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Resumo: Este artigo busca analisar o filme Onde vivem os monstros (Spike Jonze,

2009) pelo viés dos conceitos de musical moments e unheard melody apresentados por
Amy Herzog em seu livro. Também é feita a análise das duas sequências onde se é
tocada a canção Worried Shoes e sua importância tanto para a narrativa quanto para a
construção de personagens.
Em dado momento de Onde vivem os monstros (Spike Jonze, 2009), o personagem Max
ajuda a concertar os estragos que havia feito no quarto da irmã após um ataque de fúria.
Toda a cena é embalada pela singela voz da vocalista Karen O que interpreta a canção
Worried Shoes COLOCAR LINK DA MÚSICA. Mais à frente na narrativa, após o
menino ter sido abandonado por todas as “criaturas selvagens” (wild things) e deixado
por conta própria, uma versão instrumental ao piano da mesma canção toca criando um
paralelo entre as duas sequências. Quando é tocada pela primeira vez, Worried Shoes
não é inserida para servir de apoio ao que é mostrado em tela, mas, sim, para
complementar a narrativa com elementos que só são possíveis com sua presença.
Para entendermos o quão importante é a trilha sonora para o longa-metragem de Jonze,
precisamos primeiramente nos debruçar sobre o conceito de “musical moments”
(momentos musicais) presente no livro Dreams of Difference, Songs of the Same de
Amy Herzog. Na introdução da obra, a escritora diz que
certas trilhas sonoras se recusam a permanecer subordinadas a imagem e alcançam uma
presença dramática. São temas musicais distintos que indicam certo personagem ou
emoção e que podem começar a se exprimir de forma mais ativa. Walter Murch
identifica esses temas como sons parcialmente codificados, sons que são interpretados
de forma semelhante à linguagem [...] Músicas com letras, particularmente aqueles
cantadas por um dos personagens na tela, concentram a nossa atenção na música e
interrompem o fluxo da narrativa, mesmo porque a voz do cantor exclui a utilização do
diálogo (HERZOG, 2010, p. 6).
A constatação de que certas trilhas conseguem atrair atenção para si mesmo e terem sua
presença percebida pela audiência é de suma importância para que possamos
compreender certos aspectos do filme. Ainda no livro de Herzog, nos deparamos com
outro conceito bastante interessante, o de “unheard melody” (melodia não percebida).
Melodia não percebida é como Claudia Gorbaman se refere ao fenômeno das “músicas
dos filmes muitas vezes não serem registradas conscientemente na mente do
espectador” (HERZOG, 2010, p. 6).
Após a apresentação desses dois conceitos, podemos nos aprofundar nos detalhes da
cronologia por qual passou a concepção da trilha sonora de Onde vivem os monstros.
Quando chegou a hora de escolher alguém para fazer a música para seu filme, Spike
Jonze não pode deixar de pensar em ninguém mais adequado para o trabalho do que sua
amiga Karen O. Sobre isso, ela comentou achar que foi escolhida por conta da
“inocência de criança” presente em sua música ou em sua persona.
Sobre a ideia para a criação dos arranjos e letras das composições, Karen O diz: “The
idea was to write songs for the film, more than to write a score” (MCSWEENEY’S,
2009, p. 194) [a ideia foi de escrever músicas para o filme, mais do que escrever uma
trilha]. Isso se reflete ao ouvirmos o álbum de músicas em separado. Ele possui uma
unicidade e sentido que transcende o material visual ao qual está relacionado durante a
projeção.
Ao analisarmos cada uma das 14 faixas da trilha sonora podemos isolar alguns detalhes
peculiares de sua feitura. Uma das peculiaridades que mais chama atenção em uma
primeira apreciação é a participação de crianças no vocal — além, é claro, do
protagonista Max Records que integra a equipe de vocalista. Isso se deve por conta das
referências dadas pelo diretor a vocalista. Uma delas foi um álbum intitulado Innocence
and Despair do The Langley Schools Music Project. Uma gravação feita nos anos 1970
de um coral de crianças cantando regravações de músicas populares da época como “In
my Room” dos Beach Boys ou “Space Oddity” do Bowie. Além disso, também há o
fato do uso restrito apenas a instrumentos musicais encontradas em salas de aula norte-
americana; escolha feita por Karen O.
Ao analisarmos a duas sequências já citadas anteriormente onde se é tocada a canção
Worried Shoes podemos discorrer sobre os “musical moments” do longa-metragem.
Curiosamente, essa é a única música que não possuiu participação alguma da vocalista
durante a composição da letra.
Na primeira sequência, a música começa quando, ao ver os estragos que o filho causou
ao quarto da irmã, sua mãe questiona-o incrédula: “Max, o que você fez?”. Contudo,
para compreendê-la melhor, precisamos voltar alguns momentos antes. Max já estava
tendo sua crise de consciência quando sua mãe o interroga para saber a razão de sua
tristeza. Ele desabafa para ela sobre a atitude relapsa tomada por sua irmã Claire frente
às ações dos seus amigos e, no fim, revela a ela o que havia feito em seu momento de
fúria. Somente após ter extraído da sua progenitora que ela teria feito algo de diferente,
é claro.
A música entra em tela então para expor todos os sentimentos de Max — e também de
sua mãe, como vemos ao fim — que não puderam ser expostos através desse diálogo. A
letra composta pelo compositor Daniel Johnston conta sobre um indivíduo que mesmo
