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Cadernos do cárcere volume 1- Gramsci

O livro é o primeiro de seis volumes que trazem, organizado por temas, as reflexões e
teorias de Antonio Gramsci, anotados em cadernos durante a sua prisão por motivos
políticos. Se divide em duas partes principais: uma tem como objetos a cultura e o
conhecimento, outra a obra do filósofo, escritor, historiador, político e crítico de arte
Benedetto Croce. Na primeira parte, Gramsci busca aprofundar, dando continuidade à
obra de Karl Marx, as teorias da ideologia, da consciência e luta de classes e da formação
social, de um lado, e estabelecer o projeto de sistematizar a filosofia e a metodologia do
materialimo histórico; para burlar a censura fascista, Gramsci usou códigos: nestes textos,
ideologia e consciência de classe= concepções de mundo, luta de classes= política, modo
de produção=sociedade ou estrutura econômica, materialismo histórico=filosofia da
práxis, etc. Segundo Gramsci, as formas de construção social da consciência são diversas,
porém entrelaçadas entre si, e possuem uma força histórica quando possuem uma
racionalidade específica, adequada ao contexto no qual são criadas, ou quando se tornam
um consenso de grupos e classes sociais; se uma classe, ao construir uma concepção de
mundo, é capaz, ao mesmo tempo, de fazer dela um consenso moral geral da sociedade,
ela possuem uma força hegemônica, isto é, possui poder sem necessidade de coerção,
uma dominação com consentimento ativo dos dominados, e, assim, consegue perpetuar e
dirigir a ordem social que corresponde aos seus interesses de classe. Isso ocorre porque
uma visão-de-mundo é não apenas uma explicação subjetiva a respeito da realidade, mas
condiciona as normas de ação, opiniões morais e intelectuais que orientam a conduta
prática dos homens em sociedade. A visão de mundo mais difusa é o senso-comum, no
qual "se pode encontrar de tudo"; o senso-comum possui em si diversos estratos, que
inclui em percepções imediatas de realidade, e também a influência de agentes culturais
ativos, que o influenciam com ideologias e conhecimentos; por essa diversidade de
influência de fatores, o senso-comum é fragmentado e incoerente. Segundo Gramsci, a
filosofia e a ciência de constroem mediante a crítica do senso-comum, cada uma ao seu
modo, a primeira pela construção lógica de uma concepção coerente e objetiva, a segunda
pela experimentação sistemática a partir de problemas e hipóteses. Em ambos os casos,
trata-se da construção metódica do conhecimento teórico, ao contrário da religião, que
baseia todas as duas explicações sobre o mundo e normas morais de orientação em uma
mitologia, interpretada teologicamente. A ciência e a filosofia exigem, para a sua
construção, instrumentos lógicos e metodológicos de pensamento, pesquisa e discurso,
com o fim de formação de uma consciência racional. Religião, ciência, filosofia e outros
tipos de produção cultural, no entanto, agem ativamente sobre o senso-comum e sobre o
consenso cultural de uma determinada sociedade. A esfera social desta disputa é a
sociedade civil, em oposição ao Estado, caracterizado pela autoridade coercitiva, e em
oposição à estrutura econômica, que é dominada pelos interesses e necessidades dos
agentes sociais; estes três níveis, no entanto, são inter-dependentes entre si, e até o
exercicio da coerção estatal necessidade de um mínimo de consentimento da população e
coesão da elite governante, que só podem ser obtidas com um consenso cultural, isto é,
uma hegemonia. O materialismo histórico é definido como uma concepção filosófica
(epistemológica, moral, política) e científica (metodologia, economia,
sociologia, história) que sintetiza as grandes conquistas da cultura moderna em uma
forma nova, de uma racionalidade superior; esta concepção, no entanto, ambiciona vir-a-
ser um elemento de hegemonia das classes populares, e, portanto, do poder político da
maioria. O fundamento desta inversão da hegemonia seria a construção autônoma da
personalidade, a um nível individual, e do consenso cultural das classes subalternas, ao
nível coletivo, superando a imposição mecânica de ideologias das classes dominantes às
clases dominadas em favor da autonomia moral e intelectual das segundas, que, assim,
organizadas, poderiam inverter a dominação. Deste modo, Gramsci demonstra que, no
materialismo histórico, tanto de um ponto de vista teórico quanto prático, a análise da
cultura é tão importante quanto a análise da econômia. Na segunda parte, a crítica de
Gramsci a Croce se concentra nos pressupostos "especulativos" do ultimo, que orientam
a sua teoria e estudos de história cultural, comentando também a influência cultural das
obras de Croce sobre os intelectuais italianos e até extrangeiros da época, como primeiro
estudioso do marxismo, indo da crítica à Marx de uma perspectiva idealista-historicista,
próxima à Hegel, até ao projeto de "liquidação" do marxismo, motivado por aspectos
reacionários da ideologia política de Croce

