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A ANTROPOLOGIA E O BRASIL, HOJE*

Otávio Velho

Gostaria inicialmente de expressar a minha Neste momento, não poderia deixar de lem-
satisfação em participar das comemorações dos 30 brar os encontros preparatórios da fundação da
anos da Anpocs na qualidade de primeiro presi- Anpocs realizados no Iuperj na década de 1970 e
dente não oriundo da ciência política (1986-1988). a que apenas uns poucos dos presentes hoje, esta-
Agradeço a honra do convite. Saudando a todos, vam então. Lembrar os primeiros atritos na busca
gostaria também de dirigir uma homenagem espe- de uma acomodação entre as várias disciplinas e
cial aos demais ex-presidentes, tanto os presentes participantes, o que talvez merecesse uma tese,
quanto os ausentes, bem como ao atual presiden- pois se constituiu num laboratório de assuntos de
te, Ruben Oliven, colega antropólogo. Embora o natureza política e, até, epistemológica, importante
sucesso da Anpocs se deva a muito mais gente, para a nossa história (lembro-me das queixas do
creio que eles – juntamente com os secretários- Prof. Cândido Mendes quanto aos objetos da an-
gerais – personificam de modo exemplar a raríssi- tropologia). E, também devemos lembrar a figura
ma sensação de obra coletiva bem realizada que a tão central nesse processo de Olavo Brasil de Lima
Anpocs nos dá. Ser parte dessa geração que cons- Jr., colega exemplar sem cujo esforço seguramente
truiu a Anpocs traz imensa satisfação e um senti- hoje não estaríamos aqui.
mento inabalável de fraternidade. Na ocasião da fundação da Anpocs, em 1977,
participei de sua assembléia como coordenador
* Conferência proferida durante o 31º Encontro Anual do Programa de Pós-Graduação em Antropologia
da Anpocs como parte das comemorações dos seus Social do Museu Nacional (UFRJ), uma das qua-
30 anos (Caxambu, 23 de outubro de 2007). torze instituições do núcleo inicial. E, em 1986,

