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Mario Luis Assine | José Alexandre de Jesus Perinotto | Michele Andriolli Custódio | Virgínio
Henrique Neumann | Filipe Giovanini Varejão | Patricia Colombo Mescolotti
4 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
Figura 1
Mapa geológico
(modificado de Assine,
2007), com indicação
das seções colunares
apresentadas neste
trabalho: CP = Conceição
Preta; GA = Guaribas; PB =
Pedra Branca; RB = Rio da
Batateira; SA = Salamanca;
SO = Sobradinho.
Figure 1
Geological map (modified
from Assine 2007), showing
the location of the
columnar sections presented
in this work: CP = Conceição
Preta; GA = Guaribas; PB =
Pedra Branca; RB = Rio da
Batateira; SA = Salamanca;
SO = Sobradinho.
Numa outra vertente, Neumann (1999) e em seções sísmicas (fig. 2). Tal discordância não foi
Neumann e Cabrera (1999) propuseram a elevação constatada em superfície por estar encoberta por
da hierarquia estratigráfica dos membros propostos depósitos cenozoicos associados à regressão das es-
por Beurlen (1971), incluindo-os no que denomina- carpas da Chapada do Araripe. Na porção ocidental
ram Grupo Santana. A elevação de hierarquia para da bacia, os estratos do Andar Alagoas repousam em
Grupo Santana foi adotada neste trabalho de forma discordância litológica diretamente sobre o embasa-
ampliada, ou seja, para designar todo o registro mento cristalino pré-cambriano, evidente na seção
estratigráfico da megassequência pos-rifte I de As- geológica EW apresentada na figura 1. A discordân-
sine (2007). Nesta concepção, o Grupo Santana é cia presente no topo do Andar Alagoas constitui o
constituído, da base para o topo, pelas formações contato entre os grupos Santana e Araripe (fig. 2).
Barbalha, Crato, Ipubi e Romualdo.
Este trabalho apresenta resultados da análise
estratigráfica do Andar Alagoas na Bacia do Araripe,
realizada com base no levantamento de seções-colu-
nares em exposições existentes no sopé das escarpas
que contornam a Chapada do Araripe na Sub-bacia
do Cariri. O Andar Alagoas, analisado sob a ótica
da estratigrafia de sequências, é aqui definido como
uma megassequência pós-rifte, constituída por três
sequências deposicionais. Estas são caracterizadas
por superfícies-chave, tais como descontinuidades
no registro e superfícies de inundação máxima, bem
como por padrões de empilhamento sedimentar de-
finidores de tratos de sistemas deposicionais.
Figura 2 – O Andar Alagoas (Grupo Araripe) Figure 2 - The Alagoas Stage (Araripe
da Bacia do Araripe, correspondente à Group) in the Araripe Basin corresponds
sequência pós-rifte I de Assine (2007), é li- to the post-rift sequence I from Assine
Figura 3
Camadas Batateira na seção
a
do Rio da Batateira (RB). (a)
Contato dos folhelhos das
Camadas Batateira com os
arenitos fluviais subjacentes
(leito do rio); (b) Folhelhos
ricos em matéria orgânica
com lâminas de calcário;
(c) Conglomerado basal e
arenitos com estratificação
cruzada sobrepondo a
desconformidade no topo
dos folhelhos ( topo da
sequência SD-1).
Figure 3
Batateira layers in the Rio b
de Batateira (RB) section.
(a) Contact between dark
shales from the Batateira
layers and the underlying
fluvial sandstones of the
Barbalha Formation (river
bed); (b) Organic-rich dark
shales interbeded with
thin limestone laminae; (c)
Basal conglomerate and
cross-bedded sandstones
overlying shales from the
depositional sequence 1
(SD-1).
