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Tese apresentada à Pró-Reitoria de Pós-graduação e Pesquisa do Instituto

Tecnológico de Aeronáutica, como parte dos requisitos para a obtenção do título


de Mestre em Ciências no Curso de Pós-Graduação em Engenharia Aeronáutica
e Mecânica, Área de Mecânica dos Sólidos e Estruturas.

Clóvis Augusto Eça Ferreira

PÓS-FLAMBAGEM DE VIGAS CAIXÃO CO-CURADAS

Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo-assinados:

Prof. Sérgio Frascino Müller de Almeida


Orientador

Prof. Homero Santiago Maciel


Pró-Reitor de Pós-graduação e Pesquisa

Campo Montenegro
São José dos Campos, SP – Brasil
2007
4

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


Divisão Biblioteca Central do ITA/ CTA
Ferreira, Clóvis A. E.
Pós-flambagem de Vigas Caixão Co-curadas / Clóvis Augusto Eça Ferreira
São José dos Campos, 2007.
168f.

Tese de Mestrado – Curso de Engenharia Aeronáutica e Mecânica – Área de Mecânica dos Sólidos e Estruturas –
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2007. Orientador: Prof. Sérgio Frascino Müller de Almeida

1. Materiais Compósitos. 2. Análise Não-linear. 3. Pós-flambagem. I. Comando-Geral de Tecnologia


Aeroespacial. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Divisão de Engenharia Mecânica. II.Título

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

FERREIRA, Clóvis A. E. Pós-flambagem de vigas caixão co-curadas.


2007. 168f. Tese de Mestrado – Instituto Tecnológico de Aeronáutica,
São José dos Campos.

CESSÃO DE DIREITOS

NOME DO AUTOR: Clóvis Augusto Eça Ferreira


TÍTULO DO TRABALHO: Pós-flambagem de Vigas Caixão Co-curadas
TIPO DO TRABALHO/ ANO: Tese / 2007

É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta


tese e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O
autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta tese pode ser reproduzida
sem a autorização do autor.

_____________________________
Clóvis Augusto Eça Ferreira
Rua Croata, 774, apto. 21
São Paulo (SP)
iii

PÓS-FLAMBAGEM DE VIGAS CAIXÃO CO-CURADAS

Clóvis Augusto Eça Ferreira

Composição da Banca Examinadora

Prof. Alfredo Rocha de Faria – Presidente ITA

Prof. Sérgio Frascino Müller de Almeida – Orientador ITA

Prof. Valder Steffen – UFU

Prof. Eliseu Lucena Neto – ITA

Pesq. Maurício V. Donadon – ITA

ITA
iv

À inesquecível Ani

Ao inigualável Iá
v

AGRADECIMENTOS

Agradeço de coração a todos que me ajudaram a concluir este trabalho – em especial,


minha esposa Fátima, pela amorosa perseverança que tantos sacrifícios não minaram.

Agradeço meu orientador, Prof. Sérgio Frascino – por mostrar-me, com sua erudição e
paciência, um caminho intuitivo para superar cada etapa.

Agradeço o companheirismo dos colegas da Embraer – em particular, Montoro e


Hirdes, cujas notáveis sugestões valorizaram este texto.

Agradeço, enfim, os Engos. Siqueira e Masao, paradigmas para aqueles que buscam
tornar as aeronaves brasileiras cada vez mais competitivas.
vi

RESUMO

Uma caixa para flexo-torção, equipada com múltiplas longarinas – sem reforçadores
ou nervuras – é um conceito propício à tecnologia de compósitos. A integração de almas e
revestimentos possibilita um único ciclo de cura em processos à base de pré-impregnados, ou
com impregnação dentro do molde. Essa idéia pode ser aproveitada em asas e empenagens,
aplicações que, para o peso ótimo, tipicamente atingem a instabilidade local abaixo da carga-
limite. É aceitável que os longos painéis dessa caixa flambem, desde que não ocorram falhas
no laminado e, acima de tudo, a estrutura mantenha-se rígida o suficiente para a função
pretendida. Na presente investigação, uma caixa com longarinas auxiliares tem sua rigidez
comparada à de outras soluções propostas para uma viga engastada. Para se estimar a relação
entre carga e deslocamento na pós-flambagem, foram desenvolvidos modelos refinados com
um pacote comercial de elementos finitos (MSC/NASTRAN), habilitado à análise não-linear
geométrica (SOL106). Baseado nos modelos, comprovou-se, numericamente, que a
configuração dos reforços determina a rigidez tangente do conjunto. A adição de longarinas
internas mostrou-se tão eficaz quanto um dispendioso arranjo de reforçadores e nervuras,
tomado como referência. Em outra proposta, com reforçadores longos, sem nervuras, ocorreu
o colapso prematuro da caixa, evocando os cilindros de Koiter. O comportamento observado
em caixas retas, prismáticas e pesadas repetiu-se, com poucas ressalvas, para caixas cônicas,
oblíquas e mais leves. A técnica de simulação foi validada através de um ensaio estático: uma
caixa representativa foi submetida a um carregamento de flexo-torção, consideravelmente
superior à carga de flambagem inicial. A partir de deslocamentos medidos durante o ensaio,
traçou-se a curva de carga-rigidez, que foi comparada à curva prevista. Apesar de
consideráveis desvios introduzidos pelas condições de apoio, os resultados experimentais
confirmaram a representatividade dos modelos.
vii

ABSTRACT

The concept of reinforcing a torsion-bending box with multiple spar webs instead of
stiffeners and ribs is appropriate to composite structures technology. The high integration
level allows a single cure cycle, using either pre-impregnated materials or impregnation inside
the mould. Such concept is valuable for wings and empennages – two applications in which
optimum light-weight design typically causes instability below the limit load. Even though the
long box walls are allowed to buckle, laminate failure should not occur in any point. On the
other hand, the assembly is supposed to retain a minimum of stiffness, to meet the design
requirements. In the present work, different design concepts of reinforced cantilever box
beams are compared in terms of tangential stiffness. A finite element model was developed
employing a commercial FEA package (MSC/NASTRAN) featured with numerical tools for
non-linear analysis (SOL106). Refined meshes were used to estimate the load-displacement
behavior in the post-buckling conditions. Based on the numerical results, it was established
that the reinforcement configuration has strong effect on the tangent stiffness. The efficiency
of the multi-spar box measured fairly well against a complex layout of stiffeners and ribs –
taken for reference. In another proposal, based on long stiffeners without internal ribs, the box
showed a premature collapse, resembling Koiter’s cylinders. The conclusions attained in this
work apply, in essence, to boxes of different types: conical × constant section; straight ×
oblique; light laminate × heavy laminate. In order to validate the modeling technique, a static
test was conducted, loading a representative box in torsion-bending, far beyond the initial
buckling. The displacements measured in the test were used to plot the load-stiffness curve for
comparison to the curve obtained with the model. Despite the fact that significant deviations
were introduced by the boundary conditions, the test results confirmed the models.
viii

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Conteúdo de compósitos em aeronaves em % da massa estrutural ...................................... 19


FIGURA 2: “Trade-off study” de um segmento de fuselagem do Boeing 767-X .................................... 20
FIGURA 3: Estudo de configurações estruturais para a viga-caixa de alumínio ..................................... 23
FIGURA 4: Empenagem de jato comercial de grande porte dos anos 90 ................................................ 24
FIGURA 5: Deriva de moderno jato corporativo de longo alcance – “raio-X” ....................................... 25
FIGURA 6: Deriva de moderno jato corporativo de longo alcance – processo RTM ............................. 25
FIGURA 7: Estabilizador horizontal de moderno jato comercial de grande porte .................................. 26
FIGURA 8: Programa POSICOSS (EU): foco no método de análise ...................................................... 30
FIGURA 9: Programa COCOMAT (UE): foco no critério de dimensionamento.................................... 30
FIGURA 10: Deformações de Green-Lagrange ....................................................................................... 36
FIGURA 11: Elemento de barra, antes e depois do deslocamento relativo ud (ou qd) ............................. 41
FIGURA 12: Elemento de placa antes e depois do deslocamento ........................................................... 42
FIGURA 13: Superposição antes / depois da deformação ....................................................................... 42
FIGURA 14: Ponto-limite moderado ....................................................................................................... 44
FIGURA 15: “Snap-through”................................................................................................................... 45
FIGURA 16: Uma iteração de Newton-Raphson ..................................................................................... 46
FIGURA 17: Variações do método de Newton-Raphson......................................................................... 46
FIGURA 18: Método da corda – Crisfield Esférico................................................................................. 49
FIGURA 19: Método da corda – Crisfield Cilíndrico .............................................................................. 50
FIGURA 20: Método da corda – Riks-Wempner..................................................................................... 51
FIGURA 21: Método da corda – RAMM................................................................................................. 52
FIGURA 22: Método da corda – Normal ao fluxo de Davidenko ........................................................... 53
FIGURA 23: Ponto crítico suave – reversão apenas de carga.................................................................. 54
FIGURA 24: Ponto crítico severo – reversão de carga e deslocamento................................................... 54
FIGURA 25: Método de Crisfield – escolha da raiz pelo critério do menor resíduo............................... 55
FIGURA 26: Sistema com 1 GDL – inicial.............................................................................................. 61
FIGURA 27: Gráfico do sistema original................................................................................................. 63
FIGURA 28: Sistema melhorado pela adição da mola ρ.κ ...................................................................... 64
FIGURA 29: Gráfico do sistema modificado (ρ = 100) .......................................................................... 64
FIGURA 30: Sistema com infinitos GDL’s – placa cilíndrica (partic. plana) ......................................... 65
ix

FIGURA 31: Curvas de pós-flambagem (estável) para painéis planos.................................................... 66


FIGURA 32: Curvas de pós-flambagem (instável) para painéis cilíndricos ............................................ 66
FIGURA 33: Mandris para VARTM: espuma de poliestireno selada com epoxi.................................... 76
FIGURA 34: Preparação do molde da caixa com duas longarinas para VARTM ................................... 76
FIGURA 35: Caixa fabricada por VARTM – antes e depois da desmoldagem....................................... 77
FIGURA 36: Caixa reforçada (sem um revestimento) para combinação RTM-PREPREG .................... 79
FIGURA 37: Ferramental para a caixa reforçada e tampa: Invar 36........................................................ 79
FIGURA 38: Caixa com tampa após a desmoldagem .............................................................................. 80
FIGURA 39: Laminado IM-7/PIXA unidir., fabricado por TP-ATP....................................................... 81
FIGURA 40: Painel reforçado fabricado em TP-ATP ............................................................................. 82
FIGURA 41: Esquema de fabricação do painel reforçado em TP-ATP................................................... 82
FIGURA 42: Cupom ensaiado em teste de resistência OHC ................................................................... 83
FIGURA 43: Interface reforçador-revestimento – colagem primária TP-ATP........................................ 84
FIGURA 44: Medidas principais das caixas ............................................................................................ 88
FIGURA 45: Caixas básicas (sem reforços) com braço carregador......................................................... 88
FIGURA 46: Elementos genéricos de reforço (eixo de referência de material na direção z) .................. 90
FIGURA 47: Caixa básica (nenhum reforço) com a malha de elementos finitos .................................... 92
FIGURA 48: L1 – 1 longarina .................................................................................................................. 92
FIGURA 49: L2 – 2 longarinas................................................................................................................. 92
FIGURA 50: R2 – 2 reforçadores ............................................................................................................. 93
FIGURA 51: N1 – 1 nervura..................................................................................................................... 93
FIGURA 52: N7 – 7 nervuras ................................................................................................................... 93
FIGURA 53: N7L1 – 7 nervuras e 1 longarina.......................................................................................... 94
FIGURA 54: N7L2 – 7 nervuras e 2 longarinas ........................................................................................ 94
FIGURA 55: N7R2 – 7 nervuras e 2 reforçadores..................................................................................... 94
FIGURA 56: L2P1 – 2 longarinas e 1 pele................................................................................................ 95
FIGURA 57: N4R2 – 4 nervuras e 2 reforçadores..................................................................................... 95
FIGURA 58: Braços de momento: flexão e torção .................................................................................. 96
FIGURA 59: Braços na caixa oblíqua cônica........................................................................................... 97
FIGURA 60: Caixa pr/L2 – deformação a 10%, 80% e 100% da carga................................................... 98
FIGURA 61: Caixa pr/L2 – Linha elástica das longarinas diant. (l. cheia) e tras. (l. tracejada) ............. 99
FIGURA 62: Caixa pr/N4R2 – deformação a 10%, 80% e 100% da carga ............................................ 100
FIGURA 63: Caixa pr/N4R2 – deformação a 150% da carga (instabilidade dos reforçadores) ............ 100
x

FIGURA 64: Caixa pr/N4R2 – Evolução da linha elástica com a carga pontos nas longarinas ............. 101
FIGURA 65: Caixa PR/ Modelos a QUAD4 de aresta = 25; 10; 8,33 e 5 mm ...................................... 102
FIGURA 66: Convergência – deslocamentos e rigidez.......................................................................... 103
FIGURA 67: Coluna elástica com imperfeições iniciais -25 ≤ q0 ≤ 36 mm....................................... 104
FIGURA 68: Curvas Carga × Deslocamento e Carga × Rigidez ........................................................... 105
FIGURA 69: Carga × Deslocamento e Carga × Rigidez – ampliação da suposta região linear ........... 106
FIGURA 70: Exemplo de curva Carga × Rigidez Tangente para duas caixas....................................... 107
FIGURA 71: Caixa co/ – comparação entre incrementos de carga: 3% e 10% ................................... 109
FIGURA 72: Caixa CO/L2 – comparação NASTRAN × MARC .......................................................... 110
FIGURA 73: Comparação SOL106 × SOL600 (MARC) ...................................................................... 111
FIGURA 74: Comparação SOL106 × SOL600 (MARC) ...................................................................... 111
FIGURA 75: Caixas PR/R2 e PR/L2 – Influência das imperfeições iniciais (1º. e 2º. a.vetores)........... 112
FIGURA 76: Comparação das caixas básicas das 8 famílias ................................................................. 113
FIGURA 77: Caixa PR/L1 – Carga-rigidez para 1 longarina adicional (8 posições) ............................ 116
FIGURA 78: Caixa PR/L2 – Carga-rigidez para 2 longarinas adicionais (8 combinações).................. 117
FIGURA 79: Caixa PR/R2 – Carga-rigidez para 2 longarinas convertidas em reforçadores ............... 119
FIGURA 80: Caixa PR/L2P1 – Carga-rigidez para 2 longarinas e 1 pele............................................... 120
FIGURA 81: Caixa PR/N1 – Carga-rigidez para 1 nervura (9 configurações)....................................... 121
FIGURA 82: Caixa PR/N7 – Carga-rigidez para 7 nervuras (3 configurações) .................................... 122
FIGURA 83: Caixas PR/N7L1 , PR/N7L2 , PR/N7R2 – 7 nervuras com reforços adicionais................... 123
FIGURA 84: Família ‘PR’ – Curvas carga-rigidez ................................................................................ 124
FIGURA 85: Família ‘PR’ – Comparação das propostas de reforço .................................................... 127
FIGURA 86: Família ‘PR’ – Curvas carga-rigidez ................................................................................ 128
FIGURA 87: Família ‘PR’ – Comparação das propostas....................................................................... 129
FIGURA 88: Família ‘PO’ – Curvas carga-rigidez............................................................................... 130
FIGURA 89: Família ‘PO’ – Comparação das propostas de reforço ..................................................... 131
FIGURA 90: Família ‘po’ – Curvas carga-rigidez ................................................................................. 132
FIGURA 91: Família ‘po’ – Comparação das propostas de reforço ...................................................... 133
FIGURA 92: Família ‘CR’ – Curvas carga-rigidez.............................................................................. 134
FIGURA 93: Família ‘CR’ – Comparação das propostas de reforço.................................................... 135
FIGURA 94: Família ‘cr’ – Curvas carga-rigidez................................................................................. 136
FIGURA 95: Família ‘cr’ – Comparação das propostas de reforço ...................................................... 137
FIGURA 96: Família ‘CO’ – Curvas carga-rigidez ............................................................................... 138
xi

FIGURA 97: Família ‘CO’ – Comparação das propostas de reforço..................................................... 139


FIGURA 98: Família ‘co’ - Curvas carga-rigidez.................................................................................. 140
FIGURA 99: Família: ‘co’ – Comparação das propostas de reforço ..................................................... 141
FIGURA 100: Construção do corpo-de-prova ....................................................................................... 144
FIGURA 101: Instalação do aparato ...................................................................................................... 145
FIGURA 102: Localização do sensores de deslocamento tipo LVDT 1-10 .......................................... 146
FIGURA 103: Carga aplicada – longarina 2 flambada .......................................................................... 147
FIGURA 104: Carga aplicada – revestimento inferior flambado........................................................... 147
FIGURA 105: Leitura dos LVDT’s 9/10 para o ciclo CARGA-LIMITE .............................................. 149
FIGURA 106: Rigidez tangente dos LVDT’s 9/10 ................................................................................ 150
FIGURA 107: Deslocamentos verticais nas longarinas – LVDT’s 1/3/5/7 ........................................... 151
FIGURA 108: Aumento de deslocamento sob carga constante, gerando deflexão residual .................. 152
FIGURA 109: Deslocamentos LVDT’s 1/3/5/7 com e sem correção da deflexão residual................... 153
FIGURA 110: Deslocamentos LVDT’s 1/3/5/7 antes e depois das correções....................................... 154
FIGURA 111: Deslocamentos horizontais nas longarinas – LVDT’s 2/4/6/8 ...................................... 155
FIGURA 112: Desvios entre laboratório (LAB) e modelo a elementos finitos (FEM) ......................... 156
FIGURA 113: Correção dos deslocamentos verticais LVDT’s 1/3/5/7 ................................................. 157
FIGURA 114: Rigidez dos LVDT’s 1/3/5/7 – previsões FEM e leituras corrigidas LAB..................... 158
xii

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: SEQUÊNCIAS DE LAMINAÇÃO DAS CAIXAS “PESADAS”.................................. 89


TABELA 2: SEQUÊNCIAS DE LAMINAÇÃO DAS CAIXAS “LEVES” ....................................... 89
TABELA 3: DEFINIÇÃO DOS REFORÇOS .....................................................................................91
TABELA 4: COMPARAÇÃO DAS CAIXAS BÁSICAS DAS 8 FAMÍLIAS.................................113
TABELA 5: RIGIDEZ LINEAR – RELAÇÃO ENTRE “PESADAS” E “LEVES” ........................114
TABELA 6: RIGIDEZ LINEAR DENTRO DOS GRUPOS “PESADAS” E “LEVES” ..................114
TABELA 7: CAIXA PR/L1 – CONFIGURAÇÕES COM 1 LONGARINA ADICIONAL..............117
TABELA 8: CAIXA PR/L2 – CONFIGURAÇÕES COM 2 LONGARINAS ADICIONAIS ......... 118
TABELA 9: CAIXA PR/N1 – CONFIGURAÇÕES COM 1 NERVURA ADICIONAL ................121
TABELA 10: CAIXA PR/N7 – CONFIGURAÇÕES COM 7 NERVURAS ADICIONAIS ............122
TABELA 11: EFICIÊNCIAS RELATIVAS DOS REFORÇOS PARA CADA FAMÍLIA.............. 142
xiii

LISTA DE SÍMBOLOS

As principais notações empregadas neste trabalho acham-se aqui reunidas, para facilitar a
leitura. Ocasionalmente, são usados os símbolos originais das referências citadas. Não há,
entretanto, prejuízos à compreensão. O negrito é reservado para vetores e matrizes.

