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O influxo da Antropologia na formação do Direito


e do Estado
O influxo da Antropologia na formação do Direito e do Estado

Bruno Barros

Publicado em 10/2015. Elaborado em 10/2015.

Este artigo procura instigar seu leitor a entender a


importância de compreender a antropologia e inseri-la ao
Direito e, fundamentalmente, no embasamento do Estado.
Em poucas linhas, será debatido porque o Estado deve ser
constituído pela Antropologia.
SUMÁRIO: INTRODUÇÃO. 1. A ORIGEM DO ESTADO COMO FATO
HUMANO. 2. A VISÃO MULTICULTURAL DO ANTROPÓLOGO. 3.
CONCLUSÃO. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

INTRODUÇÃO.

Atualmente existe um grande problema na estrutura do Direito. Apesar de


existir valores e princípios na constituição formal do Estado brasileiro bem
como em outros, tem-se aqui, em grande medida, um fosso entre a realidade
social e a formalidade jurídica – no que tange ao funcionamento e aplicação
dessas normas. Diante disso, é notável a quantidade de normas jurídicas de
teor totalmente arbitrário – que beneficiam apenas uma parcela minoritária
da sociedade e que, consequentemente, desprezam o direito e a dignidade
das demais conjunturas sociais. O Direito, portanto, passou a ser um
produto artificial[1] (#_ftn1) , formulado para satisfazer prestígios pessoais, e,
em decorrência disso, as normas passaram a ser desumanas e injustas. De
certa forma, isso ocorre em decorrência da mecanização do Direito. Que o
torna, para aqueles que o estudam, apenas um conjunto de conhecimentos
técnicos-jurídicos a ser estudados e aplicados na vida jurídica. 

 Porém, voltando-se à questão base desse estudo: Por que o Estado deve se
fundar em razões antropológicas? Essa pergunta, à primeira vista e com
conhecimentos básicos de antropologia, parece fácil para ser respondida.
Entretanto, não é o que parece. No decorrer deste opúsculo, estará
sistematicamente explícitas algumas razões antropológicas para a
constituição do Estado.

                                                                                                                            

1. A ORIGEM DO ESTADO COMO FATO HUMANO

Antes de falar do Estado, sobretudo, é importante mencionar que sua


origem é proveniente de uma necessidade. O Estado não surgiu
espontaneamente, aliás, de “uma ordem divina”. O Estado,
fundamentalmente, é produto humano. O homem se viu diante de uma
situação complicada, além de ser difícil obter alimentos por conta própria,
era perigoso viver sozinho ou em pequenos grupos. Além disso, por
costumes precedentes, havia-se o tabu em relação ao incesto. Assim sendo,
além de correr o risco de conviver sozinho, o homem se aproximou de
outros povos para satisfazer suas necessidades sexuais, instintivas e
existenciais, como diz Thomas Fleiner-Gester:
A proteção contra os perigos que os
ameaçavam, por exemplo, de guerras
constantes ou animais selvagens obrigou os
homens à convivência. O povo entregou
então o poder àquele que era inteligente,
forte e capaz, elegendo-o rei. A dominação
surgiu de uma necessidade da sociedade
ameaçada em sua existência. (FLEINER-
GESTER, Thomas. Teoria Geral do Estado, p.
25)

Portanto, a primeira ingerência da antropologia em relação à constituição


do Estado diz respeito a sua própria criação, pois, como explicitado, o
Estado surge a partir de um conjunto de relações humanas, e em sua
essência, tem como objetivo a proteção do homem e sua própria existência
em comunidade. Para o antropólogo, ainda hoje, se faz necessário o estudo
dessas sociedades “primitivas” para entender as mais complexas. É
totalmente insuficiente estudar uma sociedade complexa sem antes
entender o seu critério existencial e sua finalidade. O problema, atualmente,
é que as leis que mantêm a ordem estão sendo edificadas sem antes
passarem por um processo de ponderação sob a luz antropológica. Ou seja,
pouco se estuda o homem o que, aliás, é o principal objeto do Direito. É em
consequência disso que surgem as leis desumanas e pouco voltadas aos
princípios e os direitos meramente humanos.

2. A VISÃO MULTICULTURAL DO ANTROPÓLOGO

Na visão de Malinowski, pioneiro da antropologia como ciência, o


antropólogo deve ter uma visão não  etnocêntrica. Em outras palavras, ele
deve negar seus preceitos e suas crenças em uma “verdade”, a negação ao
etnocentrismo. Isso é adquirido ao conviver pelo menos um ano com o
povoamento o qual é o objeto de estudo. Esse método ficou conhecido como
“observação participante”. Com isso, o antropólogo passa a ter uma visão
pluralista e multicultural do mundo. Essa experiência fomenta a capacidade
de generalizar a questão humana, impedindo, desse jeito, que ocorra a
criação de uma norma estatal de sentido unilateral, opressor e, acima de
tudo, desigual. Segundo Robert Shirley (1987, p. 2): “O antropólogo teve de
se tornar um generalista ao invés de um especialista, mesmo quando seus
interesses eram mais centralizados”. É nessa lógica que é mais confiável que
haja fundamentos antropológicos na formação do Estado, pois é evitada a
tirania e é preservada as liberdades individuais e culturais do homem.