6 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
c
Figura 4 - Contato erosivo entre as formações Ipubi e Romu- Figure 4 - Erosive contact between the Ipubi and Romualdo
aldo, correspondente à desconformidade entre as sequências formations in the Pedra Branca mine in Nova Olinda –
SD-2 e SD-3, na mina Pedra Branca em Nova Olinda – CE (lo- CE. This limit is marked by a disconformity between the
calização das figuras a, b e c na seção colunar 1). (a) Arenitos sequences SD-2 and SD-3, (location of figures a, b and c in
conglomeráticos sobre a desconformidade que limita as duas
the columnar section 1). (a) Conglomeratic sandstones on
sequências; (b) Folhelhos com intercalações de lâminas car-
the disconformity; (b) Shales interbedded with limestones
bonáticas, ricas em ostracodes, presentes na porção inferior
laminae in the lower portion of the sequence SD-3; (c)
da sequência SD-3; (c) Clastos de argila na base de estratos
cruzados e filmes de argila nos foresets, comuns nos arenitos Cross-bedded fine sandstones with mud clasts and drapes
finos, são indicativos da atuação de correntes de maré. in its foresets suggesting the action of tidal currents.
8 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
Figura 6 - Correlação estratigráfica das seções-colunares Figure 6 - Stratigraphic correlation of the columnar sections
levantadas nos rios Guaribas, da Batateira e Salamanca measured in the Rivers Guaribas, da Batateira and Salamanca
(localização das seções na figura 1). (see figure 1 for the location of the columnar sections).
c d
Figura 7 - Fácies de arenitos da sequência SD-1 formam Figure 7 - Planar (a and b) and trough (c and d) cross-
sets decimétricos a métricos, com estratificações cruzadas bedded sandstone facies of the sequence SD-1.
planares (a e b) e acanaladas (c e d).
10 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
Figura 8
a b Fácies de arenitos finos a
médios, com intercalações
de fácies pelíticas, são
comuns na sequência
SD- 2. (a) Arenitos com
estratificação cruzada
sigmoide em sets
decimétricos; (b) Arenitos
com clastos de argila
concentrados na base dos
sets e na parte inferior dos
foresets; (c) Arenitos com
estratificação cruzada e
lâminas de folhelho cinza
escuro nos foresets; (d)
Arenitos deformados com
c estruturas em chama, bolas
e almofadas; (e) Estruturas
de sobrecarga formando
diápiros de argila na base
de arenitos sigmoides.
Figure 8
Fine- to medium grained
sandstones are common
facies in the depositional
sequence SD-2. (a)
Sigmoidal cross-bedded
sandstones; (b) Mud clasts
deposited over the foresets
and bottomsets; (c) Cross-
bedded sandstones with
d e mud drapes in foresets;
(d and e) Load structures
at the base of sigmoidal
sandstones.
A deposição de calcários laminados conso- a grossos (fig. 9), formando seção sedimentar de
lida a implantação de sistemas lacustres na bacia. até 70m de espessura.
A base da primeira camada de calcário é definida Os calcários laminados, ricos em fósseis con-
como contato entre as formações Barbalha e Crato. tinentais (Martill et al., 2007a), atestam a ampliação
Segundo Neumann (1999), os calcários laminados do sítio deposicional para além dos limites das áreas
formam bancos métricos e são essencialmente la- das sub-bacias rifte, sendo constatada deposição
custres, com rico conteúdo fossilífero (Mabesoone direta sobre o embasamento cristalino. A alternância
e Tinoco, 1973). Os calcários são recorrentes na de bancos de calcários laminados e de intervalos
vertical e ocorrem intercalados com seções igual- dominados por fácies siliciclásticas registra eventos
mente espessas de folhelhos verdes e arenitos finos de expansão e retração dos sistemas lacustres.
b c
d e
Figura 9 - Seção carbonático-siliciclástica da parte superior Figure 9 - Mixed carbonate-siliciclastic succession from
da sequência SD-2, litoestratigraficamente pertencente the sequence SD-2 (Crato Formation). (a) Overview of the
à Formação Crato. (a) Vista geral de frente de lavra em Nova Olinda quarry– CE evidencing the lower laminated
Nova Olinda - CE, exibindo calcários laminados na parte limestone bank covered by sandstones and shales; (b)
inferior e sucessão de arenitos com folhelhos interestratifi-
Rhythmic laminated limestones; (c) Halite hoppers are
cados na parte superior; (b) Calcários finamente laminados
present locally in limestone beds; (d) Sandstones and
micríticos, com marcada ritmicidade em alguns intervalos;
heterolitic facies with wavy and lenticular bedding; (e)
(c) Pseudomorfos (hoppers) de halita estão presentes em
alguns níveis indicando condições de aridez; (d) Arenitos Medium- to coarse-grained sandstones are occasionally
com clastos e lâminas de argila nos foresets, recobertos por present in the siliciclastic intervals.
