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Texto & Contexto Enfermagem

ISSN: 0104-0707
texto&contexto@nfr.ufsc.br
Universidade Federal de Santa Catarina
Brasil

Santos de Queiroz, Neusa


A resistência bacteriana no contexto da infecção hospitalar
Texto & Contexto Enfermagem, vol. 13, núm. Esp, 2004, pp. 64-70
Universidade Federal de Santa Catarina
Santa Catarina, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=71409807

Como citar este artigo


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- 64 - Santos NQ

A RESISTÊNCIA BACTERIANA NO CONTEXTO DA INFECÇÃO HOSPITALAR


BACTERIAL RESISTENCE IN THE CONTEXT OF HOSPITAL INFECTION

LA RESISTENCIA BACTERIANA EN EL CONTEXTO DE LA INFECCIÓN HOSPITALARIA

Neusa de Queiroz Santos1

1
Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto III de Microbiologia Médica do Departamento de Microbiologia e Parasitologia do
Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina.

PALAVRAS-CHAVE: RESUMO: Este artigo aborda alguns aspectos do impacto da resistência bacteriana no contexto da
Infecção hospitalar. Resistên- infecção hospitalar. Alerta sobre o importante papel dos profissionais de saúde no controle da infec-
cia bacteriana a drogas. ção hospitalar e do grave problema do uso indiscriminado de antibióticos que tem provocado uma
Antibióticos. pressão seletiva sobre as bactérias do ambiente hospitalar tornando-as multiresistentes.

KEY WORDS: Hospital ABSTRACT: This article lays out some aspects of the impact of bacterial resistence in the context
infection. Antibiotics of hospital infection. It alerts to the important role of health care professionals in the control of
resistance in drugs. hospital infection and the grave problem of the indiscriminant use of antibiotics. These have
Antibiotics. produced a selective pressure upon bacteria in the hospital environment, making them multi-resistant.

PALABRAS CLAVE: RESUMEN: Este artículo aporta algunos aspectos sobre el impacto de la resistencia bacteriana en el
Infección hospitalar. contexto de la infección hospitalar. Alerta sobre el papel importante de los profissionais de la salud para
Resistencia bacteriana a las el control de la infección hospitalar y del grave problema del uso indiscriminado de los antibióticos que
drogas. Antibióticos. han generado una presión selectiva sobre las bacterias del ambiente hospitalario tornándolas
multiresistentes.

Endereço: Artigo original: Reflexão


Neusa de Queiroz Santos Recebido em: 15 de setembro de 2003
Rua Professor Bayer Filho, 223 Aprovação final: 12 de fevereiro de 2004
88080300 - Coqueiros, Florianópolis, SC
E-mail: neusadoaquilles @ floripa. com. br

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INTRODUÇÃO científico. Esta problemática tem intensificado estu-


