Já, o exame abdominal operatório, com remissão espontânea do
evidenciava assimetria abdominal com quadro do derrame pleural em duas
presença de massa em hipogástrio, de semanas.

VITTALLE, Rio Grande, 21(1): 37-42, 2009.


38
FIGURAS 1 e 2 – Aspecto macroscópico da massa em ovário.

FIGURAS 3 e 4 – Aspecto microscópico – fibroma

DISCUSSÃO

A neoplasia de ovário é a primeira disúria, dispnéia. É importante ressaltar


causa de morte entre as neoplasias que na maioria dos casos, tais sintomas
ginecológicas. Segundo dados do INCA, só se manifestarão com a doença
cerca de três quartos dos tumores abdominal em fase avançada2. Pode-se
malignos de ovário encontra-se em também encontrar a presença de ascite,
estágio avançado no diagnóstico inicial. derrame pleural, sangramento vaginal
Estima-se que quase 70% das pacientes (mesmo não sendo comum no câncer de
já apresentam metástases no ovário), assim como, outras
diagnóstico, e sua sobrevida aproxima- manifestações paraneoplásicas como
se de 25% em cinco anos2. hipercalcemia, tromboflebite arterial ou
O câncer de ovário acomete venosa. Assim, diante de qualquer
mulheres principalmente acima dos quadro semelhante é preciso realizar
cinquenta anos, mas pode ser investigação criteriosa, porque estes
encontrado em outras faixas etárias. podem corresponder aos primeiros
Infelizmente o quadro clínico inicial é sinais de doença ovariana. Ao exame
muito frustro, já que se trata de uma físico, um ovário palpável em mulher
neoplasia geralmente assintomática em jovem e magra pode ser considerado
seus estágios iniciais. Para que ocorram normal desde que não apresente
sintomas é preciso que o ovário atinja características sugestivas de
um tamanho considerável. Dentre os malignidade, tais como: aumento de
sintomas mais freqüentes, encontramos tamanho, consistência endurecida,
distensão e dor abdominal, constipação, bordas irregulares, presença de

VITTALLE, Rio Grande, 21(1): 37-42, 2009.