A – matriz auxiliar, para cálculo de BNL

B, BL, BNL – matrizes das derivadas das funções-de-forma (total, linear e não-linear)
D – matriz das propriedades elásticas do material
δ, δ2, δ3, δ4 – 1ª., 2ª., 3ª., 4ª. variações de um funcional
Δl – comprimento de corda (relativo ao método denominado ‘arc-length’ )
E – módulo de elasticidade
εij – componentes do tensor das deformações
F – vetor das forças nodais externas
G – matriz auxiliar, para cálculo de BNL

g – vetor base das coordenadas no estado deformado


γi – iº. autovetor
i, j, k – subscritos da notação tensorial, assumem valores 1,2,3
K – matriz de rigidez
KL – matriz de rigidez linear
KR – matriz de rigidez devida a grandes rotações
Kσ – matriz de rigidez geométrica, devida às tensões iniciais
KT – matriz de rigidez tangente
KT – rigidez tangente (escalar)
λ – fator de carga (adimensional)
λi – iº. autovalor
λCR – fator de carga crítico

M – matriz auxiliar, para cálculo de Kσ


xiv

N – matriz das funções-de-forma de um elemento


P – vetor das forças nodais internas
q – vetor dos deslocamentos nodais
R – vetor dos resíduos entre forças nodais internas e externas
r – vetor-posição de um ponto no estado deformado (3.1)
r0 – vetor-posição de um ponto no estado indeformado
σij – componentes do tensor das tensões
T – matriz dos co-senos diretores de uma transformação de coordenadas
t – espessura da placa
u – vetor de deslocamentos de um ponto
||v|| – norma (módulo) do vetor v
V – energia potencial total
vi,j – derivada da componente i do vetor v, em relação à coordenada xj

Xb, Xd, Xe – v.-posição no sistema básico, local deformado, local indeformado (3.2)
x, y, z – coordenadas cartesianas de um ponto do espaço
xv

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 17

2 PROJETO DE ESTRUTURAS “TIPO ASA”.......................................... 19


2.1 COMPÓSITOS VS. ALUMÍNIO ............................................................................... 19
2.2 LONGARINAS VS. NERVURAS .............................................................................22
2.3 FLAMBANTE VS. NÃO-FLAMBANTE..................................................................28
2.4 ESCOPO DESTE TRABALHO ................................................................................. 31
2.5 SUMÁRIO DO CAPÍTULO 2....................................................................................33
3 FUNDAMENTOS MATEMÁTICOS ....................................................... 34
3.1 ANÁLISE ESTÁTICA NÃO-LINEAR GEOMÉTRICA...........................................35
3.2 EFEITO DO DESLOCAMENTO DE CORPO RÍGIDO ........................................... 41
3.3 MÉTODOS INCREMENTAIS-ITERATIVOS..........................................................44
3.4 TEORIA DA FLAMBAGEM INICIAL .....................................................................57
3.4.1 EFEITO DAS IMPERFEIÇÕES.........................................................................................57
3.4.2 TRABALHOS EXPERIMENTAIS E NUMÉRICOS ............................................................59
3.4.3 SISTEMA COM UM GDL – TRELIÇA DE COX MODIFICADA .........................................61
3.4.4 SISTEMA COM INFINITOS GDL’S – PAINEL CILÍNDRICO.............................................65
3.5 ANÁLISE DE FLAMBAGEM LINEARIZADA.......................................................68
3.6 SUMÁRIO DO CAPÍTULO 3....................................................................................70
4 MANUFATURA .......................................................................................... 71
4.1 VISÃO GERAL DOS PROCESSOS..........................................................................72
4.2 CAIXA FABRICADA POR VARTM........................................................................76
4.3 CAIXA FABRICADA POR COMBINAÇÃO PREPREG-RTM ..............................78
4.4 CAIXA FABRICADA EM RESINA TERMOPLÁSTICA (TP-ATP) ......................81
4.5 SUMÁRIO DO CAPÍTULO 4....................................................................................85
5 DESENVOLVIMENTO ............................................................................. 86
5.1 FAMÍLIAS E REFORÇOS.........................................................................................87
5.1.1 FAMÍLIAS..........................................................................................................................87
5.1.2 REFORÇOS......................................................................................................................90
5.2 CARREGAMENTO ................................................................................................... 96
5.3 PONTO DE CONTROLE DA RIGIDEZ ...................................................................98
5.4 DISCRETIZAÇÃO ................................................................................................... 102
5.5 CURVAS DE CARGA ............................................................................................. 104
5.5.1 COLUNA ELÁSTICA ESBELTA......................................................................................104
5.5.2 CURVAS CARGA-RIGIDEZ DAS CAIXAS .....................................................................107
5.6 INCREMENTO DE CARGA ................................................................................... 109
5.7 NASTRAN VS. MARC ...........................................................................................110
5.8 IMPERFEIÇÕES INICIAIS ..................................................................................... 112
xvi

5.9 RESULTADOS DAS SIMULAÇÕES .....................................................................113


5.9.1 AS OITO CAIXAS BÁSICAS ...........................................................................................113
5.9.2 FAMÍLIA ‘PR’: PRISMA RETA PESADA .........................................................................116
5.9.3 FAMÍLIA ‘pr’: PRISMA RETA LEVE ................................................................................128
5.9.4 FAMÍLIA ‘PO’: PRISMA OBLÍQUA PESADA ..................................................................130
5.9.5 FAMÍLIA ‘po’: PRISMA OBLÍQUA LEVE .........................................................................132
5.9.6 FAMÍLIA ‘CR’: CÔNICA RETA PESADA.........................................................................134
5.9.7 FAMÍLIA ‘cr’: CÔNICA RETA LEVE ................................................................................136
5.9.8 FAMÍLIA ‘CO’: CÔNICA OBLÍQUA PESADA ..................................................................138
5.9.9 FAMÍLIA ‘co’: CÔNICA OBLÍQUA LEVE .........................................................................140
5.10 ANÁLISE DOS RESULTADOS ..........................................................................142
5.11 ENSAIOS...............................................................................................................143
5.12 CORPO-DE-PROVA.............................................................................................144
5.13 APARATO EXPERIMENTAL .............................................................................145
5.14 PROCEDIMENTO DE ENSAIO ..........................................................................148
5.15 RESULTADOS E CONCLUSÕES SOBRE O ENSAIO ..................................... 149
5.15.1 REVESTIMENTOS .........................................................................................................149
5.15.2 LONGARINAS.................................................................................................................151
5.15.3 CONCLUSÕES SOBRE O ENSAIO ...............................................................................160
6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHO FUTURO ............ 161
6.1 CONCLUSÕES.........................................................................................................161
6.2 SUGESTÕES DE TRABALHO FUTURO ..............................................................162
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 163
17

1 INTRODUÇÃO

Ao iniciar a concepção de uma nova aeronave, o projetista estrutural se defronta com


três questões interativas: (a) seleção do material, (b) critério de dimensionamento, e (c)
configuração dos reforços.

Essas questões devem ser resolvidas para cada segmento da estrutura, em particular,
asas e empenagens, cujo desenho básico é uma viga em balanço, em forma de caixa
alongada. Considerando-se as tendências da indústria aeroespacial, a viga-caixa tende a ser
concebida em laminados de compósito, aproveitando a diferenciada prestação desse material.
A busca por um peso competitivo pressupõe a flambagem local em baixos níveis de carga.

A terceira questão, entre as acima, encerra um complexo problema de otimização.


Projetar uma asa significa, neste estudo, a tarefa de escolher o conceito de nervuras,
reforçadores e longarinas. A região viável é delimitada por numerosos requisitos de
segurança, destacando-se a rigidez e a resistência, frente às cargas e velocidades. Peso e custo
de fabricação predominam entre os aspectos ponderados pela definição do ótimo.

Reconhecendo a dimensão dessa tarefa, um método de análise foi desenvolvido e


aplicado a uma caixa sob flexo-torção – retrato simplificado de uma asa ou empenagem.
Usando esse método, diferentes configurações estruturais foram comparadas, quanto à
eficiência rigidez-peso. Para lidar com a estrutura flambada, empregaram-se ferramentas de
análise não-linear geométrica, disponíveis no pacote comercial de elementos finitos
MSC/NASTRAN.

Uma revisão da literatura aberta precedeu a elaboração do método. Diversas


referências consultadas alertavam para a incerteza dos modelos numéricos, a partir da
flambagem. Por essa razão, um ensaio de validação foi realizado. Os resultados, após ajustes
associados às condições de contorno experimentais, mostraram-se satisfatórios.
18

O exercício resgatou uma configuração preterida pela “cultura do alumínio”: a caixa


multi-longarina. Esse conceito, de notável simplicidade, já é aplicado em projetos modernos,
de jatos executivos a aeronaves de grande porte.

Além do estudo principal, dedicado à análise numérica da estrutura, foi realizado um


levantamento entre as tecnologias que despontam como efetivas para a fabricação de caixas
multi-longarina. Dois fatores de custo: o uso da autoclave, e as junções mecânicas, poderão
ser beneficiados pela combinação adequada do projeto com o processo de fabricação.
19

2 PROJETO DE ESTRUTURAS “TIPO ASA”

2.1 COMPÓSITOS VS. ALUMÍNIO

A disseminação do compósito em aeronaves de transporte (figura 1), como substituto


das ligas de alumínio, deve-se, prioritariamente, a considerações de custo e não de peso [1].

Próxima geração de aeronaves


de transporte tipo narrowbody

*Aeronaves militares em lilás

FIGURA 1: Conteúdo de compósitos em aeronaves em % da massa estrutural


Fonte: AeroStrategy Commentary, 2006 [1]

Entre os anos 70 e início dos 90, as expectativas de alívio de peso, mediante a


substituição do alumínio pelo compósito, ultrapassavam os 30%. O grande desafio da época
era manter a paridade de custo com a solução metálica. A figura 2, extraída de um trade-study
patrocinado pela NASA [2], mostra o esforço dos projetistas para trazer o custo de uma
fuselagem de carbono-epoxi ao mesmo patamar da solução convencional, em alumínio,
mesmo sacrificando ligeiramente a vantagem de peso, que se estimava ao redor de 50%.
20

Custo (%)
alumínio compósito = reduzir peso
Família B (compósito)

Família C (compósito) otimizar


Família D (compósito) = reduzir
custos
Família B otimizada

Família C otimizada
Projeto
Família D otimizada em alumínio
(referência)
Alumínio

projetos em compósitos,
antes e depois de otimizados

Peso (%)
FIGURA 2: “Trade-off study” de um segmento de fuselagem do Boeing 767-X
Fonte: ILCEWICZ, 1995 [2]

Para que a estrutura em compósito atendesse os requisitos de segurança e durabilidade,


numerosos problemas precisaram ser resolvidos, reduzindo as vantagens inicialmente
estimadas. Detalhes como: junções, proteções eletromagnéticas, cablagens de retorno,
resistência a impactos, resistência ao calor, e barreiras contra a corrosão, diminuíram o ganho
de peso esperado. Por seu turno, os analistas estruturais impuseram limites às tensões
atuantes, para evitar a propagação de delaminações, o que resultou num dimensionamento
mais conservativo. Depois que esses impactos se tornaram conhecidos, o interesse pelo
compósito, como otimizador do peso, perdeu ênfase.

Em paralelo, grandes melhorias aconteceram na manufatura. A automação dos


processos, conjugada à integração dos componentes, diminuiu apreciavelmente as horas de
fabricação. Com a entrada de novos produtores, o aumento da oferta dos materiais de
consumo tornou os compósitos mais competitivos, reduzindo o risco de escassez. Atualmente,
a participação da matéria-prima no custo total é de 8-10% [3].
Recentemente, passou-se a considerar qualquer alívio de peso da ordem de 10%, como
suficiente para justificar a mudança de alumínio para compósito, em vista de vantagens
econômicas que podem atingir 30% do custo recorrente total.
21

Com essa perspectiva, faz-se necessário um projeto diferente – que balanceará as


qualidades do produto, orientando-as ao custo. Novos conceitos geométricos precisam ser
criados, ou redescobertos, tomando o lugar do “desenho metálico” tradicional. A construção
de uma asa em carbono-epoxi, seguindo a arquitetura da asa de alumínio, dificilmente se
viabiliza – mesmo que seja leve.

Nessa linha, o presente estudo focaliza a viga-caixa de flexo-torção, um elemento de


projeto cuja aplicação se estende a asas, empenagens e pilones.
22

2.2 LONGARINAS VS. NERVURAS

Nos anos 60, auge da era do alumínio, grande atenção foi dedicada à eficiência de
estruturas de chapas e perfis, geralmente dimensionadas por estabilidade. Gerard [4], por
exemplo, fez uma análise paramétrica de duas configurações para a viga-caixa metálica:
multi-longarina e multi-nervura. Em sua análise da viga em flexão pura, esse pesquisador
utilizou dois índices adimensionais:

(a) Índice de solidez – relação entre o peso da estrutura e o peso de uma caixa maciça de
mesmas dimensões externas, seu valor máximo é a unidade;

(b) Índice de carga – relação entre o momento fletor e o produto ‘E.h2.w’, onde ‘h’ é a altura,
‘w’ a largura da seção da caixa, e ‘E’ é o módulo de elasticidade do material.

A figura 3 reporta a solidez mínima obtida por Gerard, para vigas otimizadas
considerando critérios de estabilidade e resistência. As curvas referem-se às duas
configurações: multi-longarina e multi-nervura. São crescentes, uma vez que aumentos do
momento fletor devem acarretar aumentos na espessura dos elementos resistentes. Sob cargas
baixas, o critério de estabilidade é dimensionante, enquanto que sob cargas elevadas, a
resistência do material, caracterizada pelo escoamento em compressão, torna-se mais crítica.

A superposição dos dois critérios explica a inflexão, próximo ao índice de carga 10-3.
Na região dominada pela estabilidade, os aumentos de carga são absorvidos com menores
aumentos de massa, em comparação com a região dominada pela resistência ao escoamento.
Esse comportamento está associado aos expoentes que afetam a espessura nas equações que
definem os critérios.

Na região de carga baixas, o reforço transversal proporcionado pelas nervuras mostra-


se mais eficiente que o longitudinal. À medida que a carga se eleva, a diferença entre as
curvas diminui, ou seja, sob altos valores de flexão, as duas configurações implicam na
mesma massa estrutural, que corresponderia a uma caixa de paredes grossas, cujo limite de
resistência seria o escoamento e a ruptura.
23

Cargas altas:
diferenças
desprezíveis

Cargas baixas: a caixa


multi-nervura é mais leve

FIGURA 3: Estudo de configurações estruturais para a viga-caixa de alumínio


Fonte: GERARD, 1962 [4]

Para esse pesquisador, a caixa multi-nervura seria a solução ideal, tornando-se ainda
mais eficiente, pela adição de reforçadores. Por muito tempo, essa arquitetura predominou no
projeto de aeronaves metálicas de todos os tamanhos.

Na construção em compósito, a montagem da caixa multi-nervura corresponde a um


elevado custo recorrente – inaceitável, no contexto atual. Sua complexidade pode ser
observada na cauda de um jato comercial de grande porte, dos anos 90 (figura 4), que faz jus
ao termo “alumínio preto” – aplicável a estruturas feitas em fibra-de-carbono, segundo
desenhos tradicionais do alumínio.
24

FIGURA 4: Empenagem de jato comercial de grande porte dos anos 90


Fonte: FAWCETT, 1997 [5]

A caixa multi-longarina, por outro lado, é um conceito nitidamente favorável aos


processos de fabricação em compósitos. A alta integração de almas e revestimentos, sem
prendedores mecânicos, permite a cura simultânea, usando processos como o RTM, descrito
no capítulo 4.

Uma aplicação recente desse conceito é encontrada na deriva de um moderno jato


corporativo de longo alcance (figuras 5 e 6). O caixão estrutural é formado por seis
longarinas, e apenas três nervuras, incluindo as duas que fecham as extremidades.
25

Caixão da deriva co-curado

Alumínio integral

Kevlar (RTM)

Caixão co-curado
em carbono (RTM)

FIGURA 5: Deriva de moderno jato corporativo de longo alcance – “raio-X”

Processo de fabricação RTM

Injeção
e
Polimerização

FIGURA 6: Deriva de moderno jato corporativo de longo alcance – processo RTM


26

Outra aplicação da caixa multi-longarina vem sendo estudada para o estabilizador


horizontal de um novo jato de transporte comercial de grande porte, cujo conteúdo de 50% de
compósitos na massa estrutural deverá ser um marco divisório na evolução da indústria
aeronáutica. Na figura 7, vê-se a fotografia de uma caixa fabricada para demonstrar a
viabilidade industrial do conceito.

FIGURA 7: Estabilizador horizontal de moderno jato comercial de grande porte


27

No presente trabalho, foram reunidas evidências de que o desempenho estrutural da


caixa multi-longarina em compósito é comparável ao de outras soluções, inclusive à caixa
multi-nervura. Essa afirmação é especialmente válida na pós-flambagem.

De volta à figura 3, sua mais importante conseqüência é apontar que, em projetos


otimizados, concebidos para elevados níveis de carga, não existe grande diferença de
eficiência entre as configurações com nervuras e longarinas. Essa constatação de Gerard, a
respeito das caixas isotrópicas dos anos 60, permanece válida para as estruturas modernas, em
que se empregam materiais de alta resistência, como os compósitos. Com toda propriedade, o
projetista que comparar essas configurações, deverá basear sua escolha no custo.
28

2.3 FLAMBANTE VS. NÃO-FLAMBANTE

À medida que surgem materiais construtivos mais resistentes e rígidos, afinam-se as


espessuras, aumentando a vantagem da chamada “estrutura flambante” – aquela em que os
modos locais atingem a carga crítica antes da carga final. A caixa multi-longarina em
compósito deve adotar esse conceito, passando a responder de forma não-linear. Ao analista é
proposto o desafio de predizer com segurança o comportamento da estrutura, expresso pela
relação entre carga e deslocamento, para que se possa verificar, em cada ponto, a satisfação
dos critérios de resistência e rigidez.

Diferentemente do alumínio [6]-[10], não se dispõe de métodos semi-empíricos para


analisar os compósitos, na região da pós-flambagem. A prática mais aceita pela indústria é a
simulação com modelos de elementos finitos. Os pacotes comerciais FEA foram equipados
com ferramentas dedicadas a vários tipos de análise não-linear, principalmente a geométrica,
utilizando a abordagem incremental associada a métodos iterativos.

É indiscutível a capacidade desses recursos, para representar a primeira flambagem e o


comportamento na vizinhança desse ponto. Por outro lado, fenômenos como snap back, mode
jumping, interação de modos, flambagem em presença de delaminação e outras falhas são,
ainda hoje, objeto de pesquisa em vista do inseguro desempenho das ferramentas
computacionais comerciais. (Por snap back, entende-se a reversão do sentido das deflexões na
região flambada. A expressão mode jumping designa a mudança abrupta de modo de
flambagem.)

Um procedimento híbrido, que associa análise não-linear estática e dinâmica, desponta


como uma das estratégias mais promissoras. A intenção é representar as respostas estáveis –
em que há recuperação da rigidez perdida, e as respostas instáveis – em que pode ocorrer o
colapso [11]-[24].
29

A flambagem da estrutura em compósitos sob níveis baixos de carga potencializa


mecanismos de falha estática ligados à matriz, e à propagação descontrolada de delaminações,
por ação das cargas cíclicas. Preocupações como essas serão afastadas quando se dispuser de
um procedimento robusto para simular o comportamento após a flambagem, levando em
conta a degradação do material.

Essa é a motivação de dois projetos lançados, sucessivamente, pela União Européia:


POSICOSS (2000/2004) e COCOMAT (2004/2007) [25]-[27], dedicados a estruturas de
fuselagem. Apoiados em um sólido banco de dados experimentais, esses projetos visam
principalmente:

(a) POSICOSS, Improved Post-Buckling Simulaton for Design of Fiber Composite Stiffened
Fuselage Structures – desenvolver ferramentas velozes de projeto e análise, usando
funções-de-forma (figura 8); e

(b) COCOMAT, Improved Material Exploitation at Safe Design of Composite Airframe


Structures by Accurate Simulation of Collapse – viabilizar projetos leves, em que a
flambagem ocorra abaixo da carga limite, e a falha abaixo da carga final (figura 9).
30

GDL’s

discretização

Estrutura Real análise de


flambagem (ex.)

atualização

• Redução significativa do número


Modelo EF
de graus-de-liberdade.

• Atualizações regulares das


funções de forma minimizam
o erro durante a análise.
“Funções de Forma”

Erro

FIGURA 8: Programa POSICOSS (EU): foco no método de análise


Fonte: POSICOSS, 2005 [26]

Cenário de projeto atual Cenário de projeto futuro


Carga Carga
Colapso Colapso

OD
Não permitido
Ocorrência de
degradação (OD) CF
Carga Final (CF) CL
Região segura
Carga Limite (CL)
Permitido em
condições 1ª. Carga de Flambagem (1.CF) 1.CF
operacionais
de vôo

Encurtamento Encurtamento

FIGURA 9: Programa COCOMAT (UE): foco no critério de dimensionamento


Fonte: DEGENHARDT, 2004 [27]
31

2.4 ESCOPO DESTE TRABALHO

Há abundância de publicações sobre a resistência das estruturas de compósitos na pós-


flambagem. Um dos temas mais abordados é a junção, reconhecidamente crítica, entre
reforçador e revestimento. Bem menos atenção tem sido dispensada à redução de rigidez –
aspecto primordial em aplicações aeronáuticas – especialmente, do ponto de vista
aeroelástico.

No presente trabalho, uma caixa multi-longarina fabricada em compósitos teve seu


comportamento não-linear simulado com o programa MSC/NASTRAN. Pela ação de uma
carga na extremidade, a viga-caixa, montada em balanço, foi submetida a flexo-torção,
ingressando na região de pós-flambagem.

A rigidez tangente, derivada da curva carga-deslocamento, foi acompanhada durante


todo o carregamento. O resultado foi comparado ao de outros desenhos possíveis, levando-se
em conta a rigidez e a massa de cada solução. Não houve avaliação da resistência – que
requereria um tratamento dedicado.

Na solução do problema de não-linearidade geométrica, foi utilizado o conhecido


método de Newton-Raphson [28]. Versões aperfeiçoadas desse algoritmo integram o pacote
MSC/NASTRAN, incluindo os métodos da corda (arc-length) criados por Riks-Wempner
[14] e Crisfield [17]-[20]. Uma revisão dos fundamentos da análise foi incluída no escopo
deste trabalho.

A caixa para flexo-torção aproxima-se, em vista das dimensões e solicitações, de um


subconjunto de um estabilizador multi-longarina, como os exibidos nas figuras 5 a 7.
Levando-se em conta o grau de deformação previsto para esse tipo de estrutura, não se espera
a ocorrência de fenômenos instáveis, como mudança de modo de flambagem, ou a falha
súbita do conjunto. Por isso, a abordagem da análise estática não-linear geométrica parece
uma escolha viável. Mesmo assim, reconhece-se a necessidade de uma etapa de validação
experimental.
32

Para checar o método de análise, cujas limitações não são inteiramente conhecidas,
este trabalho incluiu uma parte experimental. Uma caixa sem elementos internos de reforço,
comparável à estudada, foi construída e carregada acima da flambagem local do revestimento.
As leituras, tomadas no ensaio de dois espécimes, indicaram que um modelo ajustado
reproduz razoavelmente o comportamento global da estrutura real. Em especial, a carga
crítica e o padrão de deflexão global foram confirmados, após o ajuste de desvios
introduzidos pelas condições de contorno da montagem experimental. Os ensaios foram
realizados no laboratório da EMBRAER S.A., no ano de 2005.

Apesar da extensa atividade de análise empreendida, o objetivo prioritário deste


trabalho é encontrar diretrizes de projeto, que agreguem as lições fundamentais da Análise e
da Manufatura.
33

2.5 SUMÁRIO DO CAPÍTULO 2

Encerrando este capítulo, o seguinte sumário é proposto:

(a) o emprego de compósitos em estruturas principais aeronáuticas é orientado, em primeiro


lugar, pela redução do custo – o alívio de peso tornou-se uma vantagem subalterna;

(b) para elevar a eficiência em peso, as soluções em compósitos devem flambar abaixo da
carga limite, e eventualmente, falhar localmente, abaixo da carga máxima;

(c) a perda de rigidez seguinte à flambagem deve ser avaliada, principalmente em áreas
sensíveis a fenômenos aeroelásticos;

(d) na região da pós-flambagem, usa-se a análise não-linear por elementos finitos, cujos
resultados, nos estágios avançados de flambagem, requerem validação experimental;

(e) a caixa multi-longarina representa um conceito geométrico adequado à fabricação em


compósitos, com eficiência competitiva – como se busca comprovar neste trabalho.
34

3 FUNDAMENTOS MATEMÁTICOS

Esta parte do trabalho reúne quatro assuntos relevantes para um estudo de pós-
flambagem por elementos finitos, considerando-se apenas a não-linearidade geométrica.