Paideia- Werner Jaeger


A Paideia tal qual os gregos entendiam, envolve o ensinamento do corpo e da mente.
Poesia, teologia, filosofia, gramática, retórica, matemática, música e astronomia faziam
parte da formação da alma do homem grego.Jaeger demonstra isso desde os tempos
remotos da Hélade com a poesia de Homero. Como GiamBattista Vico havia percebido,
toda grande civilização começa com os poetas-teólogos, que são aqueles que transmitem
o mito fundador da nação para o povo. A poesia foi a primeira forma de preparação da
mente de crianças e adultos para a compreensão do mundo. O Mythos é a pedagogia de
Homero, porquanto os seus poemas reproduzem as estórias de deuses e homens que dão
início à Paideia. Jaeger acredita que Homero produz um pensamento “filosófico” relativo
às leis eternas que governam o mundo. Na Ilíada e na Odisseia, as paixões humanas e os
elementos da tragédia grega que Aristóteles iria explicar de forma tão maravilhosa na
poética já se fazem presentes.
Existe um estudo dedicado à formação física e militar de Esparta, que tanta admiração
causou aos atenienses. Pode-se dizer que Esparta foi a mãe da educação estatal na
História. O homem espartano, segundo Jaeger, não tinha um conceito de imortalidade
além do da morte gloriosa em batalha. O Estado era para eles o sentido da vida e a guerra
algo desejável. A educação de Esparta nos causa repulsa em nosso tempo, porém para
aquele momento histórico ela realmente era efetiva. Aristóteles nos diz em sua Política
que a educação de Esparta era totalmente militarizada. Desde o primeiro momento, as
crianças com o mínimo defeito de nascença eram expostas impiedosamente à morte. A
criança era separada cedo de sua mãe e a responsabilidade pela sua criação passava ao
Estado. A Paideia de Esparta estendia-se aos adultos, e como diz Jaeger, “ninguém podia
viver ao seu bel-prazer”.
Nesse mesmo momento em que a educação de Esparta fazia sucesso, os gregos
descobriram o Cosmos e a Matemática. Surgem os filósofos da physis e a matemática de
Pitágoras. O homem começa a libertar-se do mito de Homero. As explicações para o
funcionamento do universo começam a surgir. Pitágoras e sua escola provavelmente
descobriram a matemática através dos egípcios, mas eles não se tornaram apenas
repetidores de uma ciência antiga. Fizeram inovações, criaram uma teoria musical que
passaria a fazer parte da Paideia platônica. Homens como Heráclito delimitam de alguma
forma o alcance dos conhecimentos de um homem que conhece a si mesmo. Ele diz: “a
multiplicação dos conhecimentos não proporciona sabedoria”. Heráclito completa: ”
investiguei-me a mim próprio”. Jaeger diz que nesse momento a filosofia volta ao homem,
depois que várias tentativas de explicar o porquê do universo não foram suficientes.
As tragédias de Ésquilo e Sófocles tornar-se-iam para os gregos uma tentativa de explicar
os imprevistos da natureza e da fortuna que tanto os atemorizavam. No Prometeu
Acorrentado, Ésquilo fala sobre o drama da alma ( PATHOS) de um Titã que terá que
descer até as profundezas para resgatar o seu erro. Prometeu é o Titã que rebela-se contra
Zeus por compaixão aos homens que ele vê como vivendo como cegos nesse mundo.
Rouba, então, o fogo divino e o concede aos homens. Ensina a eles várias outras ciências,
entre elas a matemática. Mas sua rebeldia é descoberta e ele é preso com correntes a um
rochedo. Está destinado a sofrer o castigo eterno por sua HUBRIS. O espírito de
Prometeu, como o de todos os gnósticos de todos em todos os tempos se revolta contra a
divindade. O ódio de Prometeu que grita ” odeio todos os deuses” é o mesmo de Satã no
momento da Queda: ” não servirei!” A revolta contra a divindade está presente no mito
grego. Na sequência da tragédia, Prometeu irá reconciliar-se com Zeus. Sófocles
conseguiu atingir a mente dos gregos com uma outra tragédia que ainda hoje nos
emociona: Édipo Rei. Aristóteles considerava essa tragédia como a melhor que existia.
Édipo sofre uma virada da fortuna de maneira inesperada, e sofre o castigo (NEMESIS)
mesmo sendo inocente. Em um mundo onde tudo era incerto como na Antiguidade, os
poetas produziram sua Paideia que mostrava ao povo a razão da dor e do sofrimento. Da
mesma forma que em Prometeu Acorrentado, no final o bem prospera. Os deuses têm
compaixão de Édipo. Nas palavras de Jaeger: ” é o milagre da salvação que no fim o
espera. Os deuses, que te feriram, de novo te porão de pé.” O mal existe de maneira
temporária, porque no fim é o bem que triunfa. A Paideia dos poetas ensina os gregos
através do sofrimento temporário que os deuses são bons.
Por fim falarei sobre a melhor parte do livro que é a filosofia platônica. O filósofo grego
reuniu o que havia de melhor na Paideia grega para formar um sistema mais amplo ainda.
O homem não só está preparado para ser um bom cidadão, como também aspira a
contemplar o Bem. Para Platão, o homem e a mulher devem começar sua educação cedo.
No seu diálogo As Leis, ele chega a dizer que devem começar a aprender na barriga de
suas mães. A Paideia é completa, pois inclui música e poesia agora purificados de todo
elemento maligno;inclui, também, a preparação física, pois sem ela o homem fica
amolecido. É claro que a matemática também está presente. Platão aspirava que homens
e mulheres pudessem ter o mesmo tipo de educação. Apesar de ter dedicado boa parte da
vida escrevendo sobre o Estado ideal, no fim Platão tentou fazer que o homem que tivesse
experimentado sua Paideia construísse o ” Estado dentro de si”, segundo as palavras de
Jaeger. O ideal de Paideia de Platão era fazer que todos conhecessem o Bem. A
contemplação do filósofo do AGATHON é o mito que ele nos conta na República.
Existem dois mundos para Platão: o noumena e o phenomena. Platão quer que tenhamos
atenção para o primeiro. Jaeger explica o que Platão quis dizer com sua imagem do
deus Hélio. Esse é o filho do Bem. Quando o homem olha para o céu vê sua luz e a
contempla. Se não olhasse para o Filho do bem, ficaria preso às trevas de noite. Quando
o homem está em trevas, diz Jaeger, sua alma perde a razão. Quando contempla o Filho
do Bem, o Sol, a alma se ilumina e percebe a causa do conhecimento e da verdade. A
Paideia de Platão alcança o seu ponto máximo. Não só educa para esse mundo como
também para o mundo das Ideias, esse sim, o que é eterno e não transitório. Contemplar
e conhecer o Bem é o fim da Paideia do maior de todos os filósofos que é Platão.