RBCS Vol. 23 nº. 66 fevereiro/2008


6 revista brasileira de ciências sociais - vol. 23 nº. 66

fui eleito presidente, tomando posse em Campos justamente um diagnóstico sobre a relação entre
do Jordão ao suceder o cientista político Hélgio a antropologia e o país que se tornou canônico,
Trindade. Portanto, foram nove anos até termos o importante no entendimento do significado da an-
primeiro presidente não oriundo da ciência políti- tropologia e na própria assunção da posição que
ca. E, assim mesmo, tendo sido bastante testado: hoje ela ocupa. Mariza propunha haver uma re-
membro de duas diretorias presididas por cientis- lação profunda no Brasil entre a antropologia e
tas políticos e, ainda por cima, de dois Wanderleys a construção da nação. A meu ver, a notoriedade
(Fabio Wanderley Reis e Wanderley Guilherme dos dessa tese foi totalmente merecida, pois espelhava
Santos). Na verdade, sempre tive excelentes rela- com muita sensibilidade a natureza profunda do
ções com cientistas políticos e sociólogos. Até por empreendimento antropológico entre nós. Nature-
vezes tendo algum problema de identidade: gradu- za profunda porque não dependente do seu pleno
ado em sociologia e política pela antiga Escola de ou explícito reconhecimento, funcionando muitas
Sociologia e Política da PUC/RJ e com doutorado vezes como um subtexto.
em sociologia, apesar de como aluno de renoma- Acrescentaria de um modo que não me pa-
dos antropólogos. E sempre fui um entusiasta da rece ir muito além da própria tese da Mariza Pei-
interdisciplinaridade, quando não da transdicipli- rano que a antropologia carregava então (e em
naridade. Enfim, creio que fui uma figura de tran- boa parte ainda carrega) um duplo discurso: o da
sição num processo de abertura lenta, gradual e universalidade da antropologia, de um lado, e o
segura, por assim dizer, e fico feliz por ter podido da construção da nação, de outro. Não que a cons-
cumprir este papel. O presidente seguinte foi o trução da nação fosse estranha ao universalismo,
sociólogo Vilmar Faria. mas, no caso, dizia respeito a uma propriedade
Esta é uma ocasião de celebração. Celebra- portada pelos antropólogos brasileiros especifica-
ção a que fui chamado pelo nosso presidente, mente, que coloria de modo especial a antropolo-
Ruben Oliven, para falar sobre a relação entre a gia que fazíamos, o que já me levou a designar este
antropologia e o país, hoje. Ao refletir sobre o que discurso como neoorientalista em artigo a respeito
iria dizer, lembrei-me de uma antiga observação de “antropologias mundiais”, num seminário orga-
de Fabio Wanderley no sentido de que os antro- nizado por Gustavo Lins Ribeiro e Arturo Esco-
pólogos seriam extremamente corporativos, não bar sob os auspícios da Fundação Wenner-Gren
desnudando os seus problemas, o que por vezes (2006) e que deverá em breve ser publicado. Pois
deixava os colegas de outras disciplinas em situ- este discurso redundava até em certa desconfiança
ação embaraçosa. Devo dizer que até certo ponto em relação aos resultados de estudos feitos por
concordo com ele, apesar de discordarmos subs- antropólogos estrangeiros entre nós, que não pa-
tantivamente em muita coisa. E apesar de nos últi- reciam capazes de captar com a mesma intimidade
mos tempos termos sido atropelados pelos acon- essa nossa realidade.
tecimentos de tal maneira que se torna cada vez Creio, portanto, que foi esta, efetivamente,
mais difícil ocultar as diferenças de opinião entre a antropologia que em larga medida praticamos
os antropólogos. Suponho que essa atitude a que todos estes anos e que foi responsável pelo seu
se referia Fabio Wanderley tenha a ver com algu- sucesso. E, ao mesmo tempo, creio que é esta a
ma necessidade de defesa em certo momento, pois antropologia que precisamos rever se quisermos
a antropologia, inegavelmente, foi alvo de muita atualizar a relação da antropologia com o país. Re-
incompreensão. Mas hoje esta área no Brasil é um visão que certamente constitui um desafio, mas
sucesso evidente, não só comparando internamen- que o amadurecimento da antropologia entre nós
te, mas também externamente, de modo que creio pode permitir que seja bastante indolor, depen-
ser possível uma atitude desguarnecida diante dos dendo da nossa vontade.
colegas, tendo consciência de que é a solidez des- E talvez, não inteiramente por coincidência,
sa construção de que participamos que permite esta aparente necessidade coincide com uma de-
assim proceder. manda da Sociedade Brasileira para o Progresso
