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1. INTRODUÇÃO
2.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Tomando como base que a Psicopedagogia tem como objeto de estudo o aprender,
preocupando-se no seu surgimento com as questões relacionadas aos déficits de
aprendizagem, torna-se um suporte rico de contribuição neste trabalho. A preocupação
principal da Psicopedagogia é o aprendizado do ser humano, integrando o cognitivo e o
afetivo para realizar o processo como um todo.Para fazer uma junção do nome
propriamente dito, teremos: “Pedagogia” que se preocupa mais com o conhecimento
cognitivo e intelectual; e a “Psicologia” que está voltada para a busca do bem estar do
indivíduo. Então temos a psicopedagogiaque relaciona a capacidade do aluno de se
sentir competente no seu aprendizado, relacionando-o com prazer.
O paradigma de que o professor ao mesmo tempo em que não deve contemporizar com
a negligência e com o descumprimento dos deveres, deve estar atento para o bem
relacionamento humano com os alunos. O respeito se manifesta, pois, no senso de
justiça, no verdadeiro interesse pelo crescimento do aluno, no uso de uma linguagem
compreensível, no apoio às suas dificuldades, nas atitudes firmes e serenas.
O ambiente escolar pode exercer, também um efeito estimulador para o estudo ativo dos
alunos. Os professores precisam procurar unir-se a direção da escola e aos pais para
tornar a escola um lugar agradável e acolhedor.
Uma das poucas alegrias da vida numa época de ansiedade é o fato de sermos forçados a
tomar consciência de nós mesmos. Quando a sociedade contemporânea, nesta fase de
reversão de padrões e valores, não consegue dar-nos uma nítida visão “do que somos e
do que devemos ser”, vemos lançados à busca de nós mesmos. A dolorosa insegurança
que nos rodeia torna-se um incentivo a indagar: será que nos passou despercebido
algum manancial de força e orientação?De modo geral prefere-se indagar: como é
possível alcançar a integração interior numa sociedade tão desintegrada? Ou então:
como empreender a longa evolução para a auto-realização numa época em que quase
nada é certo, nem no presente, nem no futuro?
Gente muito preocupada tem ponderado tais questões. O psicoterapeuta não possui
respostas mágicas. A nova luz que a psicologia profunda lança sobre os motivos ocultos
dos nossos pensamentos, sentimentos e ações será de grande ajuda, sem dúvida alguma,
na busca do próprio eu. Mas existe algo além dos conhecimentos técnicos e
compreensão pessoal que anima o sujeito a aventurar-se até onde os anjos temem pisar e
apresentar suas idéias e experiências sobre as difíceis questões da vida.
Observando a história da humanidade, podem perceber que hoje, mais do que nunca, o
processo de desenvolvimento está centrado na aquisição do conhecimento e marcado
por grandes transformações. Atualmente a humanidade vivencia grandes avanços
tecnológicos que possibilitam a ocorrência acelerada de novas pesquisas e descobertas.
Para acompanhar esse processo de mudanças a aquisição do conhecimento torna-se
imprescindível.
Além disso, viver a era da integração em todos os setores do planeta, que se expressa de
maneira mais ampla, pelo fenômeno da globalização. Percebemos que em todos os
níveis e nas diferentes áreas de atuação existe um grande anseio, uma busca constante
pela integração. Esse movimento é pouco explicitado, mas percebe-se que está presente
em estado latente na maioria de nós.
Para Rubinstein, "num primeiro momento a psicopedagogia esteve voltada para a busca
e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de
dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta forma
promover o desaparecimento do sintoma". E ainda, "a partir do momento em que o foco
de atenção passa a ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que o
aprendiz estabelece com a mesma, o objeto da psicopedagogia passa a ser mais
abrangente: a metodologia é apenas um aspecto no processo terapêutico, e o principal
objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem como a
compreensão do processamento da aprendizagem considerando todas as variáveis que
intervêm nesse processo" 91992, P. 103)
Do ponto de vista de Weiss, "a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a
aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem
de alunos e educadores" (1991, P. 6).Essas considerações sugerem há um certo
consenso quanto ao fato de que ela deve ocupar-se em estudar a aprendizagem humana,
porém é uma ilusão pensar que tal consenso nos conduza, a todos, a um único caminho.