Platão- Mênon
O diálogo parte da questão proposta por Mênon a Sócrates: a virtude pode ser ensinada,
desenvolvida por exercício ou seria ela constitutiva da natureza? Sócrates responde que
não sabe se e nem como poderia ser ensinada, assim como não sabe o que é a virtude.
Mênon tenta responder o que ela é enumerando várias atitudes tais como: ser capaz de
administrar bem o Estado ou de administrar bem a casa no caso das mulheres. Sócrates
recoloca a pergunta: o que ele deseja saber é o que está presente em todas as virtudes, isto
é o que faz com que elas se definam e se caracterizem enquanto tais. O que é procurado
é o sentido único e abrangente da virtude e não a multiplicidade de formas com que se
apresenta. A segunda tentativa de resposta para o significado de virtude por parte de
Mênon é: virtude é amar o que é belo e conquistar o poder de obter estas coisas. O diálogo
prossegue com a colocação de Sócrates de que a virtude pode ser procurada mesmo não
sabendo o que seja. Esta colocação é importante pois enfatiza mais o caminho a ser
percorrido do que uma definição pronta e acabada. Através da teoria da reminiscência,
situa o método pelo qual o conhecimento das virtudes ou do que quer que seja se dá. O
conhecimento de alguma coisa se dá no tanto em que se alcança sua rememoração. O
diálogo com o escravo visa exemplificar esse conhecimento já existente e que deve ser
recordado.
A alma, sendo imortal contemplou tudo o que existe na terra e no Hades. Ela conhece
tudo. Uma constante indagação e busca de resposta para o entendimento da virtude é
então o caminho pois não se sabe o que é e tudo o que pode ser conhecido requer um
trabalho de rememoração. Aí está uma crítica aos sofistas: eles promovem a indolência
ao se apresentarem como mestres detentores de um saber a ser transmitido, isentando o
outro deste processo vital de busca incessante. O diálogo prossegue com a distinção entre
ciência e opinião verdadeira Haveria possibilidade de ensino da virtude caso ela fosse
uma ciência. Mas isto afinal não se confirma. A opinião verdadeira ganha relevância já
que ela pode levar a ações virtuosas levando à importante conclusão de que a inteligência
não é determinante no processo do conhecimento. A emanação do conhecimento pela
conexão com a divindade seria o fator determinante. Dizer a verdade sem o saber exprime
essa forma de conhecimento que vai além do que pode ser apreendido racionalmente.

