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JOGOS COOPERATIVOS E COMPETITIVOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA

ESCOLAR: PROBLEMATIZANDO CAMINHOS POSSÍVEIS. Geise Mara Souza


da Silva, Janaina Hellen Lima Santos, Márcia Regina Canhoto De Lima, José Milton De
Lima, Joyce Cristina Claro Menoti. UNESP/Presidente Prudente.
geise_souzapv@hotmail.com

Eixo Temático: Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Resumo: Esta pesquisa é fruto de um Trabalho de Conclusão de Curso, que foi


apresentado e aprovado pelo Departamento do curso de Educação Física da Unesp de
Presidente Prudente, no ano de 2012. A pesquisa foi realizada com uma turma do 5° ano
de uma Escola de Ensino Fundamental- Ciclo I, da rede municipal de Ensino de
Presidente Prudente. O interesse nessa pesquisa surgiu a partir da constatação de que os
alunos participantes da investigação eram extremamente competitivos, prejudicando
suas relações no ambiente escolar. Na literatura investigada verificou-se, que a
cooperação é valorizada em detrimento da competição, dessa forma, constatou-se a
necessidade de produzir uma pesquisa que não valorizasse somente uma forma de jogar
em detrimento da outra. Para tanto, foi desenvolvido na sala pesquisada um programa
de dezesseis intervenções, para a análise do comportamento dessas crianças frente aos
jogos propostos. As intervenções feitas junto a EMEF investigada foram apoiadas em
uma educação libertadora defendida por Paulo Freire, pois, tal teoria do conhecimento
pressupõe uma formação crítica e emancipadora. O objetivo principal foi verificar se a
cooperação é hegemonicamente positiva e se a competição é hegemonicamente
negativa.

Palavras-chave: Educação Física escolar. Jogos Cooperativos e Competitivos. Paulo


Freire.

1. Introdução

Este estudo teve como objetivo buscar nos referenciais teóricos e na prática
de intervenção, equilíbrio ao aplicar os jogos cooperativos e competitivos nas aulas de
Educação Física, não valorizando um jogo em detrimento do outro, pois o que se pode
perceber em trabalhos analisados, como os de Orlick (1989) e Brotto (1999) é que os

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jogos cooperativos são muito defendidos e jogos competitivos são combatidos.
Portanto, buscamos proporcionar aos alunos, vivências que unissem a prática
cooperativa e a competitiva, sem negar a competição e introduzindo o jogo cooperativo,
pois os alunos pesquisados ainda não tinham conhecimento e vivências sobre esse tipo
de jogo. Tendo em vista que, os alunos eram extremamente competitivos, os jogos
cooperativos foram utilizados para a inclusão e união entre os alunos durante as
intervenções. A turma pesquisada fez parte de uma das instituições em que o grupo
CEPELIJ (Centro de Estudos, e Pesquisa e Intervenção em Educação, Ludicidade,
Infância e Juventude) atua. O CEPELIJ conta com a participação de docentes e
discentes do curso de Educação Física e Pedagogia da Faculdade de Ciências e
Tecnologia – Unesp- Campus de Presidente Prudente.
Os objetivos principais foram verificar se a cooperação é hegemonicamente
positiva e se a competição é hegemonicamente negativa e, ainda mediar o equilíbrio
entre a competição e a cooperação nas aulas de Educação Física. Os procedimentos
metodológicos foram baseados nos pressupostos freireanos que apontam vivências
significativas e problematizadoras, para formação de cidadãos críticos. A concepção dos
pressupostos freireanos atrelados aos jogos foram de extrema importância para que a
aulas fossem além de simples atividades, produzindo valores para a consciência crítica
da realidade por meio da práxis.