dos na busca de viabilizar efetivamente, junto aos pro-
Cada época teve seu fardo de sofrimentos e perigos mas fissionais de saúde entre eles, médicos e enfermeiros,
abrigou a esperança1 o uso correto e eficaz das medidas de controle da
infecção hospitalar – como a lavagem das mãos –
As bactérias são parte integral e inseparável da como também conscientizá-los da importância e
vida na terra. Elas são encontradas em qualquer lugar, necessidade do uso prudente de antibióticos como
revestem a pele, as mucosas e cobrem o trato intesti- medida para minimizar a emergência de bactérias an-
nal dos homens e dos animais. Elas estão intrinseca- tibiótico-resistentes no ambiente hospitalar.
mente ligadas às vidas de organismos e aos amplos
ambientes em que habitam.
A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DA
Muitas bactérias são inofensivas. Algumas são INFECÇÃO HOSPITALAR PARA MINIMI-
benéficas para seu hospedeiro (homem, animal, plan-
ZAR A RESISTÊNCIA BACTERIANA
ta) e provêem nutrientes ou proteção contra patógenos
e doenças, limitando a habilidade de colonização de
bactérias nocivas. A disseminação de bactérias antibiótico-resisten-
Porque as bactérias têm um curto tempo de ge- tes ocorre tanto no ambiente hospitalar como na co-
ração – minutos ou horas – elas podem responder munidade.
rapidamente as mudanças do ambiente. Assim, quan- Hospitais, especialmente, os que possuem uni-
do os antibióticos são introduzidos no ambiente, as dade de terapia intensiva (UTI), centro cirúrgico, uni-
bactérias respondem tornando-se resistentes àquelas dades de pediatria, berçário neonatal, clínica médica
drogas. e/o cirúrgica, em que os pacientes são tratados com
A resistência aos antibióticos se desenvolve como antibióticos, representam um “habitat” que alberga
uma natural conseqüência da habilidade da população bactérias que podem tornar-se resistentes àquelas dro-
bacteriana de se adaptar. O uso indiscriminado de an- gas.
tibióticos aumenta a pressão seletiva e, também, a Alguns fatores que influenciam a seleção de
oportunidade da bactéria ser exposta aos mesmos. mutantes antibióticos resistentes incluem o estado
Aquela oportunidade facilita a aquisição de mecanis- imunológico do paciente, o número de bactérias no
mos de resistência. sítio de infecção, o mecanismo de ação do antibiótico
A resistência aos antibióticos é inevitável e e o nível da droga que atinge a população bacteriana.
irreversível! Uma conseqüência natural da adaptação A partir dos meados de 1990, as sucessivas
da célula bacteriana a exposição aos antibióticos. O implementações da terapia antiinfectiva têm se torna-
uso intenso de antibióticos na medicina, na produção do cada vez mais difícil por causa da disseminação da
de alimentos para animais e na agricultura tem causa- resistência bacteriana, da emergência de novos
do um aumento na resistência àquelas drogas em todo patógenos e a decorrência de infecções em pacientes
mundo. imunodeprimidos, nos quais as drogas antimicrobianas
A resistência antimicrobiana tornou-se o princi- tornaram-se menos efetivas3.
pal problema de saúde pública no mundo, afetando Atualmente, muitas das infecções causadas por
todos os países, desenvolvidos ou não. Ela é uma ine- bactérias patogênicas conhecidas (ex.: Staphylococcus
vitável conseqüência do uso indiscriminado de antibi- aureus, Enterococcus), e infecções causadas por alguns
óticos em humanos e animais. Na Europa e na Amé- patógenos reemergentes (ex.: Mycobacterium tuberculosis)
rica do Norte, Staphylococcus aureus resistente à meticilina não podem ser curadas prontamente com as drogas
(MRSA), Streptococcus pneumoniae não susceptível à peni- antimicrobianas existentes.
cilina (PNSSP), enterococos resistente à vancomicina O impacto das bactérias resistentes é mundial e
(VRE) e Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamase representa ameaça para a humanidade. É um grave
de espectro ampliado (ESBL) têm emergido e se es- problema de saúde pública, de grande amplitude mé-
palhado nos hospitais e nas comunidades2. dica-social, cujas conseqüências, para muitos estudio-
Por isso, o impacto das bactérias-resistentes, e o sos3-7 já estão aí no nosso cotidiano e, se não forem
uso indiscriminado de antibióticos no meio hospitalar freadas, no futuro elas serão ainda mais devastadoras