Montaigne- Sobre a Educação das Crianças


Montaigne, em seus Ensaios, escreveu sobre como educar crianças, a pedido de uma
amiga sua que estava grávida e queria saber como ser uma boa mãe. Boa leitura.
Um de seus ensaios mais interessantes, Monsieur Montaigne, faz referência à educação
de crianças. O que pode nos dizer sobre isso?
Posso resumir para você em algumas palavras: devemos fazer com que, onde as crianças
encontram seu proveito, encontrem também seu prazer. Devemos adoçar os alimentos
saudáveis para as crianças e pôr fel nos que lhes são nocivos.
E como fazemos isso? Fortalecendo-lhes a alma?
Naturalmente, mas não só isso. Não basta fortalecer-lhes a alma, também é preciso
endurecer-lhes os músculos. A alma é pressionada demais se não for amparada; e já tem
muito a fazer para acudir, sozinha, a duas tarefas.
Endurecer-lhes os músculos? De qual forma?
É preciso acostumar as crianças ao sofrimento e à dureza dos exercícios, a fim de treiná-
las para o sofrimento e a dureza da luxação, da cólica, do cautério e da prisão.
O senhor foi criado de tal maneira, então?
De modo algum; fui criado na indolência! E é exatamente por isso que sei o quanto labuta
a minha alma em companhia de um corpo tão tenro, tão sensível, que se deixa abandonar
sobre ela. Vi homens, mulheres e até crianças para quem uma paulada é menos que um
piparote em mim.
E quanto às habilidades sociais?
Que as crianças sejam instruídas sobretudo para render-se e depor as armas diante da
verdade, sem demora, assim que a percebeemr, quer ela surja das mãos de seu adversário,
quer surja nelas mesmas por alguma reconsideração. O silêncio e a modéstia são
qualidades muito úteis na conversação. A criança deve ser educada para poupar e moderar
seu saber, quando o adquirir, para não se melindrar com as tolices e fábulas que serão
ditas em sua presença; pois é descortês e inoportuno criticar tudo o que não é de nosso
gosto. Como dizia Sêneca, pode-se ser sábio sem pompa nem arrogância.
E em relação às lições?
Que proveito uma criança não tirará da leitura das Vidas Paralelas de nosso Plutarco?
Mas que o guia se lembre do que visa sua tarefa; e que inculque em seu discípulo menos
a data da ruína de Cartago do que os costumes de Aníbal e de Cipião; nem tanto onde
morreu Marcelo como por que foi indigno de seu dever e lá morreu.
E os prazeres?
O essencial é a moderação. Ela é a mãe nutriz dos prazeres humanos. Tornando-os justos,
torna-os seguros e puros. Moderando-os, mantém-lhes o alento e o apetite. Suprimindo-
nos aqueles que recusa, aguça-nos para aqueles que nos deixa, pois detém o beberrão
antes da bebebeira, o guloso antes da indigestão, o libertino antes do sífilis.
E devemos versar nossos filhos na filosofia?
É claro. Devemos empregar o tempo, que é tão curto, nos ensinamentos necessários.
Livrar-nos de todas essas minudências da dialética: são abusos com que nossa vida não
pode melhorar; pegue os simples discursos da filosofia, saiba escolhê-los e tratá-los como
se deve, são mais fáceis de compreender do que um conto de Boccaccio.
Jean Jacques Rousseau - "Emílio, ou da educação"

No século XVIII, Jean Jacques Rousseau publicou Emílio, ou da Educação, que se trata
de um romance pedagógico, contando a educação de Emílio. Rousseau partia do
pressuposto de que o homem nascia naturalmente bom e que a sociedade é quem o
corrompia, tornando-o mau. Seu principal objetivo é evitar que a criança se torne má e
fazer com seja um adulto bom.