A seção 3.1 apresenta a formulação da análise não-linear baseada na teoria de grandes


deslocamentos, aplicada ao método de elementos finitos. O objetivo principal é detalhar a
obtenção da matriz de rigidez tangente, também chamada de rigidez residual, a partir da
introdução das deformações não-lineares de Green-Lagrange.

A seção 3.2 descreve a estratégia usada pelo MSC/NASTRAN para considerar o


movimento de corpo rígido, que consiste na atualização do sistema de coordenadas local. Essa
estratégia pode ser considerada uma aproximação da Abordagem Lagrangiana Atualizada.

A seção 3.3 é dedicada à análise incremental-iterativa. Partindo-se da fórmula de


Newton-Raphson, é apresentada a metodologia da corda (arc-length) – ainda hoje, um objeto
de pesquisa, destacando-se as contribuições de Crisfield, Riks, Wempner e outros.

A seção 3.4 refere-se à Teoria da Flambagem Inicial, iniciada por Koiter, e


aperfeiçoada por Hutchinson, Budianski e outros. São citados experimentos recentes,
aplicando a técnica de perturbar a estrutura perfeita com os modos iniciais de flambagem,
para simular a resposta na vizinhança da primeira bifurcação. Duas ilustrações são
apresentadas: um sistema com um único grau-de-liberdade, e outro com infinitos graus. Para
uma exposição didática, mas rigorosa, da teoria, sugere-se a referência [29].

No desenvolvimento deste trabalho, foi necessário recorrer à análise de flambagem


linearizada, com base na modelação por elementos finitos. Uma suscinta exposição a respeito
desse assunto foi incluída na seção 3.5 .

A seção 3.6 sumariza as principais conclusões deste capítulo.


35

3.1 ANÁLISE ESTÁTICA NÃO-LINEAR GEOMÉTRICA

A finalidade desta seção é apresentar a formulação básica da análise estática não-


linear. O problema não-linear, tratado no contínuo discretizado pelo método de elementos
finitos, pode ser formulado de maneira simples. Como em problemas lineares, as equações
diferenciais espaciais são discretizadas, resultando um sistema de equações algébricas, cujas
incógnitas parametrizam interpolações das variáveis contínuas. O sistema obtido não é linear
– daí a necessidade da formulação incremental na solução numérica do problema. No
desenvolvimento a seguir, vetores e matrizes são representados por letras em negrito, exceto
onde a notação tensorial foi empregada, acompanhando as referências consultadas.

Seja q o vetor de parâmetros, que identificamos como deslocamentos nodais, e u o


vetor das variáveis espaciais contínuas – neste caso, os deslocamentos de cada ponto (x,y,z)
da estrutura. A única aproximação intrínseca do método de elementos finitos é:

(3.1.1)

onde N é a matriz das funções-de-forma que interpolam os deslocamentos u no elemento, a

partir de valores nodais q. O equilíbrio equivale à soma nula das forças externas F e internas

P. As forças P são obtidas das tensões σ, estas das deformações ε, que dependem de q.

(3.1.2)

Para resolver a equação de equilíbrio (3.1.2) com métodos iterativos, recorre-se à artificiosa
introdução do vetor-resíduo R. Reescrevendo a igualdade:

(3.1.3)

R avalia o desequilíbrio entre forças aplicadas F e forças internas P, obtidas por sucessivas
aproximações. A análise buscará q que satisfaça ||R|| < Δ , ou algum outro critério de
convergência. Parte-se de uma situação conhecida, de quase-equilíbrio ou equilíbrio, como:
q = 0 e F = P = R = 0. Incrementando a carga externa, o próximo valor de q é calculado:

(3.1.4)
36

Em (3.1.4), Δq1 é o primeiro valor a determinar. Com ele, são calculadas as forças internas

P1. O passo seguinte é obter R , e avaliá-lo. Se necessário, os deslocamentos são corrigidos


pela técnica iterativa da seção 3.3 . As iterações terminam quando o critério de convergência é
satisfeito. Na relação deformação-deslocamento está a diferença entre a teoria linear – de
deslocamentos infinitesimais, e a teoria que considera deslocamentos finitos e pequenos
gradientes de deslocamentos. Na teoria linear, valem as seguintes relações no contínuo:

εij εij (3.1.5)

FIGURA 10: Deformações de Green-Lagrange


Fonte: MASON, 1976 [30]

Na teoria não-linear, as chamadas deformações de Green-Lagrange são expressas por [30]:

εij (3.1.6)

εij εij εij

No desenvolvimento acima, foi empregada a notação tensorial, conforme a ref. [30]. Os


subscritos ‘L’ e ‘NL’ indicam ‘linear’ e ‘não-linear’
37

Com a discretização, usando o método de elementos finitos, as relações (3.1.5) e


(3.1.6) tornam-se matriciais, dando origem à matriz B, que contem derivadas das funções-de-

forma N, obtidas pela aplicação de (3.1.1). Na teoria linear:

εL (3.1.7)

onde BL é independente de q , enquanto na teoria não-linear:

ε εL εNL (3.1.8)

Em suma, de (3.1.6) decorre que a matriz B, na teoria não-linear, é soma de duas parcelas:

(3.1.9)

a parcela BL , constante, corresponde à matriz da teoria linear, enquanto a parcela BNL varia

com os deslocamentos q, geralmente de forma linear.

Dentro do elemento, a equivalência estática de forças internas e tensões implica em:

(3.1.10)

As tensões σ são calculadas a partir das leis constitutivas e das relações entre
deformações ε e deslocamentos u. Assumindo deformações pequenas, a linearidade entre σ
e ε é mantida, assim como entre seus incrementos, dσ e dε :

ε ε0 ε (3.1.11)

onde D é a matriz, suposta constante, das propriedades elásticas do material. A combinação


de (3.1.8) e (3.1.11) leva à relação diferencial entre tensão e deslocamentos nodais:

(3.1.12)

Usando (3.1.9), as expressões (3.1.12), (3.1.10), (3.1.3) tornam-se:


38

(3.1.13)

(3.1.14)

(3.1.15)

Diferenciando (3.1.15), e simplificando a notação de σ (q) e F(q) para σ e F :

(3.1.16)

As forças externas serão assumidas independentes de q, portanto dF = 0 . Além disso,

lembrando que BL é independente de q (ou seja, dBL = 0), e ainda mais, introduzindo
T T
(3.1.13) em (3.1.16) e simplificando a notação de BNL(q) e B NL(q) para BNL e B NL:

(3.1.17)

A equação (3.1.17) pode ser escrita em forma condensada, como

(3.1.18)

onde:
(3.1.19)

(3.1.20)

(3.1.21)

(3.1.22)
39

KL é a rigidez linear usual, KR é a rigidez devida a grandes rotações, e Kσ é a rigidez


geométrica, função da geometria e das tensões iniciais – sem termos dependentes do material.
A matriz KT , soma das três, é a jacobiana da função R(q) , chamada rigidez tangente ou
residual. A expressão (3.1.18) pode ser invertida para:

(3.1.23)

A matriz BNL é obtida do produto de matrizes A e G , que contem derivadas dos


deslocamentos e das funções de forma.

(3.1.24)

Com a ajuda da expressão (3.1.24), a matriz KR. Quanto à matriz Kσ , computa-se pela
seguinte expressão:

(3.1.25)
40

A dedução das matrizes A, G, e M encontra-se na referência [28], que lhes dedica os


seguintes comentários:

1. As matrizes de rigidez oriundas da não-linearidade geométrica (KR e Kσ) podem ser

computadas a partir das matrizes A, G e M, sendo que:

(a) G depende da geometria inicial, portanto permanece constante a menos que a geometria

seja atualizada. Esta matriz é usada na formação de KR e Kσ ;

(b) A é usada para formar KR , e depende das rotações – deve ser atualizada continuamente;

(c) M é usada para formar Kσ , e depende das tensões – deve ser atualizada continuamente.

2. As matrizes de rigidez não-lineares podem ser interpretadas da seguinte forma:

(a) A matriz KR refere-se aos efeitos das grandes rotações, no sistema do elemento;

(b) Na teoria de deformações pequenas, os efeitos das deflexões e rotações associadas aos
movimentos de corpo rígido podem ser tratados, de forma eficaz, pela atualização das
coordenadas dos elementos (ver seção 3.2);

(c) A matriz de rigidez geométrica Kσ refere-se aos efeitos das tensões iniciais. A
importância desses efeito deve-se ao enrijecimento (ou amolecimento) geométrico – essa
matriz é justamente utilizada na análise de instabilidade.
41

3.2 EFEITO DO DESLOCAMENTO DE CORPO RÍGIDO

A teoria de pequenas deformações permite que os efeitos dos deslocamentos de corpo


rígido sejam levados em conta através da constante atualização das coordenadas locais. Esse é
o fundamento da formulação co-rotacional. Usando um sistema de referência ligado ao
elemento deslocado, retira-se o efeito das rotações e translações de corpo rígido, que não
contribuem para a energia de deformação. Com essa estratégia, um grande número de
problemas de não-linearidade geométrica pode ser resolvido utilizando as relações
deformação-deslocamento da teoria linear. Ou ainda, as duas abordagens, linear atualizada e
não-linear, podem ser implementadas em conjunto, no mesmo processo incremental.

FIGURA 11: Elemento de barra, antes e depois do deslocamento relativo ud (ou qd)
Fonte: LEE, 1992 [28]

Na figura 11, usa-se a notação ‘u’ para deslocamentos nodais, conforme a ref.[28].
Nas equações abaixo, é mantida a notação ‘q’. Ainda seguindo [28], adotam-se os índices: ‘e’
– operação no elemento, ‘d’ – sistema de coordenadas deslocado, ‘bg’ – passagem do sistema
global ao sistema básico, e ‘bd’ – do sistema deslocado ao sistema básico. Para o elemento de
barra exibido na figura 11, a força elementar pode ser calculada a partir do deslocamento
relativo, superpondo as configurações deformada e indeformada.

(3.2.1)

Antes de somar as contribuições elementares, as forças são transformadas para o sistema


global, por intermédio das matrizes de cossenos diretores Tbg e Tbd .
T e
F g = T bg T bd F d (3.2.2)
42

Na figura 12, um elemento quadrilátero é mostrado antes e depois da deflexão,


sistemas ‘e’ e ‘d’, respectivamente.

FIGURA 12: Elemento de placa antes e depois do deslocamento


Fonte: LEE, 1992 [28]

Os eixos do sistema ‘d’ coincidem com as bissetrizes das diagonais internas do


elemento deslocado. A transformação do sistema do elemento indeformado para o básico é:

(3.2.3)

Considerando o elemento defletido, a transformação do sistema ‘d’ para o básico ‘b’ é:

(3.2.4)

Deformação do
elemento

FIGURA 13: Superposição antes / depois da deformação


Fonte: LEE, 1992 [28]
43

O deslocamento relativo é obtido superpondo-se o elemento original ao deslocado, como


ilustrado na figura 13:

(3.2.5)

Para o equilíbrio, as forças de todos os elementos devem ser somadas. Antes, porém, a
seguinte transformação deve ser aplicada:

(3.2.6)

Analogamente, a matriz de rigidez tangente é obtida pela soma de contribuições elementares,


previamente transformadas do sistema deslocado para o global.

(3.2.7)

As forças e a matriz de rigidez tangente são atualizadas a cada iteração. Os deslocamentos


atualizados qd são utilizados no cálculo de deformações e tensões. Assim, o efeito do
movimento de corpo rígido é eliminado. O MSC/NASTRAN publica deslocamentos totais,
referidos ao sistema global pela expressão. (O índice ‘i’ refere-se à operação em cada nó).

(3.2.8)

A cada iteração, a matriz de transformação do elemento Tbd é computada pelo


MSC/NASTRAN e armazenada para atualizar a matriz de rigidez, quando solicitado. A
matriz de transformação Tbg de cada nó é computada e apagada (se necessário, é recalculada.)

A abordagem descrita nesta seção pode ser considerada uma aproximação do “Método
Lagrangiano Atualizado”, já que o movimento do corpo segue a descrição de Lagrange. As
tensões são calculadas no estado deformado, à semelhança do tensor de Cauchy. Na
abordagem Lagrangiana Atualizada, entretanto, a geometria de referência é mantida constante
durante as iterações, sendo atualizada a cada incremento – nisso, difere do método de
atualização do sistema de coordenadas.
44

3.3 MÉTODOS INCREMENTAIS-ITERATIVOS

O assunto tratado nesta seção é o método de Newton-Raphson e suas recentes


melhorias, com base, principalmente, nas referências [14], [18] e [28]. Na análise não-linear
incremental, o método de Newton-Raphson é usado para convergir, a razão quadrática, a
solução da equação de equilíbrio, ao longo da trajetória. O método trabalha com o controle da
carga, usando (3.1.3). A cada incremento, a força externa F é mantida, enquanto as iterações

modificam o deslocamento q, força interna P e resíduo R, até a convergência. Se a matriz KT


deixa de ser positiva, como no ponto A da figura 14, não há como convergir. A não-
positividade de KT caracteriza os “pontos-limite” da curva carga-deslocamento, cuja
interpretação física é a instabilidade – objeto da teoria assintótica, de Koiter [31].

FIGURA 14: Ponto-limite moderado

Para ultrapassar pontos-limite, criaram-se técnicas de uso restrito (apud [18]), como o
controle alternado de carga-deslocamento (Sabir-Lock), as molas artificiais (Wright-Gaylor)
ou o abandono da equação de equilíbrio (Bergan-Soreide). Estes recursos falham, ao passar
por mudanças drásticas de direção – ditas snap-through (figura 15), cuja forma severa é a
reversão da curva de carga, ou snap-back. Outras técnicas, mais robustas, são discutidas em
parágrafos adiante.
45

FIGURA 15: “Snap-through”

Eis um sumário do método de Newton-Raphson Usual, com base em Fortes [32]:

FASE de PREDIÇÃO (ao início do incremento n+1)

Passo No. 1
n+1
incrementar a carga para F

Passo No. 2
n+1
inicializar qi (a solução elástica linear é a 1a. aprox. para q1) :

FASE de CORREÇÃO

Passo No. 3
n+1 n+1
calcular P e –R :

Passo No. 4
n+1
calcular a matriz (KT)1 , usando (3.1.22)
Passo No. 5 corrigir o deslocamento, usando

( ) (3.3.1)

A partir deste ponto, repetem-se os passos 3 a 5, até convergir: ||Ri|| < Δ ou ||δqi+1|| < Δ.
A figura 16 mostra uma iteração do método de Newton-Raphson, para um caso escalar.
46

FIGURA 16: Uma iteração de Newton-Raphson


Fonte: RAVETTI, 2005 [33]

A etapa dispendiosa do método de Newton-Raphson, na versão chamada “Usual”, é a


inversão da matriz KT, efetuada a cada iteração. Para otimizar o gasto computacional, foram
propostas duas variações que aproveitam a mesma matriz, mais de uma vez. Uma delas, o
“Método Modificado”, atualiza KT a cada cada incremento. A outra, o “Método da Rigidez
Inicial”, utiliza a rigidez linear elástica até o final. Por amortecer a convergência, essas
técnicas apresentam mais estabilidade do que o Método Usual, tendo um balanço global
positivo. Na figura 17, os métodos são esquematizados, para o caso escalar.

FIGURA 17: Variações do método de Newton-Raphson


Fonte: RAVETTI, 2005 [33]
47

Uma família de técnicas, destinadas a tornar o processo iterativo menos dispendioso,


baseia-se na “matriz de rigidez secante”. Conforme as referências [28] e [34], esses métodos
recebem a denominação comum de “Quase-Newton”. Partem da idéia de usar a secante como
aproximação da tangente, após a primeira iteração, realizada pelo Newton-Raphson Usual. A
vantagem é que a inversa da matriz secante pode ser facilmente atualizada, a cada iteração. As
duas versões mais conhecidas são os métodos BFGS e DFP, batizados com as iniciais de seus
autores (Broyden, Fletcher, Goldfarb e Shanno, e Davidon, Fletcher e Powell,
respectivamente.) Ambos preservam a simetria e a positividade da matriz secante, o que não é
garantido em outras versões menos conhecidas. Para uma descrição detalhada dos métodos
Quase-Newton, sugere-se a consulta às referências [28] e [34].

Diversos recursos foram adicionados ao método de Newton-Raphson, com o intuito de


enfrentar situações semelhantes às figuras 14 e 15. O mais simples deles é a bi-secção
progressiva do intervalo, reduzindo o incremento de carga à metade – o que permite atingir
um ponto-limite, escalando a mesma encosta.

O grande avanço, contudo, ocorreu com a introdução do método da corda (arc-length),


atribuído simultaneamente a Riks e Wempner [18]. Desde os trabalhos originais, na década de
70, numerosas variações têm sido continuadamente sugeridas. Essa evolução ainda parece
distante do consenso. A idéia central dos métodos da corda é reduzir o tamanho do
incremento de carga, de modo que o incremento de deslocamento seja adequado à sinuosidade
da curva carga-deslocamento. Para tanto, uma variável escalar, o fator-de-carga λ , é usada
para parametrizar o incremento de carga externa ΔF, a ser acrescentado à carga recebida do
0
passo anterior, F . A cada iteração, dentro do mesmo incremento, uma correção do fator-de-

carga δλ será determinada em conjunto com a correção do vetor deslocamento δq,


implicando na necessidade de uma equação adicional, para garantir a unicidade da solução.
As técnicas diferem quanto à restrição adicional.
48

Considere-se que ao início de um novo incremento de carga externa, exista um resíduo


não-nulo, baseado na equação de equilíbrio (3.1.3), com o seguinte formato:

(3.3.2)

Na equação acima, F é a carga externa ao final do passo anterior, ΔF é o incremento


0

do passo atual, e λ é um número entre 0 e 1. Procura-se os incrementos (δλ, δq), que anulem

o resíduo R (λ + δλ, q + δq), e assim, satisfazendo a condição de equilíbrio:

(3.3.3)

Tomando-se diferenças linearizadas de R , q e λ , e lembrando que KT é Jacobiana de P:

(3.3.4)

onde o incremento de deslocamento foi separado em duas parcelas:

(3.3.5)

Neste ponto, pode-se estabelecer um processo iterativo, usando-se a relação adicional


entre δq e δλ. Os métodos de Riks-Wempner, Ramm e Crisfield utilizam relações adicionais

distintas para vincular λ e q.

Descrições detalhadas de cada um desses métodos podem ser encontradas nas


referências [18], [28], e [34]. Neste trabalho, será suficiente apresentar os gráficos típicos do
problema a um grau-de-liberdade, onde as características de cada abordagem podem ser
facilmente visualizadas. Os gráficos reproduzem a notação da referência original [18].
49

MÉTODO DE CRISFIELD [18]

Carga (q)
1ª. Iteração
2ª. Iteração
3ª. Iteração

Curva de
equilíbrio
Novo ponto
convergido

Superfície-vínculo

Último ponto convergido

Deslocamento

FIGURA 18: Método da corda – Crisfield Esférico


Fonte: MEMON & SU, 2003 [18]

O comprimento da corda ‘Δ l’ é o raio de uma superfície esférica, usada como vínculo

adicional entre o fator-de-carga λ e o deslocamento q (figura 18):

(3.3.6)

(Na figura 18, e em outras desta seção, os deslocamentos são simbolizados pela letra ‘p’, e a

carga pela letra ‘q’, acompanhando a referência de origem [18]. Nas equações que se referem
a tais figuras, como a equação 3.3.6, conserva-se a notação do restante deste trabalho, isto é:
‘q’ para deslocamentos, e ‘F’ para carga.)
50

Carga

Deslocamento
FIGURA 19: Método da corda – Crisfield Cilíndrico
Fonte: LEE, 1992 [28]

Uma variante do método, corresponde a:

(3.3.7)

Aqui, o vínculo torna-se uma superfície cilíndrica paralela ao eixo de carga e o


controle é feito sobre o deslocamento, e não mais sobre a carga (figura 19). Para pontos
críticos moderados, essa estratégia tem bom desempenho.
51

MÉTODO DE RIKS-WEMPNER [18]

Carga (q)

1ª. Iteração

2ª. Iteração Curva de


equilíbrio
Plano normal
Novo ponto
convergido

Último ponto convergido

Deslocamento

FIGURA 20: Método da corda – Riks-Wempner


Fonte: MEMON & SU, 2003 [18]

Neste método, o comprimento da corda ‘Δ l’ define a posição de um plano ortogonal à

tangente, usado como vínculo adicional entre o fator-de-carga λ e o deslocamento q. O plano


é sempre o mesmo, ao longo de sucessivas iterações, o que pode prejudicar a convergência,
embora simplifique o processo.
52

MÉTODO DE RIKS MODIFICADO (ou “RAMM”) [18]

Carga
(q)

1ª. Iteração
2ª. Iteração

Curva de
equilíbrio
Novo ponto
convergido

Nova secante

Último ponto convergido

Deslocamento

FIGURA 21: Método da corda – RAMM


Fonte: MEMON & SU, 2003 [18]

Aqui, o comprimento da corda ‘Δ l’ define a posição de um plano ortogonal à secante,

usado como vínculo adicional entre o fator-de-carga λ e o deslocamento q. A maior vantagem


é que o plano é atualizado – junto com a secante, o que melhora a convergência.
53

MÉTODO DA NORMAL AO FLUXO DE DAVIDENKO [14]

Solução tangente a partir de A Iterações da normal


ao fluxo

Parâm.
de
Carga,
λ

Normais ao fluxo

Deslocamento
FIGURA 22: Método da corda – Normal ao fluxo de Davidenko
Fonte: RAGON, GÜRDAL & WATSON, 2002 [14]

Neste método, o vínculo adicional entre os incrementos de carga e de deslocamento é


mais complexo. Introduzindo-se perturbações εk na equação de equilíbrio, forma-se uma
família de superfícies off-set conhecida como “fluxo de Davidenko”.

εk (3.3.8)

Para encontrar o próximo ponto da trajetória, mesmo nas condições extremas do snap-back, o
comprimento da corda define um ponto em uma das superfícies do fluxo, a partir do qual, as
iterações. “pulam” de uma superfície a outra, em direção à curva carga-deslocamento. Como
54

se observa nas figuras 23 e 24, essa estratégia parece adequada aos casos mais difíceis, onde
os outros três métodos falham.