39
aderências e ocorrência de alterações método não-invasivo mais utilizado2.
bilaterais. Já, em relação a mulheres na Estudos já demonstraram que a
pós-menopausa, qualquer massa ultrassonografia pode ser usada com
ovariana palpável deve ser investigada sucesso, também com auxílio da
e, inicialmente deve ser considerada doppler-fluxometria (aumentando
como de grande potencial para neoplasia acuidade diagnóstica), desde que sejam
maligna. levadas em conta regras para diferenciar
A neoplasia de ovário não possui tumores benignos dos malignos. Entre
comportamento de risco como ocorre, as características que sugerem
por exemplo, com o câncer do colo de benignidade encontramos os cistos
útero. Existem apenas fatores que uniloculares, a presença de componentes
aumentam o risco de desenvolvimento sólidos com menos de sete milímetros
da neoplasia maligna ovariana, tais no seu maior diâmetro, sombra acústica,
como ausência de história gestacional e tumor multilocular menor de 100mm no
idade acima de 40 anos. Além disso, seu maior diâmetro e ausência de fluxo
vários estudos já comprovaram a relação sanguíneo no doppler. Entre as
entre o câncer de mama e o de ovário, características que favorecem a
sendo que mulheres com mutações nos malignidade, podemos relatar a presença
genes BRCA1 e BRCA2 estão mais de tumor sólido e irregular, a ascite e a
vulneráveis a ter câncer de mama ocorrência de tumores multiloculares
bilateral associado com câncer de com o maior diâmetro inferior a
ovário6. Ainda como fator de risco 100mm9. Entre os marcadores séricos,
menos expressivo, mas não menos são utilizados o CA 125, a Alfa-Feto
importante, encontra-se a alimentação, proteína e o B-HCG1. Dentre estes, o
que, quando rica em gordura animal e CA 125 é o principal marcador sérico
carnes, pode favorecer o aparecimento do câncer de ovário, sendo que níveis
de um tumor ovariano. O acima de 35U/ml podem predizer uma
anticoncepcional oral (ACO) é neoplasia ovariana, com valor preditivo
considerado um fator protetor quando de 98% em mulheres na pós-
usado por mais de cinco anos2, pois menopausa2. Mas podem ocorrer tanto
reduz processos inflamatórios no trato falsos positivos, como falsos negativos,
genital feminino ao bloquear enzimas devendo-se ter maior cuidado
como a ciclooxigenase-2 (COX2) e a principalmente em mulheres em idade
aromatase7. Contudo, a ovulação reprodutiva10. Outras condições
induzida pode predispor mulheres a benignas como endometriose, miomas
desenvolverem câncer de ovário uterinos e doença inflamatória pélvica
borderline, não se encontrando podem alterar estes marcadores como
diferença entre as drogas utilizadas8. também outros cânceres, a citar o
O diagnóstico de uma neoplasia pulmonar e o do trato gastrointestinal2.
ovariana inicia-se com a anamnese e o Nos casos em que as pacientes
exame físico sugestivo. Para a apresentam derrame pleural ou ascite,
confirmação da hipótese clínica deve-se proceder à análise destes
utilizam-se métodos de imagem como a líquidos, podendo-se realizar a pesquisa
ultrassonografia pélvica e a de células neoplásicas. Apesar de todos
transvaginal, sendo esta última o os recursos descritos para o auxílio do
VITTALLE, Rio Grande, 21(1): 37-42, 2009.
40
diagnóstico, em alguns casos ainda pode derrame pleural, deve-se a um aumento
ser necessária a laparoscopia diagnóstica da permeabilidade capilar causada por
e terapêutica, principalmente quando o um fator vascular endotelial. Este
quadro clínico indica malignidade. quadro tipicamente apresenta resolução
O tratamento é basicamente espontânea com a retirada do tumor11.
ooforectomia com ou sem Deve-se ter em mente que leiomiomas,
histerectomia, dependendo do struma ovari, cistoadenomas, teratomas
estadiamento da neoplasia. As e tumores metastáticos podem estar
neoplasias ovarianas são classificadas relacionados a pseudo-síndrome de
em cinco tipos: derivadas do epitélio Meigs, assim como, no tumor de
seroso (mais comuns), derivadas das Krukenberg (metástases ovarianas de
células germinativas do estroma gonadal um adenocarcinoma de estômago)13.
especializado, do mesênquima e as Dentre os marcadores tumorais, o CA
metastáticas. No caso estudado, tratava- 125 pode estar aumentado na Síndrome
se de um tumor derivado do de Meigs, podendo mimetizar um
mesênquima, chamado de fibroma. carcinoma ovariano5. O tratamento é
Os fibromas são neoplasias feito por meio de cirurgia
ovarianas benignas. São tumores videolaparoscópica ou laparotomia,
sólidos, usualmente unilaterais, que onde sempre se realiza ooforectomia. A
geralmente ocorrem em mulheres na opção preferencial é a cirurgia
pós-menopausa, já que não são videolaparoscópica, levando em conta
hormonalmente ativos. A densidade dos que esta é considerada diagnóstica e
fibromas é moderadamente aumentada e terapêutica, apresentando assim
podem apresentar atipia nuclear11. Na vantagens significativas em relação à
ultrassonografia, pode-se observar uma laparotomia. Além disso, esta, por
massa hiperecóica, podendo apresentar limitar a agressão parietal, tem melhor
áreas calcificadas e degenerações resultado estético, menor permanência
císticas. Dentre os sintomas, a dor hospitalar, menores custos e rápida
abdominal é a regra, podendo apresentar recuperação pós-operatória14. Por fim, é
ascite em 10 e 15% dos casos e derrame importante lembrarmos que, frente a
pleural em 1 a 5% dos casos11. A quadros de tumores ovarianos, após a
presença de tumor ovariano associado a retirada cirúrgica, o tumor sempre deve
derrame pleural ou ascite é conhecida ser encaminhado para estudo
por Síndrome de Meigs. Esta é uma anatomopatológico. Isto se justifica para
entidade clínica incomum, que se torna que possa ser feito um diagnóstico
ainda mais rara quando o derrame acurado, de modo que se possa realizar
pleural é hemorrágico, devendo, o diagnóstico diferencial entre as
portanto, fazer parte do diagnóstico neoplasias benignas e as malignas, o
diferencial de tal quadro clínico em que é essencial para os pacientes, tanto
mulheres na pós-menopausa12. O do ponto de vista de prognóstico como
acúmulo de líquido, como ascite ou de terapêutica.