Na época em que Rousseau vivia não se tinha a ideia de criança, apenas de que essas
eram “pequenos” adultos; a punição era a mesma para ambos. De acordo com seu texto,
não se conhecia a infância, “eles (homens) procuram o homem na criança, sem ao
menos pensar no que ela é antes de ser homem”. Para ele, a criança deveria ser
entendida em sua complexidade, ou seja, por suas próprias características.

Sob esta perspectiva, para Rousseau, quem separa o adulto da criança é a educação. Seu
principal foco é a valorização da criança como criança e, para ele, a educação é o
principal meio de valoriza-la. Ela deve ser tratada como criança, porém não em excesso,
pois o excesso para ele é “manha”.

Rousseau defende a ideia de se educar diferentemente os homens das mulheres. Para


representar isso em seu texto, propõe exemplos e Emílio e Sofia, em que as mulheres
devem ser criadas foras dos preceitos da razão, pois estas nasceram para serem
submissas ao marido, criadas para o casamento e maternidade, não apresentando
possibilidades de aprender conceitos científicos. Já o homem fora criado para ser forte e
rico, devendo receber instrução científica. Educado desta forma, Emílio será um cidadão
capaz de assumir e aceitar as exigências impostas pela sociedade sem que se sinta
oprimido.

Em Emílio, Rousseau critica fortemente a educação tradicional da época, pois esta era
muito racionalizada, muito técnica e muito impositiva. Devido a isso, nota-se o porquê
de Rousseau ser considerado o pai da educação, uma vez que este realmente leva a sério
a criança e reconhece a importância desse estágio. Inicia-se então, uma pedagogia
voltada e centrada na criança, não mais reconhecendo-a como adulto, mas sim na sua
essência, na sua felicidade e na sua liberdade como criança.

No texto, Rousseau afirma que tudo o que não se tem quando se nasce (juízo, força,
assistência) e do que se necessita quando crescidos, é dado pela educação e que apenas
essa pode modificar o homem.~
Percebe-se que o principal foco da obra Emílio é o de como educar uma criança. Para
Rousseau, deve se dar ênfase à educação desde o nascimento, pois ela nasce “pura”
quem o modifica é a sociedade, e como dito acima, apenas a educação tem esse poder.

MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. - Textos Sobre Educação e Ensino


