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LIBERDADE
AUTOR: AMARTYA SEN
1
INTRODUÇÃO
O livro baseia-se nas cinco conferências proferidas
pelo Professor Sen como membro da presidência do
Banco Mundial durante o outono de 1996 e também
com base em uma conferência complementar
proferida em novembro de 1997.
Esse texto procura apresentar sucintamente as
principais teses do autor discutidas nos quatro
capítulos iniciais deste livro que são: 1- A
perspectiva da liberdade, 2- Os fins e os meios do
desenvolvimento, 3 – Liberdade e os fundamentos
da justiça e 4- Pobreza como privação de
capacidades.
2
IDÉIAS CENTRAIS DO LIVRO
O Desenvolvimento consiste na eliminação de privações de
liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das
pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente.
Entre as privações de liberdade estão a pobreza e tirania,
carência de oportunidades econômicas e destituição social
sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância
ou interferência exercida dos Estados repressivos.
A liberdade é central para o processo de desenvolvimento por
duas razões: 1- a razão avaliatória ( a avaliação do progresso
tem de ser feita verificando se houve aumento das liberdades
das pessoas e 2- a razão da eficácia ( a realização do
desenvolvimento depende inteiramente da livre condição de
agente das pessoas, precisamos observar as relações
empíricas relevantes, em particular as relações mutuamente
reforçadoras entre liberdades de tipos diferentes.
3
CAPÍTULO 1 – A PERSPECTIVA DA
LIBERDADE
1- Riqueza : Maitreyee pergunta ao marido “ caso o mundo inteiro, repleto de
riquezas pertencesse só a ela, isso lhe daria a imortalidade”. Não,
responde Yajnavalkya, “ a sua vida seria como a vida das pessoas ricas.
Não há, no entanto, esperança de imortalidade pela riqueza”. “Se me que
serve isso, se não me torna imortal”.
Este diálogo tem um interesse muito imediato para a economia e para a
compreensão da natureza do desenvolvimento que é a relação entre
rendas e realizações, entre mercadorias e capacidades, entre nossa
riqueza econômica e nossa possibilidade de viver do modo como
gostaríamos.
Para Aristóteles “ a riqueza evidentemente não é o bem que estamos
buscando, sendo ela meramente útil e em proveito de alguma outra coisa”.
A resposta a esta questão é: a riqueza é o meio para termos mais
liberdade, para levarmos o tipo de vida que temos razão para valorizar
(funcionamentos). A sua utilidade está nas coisas que ela nos permite fazer
– as liberdades substantivas (capacidades) que ela nos ajuda a obter.
O desenvolvimento tem de estar relacionado com a melhoria de vida que
levamos e das liberdades que desfrutamos.
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Formas de privação de liberdade
Fomes coletivas
Subnutrição
Pouco acesso aos serviços de saúde
Falta de saneamento básico ou água tratada
Morbidez prematura
Negação de liberdade política e direitos civis básicos
Ausência de direitos e liberdades democráticas:segurança
econômica
Analfabetismo
Negação de oportunidades de transação
5
EXEMPLOS DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADES
6
- Os afro-americanos apesar de terem uma renda inferior
aos dos brancos americanos, são muito mais ricos do
que os Chineses ou o povo de Kerala. A perspectiva de
sobrevivência nas faixas etárias mais baixas
(mortalidade infantil) são melhores do que as chinesas
ou indianas, entretanto nas faixas etárias mais elevadas
tanto chineses como indianos superam em
sobrevivência os afro-americanos, dado seus sistemas
de saúde pública,educação escolar, lei, ordem,
prevalência da violência, etc.
7
CINCO TIPOS DISTINTOS DE LIBERDADE VISTOS DE UMA
PERSPECTIVA INSTRUMENTAL QUE SERÃO ANALISADOS
8
CAPÍTULO 2 – OS FINS E OS MEIOS DO
DESENVOLVIMENTO
9
O papel instrumental da liberdade concerne ao modo
como diferentes tipos de direitos, oportunidades e
intitulamentos contribuem para a expansão da liberdade
humana em geral e, assim, para o desenvolvimento.
10
SIGNIFICADO DAS LIBERDADES INSTRUMENTAIS
11
Exemplos:
No Japão ocorreu a intensificação do crescimento econômico por
meio da oportunidade social, especialmente nas áreas de educação
básica, contrariando a tese de que o desenvolvimento humano só
ocorre em países ricos;
A China sob o aspecto social está muito a frente da Índia na
capacidade de fazer uso do mercado, entre os aspectos positivos
neste país está a educação básica e o seu amplo serviço de saúde.