Iterações
Riks/Wempner
Solução tangente a partir de A
Parâm. Iterações de
de Crisfield cilíndrico
Carga,
λ
Iterações de
Crisfield

Deslocamento
FIGURA 23: Ponto crítico suave – reversão apenas de carga
Fonte: RAGON; GÜRDAL; WATSON, 2002 [14]

Iterações Riks/Wempner

Solução tangente a
partir de A Iterações da normal ao fluxo
Parâm.
de
Carga,
λ

Iterações de
Iterações de Crisfield cilíndrico
Crisfield

Deslocamento
FIGURA 24: Ponto crítico severo – reversão de carga e deslocamento
Fonte: RAGON, GÜRDAL; WATSON, 2002 [14]
55

Seguem-se alguns comentários a respeito dos métodos da corda [14].

(a) O método de Crisfield [17] envolve a solução de uma equação quadrática no incremento
do fator-de-carga. Duas raízes, λ1 e λ2 , são obtidas. A seleção da raiz correta requer
passos adicionais, para comparar os resíduos – ver figura 25. (Uma vez mais, a notação
mostrada na figuras reflete o documento citado como fonte).

FIGURA 25: Método de Crisfield – escolha da raiz pelo critério do menor resíduo
Fonte: HELLWEG & CRISFIELD, 1995 [17]

(b) Os métodos de Riks e RAMM são chamados “linearizados”, por envolverem uma
equação linear, de raiz única, evitando a equação quadrática do método de Crisfield;

(c) Os métodos de Riks e RAMM escapam da curva de carga-deslocamento mais facilmente


do que o método de Crisfield, devido à curvatura da superfície de vínculo;

(d) O método de Riks tende a prejudicar a banda da matriz de rigidez;


56

(e) Os quatro métodos apresentados adotam um comprimento de corda para limitar o


incremento ao longo do percurso da curva carga-deslocamento. A diferença entre eles
está no vínculo adicionado para manter o número de equações igual ao de variáveis;

(f) O vínculo adicionado pode ser associado a uma hiper-superfície no espaço λ-q . Os
métodos de Riks e de RAMM servem-se ambos de um hiper-plano normal à direção da
tangente (Riks) ou da secante (RAMM) à curva carga-deslocamento; no método de
Crisfield, essa superfície é uma hiper-esfera, que pode se tornar um hiper-cilindro; no
caso do método da normal ao fluxo de Davidenko, a superfície é definida pela
ortogonalidade a uma família de superfícies off-set, definidas por diferentes perturbações
da equação de equilíbrio;

(g) Todos os métodos acima são eficazes para pontos-limite de não-linearidade moderada;

(h) Em não-linearidades mais severas, os métodos de Crisfield, Riks e Ramm exigirão


valores extremamente diminutos da corda, aumentando consideravelmente o número de
incrementos – podendo, mesmo, inviabilizar a análise;

(i) O método da normal ao fluxo de Davidenko permite manter incrementos grandes, mesmo
em condições extremas. As iterações caminham ao longo de uma linha normal às
superfícies off-set, o que necessariamente conduz à curva de carga-deslocamento;

(j) O método da normal ao fluxo de Davidenko ainda é alvo de discussão. Não está
implementado no MSC/NASTRAN.

(k) Nos métodos da corda, a solução da equação de vínculo leva, eventualmente, a raízes
complexas. Esse fato pode causar a divergência da análise, situação que ainda hoje é
objeto de pesquisa. Uma técnica proposta para garantir raízes reais envolve a aplicação de
um fator de relaxação à força-resíduo R. O processo, aplicado iterativamente, aumenta a
estabilidade da análise, com a contrapartida de um maior custo computacional [18].
57

3.4 TEORIA DA FLAMBAGEM INICIAL

3.4.1 EFEITO DAS IMPERFEIÇÕES

Os experimentos de Wagner [6]-[9] com vigas, cujas almas de cisalhamento


flambavam muito antes do colapso global, deram origem à teoria do campo de tração
diagonal. A capacidade pós-flambagem das placas parece não se aplicar a outras estruturas,
como os painéis curvos, cuja carga crítica real não chega à metade da carga calculada por
métodos clássicos, como o de Timoshenko [35]. Von Kármán e Tsien [36] encontraram uma
abordagem adequada na teoria não-linear das placas; Tsien [37] chegou a formular um critério
energético para a flambagem que explica o mode-jumping, sem chegar, contudo, a uma teoria
geral. Koiter [31] foi o primeiro a associar, consistentemente, a discrepância e a dispersão dos
experimentos em cascas cilíndricas e esféricas, à presença das imperfeições. A Teoria da Pós-
flambagem Inicial, que se completou posteriormente, permite determinar o que ocorre ao se
atingir o primeiro ponto de bifurcação ao longo de um caminho fundamental de equilíbrio, e
verificar a sensibilidade da resposta, frente a imperfeições geométricas iniciais. Um outro
fenômeno estabelecido é o acoplamento não-linear de modos estáveis, inofensivos, originando
um novo modo, instável, catastrófico [29].

As estruturas em compósitos, em conta de sua elevada elasticidade e resistência, têm-


se revelado um campo notável para a aplicação dessas descobertas, ao mesmo tempo em que a
Mecânica Computacional vai substituindo a busca de soluções analíticas pela busca da melhor
simulação. A resposta estrutural, antes e após a flambagem, é afetada por imperfeições
iniciais, tais como: desvios de forma, ecentricidade da carga, indentações e variações físicas
locais. O estudo da sensibilidade às imperfeições, iniciado com Koiter, foi estendido por
diversos pesquisadores, principalmente Budiansky e Hutchinson, Stein e Arbocz apud [38].
58

Para levar em conta a diminuição da carga de flambagem no dimensionamento de


colunas e outras estruturas, existem duas abordagens habituais. A mais objetiva é aplicar um
fator de redução diretamente ao autovalor previsto pela análise linearizada. Em casos
particulares, os fatores foram reunidos pelos órgãos reguladores em tabelas padronizadas
[39]-[41]. Uma alternativa mais eficiente é recorrer à análise não-linear, considerando as
imperfeições geométricas. Nesse aspecto, o método de elementos finitos é especialmente
prático: através das coordenadas nodais, podem ser injetadas perturbações iniciais, de
qualquer padrão. Infelizmente, é raro haver dados disponíveis a respeito das imperfeições
reais. Para isso, foi criado o Imperfections Data Bank [42], reunindo medições realizadas por
diversos pesquisadores, principalmente Arbocz apud [38]. Segundo Speicher e Saal apud
[38], as imperfeições podem ser representadas a partir dos primeiros autovetores, previamente
determinados em uma análise de flambagem linearizada. Koiter [31] sugere o uso dessa
técnica, por considerá-la segura para determinar a carga crítica. Deve-se notar que a análise,
baseada apenas nos dois primeiros autovetores, nem sempre produz resultados conservativos
– ainda que esta prática seja comum. Finalmente, a única informação de manufatura
imprescindível é a amplitude dos desvios, para modular os autovetores. Na ausência do dado,
testes paramétricos podem, ao menos, fornecer um insight sobre a sensibilidade a
imperfeições da estrutura, antes de se recorrer a medições onerosas.
59

3.4.2 TRABALHOS EXPERIMENTAIS E NUMÉRICOS

Schneider & Feldes [43] fabricaram cilindros de plástico de alta precisão, com
dimensões 380 × Ø380 × 1,3 mm. Uma parte dos cilindros foi pós-conformada a vácuo, de
modo a adquirir imperfeições conhecidas. Nessa operação, empregaram mandris colapsáveis,
previamente usinados conforme os modos teóricos de flambagem axi-simétrico e diamante.
Adotaram amplitudes de 0,3t (t = espessura da placa), porque notaram que a redução para essa
perturbação se aproxima do fator recomendado pela NASA [39]. O módulo de elasticidade foi
medido diretamente nos espécimes; espessura e raio foram medidos e incorporados à
simulação. Previram cargas críticas 5% acima dos valores experimentais.
(Dados do modelo: programa – MSC/NASTRAN SOL106; elemento – QUAD4; graus-de-
liberdade GDL – 13 a 24 mil)

Estudando paletas de alumínio usadas no fan de motores turbofan, com medidas


próximas a 100 × 100 × 0,5 mm, Featherston [38] modelou amplitudes entre 0,1t e 3t –
abaixo dessa faixa não detectou efeitos consideráveis.
(Dados do modelo: programa – ABAQUS-STD; elemento – S8R5; GDL – 5 mil.)

Hilburger [44] ensaiou cilindros de carbono-epoxi com dimensões 400 × Ø200 × 1,0
mm, que apresentavam perturbações iniciais de ±1,5 mm no raio, e variações de espessura de
±0,2 mm. Esses defeitos, e outros menos tradicionais, como ply-gaps (vãos que podem
aparecer entre os pedaços de fita, durante a laminação ou cura), foram incluídos em um
modelo sofisticado, que incluía a consideração da aleatoriedade. Previu um fator de
knockdown 10% acima do que encontrou experimentalmente.
(Dados do modelo: programa – STAGS; elemento – 410; GDL – 100 mil; outros – método de
RIKS com pseudo arc-length; co-rotacional; transiente (implícito) + quase-estático.)
60

Bisagni [45]-[46] ensaiou cilindros de carbono-epoxi, com dimensões 520 × Ø700 ×


1,3 mm, fabricados segundo duas laminações diferentes. Introduziu em seus modelos apenas
as imperfeições radiais medidas do espécime, encontrando desvios de 20% (a maior) entre
previsão e ensaio. Observou que a seqüência de laminação influencia consideravelmente a
sensibilidade a imperfeições, bem como o modo de flambagem.
(Dados do modelo: programa – ABAQUS; elemento – S4R; GDL – 18 a 72 mil; outros –
método de RIKS; standard (implícito) + explícito.)

Abramovich, Weller & Bisagni [47], no âmbito do projeto POSICOSS, montaram


caixas com diferentes configurações de painéis cilíndricos reforçados, fabricados em carbono-
epoxi pelo processo de co-cura. Medidas de cada painel: 660 × R938 (arco de 680) × 1,0 mm;
4 a 5 reforçadores com 20,5 mm de altura, com três diferentes seções: “blade” , “J com
flange de 10 mm”, e “J com flange de 20 mm”. Levaram os painéis ao colapso, usando cargas
de torção, compressão axial e diferentes combinações de ambos. Os painéis apresentaram
elevada capacidade de carga na pós-flambagem. Infelizmente, os desvios encontrados nos
casos de carga combinada são da mesma ordem de grandeza das medidas.
(Dados do modelo: programa – ABAQUS; elemento – S4R; GDL – 70 mil, para a caixa
inteira.)
61

3.4.3 SISTEMA COM UM GDL – TRELIÇA DE COX MODIFICADA

Um sistema com um único grau de liberdade é uma escolha adequada para ilustrar a
diferença que se estabelece, na pós-flambagem, entre estruturas estáveis e instáveis. O caso a
seguir é uma versão simplificada do problema de Cox – resolvido por Koiter na referência
[31]. O sistema, instável e sensível a imperfeições, sofre uma alteração nessa característica,
mediante a adição de uma mola. Um tratamento formal desse tipo de conversão é proposto na
referência [48].

Considere-se o sistema estrutural da figura 26, composto por uma barra indeformável
AB, de comprimento unitário, uma mola linear AC, de constante κ, e dois nós deslizantes A e
B. Os extremos da mola são presos em pontos separados pelas distâncias β e δ, horizontal e
vertical. O deslocamento vertical χ , do nó A, é adotado como variável independente do
problema. O valor inicial de χ seria zero se a estrutura fosse perfeita, mas existe uma
imperfeição inicial, de valor ε. O deslocamento α, do nó B, tem o mesmo sentido da carga
externa λ.κ.

FIGURA 26: Sistema com 1 GDL – inicial


62

Com as igualdades do equilíbrio, encontra-se, para λ, uma expressão dependente de χ:

⎡ β 2 + (δ + ε )2 ⎤ ⎛ δ⎞
λ = ⎢1 − ⎥ ⋅ ⎜⎜1 + ⎟⎟ ⋅ 1 − χ 2 (3.4.1)
⎢⎣ β 2 + (δ + χ )2 ⎥⎦ ⎝ χ ⎠

A função λ(χ) é sempre descontínua em χ = 0. Porém, quando ε = 0, o limite existe e tem


um valor finito, correspondente à carga crítica do sistema:

−1
⎡ 2

= ⎢1 + ⎛⎜ β ⎞⎟ ⎥
(3.4.2)
λ CR δ⎠ ⎦
⎣ ⎝

Se ε ≠ 0, a função tende ao infinito na vizinhança de χ = 0, com sinais diferentes à esquerda


e à direita.

Na figura 27, estão representadas as condições “estrutura perfeita” (ε = 0) e


imperfeições iguais a +1% e –1% do comprimento da barra rígida (unitário). Na estrutura
perfeita, quando a carga aumenta, a partir de zero, a resposta é diferente para χ positivo e χ
negativo. No primeiro caso, após atingir a carga crítica (λ = 1), a posição de equilíbrio
evolui, permitindo aumentos de carga. No segundo caso, a partir da carga crítica, a deflexão
aumenta enquanto a carga necessária para manter a posição declina, indicando que a estrutura
instabilizou-se.

A observação dos gráficos da estrutura imperfeita mostra que esse comportamento


duplo é mantido, porém os caminhos se separam de modo notável: o sinal da imperfeição
determina a direção que a estrutura seguirá. Nota-se que a carga máxima, para χ < 0,
reduziu-se praticamente à metade da carga crítica, calculada para a estrutura perfeita.
63

2.5

CARGA X DESLOCAMENTO
SISTEMA BÁSICO
λ/λ cr
2
ε = - 0,01

1.5
ε = + 0,01
ε=0
1

ε = + 0,01
0.5
ε = - 0,01
χ
0
-0.15 -0.1 -0.05 0 0.05 0.1 0.15

FIGURA 27: Gráfico do sistema original

Este é um exemplo de estrutura sensível a imperfeições, na qual, pelo menos um dos


caminhos após a flambagem é instável. Para modificar essa característica basta vincular uma
mola adicional ao nó B, alinhada à carga externa. Tomando-se a constante da nova mola ρ.κ,

onde ρ é um fator multiplicativo:


λ = ⎢1 −
⎢⎣
β 2 + (δ + ε )2 ⎤ ⎛ δ ⎞
2 2
[
⎥ ⋅ ⎜⎜1 + ⎟⎟ ⋅ 1 − χ 2 + ρ ⋅ 1 − ε 2 − 1 − χ 2
β + (δ + χ ) ⎥⎦ ⎝ χ ⎠
] (3.4.3)

A figura 28 mostra o sistema após a adição da mola BD, de constante ρ.κ .


64

FIGURA 28: Sistema melhorado pela adição da mola ρ.κ

O gráfico carga × deslocamento (figura 29) revela a mudança do comportamento do


sistema, agora estável após a carga crítica, nos dois sentidos do deslocamento χ. Atribuindo-

se valores crescentes entre 0,1 e 1000 ao parâmetro de rigidez de mola ρ, verifica-se a


progressiva alteração da resposta. Para valores abaixo de 10, o efeito é pouco significativo,
tornando-se evidente acima de 50. A figura 29, com ρ = 100, tipifica o fenômeno.

2.5

CARGA X DESLOCAMENTO
λ/λcr
SISTEMA MODIFICADO 2 ε = - 0,01

1.5
ε = + 0,01
ε=0
1
ε = + 0,01

ε = - 0,01 0.5

χ
0
-0.15 -0.1 -0.05 0 0.05 0.1 0.15

FIGURA 29: Gráfico do sistema modificado (ρ = 100)


65

3.4.4 SISTEMA COM INFINITOS GDL’S – PAINEL CILÍNDRICO

Sistemas contínuos, isto é, com um número infinito de graus-de-liberdade, em geral


são analisados com os chamados “métodos diretos” do cálculo variacional: Ritz e Galerkin.
Um funcional energético deve ser minimizado pelo ajuste de uma função-tentativa. O painel
da figura 30 foi resolvido por Chajes [49], antes e depois da flambagem, seguindo o
procedimento de Volmir apud [49], e assumindo séries trigonométricas de um termo, tanto
para os deslocamentos como para as imperfeições iniciais.

FIGURA 30: Sistema com infinitos GDL’s – placa cilíndrica (partic. plana)
Fonte: CHAJES, 1974 [49]

Vêem-se os resultados na figura 31, para a placa plana (R→ ∞), e na figura 32,
aplicável a um caso típico. Cargas e deslocamentos foram adimensionalizados pelas regras:

λ = (N x ⋅ a 2 )/ (E ⋅ t 3 )
k = a 2 / (R ⋅ t )
(3.4.4)
δ = w/t
δ 0 = w0 / t

(E – mód. de elasticidade; w – deslocamento transversal; w0 – w no centro do painel)


66

FIGURA 31: Curvas de pós-flambagem (estável) para painéis planos


Fonte: CHAJES, 1974 [49]

FIGURA 32: Curvas de pós-flambagem (instável) para painéis cilíndricos


Fonte: CHAJES, 1974 [49]
67

Os dois exemplos apresentados mostram uma diferença importante entre estruturas


aparentemente muito semelhantes. No primeiro, sem imperfeições, o caminho de carga até o
valor crítico previsto na análise de autovalor linearizada seria igual para a treliça, com ou sem
a mola adicional. O mesmo se aplica ao segundo caso, dos painéis, planos ou curvos. A
presença das imperfeições revela a grande influência do ângulo formado pela curva de carga-
deslocamento que chega à bifurcação, com a que dali, parte. Assintoticamente, as
imperfeições perdem efeito, com o aumento do deslocamento.

O seguinte resumo é proposto por El Naschie [29] (V = energia potencial total):

EULER: equilíbrio δV=0 (resultante = 0)

LAGRANGE: estabilidade δ2 V > 0 (rigidez > 0)

KOITER: flambagem estável δ3 V = 0 e δ4 V > 0

A transposição deste problema para a teoria dos máximos e mínimos de funções


corresponde a responder à seguinte pergunta:

Qual é a natureza profunda do extremum em um ponto de bifurcação?

Quando a curva carga-deslocamento passa por uma bifurcação, seu comportamento


pode se tornar instável, entendendo-se a instabilidade como o crescimento acelerado dos
deslocamentos. Aproximando-se a curva na vizinhança da bifurcação por uma expansão em
série, conclui-se que o traçado da curva nessa região depende da primeira e da segunda
derivadas no ponto de bifurcação. A análise de autovalor linearizada incorre em um erro
conceitual quando assume que a curva carga-deslocamento, após a flambagem, é uma reta
horizontal. Também a análise não-linear, sem a devida consideração das imperfeições iniciais,
pode levar a conclusões erradas, superavaliando a carga crítica.

Nos métodos matriciais, e destacadamente, no método dos elementos finitos, o ponto


de bifurcação associa-se à nulidade do determinante da matriz de rigidez tangente, KT.
68

3.5 ANÁLISE DE FLAMBAGEM LINEARIZADA

O desenvolvimento a seguir baseia-se em [50]. Na teoria linear de deslocamentos


infinitesimais, o equilíbrio da estrutura modelada a elementos finitos é descrito pela equação:

(3.5.1)

Na teoria não-linear, as equações deformação-deslocamento incluem termos de


segunda ordem. Para deslocamentos pequenos, incluindo-se o efeito de enrijecimento por
tensão, a equação (3.5.1) acaba por assumir a forma:

(3.5.2)

A rigidez linear KL é propriedade da estrutura indeformada, e a geométrica Kσ é função das

tensões agentes, portanto, das cargas aplicadas. Os deslocamentos q podem ser separados em
axiais ou transversais, às cargas aplicadas. Há uma gama de sistemas, que inclui colunas e
placas sob compressão, para os quais a equação (3.5.2) pode ser reescrita como:

(3.5.3)

onde os subscritos ‘A’ e ‘T’ referem-se a axiais e transversais e os termos cruzados, ‘AT’ e
‘TA’, são identicamente nulos. A equação (3.5.3) se desacopla em duas:
(3.5.4)

(3.5.5)

Kσ-AA é nula, pois, para os materiais e nível de carga de interesse para este estudo, não há
enrijecimento por tensão na direção axial. A solução da equação (3.5.4) é o vetor de
deslocamentos qA , com o qual se calculam as tensões axiais, e por fim, a rigidez geométrica

Kσ-TT . Seja FAC a carga crítica da estrutura, definida por um fator de escala λ , multiplicado
à carga aplicada. A matriz geométrica pode ser definida por esse fator:

(3.5.6)
69

Nesses termos, a equação (3.5.5) torna-se:

(3.5.7)

Sendo nulas as cargas transversais FT, por suposição, uma das soluções para a equação

(3.5.7) é o vetor de deslocamentos transversais qT com valor igual a zero. No entanto, uma
outra solução existe, em que o determinante da matriz dos coeficientes é zero, caso em que
haverá infinitas soluções para (3.5.7). Ou seja, uma das duas seguintes condições vale:

(3.5.8)

(3.5.9)

A expansão do determinante da equação (3.5.9) dá origem a uma equação polinomial


característica, na variável λ . O grau da equação é o número de graus de liberdade do sistema,
isto é, o tamanho do vetor qT. Cada uma das soluções da equação característica corresponde a
um fator-de-carga crítico. O menor dos fatores críticos é a carga de flambagem da estrutura. A
equação (3.5.7) pode ser colocada na forma abaixo:

(3.5.10)

Esta é a expressão de um problema de autovalor generalizado, sendo λi o i-ésimo


autovalor e γT i o i-ésimo autovetor. Os autovetores obtidos a partir de uma análise como esta
– denominada análise de flambagem linearizada – não representam o deslocamento real, em
valor absoluto, e sim, uma forma, ou modo de flambagem. Usualmente, os autovetores são
normalizados, de maneira que o maior deslocamento seja unitário. Uma das aplicações para os
autovetores, pertinente ao contexto dos problemas aqui tratados, é a introdução de
imperfeições iniciais na estrutura.

Resolver um problema de flambagem linearizada significa encontrar uma solução de


equilíbrio estável, adjacente à instável solução de deslocamentos transversais nulos. Por outro
lado, a flambagem corresponde ao ponto em que a matriz de rigidez tangente, formada pela
soma da rigidez linear com a rigidez geométrica, torna-se singular.
70

3.6 SUMÁRIO DO CAPÍTULO 3

Este capítulo reuniu referências sobre teorias e métodos que embasam a presente
pesquisa. Como sempre, as restrições de espaço determinaram o sacrifício de outros temas –
cuja inclusão teria sido, de qualquer forma, interessante. Cite-se a formação da matriz
constitutiva do laminado, e a formulação da delaminação, e de outros fenômenos.

