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Os Sertões de Euclides da Cunha foi escrito ao longo de quatro anos e publicado

somente em 1902, fruto da cobertura jornalística da Guerra de Canudos (1896-1897) produzido


para O Estado de São Paulo entre agosto e outubro de 1897 quando o autor fora enviado como
correspondente pelo jornal.

Orientado pelas teorias positivistas e cientificistas que chegavam da Europa no século


XIX, (Spencer, Comte, Ludwig Gumplowicz entre outros) Euclides, para compreender a
magnitude da guerra de canudos vai se debruçar no estudo do homem e da natureza.

O livro foi dividido em três partes em diálogo com questões apontadas por Taine 1: A
Terra, O Homem e A Luta. Os trechos selecionados para a leitura e análise se abarcam somente
as partes de O Homem e A Luta.

De forma geral, os trechos escolhidos para a parte de O Homem apresenta os momentos


que Euclides analisa as origens do homem americano e a composição racial do sertanejo,
segundo ele, “a gênese das raças mestiças do Brasil é um problema que por muito tempo ainda
desafiará o esforço dos melhores espíritos”. (Cunha, 1905, p. 65)

Orientado pelas teorias raciais do período, Euclides analisa a guerra como fruto do
conflito entre os povos do sertão e os do litoral, a grosso modo, expressa sua crença na ideia
da inferioridade dos não-brancos e que a história será guiada pelo conflito racial, onde
aconteceria um esmagamento dos fracos pelos fortes.

Os elementos iniciais não se resumem, não se unificam;


desdobram-se; originam número igual de subformações -
substituindo-se pelos derivados, sem redução alguma, numa
mestiçagem embaralhada onde se destacam como produtos mais
característicos o mulato, o mameluco ou curiboca.

O autor glorifica o sertanejo, mas para compor racialmente essa figura ele exclui o
elemento africano, tendo em vista que considera o mestiço do sertão “superior” em relação ao
“mulato” do litoral, Euclides enxerga uma “distinção perfeita entre os cruzamentos realizados
no sertão e no litoral” (Cunha, 1905, p. 92), essa passagem é interessante uma vez que para

1 VENTURA, Roberto. Os Sertões. São Paulo: PUblifolha, 2002, p. 46


Euclides o mestiço do litoral apresenta “raquitismo exaustivo” (Cunha, 1905, p. 115) e faz um
movimento de excluir o elemento africano da composição racial do sertanejo.

Idealiza o sertanejo como fruto do cruzamento entre os indígenas e os bandeirantes


paulistas, Clóvis Moura em Introdução ao Pnesamento de Euclides da Cunha pontua:

Sem pesquisas de campos que confirmassem ou


desmentissem essa afirmativa, o sertanejo passou a ser
estereotipado como um tipo uniforme, que não sofreu nenhuma
influência do negro. Era uma racionalização romântica
adquirindo roupagem científica. O índio, antigo habitante, o
“dono da terra”, tinha de produzir um tipo altivo e forte como o
descrito por Euclides da Cunha. Ele delineou um homem do
interior que não condiz com a realidade. (Moura, 1964, p. 85)

Euclides compreendia o masssacre de Canudos como produto de um isolamento


geográfico e cultural da região, constrói o sertão como um território estrangeiro, “tudo aquilo
era uma ficcção geográfica”. (Cunha, 1905, p. 515).

Em suma, uma passagem que sempre chamou minha atenção é quando Eculides escreve
que o “O sertanejo é antes de tudo um forte”, expressão usada posteriormente em uma série de
práticas discursivas. Euclides exalta o homem sertanejo ao mesmo tempo que o reduz quase a
uma “animalidade”.

Não apenas essa famosa expressão, mas a obra como um todo influenciou na construção
da imagem do sertanejo, e posteriormente do nordestino, cristalizou no imaginário nacional
que o sertanejo é forte, é valente, a natureza reflete-se no homem, uma natureza bruta assim
como o seu habitante. A partir disso é possível pensar uma série de questões como a
masculinidade do homem nordestino onde historicamente essas representações perpassaram
alguns estereótipos ligados à violência e virilidade tendo como expoente a figura do cabra
macho e o ser feminino associados a seriedade e valentia representada na mulher macho.

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