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Bióloga e Farmacêutica Clínica e Industrial. Aluna da Pós-Graduação em Vigilância Sanitária, pela
Universidade Católica de Goiás/IFAR.
2
Orientadora. Farmacêutica Industrial graduada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestre em
Ciências Farmacêuticas pela UFPR. Orientadora e avaliadora de TCC da Pós-Graduação em Vigilância
Sanitária da Universidade Católica de Goiás- PUC/GO/IFAR e Grupo UNINTER. E-mail:
carinarau26@gmail.com.
Resumo
Metais pesados como chumbo, cádmio, cromo, arsênio, mercúrio, alumínio, manganês e titânio, além de
moléculas sintéticas como o ftalato podem ser encontrados em batons. Estes compostos podem oferecer
grande risco à saúde humana, sobretudo predispor ao surgimento de câncer e neurotoxicidades. O
objetivo deste trabalho é realizar uma revisão sobre os principais contaminantes encontrados em produtos
labiais. No Brasil, e nos principais órgãos reguladores mundiais, existem normas que controlam os níveis
destas impurezas nos produtos labiais, porém essas normas são insuficientes e generalistas. Verificou-se
que as pesquisas sobre o tema buscam avaliar a presença e quantidade destes compostos nos produtos,
porém raros são os estudos que envolvem a extensão da exposição pelo uso de batons. Percebeu-se a
necessidade de pesquisas que correlacionem a presença de contaminantes nos produtos com o real risco
para os seus consumidores. Estas informações podem servir para pressionar mudanças nas legislações de
limites de contaminantes e ainda fornecer base para a atuação regulatória das autoridades responsáveis.
Palavras-chave: Batom. Chumbo. Metais pesados. Ftalato. Regulação.
Abstract
Heavy metals such as lead, cadmium, chromium, arsenic, mercury, aluminum, manganese and titanium
and other synthetic molecules such as phthalate can be found in lipsticks. These compounds may offer
great risk to human health, particularly predispose to the onset of cancer and neurotoxicities. This paper
aims to do a review of the main contaminants found in lip products. In Brazil, and the main regulators of
the world, there are rules that control the levels of these impurities in lip products, but these standards are
insufficient and generalists. It was found that the research about the topic seeks to evaluate the presence
and quantity of these compounds in the products, but few studies involve the extent of exposure by the
use of lipsticks. It was verified the need for researches that correlate the presence of contaminants and the
real risk to their consumers. This information can help to pressure changes in the legislation about limits
of contaminants and still provide a basis for regulatory action of the authorities.
Keywords: Lipstick. Lead. Heavy metals. Phthalate. Regulation.
1 INTRODUÇÃO
3 DISCUSSÃO
3.1 Batom
Produtos cosméticos que entram em contato direto com a pele podem ser
absorvidos e atingir os órgãos internos através da via sistêmica. Produtos que entram em
contato com mucosas, como os batons, são ainda mais preocupantes por oferecerem o
risco de ingestão oral (GONDAL et al., 2010).
Metais pesados podem estar presentes nos ingredientes utilizados no preparo de
batons. O chumbo é o contaminante mais conhecido encontrado em batons. Outros
metais como cádmio e cromo também ocorrem com frequência nestes produtos. Um
estudo recente apontou a presença de outros metais importantes como alumínio,
manganês e titânio em produtos labiais frequentemente usados por jovens norte-
americanas (LIU; HAMMOND; ROJAS-CHEATHAM, 2013). A contaminação por
metais em batons e outros produtos cosméticos ocorre pela contaminação inicial dos
ingredientes que compõem estes produtos. Geralmente, os metais estão presentes nos
corantes extraídos da natureza e não é feita sua retirada durante o procedimento de
fabricação do produto.
Este problema ocorre, sobretudo, em países com grandes riscos de contaminação
por tóxicos no solo como a Índia. Neste país, além dos metais pesados mencionados, há
uma preocupação das autoridades locais com a presença de arsênio e mercúrio em
cosméticos, uma vez que estes compostos tóxicos são contaminantes comuns do solo da
região. Devido ao atual cenário de globalização, essa preocupação deve ser estendida
aos países que importam matérias-primas ou produtos cosméticos terminados deste país
(SUJIT KUMAR et al., 2012).