São estes os conceitos fundamentais apresentados no capítulo 3:

(a) a análise não-linear geométrica, baseada na teoria dos grandes deslocamentos, oferece as
ferramentas para a definição rigorosa da pós-flambagem;

(b) a construção da curva de carga-deslocamento, entendida como uma sucessão quase-


estática de pontos de equilíbrio, é o objetivo principal da análise – a curva salienta as
características da estrutura que importam ao projeto;

(c) a análise estática por elementos finitos e técnicas incrementais reproduz a pós-flambagem
com razoável aproximação – fontes de desvio tornam indispensável algum ensaio;

(d) é preciso lembrar que certos fenômenos não podem ser representados pela análise
estática, sendo eventualmente necessário recorrer a modelos dinâmicos;

(e) os erros acumulados na análise incremental podem ser compensados com técnicas de
correção iterativa – as técnicas estão sujeitas a falhar em casos mais complexos;

(f) as imperfeições da estrutura real tem efeito detrimental, que deve ser avaliado – o
emprego de fatores de dimensionamento rápido pode ser exageradamente conservativo;

(g) a inclinação e a curvatura da curva de carga-deslocamento após a primeira bifurcação


definem se o comportamento da estrutura será estável ao longo da pós-flambagem.
71

4 MANUFATURA

No contexto deste trabalho, dedicado à escolha de configurações eficientes em peso e


producibilidade, examinaram-se publicações que tratam da redução do custo, via dois fatores:
uso de autoclave e prendedores. Como conclusão, o presente capítulo descreve três processos
de fabricação, compatíveis com a caixa multi-longarina.

São resultados fundamentais de um processo de fabricação robusto: boas propriedades


mecânicas do laminado e alta resistência de junções, como aquelas que unem painéis e
reforços – em especial, as longarinas. Com vistas a tais atributos, os projetistas de estruturas
aeroespaciais em compósitos sempre usaram a seguinte soluções:

(a) cura em autoclave; e

(b) ligação por prendedores.

Apesar das reconhecidas vantagens, em custo e ciclo, oferecidas pelo processamento


fora da autoclave, persiste o sentimento de que tais processos não são capazes de atingir o
mesmo patamar de desempenho mecânico que a cura em autoclave provê. Igual descrédito
cerca as junções que têm por ligamento apenas a resina, seja de laminação ou de colagem –
devido, em grande parte, a dificuldades no processo de inspeção. Além disso, o processo de
homologação, à luz dos requisitos aeronáuticos, é mais complexo.

Os dados e comentários citados neste capítulo foram recolhidos de publicações


abertas, originadas nos seguintes centros de pesquisa:

(a) Tuskegee University’s Center for Advanced Materials – Tuskegee AL, EUA [3];

(b) NASA Langley Research Center – Hampton VA, EUA [51]; e

(c) National Aerospace Laboratory (NLR) – Holanda [52]-[53].


72

4.1 VISÃO GERAL DOS PROCESSOS

Em vista das características geométricas e função estrutural da caixa multi-longarina,


as seguintes tecnologias são candidatas à sua fabricação:

(a) VARTM ou RTM;

(b) combinação PREPREG-RTM ou PREPREG-RFI; e

(c) TP-ATP.

Antes de abordá-las, serão apresentadas informações sobre os processos envolvidos.

PREPREG

Para entender as vantagens das novas tecnologias, é preciso examinar o processo que
as antecedeu. Tradicionalmente, os elementos da estrutura primária de aeronaves são
fabricados a partir de fibras pré-impregnadas (PREPREG), armazenadas a temperatura baixa
o suficiente, para retardar substancialmente a polimerização da resina. Consagrado sucessor
da impregnação manual, o PREPREG contribuiu para padronizar a cura individual de painéis
e reforços. A cura em autoclave oferece melhores condições para controlar a quantidade de
resina, porosidade e compactação, variáveis associadas à integridade.

A união dos elementos curados, com adesivo, pode ser definida como uma “colagem
secundária”. A junta fabricada por colagem secundária apresenta baixa resistência mecânica,
tanto em tração, como em cisalhamento. Os melhores resultados são obtidos quando a
colagem é precedida de adequada preparação das superfícies e o processo se realiza sob
condições controladas de temperatura e pressão, geralmente elevadas.

Uma alternativa mais eficiente é a cura prévia apenas dos reforçadores, seguida de sua
aposição ao revestimento laminado, finalizando o processo com a cura do revestimento.
73

Conforme os reforçadores sejam parcial ou totalmente curados na primeira etapa, o


processo configura a “co-cura” ou a “colagem primária”, respectivamente. As juntas assim
obtidas superam, em resistência, às da colagem secundária – mas não atingem os mesmos
admissíveis dos prendedores mecânicos, especialmente em presença de delaminações iniciais.

A técnica tradicional, baseada no uso extensivo do PREPREG, apresenta, portanto,


dois pontos fracos:

(a) necessidade de autoclave; e

(b) tendência a delaminação das junções.

AUTOCLAVE

Para estruturas complexas em compósitos, o maior componente individual do custo


recorrente de fabricação é a mão-de-obra. Entre as demais contribuições, sobressaem-se a
matéria-prima e a cura em autoclave. Durante a criação da planta, a autoclave representa um
dos maiores investimentos iniciais. Além disso, a tolerância requerida pelo produto pode
inviabilizar a cura em autoclave. Segundo o NLR, tolerâncias de ±0,05 mm não são garantidas
[53]. Há razões de sobra para a pesquisa de uma nova gama de processos, chamados
genericamente de “fora-da-autoclave” (out-of-autoclave, ou OOA) .

DELAMINAÇÃO

A junção reforçador-revestimento é sujeita a delaminações, principalmente em regiões


onde há flambagem. Os prendedores mecânicos, ou “chicken rivets”, comumente usados para
prevenir tais falhas, oneram peso e custo. Além disso, os efeitos locais criados por juntas
rebitadas em compósitos são consideravelmente mais graves do que em peças metálicas. A
eficiência máxima de uma junta em compósitos é de 40-50%, enquanto em metálicos atinge
70-80% [54]. Portanto, o grande desafio é modificar produto e processo – no sentido de
eliminar as junções.
74

Para tanto, dois são os aspectos a considerar:

(a) as fibras devem ser contínuas, através dos elementos do conjunto; e

(b) toda a fase de resina deve formar um único corpo, cuja cura se processe em uma mesma
etapa.

Nos próximos parágrafos, são fornecidas informações sobre três técnicas de


impregnação, oferecidas como alternativa para o PREPREG: VARTM, RTM e RFI.

VARTM, RTM e RFI

VARTM e RTM são técnicas próximas, que se baseiam na injeção de resina, líquida e
catalisada, dentro do molde onde foi previamente colocado o reforço de fibra, usualmente pré-
formado. RFI intercala resina, em forma de filme, com camadas de reforço seco. Em oposição
ao PREPREG, as três técnicas compartilham vantagens, como o controle da quantidade de
resina, custo de estocagem, e possibilidade de cura fora da autoclave.

A sigla VARTM é formada pelas iniciais de “vacuum assisted resin transfer molding”.
A viabilidade dessa técnica está associada ao investimento inicial, excepcionalmente baixo.
Os processos que se enquadram nesta categoria diferem radicalmente do processamento com
PREPREG em um ponto essencial: o reforço de fibra e materiais de núcleo (colmeias) são
aplicados a seco, em um molde aberto, e ensacados com bolsa-de-vácuo. A resina é
introduzida através de canais de alimentação, estrategicamente localizados no molde, e
forçada a penetrar no reforço de fibra. Diferentemente da autoclave, a cura dispensa altas
temperaturas e alta pressão. O ferramental de VARTM, comparativamente mais barato,
permite fabricar peças complexas e de grandes dimensões em uma etapa única.

O RTM, ou “resin transfer molding”, em sua versão usual, requer um molde fechado,
de custo mais alto, geralmente metálico. O reforço é posicionado na metade inferior do
ferramental, em seguida, o molde é fechado e selado, e a resina líquida é bombeada para o
interior do ferramental sob pressão, penetrando por canais de alimentação. O método exige
resinas de viscosidade mais baixa. O catalisador é acrescentado pelo dispensador automático,
75

apenas ao momento da infusão – o que possibilita o uso de sistemas de resina de cura mais
rápida. Tipicamente, os moldes são dotados de circuitos de aquecimento.

O VARTM e o RTM podem reduzir, de dias para horas, o ciclo de fabricação, em


relação à laminação manual de PREPREG seguida de cura em autoclave. Além disso, os
processos proporcionam: exatidão dimensional, precisão de detalhes, baixa porosidade, e bom
acabamento nas superfícies expostas.

Nos processos RTM, e em alguns VARTM, os reforços de fibra são preferivelmente


construídos fora do molde, como partes pré-formadas, que se aproximam do formato final da
peça. O emprego de pré-formas permite que o ferramental seja usado de maneira mais
eficiente, com um mínimo de operações manuais. A fabricação das pré-formas assemelha-se
aos processos da indústria têxtil. Pode ser automatizada, constituindo o que se conhece por
braiding, termo traduzido, imprecisamente, como tecelagem.

O processo RFI, que se explicita por “resin film infusion”, é uma outra opção para
evitar o PREPREG, e eventualmente a autoclave. Neste processo, a resina, já catalisada, se
apresenta na forma de filme flexível. Películas desse material são intercalados com camadas
de reforço seco, cuja trama pode ser criada de forma a facilitar a fabricação de superfícies de
curvatura complexa. O laminado, preparado sobre molde aberto, é fechado em bolsa-de-vácuo
e submetido a aquecimento que funde a resina e promove sua cura. Podem ser empregadas
resinas mais viscosas, visto que o percurso para embeber o reforço se reduz à espessura do
laminado, ou de algumas lâminas apenas. Este processo tem emprego limitado, em vista do
elevado custo do reforço, e da baixa automação. Paredes-de-pressão de aeronaves
pressurizadas, esféricas no formato otimizado, contam-se entre as aplicações bem-sucedidas.

Uma vez revistos os métodos básicos de impregnação, que concorrem com a


associação tradicional PREPREG-autoclave, as seções seguintes apresentarão as três
tecnologias propostas para fabricar a caixa estrutural multi-longarina.
76

4.2 CAIXA FABRICADA POR VARTM

A caixa multi-longarina, com sua geometria singular, requer um tipo de ferramental


especial, que possa colapsar ou ser destruído, na extração ao final da cura. Mandris de espuma
de poliestireno, selados com epoxi, foram testados com sucesso por Mahfuz e outros [3].
Além de boa resistência à compressão (~270 kPa), esse material é rapidamente dissolvido por
acetona. Na figura 33 são mostrados os mandris depois de usinados e acabados.

FIGURA 33: Mandris para VARTM: espuma de poliestireno selada com epoxi
Fonte: MAHFUZ et al., 2004 [3]

A figura 34 mostra a preparação do molde para a cura fora de autoclave.

Filme de distribuição
Teflon perfurado
Revestimento
Fibra pré-conformada
Mandril de Mandril de Mandril de
Teflon perfurado
espuma espuma espuma
Malha de distribuição
sobre mandril envolvido
com teflon sólido
Laminado simétrico

FIGURA 34: Preparação do molde da caixa com duas longarinas para VARTM
Fonte: MAHFUZ et al., 2004 [3]
77

O tecido de carbono seco é usado para envolver os mandris, individualmente, antes da


justaposição. Camadas adicionais do mesmo material formam os revestimentos. Com essa
seqüência, não há interrupção das fibras, e a caixa pode ser considerada inteiramente
contínua. Após a preparação do molde, a resina epoxi é injetada com o auxílio de uma bomba-
a-vácuo. Por não haver excesso de resina, a pressão positiva da autoclave pode ser
dispensada. Eventualmente, um ciclo final em forno seria requerido para completar a cura.

A figura 35 mostra o produto curado antes e depois da remoção dos mandris de


espuma com acetona. Caixas de 54 ¯ 170 ¯ 457 mm de comprimento construídas com esse
processo, foram ensaiadas em compressão até a falha, não se verificando delaminações.

FIGURA 35: Caixa fabricada por VARTM – antes e depois da desmoldagem


Fonte: MAHFUZ et al., 2004 [3]
78

4.3 CAIXA FABRICADA POR COMBINAÇÃO PREPREG-RTM

Nesta seção é apresentado um processo de fabricação que implica na divisão da caixa


em dois sub-componentes, submetidos ao mesmo ciclo de cura. Apenas um dos revestimentos
é co-curado com os reforços internos. Em uma etapa final, os sub-componentes são reunidos
por meio de prendedores mecânicos, reduzidos à metade, graças à integração parcial.

A disponibilidade de matérias-primas que possam ser usadas em processos diferentes


permitiu a associação, no mesmo produto, de revestimentos infundidos, por RTM ou RFI,
com reforçadores de PREPREG, pré-conformados por aquecimento. O processo de pré-
conformação a quente é denominado hot-draping. Essa solução combinada leva em conta dois
aspectos principais:

(a) escolha do processo mais adequado à geometria do componente; e

(b) dificuldade de injeção e alinhamento de fibras nas áreas de junção.

Alguns problemas práticos devem ser resolvidos antes que esta técnica venha a
produzir peças de qualidade homogênea. Por exemplo, a delaminação continuaria um ponto
fraco, não fosse a introdução do stitching, ou costura alinhavada.

De Vries [53] fabricou uma caixa estrutural para demonstrar sua versatilidade – e suas
dificuldades. Como desejava reforços em direções ortogonais, optou por rebitar um dos
revestimentos, separado do restante, durante a cura conjunta, por um filme de teflon
perfurado.

A figura 36 apresenta o modelo em perspectiva da caixa concebida por De Vries,


estando ausente o revestimento rebitado. Vêem-se os reforços nas duas direções, cuja
intersecção é um dos pontos problemáticos deste tipo de projeto. Os perfis “C” são contínuos
e atravessam as almas vazadas dos perfis “I”. As almas dos reforços não podem ser ligadas,
mas as flanges sim – à custa de um desvio, tipo joggle, nas flanges dos perfis “C”.
79

FIGURA 36: Caixa reforçada (sem um revestimento) para combinação RTM-PREPREG


Fonte: DE VRIES, 2002 [53]

Devido à complexidade do produto, e aos requisitos de tolerância, foi utilizado um


ferramental metálico, fabricado em Invar 36, visível, em explosão, na figura 37. O coeficiente
de expansão térmica desse material é de apenas 1,6 μ/ºC, abaixo da faixa 2–3 μ/ºC
considerada para o laminado quase-isotrópico de carbono-epoxi.

Molde superior
(aquecido)
Seção intermediária composta por:

• Seção central aquecida com blocos


internos

• Blocos externos

• Anel aquecido

Molde inferior
(aquecido)

FIGURA 37: Ferramental para a caixa reforçada e tampa: Invar 36


Fonte: DE VRIES, 2002 [53]
80

Após a cura, realizada fora da autoclave a 180 ºC e 8 bar, a caixa foi pós-curada dentro
de um forno a 230 ºC, sob pressão ambiente. Só então procedeu-se à desmoldagem. Os
componentes desmoldados são fotografados na figura 38, em que se pode apreciar os encaixes
dos reforços.

FIGURA 38: Caixa com tampa após a desmoldagem


Fonte: DE VRIES, 2002 [53]

No estudo citado fabricaram-se algumas caixas com material unidirecional e outras


com tecido. Este mostra-se mais apropriado ao processo, por três razões:

(a) melhor fluxo;

(b) maior estabilidade de posição; e

(c) dispensa do stitching.

Ao final de uma série de ensaios mecânicos, não se encontrou delaminação nas junções
entre revestimentos e reforços, em nenhuma das caixas.
81

4.4 CAIXA FABRICADA EM RESINA TERMOPLÁSTICA (TP-ATP)

Na seção anterior, foi apresentado um processo de fabricação, em que a montagem


final da caixa envolveu o uso de prendedores, ainda que em menor número. Nessa mesma
linha, é apresentado um segundo processo que permite a fabricação de um dos revestimentos
da caixa acoplado a reforçadores, ou longarinas. Novamente, a união do segundo revestimento
exigirá o uso de prendedores.

Na década de 80, previa-se a rápida disseminação das resinas termoplásticas, em


substituição às termofixas, o que ainda não aconteceu – por dificuldades de processamento.
Existem pelo menos três grandes vantagens, a favor do termoplástico:

(a) propriedades diferenciadas – tais como: estabilidade térmica e dureza superficial;

(b) custo de fabricação – por dispensar a cura em autoclave;

(c) soldabilidade.

A figura 39 mostra um laminado de boa qualidade, de termoplástico e carbono.

FIGURA 39: Laminado IM-7/PIXA unidir., fabricado por TP-ATP


Fonte: LAMONTIA et al., 2003 [51]
82

Na década de 90 surgiram as máquinas de deposição automática de fita, ou automatic


tape placement – ATP. Esse equipamento foi adaptado ao termoplástico, que só a 400ºC
atinge as propriedades de deposição. Para estudar o processo, identificado pela sigla TP-ATP,
um contrato da NASA reuniu as empresas Boeing, Cincinnati, Cytec e Accudyne [51]. A
fabricação de um revestimento reforçado em termoplástico se inicia com a preparação dos
reforçadores, em termoplástico ou termofixo. Este último requer a aplicação adicional de um
filme termoplástico, recobrindo a superfície do reforçador que fará contato com o painel. Os
reforçadores são posicionados em um ferramental e sobre eles o revestimento é depositado
pela máquina TP-ATP. Trata-se de uma colagem primária. As figuras 40 e 41 mostram o
painel experimental fabricado pelo grupo citado.

típ.
SEÇÃO A-A (cotas em mm)

FIGURA 40: Painel reforçado fabricado em TP-ATP


Fonte: LAMONTIA et al., 2003 [51]

Painel ATP

Insertos
Reforçadores

Isolação

Moldes
(aço)

FIGURA 41: Esquema de fabricação do painel reforçado em TP-ATP


Fonte: LAMONTIA et al., 2003 [51]
83

O resultado do processo TP-ATP, com cura fora da autoclave, apresentou valores de


resistência próximos a 85% do obtido com laminação manual e cura em autoclave. A
comparação foi feita com base na resistência à compressão de furo vazio, ou open hole
compression – OHC, medida em cupons como o que mostra a figura 42. Para esse tipo de
critério, consultar [55]-[59].

A resistência OHC vem sendo utilizada para avaliar processos de fabricação, em


substituição a critérios tradicionais, como o cisalhamento de viga curta. O motivo é simples: a
resistência à tração e à compressão de laminados cai apreciavelmente, na presença de furos.

Em particular, a falha em compressão dá-se por um mecanismo designado por micro-


flambagem das camadas a 0º, que se inicia na borda do furo e tem propagação explosiva [57].
A presença de furos nas estruturas aeronáuticas, mesmo de compósitos, é inevitável. Daí, a
prática de considerar a resistência OHC como critério de dimensionamento local.

FIGURA 42: Cupom ensaiado em teste de resistência OHC


Fonte: CALLUS, 2005 [57]
84

A complementação do TP-ATP com um ciclo de pós-cura em autoclave produziu


cupões com resistência média de 102% em relação ao processo tradicional, na autoclave.

A figura 43 mostra uma microestrutura aceitável, encontrada na junção revestimento-


reforçador – justamente o ponto crítico para sanidade, nesse tipo de construção.

FIGURA 43: Interface reforçador-revestimento – colagem primária TP-ATP


Fonte: LAMONTIA et al., 2003 [51]

O processo TP-ATP ainda não está disponível para a maior parte das indústrias. A
aplicação do material impregnado a alta temperatura acarreta dificuldades específicas, como a
janela de trabalho. Além disso, as propriedades mecânicas devem ser melhoradas, para evitar
acréscimos ao peso do produto.
85

4.5 SUMÁRIO DO CAPÍTULO 4

Neste capítulo, foram apresentados três processos modernos com elevado potencial
para a fabricação da caixa multi-longarina, a custos reduzidos, sem perda de qualidade:

(a) VARTM ou RTM;

(b) combinação PREPREG-RTM ou PREPREG-RFI; e

(c) TP-ATP.

A economia que esses processos oferecem, em relação à técnica tradicional baseada no


uso do PREPREG e na cura em autoclave, decorre de três fatores principais:

(a) menor utilização do material pré-impregnado (PREPREG);

(b) dispensa da cura em autoclave; e

(c) redução no número de prendedores.

No desenvolvimento dos novos processos, há pontos de elevado risco, cuja maturação


determinará o momento em que esses processos poderão ser implementados na produção.
Entre eles, destacam-se:

(a) projeto e fabricação do ferramental;

(b) necessidade de pós-cura, em forno;

(c) necessidade de pré-conformados; e

(d) menor resistência mecânica.


86

5 DESENVOLVIMENTO

O presente trabalho se baseia na extensiva aplicação do pacote MSC/NASTRAN. Com


ele, diversas caixas foram modeladas e submetidas à análise não-linear geométrica, usando a
ferramenta SOL106. Em alguns casos, foi também empregada a SOL105 – ferramenta do
mesmo pacote, para cálculo da carga crítica, baseada no problema de autovalor linearizado,
apresentado no final do capítulo 3.

As caixas foram agrupadas em famílias, segundo a geometria e o “peso” do laminado.


O estudo de caixas com essas diferenças aumenta a consistência das observações sobre um
comportamento geral. Para cada família, diferentes propostas de reforço foram testadas.

A seção 5.1 descreve as configurações selecionadas, caracterizando as famílias pela


geometria e pelos laminados. Os esquemas de reforço também são apresentados nesta seção.

A seção 5.2 apresenta o carregamento, detalhando as parcelas de flexão e torção. A


seção 5.3 justifica o uso do deslocamento de um único ponto, para avaliar a rigidez global do
conjunto. A seção 5.4 justifica o grau de discretização adotado nos modelos, com base na
convergência e no tempo de processamento. Na seção 5.5, descreve-se a construção da curva
carga-rigidez tangente, e o critério de eficiência, com base em peso e rigidez, empregado na
comparação dos projetos. A influência do incremento de carga no resultado da análise é
avaliada na seção 5.6. A seção 5.7 documenta um estudo comparativo entre NASTRAN e
MARC. A seção 5.8 explica porque foram dispensadas as imperfeições iniciais.