É interessante notar que por volta da época da Ciência – SBPC, anunciada por seu presidente,
da fundação da Anpocs, Mariza Peirano (1980) fez Marco Antonio Raupp, no sentido de que preci-
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samos “juntos identificarmos idéias que possam em particular, reconhecer a presença, que não se
gerar bandeiras comuns para a atuação da SBPC torna discurso, de um colonialismo interno – como
com as sociedades científicas”. Ou seja, questões diria o nosso mestre Roberto Cardoso de Olivei-
que tal como esse segundo discurso, dizem respei- ra desde projeto por meio do qual ingressei no
to à nossa participação pública para além, inclusi- Museu Nacional (Cardoso de Oliveira, 1966) –, o
ve, das fronteiras da nossa corporação. Nada mais que tem sido retomado nos últimos anos na crítica
oportuno, portanto, que esta revisão. Entre parên- latino-americana ao eurocentrismo (Lander, 2005).
teses, aproveito para estimular os cientistas sociais Roberto Cardoso, aliás, foi um dos pioneiros des-
para que se filiem à SBPC, um fórum de discussão sa idéia, graças, inclusive, ao seu papel, também
precioso na sua heterogeneidade e onde, a meu pioneiro, no estabelecimento de relações de traba-
ver, precisamos fortalecer a presença das ciências lho com cientistas sociais latino-americanos, o que
sociais. E que se sintam incluídos nesse convite os vem ganhando nova atualidade, em parte devido a
pós-graduandos, cuja entidade, a Associação Na- razões geopolíticas, em parte devido à qualidade
cional de Pós-Graduandos (ANPG), recentemente do trabalho desenvolvido por nossos colegas no
lançou a campanha “Fique sócio da SBPC”. continente. Vale lembrar nesse sentido o progra-
Retornando ao assunto principal, o que pro- ma do Ministério da Ciência e Tecnologia adminis-
ponho, portanto, é que este segundo discurso da trado pelo CNPq – Prosul –, de cujo comitê gestor
antropologia, o da construção da nação, atingiu os faço parte, que pretende estimular o intercâmbio
seus limites. Atingiu-o na condição de paradigma, científico no âmbito da América do Sul e onde a
por assim dizer, usando essa expressão de manei- participação das ciências sociais ainda é tímida.
ra ampla. Pelo menos do modo que ele mesmo foi Também existe o Pro-África. São novas iniciativas
(em analogia com a nação) por sua vez construído. a que devemos estar atentos, pois me parecem pro-
Não pretendo com isso entrar na polêmica sobre missores no sentido de levar os alunos a realiza-
a obsolescência do Estado-nação ou sua eventual rem pesquisa fora das fronteiras nacionais (o que
substituição por Estado-nações. não deixa de ter conexão com o assunto desta
A meu ver, a principal contribuição da an- palestra).
tropologia para o discurso da construção da na- Apesar das relações entre colonialismo e
ção foi a de compatibilizar unidade e diversidade, construção da nação, sem dúvida houve diferenças
o que estava – ao menos no que diz respeito à marcantes entre as antropologias de construção do
diversidade – em congruência com a divisão de império e as da nação. E foi no caso em que se par-
trabalho estabelecida no momento da constituição tia da construção da nação que, além da questão
das ciências sociais na segunda metade do século da diversidade, mais se colocou o problema da uni-
XIX, quando coube à antropologia e aos estudos dade, pois sendo o outro interno impunha-se uma
clássicos a investigação dos outros, como parte de delicada operação simultânea de reconhecimento e
um dispositivo de poder na organização colonial- circunscrição, num sutil – mas delicado – equilíbrio,
imperial do mundo. Entre nós, cumpriu-se essa reconhecedor, por assim dizer, da natureza antinô-
missão do estudo do outro magnificamente, mas, mica do real (Velho, 2007a). De qualquer forma,
agora, sob a égide da construção da nação, tanto dentro desses limites realizou-se entre nós um ver-
do lado da produção antropológica, como da sua dadeiro mapeamento da diversidade. Sobretudo a
recepção. Embora, ao contrário do que costumam partir do momento em que a antropologia mudou
fazer os seus teóricos – e também um sensível his- de escala com o desenvolvimento dos programas
toriador da antropologia como George Stocking Jr. de pós-graduação, desde a segunda metade dos
(1982) –, talvez não se deva considerar a constru- anos de 1960, mas, sobretudo, na década seguinte.
ção da nação em oposição absoluta ao colonia- Poderíamos até dizer, com certo exagero, que os
lismo. Dever-se-ia reconhecer não só o efeito do antropólogos neófitos se transformaram em um ver-