A concepção de aprendizagem é resultado de uma visão de homem, e é em razão desta
que acontece a práxis psicopedagógica.Dos profissionais brasileiros supracitados,
pudemos verificar que o tema aprendizagem ocupa-os e preocupa-os, sendo os
problemas desse processo ( de aprendizagem) a causa e a razão da Psicopedagogia.
Podemos observar esse pensamento traduzido nas palavras de profissionais argentinos
como Alicia Fernandez, Sara Paín, Jorge Visca, Marina Müller, etc., que atuam na área
e estão envolvidos no trabalho teórico. Para eles, "a aprendizagem com seus problemas"
constitui-se no pilar-base da Psicopedagogia.
Segundo Jorge Visca, a Psicopedagogia, que inicialmente foi uma ação subsidiária da
Medicina e da Psicologia, perfilou-se como um conhecimento independente e
complementar, possuída de um objeto de estudo – o processo de aprendizagem – e de
recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios.Atualmente, a Psicopedagogia
trabalha com uma concepção de aprendizagem segundo a qual participa desse processo
um equipamento biológico com disposições afetivas e intelectuais que interferem na
forma de relação do sujeito com o meio, sendo que essas disposições influenciam e são
influenciadas pelas condições socioculturais do sujeito e do seu meio.
Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em
suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a
forma pela qual produz conhecimento e aprende. É preciso, também, que o
psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e
métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no surgimento dos
transtornos de aprendizagem e no processo escolar.No trabalho clínico, conceber o
sujeito que aprende como um sujeito epistêmico-epistemofílico implica procedimentos
diagnósticos e terapêuticos que considerem tal concepção. Para isso, é necessária uma
leitura clínica na qual, através da escuta psicopedagógica, se possa decifrar os processos
que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção.
Essas duas áreas não são suficientes para apreender o objeto de estudo da
Psicopedagogia – o processo de aprendizagem e suas variáveis – e nortear a sua prática.
Dessa forma, recorre-se a outras áreas, como a Filosofia, a Neurologia, a Sociologia, a
Lingüística e a Psicanálise, no sentido de alcançar compreensão desse processo. Para
Sara Paín, "nesse lugar do processo de aprendizagem coincidem um momento histórico,
um organismo, uma etapa genética da inteligência e um sujeito associado a tantas outras
estruturas teóricas, de cuja engrenagem se ocupa e preocupa a Epistemologia; referimo-
nos principalmente ao materialismo histórico, à teoria piagetiana da inteligência e à
teoria psicanalítica de Freud, enquanto instauram a ideologia, a operatividade e o
inconsciente" (1987, p. 15).
A mão de obra especificada, com novos horários e ritmos de trabalho e novas condições
e maneiras de produção não privilegiava a visão de estudo, escolarização mas apenas
aprender a sua habilidade específica. Assim, a escola aos poucos vai adquirindo
significados diferentes para diferentes classes sociais a partir dos lugares que ocupavam
em seus trabalhos, criando também uma idéia a respeito das diferenças de rendimento
escolar entre alunos surgindo às desigualdades e diferenças dentro da mesma escola
entre os sujeitos. Patto (1990) faz a seguinte afirmação: “E o fato de os novos homens
bem-sucedidos o serem aparentemente por habilidades e mérito pessoal – já que não o
eram por privilégios adquiridos do nascimento – confirmava uma visão de mundo na
qual o sucesso dependia fundamentalmente do indivíduo”.
Patto postula que a ciência nunca foi neutra e sempre esteve presente para manter uma
idéia que as pessoas acreditavam nas verdades ditas. O questionamento surgia quando
havia suposição de que aquela verdade não existia, assim como a concepção de leitura
da escola era desde o início uma verdade acreditada. A instituição e a história cultural
são diferenças formadas por questões acreditadas. A ciência e a ideologia se confundem
pois fazem a leitura quanto opção ideológica e quanto à escolha psicológica, pode ser
implícita ou explicitamente mas em qualquer posição vai haver uma leitura dialética ou
positivista. Como no início da discussão da escola nova é de ser universal e para todos,
a promessa não se cumpre.