é um problema mundial que vem preocupando o meio para a humanidade.
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A infecção hospitalar é um problema tão anti- antimicrobianos nos hospitais. A segundas força é que
go, quanto os primeiros estabelecimentos que surgi- muitos profissionais de saúde falham em não adotar
ram, há séculos (325 d. C), com o objetivo de alber- as medidas básicas de controle de infecção hospitalar,
gar pessoas doentes. Contudo, mesmo na sociedade tais como a lavagem das mãos. A terceira, é constituída
antiga, como na moderna, esta infecção sempre cau- por pacientes hospitalizados que têm sistema imune
sou impacto e preocupação, na área médica, pelo seu muito comprometido.
alto índice de mortalidade.
A introdução de procedimentos para melhorar as INFECÇÃO HOSPITALAR: A RELEVÂN-
condições sanitárias e das práticas de higiene instituídas CIA DO PROBLEMA
nos hospitais, ocorridas no final do século XIX, reduzi-
ram drasticamente as taxas de infecção hospitalar. Infecção hospitalar é qualquer processo infecci-
Os principais expoentes e líderes desta inquie- oso que se manifesta quando da permanência do pa-
tante batalha do controle da infecção hospitalar fo- ciente no hospital ou que pode ser relacionado à
ram Wendel, Holmes, Semmelweis, Nightingale, hospitalização12. A cada ano, aproximadamente, dois
Pasteur e Lister. milhões de hospitalizações resultam em infecção hos-
pitalar13.
Todas estas medidas de assepsia, introduzidas
nos hospitais, no século XIX, vieram provar que elas Num grande hospital universitário, demonstrou-
são importantes e muito eficazes na prevenção e se que as infecções atribuídas a bacteriemia adquiridas
controle da infecção hospitalar. Nos anos subseqüentes, naquele hospital aumentaram o tempo da permanên-
estas técnicas assépticas foram implementadas com cia do paciente na UTI por um período de 8 dias e, o
outras inovações, como, o uso de luvas, uso do calor tempo de hospitalização por 14 dias, sendo que as
(esterilização) para destruir bactérias, e tornar estéreis bacteriemias foram responsáveis por uma taxa de
instrumentos cirúrgicos, aventais, propés, máscaras, mortalidade de ordem de 35%14. Outro trabalho pre-
luvas. Todos estes materiais, mais o conjunto de medi- coniza que as infecções de feridas cirúrgicas, adquiri-
das de assepsia e de anti-sepsia, são utilizados ampla- das nos hospitais, aumentam a permanência do paci-
mente nos centros cirúrgicos e demais setores de hos- ente na instituição hospitalar em média 7,4 dias e é
pitais no intuito de reduzir ao máximo as taxas de também causa de morte15.
infecção. O estupendo sucesso da penicilina, no controle
O moderno controle da infecção hospitalar está das infecções causadas por “bactérias Gram positivas”,
fundamentado no trabalho de Ignaz Semmelweis, levou à falsa concepção de que os antibióticos poderiam
quando, em 1847, demonstrou a importância da lava- controlar e, eventualmente, erradicar todas as doenças
gem das mãos para o controle da transmissão da infecciosas. A cuidadosa lição aprendida no passado
infecção nos hospitais9. Por quase um século, porém, relativa à técnica asséptica, como a lavagem das mãos,
os esforços para o controle da infecção hospitalar fo- não foi, contudo, observada como devia ser16.
ram de qualidade irregular. Entretanto, o aparecimento da bactéria
No início do século XX, a mais importante des- Staphylococcus aureus, resistente à penicilina, na metade
coberta científica, na área médica, que veio contribuir desse século, levou a uma devastadora epidemia
para o controle das infecções bacterianas, entre elas as hospitalar com esses agentes. Esta bactéria infectava,
hospitalares, foi a da penicilina, antibiótico introduzi- com freqüência, pacientes internados nas unidades ci-
do durante a segunda guerra mundial e, posteriormen- rúrgicas e pediátricas17. Assim, a euforia da descoberta
te, seguido pela descoberta de outros antibióticos10. do antibiótico é substituída subtamente pelo desen-
Infelizmente, em pleno século XXI, com todo canto diante do número crescente de amostras
avanço tecnológico, a infecção hospitalar continua ainda bacterianas que, rapidamente, adquirem resistência a
sendo causa de altas taxas de morbidade e mortalida- estas drogas.