Entre os aspectos negativos está a ausência de liberdades
democráticas e a fome coletiva anterior a abertura de 1979 ,
referente ao período de 1958-1961 onde morreram 30 milhões de
pessoas;
Na Índia a concentração dos investimentos no ensino superior e o
descaso em relação aos serviços básicos de saúde deixou o país
despreparado para a expansão econômica. O aspecto positivo é
que há uma variação muito maior das oportunidades sociais como a
alfabetização e os serviços de saúde;
12
O crescimento econômico da Coréia do
Sul e Taiwan gerou impactos positivos
sobre a longevidade e expectativa de
vida,enquanto no Brasil isso não se
verificou, até é claro 1996. Nesses
primeiros países mencionados ficou claro
que não foi só o crescimento da renda que
melhorou as condições sociais de vida
mas o gasto público com serviços de
saúde em especial;
13
Economia dos Custos Relativos
17
Conclusão
Para muitas finalidades avaliatórias, o espaço
apropriado não é o das utilidades ( como querem os
welfaristas) nem a precedência política de Rawls, mas o
das liberdades substantivas e as capacidades de
escolher uma vida que se tem razão para valorizar.
O bem estar das pessoas está nos seus funcionamentos
ou nas várias coisas que ela pode considerar valioso
fazer ou ter e nas capacidades ou combinações
alternativas de funcionamentos cuja realização é factível
para ela.
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Capítulo 4 – Pobreza como privação de capacidade
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Países como o Japão, depois a Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong
e Cingapura, e mais tarde a China pós-reforma e a Tailândia, bem
como outros países do Leste e Sudeste Asiático, tiveram êxito
notável na difusão das oportunidades econômicas graças a uma
base social que proporcionava sustentação adequada, como altos
níveis de alfabetização e educação básica, bons serviços gerais de
saúde, reformas agrárias concluídas etc.
Uma pessoa rica sem oportunidade de participação política é pobre
no que diz respeito a uma liberdade importante.
O seguro-desemprego pode aparentar diminuir a privação no
espaço das rendas, mas não suprime a negação a oportunidade de
emprego sofrida e outras privações já anteriormente apresentadas.
O alto nível de desemprego na Europa é uma das maiores
privações , nos Estados Unidos é a desigualdade de renda que são
mais elevadas.
Conforme tabela 1e 2 a Índia e na África subsaariana não há muita
diferença em alfabetização dos adultos ou mortalidade infantil.
Entretanto diferem quanto a expectativa de vida, que na Índia, por
volta de 1991, era de aproximadamente sessenta anos, ao passo
que na àfrica sibsaariana era muito inferior , em média de 52 anos.
20
O grau de subnutrição é bem maior na Índia do que na
África subsaariana o que gera um contraste: a vantagem
favorável à Índia em relação a sobrevivência evidencia-
se na comparação de expectativa de vida e mortalidade.
A idade mediana ao morrer na Índia em 1991 era de
aproximadamente 37 anos, enquanto na África de
apenas cinco anos.
21
Conclusões
Além da renda temos que considerar as desigualdades
de vantagens individuais e liberdades substantivas,
como exemplo a taxa de mortalidade maior dos afro-
americanos em comparação com as dos chineses ou
dos indianos de Kerala, muito mais pobres, anda em
sentido contrário à desigualdade econômica e que
envolve questões de políticas públicas com fortes
componentes econômicos: financiamentos dos serviços
de saúde e de seguro-saúde, fornecimento de educação
pública, medidas visando à segurança local etc.
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GRÁFICO 1: VARIAÇÃO POR REGIÃO NAS TAXAS DE SOBREVIVÊNCIA PARA O SEXO
GRÁFICOS 1.1: VARIAÇÃO POR REGIÃO NAS TAXAS DE SOBREVIVÊNCIA PARA O SEXO MASCULINO
MASCULINO
100
95
90
Sobrevivência (%)
85
Estados Unidos
(brancos)
80
75
China
Kerala, Índia
70
Estados Unidos
(negros)
65
0 5 15 25 35 45 55 65 75
Idade (anos)
Fontes: Estados Unidos, 1991-1993: U. S. Department of Health and Human Services, Healt
United States 1995, Hyattsville, MD, National Center for Health Statistics, 1996; Kerala, 1991:
Government of India, Sample registration system: Fertility and mortality indicators 1991, Nova
Dehli, Office of the Registrar General, 1991; China, 1992: World Health Organization, World
health statistics annual 1994, Genebra, World Health Organization, 1994. 23
GRÁFICO 2: VARIAÇÃO POR REGIÃO NAS TAXAS DE SOBREVIVÊNCIA PARA O SEXO
GRÁFICOS 1.2: VARIAÇÃO POR REGIÃOFEMININO
NAS TAXAS DE SOBREVIVÊNCIA PARA O SEXO FEMININO
100
95
Estados Unidos
90 (brancas)
Sobrevivência (%)
85
Kerala, Índia
80
Estados Unidos
(negras)
75 China
70
65
0 5 15 25 35 45 55 65 75
Idade (anos)
Fontes: Estados Unidos, 1991-1993: U. S. Department of Health and Human Services, Health
United States 1995, Hyattsville, MD, National Center for Health Statistics, 1996; Kerala, 1991:
Government of India, Sample registration system: Fertility and mortality indicators 1991, Nova
Dehli, Office of the Registrar General, 1991; China, 1992: World Health Organization, World
24
health statistics annual 1994, Genebra, World Health Organization, 1994.
