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EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA PRESIDENTE DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

O PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA, com fulcro no artigo 2º,


inciso I, da Lei Federal nº 9.882/1999, combinado com os artigos 102, §1º, e 103, inciso V, da
Constituição Federal, vem, à presença de Vossa Excelência, com o devido acatamento, ajuizar
a presente

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL

Em face do Decreto Municipal nº 4.738 de 28/12/2015 por conta da


inconstitucionalidade nomoestática de aludida norma, em face da violação frontal aos
preceitos fundamentais dispostos nos artigos 5º, inciso XV (direito fundamental de livre
locomoção), e 170, inciso IV (livre concorrência como princípio da ordem econômica), ambos
da Constituição Federal.
A violação dos preceitos fundamentais supracitados decorre da
determinação municipal de proibir o uso de carros particulares cadastrados em aplicativos
para o transporte remunerado individual e proibir com que as empresas administradoras dos
aludidos serviços / aplicativos possam realizar associações com outros estabelecimentos
comerciais para o transporte remunerado de passageiros.

Prevê também a Lei Municipal impugnada por esta ação a imposição de


multa no valor de R$1.700,00 (mil e setecentos reais) para aqueles que não respeitarem o
disposto na Lei, além de outras medidas administrativas como a apreensão do veículo
utilizado neste serviço.

I – DA LEGITIMAÇÃO ATIVA PARA A ADPF


O controle abstrato de constitucionalidade exercido pelo Supremo Tribunal
Federal é organizado por diversas normas, dentre elas, uma de suma importância, que
determina quem são os representantes de nossa sociedade aptos a propor a ação em questão.
Tal rol está elencado no art. 2°, inciso I da Lei 9.868/99, que dispõe que todos os legitimados
a propor Ação Direta de Inconstitucionalidade são legitimados também a propor a Arguição
de Descumprimento de Preceito Fundamental . Neste sentido, podem propor a ADPF (art.
103):

“Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a


ação declaratória de constitucionalidade:

I – o Presidente da República;

II – a Mesa do Senado Federal;

III – a Mesa da Câmara dos Deputados;

IV – a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do


Distrito Federal;

V – o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

VI – o Procurador-Geral da República;

VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

VIII – partido político com representação no Congresso Nacional;

IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional”


É gritante também o notório interesse na presente demanda. A norma
apontada como inconstitucional afeta diretamente o município de Sergipe. Ainda, além dessa
cidade, irradia efeitos para todo o País. Logo, nada mais pertinente do que a atuação do
Procurador-Geral da República para atuar na remediação de tal situação.

II – DO CABIMENTO DA ADPF
Conforme doutrina e jurisprudência do Supremo Tribunal Federal já
firmados sobre o tema, é de notório saber que a Arguição por Descumprimento de Preceito
Fundamental “ADPF” é o instrumento utilizado quando incabíveis outros meios para
contestar a constitucionalidade de um ato normativo.
Tal medida está regulamentada pela Lei 9.882/99, em especial em seu
artigo 1°:
“Art. 1° A arguição prevista no § 1o do art. 102 da Constituição Federal será
proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou
reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.
Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito
fundamental:
I - Quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre
lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição;”
Em suma, são três os pressupostos de cabimento da ADPF: (i) a ameaça ou
violação a preceito fundamental; (ii) um ato do Poder Público capaz de provocar a lesão; e
(iii) a inexistência de qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.
No caso em tela, o fato de a norma ser de âmbito municipal constitui
requisito para determinar o uso do atual instrumento processual, além da incompatibilidade
com os direitos fundamentais e os objetivos constitucionais, configurando clara afronta a
preceitos fundamentais.

III – DA VIOLAÇÃO A PRECEITO FUNDAMENTAL

Preliminarmente foi arguido que aludido Decreto Municipal violava,


concomitantemente, preceitos fundamentais dispostos em Constituição Federal, como os
preceitos presentes no artigo 5º, inciso XV e artigo 170, caput e inciso IV, que versam,
respectivamente, sobre a liberdade de locomoção no território nacional e a livre iniciativa, a
valorização do trabalho humano e a livre concorrência como princípio da ordem econômica
do Brasil.

