Quando falamos de Obá, a primeira mulher de Xangô, que é
considerada a força masculina da alma feminina, não sabemos o quão importante esta Divindade é para o culto Yorubá. Sendo um Orixá feminino, provindo do Rio Níger (porém, na época, era conhecido como Rio Obá, pelo menos o trecho, onde o culto à Ela era realizado), ela traz em sua vida pré-divinatória, uma eterna batalha pelo amor e pelas conquistas. Guerreira nata, filha de Nipá e Orugan (Há um Itã, que narra que ela fora gerada pelo incesto de Yemojá e Orugan, que seria filho de Yá), viveu sua vida dedicada ao amor, à paixão, lutando ao lado de Ajaká, pois o que a movia era a força do coração. Ao se deparar com Xangô, sente uma amor irresistível, e por isso, abandona Ajaká e junta-se a Xangô, para juntos, conquistarem territórios e defender seu reino. Em outro Itã, Xangô encontra com as mulheres da sociedade Elekô, fazendo uma cerimônia, e ficando à espreita, é apanhado por elas. Obá, que se encantara com a beleza de Xangô, quebra uma regra da sociedade, que punia com morte, homens que adentravam as cerimônias, que eram exclusivas às mulheres, livrando-o da morte, e unindo-se a ele, pois de ambas as partes, a paixão fora avassaladora. Um Itã contestado por muitos, diz que ela cortou a orelha, a mando de Oxum, pois Oxum queria separá-la de Xangô. Mas, em outro Itã, ela não fora enganada por Oxum, mas sim por sua própria vaidade, crendo que colocando um pedaço seu na comida de Xangô, ele a amaria mais. Ledo engano, pois Xangô a repudia, deixando-a só em profundo sofrimento e desespero. Obá, sendo considerada a Deusa da turbulência, que agita as águas, traz em sua personalidade, também como Deusa cultuada à beira dos rios, a “pororoca”, que é o encontro das águas, que se chocam e se agitam. Esta Deusa, assim como todas as outras, tem uma ligação forte com a emoção humana, pois enquanto Oxum traz em seu enredo, o amor, Obá traz a paixão violenta, que vai até as últimas consequências para conquista-lo. Como Deusa da paixão, Obá é ligada ao ciúme, que traz em si, pois como ciumenta, que era, derrubava seus inimigos, sem dó, muito menos piedade, principalmente outras mulheres, que olhassem para Xangô, pois Ela se via como uma fonte inesgotável de perfeição e beleza ao seu amado. Porém, uma das informações mais interessantes sobre esta Deusa da guerra e da paixão é encontrada em ÈKÓ (atualmente Lagos, Nigéria), que diz que foi numa terra chamada Elekó, que Obá fundou uma sociedade secreta, composta só por mulheres guerreiras: *Sociedade Elekô. Nesta sociedade, as mulheres tinham voz de comando, organizando- se em grupos, para ao lado de Obá, lutar e conquistar mais territórios e fundar outras sociedades só de mulheres guerreiras. Porém, quando esta *sociedade chegou ao Brasil, ela tomou outro rumo, sendo um culto fechado, onde Lesse era o objetivo de culto. Obá poderia ter sido absorvida, e consequentemente, ter se tornado uma “qualidade” de Oyá, ou Iansã. Mas, isso não aconteceu, graças à sociedade Elekô, que manteve sua Matriarca intocada, e assim sendo, tendo-a como um Orixá. Hoje, depois de tantos séculos, há casas que conduzem nossa Deusa Obá ao culto de Lesse; porém, esta atitude deve ser analisada e compreendida de forma plurilateral, pois este Orixá, mesmo sendo cultuado no Brasil, continua sendo um mistério. Axé e meu respeito a todos.