O xenobiótico ftalato, um aditivo utilizado pela indústria para conferir
maleabilidade ao plástico, também é muito encontrado em produtos de higiene pessoal e
cosméticos (WANG et al., 2008; KONIECKI et al., 2011). Sua presença em batons tem
sido associada ao desenvolvimento de doenças autoimunes (WANG et al., 2008).
3.3.1 Arsênio
O arsênio (Ar) apresenta-se na forma inorgânica (trivalente ou pentavalente) e
sob a forma orgânica, principalmente formas metiladas provenientes da
biotransformação destes compostos pelo organismo humano. A principal forma de
contaminação por este metal é pela ingestão de água potável contaminada, advinda de
fontes naturais (VAHTER, 2007). Pode também ser encontrado em alimentos e
produtos cosméticos fabricados com matérias-primas contaminadas, como água,
pigmentos e outros componentes inorgânicos (KLAASSEN; WATKINS, 2012).
A toxicidade aguda do arsênio pode levar a morte. A ingestão de altas doses (70
a 180 mg) pode provocar sintomas de intoxicação aguda que incluem febre, anorexia,
hepatomegalia, melanose, arritmia cardíaca e até falência cardíaca. A ingestão pode
destruir as mucosas do trato gastrointestinal, pode ocorrer perda sensorial de nervos
periféricos e também pode ocorrer leucopenia e anemia (KLAASSEN; WATKINS,
2012).
A toxicidade crônica está relacionada com a exposição à pele, tendo como
consequência mais comum o câncer de pele. Ainda pode ocorrer efeito crônico no
fígado, progredindo de hepatomegalia até carcinoma hepatocelular. A neuropatia
periférica também é comum, iniciando com dormência nas mãos e pés até sensações
dolorosas de ―alfinetadas‖ na pele (KLAASSEN; WATKINS, 2012).
A forma mais tóxica é a trivalente. O arsênio e seus metabólitos produzem danos
oxidativos ao DNA, comprometimento do reparo do dano do DNA e aumento de
proliferação celular. É um conhecido carcinogênico humano, apresentando relação com
cânceres de pele, bexiga e pulmões (VAHTER, 2007). A exposição fetal ao arsênio
resulta em aumento de mortalidade por câncer de pulmão em jovens adultos
(KLAASSEN; WATKINS, 2012).
Além de efeitos relacionados ao câncer, existe a associação entre a exposição ao
arsênio e o desenvolvimento de doenças como diabetes, tosse crônica e efeitos tóxicos
nos rins, fígado, sistema cardiovascular e sistema nervoso central e periférico
(VAHTER, 2007).
3.3.2 Chumbo
O chumbo (Pb) é um metal tóxico detectável em quase todos os sistemas
biológicos, devido à sua histórica presença em tintas e gasolina. Com as recentes
medidas de remoção deste metal destes produtos, os níveis de chumbo no sangue da
população têm diminuído consideravelmente, porém esse ainda é um preocupante
toxicante para a saúde das crianças (KLAASSEN; WATKINS, 2012).
Nos cosméticos, a contaminação por chumbo pode ocorrer como uma impureza
que aparece naturalmente nos pigmentos utilizados nas formulações ou como resíduo
liberado pelos recipientes de metal ou plástico usados no processo de fabricação
(GUNDUZ; AKMAN, 2013). Em batons, a maior preocupação é com os corantes
vermelhos utilizados na produção de batons de longa duração (GONDAL et al., 2010).
Os efeitos agudos do envenenamento incluem a perda de apetite, fraqueza,
vômitos, anemia e convulsões que podem levar a danos cerebrais permanentes ou morte
(GONDAL et al., 2010).
Os efeitos crônicos do chumbo no organismo são principalmente neurológicos,
hematológicos e renais (KLAASSEN; WATKINS, 2012). Embora o chumbo seja
absorvido lentamente, sua excreção ocorre a taxas ainda mais lentas. Assim, exposições
crônicas levam ao acúmulo do metal no organismo. Ele é absorvido pelas hemácias e
distribuído para os tecidos, acumulando-se principalmente no fígado, rins e sistema
nervoso, com especial sensibilidade para este último (GONDAL et al., 2010). No
sistema nervoso, pode provocar danos neurológicos e comportamentais permanentes,
destruindo ainda as células que formam a barreira hematoencefálica. O chumbo é mais
tóxico para fetos, bebês e crianças cujo sistema nervoso ainda está em desenvolvimento,
podendo apresentar lento desenvolvimento mental, má formação do esqueleto e
encefalopatia, dependendo do tempo de exposição (GONDAL et al., 2010).