Além da utilização dos métodos, o livro didático é apresentado para o aluno como uma
fonte de conhecimentos do mundo, ao invés de ser um dos objetos de conhecimento. As
atividades de leitura e escrita, baseadas no livro didático, são totalmente desprovidas de
sentido e totalmente alheias ao funcionamento da língua.
Segundo WEISS (2000, p. 16), “os aspectos cognitivos estão ligados basicamente ao
desenvolvimento e funcionamento das estruturas cognoscitivas em seus diferentes
domínios. Inclui-se nessa grande área aspectos ligados à memória, atenção, antecipação.
O fracasso escolar está ligado ao aluno enquanto aprendente, isto é, especificamente às
condições internas de aprendizagem”.
Com relação à área afetiva a autora, ressalta a ligação entre o desenvolvimento afetivo,
e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste através da
produção escolar. O não-aprender pode, por exemplo, expressar uma dificuldade na
relação da criança com a sua família, será o sintoma de que algo vai mal nessa
dinâmica. Quanto à área social, WEISS afirma que no “diagnóstico psicopedagógico do
fracasso escolar de um aluno não se pode desconsiderar as relações significativas
existentes entre a produção escolar e as reais oportunidades que a sociedade possibilita
aos representantes das diversas classes sociais”.Em relação à área física, constata-se que
os professores entrevistados não consideram como a área que esteja mais relacionada
com as dificuldades de aprendizagem, pelo fato de que em suas classes não havia
crianças portadoras de necessidades especiais ou com déficit físico ou orgânico, mas
reconhecem a importância do corpo na aprendizagem.
Conforme PAIN (1985, p. 22), “é com o corpo que se fala, se escreve, se tece, se dança,
resumindo, é com o corpo que se aprende. As condições do mesmo sejam
constitucionais, herdadas ou adquiridas, favorecem ou atrasam os processo cognitivos e,
em especial, os da aprendizagem”
“A influência da mídia aparece como o segundo fator que contribui para as dificuldades
de aprendizagem, pois conforme LIBÂNEO (2000, p. 72), a televisão passa a ser um
instrumento cada vez mais poderosos no processo de socialização. Um dos aspectos
negativos dessa influência é a tendência à passividade e à dependência das crianças
prejudicando o desenvolvimento pleno de suas capacidades cognitivas e sócio-
afetivas”.Os professores consideram que a pobreza e a condição social dos alunos como
um fator que influencia nas dificuldades de aprendizagem. Para SCOZ (1994, p. 81), a
pobreza dos alunos aparece com forte determinante dos problemas de aprendizagem. A
autora ressalta que sem querer negar que grande parte do fracasso de alguns alunos pode
estar relacionado à pobreza material a que estão submetidos, é importante estar atento
para que a baixa renda das famílias não seja utilizada como justificativa para o
insucesso escolar das crianças, eximindo a escola de qualquer responsabilidade.
Alguns professores apontaram a falta de interesse do aluno como um fator que contribui
para as dificuldades de aprendizagem. Mas, para WEISS (2000, p. 23), é preciso que o
professor competente e valorizado encontre o prazer de ensinar para que possibilite o
nascimento do prazer de aprender. O ato de ensinar fica sempre comprometido com a
construção do ato de aprender, faz parte de suas condições externas. A má qualidade do
ensino provoca um desestímulo, na busca do conhecimento. Não há assim um
investimento dos alunos, do ponto de vista emocional, na aprendizagem escolar, e essa
seria uma condição interna básica. Há casos em que tal desinteresse é visto como um
problema apenas do aluno, sendo ele encaminhado para diagnóstico psicopedagógico
por não ter o menor interesse nas aulas é não estudar em casa, baixando assim sua
produção.Constata-se que mesmo a família estando ciente das dificuldades que
apresenta a criança, muitas vezes, fica omissa não ajudando o professor, não
contribuindo para o trabalho da escola, que deveria ser em conjunto com a família para
superação das dificuldades.