colonialismo e da produção colonial de alteridade dadeiro exército, a etnografar tudo minuciosamente
na construção das nações na Europa (inclusive no de um modo que guarda certa semelhança com
estabelecimento das distinções entre raças supe- o movimento narodnik da Rússia no século XIX.
riores e inferiores), mas também, no nosso caso E, além disso, seguindo um modelo extremamente
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uniforme em todo o país e nos diversos centros de atingidos, pois a autoconstrução desses novos per-
pós-graduação, o que também foi sintoma da sua sonagens – espécies de Mr. Hyde da história – ten-
pujança e da capacidade de organização interna, de a nos causar estranheza. Eles vão aos poucos
mas que não deixou de provocar por parte dos encontrando o seu lugar entre os “objetos” antro-
cultivadores de outras disciplinas a acusação de pológicos, embora apresentem desafios de toda
falta de critério de relevância, tal como no caso do ordem – teóricos, metodológicos, políticos, éticos.
meu antigo mestre na velha Escola de Sociologia e Mas seu reconhecimento é ainda muito incipiente
Política da PUC/RJ, Cândido Mendes, ao qual já me por parte do pensamento hegemônico na discipli-
referi. Nada parecia escapar a esse afã mapeador, na – sobretudo como interlocutores, e não ape-
que oferecia à sociedade um (auto)reconhecimen- nas como “informantes”, para lembrar a expressão
to de sua diversidade sob a bandeira do respeito à clássica, hoje sob suspeição. Diante deles, creio
diferença, numa feliz coincidência com valores que que a disciplina apresenta certo mal-estar. Superar
iam se desenvolvendo contemporaneamente e que, esse problema parece-me ser, em síntese, o nosso
em nosso caso, coincidiam também com a inaugu- desafio hoje.
ração de uma nova etapa da sociedade brasileira, O fato é que a diversidade vai transbordando
com a formação da grande frente que lutou contra quaisquer limites de uma unidade dada a priori.
o autoritarismo do regime militar e que prosseguiu Unidade que só aos poucos se explicitara como
no processo da chamada redemocratização. Tudo restrição e essencialização, num curioso retorno
isso, sem dúvida, tem a ver com os primeiros anos a posições identificadas com o ensaísmo anterior
da Anpocs. à pós-graduação erigida a partir do final dos anos
Hoje, porém, talvez pela primeira vez na nos- de 1960 e de que a Anpocs é fruto. Restrição e
sa história, a democracia está consolidada. Não se essencialização num sentido normativo, teleológi-
trata mais de redemocratizar no sentido do retorno co e ético que, muitas vezes, se apresentam no
a um estado ex ante, limitado, sem envolver real caso dos antropólogos em nome da cultura e suas
redistribuição do poder no âmbito do que denomi- variantes.
nei capitalismo autoritário (Velho, 2007b [1976]), Não sei se se trata de uma coincidência ou
mas de prosseguir num processo de democratiza- não, mas aos limites locais do paradigma vem se
ção não limitado a priori, cujos desdobramentos somar, em escala global, por assim dizer, o ques-
não controlamos. Com isso, o papel dos intelectu- tionamento dos conceitos e do vocabulário que,
ais, em geral, aí incluídos cientistas sociais e an- nas ciências sociais, legitimaram esses posiciona-
tropólogos, certamente tende a mudar. Não somos mentos – o próprio conceito de cultura, de so-
mais os mentores da democracia. De um lado, sur- ciedade, de natureza etc. E não se está aqui de
giram outros mediadores e, de outro, os próprios maneira alguma colocando chifre em cabeça de
grupos e movimentos sociais assumiram em larga camarão, como por vezes se sugere quando es-
medida os seus destinos. E nesse processo fomos ses assuntos são levantados: isto tudo está posto
canibalizados. Gosto de lembrar uma reportagem em face de múltiplas determinações, apesar de a
que vi na televisão onde a repórter perguntava a minha resposta pessoal ir mais na direção da ne-
um índio o nome de uma dança que acabara de cessidade de uma desreificação e do reconheci-
ser apresentada, ao que ele respondia que o nome mento daquilo que Gregory Bateson (2000 [1972])
da dança era “O Ritual”. chamava de uma “concretude mal-colocada” (mis-
A meu ver, isto está trazendo sérios proble- placed concreteness) do que do puro e simples
mas de identidade para a nossa “classe”. Proble- abandono desses conceitos. Mas trata-se de um
mas cuja face – tal como para nós se apresenta questionamento que, sem dúvida, nos atinge am-
no caso da antropologia – tem até nomes, como plamente, pois todos nós pagamos um tributo à