GRÁFICO 3: PNB PER CAPITA (EM DÓLARES) E EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER, 1994
GRÁFICO 2.1: PNB PER CAPITA (EM DÓLARES) E EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER, 1994
7000 74
72
6000
68
5000
PNB per capita (US$)
66
4000 64
62
3000
60
2000 58
56
1000
54
0 52
Kerala China Sri Lanka Namíbia Brasil África do Sul Gabão
Fontes: Dados dos países, 1994; World Bank, World Development Report 1996; dados de Kerala:
expectativa de vida, 1989-93, Sample Registration System citado em Government of India
(1997), Department of Education, Women in India: A statistical profile; produto interno per
capita, 1992-93, Government of India (1997), Ministry of Finance, Ecnonimic Survey 1996-1997. 25
GRÁFICO 4: CRESCIMENTO DA EXPECTATIVA DE VIDA NA INGLATERRA E PAÍS DE GALES,
1901-1960
GRÁFICO 2.2: CRESCIMENTO DA EXPECTATIVA DE VIDA NA INGLATERRA E PAÍS DE GALES, 1901-1960
6,8
7
6,5
4
4
Crescimento em anos
2,8
3
2,4
2
1,4
1
0
1901-11 1911-21 1921-31 1931-41 1940-51 1951-60
Fontes: S. Preston, N. Keyfitz e R. Schoen, Causes of death: life tables for national population,
Nova York, Seminar Press, 1992.
26
GRÁFICO 5: GRÁFICO
CRESCIMENTO
2.3: CRESCIMENTODO PIB
DO PIB (REINO
(REINO UNIDO) DECENAIS
UNIDO) E PROGRESSOS E PROGRESSOS
NA EXPECTATIVA DEDECENAIS
VIDA NA
EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER (INGLATERRA E PAÍS DE GALES), 1901-1960
AO NASCER (INGLATERRA E PAÍS DE GALES), 1901-1960
8 0,4
7
0,3
6
0,2
0,1
0
3
2 -0,1
1
-0,2
1901-11 1911-21 1921-31 1931-41 1940-51 1951-60
Fontes: A. Madison, Phases of capitalist development, Nova York, oxford University Press, 1982;
27
S. Preston et al., Causes of death, Nova York, Seminar Press, 1972.
GRÁFICO 6: PROPORÇÃO ENTRE TAXAS DE MORTALIDADE DE NEGROS E BRANCOS
(DE 4.1:
GRÁFICO 35 PROPORÇÃO
A 54 ANOS), REAL
ENTRE TAXASE AJUSTADA PARA
DE MORTALIDADE O NÍVEL
DE NEGROS DE RENDA
E BRANCOS (DE 35 A 54 ANOS),
REAL E AJUSTADA PARA O NÍVEL DE RENDA
3,5
2,9
3,0
2,3
2,5
2,2
1,8
2,0
1,6
1,5
1,2
1,0
0,5
0
Todos, Todos, Homens, Homens, Mulheres, Mulheres,
Real Ajustada Real Ajustada Real Ajustada
28
GRÁFICO 7: PROPORÇÃO ENTRE MULHERES E HOMENS NA POPULAÇÃO TOTAL EM
COMUNIDADES SELECIONADAS
GRÁFICO 4.2: PROPORÇÃO ENTRE MULHERES E HOMENS NA
POPULAÇÃO TOTAL EM COMUNIDADES SELECIONADAS
0,1
Porcentagem de mulheres
a mais
América Kerala,
0,05 Europa do Norte
Índia
África
subsaariana
América Sudeste
Latina Asiático
0
Porcentagem de mulheres
-0,05 África
setentrional
Ásia
a menos
Bangla-
ocidental desh
China
Índia
-0,1
Paquistão
-0,15
Fonte: Calculado com base nas Estatísticas Populacionais das Nações Unidas.
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TABELA 1: ÍNDIA E ÁFRICA SUBSAARIANA: COMPARAÇÕES SELECIONADAS (1991)
Comparações de taxas de mortalidade infantil
Região População Taxa de mortalidade
(milhões) infantil (por 1000
nascidos vivos)
ÁFRICA
África subsaariana 488,9 104
SUBSAARIANA
Nota: A idade de corte é quinze anos para os africanos e sete anos para os indianos. Cabe observar que na Índia a taxa de alfabetização
da população de sete anos ou mais geralmente é mais elevada do que a taxa de alfabetização da população de quinze anos ou mais (por
exemplo, a taxa de alfabetização da população de sete anos ou mais de toda a Índia em 1981 foi 43,6% em comparação com 40,8% para
a taxa de alfabetização da população de quinze anos ou mais).
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TABELA 2: ÍNDIA E ÁFRICA SUBSAARIANA: COMPARAÇÕES SELECIONADAS (1991)
Comparações de taxas de alfabetização dos adultos
Fonte: J. Dréze e A. Sem, India: economic development and social opportunity. Dehli, Oxford
University Press, 1995, tabela 3.1.
31