No sangue, o chumbo interfere na biossíntese do heme, ocasionando na quelação
de zinco no local geralmente ocupado pelo ferro. Somente em casos mais graves de
intoxicação é que se observa anemia (KLAASSEN; WATKINS, 2012).
A nefrotoxicidade do chumbo pode ser aguda ou crônica. Na intoxicação aguda,
ocorre disfunção do túbulo proximal, que pode ser revertida com a administração de
agentes quelantes. A nefrotoxicidade crônica consiste em fibrose intersticial e perda
progressiva de néfrons, podendo levar à falência renal (KLAASSEN; WATKINS,
2012).
3.3.3 Cádmio
O cádmio (Cd) é obtido a partir da fundição de zinco e chumbo. É encontrado
em baterias e também é usado como pigmento para tintas e plásticos. O cádmio acumula
nos vegetais e animais usados em alimentação, porém a principal fonte de contaminação
por exposição não ocupacional com este metal ocorre através do consumo de cigarros
(KLAASSEN; WATKINS, 2012). Embora ainda não se tenha precisão sobre a origem
do cádmio encontrado em produtos cosméticos, sabe-se que sua presença é determinada
pela utilização de matérias-primas de baixa qualidade ou como impurezas do processo
de fabricação (VOLPE et al., 2012).
Os efeitos agudos da intoxicação por ingestão de cádmio provocam grave
irritação do trato gastrointestinal, ocasionando náuseas, vômitos e dor abdominal. A
inalação pode produzir pneumonite aguda com edema pulmonar. Os efeitos crônicos à
baixa exposição por cádmio são principalmente renais, respiratórios e cardiovasculares.
Nos rins, o cádmio afeta as células tubulares e os glomérulos, provocando lesão renal e
proteinúria. Pode ocorrer necrose renal e degeneração. A principal consequência
respiratória da exposição crônica ao cádmio é o desenvolvimento de doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) (KLAASSEN; WATKINS, 2012).
O cádmio apresenta potente efeito citotóxico sobre as células neuronais,
ocasionando em distúrbios neurológicos como dificuldade de aprendizado e
hiperatividade em crianças. Pelo mecanismo de estresse oxidativo, o cádmio ainda pode
promover dano a proteínas e, consequentemente, neurodegeneração (VOLPE et al.,
2012).
Afeta também os tecidos ósseos provocando perda de cálcio que pode induzir
um quadro de osteoporose. É ainda um agente etiológico da hipertensão essencial e
também apresenta potencial carcinogênico para exposições ocupacionais (KLAASSEN;
WATKINS, 2012).
3.3.4 Cromo
O cromo (Cr), em baixíssimas concentrações, é um elemento essencial para o
organismo humano, atuando no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios
(GONDAL et al., 2010). O cromo atua sinergicamente com a insulina no controle dos
níveis de glicose. A intolerância à glicose provocada pela carência de cromo em dietas
por via intravenosa pode ser revertida pela administração de Cr (III) na emulsão de
nutrição parenteral (COSTA; KLEIN, 2006). Porém, a exposição de níveis elevados de
cromo pode ser tóxica.
A intoxicação ocupacional é decorrente dos seus usos na indústria de produção
de pigmentos e corantes, curtimento de couro, indústrias químicas e metalúrgicas e
produção de têxteis. Embora não esteja estabelecido, acredita-se que a sua presença em
cosméticos seja decorrente de sua presença natural em pigmentos vermelhos (COSTA;
KLEIN, 2006).