fácies heterolíticas com acamamento ondulado e lenticular;
(e) Camadas de arenitos médios a grossos ocasionalmente
presentes nos intervalos siliciclásticos.
12 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
A existência de pseudomorfos de halita nos Mais de uma camada evaporítica pode ocor-
calcários laminados evidencia que a bacia experi- rer, como na mina Conceição Preta (município de
mentou condições de crescente aridez (Martill et Santana do Cariri – CE; fig. 10) e em minas exis-
al., 2007b; Heimhofer et al., 2010). Calcários bre- tentes na porção oeste da bacia (municípios de
chados no topo de vários bancos carbonáticos, bem Ipubi e Araripina – PE), nas quais duas camadas
como a presença de caliche na parte superior dos métricas de gipsita/anidrita ocorrem separadas por
bancos calcários da Formação Crato (Silva, 1986), seção em que dominam folhelhos verdes, ocasio-
indicam eventos de queda do nível dos lagos, com nalmente com a presença de delgadas camadas
exposição subaérea de áreas marginais. de calcário e arenito fino.
Toda a sucessão vertical descrita, desde os Os evaporitos e as fácies associadas compõem
conglomerados e arenitos da Formação Barbalha seção sedimentar de até 30m de espessura, litoes-
até a seção carbonático-siliciclástica da Formação tratigraficamente denominada Formação Ipubi. Em
Crato, é interpretada como associação de fácies de grande parte da bacia, os evaporitos nem sempre
trato de sistemas transgressivo. O posicionamento estão presentes. Na porção oeste da bacia, a unidade
da superfície de inundação máxima não pôde ser apresenta-se bem desenvolvida, especialmente nos
feito com base nos dados levantados em campo. municípios pernambucanos de Ipubi, Trindade e Arari-
Corpos descontínuos de gipsita, com es- pina, onde é contínua e mapeável na escala 1:25.000.
pessura variável (5-15m) e associados a folhelhos A seção evaporítica presente na parte supe-
verdes e/ou pretos (pirobetuminosos), ocorrem rior no final da SD-2 registra aumento das condi-
sobre a seção mista carbonático-siliciclástica da ções de aridez, sendo interpretada como trato de
Formação Crato. As camadas de gipsita podem sistemas de nível alto. Mesmo considerando dados
apresentar laminação, por vezes com dobras in- geoquímicos que indicam ambientes não marinhos
ternas e feições dômicas. Gipsita secundária é (Silva 1983), a associação de fácies sedimentares e a
representada pelas variedades alabastro, porfiro- geometria dos corpos evaporíticos permitem aventar
blástica (rosetas de selenita) e nodular. Varieda- a possibilidade de que os evaporitos foram gerados
des fibrosas constituem a última geração, sendo em planícies costeiras em ambiente de clima árido.
produto de recristalização a partir de soluções Embora seu conteúdo fossilífero seja composto por
ricas em sulfato de cálcio mobilizadas nos pro- formas predominantemente não marinhas, alguns
cessos de diagênese. Além das formas primárias autores consideraram que a associação inclui tam-
e secundárias de gipsita, também ocorre anidrita bém palinomorfos de origem marinha (Lima, 1978a,
laminada e nodular (Silva, 1983; 1988). Folhelhos b). Um possível cenário paleogeográfico é o de am-
pretos associados aos evaporitos são muito ricos bientes subaquosos costeiros, com alguns quilôme-
em matéria orgânica e também muito fossilíferos, tros quadrados de extensão, mas sem conexão com
sendo portadores de ostracodes, peixes e troncos o mar, à semelhança das modernas salinas existentes
de madeira carbonificada. no sul da Austrália (Warren e Kendall, 1985).