2. Desenvolvimento do tema

Neste início de século, a competitividade exacerbada acirrou ainda mais a


separação entre aqueles que ganham e aqueles que perdem, ou seja, entre os que
dominam e os que são dominados. Dessa forma, a sociedade reproduz valores acerca da
competição que recaem sobre as relações sociais. Para Lima (2008) na sociedade
capitalista, os valores de produção, a exacerbação da competição e do individualismo
predomina frente ao lúdico, à espontaneidade, à criatividade e à cooperação. Com isso,
o jogo também se modificou ao longo da história dos homens.
A competição, assim como a cooperação são valores e atitudes ensinados-
aprendidos através da educação e da cultura (FREIRE, 2001). Isso acontece
principalmente na infância com os jogos e brincadeiras, ou seja, são nas relações sociais
que o sujeito estabelece e cria seus valores, transmitindo para outros indivíduos. Para

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Brown (1994, p.41), “em situação de competição somos menos capazes de ver as coisas
a partir da perspectiva do outro”.
Mead (1961) define a competição como o ato de procurar ganhar o que
outra pessoa está se esforçando para obter, ao mesmo tempo. E, também Brotto (1999),
afirma que a competição é um processo onde os objetivos são mutuamente exclusivos e
as ações são benéficas somente para alguns.
Algumas características do jogo competitivo são a vitória e a derrota, o que
faz parte da essência do jogo. O que não se pode dizer é que todos que perdem se
sentem fracassados e que isso causa desprazer em jogar. Entretanto, a derrota não deve
ser encarada como processo natural, ao pensar que “o importante é competir”, pois os
jogadores podem aprender com seus erros e a partir disto buscar uma melhora em seu
desempenho e relacionamento com o grupo, ou seja, podemos acumular experiência na
competição.
Além de aprender com o ganhar e perder Huizinga (1990) e Callois (1990)
apresentam que na competição, outros valores são exigidos dos jogadores, como por
exemplo, a ética, a honra, o cavalheirismo, e o respeito às regras e aos adversários.
No jogo competitivo, há também situações de conflito, o qual este é
criticado por Brotto (1999) e Orlick (1989), ao afirmarem que as situações conflituosas
aumentam ainda mais a rivalidade entre os participantes do jogo, acentuando momentos
de brigas. Outros autores como Lovisolo (1999) e Muniz (2009) afirmam que é no
conflito que surgem momentos de desenvolvimento social, desta forma os jogadores
debatem problemas que surgem durante o jogo, portanto, nestas ocasiões são
construídas as relações sociais em que o consenso é fundamental. De acordo com
Lovisolo (1999 apud Muniz 2010) p.29:

[...] há conflitos que podem fazer com que as pessoas e os povos


melhorem em vários sentidos; há outros, no entanto, que podem levar
a destruição física e cultural de pessoas e povos. [...] O conflito bom é
aquele que aceita mecanismos históricos de regulação e mudanças.

Além disso, no conflito surge a possibilidade de debates entre jogadores e o


mediador, para que haja uma discussão na resolução de problemas, de sentimentos de
injustiça e de aflições que ser possam ser provenientes de um jogo.
A competição interfere nas relações sociais entre indivíduos e também na
Educação Física escolar. Segundo Correia (2007) por meio de suas atividades
esportivas, essa disciplina consolidou uma visão de que não se pode viver, ou