REFERÊNCIAS

VITTALLE, Rio Grande, 21(1): 37-42, 2009.


41
1. Brasil. Ministério da Saúde. INCA. www.pubmed.com.br. Acesso ago.
Câncer de ovário. Disponível em: 2008.
www.inca.gov.br. Acesso: ago. 2008. 9. Timmerman D, Testa AC, Bourne T,
2. Freitas F et al. Rotinas em et al. Simple ultrasound basead rules for
Ginecologia. 5. ed. Porto Alegre: the diagnosis of ovarian cancer.
Artmed. 2006. Ultrasound
Obstet Gynecol. Disponível em:
3. UptoDate [Arquivo de computador]. www.pubmed.com.br. Acesso: ago.
Screening for ovarian 2008.
câncer.Versão16, 2.2008.
10. Benjapibal M, Neungton C. Pre-
4. Ross D, Gold MA, Sienko AE, et al. operative prediction of serum Ca 125
Large ovarian cellular fibroma during elevel in women with ovarian masses.
pregnancy minicking a lipid cell J Med Assoc Thai. Disponível em:
tumor. J Okla State Med Assoc. <www.pubmed.com.br>. Acesso: ago.
Disponível em: www.pubmed.com.br. 2008.
Acesso: ago. 2008.
11. UptoDate [arquivo de
5. Siddiqui M, Toub DB. Cellular computador]. Sex cord stromal tumors
fibroma of the ovary with Meig’s of the ovary. Versão 16,2. 2008.
Syndrome and elevated Ca 125: a case
report. J Reprod Med. Disponível em: 12. Agaba EI, Ekwempu CC, Ugoya
www.pubmed.com.br. Acesso: ago SO, Echejoh GO. Meig’s syndrome
2008. presenting as haemorrhagic pleural
effusion. West Afr J Méd Disponível
6. UptoDate [arquivo de computador]. em: <www.pubmed.com.br>. Acesso:
Options for woman with a genetic ago. 2008.
predisposition to breast and ovarian
cancer. Versão 16,2. 2008. 13. Bayod MJ, Carlan ME, Idoate MA.
Pseudo Meig’s syndrome in patient
7. Maia HJ, Casoy J. Non- with Krukenberg’s tumor. Med Univ
contraceptive health benefits of oral Navarra Disponível em:
contraceptives. Eur J Contracept <www.pubmed.com.br>. Acesso: ago.
Reprod Health Care. Disponível em: 2008.
www.pubmed.com.br. Acesso em:
ago. 2008. 14. Tarcoveanu E, Dimofte G,
Niculescu D, et al. Ovarian fibroma in
8. Cusidá M, Fábregas R, Pere BS, et the era of laparoscopic surgery: a
al. Ovulation induction treatment and general surgeon’s experience. Acta
risk of borderline ovarian tumors. Chir Belg. Disponível em:
Gynecol Endocrinol. Disponível em: <www.pubmed.com.br>.
Acesso: ago. 2008.

VITTALLE, Rio Grande, 21(1): 37-42, 2009.


42

Vous aimerez peut-être aussi