em todas as adversidades pode contar com seus Worried Shoes [sapatos preocupados]
para lhe fazer companhia. Enquanto vemos Max e sua mãe secando a neve já derretida
dos carpetes e da cama, somos embaladas pela letra que nos demonstra como é a relação
tanto do menino com sua genitora quanto o inverso. Para Max, sua mãe faz o papel dos
sapatos preocupados da canção. O sentimento do amor materno é estranho ao menino,
mas ele tem uma certeza ferrenha que sempre poderá contar com sua mãe. Certeza essa
que, instantes depois, acaba sendo balanceado pela entrada de outro integrante
masculino que acaba ocasionando o incidente que ocasiona o ponto de virada da trama.
Sua mãe também demonstra ser de uma fragilidade ímpar ao tentar conciliar o estresse
de seu trabalho com as preocupações em um lar onde atua como mãe solteira. Nos
momentos onde percebe que Max está deslocado deitado no chão em busca do seu
afeto, ela tenta o ouvir ao pedir para que o menino lhe contasse uma história. Ao fundo,
ainda se pode ouvir a canção tocando. Max, então, lhe conta a história de um vampiro
que é abandonado por seus semelhantes ao perder seus caninos após morder um prédio.
Basicamente com essa fábula, o menino apresenta seu maior medo: o abandono. Tanto
por parte dela, quanto por parte de sua irmã.
E, é basicamente sobre abandono que se trata Worried Shoes. Sobre um indivíduo que
se sente desamparado por todos os elementos e indivíduos da sua vida, desde sua sorte
até as pessoas que ele ama. Contudo, possui um porto seguro, algo com que ainda possa
contar.
Na segunda sequência, entretanto, não possuímos mais a letra para nos guiar. Max é
abandonado por todas as criaturas ao descobrirem que o menino não se trata de um rei e
o seu maior medo se concretiza. Ele se encontra abandonado em uma terra desconhecida
sem poder contar com nada e ninguém. A meu ver, a versão instrumental de Worried
Shoes toca nesse momento para realizar uma ligação subconsciente da plateia com o
relacionamento do menino com a mãe, recoloca-la na trama. Tanto fora, quanto dentro
de tela; pois é nesse momento que Max se dá conta que o lugar dele não é na terra dos
monstros, mas sim com sua mãe.
O filme é feito dessas ligações tantos sonoras quanto visuais para antecipar ou recolocar
elementos na narrativa. O barco que Max usa para viajar até a terra dos monstros pode
se visto em uma versão em miniatura no quarto do menino no começo do filme junto
com a construção em miniatura do lar dos monstros que ele ajudaria a construir no
futuro. Além disso, é usado o mesmo plano de maneira idêntica quando o menino se
encontra dentro do iglu, e quando é engolido por um dos monstros para ser protegido;
ambos fazendo alusão ao constate apego do menino a figura materna ao coloca-lo
dentro de um ambiente extremamente fechado e em posição quase fetal.
Um dos melhores elos feitos na trilha sonora é com as canções Igloo e Sailing Home,
ambas instrumentais. Uma é a canção inicial do filme e a outra é a de encerramento.
Contudo, elas possuem semelhanças sonoras que fazem você fazer alusão imediata à
outra sempre que escutar uma delas. Sailing Home é a sacada final do filme. Ela possui
acordes bastante semelhantes a Igloo, mas são mais acelerados e, de certo modo, felizes.
Serve para reafirmar a jornada do herói concluída com sucesso por Max enquanto volta
ao lar. Ao mesmo tempo, em que faz o espectador relembrar do início do filme, onde
vemos um protagonista que brinca sozinho e tenta desesperadamente conseguir a
atenção de seus familiares e que não consegue lidar com seus monstros interiores. E
essa ligação é feita ainda com Max correndo pelos mesmos lugares por quais passou
durante sua fuga. Contudo, ao invés de estar chorando, o menino está rindo.
COLOCAR OS PLANOS
A trilha de Onde vivem os monstros, ao fim, demonstra que músicas não-diegéticas não
precisam necessariamente servir apenas ao propósito de estar em segundo plano em uma
narrativa audiovisual sendo subordinada a imagem. Cada uma de suas faixas evidencia
que as canções podem, sim, adicionar algo a trama e ao enredo, além de adicionar mais
uma camada aos personagens ou as situações. Sem que para isso, precisem atingir
momentos de utopia ao serem interpretadas pelos personagens; ou estando de fato
dentro do universo de verossimilhança do longa-metragem. As músicas do filme,
inclusive, podem funcionar tanto para embalar a leitura do livro no qual foi adaptado
quanto para uma apreciação mais intimista e atenta na qual funcionaria como um álbum
conceitual. Existem elementos nas letras criadas por Karen O que o filme só conseguiu
apresentar através de suas composições sonoras e que tornariam a obra incompleta se
não existissem.
Bibliografia
HERZOG, Amy. Dreams of Difference, Songs of the Same The Musical Moment in
Film. Minneapolis University of Minnesota Press, 2010
JONZE, S; EGGERS, D. Heads On and We Shoot: The Making of Where the Wild
Things Are. 1ª edição. It Books. 2009.
DYER, Richard. Only Entertainment. 2002.
http://web.archive.org/web/20120430005020/http://www.rollingstone.com/music/news/
karen-o-and-the-kids-the-rockers-of-where-the-wild-things-are-20090819 (acessado em
03/08/2016)

http://www.mtv.co.uk/yeah-yeah-yeahs/news/karen-o-talks-where-the-wild-things-are
(acessado em 03/08/2016)

http://nymag.com/movies/features/59898/ (acessado em 03/08/2016)

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