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sobreviver, sem competição. Dessa forma, criou-se o mito da competição que permeia a
Educação Física escolar, mito esse que acaba perpetuando uma concepção equivocada
de que o aluno precisa aprender a competir para sobreviver às adversidades sociais,
políticas e econômicas da vida lutando contra seus pares. A Educação Física escolar não
pode ter por finalidade o alto rendimento, valorizando os mais aptos, tornando as aulas
um ambiente no qual os sentimentos de fracasso e frustração prevaleçam entre os alunos
que não se destacam em uma competição. É necessário que o professor se mantenha
atento e pratique uma Educação Física que privilegie princípios da criatividade, da
ludicidade, da solidariedade, da inclusão entre outros valores, ou seja, uma Educação
Física para todos.
Brotto (1999, p. 63), afirma que os jogos cooperativos surgiram da
preocupação com a excessiva valorização dada ao individualismo e à competição
exacerbada na sociedade moderna, mais especificamente, na cultura ocidental. Surge
então, a proposta sistematizada dos Jogos Cooperativos, como […] uma das mais
adequadas para o desenvolvimento da cooperação e a superação desse processo de
esportivização e do mito da competição que permeia a Educação Física escolar
(CORREIA, 2007, p. 25).
Os Jogos Cooperativos foram criados com o objetivo de promover, a auto-
estima, juntamente com o desenvolvimento de habilidades interpessoais positivas, onde
os participantes, "jogam uns com os outros, ao invés de uns contra os outros"
(DEACOVE, 1974, p. 01). Salienta Brotto (1999) que estes jogos são para superar
desafios; joga-se para se gostar do jogo, pelo prazer de jogar.
Acresce Brotto (1999), que quando jogamos cooperativamente podemos
enxergar o outro como alguém é importante e tem valor, essencialmente, por ser quem
é, e não pelos pontos que marca ou resultados que alcança, considera-se o outro como
parceiro em vez de adversário. Dessa forma, quando jogamos juntos aperfeiçoamos
nossa vida em comum-unidade. Não obstante, Brotto (1999), nos revela que há
diferenças entre os tipos de jogos cooperativos e competitivos e suas características. Os
jogos cooperativos são: divertidos para todos, todos os jogadores tem um sentimento de
vitória, todos se envolvem independentemente de sua habilidade, aprende-se a
compartilhar e a confiar, entre outros. E os jogos competitivos são: divertidos apenas
para alguns, alguns jogadores tem o sentimento de derrota, alguns jogadores são
excluídos por sua falta de habilidade, aprende-se a ser desconfiado, egoístas ou se
sentirem melindrados com os outros.

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Para trabalhar jogos cooperativos Orlick (1989), indica uma categorização,
sendo essa de total importância para sua inserção nos locais onde se quer trabalhar esse
tipo de jogo, pois quando se acostuma jogar de uma só maneira (como é o caso do jogo
competitivo) faz-se necessário introduzir aos poucos a cooperação, para que seus
participantes não desestimulem, ou estranhem essa maneira de jogar.
As categorias dos Jogos Cooperativos, apesar de serem separadas segundo
Brotto (1999), se relacionam de maneira interdependente. Elas são: jogos cooperativos
sem perdedores; jogos de resultado coletivo e jogos de inversão. A partir desses jogos
cooperativos outros podem ser introduzidos na realidade que cerca o perfil dos
participantes como os Jogos Semi-Cooperativos. A estrutura desses jogos favorece aos
participantes a oportunidade de jogar em diferentes posições como em: todos jogam;
todos tocam/todos passam a bola; todos marcam ponto; todas as posições; passe misto e
resultado misto.
Todavia, trabalhar com uma Educação Física pautada apenas em jogos
cooperativos pode ser arriscado, pois na valorização exacerbada de quem coopera o
professor pode desvalorizar quem compete. Bem como, Lovisolo (2009 apud MUNIZ,
2010, p.149) nos alerta do perigo de exaltar a cooperação “essa postura de valorização e
exaltação daquele que coopera pode gerar competição, conflito, disputa. Seria uma
disputa que privilegiaria o mais apto a cooperar”. Além disso, há pessoas ainda ―[…]
que podem se beneficiar dos efeitos da cooperação sem cooperar. Isto é:

Um aluno pode se beneficiar em um trabalho escolar realizado em


cooperação por seus colegas de grupo, sem que necessariamente
precise cooperar, esses alunos são denominados “caroneiros”, que se
beneficiam sem contribuir. (LOVISOLO, 1999, p. 140).

E, ainda Correia (2007) enfatiza o cuidado que se deve ter para que os Jogos
Cooperativos e, por sua vez, a cooperação não sejam vistos como uma característica de
resignação, modificando os alunos em seres dependentes uns dos outros e sem iniciativa
própria.
Partindo desse pressuposto, é necessário que ao serem aplicadas as
atividades apresentem um equilíbrio entre a cooperação e a competição, para
desenvolver no aluno a possibilidade de realizar as atividades com segurança, sem
preocupação de conquistar vitórias, buscando a superação dos seus próprios limites e
respeito aos amigos. Dessa forma, o aluno terá uma formação integral, pois os jogos
cooperativos e competitivos possibilitam vivências diferenciadas, nas quais o aluno tem