Os resultados das simulações são finalmente apresentados na seção 5.9. Nela, estão
reunidas as curvas obtidas para as diversas configurações, principal resultado da análise não-
linear. A seção 5.10 sumariza as observações coletadas.
87

5.1 FAMÍLIAS E REFORÇOS

Oito famílias de caixas e dez esquemas de reforço são descritos nesta seção. Três
famílias resultam da variação nas linhas externas de um modelo inicial, correspondente a uma
caixa retangular de medidas 1000 × 250 × 100 mm. Afilamento e enflexamento são
introduzidos nessa forma prismática, tornando-a cônica, oblíqua ou cônica-oblíqua. Mudando-
se o “peso” do laminado, outras quatro famílias são obtida.

Diferentes combinações de longarinas e outros elementos internos foram aplicados a


cada uma das famílias. Duas propostas – com uma nervura, e com 4 nervuras + 1 reforçador –
foram utilizadas apenas para testes, sendo redundante sua avaliação, ao lado das demais.

5.1.1 FAMÍLIAS

Ao longo do texto, as famílias são identificadas por uma sigla de duas letras. A
distinção entre laminado reforçado e aliviado é suprida pelo uso de maiúsculas e minúsculas:

PR @ prisma reta pesada

pr @ prisma reta leve

PO @ prisma oblíqua pesada

po @ prisma oblíqua leve

CR @ cônica reta pesada

cr @ cônica reta leve

CO @ cônica oblíqua pesada

co @ cônica oblíqua leve

As medidas principais das caixas são apresentadas na figura 44. Uma perspectiva,
desenhada a partir dos modelos de elementos finitos, é vista na figura 45.
88

FIGURA 44: Medidas principais das caixas

FIGURA 45: Caixas básicas (sem reforços) com braço carregador


89

A diferença entre caixas “pesadas” e “leves” refere-se ao número de camadas do


laminado. As seqüências de laminação dos dois padrões são dadas nas tabelas 1 e 2.

TABELA 1: SEQUÊNCIAS DE LAMINAÇÃO DAS CAIXAS “PESADAS”

ELEMENTO SEQÜÊNCIA ESPESSURA (mm)

REVESTIMENTO ( [ 0º,90º / ±45º ]3 )s 2,52


LONGARINA ou REFORÇADOR ( [ 0º,90º / ±45º ]3 )s 2,52
NERVURA ( [ 0º,90º / ±45º ]3 )s 2,52

TABELA 2: SEQUÊNCIAS DE LAMINAÇÃO DAS CAIXAS “LEVES”

ELEMENTO SEQÜÊNCIA ESPESSURA (mm)

REVESTIMENTO ( [ 0º,90º / ±45º ]2 )s 1,68


LONGARINA ou REFORÇADOR ( [ 0º,90º / ±45º ]4 )s 3,36
NERVURA ( [ 0º,90º / ±45º ]3 )s 2,52

Nas caixas leves, a redução de peso ocorre no revestimento – o elemento mais extenso.
O revestimento, uma vez flambado, transfere carga às longarinas. Para balancear o projeto, as
longarinas ou reforçadores recebem camadas adicionais. O laminado das nervuras não se
altera, uma vez que o nível de tensão nesses elementos é relativamente menor.

As seqüências de laminação acima referidas aplicam-se, igualmente, aos elementos da


caixa básica – revestimento superior e inferior, longarinas dianteira e traseira, nervuras da raiz
e da ponta; e aos elementos de reforço adicionados ao seu interior – longarinas, reforçadores e
nervuras.
90

5.1.2 REFORÇOS

Para cada família, além da caixa básica – sem reforço algum – foram analisadas
diferentes propostas de enrijecimento, combinando-se longarinas (L) ou reforçadores (R),

nervuras (N), e mesmo uma pele (P) adicional. Os elementos genéricos de reforço são
esquematizados na figura 46.

FIGURA 46: Elementos genéricos de reforço (eixo de referência de material na direção z)

As propostas de reforço estão listadas na tabela 3. Cada proposta é identificada por


uma “fórmula” que indica a composição do reforço, isto é, quantos elementos de cada tipo
foram adicionados. Exemplificando:

N7L2P1 @ 7 nervuras + 2 longarinas + 1 pele

N1R2 @ 1 nervura + 2 reforçadores

L1 @ 1 longarina
91

TABELA 3: DEFINIÇÃO DOS REFORÇOS


FÓRMULA DESCRIÇÃO FIGURA
em branco caixa básica (sem reforços) figura 47
L1 1 longarina figura 48

L2 2 longarinas figura 49

R2 2 reforçadores figura 50

N1 1 nervura figura 51

N7 7 nervuras figura 52

N7L1 7 nervuras e 1 longarina figura 53

N7L2 7 nervuras e 2 longarinas figura 54

N7R2 7 nervuras e 2 reforçadores figura 55

L2P1 2 longarinas e 1 pele figura 56

N4R2 4 nervuras e 2 reforçadores figura 57

As figuras 47 a 57 exibem os reforços para as caixas com geometria “prisma reta”


(PR ou pr), com base nos modelos a elementos finitos. Para as demais famílias, os reforços
são análogos. O identificador completo de cada projeto compõe-se do mnemônico de duas
letras da caixa, seguido de uma barra, e da fórmula do reforço. Exemplos:

CO/N7L2P1 @ cônica oblíqua pesada / 7 nervuras + 2 longarinas + 1 pele

pr/N1R2 @ prisma reta leve / 1 nervura + 2 reforçadores

PO/L1 @ prisma oblíqua pesada / 1 longarina

cr/ @ cônica reta leve / básica

Uma longarina adicional pode ser desenhada em diferentes posições ‘x’, alterando o
efeito do reforço. Análogo comentário se aplica a nervuras, reforçadores e peles. Durante as
simulações, procurou-se encontrar posições ótimas, através de mudanças discretas das
variáveis de posição, desfrutando-se os nós existentes no modelo.
92

FIGURA 47: Caixa básica (nenhum reforço) com a malha de elementos finitos

FIGURA 48: L1 – 1 longarina

FIGURA 49: L2 – 2 longarinas


93

FIGURA 50: R2 – 2 reforçadores

FIGURA 51: N1 – 1 nervura

FIGURA 52: N7 – 7 nervuras


94

FIGURA 53: N7L1 – 7 nervuras e 1 longarina

FIGURA 54: N7L2 – 7 nervuras e 2 longarinas

FIGURA 55: N7R2 – 7 nervuras e 2 reforçadores


95

FIGURA 56: L2P1 – 2 longarinas e 1 pele

FIGURA 57: N4R2 – 4 nervuras e 2 reforçadores


96

5.2 CARREGAMENTO

Em jatos de transporte, a relação entre torção e flexão encontrada na asa aproxima-se


de 15%. Em derivas de caudas “em T”, essa relação situa-se entre 30 e 40%. Neste estudo, foi
selecionada uma torção de 60%, conforme o croqui da figura 58.

FIGURA 58: Braços de momento: flexão e torção

Usando os valores a = 1000 mm, b = 600 mm, F = 1000 daN, temos:

b/ a = 0,6
Torçor = 6000 N.m (constante)

Fletor = 10000 (1 – z /1000) N.m → Fletor máximo = 10000 N.m

Torçor/Fletor = (6000/ 10000) / (1 – z / 1000) (60% no engaste)


97

A influência do enflexamento e do afilamento é avaliada na figura 59.

FIGURA 59: Braços na caixa oblíqua cônica

Torçor = F.b. cos θ

= F . 600 . 0,866 = 5200 N.m

Fletor = F . [(a / cos θ) + (b. sen θ )] [1 – z / (a + 0,5.b. sen 2θ)] =

= F. [(1000/ 0,866) + (600. 0,5)][1 – z / (1000+0,5. 600. 0,866)] =

= F . 14547 . ( 1 – z / 1260) N.m → Fletor máximo = 14547 N.m

Torçor/Fletor = (5200/ 14547) / (1 – z / 1260) (36% no engaste)

As caixas oblíquas estão sujeitas a menor torção e maior flexão, medidas nas seções
normais ao eixo elástico. A comparação direta entre caixas retas e oblíquas requer, portanto, a
consideração dessas diferenças. Para a comparação entre esquemas de reforço dentro de cada
família, diferenças de carregamento entre famílias não mudam essencialmente as conclusões.
A conicidade não afeta os esforços de corte. A carga aplicada tem direção constante, sendo
portanto “não-seguidora”. Por isso, deve ocorrer um enrijecimento da estrutura, à medida que
a deflexão reduz os braços a e b.
98

5.3 PONTO DE CONTROLE DA RIGIDEZ

Avaliar a rigidez tangente da caixa pela observação de um único ponto – onde a carga
é aplicada – pode levar a um falso diagnóstico sobre o conjunto da estrutura, ou parte dela. É
preciso verificar a evolução de pontos adicionais, para assegurar-se de que o ponto de
aplicação é, com efeito, um indicador representativo do comportamento global. Como teste,
foi analisada a caixa pr/L2 – com duas longarinas, ocupando as posições x = 100 e x = 170.

Na figura 60, são mostradas as deformações do modelo para três níveis de carga.

FIGURA 60: Caixa pr/L2 – deformação a 10%, 80% e 100% da carga

Em oito estações (z = 0; 50; 110; 190; 290; 410; 570 e 760), tomaram-se pontos no

centro (y = 50) das longarinas dianteira (x = 0) e traseira (x = 250). Esses pontos, juntamente
com o ponto-de-aplicação da carga, tiveram seus deslocamentos adimensionalizados pelo
valor que assumem a 100% da carga (1000 daN).
99

A figura 61 mostra os deslocamentos lidos sob níveis de carga entre 20% e 100%. À
exceção de uma região de 200 mm, próxima ao engaste, o deslocamento é uniforme ao longo
da envergadura de 1000 mm. A não-linearidade entre deslocamento e carga, pode ser
visualizada pelo crescimento da separação entre as curvas, acima de 60% de carga.

FIGURA 61: Caixa pr/L2 – Linha elástica das longarinas diant. (l. cheia) e tras. (l. tracejada)

Observa-se que apenas na região do engaste, onde os deslocamentos são relativamente


pequenos, o ponto-de-aplicação de carga teria menor representatividade. Nessa região,
ocorrem deslocamentos de padrão diferente, que não afetam a funcionalidade global da
estrutura, mas podem prejudicar características como a limpeza aerodinâmica em uma asa.

Um segundo teste foi conduzido, com a caixa pr/N4R2 , cuja deflexão é ilustrada nas
figuras 62 e 63. Os dois reforçadores desta caixa, apoiados nas extremidades e nas quatro
nervuras internas, estão sujeitos a instabilidade local, como flanges, entre as nervuras.
100

FIGURA 62: Caixa pr/N4R2 – deformação a 10%, 80% e 100% da carga

FIGURA 63: Caixa pr/N4R2 – deformação a 150% da carga (instabilidade dos reforçadores)

A condição de carga 150% mostra a interação flexo-torsional entre reforçadores e


revestimento, após a flambagem. Esse fenômeno está associado a uma menor uniformidade da
resposta ao longo da envergardura.
101

A figura 64 apresenta a evolução da linha elástica para a caixa pr/N4R2 . Nota-se

que 70% da caixa é bem representada pelo ponto-de-aplicação (z = 1000) . Uma porção
restrita a 300 mm a partir do engaste apresenta comportamento diverso.

FIGURA 64: Caixa pr/N4R2 – Evolução da linha elástica com a carga pontos nas longarinas
dianteira (linha cheia) e traseira (linha tracejada)

As diferenças locais, especialmente na região de máximo esforço, onde a flambagem


começa, são da ordem de 12%, em termos de deslocamentos. Desde que essas discrepâncias
sejam toleráveis, o ponto único pode ser empregado como indicador da resposta global da
caixa, no que se refere aos deslocamentos, e por conseguinte, à rigidez tangente.
102

5.4 DISCRETIZAÇÃO

Os modelos foram construídos com malha de densidade uniforme, criada sobre linhas
de porcentagem. Foi usado o elemento de placa QUAD4 (do NASTRAN), a quatro nós. O
tamanho foi definido com base em um estudo de convergência. Na caixa PR/, foram
comparadas as respostas para as arestas elementares: 25; 10; 8,33 e 5 mm (figura 65) .

FIGURA 65: Caixa PR/ Modelos a QUAD4 de aresta = 25; 10; 8,33 e 5 mm

Na figura 66 pode-se observar, para vários valores de carga, a diferença entre


refinamentos sucessivos. A variação é tomada em percentagem, tanto dos deslocamentos do
ponto de aplicação, como da rigidez tangente. A diferença percentual do deslocamento Q,
obtido com os modelos de malhas de 10 mm e 25 mm, é calculada como:

Δq 25•10 = (q 10 : q 25) – 1 (5.4.1)

Analogamente, a diferença percentual de rigidez KT é:

ΔKT 25→10 = (KT 10 : KT 25) – 1 (5.4.2)


103

FIGURA 66: Convergência – deslocamentos e rigidez

Como esperado, o refinamento da malha provoca aumento do deslocamento (variação


positiva) e diminuição da rigidez (variação negativa).

Outro resultado intuitivo é a rápida convergência das soluções no campo linear. Ali, o
modelo com elementos de 25 mm é suficientemente preciso – poderia ser, inclusive, menos
discretizado. No entanto, a evolução no campo não-linear aumenta a necessidade de
refinamento.

O tempo real gasto pelo NASTRAN foi: 2; 32; 51 e 313 minutos, respectivamente.,
para as malhas 25; 10; 8,33 e 5 mm. Optou-se pela aresta de 10 mm, já que a melhoria dos
refinamentos adicionais era menor que 2% para o deslocamento e menor do que 5% para a
rigidez.
104

5.5 CURVAS DE CARGA

Na maioria dos trabalhos a respeito de pós-flambagem, a resposta estrutural é


visualizada através da curva “carga F = f(deslocamento q)”. Em muitas situações práticas,

como na análise de flutter, a característica de interesse é a rigidez tangente KT, primeira

derivada da função F(q). Por outro lado, os efeitos da flambagem local sobre o deslocamento

de controle em geral são leves, o que torna as nuances da resposta F(q) menos perceptíveis.

Recomenda-se, portanto, construir a curva F = f(KT). É cômodo estimar a rigidez tangente

KT = dF/dq pela razão ΔFi/Δqi , tomando-se pontos consecutivos, dois a dois. Um sistema
estrutural simples será usado para exemplificar estas idéias.

5.5.1 COLUNA ELÁSTICA ESBELTA

Uma barra isotrópica, elástica, biapoiada, inicialmente imperfeita, é comprimida por


uma carga ‘F’ , conforme a figura 67. Os seguintes deslocamentos foram monitorados:
(a) qA : transversal, em A – ponto a ¼ do comprimento, em relação à ponta fixa;

(b) qB : transversal, em B – ponto a ¼ do comprimento, em relação à ponta móvel; e

(c) qC : longitudinal, em C – ponta móvel, à qual a carga é aplicada

FIGURA 67: Coluna elástica com imperfeições iniciais -25 ≤ q0 ≤ 36 mm


105

Na figura 68, vêem-se as curvas F(q) e F(KT), para os deslocamentos citados. O

primeiro autovalor, correspondente à carga crítica de Euler: λ1 = π2. (EI) / L2, vale 9 daN (4,5%

da aplicada). O segundo autovalor corresponde a uma coluna de comprimento L/2, portanto λ2

= 4.λ1, ou seja: 36 daN (17,9%). As duas primeiras instabilidades passam despercebidas nas
curvas F(q), como patenteado na figura 68. A observação descuidada da curva F(q) leva a
associar erroneamente o 3º. autovalor (40,2%) à primeira flambagem. Por outro lado, a
influência da imperfeição inicial na rigidez tangente: reversão de deslocamento, tipo “snap
through”, no ponto A, não fica clara pelas curvas F(q). Em contrapartida, todos os eventos

são prontamente detectados ao exame das curvas F(KT). A ampliação da suposta região linear
(figura 69) torna este aspecto ainda mais evidente.

FIGURA 68: Curvas Carga × Deslocamento e Carga × Rigidez


106

FIGURA 69: Carga × Deslocamento e Carga × Rigidez – ampliação da suposta região linear

Pode-se concluir que, na análise não-linear geométrica, onde grandes deslocamentos


ocorrem, a observação da curva F(KT) é um meio efetivo para a observação de todos os

fenômenos – especialmente se acontecem mudanças na inclinação da curva F(q),


semelhantes àquelas ilustradas neste exemplo.

A rigidez KT foi estimada pela razão ΔF/Δq . Em vista da quantidade de incrementos,


essa aproximação, orientada pela prática, é aceitável. Em regra, os programas de elementos
finitos incorporam a bi-secção do intervalo (ver seção 3.3), como estratégia para trechos
difíceis da curva carga-deslocamento. Em conseqüência, o espaçamento dos pontos se adensa
nas regiões onde a variação de inclinação é mais rápida, e vice-versa. Este mapeamento da
curva torna a estimativa de KT automaticamente mais acurada.
107

5.5.2 CURVAS CARGA-RIGIDEZ DAS CAIXAS

Nas simulações com a análise não-linear do programa NASTRAN, estipulou-se a


quantidade de 30 incrementos de carga, partindo de zero até 3000 daN. Cada incremento vale
100 daN. Nos gráficos, a carga é indicada em porcentagem de 1000 daN, portanto o
incremento corresponde a 10%. A figura 70 apresenta as curvas carga-rigidez para duas
caixas da mesma família: cr/ (básica) e cr/N7L1 (reforçada com sete nervuras e uma
longarina). Vêem-se ali exemplificados, alguns eventos significativos para a análise.

FIGURA 70: Exemplo de curva Carga × Rigidez Tangente para duas caixas

Neste trabalho, a rigidez global das caixas foi sempre estimada com base no
deslocamento vertical do ponto de aplicação da carga, na extremidade do braço aplicador.
Esse procedimento é simples e eficaz. Quando uma instabilidade local se amplia a ponto de
comprometer a rigidez de uma região, o efeito é detectado no ponto escolhido como
referência.
108

Na figura 70, as duas curvas elevam-se do eixo horizontal, inicialmente segundo uma
reta vertical, que assinala os valores de rigidez linear elástica inicial K0. A um certo nível de

carga, ocorre a instabilização local. Na caixa básica, cr/, esse fenômeno é claramente

assinalado – autêntica bifurcação, enquanto na caixa reforçada, cr/N7L1, a transição é


suavizada, como acontece com estruturas imperfeitas. Testes apresentados adiante mostraram
que não é necessário introduzir imperfeições iniciais neste estudo, comprovando que se trata
de um sistema estável, como o próprio gráfico já sugere. Na curva da caixa básica, há trechos
com linhas tracejadas – correspondem a regiões de instabilidade numérica, sem interpretação
física. Na curva da caixa reforçada, aparecem ondulações sucessivas, correspondendo a novas
bifurcações, de modos locais. A perda de rigidez da caixa básica é certamente muito mais
expressiva, logo após a primeira bifurcação. Não é o que ocorre com a caixa reforçada, que se
mostra capaz de manter uma rigidez tangente razoável até a carga 100%. Quando a carga
aplicada à caixa básica atinge 40%, a análise é encerrada devido a problemas numéricos. Este
é o desfecho da análise NASTRAN – típico de configurações com baixa rigidez, em que os
deslocamentos, ou melhor, as rotações, impedem a continuação do aumento de carga.

Neste exemplo, foram apresentados os pontos principais que serão considerados na


análise das simulações para as diversas configurações de reforços das caixas.
109

5.6 INCREMENTO DE CARGA

O incremento de carga afeta o desempenho da análise. Como teste, submeteu-se a


caixa co/, menos rígida entre todas, a dois casos de aplicação de carga (figura 71). Em um
caso, o incremento é de 33,3 daN (3%). No outro, é de 100 daN (10%) – valor adotado neste
trabalho. A SOL105, ferramenta do NASTRAN, calcula cargas críticas, para o problema de
flambagem linearizada (seção 3.5). Com esse recurso, foram obtidos os autovalores plotados
na figura 71, com abcissa igual à rigidez elástica inicial. O 1º. autovalor vale 95 daN (9,5%), e
encontra-se próximo ao ponto de bifurcação da curva do incremento 10%.

FIGURA 71: Caixa co/ – comparação entre incrementos de carga: 3% e 10%

As curvas coincidem no campo linear, mas diferem quanto ao ponto de flambagem.


Após a bifurcação, reaproximam-se. As diferenças são aceitáveis. O incremento de 3% torna a
análise mais estável, o que permite alcançar 35% da carga. A análise com incremento de 10%
foi encerrada aos 17% de carga, e usou bi-secções desde o início, notando-se o ponto a 5% de
carga. Incrementos menores elevam indesejavelmente o tempo de processamento. A mescla
de incrementos de tamanhos diferentes é um recurso sofisticado que implica em um estudo
preliminar de cada modelo, o que também onera a análise.
110

5.7 NASTRAN VS. MARC

A SOL106 do MSC/NASTRAN é um produto antigo, cuja evolução recente é uma


ferramenta designada por MSC/MARC (ou NASTRAN SOL600). Foi realizado um teste
comparativo entre SOL106 e SOL600, usando a caixa CO/L2. Essa caixa possui três
características notáveis: (a) baixa rigidez elástica inicial; (b) elevada carga crítica; (c)
considerável enrijecimento aparente, com o aumento da carga, devido à redução dos braços de
flexão e torção. Tais características são propícias para a avaliação de soluções para análise
não-linear geométrica, uma vez que grandes rotações devem ocorrer. Os resultados acham-se
plotados na figura 72. Alguns autovalores, calculados com a já mencionada SOL105, foram
incluídos para maior referência.

FIGURA 72: Caixa CO/L2 – comparação NASTRAN × MARC

O teste mostrou concordância razoável, principalmente para a rigidez linear inicial


(erro de apenas 1,1%). Neste trabalho, foi empregado apenas o NASTRAN SOL106, levando-
se em conta a maior disseminação desse pacote no mercado.
111

Dentro do programa COCOMAT [60], resultados do NASTRAN SOL106,


NASTRAN SOL600 (MARC), ABAQUS e LS-DYNA foram comparados com um ensaio de
painel de compósito reforçado, e apresentaram resultados equivalentes. Alguns resultados
desse benchmark são mostrados nas figuras 73 e 74.