Figure 10
As observed in the
Conceição Preta quarry,
Santana de Cariri – CE
(location on figure 1), the
evaporite succession (Ipubi
Formation) at the top of
the sequence SD-2 can be
constituted by two distinct
gypsum/anhydrite layers. (a)
The heterolithic succession
between two gypsum c
banks are composed of
black to dark gray shales
interbedded with thin
layers of limestones; (b)
Climbing-ripple cross-
stratified sandstones are
rare in this stratigraphic
interval; (c) The limestone
layers are thin and laterally
discontinuous.
14 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
sequência deposicional 3 presença da seção evaporítica da Formação Ipubi.
Folhelhos cinza-escuros/esverdeados a pretos, ricos
A sequência deposicional 3 (SD-3) corres- em ostracodes e com espessuras entre 40 e 50m,
ponde integramente à Formação Romualdo, que ocorrem sobre os arenitos, como, por exemplo,
é caracterizada por ampla gama de litologias (con- na seção colunar levantada na localidade de So-
glomerados estratificados, arenitos finos a grossos, bradinho (fig. 11) e no poço 1-PS-12-CE (Scheid,
calcários laminados, margas, folhelhos, calcários 1978), ambos localizados no município de Jardim
coquinoides e coquinas). Esta formação é conhe- - CE (localização na fig. 1).
cida internacionalmente pelo seu rico conteúdo A assembleia de microfósseis apresenta
fossilífero, especialmente de peixes encontrados grande diversidade, com grãos de pólen, esporos
em concreções fossilíferas (Maisey, 1991; Kellner, e ostracodes. Dinocistos (Arai e Coimbra, 1990;
2002; Fara et al., 2005). Coimbra et al., 2002) e foraminíferos miliolídeos
Os arenitos costeiros da porção inferior da (Dias-Brito et al., 2015b) indicam ambientes depo-
Formação Romualdo tornam-se mais grossos em sicionais com inquestionável influência marinha.
direção às porções mais proximais da bacia, onde Destaca-se a existência de intervalos de fo-
a descontinuidade é marcada por contato ero- lhelhos cinza-escuros a pretos, ricos em matéria
sivo sobre a associação de fácies evaporítica da orgânica e com espessura de até 5m, caracterizados
Formação Ipubi. A descontinuidade já havia sido pela presença de concreções carbonáticas fossilífe-
reconhecida por Silva (1986), que relatou feições ras, portadores de rica paleoictiofauna considerada
de exposição no topo das camadas de gipsita. marinha (Silva Santos e Valença, 1968; Fara et al.,
Sobre os evaporitos ocorrem níveis delgados de 2005). A excelente preservação dos peixes nas con-
conglomerados, constatados em minas existentes creções indica que as águas eram muito calmas e
nas porções centro-norte (Nova Olinda e Santana que a mortandade em massa deveu-se a mudanças
do Cariri – CE) e oeste (Araripina – PE) da bacia drásticas da salinidade ou da temperatura nas águas
(Assine, 1992, 2007). superficiais (Martill, 1988; Martill et al., 2008).
Na porção centro-norte da bacia, os arenitos Camadas de calcários bioclásticos encon-
conglomeráticos e conglomerados com geometrias tram-se presentes na porção superior da sucessão
canalizadas e padrão de afinamento textural para pelítica (figs. 4 e 11), ocorrendo no entorno de toda
o topo, presentes na base da SD-3, são fácies de a Chapada do Araripe. As camadas de calcários
origem aluvial. Sobre os conglomerados e arenitos bioclásticos, muitas vezes coquinas, têm espessuras
conglomeráticos, podem ocorrer folhelhos pretos, centimétricas a decimétricas e são portadoras de
calcíferos, fossilíferos, com intercalações de calcá- acumulações de fósseis de invertebrados, tais como
rios nodulares intercalados, caracterizando fácies gastrópodes (turritelídeos), bivalves e equinoides
heterolíticas (fig. 4). (fig. 12). A presença de representantes inequivoca-
As fácies psamito-psefíticas existentes na mente marinhos, como os equinoides, confirma a
base da sequência são recobertas por arenitos com ingressão marinha na bacia (Beurlen, 1966, 1971).