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a oportunidade de vivê-las e aplicá-las em seu cotidiano. Em suma, Muniz (2010)
aponta que talvez seja adequada conciliar a aprendizagem dos Jogos Cooperativos
juntamente com os Jogos Competitivos, no qual o papel do professor é despertar a
participação crítica do aluno, tornando-o capaz de contestar, discordar, interpretar e
compreender as regras do jogo, sem se tornarem submissos e acomodados.
A pesquisa desenvolvida partiu de uma concepção de educação
problematizadora defendida por Freire (1983) em que não existe uma separação rígida
entre educador e educando, ambos fazem parte do processo ensino e aprendizado. A
educação libertadora abre espaço para o diálogo, a comunicação, o levantamento de
problemas, o questionamento e reflexão sobre o estado atual dos acontecimentos que
surgem na sociedade e, acima de tudo, busca a transformação.
As aulas de Educação Física podem possibilitar a abertura de espaços
de diálogo, para a transformação de um espaço de vivências significativas, de
descobertas, de criações, de debates, de produção de conhecimento e, principalmente,
cooperação e reflexão crítica sobre a experiência.

3. Objetivos

Analisar o desempenho das crianças do 5° ano do Ensino Fundamental


ciclo I, frente aos jogos cooperativos e os jogos competitivos; Analisar se a competição
é hegemonicamente negativa e se a cooperação é hegemonicamente positiva nas
situações de jogo; Proporcionar vivências que desenvolvam a criticidade dos educandos
a partir da metodologia adotada; Analisar se os alunos desempenharam equilíbrio frente
a situações competitivas e cooperativas.

4. Metodologia

A metodologia utilizada nesta pesquisa foi uma mesma utilizada nas


intervenções do projeto de extensão do qual fizemos parte como participantes do grupo
CEPELIJ, intitulado: Paulo Freire e a Cultura Corporal de Movimento: Um caminho
possível. A natureza da pesquisa foi qualitativa, caracterizando-se como pesquisa-
intervenção. Esta metodologia amplia as possibilidades de um trabalho compartilhado,
que tem como preocupação central a indissociabilidade entre produção de conhecimento

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e transformação da realidade investigada. Para Portugal (2008, p.18) a pesquisa
intervenção,

[...] não se constitui como uma tecnologia derivada de um


conhecimento purificado a ser aplicado sobre um objeto que se quer
aprimorar ou que sofreu algum desvio de sua forma padrão, mas como
uma opção política diante das formas de dominação em que há
participação de práticas acadêmicas.

Esta pesquisa foi desenvolvida, em uma escola de um Distrito da cidade de


Presidente Prudente e contou com a participação da professora da sala da turma e com
aproximadamente trinta alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, nas idades entre nove
a dez anos. A turma foi selecionada por acreditar que esses educandos já vivenciaram
uma variedade de jogos e trazem consigo possibilidades de ter uma compreensão mais
ampla de suas características cooperativas e competitivas.
Nesta pesquisa, abordou-se na metodologia eixos estruturadores propostos
por Lima (2011), que inspirou-se no “Método Paulo Freire”, desenvolvido no Círculo
de Cultura do Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP). Foram desenvolvidos
cinco eixos estruturadores: mapeamento temático, escolha temática, vivência,
problematização e conscientização, sendo esses incorporados em todas as aulas
ministradas na EMEF investigada.
O primeiro eixo designado foi o mapeamento temático que teve como
enfoque o estudo sobre a realidade a ser investigada. Foram colhidas informações sobre
o contexto social e cultural vivido pelos alunos, por meio de conversa informal e
questionários com perguntas abertas e fechadas, para saber sobre o modo de vida, as
preferências e tudo o que permeia a vida da sala envolvida. Os dados coletados
apontaram que os esportes e os jogos estavam presentes de diversas formas no cotidiano
dos alunos em ambos os gêneros.
O segundo foi à escolha temática. Neste eixo realizou-se a seleção dos
conteúdos a serem trabalhados nas aulas, optou-se pelos jogos a partir dos resultados do
primeiro eixo. Os tipos de jogos escolhidos para vivência foram os de natureza
cooperativa e competitiva.
O terceiro eixo foi à vivência. Neste eixo os alunos tiveram oportunidades
de vivenciar todas as atividades de maneira criativa e autônoma em relação ao seu fazer
corporal. As situações de experimentação e de vivência tiveram como objetivo a
inclusão, a cooperação e a solidariedade. Neste sentido, possibilitou-se que os alunos