De acordo com SCOZ (1994, p. 143), o contato com a família pode trazer informações
sobre fatores que interferem na aprendizagem e apontar os caminhos mais adequados
para ajudar a criança. Também torna possível orientar aos pais para que compreendam a
enorme influência das relações familiares no desenvolvimento dos filhos.
Conforme WEISS (2000, p. 70), “alfabetizar é penetrar num mundo novo, é mudar o
eixo referencial da vida. O domínio da língua escrita dá à criança uma autonomia ao
mesmo tempo prazerosa e assustadora”.No que se refere ao método de alfabetização
proposto pela escola, todos os professores entrevistados foram unânimes em dizer que a
escola não apresenta um método de alfabetização, todos os professores utilizam um
método pessoal de alfabetização ou em construção comunitária com os demais
professores.
Com relação às alternativas didáticas, FERREIRO (1989, p. 73), afirma que, muitos
professores declaram utilizar um método misto, que nada mais é, em realidade, do que
uma mistura de elementos recebidos, por tradição de outros que estão na moda e de uma
certa dose de intuição.A psicopedagoga Maria Lucia Leme Weiss reflete a preocupação
e a tendência atual da Psicopedagogia no seu compromisso com a escola. Nesse trabalho
preventivo junto à escola, deve-se levar em consideração, inicialmente, quem são os
protagonistas dessa história: professor e aluno. Porém, estes não estão sozinhos:
participam, também, a família e outros membros da comunidade que interferem no
processo de aprendizagem – aqueles que decidem sobre as necessidades e prioridades
escolares.
Tendo por base o livro de Patto “A Produção do Fracasso Escolar: história de submissão
e rebeldia” o qual busca uma reconstrução histórica das idéias presentes na Psicologia.
Importante para compreensão do modo escolar atual precisa-se ter uma visão clara da
estrutura escolar ao longo da história. Assim, Patto retoma a história brasileira para
fazer a compreensão da produção do fracasso escolar de um sistema de ensino que tinha
uma lógica desde muitos anos atrás que não pode ser deixada de lado para entendermos
a realidade educacional dos dias atuais. Não existe crítica sem história, e, fazendo uma
retomada nos marcos da história visando um sistema de ensino que tem concepções
lineares ao longo do tempo.
O aluno, ao ingressar no ensino regular, por volta de 7 anos, traz consigo uma história
vivida dentro do seu grupo familiar. Se a sua história transcorreu sem maiores
problemas, estará estruturado seu superego e poderá deslocar sua pulsão a objetos
socialmente valorizados, ou seja, estará para a sublimação. A escola se beneficia e
também tem função importante nesse mecanismo, pois lhe fornece as bases necessárias,
ou seja, coloca ao dispor da criança os objetos para os quais se deslocará a sua pulsão. A
escola administra esse mecanismo pulsional da criança. É o momento ideal para o
ingresso no ensino regular, já que as suas condições psíquicas favorecem o aprendizado
escolar. Se tudo correu bem no desenvolvimento da criança, estará estruturado o seu
desejo de saber: a epistemofilia. Ingressa na escola com um desenvolvimento construído
a partir do intercâmbio com o meio familiar e social, o qual pode ter funcionado tanto
como facilitador como inibidor no processo de desenvolvimento afetivo-intelectual. Em
seus eventuais bloqueios, a afetividade pode estar operando de forma a impedir a
aprendizagem.A criança não escolhe ir para a escola e, tampouco, o que vai aprender. A
instituição escolar, a rigor, tem a função de preparar a criança para ingressar na
sociedade, promovendo as aprendizagens tidas como importantes para o grupo social ao
qual esse sujeito pertence.Por outro lado, na escola, a criança encontra-se especialmente
com um outro – o professor. O professor escolheu sua tarefa – ensinar o que sabe – e
preparou-se para tal. As motivações que o levaram a eleger essa tarefa podem ser muito
variadas e determinam seguramente uma forma de vínculo com os seus alunos.
Quando uma criança ingressa na escola, sua primeira tarefa é aprender a ler e escrever,
sendo a alfabetização o centro das expectativas de pais e professores. Os pais a e própria
criança não têm, em geral, razão para duvidarem do sucesso nessa nova aprendizagem.