intercalações de siltitos e lamitos verdes. Os areni- A maior parte dos depósitos é atribuída a tempes-
tos se tornam progressivamente mais finos para o titos, à exceção de duas localidades no leste da
topo, com filmes e clastos de argila nos foresets e bacia, interpretadas como lag residual e depósito
entre os sets, interpretados como barras de canais de sufocamento (Sales, 2005). Os depósitos foram
de maré. Os arenitos se tornam mais delgados e também alternativamente interpretados como lags
desaparecem para cima, passando a predominar residuais sobre superfície de ravinamento e consi-
folhelhos verdes e cinza- escuros. derados um marco estratigráfico (Assine, 2007). Na
Nas porções mais distais da bacia, situadas seção colunar de Sobradinho, foram constatadas
a leste, a descontinuidade da base da sequência quatro camadas com espessuras de 30-50cm de
é marcada por brusca mudança de fácies, de cal- espessura, posicionadas sobre a seção de folhelhos
cários laminados da Formação Crato para areni- e cerca de 30-40m acima do nível com concreções
tos da Formação Romualdo, muitas vezes sem a fossilíferas (fig. 11).
Figura 11 - A sequência SD-3 (Formação Romualdo) Figure 11 - The sequence SD-3 (Romualdo Formation) is a
apresenta ciclo transgressivo-regressivo completo na seção transgressive-regressive cycle, as observed in the columnar
colunar de Sobradinho, município de Jardim – CE (locali section measured at the Sobradinho locality, Jardim –
zação na figura 1). (a) Concreções fossilíferas (ictiolitos) CE (location on figure 1). (a) Fossiliferous concretions
na parte inferior do intervalo de folhelhos marinhos; (b) (ichthyolithos) in the lower Romualdo Formation
Níveis de calcários bioclásticos, com gastrópodes marinhos, characterized by marine black shales; (b) Bioclastic
estão presentes encimando os folhelhos marinhos; (c) A limestones composed of marine gastropods occur over
seção regressiva do topo da sequência apresenta fácies the interval of marine shales; (c) The regressive succession
heterolíticas e arenitos sigmoides com lâminas de argila of the upper portion of the sequence is characterized by
nos foresets e entre os sets. heterolitic facies and sandstones with tidal-bundles.
16 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
Figura 12
a b Calcários bioclásticos da
Formação Romualdo: (a)
Concentrações de fósseis de
gastrópodes em camadas
com granodecrescência
ascendente (localidade
de Romualdo, município
de Crato – CE); (b) Fósseis
de equinoides articulados
(município de Araripina
– PE); (c) Coquina de
gastrópodes e bivalves
(município de Araripina –
PE); (d) Coquina de bivalves
(município de Araripe – CE).
c d Figure 12
Bioclastic limestones from
the Romualdo Formation:
(a) Gastropod bearing
concentrations with finning-
upward pattern (Romualdo
locality, Crato – CE); (b)
Articulated equinoid fossils
(Araripina – PE); (c) Coquina
of gastropods and bivalves
(Araripina – PE); (d) Bivalve-
rich coquina (Araripe – CE).
correlações e paleogeografia
oeste e noroeste da bacia. Sobre as camadas de
calcário bioclástico tem início a associação de
fácies de trato de nível alto, que é constituído
por arenitos finos com intercalação de siltitos e
Duas descontinuidades dentro do registro
folhelhos portadores de fósseis de água doce,
como conchostráceos e moluscos (Beurlen, 1971). da megassequência Alagoas na Bacia do Araripe
Os arenitos apresentam concentração de clastos são limites naturais de três sequências deposicio-
de argila na base das camadas e lâminas de ar- nais, que correspondem a três ciclos transgressivo-
gila nos foresets e são interpretados como fácies regressivos. As três sequências foram identificadas
produzidas pela migração de barras de marés também na seção sedimentar do poço 2-AP-1-CE,
(fig. 11). Esta seção progradacional nem sempre perfurado na Sub-bacia de Feira Nova (fig. 13, lo-
ocorre, podendo estar ausente na parte superior calização na fig. 1), mostrando que a arquitetura
da Formação Romualdo devido à erosão durante estratigráfica delineada tem expressão bacinal. O
a geração da discordância no topo da SD-3. empilhamento geral da megassequência é nitida-
O reconhecimento de uma superfície de má- mente transgressivo, sendo a superfície de inun-
xima inundação marinha no final da megassequên- dação máxima da sequência deposicional superior
cia (Formação Romualdo) permitiu a caracterização (SD-3) a mais expressiva de todas.