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por meio de uma vivência significativa, tivessem uma participação efetiva nas aulas,
pois cada movimento executado pelo aluno é particular e único.
O quarto eixo foi a problematização e foi realizada sem seguir formas
rígidas de execução. Aqui a interlocução do educador foi fundamental, para que o
diálogo a respeito das experiências e conhecimentos trazidos pelos alunos fosse
valorizado, pois se não há diálogo verdadeiro, não há nos sujeitos um pensar verdadeiro,
pensar crítico (FREIRE, 1987). Desta forma, foi problematizado e fomentado o debate,
instigando o pensamento reflexivo que pôde ser realizado, antes, durante e depois das
atividades propostas.
O quinto e último eixo foi à conscientização. A partir da vivência
significativa e da problematização, pretendeu-se verificar de que maneira, as aulas
serviram de suporte para que os alunos pudessem incorporar ao seu estilo de vida os
componentes da cooperação e da competição de maneira ativa, prazerosa e consciente
dos seus limites e possibilidades. Constatou-se a compreensão dos alunos de que é
possível se divertirem, se sentirem parte de um jogo, brincadeira, sem se preocuparem
com o resultado final, pois em muitas atitudes dos educandos foram observadas a
alegria, a diversão, a amorosidade.
Os cinco eixos temáticos foram importantes, pois serviram para criar
vínculos, vivenciar e compreender as dificuldades da prática, trocar informações e
conhecimentos; e favorecer, ainda, a formação de todas as pessoas envolvidas na
pesquisa. Uma tentativa de romper com a Educação Física escolar, excludente,
extremamente competitivista e opressora, dando a oportunidade de todos os alunos
viverem sua corporeidade de maneira completa e solidária.
O programa de jogos foi composto por dezesseis intervenções, que foram
divididas entre oito intervenções de jogos cooperativos e oito jogos competitivos.
Optou-se primeiramente pelos jogos cooperativos, pois foi observado que as crianças
competiam muito e se sentiam desvalorizadas ao perderem um jogo e ainda, muitos
alunos denegriam a imagem de outras crianças, por estas não desempenharem um
“bom” papel em tal atividade. Daí a necessidade de propor os jogos cooperativos, a fim
de aproximar as crianças uma das outras e estas passarem a enxergar e valorizar seus
colegas de turma.
Posteriormente, os jogos competitivos foram vivenciados em forma de
competição individual, para que os alunos pudessem competir com eles mesmos, tendo
em vista que todos os alunos passaram pela mesma situação de jogo, buscou-se o

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entendimento para que eles possam se colocar no lugar no outro e evitarem expor o
próximo a situações desagradáveis. E, por fim a competição coletiva, pois nela o grupo
mesmo competindo se une para atingir os objetivos comuns.