de em todo o mundo. Então, nas últimas décadas, a resistência
Hoje, indubitavelmente, a resistência bacteriana bacteriana tem causado um impacto significativo no
adquirida pelos antibióticos é um grave e importante ambiente hospitalar e na comunidade do mundo todo.
problema nos hospitais. Atualmente existem três prin- Atualmente, muitos patógenos clinicamente impor-
cipais forças que estão envolvidas nas infecções hospi- tantes são resistentes para todos ou quase todos antibió-
talares 11. A primeira força é o uso excessivo de ticos. Este fenômeno da resistência bacteriana mundial é
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assustador, especialmente no ambiente hospitalar. fonte de infecções. Os hospitais são verdadeiras forta-
No Brasil, também, o panorama da resistência lezas das bactérias antibiótico-resistentes. O meio am-
bacteriana é preocupante, e o crescente surgimento de biente hospitalar alberga uma grande variedade de
novas amostras de bactérias resistentes nos hospitais microorganismos, especialmente bactérias. Muitos des-
brasileiros vêm causando preocupação entre os pro- tes agentes bacterianos, embora normalmente não
fissionais de saúde. Para um infectologista, brasileiro, patogênicos, são capazes de rapidamente sobrepuja-
o uso de antibióticos está diretamente relacionado a rem a baixa resistência dos pacientes imunodeprimidos
este aumento da incidência da resistência bacteriana18. e podem causar doenças infecciosas.
O uso inadequado de antibióticos aumenta o risco de O crescente interesse, em estudar e melhor ana-
seleção, de cepas bacterianas resistentes. lisar o problema da infecção hospitalar, está voltado,
Destaca-se que, entre 1990 a 1996, nos Estados principalmente, para o fenômeno das bactérias
Unidos, o Staphylococcus aureus foi o mais comum agente antibiótico-resistentes.
causador das infecções hospitalares, conforme relato Durante os anos de 1960 e 1980, um novo es-
do Sistema Nacional de Vigilância de Infecção Hospi- pectro de agentes microbianos, incluindo “bactérias
talar, daquele país, sendo o líder das pneumonias hos- Gram negativas”, despontou como importantes agen-
pitalares e das infecções de feridas cirúrgicas e é consi- tes causadores de infecção hospitalar.
derado a segunda causa de bacteriemias hospitalares6.
Mais recentemente, outros microorganismos
O problema da resistência do S. aureus à Gram positivos, como os Enterococcus, têm assumido
meticilina foi descrita pela primeira vez, nos anos 60,
uma papel relevante na infecção hospitalar. Enteroco-
tornando-se prevalente desde 1980. São endêmicos,
ccus-Vancomicina-Resistentes (EVR) foi pela primei-
em muitos hospitais, e mesmo epidêmicos em alguns,
ra vez detectado na Europa em 1988, e está emergin-
geralmente sendo resistentes, em 30%, de todas as in-
do como um problema global da saúde pública. Nos
fecções causadas por S. aureus19. Estas amostras resis-
Estados Unidos, a transmissão hospitalar por EVR
tentes de S. aureus à meticilina são denominadas de
de paciente para paciente tem sido enfatizado na gran-
MRSA (Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus).
deza de 3,7-1021.
Por enquanto, a vancomicina é a única droga que
Ao mesmo tempo, o marketing dos antibióticos,
pode consistentemente tratar S. aureus-resistente-à-
meticilina. Infelizmente, em 2000, no Japão já foram promovido principalmente pelas indústrias farmacêu-
isoladas, em um hospital pediátrico, algumas cepas de ticas, da venda destas drogas como eficazes para com-
S. aureus resistentes à vancomicina. bater infecções bacterianas prossegue aceleradamente
em todo o mundo. Assim, nas últimos anos, novos
Contudo, desde 1989, hospitais têm relatado um
antibióticos de amplo espectro têm sido introduzidos
rápido aumento da resistência à vancomicina no gêne-
na clínica médica.
ro Enterococcus20, uma bactéria Gram positiva, que tam-
bém causa infecção hospitalar. Até pouco tempo, a prolongada luta contra as
doenças infecciosas parecia estar, em parte, pratica-
Assim, a infecção hospitalar, que representa um
mente resolvida, pois as vacinas protegiam aproxima-
grave e relevante problema de saúde pública, requer
damente 8 de 10 crianças do mundo contra doenças
uma vigilância epidemiológica constante, rigorosa e