Destarte, tomo a liberdade de extrair os dispositivos citados para a presente


peça:

“Art. 5º. […] XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de


paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nela entrar, permanecer ou
dele sair com seus bens”

“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano


e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

[…] IV – livre concorrência”

Os serviços de transporte remunerado através de carros particulares são


relativamente novos em nosso país. Tais serviços, em pouco tempo, foram inseridos dentro do
cotidiano da maioria da Sociedade.

Podemos levantar dois pontos relevantes para a rápida aderência desses


serviços: os valores considerados altos pelos serviços tradicionais (táxi) e a crescente taxa de
desemprego; porém, ambos os pontos possuem origem em um só fato, que é a crise política e
econômica que assola o nosso País.

Recentemente, constatamos quedas no valor da moeda corrente, elevação


nos valores dos bens e serviços, e aumento da taxa de desemprego em razão dos cortes
realizados pelas empresas particulares.

Os serviços de transporte remunerado em carros particulares surgiu


justamente com a proposta de viabilizar o exercício de um direito fundamental, que é o direito
de ir e vir, concedendo um serviço mais barato, e possibilitar a complementação na renda
daqueles que recentemente integraram a taxa de desemprego.

A medida, totalmente descabida, tomada pela Prefeitura de Aracaju, nas


figuras do seu Prefeito e Câmara Municipal, de proibir a existência do aludido serviço no
Município, afeta, concomitantemente, o direito fundamental de ir e vir e a livre iniciativa e
concorrência.
O direito de ir e vir consiste basicamente no direito de transitar livremente
pelo território nacional. Todo cidadão possui em seu rol de direitos fundamentais, garantido
pela Carta Magna, a liberdade de se locomover, por quaisquer meios possíveis. A cada vez
que atos do Poder Público dificultam o acesso a esses meios de locomoção, mais pessoas são
privadas deste seu direito fundamental.

A fim somente de exemplificar situação narrada retro, já é de conhecimento


público a drástica redução no número de usuários dos transportes públicos com o mero
aumento dos valores das passagens. Atos que, em princípio, parecem ínfimos, podem lesar o
direito fundamental de ir e vir de muitos cidadãos. No caso concreto impugnado por esta
ADPF visualizamos exatamente tal situação.

Além da violação ao direito de livre locomoção, extrai-se do fatídico caso


impugnado a violação aos elementos que compõe, e a um dos princípios, da ordem econômica
pátria: a livre iniciativa, valorização do trabalho humano e livre concorrência.

O Brasil atravessa uma crise sistêmica há anos, com uma crescente nos
índices de desemprego e nos custos dos bens e serviços básicos. Em épocas de dificuldade
como a que estamos presenciando, é normal convivermos com muitas propostas de serviços
novos, principalmente serviços que visam um novo fomento a economia, de forma a trazer um
serviço econômico e que aumente as vagas de emprego.

Os serviços de transporte remunerado em carros particulares se compromete


justamente a este fim. É um serviço alternativo ao serviço tradicional de táxi, cuja proposta é
de trazer um serviço com a mesma destinação (transporte), se cobrando um valor inferior aos
dos serviços usuais, trazendo benefícios nesses serviços, fomentando a economia e a livre
concorrência, e possibilitando com que um número considerável seja abatido da taxa de
desemprego.

Uma vez que o serviço se destina a cumprir todos os pontos supracitados,


não há violação ao disposto no artigo 170 da Constituição Federal, muito pelo contrário. Tais
serviços valorizam o trabalho humano, possibilitando com que a pessoa tenha uma fonte de
remuneração, e incentiva a livre iniciativa e a livre concorrência, de forma a ensejar a
competição legal entre os serviços, de forma a sempre proporcionar um serviço melhor e mais
barato para a população.

Se constatando a conformidade dos serviços de transporte particular para


com os preceitos dispostos pela Constituição Federal, podemos concluir que qualquer ato do
Poder Público tendente a obstar tal serviço, diretamente fere os aludidos preceitos
fundamentais.

Primordial fixar que os princípios trazidos nesta ADPF são preceitos


fundamentais à luz do controle de constitucionalidade pela ADPF, e para ilustrar tal assertiva,
vejamos a doutrina do Dr. Pedro Lenza disposta em sua obra:

“Tanto a Constituição como a lei infraconstitucional deixaram de conceituar


preceito fundamental, cabendo essa tarega à doutrina e, em última instância, ao
STF.