FIGURA 73: Comparação SOL106 × SOL600 (MARC)


Fonte: ORIFICI, 2005 [60]

Carga (kg)

Dado experimental, 1ª. Carga


Dado experimental, 2ª. Carga
SOL 106, nominal, sem imperfeições
SOL 106, atualizado, sem imperfeições
SOL 106, nominal, com imperfeições
SOL 106, atualizado, com imperfeições
SOL 600, atualizado, com imperfeições

Encurtamento (mm)
FIGURA 74: Comparação SOL106 × SOL600 (MARC)
Fonte: ORIFICI, 2005 [60]
112

5.8 IMPERFEIÇÕES INICIAIS

É esperado que o carregamento de torção contribua para a estabilidade da pós-


flambagem da caixa. Isto é, a sensibilidade a imperfeições iniciais deve ser pequena. Essa
suposição foi confirmada por dois testes, realizados com as caixas PR/L2 e PR/R2. Curvas
de carga-rigidez – com e sem imperfeições iniciais, geradas com o 1º. e o 2º. modos de
flambagem – estão plotadas na figura 75. Também são mostrados, para cada caixa, os pontos
correspondentes aos dois primeiros autovalores (abcissa = rigidez elástica). Outros modos
(3º., etc) não foram testados, com base no argumento de Bisagni [46] de que modos
associados a autovalores mais altos são menos relevantes no estudo das imperfeições.

A SOL105 do NASTRAN foi utilizada para obter as cargas críticas e os modos.

FIGURA 75: Caixas PR/R2 e PR/L2 – Influência das imperfeições iniciais (1º. e 2º. a.vetores)

Para as duas caixas, o efeito das imperfeições é pequeno. Com base nos testes,
concluiu-se que as imperfeições iniciais não são necessárias às simulações deste trabalho.
113

5.9 RESULTADOS DAS SIMULAÇÕES

5.9.1 AS OITO CAIXAS BÁSICAS

Para cada família, a caixa sem reforço foi simulada em primeiro lugar (figura 76 e
tabela 4).

FIGURA 76: Comparação das caixas básicas das 8 famílias

TABELA 4: COMPARAÇÃO DAS CAIXAS BÁSICAS DAS 8 FAMÍLIAS


Rigidez inicial Carga crítica Carga para K = 50% K0
Família
K0 (daN/ mm) (daN) (daN)
PR 21,1 200 560
pr 16,4 100 320
PO 9,9 200 560
po 7,7 100 440
CR 10,5 200 560
cr 8,1 100 290
CO 5,2 200 560
co 4,0 100 300
114

A coincidência das cargas críticas (200 daN para as caixas pesadas, e 100 daN para as
leves) indica que as cargas críticas das caixas básicas são pequenas, relativamente ao
incremento de carga adotado, de 10% – para cargas críticas baixas, o incremento de carga
torna-se a resolução da avaliação da carga crítica. A adoção de incrementos menores
penalizaria o tempo de processamento, sem vantagem significativa, como foi discutido na
seção 5.6 .

A comparação da rigidez inicial K0, mostra que uma proporção fixa se estabeleceu
entre as caixas pesadas e leves, conforme a tabela 5:

TABELA 5: RIGIDEZ LINEAR – RELAÇÃO ENTRE


“PESADAS” E “LEVES”

Família K0 (daN/ mm) K0leve / K0pesado


PR 21,1
16,4
77,7%
pr
PO 9,9
7,7
77,8%
po

CR 10,5
8,1
77,1%
cr
CO 5,2
4,0
76,9%
co

Comparando-se as quatro caixas pesadas entre si, pela rigidez linear inicial, e fazendo
o mesmo com as caixas leves, encontram-se as proporções da tabela 6:

TABELA 6: RIGIDEZ LINEAR DENTRO DOS GRUPOS “PESADAS” E “LEVES”

Famílias PR ou pr PO ou po CR ou cr CO ou co
PESADAS 21,1 9,9 10,5 5,2
100% 46,9% 49,8% 24,6%

LEVES 16,4 7,7 8,1 4,0


100% 47,0% 49,4% 24,4%

O comportamento das oito caixas básicas, na pós-flambagem, segue um mesmo


padrão: com o aumento da carga, todas apresentam uma significativa perda de rigidez,
tendendo ao colapso.
115

Duas conclusões de mérito foram tiradas, a partir da observação das caixas básicas:

(a) as famílias escolhidas para o estudo representam um variado leque de valores de rigidez,
em que a relação entre a mais rígida e a mais flexível é de cerca de 5 : 1;

(b) nenhuma das caixas básicas se mostra adequada para sustentar a carga especificada – ou
mesmo, metade dessa carga. É preciso reforçá-las para garantir um mínimo de rigidez
tangente.

Na próxima seção, a família ‘PR’, integrada pelas caixas tipo prisma reta, é alvo de
diferentes propostas de reforço. Essas propostas elevam a rigidez elástica inicial, mas acima
de tudo, trazem um expressivo aumento da carga crítica e moderam a perda de rigidez na pós-
flambagem. Contudo, todas as propostas oneram o peso da estrutura. Não há como compará-
las, sem que primeiro se estabeleça um conceito de eficiência. Ao definir tal propriedade, a
caixa básica mostrar-se-á útil.
116

5.9.2 FAMÍLIA ‘PR’: PRISMA RETA PESADA

Estas são as caixas de formato mais simples, que se assemelham ao corpo-de-prova


ensaiado (ver seção 6.1). À caixa básica – sem reforço algum – foi acrescentada uma
longarina, gerando a caixa PR/L1. A posição da longarina é sujeita a otimização. Oito
posições foram testadas, numerando-se as configurações de 1 a 8. As curvas carga-rigidez
constam na figura 77. A caixa básica é incluída na figura, para referência.

FIGURA 77: Caixa PR/L1 – Carga-rigidez para 1 longarina adicional (8 posições)

Na tabela 7, é possível comparar os valores de rigidez inicial e as cargas críticas


associadas às oito configurações. As posições são definidas pela coordenada ‘x’, cuja origem
coincide com o engaste da caixa.
117

TABELA 7: CAIXA PR/L1 – CONFIGURAÇÕES COM 1 LONGARINA


ADICIONAL
Config. x (mm) K0 (daN/mm) λ1 (%)
1 50 (20%) 21,6 30
2 80 (32%) 21,7 40
3 100 (40%) 21,8 50
4 120 (48%) 22,0 60
5 130 (52%) 22,1 70 máx. λ1
6 150 (60%) 22,3 50
7 170 (68%) 22,6 40
8 200 (80%) 23,0 30

A maior rigidez tangente corresponde às configurações 4, 5 e 6. Destas, a No. 5


apresenta a maior carga crítica. Na pós-flambagem, há mínima diferença entre as três. Esse
resultado indica a superioridade do arranjo simétrico, com painéis de revestimentos quase
iguais.

Uma segunda longarina foi adicionada, para obter a caixa PR/L2 . Novamente, 28
combinações de posição foram testadas, indicando-se oito delas na figura 78.

FIGURA 78: Caixa PR/L2 – Carga-rigidez para 2 longarinas adicionais (8 combinações)


118

Os dados referentes às 28 configurações testadas são apresentados na tabela 8.

TABELA 8: CAIXA PR/L2 – CONFIGURAÇÕES COM 2 LONGARINAS


ADICIONAIS
K0 λ1
Config. x1 (mm) x2 (mm)
(daN/mm) (%)
1 50 (20%) 80 (32%) 22,2 20
2 50 (20%) 100 (40%) 22,3 40
3 50 (20%) 120 (48%) 22,5 50
4 50 (20%) 130 (52%) 22,6 70
5 50 (20%) 150 (60%) 22,9 90
6 50 (20%) 170 (68%) 23,1 80
7 50 (20%) 200 (80%) 23,6 50
8 80 (32%) 100 (40%) 22,3 40
9 80 (32%) 120 (48%) 22,5 60
10 80 (32%) 130 (52%) 22,6 70
11 80 (32%) 150 (60%) 22,8 100
12 80 (32%) 170 (68%) 23,1 130 máx. λ1
13 80 (32%) 200 (80%) 23,5 80
14 100 (40%) 120 (48%) 22,5 60
15 100 (40%) 130 (52%) 22,6 70
16 100 (40%) 150 (60%) 22,9 100
17 100 (40%) 170 (68%) 23,1 120
18 100 (40%) 200 (80%) 23,5 100
19 120 (48%) 130 (52%) 22,7 70
20 120 (48%) 150 (60%) 22,9 80
21 120 (48%) 170 (68%) 23,2 80
22 120 (48%) 200 (80%) 23,6 80
23 130 (52%) 150 (60%) 23,0 70
24 130 (52%) 170 (68%) 23,2 70
25 130 (52%) 200 (80%) 23,7 70
26 150 (60%) 170 (68%) 23,3 50
27 150 (60%) 200 (80%) 23,8 50
28 170 (68%) 200 (80%) 23,9 40

As configurações Nos. 12 e 17 ressaltam como as de maior rigidez tangente,


sugerindo, uma vez mais, que a simetria tende a produzir bons resultados.

O exame das figuras 77 e 78 e das tabelas correlatas revela a maior sensibilidade da


carga crítica λ1 , comparada à rigidez inicial K0 , em relação à posição das longarinas de
reforço.

A comparação com a caixa básica indica o expressivo enrijecimento proporcionado


pela adição de longarinas.
119

O favorável efeito das duas longarinas suscita a idéia de otimizar peso, pela retirada de
algum material das almas, próximo ao plano médio. A ação, correspondente a substituir as
longarinas por reforçadores “tipo blade”, foi realizada a partir da configuração No. 12. O
resultado é exibido na figura 79.

FIGURA 79: Caixa PR/R2 – Carga-rigidez para 2 longarinas convertidas em reforçadores

Neste caso, a resposta apresenta amolecimento acelerado – característica indesejável,


encontrada nas estruturas com tendência a flambagem catastrófica, referidas na seção 3.4.1 .
Nota-se que até a região linear, entre 0 e 20% de carga, tornou-se menos distinta – desde ali, a
rigidez começa a reduzir-se. Os autovalores, calculados pela SOL105, não condizem com a
resposta não-linear, como se vê na mesma figura.

O comportamento dos reforçadores longos pode ser aprimorado pela divisão do


comprimento, com nervuras transversais. Estas nervuras representam um indesejável aumento
do custo de produção. A simulação dessa proposta é apresentada adiante.
120

A proposta de uma “pele interna” é refutada pela intuição do projetista de estrutura


metálica. Nos compósitos, esse é um detalhe tão exeqüível quanto uma longarina – inclusive
podem ser conjugados – daí a importância de se verificar sua eficiência, antes de descartá-lo.
Um teste foi realizado, incluindo duas longarinas e uma pele interna, coincidindo com o plano
médio entre os revestimentos externos. A curva carga-rigidez é exibida na figura 80.

FIGURA 80: Caixa PR/L2P1 – Carga-rigidez para 2 longarinas e 1 pele


121

O uso de nervuras é recorrente na construção metálica tradicional. No projeto de


compósitos, a adição de elementos transversais, como as nervuras, é evitada. Os elementos
estruturais devem ser alinhados na mesma direção, para simplificar o ferramental e a extração.

As extremidades da caixa básica são fechadas com nervuras. Uma nervura interna foi
acrescentada, dando origem à caixa PR/N1 . Os resultados, para nove configurações (posição

z da nervura), aparecem na figura 81. Outras informações estão na tabela 9.

FIGURA 81: Caixa PR/N1 – Carga-rigidez para 1 nervura (9 configurações)

TABELA 9: CAIXA PR/N1 – CONFIGURAÇÕES COM 1


NERVURA ADICIONAL
Config. z (mm) K0 (daN/mm) λ1 (%)
1 100 (10%) 21,1 20
2 200 (20%) 21,1 20
3 300 (30%) 21,1 20
4 400 (40%) 21,1 20
5 500 (50%) 21,1 20
6 600 (60%) 21,1 20
7 700 (70%) 21,1 20
8 800 (80%) 21,1 20
9 900 (90%) 21,1 20
122

Fica claro que a adição de uma nervura isolada é ineficaz, como reforço, em qualquer
posição. Com um número maior de nervuras, a resposta deve ser diferente. Para um arranjo de
sete nervuras, foram testadas três diferentes configurações, conforme dados e resultados da
figura 82 e tabela 10.

FIGURA 82: Caixa PR/N7 – Carga-rigidez para 7 nervuras (3 configurações)

TABELA 10: CAIXA PR/N7 – CONFIGURAÇÕES COM 7 NERVURAS ADICIONAIS


z1 z2 z3 z4 z5 z6 z7 K0 λ1
Config.
(mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (daN/mm) (%)
1 130 250 380 500 620 750 870 21,3 36
(13%) (25%) (38%) (50%) (62%) (75%) (87%)
2 100 200 300 400 550 700 850 21,3 50
(10%) (20%) (30%) (40%) (55%) (70%) (85%)
3 50 110 190 290 410 570 760 21,3 48
(5%) (11%) (19%) (29%) (41%) (57%) (76%)
123

Observa-se que o arranjo de sete nervuras, desde que sua posição seja estudada, tem
um efeito positivo sobre a rigidez tangente, e também sobre a primeira carga crítica. A
configuração No.1 obedece uma distribuição uniforme, com espaçamento constante. Seu
desempenho é inferior ao da configuração No. 2 – com espaçamento de 100 mm na metade
próxima ao engaste, e 150 mm na outra metade. A configuração No. 3 resulta ainda mais
eficiente, com espaçamento próximo a uma progressão geométrica de razão 1,25.

Apesar das dificuldades que um arranjo convencional de reforçadores e nervuras traria


à construção de compósitos, vale a pena verificar o resultado desse projeto, dentro desta
análise. Foram combinados os reforços R2 e N7, para formar a caixa PR/N7R2. Na mesma
linha, foram testadas combinações de sete nervuras com uma e duas longarinas, identificadas
como PR/N7L1 e PR/N7L2 As três curvas carga-rigidez estão reunidas na figura 83.

FIGURA 83: Caixas PR/N7L1 , PR/N7L2 , PR/N7R2 – 7 nervuras com reforços adicionais

Os resultados dessas tentativas, e de todas as outras, foram reunidos na figura 84, onde
o desempenho pode ser comparado.
124

FIGURA 84: Família ‘PR’ – Curvas carga-rigidez


125

A figura 84 denota grandes diferenças de eficiência entre as propostas de reforço, mas


é precipitado concluir sem a devida consideração da massa estrutural. Para tanto, foi
estabelecido um procedimento de comparação, apresentado a seguir.

COMPARAÇÃO DAS PROPOSTAS DE REFORÇO

1. Para as caixas mais rígidas, a rigidez tangente é medida a 10% (campo linear) e a 100%
da carga (pós-flambagem). Para as caixas cuja rigidez é praticamente nula a 100% da
carga, a rigidez tangente é medida a 10% e 70%.

2. Duas caixas são escolhidas como referência: a “mais leve”, que é a própria caixa básica
PR/; e a “mais rígida”, a PR/N7L2, que possui duas longarinas e sete nervuras.

3. Para cada proposta de reforço, são calculados dois índices: iVOLUME e iRIGIDEZ, a saber:

iVOLUME = { volume da proposta / volume da caixa PR/ } – 1 (4.5.1)


{ volume da caixa PR/N7L2 / volume da caixa PR/ } – 1

iRIGIDEZ = { rigidez da proposta : rigidez da caixa PR/ } – 1 (4.5.2)


{ rigidez da caixa PR/N7L2 / rigidez da caixa PR/ } – 1

Esses índices simplesmente ordenam as propostas, posicionando-as entre a caixa “mais


leve” e a “mais rígida”. Notar que é usado o volume estrutural, como avaliador da massa.

4. Os índices para as caixas de referência – “mais leve” e “mais rígida” – são:

“mais leve” PR/: iVOLUME = 0% iRIGIDEZ = 0%


“mais rígida” PR/N7L2 : iVOLUME = 100% iRIGIDEZ = 100%
Essas caixas não se constituem em propostas de reforço, são apenas casos extremos.

5. Os índices são plotados em um gráfico iRIGIDEZ = f (iVOLUME).


126

Nos gráficos iRIGIDEZ = f (iVOLUME), como a figura 85, as propostas são comparadas,
entendendo-se como mais eficiente, a combinação de maior índice de rigidez e um mais baixo
índice de volume.

A diagonal que une os pontos onde os índices são iguais passa pelas duas referências:
leve (PR/) e rígida (PR/N7L2). A região próxima à diagonal é associada a valores médios de
eficiência, para a escala proposta.

As propostas situadas entre a diagonal e o eixo vertical são consideradas de elevada


eficiência. Reciprocamente, os pontos entre a diagonal e o eixo horizontal correspondem
a propostas de baixo desempenho. As comparações são feitas a dois valores de carga: o
primeiro é 10%, baixo o suficiente para indicar a resposta no campo linear, isto é, antes da
flambagem. O segundo é um valor elevado (100% ou 70%), que captura o comportamento na
pós-flambagem.

É evidente que, sob carga baixa, a diferença de rigidez entre as duas caixas de
referência não é grande, pois depende essencialmente dos revestimentos, e estes são iguais
para todas as configurações de reforço dentro de cada família. Ao passo que, sob carga alta, a
rigidez tangente da caixa básica já deve estar próxima de zero, enquanto a referência rígida
afasta-se menos da rigidez inicial.
127

FIGURA 85: Família ‘PR’ – Comparação das propostas de reforço


128

5.9.3 FAMÍLIA ‘pr’: PRISMA RETA LEVE

FIGURA 86: Família ‘PR’ – Curvas carga-rigidez


129

FIGURA 87: Família ‘PR’ – Comparação das propostas de reforço


130

5.9.4 FAMÍLIA ‘PO’: PRISMA OBLÍQUA PESADA

FIGURA 88: Família ‘PO’ – Curvas carga-rigidez


131

FIGURA 89: Família ‘PO’ – Comparação das propostas de reforço


132

5.9.5 FAMÍLIA ‘po’: PRISMA OBLÍQUA LEVE

FIGURA 90: Família ‘po’ – Curvas carga-rigidez


133

FIGURA 91: Família ‘po’ – Comparação das propostas de reforço


134

5.9.6 FAMÍLIA ‘CR’: CÔNICA RETA PESADA

FIGURA 92: Família ‘CR’ – Curvas carga-rigidez


135

FIGURA 93: Família ‘CR’ – Comparação das propostas de reforço


136

5.9.7 FAMÍLIA ‘cr’: CÔNICA RETA LEVE

FIGURA 94: Família ‘cr’ – Curvas carga-rigidez


137

FIGURA 95: Família ‘cr’ – Comparação das propostas de reforço


138

5.9.8 FAMÍLIA ‘CO’: CÔNICA OBLÍQUA PESADA

FIGURA 96: Família ‘CO’ – Curvas carga-rigidez


139

FIGURA 97: Família ‘CO’ – Comparação das propostas de reforço


140

5.9.9 FAMÍLIA ‘co’: CÔNICA OBLÍQUA LEVE

FIGURA 98: Família ‘co’ - Curvas carga-rigidez


141

FIGURA 99: Família: ‘co’ – Comparação das propostas de reforço


142

5.10 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Segue-se a tabulação das eficiências relativas observadas na seção anterior (tab. 11).

TABELA 11: EFICIÊNCIAS RELATIVAS DOS REFORÇOS PARA CADA FAMÍLIA

FAMÍLIA ESTADO N1 L1 L2 R2 N7 N7L1 N7R2 L2P1


LINEAR M. BAIXA ALTA ALTA MÉDIA M. BAIXA MÉDIA BAIXA BAIXA
.PR
FLAMBADO ALTA ALTA ALTA ALTA MÉDIA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
LINEAR M. BAIXA ALTA ALTA ALTA BAIXA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
.pr
FLAMBADO M. ALTA ALTA ALTA ALTA ALTA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
LINEAR BAIXA ALTA ALTA ALTA BAIXA MÉDIA MÉDIA BAIXA
.PO
FLAMBADO ALTA ALTA ALTA MÉDIA MÉDIA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
LINEAR ALTA MÉDIA ALTA BAIXA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
.po
FLAMBADO ALTA ALTA ALTA ALTA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
LINEAR ALTA ALTA ALTA M. BAIXA BAIXA MÉDIA MÉDIA
.CR
FLAMBADO ALTA ALTA BAIXA ALTA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
LINEAR ALTA ALTA ALTA BAIXA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
.cr
FLAMBADO ALTA ALTA BAIXA ALTA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
LINEAR MÉDIA ALTA ALTA M. BAIXA BAIXA MÉDIA BAIXA
.CO
FLAMBADO ALTA ALTA M. BAIXA ALTA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
LINEAR MÉDIA MÉDIA ALTA BAIXA MÉDIA MÉDIA MÉDIA
.co
FLAMBADO ALTA ALTA M. BAIXA ALTA MÉDIA MÉDIA MÉDIA

(a) A conclusão geral é que as configurações apenas com longarinas, uma ou duas, são as de
maior eficiência relativa – e essa superioridade se mantém em todas as famílias;

(b) Os reforçadores aumentam a rigidez na região linear, mas nem sempre têm o mesmo bom
efeito na pós-flambagem – a proposta não é competitiva para as caixas de baixa rigidez;

(c) As soluções com sete nervuras só se tornam viáveis, se combinadas a elementos


longitudinais, longarina ou reforçadores – mesmo assim, com eficiência média;

(d) A proposta com uma nervura não tem finalidade prática, pois seu efeito é pequeno em
valores absolutos;

(e) A proposta com duas longarinas e um revestimento não tem potencial para aplicação,
devido ao pequeno benefício em contrapartida de uma maior dificuldade de fabricação.
143

6 ENSAIOS

Um ensaio é sempre requerido, para validar uma nova metodologia de análise. Com
esta finalidade, foi fabricada e testada em laboratório uma caixa reta prismática, sem reforços
internos – semelhante à caixa PR/. Apoio e carregamento seguiram a configuração de estudo:
viga engastada, submetida a carga na extremidade livre, deslocada por um braço, para induzir
flexão e torção. A carga foi aumentada lentamente, ultrapassando a flambagem local, até
provocar a falha global. O objetivo do ensaio foi obter:

(a) curvas carga - deslocamento;

(b) curvas carga - rigidez tangente; e

(c) carga de flambagem.

O ponto de aplicação da carga não foi instrumentado porque ali as rotações e


deslocamentos horizontais são altos, o que prejudica a leitura do deslocamento vertical –
parâmetro de maior interesse. Foram instrumentados pontos sobre as longarinas e na linha de
centro de um dos revestimentos.