mortais (como, varíola, difteria, tétano, tuberculose) e
exige também uma atenção redobrada de todos os
a “droga milagrosa”, os antibióticos tratavam eficaz-
profissionais de saúde, da administração hospitalar, da
mente um grande número de doenças infecciosas. Com
Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e do
efeito, essas medidas criaram, no meio médico, uma
Governo.
falsa sensação de segurança, assim, os médicos passa-
ram a usar o antibiótico de modo indiscriminado ou
O HOSPITAL COMO MEIO AMBIENTE
inadequado.
DA RESISTÊNCIA BACTERIANA
As doenças infecciosas ainda continuam sendo
É ingênuo acreditar que a única influência da a principal causa de mortalidade no mundo. Atual-
hospitalização sobre a doença é diminuir ou parar o mente, morrem vitimadas por doenças infecciosas 17
seu progresso. A internação do paciente, em um hos- milhões de pessoas, em sua maioria, crianças peque-
pital não é passaporte para a saúde. Muito pelo con- nas16.
trário, hospitais constituem uma forte e importante Para o infectologista do Hospital das Clínicas
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de São Paulo , infelizmente, a formação clínica de ente é imunodeprimido (subnutrição, AIDS, câncer,
alguns colegas médicos, de diversas especialidades, no uso de corticóides e antibióticos), possui maior pre-
que se refere à prescrição correta do uso de antibióti- disposição para adquirir infecção hospitalar. 3)
cos, é muito deficiente. Ressalta também que cerca de microorganismos que usualmente não são patogênicos,
50% a 60% dos medicamentos utilizados no ambien- são capazes de causar infecção hospitalar24. O autor
te hospitalar são antibióticos. Comenta, ainda, que esses completa dizendo que as infecções hospitalares ocor-
medicamentos são prescritos de forma excessiva e, rem, em parte, devido à prevalência de pacientes do-
muitas vezes, a escolha do grupo de antibióticos para entes e à presença de microorganismos patógenos que
aquela determinada infecção é inadequada. são amplamente selecionados, em cepas antibiótico-
O uso indiscriminado de antibióticos, na área resistentes no ambiente hospitalar.
médica, é um fato citado em diversos trabalhos naci- O uso indiscriminado dos antibióticos, para o
onais e internacionais6-7, 11, 20, 22. controle das infecções, carreiam com eles o risco de
Neste contexto, a resistência de microorganismos selecionar organismos resistentes, muitos dos quais não
aos antimicrobianos tem aumentado de maneira es- serão mais controlados, se causarem futuras infecções25.
petacular nas últimas décadas, com efeitos devastado- É o caso da Pseudomonas aeruginosa, bactérias-an-
res sobre a luta contra doenças, tais como, tuberculose tibiótico-resistentes, que têm aumentado dramatica-
(que recrudesceu com o advento da AIDS), cólera, mente, ao passo que outras consideradas no passado
desinteria bacilar, pneumonia e infecções hospitalares. inofensivas, como as bactérias que compõem a nossa
O mesmo se aplica a Salmonella, um dos principais flora normal (exemplo: Staphylococcus epidermidis), têm
agentes bacterianos causadores de infecções transmiti- sido agora causa de infecções hospitalares nestes re-
das por alimentos, e as bactérias enterocócicas que centes anos26.
provocam uma multiplicidade de complicações em A Serratia marcescens tem sido freqüentemente
pacientes hospitalizados. causa de infecções sendo isolada de várias fontes do
Assim, longe de estar acabada, a luta contra as meio ambiente hospitalar, entre elas soluções desinfe-
doenças infecciosas tona-se, agora, ainda mais severa tantes e anti-sépticos27. Ressalta-se que esta bactéria
e difícil, pois o uso indiscriminado de antibióticos tem pode apresentar resistência a estas soluções, normal-
aumentado consideravelmente o número de diferen- mente, são usadas nos hospitais como meio de con-
tes espécies bacterianas, resistentes aos antimicrobianos trole de microorganismos.
usados normalmente no comércio. Algumas infecções, Portanto, o ambiente hospitalar suporta a aqui-
como a causada pelo Mycobacterium tuberculosis, estão se sição de microorganismos patogênicos ou potencial-
tornando praticamente incuráveis ou intratáveis devi- mente patogênicos resistentes a antibióticos, compli-