Segundo Marx e Engels, o fim da opressão e a tomada de consciência dos indivíduos só
é possível com a emancipação em todos os níveis, inclusive o da consciência. A educação
através da razão e da ciência seria um instrumento fundamental nesse processo. Trata-se
de conceber a educação e, por extensão, a escola como instrumento e locus de
empoderamento das classes trabalhadoras no sentido da luta de classes e do
estabelecimento de uma sociedade comunista, sem propriedade privada.Suas críticas
recaem sobre a atual instituição escolare a necessidade de moldá-la as necessidades
emancipatórias do proletariado visando à superação de classes. Pensam, portanto, a
partir e sobre a situação dos trabalhadores, além de buscar possibilidades de instauração
de um novo modelo social comunista sem divisão do trabalho e sem classes em
conflito.Marx e Engels não pensam a educação de maneira normativa, pensam-na como
uma dimensão autônoma do Estado e da Burguesia; um instrumento-chave do amplo
processo de condução da sociedade dual burguesa-proletária para a sociedade sem
classes.No tópico sistema de ensino e divisão do trabalho (DT), os autores chamam a
atenção para a questão da divisão do trabalho tanto espacial (rural e urbana) quanto
intelectual e material. Também tecem comentários sobre conceitos tais como salário,
trabalho livre e assalariado, propriedade, etc. A DT causa a alienação do trabalhador ao
mesmo tempo em que o desprepara para outras atividades que não sejam as que ele
especializou-se. Ou seja, torna-o um apêndice da máquina expropriando o seu
conhecimento e obrigando-o a ações que não exijam raciocínio. A DT permite o
surgimento de um sentimento de revolta dos trabalhadores, indignação contra a burguesia
que é o único tipo de pensamento que as relações trabalhistas no capitalismo industrial
permitem ao trabalhador. Portanto, o trabalhador vende a sua força de trabalho e o lucro
fica para o capitalista detentor dos meios de produção que o reaplica em busca de mais e
mais lucratividade. Por tratar-se de atividades simples, qualquer um pode tornar-se um
especialista o que fará com que os salários baixem e aumente o exército de reserva pronto
a exercer tais atividades por baixos salários. Para os autores, o germe da extinção da
divisão do trabalho está em sua própria dinâmica, pois a divisão do trabalho pressupõe
especialização técnica e ampliação da educação da classe trabalhadora o que tenderá a
criar a consciência de si e para si desta classe tornando-a cada vez mais resistente ao
avanço das relações capitalistas destrutivas para os trabalhadores. Na sociedade
comunista não haverá DT, pois cada indivíduo exercerá a atividade que lhe aprouver, sem
exclusividade e sem especialização.Em Educação, Formação do Trabalho, os autores
retomam o tema da DT onde afirmam que a unilateralidade da especialização inibe o
desenvolvimento das faculdades plenas dos trabalhadores que as desenvolvem apenas
parcialmente. Para eles, ?o limite da emancipação política se manifesta imediatamente no
fato de que o Estado possa liberar-se de um limite sem que o homem libere-se realmente
dele, que o Estado possa ser um Estado livre sem que o homem seja um homem livre?
(p.30). Ou seja, os autores criticam a influência da Igreja, muito forte ainda no seu tempo,
nos assuntos do Estado. Segundo eles, é fundamental que o Estado dote as instituições
escolares de todos os meios possíveis para uma boa educação, mas não deve ser ele o
agente educador, pois a educação deve ser autônoma e independente em relação ao Estado
e a Igreja, haja vista que tanto um quanto outro tem estrita ligação com as classes
dominantes. Se a primeira é o bureau (agência) da burguesia, a segunda é o ópio do povo.
A vinculação da educação ao Estado seria uma contradição, pois o objetivo da educação
é justamente a instauração de uma nova ordem social onde não cabem tanto o Estado
quanto a Igreja nas suas atuais concepções ideológicas.Outro aspecto interessante é a
concepção filosófica dos autores sobre a propriedade privada. Para eles, ?a propriedade
privada nos tornou tão estúpidos e unilaterais que um objeto somente é nosso quando o
temos, quando existe para nós enquanto capital ou quando é imediatamente possuído,
comido, bebido, vestido, habitado; em suma, utilizado por nós? (p.33). Essa concepção
privatista da posse de bens se entrechoca diretamente com a concepção comunista de uma
sociedade destituída da propriedade privada e de luta de classes. ?A objetivação da
essência humana, tanto no sentido teórico como no prático, é, pois, necessária tanto para
tornar humano o sentido do homem como para criar o sentido humano correspondente à
riqueza plena da essência humana e natural? (p. 36). Trata-se, da parte dos autores, de
uma crítica direta à irracionalidade da ideologia capitalista e um chamamento à re-
essencialização do espírito humano desestruturado pela ação nociva do capital.A
destruição do capitalismo estaria sendo gestado no seu próprio seio: isso levaria a uma
contradição, pois o desenvolvimento das forças produtivas necessárias ao
desenvolvimento do capital e a produção de riquezas, condição essencial de sua
reprodução, levaria assim a sua própria destruição. Nesse caso, tanto as relações
capitalistas, competitivas e antagônicas por natureza, quanto o desenvolvimento das
