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A Economia de Geodésio
A extração aurífera e dos demais minérios e metais preciosos, ainda que importantes, não
logrou alcançar volumes competitivos quando comparados àqueles obtidos na província das
Minas Gerais, de tal modo que ainda que a Coroa Portuguesa impusesse a Geodesio a
mesma legislação e tributação aplicada à Província do leste, o fato é que o empenho em
instalar estruturas políticas e administrativas para o controle da atividade econômica foi muito
menor no oeste. Tanto que a própria ordem política das novas vilas e cidades nascentes em
Geodésio ficou sob a atenção da província de São Paulo, não de Minas, onde a Coroa
instalou um importante aparato colonial, tão acentuado que produziu diversas revoltas
nativistas, desde o começo do século XVIII, sob a liderança de Felipe dos Santos (1720) até
o final do século com o episódio que resultou na morte de Tiradentes, em 1789. Sete
décadas de luta nativista, tão acentuada era a repressão colonial dedicada à exploração da
mineração. Em Geodésio, esse sentimento de rejeição da exploração colonial não existiu. Na
verdade, o sentimento de defesa da sociedade local contra os usurpadores só existiu no final
do século XIX, com a Guerra do Paraguai, em que os invasores eram aqueles provenientes
de uma pequena sociedade que tentava construir um percurso autônomo de
desenvolvimento, com uma participação surpreendente de indigenas da etnia Guarani, algo
impensável em qualquer das províncias colonias portuguesas ou do Império Brasileiro, do
século XIX, quando a Guerra estourou.
Para esta nova etapa, foram importantes os fluxos migratórios, em certa medida estimuladas
pelos governos da ditadura militar brasileira, com medidas de desapropriação de terras para
efeitos de reforma agrária, regida legalmente pelo Estatuto da Terra e operacionalizada por
intervenções administrativas do INCRA. Nestas migrações, destacou-se a expressiva
quantidade de migrantes dos estados do sul do Brasil, repetindo o desafio enfrentando por
seus ascendentes imigrantes italianos e alemães que haviam desembarcado no Rio Grande
do Sul, Santa Catarina ou Paraná entre o final do século XIX e começo do século XX. Assim
como seus avós e pais, na maioria, estes migrantes tinham por objetivo construir suas vidas
a partir da dedicação à agricultura especialmente.
De um lado, a própria ideologia política sofreu impactos, com o enaltecimento das premissas
segundo qual a propriedade privada e a transmissão intergeracional mediante heranças são
pedras angulares da ordem social. Curiosamente, essa ideologia é pensada como se fosse a
defesa da “livre iniciativa”, mas a contradição inerente ao fato de que os “herdeiros” não
precisaram de nenhuma iniciativa para obterem as riquezas é ocultada. Esse é o discurso da
ideologia capitalista e da sua versão neoliberal. Uma série de omissões e ocultamentos
lógicos de suas contradições inerentes. Outra contradição ocultada é aquela decorrente de
que para a formação dos patrimônios dos ricos, quase sem exceção, houve medidas legais
de reconhecimento jurídicos (“de iuri”) pelos governantes, nem sempre instalados no poder
por regimes políticos democráticos, de condições “de facto”, engendradas por práticas
sociais virulentas, como aquelas da apropriação das terras pelos “bandeirantes” ou por
registros cartoriais fraudados.