18 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
O arcabouço estratigráfico do Andar Alago- fluviais da base da Formação Alagamar apresentam
as na Bacia do Araripe revela que a sedimentação controle tectônico, indicando que algumas falhas
ocorreu em condições de quiescência tectônica herdadas da fase rifte continuaram ativas no Aptiano,
pós-rifte, com onlap das unidades superiores sobre conforme relato de Pessoa Neto et al. (2007). Segun-
o embasamento. Entretanto, a distribuição espacial do estes autores, o empilhamento é marcadamente
da SD-1 e da parte inferior da SD-2 (formações retrogradacional, com afogamento dos sistemas
Barbalha e Crato), cuja ocorrência coincide com fluviais dos membros Upanema e Canto do Amaro
as áreas das duas sub-bacias rifte, indica controle por folhelhos transicionais do Membro Galinhos.
tectônico da subsidência, provavelmente por rea- A superfície de máxima inundação foi posicionada
tivação pós-rifte das falhas geradas na fase rifte. sobre intervalo composto por folhelhos pretos e cal-
O Andar Alagoas caracteriza-se por empi- cilutitos ostracoidais, de ampla distribuição na bacia,
lhamento dominantemente retrogradacional nas denominado Camadas Ponta do Tubarão.
bacias da margem leste brasileira, as quais são As Camadas Ponta do Tubarão da Bacia
compostas por várias sequências deposicionais Potiguar, assim como o Membro Trairi da Bacia do
dominantemente transgressivas, predominando Ceará, foram correlacionadas às Camadas Batateira
sedimentação continental nas margens e deposição da Bacia do Araripe (Hashimoto et al., 1987). En-
evaporítica e marinha carbonático-siliciclástica nas tretanto, considerando as características litológicas
porções mais distais (Dias, 2004). A sedimentação dos três intervalos e o empilhamento estratigráfi-
é inicialmente fluvial, passando para carbonático- co das três bacias, propõe-se aqui correlação do
evaporítica marginal com tendência a marinha Membro Trairi e das Camadas Ponta do Tubarão
franca em direção ao topo da sucessão. com a seção de calcários laminados e folhelhos da
Sob esse cenário, a Bacia do Araripe apre- Formação Crato da Bacia do Araripe.
senta a mesma lógica de empilhamento estra- Na Bacia do Ceará, o empilhamento estrati-
tigráfico, embora em contexto paleogeográfico gráfico do Andar Alagoas é igualmente retrograda-
proximal em relação às bacias marginais nordesti- cional (Condé et al., 2007). A Formação Paracuru
nas. Desta forma, os evaporitos da bacia (Formação é constituída predominantemente por arenitos
Ipubi) têm correlação cronoestratigráfica com os fluviais na sua metade inferior, com afogamen-
das bacias da margem leste (Regali, 1989a). No en- tos representados por intervalos de folhelhos de
tanto, foram formados geograficamente distantes boa continuidade lateral, prevalecendo condições
dos oceanos originados da ruptura de Gondwana marinhas marginais na porção superior (Regali,
e apresentam características sedimentares de am- 1989b). Os folhelhos carbonosos e calcilutitos do
bientes marginais a continentais. Membro Trairi, unidade situada na porção mediana
Na Bacia de Sergipe/Alagoas, a sedimentação da Formação Paracuru, têm associação lateral com
pós-rifte inicia-se com os depósitos aluviais e deltai- folhelhos ricos em matéria orgânica e com níveis
cos do Membro Carmópolis, que compõem tratos de evaporito, predominante compostos por halita
de sistemas de nível baixo e transgressivo (Cam- (Condé et al., 2007).