No entanto, o que muitas vezes os pais e professores não consideram, é que a leitura e a
escrita são habilidades que exigem da criança a atenção para aspectos da linguagem aos
quais ela não precisa dar importância, até o momento em que começa aprender a ler e
escrever. Por isso, toda a criança encontra alguma dificuldade na aprendizagem da
leitura e da escrita. Aprender a ler exige novas habilidades, novos desafios à criança
com relação ao seu conhecimento da linguagem. Por isso, aprender a ler é uma tarefa
complexa e difícil para todas as crianças.Quando as crianças não conseguem atender às
expectativas da professora, supõe-se e conclui-se que elas têm problemas, pois a escola
constrói um modelo de bom aluno, mas nem todas crianças se adaptam dentro desse
modelo, quando isso acontece os professores recorrem as muletas para explicar tal
situação: "estas crianças não podem aprender porque não há ajuda familiar, falta de
maturidade, suposta lesão cerebral mínima ou transtornos do tipo: psicomotora, na
fonação, percepção, etc..."(FERREIRO, 1989, p. 73).
Sobrecarregados de tanta violencia estas crianças acabam aprendendo que não poderão
aprender, buscando estratégias de sobrevivência neste sistema, tentam adequar-se às
normas e copiam do quadro mesmo sem saber como e porquê. Outras se recusam a
copiar, procuram outras atividades para fazer, surgindo o espaço ideal para a
indisciplina.Várias pesquisas afirmam que o fracasso na leitura constitui uma das
principais causas de repetência ou atraso escolar. Cerca da metade dos alunos repetem a
primeira série onde a repetência é acentuada e está intimamente relacionada com
problemas no ensino e na aprendizagem inicial da leitura e escrita e, nos casos dos
alunos provenientes de família de baixa renda, essa porcentagem sobe para 60%
(TORRES, 1999, p. 12).
O estudo dos fatores etiológicos, bem como das reações do meio face a determinada
dificuldade na aprendizagem, é de fundamental importância na seleção da orientação a
ser seguida, evitando-se rotulações apressadas e estresse adicional. A adolescência
abrange determinado período do desenvolvimento que envolve características próprias e
situações específicas; disso resulta a necessidade de um maior aprofundamento do
estudo da sua dinâmica, a fim de permitir um melhor conhecimento das suas exigências
e limites evolutivos.
As diferenças individuais dos adolescentes devem ser sempre consideradas, uma vez
que cada personalidade caracteriza-se por um conjunto de traços pessoais que
determinam formas diversas de comportamento e de inter-relação com o meio ambiente.
Não se pode partir de um esquema de padrões fixos e determinados, pois a experiência
comprova a multiplicidade de atitudes encontradas, reagindo o indivíduo em função das
condições biológicas do seu organismo, da estrutura da sua personalidade, do seu nível
de maturidade, das suas experiências e vivências condicionadas pelo meio ambiente e
pelo seu estilo de vida pessoal.
O aluno já havia passado por duas escolas em anos anteriores. O motivo de G. M. ter
saído de sua primeira escola no meio da segunda série foi porque o pai queria que ele
ficasse longe do mangue e longe da mãe. A segunda escola freqüentada era por
“módulos” mas lá não ficou muito tempo pois foi levado ao abrigo.Houve momento de
indignação quando nos deparamos com a professora mais uma vez reclamando da falta
de vontade de G. M. em fazer a tarefa escolar, mesmo sabendo que G. M se encontrava
residindo em um abrigo, longe dos cuidados de seus pais e sem o auxílio dos mesmos.
Verificamos o conteúdo da tarefa que G. M. tinha ignorado. Continha ali perguntas para
ser respondida com seus pais referentes aos cuidados que ele tem em casa, sobre qual a
comida que ele mais gosta “preparada pela mamãe” as brincadeiras com os irmãos, não
esquecendo que no abrigo eles são separados por idade e assim G. M. fica separado de
seu irmão mais novo.