forças produtivas e a teleológica tomada de consciência por parte do proletariado, seriam
poderosos limites ao avanço do capital.Na terceira seção, Ensino, Ciência e Ideologia, os
autores retomam a idéia de que a visão burguesa desfavorável ao acesso à educação pelas
classes proletárias seria, na realidade um efeito perverso para aquela classe dominante,
pois o acesso restrito à educação seria um dos propulsores da revolução proletária que
poria fim à propriedade privada, numa clara visão otimista desse processo de
reestruturação social em direção ao futuro e ao progresso (p.45). O melhor exemplo do
descaso para com a educação do proletariado teria ocorrido na Inglaterra, segundo
Engels.Também elaboram um panorama crítico das condições das ciências. Dividem as
ciências em três ramos principais: exatas, biológicas e humanas, sendo que as mais
desenvolvidas naquela época seriam as exatas devido ao rompimento daquela corrente
científica com a teologia, mesmo que ao custo das fogueiras da Santa Inquisição. As
biológicas ainda tratavam o corpo humano como um templo sagrado e as humanas ainda
estavam mergulhadas na teologia, principalmente os legados filosóficos de São Tomás de
Aquino e de Santo Agostinho. Contudo, os autores não deixam de criticar fortemente as
?verdades eternas? (paradigmas) vigentes nos diferentes campos do saber, principalmente
nas ciências humanas.Tratam ainda de diagnosticar que a genialidade dos pensadores do
passado como Newton, Kepler, Galilei, Giordano Bruno, Da Vinci, entre tantos outros foi
fruto da não submissão destes cientistas à divisão do trabalho. Dessa maneira, ?os heróis
daquele tempo ainda não eram escravos da DT, cuja influência dá à atividade dos homens,
como podemos observá-lo em muitos de seus sucessores, um caráter limitado e unilateral?
(p.52).Os autores ainda discutem o papel das ciências durante os diferentes períodos da
sua evolução. Segundo eles, o primeiro período das naturais foi marcado por uma nova
concepção de mundo (imutabilidade absoluta da natureza, visão estática) que se opôs à
visão da filosofia grega clássica (visão dinâmica). Os naturalistas do século XVIII então
assumiram uma postura conservadora onde tudo seria explicado como atos do criador.
Neste momento, havia ainda uma forte influência da Igreja mesmo nas ciências exatas.
Copérnico e Newton foram os precursores de uma visão que tenderia a romper
definitivamente com a visão imutável e teológica da ciência. Essa visão conservadora
ainda era muito marcante na educação à época em que os autores viviam e, talvez, ainda
o seja em nosso tempo presente.Havia ainda os materialistas franceses que buscavam
explicar o mundo pelo próprio mundo. Seriam eles, portanto, os precursores de uma
corrente de pensamento muito influente, principalmente na França em meados do século
XX, o existencialismo cujo maior expoente foi Sartre.Um dos motivos do
enfraquecimento da teologia talvez tenha sido a invenção da Imprensa por Gutemberg e
a complexificação das relações mercantis que impulsionaram a escrita e a leitura para as
demais classes sociais.Em Educação, Trabalho Infantil e Feminino, os autores abordam a
relação entre trabalho infantil e educação; as medidas do Estado pra prover educação
básica às crianças que trabalhavam nas fábricas; a resistência da classe burguesa, e a
inserção da mulher nesta nova dimensão da produção.Basicamente, os autores convergem
para a idéia de que crianças e adolescentes também podem trabalhar, mas ressaltam que
a carga de trabalho deve variar conforme a idade e não prejudicar a sua educação escolar.
Também não concordavam com o trabalho infantil noturno devido aos efeitos nocivos
para a saúde. Por educação os autores entendem três aspectos: a educação corporal
(educação física); a educação intelectual e a tecnológica. Essa educação seria paga com
o trabalho produtivo das crianças e adolescentes. Para Marx e Engels, a educação das
crianças deve ser entendida como um projeto de classe que colaboraria de maneira efetiva
com o pressuposto do socialismo científico de tomada de consciência da classe proletária
visando à revolução do proletariado, colocando-a acima das classes burguesa e
aristocrática (p.60). Ou seja, a educação infantil seria um instrumento da inevitável
transformação radical da estrutura de classes então vigente. Nesse caso, a crítica dos
autores aos abusos de poder paterno são claros e objetivos conforme visto neste
capítulo.Um outro ponto interessante é a análise das ações governamentais no sentido da
obrigatoriedade da educação para crianças e adolescentes em horário de trabalho.
Segundo os autores, havia uma grande resistência da parte da classe empregadora, além
de inúmeros subterfúgios para burlar as leis. Falam também da degradação dos espaços
escolares e do despreparo dos professores e diretores de escola que, muitas vezes, sequer
eram alfabetizados e nada proporcionavam em matéria de ensino às crianças. Tratam
ainda da maneira como eram compensadas para os empregadores as horas que as crianças
passavam nas escolas, mas reconhecem que a lei fabril de 1844 ?fizeram da instrução
primária condição indispensável para o emprego de crianças? (p.64).Há ainda a crítica ao
efeito devastador que a parcialização das atividades industriais impõem aos jovens
principalmente àqueles acima de 17 anos que quando despedidos, não tem qualquer tipo