pos Neto et al., 2007). As fácies siliciclásticas das Evidências de sedimentação marinha são
sequências inferiores são sobrepostas por rochas relatadas para os calcários que sucedem os depó-
carbonáticas microbiais, evaporitos e folhelhos ma- sitos fluviais presentes na porção inferior do Andar
rinhos. As fácies fluviais têm espessura aumentada Alagoas, tanto na Bacia de Sergipe (Campos Neto
nos baixos deposicionais, ao passo que calcários la- et al., 2007) quanto na Potiguar (Pessoa Neto et
minados/brechados e a complexa seção evaporítica al., 2007). Na Bacia do Araripe, a seção carboná-
(principalmente anidrita e halita) foram depositados tica da Formação Crato tem sido invariavelmente
diretamente sobre altos do embasamento, como no considerada lacustre (e. g. Neumann, 1999; Neu-
campo de Carmópolis (Araújo et al., 2009). Folhe- mann e Cabrera, 1999), com exceção de apenas
lhos marinhos do Membro Oiteirinhos recobrem a uma referência relatando a existência de formas
seção carbonático-evaporitica, compondo sucessão marinhas de foraminíferos (Arai, 2012). Interpreta-
transgressiva muito semelhante à do Andar Alagoas se que, devido à posição geográfica no interior
(Grupo Santana) da Bacia do Araripe. do continente, a ingressão marinha na Bacia do
A Bacia Potiguar apresenta arcabouço estrati- Araripe ocorreu com relativo atraso em relação às
gráfico similar. Como na Bacia do Araripe, depósitos bacias marginais.
20 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
anóxicas, que deu ensejo à deposição dos folhelhos ARAI, M. Paleogeografia do Atlântico Sul no Ap-
pretos das Camadas Batateira. A segunda sequência tiano: um novo modelo a partir de dados micropa-
representa a mudança de ambientes predominan- leontológicos recentes. Boletim de Geociências
temente de sedimentação aluvial (parte superior Petrobras, Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 331-351,
da Formação Barbalha) para sistemas deposicionais maio/nov. 2009.
lacustres e costeiros, com a presença de expressiva
seção carbonático-evaporítica (formações Crato e ARAI, M. Evidência micropaleontológica da in-
Ipubi). A terceira sequêuncia é um ciclo transgressi- gressão marinha aptiana (pré-evaporítica) na Bacia
vo-regressivo completo (Formação Romualdo), com do Araripe, Nordeste do Brasil. In: CONGRESSO
folhelhos ricos em matéria orgânica e ingressão BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 46., 2012, Santos.
marinha de idade neoaptiana. A arquitetura de- Anais… Santos: Sociedade Brasileira de Geologia,
posicional e as paleocorrentes das três sequências 2012. CD-ROM.
revelam onlap costeiro de sudeste para noroeste,
ARAI, M. Aptian/Albian (Early Cretaceous) paleo-
interpretado como o sentido de ingressão marinha
geography of the South Atlantic: a paleontological
na bacia durante o Andar Alagoas.
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24 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
expanded abstract
with fine-grained rocks organized in fluvial cycles,
and in turn by laminated limestones from the
base of the Crato Formation, composing a vertical
succession interpreted as a transgressive systems
The Araripe Basin is composed of Mesozoic
tract. The highstand systems tract is composed of
stratigraphic units correlated to rift sequences as-
laminated limestone beds and siliciclastic facies,
sociated to the break-up of Gondwana. The post-
rift megasequence (Santana Group) corresponds to recording distinct cycles of expansion and retrac-
the stratigraphic record of the Alagoas Stage (late tion of the lacustrine system. The highstand tract
Aptian to very early Albian) of the Brazilian marginal culminates with the deposition of the Ipubi evapo-
basins. The Santana Group comprises the Barbalha, rites, mainly characterized by gypsum precipitation
Crato, Ipubi and Romualdo formations, from base to under extreme aridity. The upper sequence corre-
top, and encompasses important fossiliferous beds sponds to the Romualdo Formation, which lower
known worldwide due to the extraordinary fossil portion is characterized by sandstones, and locally
preservation. The Alagoas strata in the Araripe Basin thin conglomerate and gravelly sandstone beds that
rest unconformably on the rift megasequences overlie the basal disconformity in the basin margins.