Na criança problema nos dias de hoje não se faz igualdade social, se faz justiça social
pois não é todo mundo igual e devem-se reconhecer essas diferenças mas a escola nivela
todos como iguais e não se adequar com a origem social de cada um. Dentro da escola
quem pode mais tem menos fracasso escolar. Mesmo diante destes conceitos sociais o
termo resiliência vem se tornando cada vez mais conhecido entre os profissionais de
psicologia e pedagogia. No caso de G. M, que enfrentou as carências afetivas herdadas
por uma infância difícil pode haver ainda a capacidade de recuperação ou adaptação às
más condições de vida se observadas as necessidades e oportunizar mudanças para que
ele mesmo alcance suas necessidades.
O que se deve considerar é que o aluno, assim como o professor, não deixa de “ser
humano” para aprender ou ensinar, ou seja, possui valores, dilemas e conhecimentos
que lhe são característicos. Entra em questão a vida cotidiana desses professores pois
somente conseguindo fazer suspensão desse cotidiano, consegue-se a produtividade, ou
seja, ao retornar à vida cotidiana modificar esse mesmo cotidiano. Mas como suspender
esse cotidiano? Segundo Agnes Heller, estabelecendo condições de compreensão da
noção de cotidiano, apontando para uma perspectiva histórica que permita o seu
emprego, metodologicamente, na investigação dos significados que as representações
sociais fazem surgir das relações entre os seres humanos. Identificar o cotidiano
compondo-o de traços que nos permitisse enta-lo em situações da vida humana, trás a
possibilidade de interpretação histórica.
A ordem do cotidiano está contida na história assim como a ordem das instituições.
Torna-se fácil perceber a história permeada apenas nestes acontecimentos do cotidiano,
de onde tudo parte, mas, como nos sugere Agnes Heller quando afirma que “a vida
cotidiana não está “fora” da história, mas no “centro” do acontecer histórico: é a
verdadeira essência da substância social”.Desse modo às relações de trabalho, a vida
social, as decisões, os acontecimentos econômicos, partem da vida cotidiana; o
cotidiano é a percepção daquilo que se tornou habitual, “comum”, mas sem o qual não
viveríamos humanamente, não reconheceríamos os outros, o mundo e nem a nós
mesmos.
As queixas mais freqüentes dos professores são de que o aluno não tem limite, não tem
disciplina, não quer estudar e enfim, o discurso freqüente de ‘se’ a família ajudasse, ‘se’
tivesse a avó presente e etc. O ‘se’ sempre impondo o mesmo movimento de culpa e de
responsabilidade no outro e não implicando ao que eles (educadores) estão ensinando a
uma criança sem pais presentes. Uma das respostas mais ouvidas pelos professores
quando a pergunta sobre a escolha dos assuntos dados em sala de aula é “parto dos
interesses e necessidades dos meus alunos”. No caso de G.M não se resgatou a questão
de ele ter pais ausentes. Assim, a professora não está tratando todos os alunos da sala
como cada um tendo sua particularidade, mas novamente com a idéia de igualdade entre
todos os alunos. Implica em falar do aluno com problemas mas não o escuta, também o
espaço da escola não condiz com a realidade de todos os alunos ali inseridos.
Diante desses avanços, a criança que não está conseguindo aprender é entendida e
trabalhada, não como alguém que possui um déficit ou um problema, mas como um
aprendiz que possui um estilo de aprender diferente, que está diretamente relacionado
ao estilo de família e da comunidade a que pertence.Em face da complexidade das
questões aqui levantadas e da delicadeza do nosso objeto e objetivo de trabalho, não
prescindimos dos nossos parceiros. Trabalhamos e necessitamos dos Pedagogos, dos
Psicólogos, dos Fonodiólogos, etc, mas possuímos os nossos instrumentos de trabalho,
os nossos referenciais, a nossa escuta e o nosso olhar.
As ações que caracterizam uma comunidade cidadã é a luta por uma comunidade justa,
equilibrada, constituída a partir de um objetivo comum e bom para todos. Pois bem, isso
nos leva ao entendimento da nossa responsabilidade e do nosso compromisso político
social de aprender, em cada novo dia, a promover mais aprendizagens. Como nos
ensinou Paulo Freire "Ai de nós, educadores, se deixarmos de sonhar sonhos
possíveis..."