Até o momento, os Ministros do STF não definiram o que entendem por preceito
fundamental. Em algumas hipóteses, disseram o que não é preceito fundamental.

[…] Enquanto o STF não define o que entende por preceito fundamental (e parece
que a apreciação não será de forma ampla, mas somente em cada caso concreto,
resolvendo tratar-se ou não de preceito fundamental), valemo-nos de algumas
sugestões da doutrina.

Para o Professor Cássio Juvenal Faria, preceitos fundamentais seriam aquelas ‘


normas qualificadas que veiculam princípios e servem de vetores de interpretação
das demais normas constitucionais, por exemplo, os princípios fundamentais do
Título I (arts. 1º ao 4º); os integrantes da cláusula pétrea (art. 60, §4º); os chamados
princípios constitucionais sensíveis (art. 34, VII); os que integram a enunciação
dos direitos e garantias fundamentais ( Título II); os princípios gerais da
atividade econômica (art. 170; etc”1 (grifamos)

No próximo compartimento será demonstrado com maior detalhamento o


ato público que ensejou a presente ADPF e todos os pontos dela que violam os preceitos
fundamentais trazidos no presente compartimento.

IV – DO ATO DO PODER PÚBLICO

A ADPF em questão visa reparar o dano causado pelo Decreto Municipal nº


4.738 de 28/12/2015 do Município de Aracaju. Vejamos aludido ato:

“Decreto nº 4738 de 28/12/2015.

O Prefeito do Município de Aracaju:

Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:


1
LENZA, Pedro. “Direito constitucional esquematizado”. 16ª ed. São Paulo. 2012. Editora Saraiva, p. 357
Art. 1º. Fica proibido no âmbito da Cidade de Aracaju o transporte
remunerado de pessoas em veículos particulares cadastrados através de
aplicativos para locais pré-determinados.

Art. 2º. Para efeitos dessa Lei, fica também proibida a associação de
empresas administradoras desses aplicativos e estabelecimentos
comerciais para o transporte remunerado de passageiros em veículos

Art. 3º. Na hipótese de desrespeito a esta Lei fica o condutor e as empresas


solidárias sujeitas ao pagamento de multa no valor de R$1.700,00 (mil e
setecentos), apreensão do veículo e demais sanções cabíveis e cobrada em
dobro na reincidência.

Art. 4º. Compete ao Poder Executivo Municipal, através da SMTT, a


fiscalização para o cumprimento desta Lei.

Art. 5º. Demais regulamentações complementares, para fiel cumprimento


desta Lei, serão editadas por Decreto do Poder Executivo no prazo de 90
(noventa) dias contados de sua publicação.

Art. 6º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. [...]”

Da lei supra estão grifados os artigos 1º e 2º, sendo que, o artigo 1º viola
frontalmente o direito fundamental de livre locomoção, e o artigo 2º viola os princípios da
ordem econômica.

Constata-se a violação do preceito fundamental de ir e vir pela simples


leitura do dispositivo, que, de forma totalmente infundada, proíbe a utilização do transporte
remunerado em veículos particulares, retirando uma opção viável financeiramente de exercer
o direito fundamental de transporte. Claramente há inconstitucionalidade material nesta
norma.

Além de proibir a prestação do serviço, a Lei proíbe que outros


estabelecimentos comerciais façam acordos com as empresas administradoras dos serviços
proibidos, violando frontalmente a livre concorrência, a livre iniciativa e o trabalho. O Brasil
atinge diariamente números cada vez mais altos de desemprego; o Brasil passa por uma
falência generalizada de diversos institutos de direitos básicos; há uma precariedade em todos
os setores, principalmente a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança pública, entre
outros.
Atos públicos como o da Lei impugnada por esta ADPF que, em vez de
auxiliar a Sociedade, cumprindo seu o dever social de ser uma derivação direta da vontade
dela, vulneram a Sociedade e ceifam direitos fundamentais.

V – DA INEXISTÊNCIA DE OUTRO MEIO EFICAZ DE SANAR A LESIVIDADE

O artigo 4º, §1º da Lei 9.882/1999 estabelece que a ADPF não será admitida
quando houver outro meio eficaz para sanar a lesividade. No ordenamento jurídico pátrio, o
disposto no artigo 4º, §1º é denominado “princípio da subsidiariedade”.