As principais formas de intoxicação por cromo são por inalação, contato com a
pele e ingestão (GONDAL et al., 2010). Na indústria de pigmentos e corantes, o cromo
utilizado como aditivo quando aspirado pode provocar irritação nasal, corrimento e
sangramento nasal, ulceração e perfuração de septo (GONDAL et al., 2010). Além
disso, estudos epidemiológicos demonstram a correlação entre a exposição ao cromo
hexavalente e desenvolvimento de câncer de pulmão em trabalhadores expostos a esta
substância (COSTA; KLEIN, 2006).
A ingestão de grandes quantidades de cromo pode levar a distúrbios
gastrointestinais, convulsões, danos hepáticos e renais, podendo evoluir para óbito. Na
pele, o cromo pode induzir a formação de úlceras ou, em pessoas sensíveis, reações
alérgicas, mesmo em exposições com baixas concentrações (GONDAL et al., 2010).
3.3.5 Alumínio
A exposição ocupacional por alumínio (Al) pode provocar toxicidade em
trabalhadores. Entre os efeitos mais frequentes, encontra-se a fibrose pulmonar,
decorrente da inalação de poeira do metal (KLAASSEN; WATKINS, 2012).
O alumínio é um metal utilizado como medicamento. O hidróxido de alumínio é
administrado na forma oral com a finalidade de neutralizar a hiperacidez gástrica. O seu
uso medicamentoso só foi possível através da comprovação de sua segurança para o
organismo humano, porém a ingestão excessiva de antiácidos contendo alumínio tem
sido associada à osteomalácia, desmineralização dos ossos devido à carência de
vitamina D (KLAASSEN; WATKINS, 2012).
Estudos recentes também têm relacionado níveis elevados de alumínio com
alguns distúrbios como falência renal e doença de Alzheimer. Ainda não se sabe se os
altos níveis de alumínio encontrado no tecido nervoso são a causa da doença de
Alzheimer, mas acredita-se que pode ser uma consequência desta doença, uma vez que
ela provoca redução na eficácia da barreira hematoencefálica, tornando-a mais
permeável a entrada de alumínio no cérebro (KLAASSEN; WATKINS, 2012).
Em cosméticos, é encontrado principalmente nos corantes a base de mica. Este
minério apresenta o alumínio em sua composição natural e é largamente utilizado como
corante, tendo seu uso em cosméticos permitido na União Europeia e Japão (SUJIT
KUMAR et al., 2012).
3.3.6 Manganês
O Manganês (Mn) é um elemento essencial para o funcionamento e regulação de
muitas reações celulares e bioquímicas (SIDORYK-WEGRZYNOWICZ; ASCHNER,
2013). Embora essencial, níveis altos de Mn podem ser tóxicos para o sistema nervoso
central. As principais formas de intoxicação ocorrem pela ingestão de água contaminada
e alimentos infantis a base de soja e pela inalação do metal liberado na atmosfera por
processos industriais (SIDORYK-WEGRZYNOWICZ; ASCHNER, 2013). Em
cosméticos, pode ocorrer com o uso de um tipo de corante violeta que apresenta Mn na
sua composição (SUJIT KUMAR et al., 2013).
O acúmulo excessivo de manganês no sistema nervoso central desencadeia uma
neurotoxicidade chamada de manganismo. É caracterizada por alguns sintomas
psicóticos iniciais sendo frequentemente seguido por sintomas crônicos semelhantes aos
de doença de Parkinson (SIDORYK-WEGRZYNOWICZ; ASCHNER, 2013).
3.3.7 Titânio
O titânio (Ti) é um metal de transição geralmente consumido na forma de
dióxido de titânio (TiO2), um pigmento branco que passou a ser muito utilizado como
substituto ao branco de chumbo, após a confirmação da toxicidade deste último
pigmento (BARNETT et al., 2006).
Considerado um pigmento relativamente seguro, o dióxido de titânio é
largamente utilizado na indústria cosmética, em pastas dentais e protetores solares.
Além da função de corante branco, em protetores solares o dióxido de titânio funciona
como um filtro físico muito eficiente no bloqueio dos raios UV (KOENEMAN et al.,
2010).