A questão da formação do psicopedagogo assume um papel de grande importância na
medida em que é a partir dela que se inicia o percurso para a formação da identidade
desse profissional.Alicia Fernández afirma o seguinte: "O pensamento é um só, não
pensamos por um lado inteligentemente e, depois, como se girássemos o dial, pensamos
simbolicamente. O pensamento é como uma trama na qual a inteligência seria o fio
horizontal e o desejo vertical, Ao mesmo tempo, acontecem a significação simbólica e a
capacidade de organização lógica" (1990, p. 67).
Para Fernández e Paín, o problema de aprendizagem pode ser gerado por causas internas
ou externas à estrutura familiar e individual, ainda que sobrepostas. Os problemas
ocasionados pelas causas externas são chamados por essas autoras de problemas de
aprendizagem reativos, e aqueles cujas causas são internas à estrutura de personalidade
ou familiar do sujeito denomina-se inibição ou sintoma – ambos os termos emprestados
da Psicanálise. Segundo essas autoras, quando se atua nas causas externas, o trabalho é
preventivo. Já na intervenção em problemas cujas causas estão ligadas à estrutura
individual e familiar da criança, o trabalho é terapêutico.
Quando não se pode negar que o homem é sujeito a uma ordem inconsciente e movido
por desejos que desconhece, falar do tratamento psicopedagógico significa muito mais
que discorrer sobre métodos definidos de reeducação.Encontramos na literatura
orientações de tratamento que estão acompanhadas de um plano de treino de memória
visual, onde em síntese as atividades consistem na apresentação de estímulos visuais
que, após serem retirados do campo visual da criança, devem ser evocados e
representados segundo a instrução do reeducador.
3. CONCLUSÃO
O fracasso escolar na alfabetização, ainda hoje, faz parte do cotidiano das nossas
escolas, acarretando na grande maioria das vezes na reprovação. O trabalho
psicopedagógico pode e deve ser pensado a partir da instituição escolar, a qual cumpre
uma função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o
desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto
social mais amplo.Através da aprendizagem, o sujeito é inserido, de forma mais
organizada, no mundo cultural e simbólico, que o incorpora à sociedade.A entrada na
escola significa antes de mais nada para a criança, uma penetração num círculo social
mais amplo, uma ocasião de enfrentar o desconhecido.Esse momento pode representar
uma oportunidade para um agravamento de tensões, incertezas e carências que já vem
de longe com a criança, mas também pode constituir-se numa oportunidade para que a
criança reexperimente o mundo, as pessoa e a vida de outra maneira: mais construtiva,
mais confiante, mais feliz.Na sua tarefa junto às instituições escolares o psicopedagogo
deve refletir sobre estas questões, buscando dar a sua contribuição no sentido de
prevenir ulteriores problemas de escolaridade.O diagnóstico psicopedagógico é um
processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia,
numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que essa atitude
investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o
objetivo da observação.
Se estivermos atentos para isto poderemos contribuir para que a escola corresponda de
modo positivo às suas necessidades e expectativas. È uma forma muito eficaz de se
prevenir o aparecimento dos temidos problemas de comportamento.Estes, apesar da
nossa cautela, muitas vezes se manifestam. Para não agravar ou precipitar a sua
evolução a observação continua sendo indispensável e juntamente com ela a atenção e a
dedicação.Quando tudo isso não bastar devemos procurar uma orientação especializada
pois pode ser que o nosso aluno esteja precisando de algo mais que não depende só de
nós
REFERÊNCIAS
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Aprendizagem. São Paulo: Ed. Cortez, 1992.182p.
Agnes Heller. O cotidiano e a escola. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2000.
FAGALI, Eloísa Quadros. VALE, Zélia Del Rio do. Psicopedagogia Institucional
Aplicada: a aprendizagem escolar dinâmica e construção na sala de aula. Petrópolis –
RJ. Editora Vozes, 1998.
Gottman, John, com DeClaire, Joan, Inteligência Emocional e a Arte de Educar Nossos
Filhos. Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 231 P.
Robson Stigar
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