do à resistência do mesmo aos antimicrobianos21. cando o tratamento da infecção causada pelos mes-
O meio hospitalar constitui um vasto e excelente mos.
habitat para bactérias adquirirem resistência aos Vários autores em seus artigos científicos publi-
antibióticos. De um modo geral, o paciente internado cados em todo o mundo e no Brasil referem-se à in-
está imunodeprimido e sujeito a diversas terapias, fecção hospitalar e alertam para o grave problema das
medicamentosas e/ou invasivas que o torna susceptí- bactérias-antibióticos-resistentes e o uso indiscriminado
vel a adquirir infecção hospitalar. Qualquer falha ou destes agentes nos hospitais, quer como profilático ou
negligência, dos profissionais de saúde, em relação as para controle das infecções7,10,12,17,25,28-30. A situação da
medidas de controle de infecção hospitalar (como a infecção hospitalar é mais séria agora, pelo aumento
lavagem das mãos), aumenta a chance de uma infec- do número de amostras bacterianas resistentes a anti-
ção hospitalar23. bióticos8.
Por isso alerta-se que os pacientes hospitaliza- Além da emergência de novas doenças infecci-
dos são usualmente de alto risco para adquirir infec- osas (Hantavírus, Ébola, AIDS), a saúde da coletivi-
ção hospitalar por diferentes fatores predisponentes, dade está ameaçada pelas bactérias que desenvolve-
ressaltam-se entre eles: 1) eles tendem a ser mais sus- ram resistência aos antibióticos, mais notadamente à
ceptíveis para a infecção por causa de sua condição de multi-resistência as drogas, como é o caso do
doente, e este risco aumenta quando eles são expostos Mycobacterium tuberculosis, Enterococcus sp. Staphylococcus sp.
a certos procedimentos invasivos (catéter venoso, e/ Pseudomonas sp.
ou urinário, endoscopia, traqueostomia.). 2) se o paci-
A emergência da resistência das bactérias aos
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antibióticos tem sido exacerbada pelo uso gentemente, uma mudança consciente e radical no
indiscriminado e pela morosidade no desenvolvimento comportamento e de atitudes de todos os profissio-
de novos antibióticos22. nais de saúde, do consumidor (paciente), dos pesqui-
Entre o impacto e as conseqüências do uso sadores, dos empresários das industrias farmacêutica,
indiscriminado dos antibióticos destacam-se: seleção da administração hospitalar e do próprio governo e
de cepas de bactérias resistentes, implicações ecológi- de muitos outros envolvidos no processo do controle
cas e epidemiológicas, risco de super infecções, maior da resistência bacteriana no contexto da infecção hos-
incidência de efeitos colaterais, e, o mais importante, o pitalar.
elevado número de óbitos resultantes daquelas infec- O fenômeno da resistência bacteriana não é um
ções. problema individual, mas coletivo e mundial.
É neste contexto que se incorpora bem o O impacto da resistência bacteriana aos antibió-
pensamento: nós usualmente pensamos nos hospitais ticos representa uma ameaça para a continuidade da
como locais onde as doenças são tratadas, não lugares vida humana no planeta terra.
onde nós adquirimos doenças30. O cuidar da vida presente e futura da humani-
dade, é uma obrigação de todos mas, particularmen-
REFLEXÕES FINAIS te, dos profissionais de saúde (médicos e enfermei-
ros) que têm a vida de seus pacientes em suas próprias
A visão geral abordada, neste artigo, sobre os mãos.
perigos inerentes à hospitalização e o impacto da
resistencia bacteriana no contexto da infecção hospi-
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bacteriana diminuída! 6 Santos NQ. O uso indiscriminado de antibióticos na ecologia
Não havendo, pois, casos de infecção hospita- das bactérias-antibiótico-resistentes associadas à
problemática da infecção hospitalar: conhecimento e prática
lar, não há necessidade do uso de antibióticos para
de profissionais de saúde, a luz da ética da responsabilidade
tratá-la, diminuindo a pressão seletiva sobre as bacté- de Hans Jonas [tese].Florianópolis (SC): Programa de Pós-
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los a prática do uso prudente de antibióticos. Infect Dis 2001; 7(2):1888-92.

Então, há uma necessidade de que ocorra, ur- 11 Burton Gwendolyn RW. Microbiology for the health

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