similarly to that observed in the Brazilian marginal The stacking pattern is transgressive, with coastal
basins, but the facies associations reveal evidence onlap from southeast to northwest and marine
of a proximal paleogeographic context. Two internal facies overlying the Precambrian basement rocks
disconformities allow us to subdivide the Alagoas in the west and northwest portions. Thin beds of
Stage into three depositional sequences. The lower coquinoid limestones overlie fossiliferous marine
sequence belongs to the Barbalha Formation and black shales. The marine maximum flooding surface
comprises a vertical facies succession of fluvial in the upper depositional sequence (Romualdo For-
channels, culminating with lacustrine shales that mation) characterizes an asymmetric transgressive-
exhibit great lateral extension and thickness up to regressive cycle, mainly composed by transgressive
10m. This black shale interval is known as “Batateira deposits. Regressive highstand sandstones depos-
Beds” and constitutes an important stratigraphic ited in tidally influenced coastal systems complete
mark in the basin, because they record the estab- the sequence and record the return to continental
lishment of a large lake characterized by severe deposition. The top of the Alagoas Stage is a re-
water level fluctuations and anoxic events. The gional unconformity between the Santana Group
middle sequence begins with thin conglomerate and the overlying mid-Cretaceous fluvial facies of
beds that are overlain by sandstones interbedded the Araripe Group (Araripina and Exu formations).
assine@rc.unesp.br perinoto@rc.unesp.br
Mario Luis Assine graduou-se em Geologia pela José Alexandre de Jesus Perinotto é graduado
Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 1979. em Geologia (1979) pela Universidade Estadual
Atuou como geólogo na Petrobras (1980-1981), Paulista (Unesp); Geólogo da Petrobras (1980);
no IPT (1982-1985) e na Construtora Andrade Mestre em Geologia Sedimentar pela USP; Doutor
Gutierrez (1985-1986). De 1987 a 1997 exerceu o em Geologia Regional e Livre-Docente em Análise
cargo de professor do Departamento de Geologia Estratigráfica pela Unesp. Professor do Departa-
da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Obteve mento de Geologia Aplicada do Instituto de Ge-
título de Mestre em Geologia Regional pela Uni- ociências e Ciências Exatas, da Unesp - Rio Claro,
versidade Estadual Paulista (Unesp) em 1990 e de desde 1981. Pesquisas com ênfase em Análise de
Doutor em Geociências (Geologia Sedimentar) pela Bacias Sedimentares, Estratigrafia e Sedimentologia
Universidade de São Paulo (USP) em 1996. Desde Siliciclástica, atuando principalmente na Bacia do
1997 é docente do Instituto de Geociências e Ci- Paraná e bacias interiores do nordeste brasileiro.
ências Exatas da Universidade Estadual Paulista Pesquisador do Programa Antártico Brasileiro (Pro-
(Unesp), instituição na qual exerce a função de antar/CNPq) e do Centro de Geociências Aplicadas
professor adjunto desde 2003, quando obteve o ao Petróleo (Unespetro/Unesp).
título de Professor Livre-Docente em Estratigrafia
e Sedimentação. Tem como linhas de pesquisa a
análise de bacias sedimentares (bacias do Araripe e
do Paraná) e o estudo da Geologia do Quaternário
continental (Bacia do Pantanal).
26 | Sequências deposicionais do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil – Assine et al.
Michele Andriolli Custódio Virgínio Henrique Neumann
Universidade Estadual Paulista (Unesp) Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Instituto de Geociências e Ciências Exatas Departamento de Geologia
Programa de Pós-graduação em
Geociências e Meio Ambiente
Mestranda
mi.andriolli@gmail.com neumann@ufpe.br
filipe.varejao@hotmail.com pamesco@ig.com.br
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