É importante mencionar o que ainda Robert Shirley trata sobre a questão da


antropologia, a sua influência positiva na denunciação de leis injustas,
desumanas, racistas e etc.:
  Um outro elemento introduzido pelos
fundadores da antropologia moderna foi o
conceito de comparação controlada. Esta
Sugere que através do conhecimento de
muitas culturas e sociedades pode-se chegar
a um entendimento mais científico do
gênero humano em geral. A antropologia
provou que muitas “leis” nas ciências sociais
eram em si mesmas etnocêntricas e
eliminou vários preconceitos inerentes à
visão europeia do mundo. (SHIRLEY, Robert.
Antropologia Jurídica, p. 6)

Um fato relativamente interessante que trata do etnocentrismo europeu


ocorreu em meados do século XV e XVI, durante a exploração espanhola na
américa latina (O fato ficou conhecido como “A controvérsia de Valladolid”).
Um conjunto de líderes religiosos se reuniram para discutir um tema
referente aos índios das colônias espanholas. Uma questão que foi colocada
em pauta era se eles tinham alma ou não. Quem é o outro? Eles são ou não
são humanos? Quem são humanos? Essas e milhares de outras perguntas
estavam impregnadas no vocabulário europeu daquela época. Por fim, ficou
deliberado que de fato os índios não deveriam ser escravizados e, portanto,
deveriam os negros ser utilizados para tal fim. Como pode-se perceber, o
etnocentrismo está impregnado desde muito tempo, e isso se caracteriza
como um equívoco muito grande da humanidade. Demorou muitos anos
para os negros serem reconhecidos como humanos. Nos Estados Unidos, por
exemplo, símbolo do constitucionalismo, mesmo após a promulgação de sua
primeira constituição em 1787, a escravidão perdurou por muitos anos até a
emenda constitucional nº 13 por fim a esse sofrimento milenar.

3. CONCLUSÃO

A realidade é construída a partir de uma pluralidade de símbolos que são


edificados pelo próprio homem para dar significação à sua existência, seja
essa sociedade simples ou complexa. Como Gustavo Paulino destaca: “O
direito, a lei, a norma são partes atuantes desse processo de viver entre o
“real” e o “simbólico”, numa vida que é, de fato, a mescla dinâmica entre
essas duas dimensões [...]” (PAULINO, Gustavo. 2011.). Nesse sentido, não se
pode haver uma deslealdade entre a realidade e o “simbólico” que está
expresso nas leis. Além da importância do indivíduo saber viver nessa
dimensão entre o Direito e a cultura, valores e costumes, o Estado deve
permitir essa autonomia de escolha. A antropologia é fundamental para que
exista um Estado laico[2] (#_ftn2) , ausente do etnocentrismo, que defenda a
causa humana acima de tudo, que preserve a liberdade de escolha e a
igualdade. Com isso, as normas devem se pautar em princípios meramente
humanos e baseados em estudos eminentemente antropológicos. Pois como
supramencionado, a antropologia deve analisar o comportamento humano
sob o aspecto científico.

O Direito deve se afastar de causas prescindíveis e focar no que é principal,


o homem e sua essência. Dessa forma, o Estado deve ser o promotor e o
defensor primordial da causa humana como princípio fundamental e
inexorável. Pois na época de exploração colonial, o Estado europeu estava
mais preocupado em explorar as riquezas e controlar os povos nativos como
forma de viabilizar a extração das riquezas existentes, do que em estudar
sua cultura e o seu povo. Além disso, os europeus caracterizavam as atitudes
indígenas como algo demoníaco e imoral, a antropologia naquela época
pautava-se em maneiras de controle de povos (pragmática) e não em uma
forma científica. Em decorrência disso, houveram genocídios de vários
povos e culturas. Atualmente, a antropologia tomou um outro enfoque,
voltando-se mais para o estudo de povos primitivos como desenvolvimento
científico para o entendimento das civilizações modernas e complexas.
Portanto, para que exista um Estado defensor da causa humana, como já
mencionado, é necessária a existência da antropologia como razão de sua
constituição.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS.

SHIRLEY, Robert. Antropologia Jurídica. São Paulo. Saraiva. 1987.

FLEINER-GERSTER. Thomas. Teoria Geral do Estado. São Paulo. Martins e


Martins Fontes. 2006.

PAULINO, Gustavo Smizmaul. Antropologia Jurídica. São Paulo. Saraiva.


2011.

[1] (#_ftnref1) Robert Shirley, Antropologia Jurídica, 1987, apresentação por


Dalmo de Abreu Dallari.

[2] (#_ftnref2) Na defesa dos valores religiosos e culturais.

Autor
Bruno Bruno Barros
Barros
Acadêmico de Direito da Universidade do Estado de Mato
Grosso (Unemat) Campus universitário de Cáceres. Atualmente cursa o
terceiro semestre.
Informações sobre o texto

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