neoíndios, índios emergentes, quilombolas, pente- nossa época.
costais, sem terra etc. Não só o paradigma vigente E aos limites do paradigma vem se somar
da construção da nação parece encontrar os seus também o questionamento de estruturas escolares
limites, mas até os limites da idéia de construção que podem correr o risco de – não renovadas –
social, aparentemente tão ortodoxa, parece serem substituírem o desejo de conhecimento por um
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culto virtuoso a um panteão enrijecido, a etno- fundadores, ajudando a vivificar, por sua vez, a
grafia reduzida a ilustrar com mais um caso o que nossa antropologia, as nossas ciências sociais. Que
já se sabe. Pois o pior que pode acontecer é que os nossos antropólogos sejam cada vez melhores.
a reiteração do padrão que hoje encontra os seus Melhores do que nós. Muito obrigado.
limites lhe acrescente um toque fundamentalista e
nostálgico. Uma das manifestações disso tem sido
a idéia de que a perda de referência a essa unida- Bibliografia
de a priori pode levar a um efeito fragmentador, a
uma “balcanização” teórica, política e existencial, BATESON, Gregory. (2000 [1972]), Steps to an eco-
por assim dizer. Creio que essa colocação talvez logy of mind. Chicago/Londres, The Uni-
traia um compromisso com um dever ser que põe versity of Chicago Press.
num plano excessivamente secundário o reconhe-
cimento do que de fato ocorre, um amor fati (para CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. (1966), “A no-
utilizar a expressão nietzschiana) que demanda ção de colonialismo interno na etnolo-
pesquisa e – ao menos para alguns – estóica resig- gia”. Tempo Brasileiro, 4 (8): 105-112.
nação. Nesse plano do dever ser, por sua vez, re- LANDER, Edgardo (org.). (2005), A colonialidade
vela-se uma excessiva timidez no reconhecimento
do saber: eurocentrismo e ciências so-
de novas possibilidades associadas a uma unidade
ciais – perspectivas latino-americanas.
ex post, sempre provisória, que exige esforço, ne-
Buenos Aires, Clacso.
gociação, abdicação de pretensões hegemônicas e
prática política, mas que é possível. Até na forma PEIRANO, Mariza. (1980), “The anthropology of
de um diálogo entre modernidades alternativas – anthropology: the Brazilian case”. Ph. D.
como alternativa a uma oposição entre tradição e thesis. Cambridge: Department of An-
modernidade – na constituição do que já foi de- thropology, Harvard University.
nominado uma transmodernidade (Lander, 2005).
STOCKING JR., George. (1982), “Afterword: a view
Novas possibilidades, inclusive no interior das nos-
from the center”. Ethnos, 47 (1-2): pp.
sas associações – que por vezes refletem os diver-
172-186.
sos grupos sociais relevantes – onde as diferenças
de opinião, agora mais explicitadas, servem como VELHO, Otávio. (2006), “The pictographics of Tris-
um bem-vindo alerta de que ninguém pode sozi- tesse: an anthropology of nation buil-
nho assumir a autoridade disciplinar ou escudar- ding in the tropics and its aftermath”, in
se nela para expressar suas opiniões cidadãs. Gustavo Lins Ribeiro e Arturo Escobar
Como diria o Velho (com v maiúsculo) pá- (orgs.), World anthropologies: discipli-
ra-quedista: a mente é como um pára-quedas, só nary transformations within systems
funciona se estiver aberta. E o mesmo talvez se of power, Oxford/Nova York, Berg, pp.
pudesse dizer das ciências sociais, a acreditar na 261-279.
exortação feita por Immanuel Wallerstein (1996)
no título do relatório da Comissão da Fundação ­­. (2007a), “Epistrophê: do duplo vínculo às antino-
Gulbenkian que ficou conhecida por seu nome: mias e de volta”. Rever – Revista de Estu-
“Abrir as Ciências Sociais”. Tudo isso no âmbito de dos da Religião, ano 7, set., pp. 123-144.
um surpreendente mundo multipolar, que também _________. (2007b [1976]), “Modos de desenvolvi-
se anuncia no espaço da produção intelectual. mento capitalista, campesinato e frontei-
Enfim, esta é a minha opinião e o meu de- ra em movimento”, in _________, Mais
sejo, expressos aqui de modo sintético, como me
realistas do que o rei: ocidentalismo, reli-
parece convir para esta ocasião de celebração. Fi-
gião e modernidades alternativas, Rio de
nalizando, gostaria apenas de saudar mais uma
Janeiro, Topbooks, pp. 77-101.
vez este aniversário da Anpocs, desejando-lhe
vida longa. Vida no seu mais amplo sentido: que a WALLERSTEIN, Immanuel et al. (1996), Para abrir
Anpocs sobreviva para além de nós, seus mortais as ciências sociais. São Paulo, Cortez.
resumos / abstracts / résumés 201