A partir de um valor de carga correspondente ao dobro da flambagem inicial, os


sensores de posição (LVDT de contato) foram afastados, para evitar que se danificassem por
algum deslocamento excessivo.

Este capítulo foi organizado em quatro seções, que detalham os seguintes aspectos:

(a) Corpo-de-prova;

(b) Aparato experimental;

(c) Procedimento de ensaio; e

(d) Resultados.
144

6.1 CORPO-DE-PROVA

Como se observa na figura 100, o corpo-de-prova é uma caixa obtida por junção
mecânica de duas peças: (a) um dos revestimentos, co-curado com as duas longarinas, e (b) o
outro revestimento. Essa configuração foi escolhida para mitigar o risco de falha inadvertida
das junções entre revestimentos e longarinas, que poderia liberar partes do corpo-de-prova, e
causar ferimentos aos operadores e danos ao equipamento.

FIGURA 100: Construção do corpo-de-prova

Um mesmo material foi utilizado nas laminações: tecido de carbono bi-direcional, pré-
impregnado com epoxi. As extremidades da caixa foram fechadas com chapas de aço, presas
mecanicamente. Foram fabricados e ensaiados dois corpos-de-prova, com as mesmas
características.
145

6.2 APARATO EXPERIMENTAL

A montagem do ensaio é simples: o corpo-de-prova foi engastado a uma base rígida, e


à ponta em balanço foi fixado um braço carregador, conforme figura 101.

FIGURA 101: Instalação do aparato

As longarinas foram identificadas pelos números ‘1’ e ‘2’, correspondendo,


respectivamente, à longarina mais distante e à mais próxima à linha-de-ação da carga. Os
revestimentos foram identificados como “superior” e “inferior”, levando-se em conta a
posição em que a caixa foi montada no aparato.
146

Instrumentos de medição de deslocamento (LVDTs axiais) foram instalados, segundo


o plano mostrado na figura 102.

FIGURA 102: Localização do sensores de deslocamento tipo LVDT 1-10

Não é fácil implementar fisicamente a condição de engaste, razão da popularidade do


ensaio de flexão por três, ou quatro apoios. Nas ligações do corpo-de-prova à parede do
laboratório, e ao braço carregador, foi utilizado um conjunto de quatro cantoneiras de aço,
fixadas com parafusos. Os resultados mostraram que esse sistema não é capaz de garantir a
perfeita condição de rotação nula.
147

As figuras 103 e 104 são fotografias do aparato, tomadas durante o ensaio.

FIGURA 103: Carga aplicada – longarina 2 flambada

FIGURA 104: Carga aplicada – revestimento inferior flambado


148

6.3 PROCEDIMENTO DE ENSAIO

A caixa foi carregada através do braço de aço, preso à extremidade livre. O aparato foi

planejado para que as seções extremas tivessem pouca distorção (warping). A linha de ação

da carga foi deslocada lateralmente, de modo a gerar, simultaneamente, esforços de flexão e

torção. A carga tem direção constante (não-seguidora).

Os dez transdutores, tipo LVDT, foram utilizados para medir os deslocamentos

transversais em seis pontos, distribuídos em três seções transversais, conforme figura 102. A

carga foi medida por uma célula intercalada entre o atuador e o braço.

Os dois corpos-de-prova foram ensaiados conforme o mesmo procedimento. Foram


aplicados três carregamentos:

(a) PRÉ-CARGA: valor inferior, embora muito próximo, à primeira flambagem;

(b) CARGA-LIMITE: cerca de 2 vezes a carga de flambagem;

(c) CARGA FINAL: cerca de 1,5 vezes a carga-limite.

Os ensaios dos dois corpos-de-prova produziram resultados similares, no que diz


respeito à relação entre carga e deslocamento. Apenas as leituras referentes ao segundo teste
são apresentadas.
149

6.4 RESULTADOS E CONCLUSÕES SOBRE O ENSAIO

6.4.1 REVESTIMENTOS

A figura 105 mostra os deslocamentos na direção vertical ‘y’, paralela à carga, lidos
pelos LVDT’s 9/10, no centro do painel de revestimento. Nesses pontos, a flambagem
provoca inflexões na curva carga-deslocamento, facilitando a identificação da carga crítica.
Além das leituras experimentais, estão plotados, na mesma figura, os valores previstos pelo
modelo FEM.

70%
Carga
(100% = 1000 daN)

60%

50%

40%

LVDT 9 (FEM)
30%
LVDT 9 (LAB)

LVDT 10 (FEM)
20%
LVDT 10 (LAB)

10%
Deflexão vertical no centro
do revestimento inferior

0% LVDT (mm)
-2 -1 0 1 2 3 4 5 6

FIGURA 105: Leitura dos LVDT’s 9/10 para o ciclo CARGA-LIMITE

A primeira carga crítica teórica foi confirmada, no valor de 30% (3000 N). Como
previsto, a flambagem iniciou-se no revestimento inferior, próximo ao engaste. Ali ocorre a
maior solicitação, combinando compressão e cisalhamento.
150

As diferenças entre modelo (FEM) e ensaio (LAB) parecem grandes, mas a


semelhança de resposta fica clara ao se comparar a rigidez tangente, como na figura 106.

Carga
70%
(100% = 1000 daN)

60%

LVDT 9 (FEM)
Rigidez tangente no centro
50%
do revestimento inferior LVDT 9 (LAB)

LVDT 10 (FEM)

40% LVDT 10 (LAB)

30%

20%

10%

0% KT (daN / mm)
-500 0 500 1000 1500 2000 2500

FIGURA 106: Rigidez tangente dos LVDT’s 9/10

Deve-se enfatizar que a rigidez tangente, tal qual definida por esta análise, é uma
grandeza escalar, identificada com a tangente da inclinação da curva carga-deslocamento.
Portanto, pode assumir valores positivos, negativos ou anular-se. A 30% da carga, ocorreu a
primeira flambagem, como detectou o modelo. Antes disso, na região em que se esperaria por
uma resposta linear, o LVDT 9 indicou variações na rigidez do ponto. Em média, a rigidez se
aproxima da encontrada no modelo FEM.

Antes da flambagem, o LVDT 10 leu deslocamentos positivos, de sinal oposto aos


valores FEM. Na pós-flambagem, as diferenças entre rigidez do modelo FEM e observada no
ensaio diminuem consideravelmente. Esse comportamento é atribuído à presença de
imperfeições iniciais, cujo efeito diminui, à medida que a carga se eleva.
151

6.4.2 LONGARINAS

O foco do ensaio é dirigido às regiões mais rígidas: as mesas das longarinas, que
respondem pela funcionalidade da caixa – medida pela capacidade de resistir à carga aplicada.

Os deslocamentos na direção ‘y’, lidos nos LVDT’s 1/3/5/7, estão plotados na figura
107. As leituras, referentes aos ciclos “pré-carga” e “carga-limite”, incluem carga e descarga.

70%
Carga
(100% = 1000 daN)
LD 3 LD 7 LD 1 LD 5
60%

50%

40%

PD 7 PD 1 PD 5
30% PD 3

Deslocamento vertical das longarinas


20%
(LVDT's 1/3/5/7)

"PD" = pré-carga "LD" = carga limite

10%

0% LVDT (mm)

0 5 10 15 20 25

FIGURA 107: Deslocamentos verticais nas longarinas – LVDT’s 1/3/5/7

No gráfico Carga × Deslocamento acima, é possível distinguir – e corrigir – pelo


menos dois fenômenos que interferem nas leituras:

(a) Deflexão residual – semelhante à fluência, varia com o nível de carga máximo; e

(b) Acomodação inicial – associada a folgas e contatos, ocorre entre 0 e 10% da carga.
152

A deflexão residual aparece com mais clareza, quando se comparam as séries


temporais de carga e deslocamento. Tome-se a leitura do LVDT 5. Acompanhando a evolução
de carga e deslocamento pela figura 108, resulta que o deslocamento aumenta, sob carga
constante. Na carga máxima, a velocidade média de deflexão vale 0,74 mm/ minuto. O ensaio
se completou em cerca de 12 minutos – tempo suficiente para notarem-se os efeitos no
deslocamento total.

22
LVDT 5 800
Carga
(mm) 2560; 21,27 (daN)
2348; 20,75
750
20

700

18
O T
EN

650
AM

2348; 615,90 2560; 615,16


OC
SL
DE

16 600

550
14
A
RG

LVDT 5 500
CA

SÉRIES TEMPORAIS
(300 leituras por minuto)
12
450

10 Leitura No. 400


1700 1900 2100 2300 2500 2700 2900

FIGURA 108: Aumento de deslocamento sob carga constante, gerando deflexão residual

Para eliminação desse efeito, provavelmente relacionado aos materiais do corpo-de-


prova e dos dispositivos de ensaio, são proveitosas as leituras de carga e deslocamento nos
patamares de carga – intervalos entre aumentos sucessivos, que fazem parte do procedimento
experimental. Calculando-se, nesses pontos, a razão média entre deslocamento e
carregamento, traça-se uma curva de correção. A aplicação desse procedimento aos quatro
LVDT’s 1/3/5/7 resulta na figura 109. Em conseqüência da correção, a deflexão residual, após
a descarga, foi quase totalmente anulada.
153

FIGURA 109: Deslocamentos LVDT’s 1/3/5/7 com e sem correção da deflexão residual

A acomodação inicial é pouco perceptível no gráfico Carga × Deslocamento. Esse


efeito ocorre entre 0 e 10% da carga, região em que a estrutura deveria apresentar-se linear,
ou seja, com rigidez constante. A diminuição da rigidez observada pode ser atribuída à
acomodação da instalação de ensaio, efeito que deve ser retirado das leituras. O procedimento
utilizado foi assumir a manutenção da rigidez linear inicial, que se pode medir no início do
carregamento, até o advento da flambagem, a 30% da carga.

Para maior clareza, as leituras experimentais passaram por uma filtragem. Dessa
forma, a quantidade de pontos se reduziu, de 3700 (carga e descarga) para 30 (apenas carga),
sem prejuízo da representatividade.

A aplicação desse procedimento resulta na figura 110 .


154

FIGURA 110: Deslocamentos LVDT’s 1/3/5/7 antes e depois das correções


155

Os deslocamentos horizontais, lidos pelos LVDT’s 2/4/6/8, filtrados mas não


corrigidos, foram plotados na figura 111. A finalidade é apenas comparar a ordem de
grandeza dos deslocamentos nas direções ‘y’ (vertical, e paralela à carga) e ‘x’ (horizontal, e

normal à carga). Como esperado, os deslocamentos ‘x’ são bem menores.

70% Carga (100% = 1000 daN)

60%

50%

40%

30%
LVDT 2

LVDT 4
20%

LVDT 6

10%
Deslocamento horizontal
das longarinas LVDT 8

0% Q (mm)
-2 -1 0 1 2

FIGURA 111: Deslocamentos horizontais nas longarinas – LVDT’s 2/4/6/8

No restante desta seção, serão discutidos apenas os deslocamentos verticais ‘y’,


correspondentes aos LVDT’s 1/3/5/7.
156

Na figura 112 aparecem os desvios dos deslocamentos medidos pelos LVDT’s 1/3/5/7,
cuja origem permanece indeterminada. Em comparação aos modelos FEM, a estrutura
ensaiada sempre apresentou deslocamentos maiores. Como mencionado acima, a primeira
carga crítica medida confere com a prevista, o que descartaria diferenças de propriedades de
material. Comparados entre si, os quatro desvios apresentam relações que suscitam algumas
hipóteses explicativas:

(a) em cada longarina: os desvios maiores ocorrem nos pontos mais afastados do engaste,
sugerindo o efeito de rotação – tipo flexão – na seção de engaste;

(b) em cada seção transversal: os desvios maiores ocorrem nos pontos mais afastados da
linha de aplicação da carga, sugerindo o efeito de warping – do engaste.

FIGURA 112: Desvios entre laboratório (LAB) e modelo a elementos finitos (FEM)

Se a causa destes desvios for, de fato, a imperfeição do engastamento, não deve haver
um grave prejuízo para o comportamento da estrutura. Em outras palavras, sua verdadeira
rigidez pouco seria afetada. Dessa premissa depende a próxima – e última – correção.
157

Na figura 113, verifica-se a existência de uma forte relação de proporcionalidade entre


os deslocamentos teóricos e experimentais, sinalizando que o comportamento essencial da
estrutura é representado pelo modelo, a menos de fatores de correção constantes. Esses fatores
são propostos como correção dos efeitos atribuídos à flexibilidade do engaste.

15

LAB (mm)

LAB1 = 1,2992 FEM1


1 2
R = 0,9996
10
3 LAB3 = 1,8267 FEM3
2
R = 0,9991
5
LAB5 = 1,0807 FEM5
2
R = 0,9994
7
LAB7 = 1,1462 FEM7
5 2
R = 0,9998

DESLOCAMENTOS VERTICAIS
Calibração: FEM X LAB

0
FEM (mm)
0 5 10 15 20

FIGURA 113: Correção dos deslocamentos verticais LVDT’s 1/3/5/7

Corrigindo-se os valores de laboratório com os fatores da figura 113, é possível


calcular valores consistentes de rigidez experimental, e efetuar a comparação entre previsão e
ensaio.
158

A partir das leituras corrigidas dos LVDT’s 1/3/5/7, obtiveram-se as inclinações


estimadas da curva carga-deslocamento. O procedimento de avaliação da rigidez tangente
descrito na seção 5.5 foi aplicado, resultando nas curvas da figura 114. O comportamento
estrutural é aceitavelmente representado – incluindo a perda da rigidez na flambagem, sob
carga de 30%, e sua recuperação parcial, a partir da carga de 40%.

Carga
70%
(100% = 1000 daN)

60% 1 (LAB corrigido) 1 (FEM)


3 (LAB corrigido) 3 (FEM)
5 (LAB corrigido) 5 (FEM)

50% 7 (LAB corrigido) 7 (FEM)

40%

30%

20%
Rigidez tangente
Comparação FEM x LAB
10%

0% KT (daN/mm)
0 50 100 150 200 250 300 350 400

FIGURA 114: Rigidez dos LVDT’s 1/3/5/7 – previsões FEM e leituras corrigidas LAB
159

Logo nos primeiros incrementos de carga, verificou-se um amolecimento intenso,


considerado apenas aparente – para o qual se propõe a seguinte explicação. A condição de
engaste não foi perfeitamente obtida no aparato experimental. Em conseqüência, uma não-
linearidade desvia a curva ao início da aplicação da carga. Acima de 10% da carga (100 daN),
a linearidade do engaste se estabelece, possivelmente por meio de batentes internos, e a
rigidez global se torna razoavelmente constante - passando a depender de duas molas em
série: o engaste e a própria caixa. Nesse tipo de arranjo, as flexibilidades individuais somadas
produzem a flexibilidade equivalente. Após o ensaio, verificou-se que as ferragens do
engastamento haviam-se deformado, o que poderia ter reduzido a rigidez efetiva da região.

A rigidez medida no laboratório não é a mesma obtida no modelo, mas o


comportamento geral está razoavelmente representado, pelo menos no que se refere à carga
crítica e ao ordenamento dos pontos, de acordo com sua rigidez.
160

6.4.3 CONCLUSÕES SOBRE O ENSAIO

Os ensaios realizados em um modelo semelhante à caixa básica sem reforços PR/


buscaram comprovar a validade da análise por simulação, largamente empregada nesta
pesquisa. Os resultados indicam que, apesar de alguns desvios notáveis dificultarem a
interpretação, o método de elementos finitos é capaz de capturar o comportamento essencial
da estrutura flambante. Para uma abordagem comparativa – apropriada à fase de anteprojeto –
as correções introduzidas para obter a concordância entre a saída do modelo de elementos
finitos e o ensaio parecem aceitáveis. Foram encontradas evidências de que o procedimento
experimental poderia ser aprimorado, de modo a assegurar as hipóteses de análise,
principalmente, em relação às condições de contorno. A perda de rigidez posterior à
flambagem foi detectada com grande clareza. Com a validação dos ensaios, a metodologia foi
considerada uma ferramenta apta a comparar configurações de projeto.

Em futuros ensaios, deve-se buscar métodos mais eficazes para garantir a condição de
contorno, sugere-se o uso da simetria, com carregamento por três ou quatro pontos.
161

7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHO FUTURO

7.1 CONCLUSÕES

A principal contribuição deste trabalho é propor novas diretrizes para o projeto da


viga-caixa, determinando configurações que sejam, simultaneamente, adequadas à fabricação
em compósito e eficientes em peso.

Diversas propostas foram avaliadas, com o enfoque da rigidez tangente – visando o


comportamento global da estrutura. A resistência não foi considerada na análise – essa
abordagem parece condizente com a fase de ante-projeto.

A configuração multi-longarina mostrou-se uma alternativa viável à tradicional, com


nervuras e reforçadores. Por outro lado, o conceito de reforçadores longos não deve ser
empregado – a menos que se encontrem novas evidências sobre sua estabilidade.

Empregando um pacote comercial (MSC/NASTRAN), a resposta estrutural foi


simulada na região da pós-flambagem. A representatividade do modelo é compatível com o
escopo de uma análise preliminar, limitada a suportar a escolha de uma configuração.

A ferramenta computacional é poderosa, porém seu custo é elevado. O refinamento


necessário para representar, razoavelmente, a estrutura real restringe o uso da abordagem no
dia-a-dia, em vista dos apertados cronogramas de desenvolvimento.

A atividade experimental continua imprescindível para validação da análise. Lidando-


se com a não-linearidade, é preciso atenção com fenômenos que a análise comum é incapaz
de prever. A leitura de deslocamentos requer um controle maior das fontes de histerese e
outros erros; comparativamente, a leitura de deformações é bem menos exigente.
162

7.2 SUGESTÕES DE TRABALHO FUTURO

A partir dos resultados encontrados, diversas pesquisas podem ser planejadas, tanto
para aperfeiçoar a metodologia de análise, quiçá estendendo-a a outros componentes, como
para desenvolver técnicas mais econômicas de fabricação. Seguem-se algumas sugestões.

MECÂNICA COMPUTACIONAL
a) Aplicar ferramentas de otimização topológica ao problema.
b) Desenvolver novo método para detecção dos pontos críticos a partir do determinante e
dos autovalores da matriz tangente.
c) Aplicar o método pseudo-transiente (relaxação dinâmica).
d) Implementar o método do fluxo de Davidenko, para a análise não-linear incremental
iterativa. Buscar a representação dos fenômenos mais complexos, como snap-through,
snap-back, e mode-shifting.
e) Incorporar a consideração da falha local, usando modelos de flambagem com degradação.
Desenvolvimento da metodologia simplificada para a análise de pós-flambagem, nos
moldes do programa europeu POSICOSS.

PROJETO
f) Estender o procedimento desenvolvido para a viga-caixão, ao cilindro reforçado – e
outros elementos que favoreçam a construção em compósito, e o processo de co-cura.

ANÁLISE EXPERIMENTAL
g) Repetir os ensaios descritos, buscando eliminar os desvios experimentais – uma idéia,
seria utilizar condições de apoio-e-carga do tipo “flexão por três pontos”.
h) Digitalizar a superfície deformada da caixa, durante a flambagem em laboratório, e
utilizar esse dado para calibrar os modelos.

MANUFATURA
i) Desenvolver o processo de fabricação da caixa por VARTM, em ambiente de laboratório,
gerando dados para orientar futura aplicação industrial.
163

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169

FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO


1. 2. 3. 4.
CLASSIFICAÇÃO/TIPO DATA DOCUMENTO N° N° DE PÁGINAS

TM 19 de dezembro de 2007 CTA/ITA-IEM/TM-028/2007 168


5.
TÍTULO E SUBTÍTULO:
Pós-flambagem de vigas caixão co-curadas
6.
AUTOR(ES):

Clóvis Augusto Eça Ferreira


7. INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):
Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Divisão de Engenharia Mecânica –ITA/IEM
8.
PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:

1. Materiais Compósitos. 2. Análise Não-linear. 3. Pós-flambagem.


9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:
Materiais compósitos; Flambagem; Análise numérica; Não-linearidade; Vigas tipo caixão; Agentes de
cura (materiais); Perfis de aerofólios; Engenharia de materiais
10.
APRESENTAÇÃO: X Nacional Internacional
ITA, São José dos Campos, 2007, 168 páginas
11.
RESUMO:

Uma caixa para flexo-torção, equipada com múltiplas longarinas – sem reforçadores ou nervuras
– é um conceito propício à tecnologia de compósitos. A integração de almas e revestimentos
possibilita um único ciclo de cura em processos à base de pré-impregnados, ou com impregnação
dentro do molde. Essa idéia pode ser aproveitada em asas e empenagens, aplicações que, para o
peso ótimo, tipicamente atingem a instabilidade local abaixo da carga-limite. É aceitável que os
longos painéis dessa caixa flambem, desde que não ocorram falhas no laminado e, acima de tudo,
a estrutura mantenha-se rígida o suficiente para a função pretendida. Na presente investigação,
uma caixa com longarinas auxiliares tem sua rigidez comparada à de outras soluções propostas
para uma viga engastada. Para se estimar a relação entre carga e deslocamento na pós-flambagem,
foram desenvolvidos modelos refinados com um pacote comercial de elementos finitos
(MSC/NASTRAN), habilitado à análise não-linear geométrica (SOL106). Baseado nos modelos,
comprovou-se, numericamente, que a configuração dos reforços determina a rigidez tangente do
conjunto. A adição de longarinas internas mostrou-se tão eficaz quanto um dispendioso arranjo de
reforçadores e nervuras, tomado como referência. Em outra proposta, com reforçadores longos,
sem nervuras, ocorreu o colapso prematuro da caixa, evocando os cilindros de Koiter. O
comportamento observado em caixas retas, prismáticas e pesadas repetiu-se, com poucas
ressalvas, para caixas cônicas, oblíquas e mais leves. A técnica de simulação foi validada através
de um ensaio estático: uma caixa representativa foi submetida a um carregamento de flexo-torção,
consideravelmente superior à carga de flambagem inicial. A partir de deslocamentos medidos
durante o ensaio, traçou-se a curva de carga-rigidez, que foi comparada à curva prevista. Apesar
de consideráveis desvios introduzidos pelas condições de apoio, os resultados experimentais
confirmaram a representatividade dos modelos.

12.
GRAU DE SIGILO:

(X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO

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