Nas palavras do doutrinador Paulo Roberto de Figueiredo Dantas a


subsidiariedade da ADPF é explicada:

“Nos termos do artigo 4º, §1º, da Lei nº 9.882/1999 ‘ não se admitirá


arguição de descumprimento de preceito fundamental quando houver outro
meio eficaz de sanar a lesividade’. A norma em questão nos revela, de
maneira inequívoca, o caráter subsidiário dessa ação constitucional, que
somente será cabível, nos expressos termos da norma, quando não houver
outro meio eficaz de sanar a potencial ou a efetiva lesão ao preceito
fundamental.

E o que devemos entender por outro meio eficaz de sanar a lesividade?


Particularmente no que se refere a esse tema, podemos notar alguma
divergência na doutrina. Com efeito, para alguns doutrinadores, não será
cabível a arguição de descumprimento de preceito fundamental quando
houver outro meio jurídico idôneo para evitar ou reparar a lesão ao preceito
fundamental.

[…] Na mesma toada é a lição de Alexandre de Moraes, que afirma, em sua


conhecida obra, que a arguição de descumprimento de preceito fundamental
‘não substitui as demais previsões constitucionais que tenham semelhante
finalidade, tais como o habeas corpus, habeas data; mandado de segurança
individual e coletivo; mandado de injunção; ação popular; ações diretas de
inconstitucionalidade genérica, interventiva e por omissão e ação
declaratória de constitucionalidade.

[…] Entretanto, outra parte da doutrina, esta última já embasada na


jurisprudência mais recente do Pretório Excelso, assevera que o caráter
subsidiário da arguição de descumprimento de preceito fundamental deve
levar em conta apenas os demais processos de natureza objetiva, ou seja, as
ações que compõem o sistema de controle concentrado de
constitucionalidade brasileiro, do qual também faz parte a ação
constitucional ora em estudo”2

No caso fático, o ato do Poder Público se trata de uma Lei Municipal. De


acordo com o artigo 102, inciso I, alínea a, da Constituição Federal, este Egrégio Superior
Tribunal de Justiça será competente para julgar ADIN referente a lei ou ato normativo federal
ou estadual, portanto, as leis municipais não são abarcadas pelo rol legal.
Em outras palavras, a via processual em questão é utilizada nas hipóteses
em que não são cabíveis a Ação Direta de Inconstitucionalidade, Ação Declaratória de
Constitucionalidade e Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão, bem como na
ocorrência de norma municipal, e que há o descumprimento de direitos fundamentos,
incluindo-se ai as cláusulas pétreas.
Gilmar Ferreira Mendes, em obra doutrinária, sintetiza a questão nos
seguintes termos:
“Assim, tendo em vista o caráter acentuadamente objetivo da arguição de
descumprimento, o juízo de subsidiariedade há de ter em vista,
especialmente, os demais processos objetivos
já consolidados no sistema constitucional. Nesse caso, cabível a ação direta
de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, não será admissível a
arguição de descumprimento. Em sentido contrário, não sendo admitida a
utilização de ações diretas de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade
– isto é, não se verificando a existência de meio apto para solver a
controvérsia constitucional de forma ampla, geral e imediata – há de se
entender possível a utilização da arguição de descumprimento de preceito
fundamental.3”

VI – DOS PEDIDOS

Demonstrados todos os fatos e direitos, requer-se o seguinte:

Em sede de pedido cautelar, demonstrado o fumu boni iuris por todos os


fundamentos trazidos e o periculum in mora pelos preceitos fundamentais que estão sendo
2
DANTAS, Paulo Roberto de Figueiredo. “Curso de direito constitucional” 4ª ed. São Paulo. 2015. Editora
Atlas, fls. 248 e 249
3

MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 1.099.
violados, requer-se, liminarmente, que este Egrégio Supremo Tribunal Federal afaste o ato do
Poder Público impugnado nesta ação.

Em caráter de pedido principal, que seja declarada a inconstitucionalidade


da vertente norma lesionadora, incidindo todos os efeitos inerentes a declaração de
inconstitucionalidade, basilado no artigo 102, §2º da Constituição Federal.

Nestes termos,

P. Deferimento.

Brasília, 18 de novembro de 2017

____________________________________

EDUARDO SARAIVA DE OLIVEIRA BRIGNANI

TIA: 4150593-1

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SARAH BRITT SIWEK

TIA:

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