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Mas essa história acaba de ganhar um novo capítulo com a aparição da partitura
original manuscrita da composição de Villa-Lobos, com letra de Altamirando de
Souza. A descoberta foi feita no acervo do compositor, regente e professor José
Siqueira. Pela primeira vez surge o documento sem intervenções, com data de
1938.
Sobreposição de nova partitura da ‘Ária’ das ‘Bachianas nº 5’ sobre o rosto de Villa-Lobos - Edson
Salles/Folhapress
A ordenação desse acervo vem sendo feita pela Academia Brasileira de Música,
a ABM, em parceria com a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. O vice-presidente da ABM, André Cardoso, achou a partitura no
material doado pela neta de Siqueira às instituições.
Paraibano, Siqueira marcou época, embora não seja tão famoso. Fundou, com
Villa-Lobos, a ABM, além da Ordem dos Músicos do Brasil, a Orquestra
Sinfônica Brasileira e a Sinfônica Nacional. Foi aposentado na época do AI-
5 por sua militância comunista.
O musicólogo Flávio Silva tem um raro exemplar desse disco, com a voz de
Ruth Valladares Corrêa entoando a letra original. “A música reunia o melhor da
produção musical brasileira”, diz.
Quando convidado para a gravação, Souza viu que seu nome não constava da
etiqueta do disco e declara, ainda na reportagem do A Noite, que se queixou e
entregou “a defesa dos direitos a advogados”. Pediu indenização e recolhimento
dos exemplares.
Villa-Lobos confirmou em entrevista da mesma semana que não dera o crédito.
“Me utilizei dos versos de poetas como Alvaro Moreyra, Manuel Bandeira, sem
jamais lhes pagar direitos autorais. Sentem-se até muito satisfeitos. Minha
música não é samba, é expressão artística, elevação espiritual. Seria absurdo ter
que pagar pela inspiração. Eu iria pagar ao Brasil pela natureza em que tenho me
inspirado.”
A peça, que ganharia uma segunda parte em 1945, com letra de Manuel
Bandeira, “Dança” ou “Martelo”, foi fartamente gravada. Há versões com
regência de Villa-Lobos, cantadas por Bidu Sayão, em 1947, Victoria de Los
Angeles, em 1957, e pelas cantoras líricas Barbara Hendricks, Kiri Te Kanawa e
Renée Fleming, além de variações regidas por Bernstein e Gustavo Dudamel.