Embora de uso consagrado em produtos cosméticos, estudos recentes têm
investigado o potencial tóxico do dióxido de titânio no organismo humano. Por se tratar
de uma nanopartícula, os estudos têm se dirigido no sentido de entender sua absorção e
possível acumulação no organismo. Em 2010, pesquisadores investigaram estes
parâmetros em cultura de células de intestino humano e concluíram que a acumulação
destas partículas no tecido epitelial do intestino, embora não apresente efeito letal, pode
ser a explicação para alguns tipos de doenças inflamatórias do intestino (KOENEMAN
et al., 2010).
3.3.8 Mercúrio
O mercúrio (Hg) é um metal que se encontra líquido à temperatura ambiente.
Encontra-se na atmosfera devido às ações de mineração e atividades industriais, mas
também ocorre emissão natural de vapor de mercúrio por meio da desgaseificação da
crosta terrestre e por erupções vulcânicas (KLAASSEN; WATKINS, 2012). O
metilmercúrio, forma orgânica do metal, é bioacumulado em peixes e pode ser ingerido,
sendo fonte de intoxicação para humanos. Esta é a forma mais preocupante do mercúrio
em termos de intoxicação (SUJIT KUMAR et al., 2012).
Os compostos de mercúrio podem provocar reações alérgicas, dermatites de
contato ou efeitos tóxicos sobre o sistema nervoso central. Os sintomas clínicos incluem
parestesias, ataxia, neurastenia, perda de visão e audição e tremores (KLAASSEN;
WATKINS, 2012).
Em cosméticos, o mercúrio pode ser adicionado como conservante na forma de
timerosal (SUJIT KUMAR et al., 2012), um composto organomercurial proveniente do
sal sódico do ácido o-(etilmercuritio) benzóico (PRADO et al., 2004).
3.3.9 Ftalatos
Ftalatos são ésteres do ácido ftálico. São compostos químicos utilizados pela
indústria para tornar o plástico mais flexível. São frequentemente encontrados em
produtos cosméticos. Sua presença pode ocorrer devido ao seu uso como solvente ou
fixador em perfumes, como impureza nas matérias-primas usadas na fabricação ou
através da migração dos ftalatos do material de embalagem plástico usado para
acondicionar estes produtos (GIMENO et al., 2012). Os ftalatos são muito utilizados
como aditivos de policloreto de polivinila (PVC) e não são quimicamente ligados a ele,
o que torna fácil sua transferência desde a embalagem até a fórmula cosmética
acondicionada (KONIECKI et al., 2011).
A maior parte das informações que se tem sobre a toxicidade dos ftalatos é sobre
modelos biológicos. Os ftalatos apresentam potencial tóxico sobre o desenvolvimento
do sistema reprodutor masculino de animais testados. Os estudos destes efeitos em
humanos são limitados e inclusivos (KONIECKI et al., 2011). Similarmente, sabe-se
que os ftalatos podem induzir a produção de anticorpos anti-DNA e síndromes
parecidas com lúpus eritematoso em camundongos (WANG et al., 2008).
3.4 Limites máximos de contaminação por metais e outros compostos nos EUA, UE
e Brasil
3.4.1 FDA
A FDA (Food and Drugs Administration) é o organismo norte-americano
responsável pela regulamentação de cosméticos. A FDA não apresenta uma norma
específica que trata sobre os limites gerais de contaminantes metálicos em cosméticos
ou batons. Estudos norte-americanos de avaliação de risco sobre impurezas metálicas
em batons geralmente utilizam os dados de limites para outras categorias como
quantidade permitida em doces ou em água (LIU; HAMMOND; ROJAS-CHEATHAM,
2013).
Porém, a FDA apresenta uma lista de corantes permitidos para uso em
cosméticos (U.S. FDA, 2013). Entre a lista, encontram-se pigmentos formados por
alguns dos metais analisados neste trabalho, conforme demonstrado no Quadro 1.
Embora não haja um limite geral estabelecido para a quantidade de arsênio,
chumbo e mercúrio para cosméticos ou batons, a lista descritiva de corantes permitidos
estabelece alguns limites para a presença destes compostos em alguns corantes a serem
utilizados. Um exemplo é a descrição do corante Violeta Manganês. A FDA estabeleceu
que este corante não deve apresentar mais de 20ppm de chumbo, 3ppm de arsênio e
1ppm de mercúrio. Ainda, estabelece que a quantidade de manganês, que fornece a cor
violeta ao corante, não pode ser menor do que 93% (U.S. FDA, 2013). Como um
consenso, observa-se que estes limites definidos para chumbo, arsênio e mercúrio no
Violeta Manganês é extrapolado para todos os outros corantes pela literatura que busca
avaliar a presença destes compostos em batons.