A ANTROPOLOGIA E O BRASIL, ANTHROPOLOGY AND BRAZIL L’ANTHROPOLOGIE ET LE BRÉ-


HOJE TODAY SIL D’AUJOURD’HUI

Otávio Velho Otávio Velho Otávio Velho

Palavras-chave: Anpocs; Antropo- Keywords: Anpocs; Anthropology; Mots-Clés: Anpocs; Anthropologie;


logia; Nação; Modernidade; Alteri- Nation; Modernity; Alterity. Nation; Modernité; Altérité.
dade.

Nas comemorações dos 30 anos da While celebrating the thirtieth anni- Dans le cadre des festivités relati-
Anpocs, o autor rememora os pri- versary of Anpocs, the author recalls ves aux 30 ans de l’Anpocs, l’auteur
meiros tempos da Anpocs e, parti- the starting time of Anpocs, particu- remémore les premiers temps de
cularmente, as vicissitudes em torno larly the vicissitudes surrounding l’Anpocs et, particulièrement, les vi-
da eleição do primeiro presidente the election of its first president co- cissitudes à propos de l’élection du
não oriundo da ciência política. Faz ming from a non-political sciences premier président qui n’était pas du
considerações sobre a relação da background. The relation between domaine des sciences politiques. Il
antropologia com o país, ressaltan- anthropology and the country is aborde des questions sur le rapport
do o papel histórico da disciplina considered, emphasizing the his- entre l’anthropologie et le Brésil,
no esforço de construção da nação torical role of the discipline in the mettant en avant le rôle historique de
e a necessidade, hoje, de se rever endeavor of conceiving the nation cette discipline par rapport à l’effort
este papel para enfrentar o desafio as well as the necessity today of re- de construction de la nation. Il ra-
de atualizar a relação da antropolo- viewing such role in order to face pelle le besoin, actuel, de revoir ce
gia com o país. Acentua, ainda, a the challenge of modernizing the rôle pour faire face au défi de mettre
importância de enfrentar as ques- relation between anthropology and à jour le lien entre l’anthropologie
tões postas pelo colonialismo inter- the country. The author also accen- et le Brésil. Il souligne également
no e pela pressuposição da unidade tuates the importance of fronting the l’importance d’affronter les questions
em detrimento do reconhecimento questions posed by both the internal posées par le colonialisme interne et
pleno das alteridades e dos atores colonialism and the presupposition par la présupposition de l’unité au
coletivos. of the unit in detriment of the com- détriment de la reconnaissance plei-
plete recognition of alterities and ne des altérités et des acteurs col-
collective actors. lectifs.

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