de preparação para exercer outra atividade qualquer. Neste caso passam a engrossar o já
avolumado exército de reserva proletário. Dessa forma, ?algumas tentativas para arranjar-
lhes ocupação noutras atividades fracassam diante da sua ignorância, brutalização e
degradação física e espiritual? (p.67).Essa concepção degradante da DT também é
transposta para o interior da sociedade. A unilateralização da especialização no modo
produtivo capitalista representa uma fase da evolução histórica rumo à revolução.a
tecnologia aliada à especialização cada vez mais necessária gera uma contradição pois
?(...) revoluciona constantemente a divisão do trabalho dentro da sociedade e lança,
ininterruptamente, massas de capital e massas de trabalhadores de um ramo de produção
para outro? (p.68). Esta condição de insegurança traz malefícios para o trabalhador que
dispensam reflexões. Essa condição ameaçadora, contudo, é uma condição histórica
necessária à transformação final da estrutura de classes segundo os autores.Assim como
a manufatura e o artesanato, também o trabalho a domicílio tiveram as suas estruturas
tradicionais sacudidas pelo capital. A intervenção do Estado legislando leis para tentar
compensar as brutalidades do capital sobre as classes trabalhadoras e a instauração de
comitês para avaliar as condições do trabalho infantil e feminino nas oficinas e fábricas
também é assunto dos autores. Nesta oportunidade, Marx e Engels discutem as medidas
contra a exploração dos trabalhadores por parte do governo inglês e a resistência imposta
pelos empregadores, além da má fé com que estas práticas foram implementadas pelos
capitalistas. Outro aspecto importante da legislação contra os abusos do capital e pela
educação das classes trabalhadoras é que elas eram direcionadas não apenas à classe
burguesa, mas também aos pais que abusavam do direito de transformar os filhos em
instrumentos disponíveis para os meios produtivos fabris.Em O ensino e a Educação da
Classe Trabalhadora, último capítulo do livro, os autores tratam dos custos e do tempo de
formação dos trabalhadores. Analisando as ações da burguesia para a formação dos
trabalhadores, os autores vão afirmar que ?(...) as escolas não contribuem em nada, ou
quase nada, para a moralidade da classe trabalhadora? (p.80), e que educação moral para
aquela classe seria a memorização dos seus princípios de classe (p.81). Além disso, a
educação das classes trabalhadoras àquela época estava ainda muito influenciada pela
Igreja, o que dificultava ainda mais uma emancipação dos trabalhadores na dimensão da
educação. Para os autores ?a escola primária oferecerá tudo o que em si mesmo e por
princípio seja susceptível de ter algum atrativo para o Homem, sobretudo os fundamentos
e os resultados principais de todas as ciências que digam respeito às concepções do
Mundo e da vida? (p.87)[2].Segundo Engels, ?a democracia não teria nenhuma utilidade
para o proletariado se não servisse de maneira imediata para realizar algumas medidas
que atacam diretamente a propriedade privada e asseguram a existência do proletariado?
(p.94). Tais medidas só poderiam ser implementadas com a concentração do poder e dos
meios de produção nas mãos do Estado. Trata-se, portanto, de um segundo momento,
pós-revolução, que aboliria a propriedade privada e prepararia a emergência da sociedade
sem classes e sem Estado coercitivo. Dentro dessa perspectiva, o papel da educação seria
libertar a classe trabalhadora ?do caráter unilateral que imprime a cada indivíduo a atual
divisão do trabalho. Desta forma, a sociedade organizada, segundo o modo comunista,
dará a seus membros a oportunidade para desenvolverem tanto os seus sentidos quanto as
suas aptidões? (p.95), fazendo desaparecer, inclusive, a oposição entre o campo e a
cidade.Isso também traria efeitos sobre a instituição familiar. Segundo os autores, ?a
relação entre dois sexos será uma questão puramente pessoal, concernente somente às
partes interessadas, e na qual a sociedade não terá de intervir. Isso será possível porque
se abolirá a propriedade privada e as crianças serão educadas pela sociedade, de tal forma
que serão destruídos os dois pilares que constituem as bases fundamentais do matrimônio:
a dependência da mulher em relação ao homem e das crianças em relação aos pais no
regime da propriedade privada? (p.96). Contudo, esse novo sistema de ensino demanda
mudanças na estrutura social. Portanto, o Estado deve prover os meios necessários além
de fiscalizar a implementação da nova escola socialista, mas o ensino mesmo sendo
estatal não deve estar sob controle do Estado que deverá proporcionar uma educação
politécnica e não ideológica.Lembrar que os autores escrevem sobre o seu tempo: segunda
metade do século XIX. No tópico [38], p. 86-91, Engels define de maneira objetiva a
natureza formal e as características das diversas disciplinas a serem ministradas na Escola
primária da classe operária. A idéia principal dos autores para a consecução deste
propósito é a desvinculação total da escola da influência do Estado e da Igreja. Segundo
os autores, o Estado não deve educar o povo, mas deve prover todos os meios legais,
materiais e humanos possíveis para a implementação de modelo proposto pelos autores.

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