Metal Analisado Corante permitido
Alumínio Mica
Pó de Alumínio
Quadro 1. Corantes permitidos pela FDA para uso em batons contendo alguns dos elementos metálicos
analisados.
Fonte: Adaptado de U.S. FDA, 2013.
3.4.3. Brasil
A ANVISA é atualmente o agente regulador brasileiro sobre os produtos sujeitos
à vigilância sanitária, incluindo os cosméticos. A RDC n° 48 de 2006 estabelece uma
lista de substância de uso proibido em cosméticos no Brasil. Muito semelhante à lista
europeia, a agência proíbe o uso de arsênio, chumbo, cádmio, cromo e mercúrio em
batons no Brasil (BRASIL, 2006).
A RDC n° 44 de 2012 traz a lista de corantes de uso permitido em cosméticos no
Brasil. De forma geral, esta RDC estabelece que os corantes não devam apresentar
impurezas em um valor maior do que 3 ppm de arsênio, 20 ppm de chumbo e 100 ppm
de outros metais pesados (BRASIL, 2012).
A lista traz uma série de corantes contendo alumínio na composição, além de
corantes contendo manganês e titânio (dióxido de titânio). Também de forma
semelhante à legislação europeia, no Brasil é permitido o uso dos corantes óxido de
cromo (CI 77288) e hidróxido de cromo (CI 77289) com a condição de isenção de íons
cromato (BRASIL, 2012). Porém, uma avaliação da lista estabelecida por esta norma
demonstra a presença de dois outros corantes contendo cromo em sua composição, mas
sem necessidade de isenção do íon cromato: o corante de CI 18736 e o corante ACID
RED 195. Este fato pode ser explicado pelos campos de aplicação permitidos para estes
últimos dois corantes que não envolvem áreas de mucosa ou em produtos que ficam em
breve contato com a pele, como sabonetes (BRASIL, 2012). Assim, a RDC n° 44 de
2012 corrobora a proibição de uso de cromo em batons estabelecida pela RDC n° 48 de
2006.
Quanto ao uso de ftalatos em cosméticos, a ANVISA não apresenta norma ou
outra posição sobre sua proibição, de tal forma que estas substâncias continuam a ter
sua utilização permitida em batons no país.
3.4.4 Comparação das legislações norte-americana, europeia e brasileira
Uma comparação entre os parâmetros estabelecidos em cada país para os metais
e substâncias analisados revela que a legislação europeia é a mais restritiva entre as três
(Tabela 1). Somente a UE baniu o uso de ftalatos em batons e somente permite alguns
metais sob a forma de corantes. Os EUA, embora não tenham estabelecido um limite
geral para presença de metais pesados em cosméticos, faz restrição à presença de alguns
metais em alguns corantes permitidos. Assim como a ANVISA, a FDA ainda não
estabeleceu restrições ao uso de ftalatos. A ANVISA baseia suas legislações nas normas
europeias e americanas, porém a norma brasileira apresenta um diferencial em relação a
estas, pois determina o limite máximo de arsênio, chumbo e mercúrio nos corantes
permitidos em batons.
Embora haja regulação sobre este tema, ainda há vários pontos não regulados ou
insuficientemente abordados por estes três entes. Uma das razões para este controle
ineficiente pode ser a falta de informações adequadas na relação entre os contaminantes
e os riscos reais a que os consumidores estão submetidos ao utilizar estes produtos.
Desta forma, a comunidade científica necessita fornecer dados concretos dos riscos para
pressionar e subsidiar as autoridades no processo de tomada de decisão sobre o tema de
limites de contaminantes em batons e outros cosméticos.
Tabela 1. Limite de contaminantes permitidos para batons no Brasil, EUA e União Europeia.
Substâncias Brasil (ANVISA) EUA (FDA) União Europeia
Fonte: BRASIL, 2006; BRASIL, 2012; U.S. FDA, 2008; U.S. FDA, 2013; EU 2009.
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