5. Resultados

No ano em que antecedeu a investigação do programa de jogos cooperativos


e competitivos, constatou-se que os alunos da sala pesquisada, eram extremamente
competitivos, ficavam frustrados e desanimados quando perdiam um jogo. Esses
anseios refletiam no seu desempenho na sala de aula, como a professora mesma relatou:
“Os alunos que venceram o jogo ficam debochando dos alunos que perderam, e estes se
sentem mal, e ficam desestimulados até mesmo em fazer atividades de outras matérias”.
Além disso, a sala possuía características relevantes que muitas vezes dificultava o
aprendizado, como: a falta de atenção e concentração, a baixa autoestima e a
inferioridade.
Durante o desenvolvimento da pesquisa, o primeiro tipo de jogo a ser
vivenciado pelos alunos foi o cooperativo e iniciou-se com jogos semi-cooperativos
para que os alunos não estranhassem essa nova maneira de jogar. Estes jogos se
subdividem em todos tocam/todos passam, todos jogam todas as posições, passe misto e
resultado misto. E, também, jogos cooperativos sem perdedores, onde todos jogam
juntos para superar um desafio comum. Houve ainda os de resultado coletivo, no qual a
motivação estava em realizar metas comuns. Por fim os jogos de inversão enfatizaram a
noção de interdependência, no qual os tipos de inversão são rodízio, inversão do
goleador, inversão do placar e inversão total.
Destacam-se aqui alguns dos jogos cooperativos vivenciados nas
intervenções: pega-pega abraço, desenhar nas costas, queimada escudo, futpar, e
também as variações de jogos semi-cooperativos. No início, os alunos apresentaram
dificuldades de entender as regras, e antes de começarem a jogar falavam: “eu não sei,
eu não consigo”, “esse jogo é de competição?”, mas no desenrolar das intervenções
foram percebendo o intuito do jogo e gostaram muito da atividade, pois: “ninguém
perdeu, e é melhor jogar cooperativamente porque todo mundo é vencedor”.
De acordo com o relato das crianças as atividades, bola entre as pernas,
pega-pega hospital e dança da cadeira cooperativa foram muito significativas, pois
criaram estratégias juntos para atingir objetivo final da atividade: “a gente aprendeu a

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ser unido para fazer as coisas”, “o jogo ensinou a gente quando tá em dificuldade tem
que ajudar o outro”, “é importante ajudar o amigo, porque ele também pode ajudar a
gente”.
Um dos métodos utilizados para a coleta de dados foi questionário, com
perguntas abertas e fechadas sobre os jogos cooperativos e os competitivos, que a
professora da sala respondia mensalmente em relação às intervenções e atitudes dos
alunos provenientes das aulas de Educação Física. Segundo a professora, as atividades
proporcionaram uma maior socialização/interação entre os alunos e atitudes de
cooperação e solidariedade foram percebidas em vários momentos. E, ainda percebeu-se
que os alunos se tornaram mais críticos, que expunham seus pontos de vista em relação
aos acontecimentos da aula. A professora enfatizou que as atividades cooperativas os
tornaram mais próximos uns dos outros, respeitaram-se mais e solicitaram mais ajuda.
Em suma, a professora nos revelou que as atividades cooperativas ajudaram em relação
ao problema de falta de atenção que era uma característica fortemente presente da
turma.
Por tudo isso, o clima de tensão em relação às atividades foi amenizado, e a
preocupação com o resultado final foi diminuída. A alegria, diversão, prazer em estar
jogando se faziam presentes, mas não eram em todos os momentos, pois alguns alunos
não apresentaram muitas atitudes de cooperação nos jogos e nas relações interacionais,
e em alguns momentos muitos alunos preferiam jogos competitivos. Por fim, tivemos
como resultado do programa de jogos cooperativos, que a cooperação não é
hegemonicamente positiva, pois alguns alunos não construíram senso de unidade e
também outros, não compartilharam os mesmos sentimentos de vitória, pois ainda
preferiam os jogos competitivos.
O programa de jogos competitivos foi o último a ser trabalhado, para
comparar com as atitudes dos educandos anteriores à pesquisa. Percebeu-se que eles
jogavam com menos receio, ajudavam mais os companheiros do time, criaram
estratégias e não se preocuparam tanto com o resultado final. Os jogos competitivos
foram: nunca três, fechar a porta, pique-bandeira, queimada tradicional, gaviões e
pintinhos, entre outros. Em virtude da problematização feita durantes as aulas, pode-se
perceber que alguns alunos já haviam melhorado a forma exacerbada de competir:
“Perder faz parte”, “um dia a gente ganha outro a gente perde”, “aula passada eu
perdi e essa eu ganhei e não mudou nada”, “perdemos porque faltou união”.

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Em relação ao questionário respondido pela professora referente à
competição as afirmações foram que algumas crianças ainda se frustram por não vencer,
mas logo ficam bem, principalmente quando falam que o importante é se divertir, porém
aprenderam a aceitar melhor as perdas e não se sentirem tão superior caso vençam.
Dado o exposto, ao analisar o desempenho das crianças frente aos
jogos competitivos, constatou-se que a competição não é hegemonicamente negativa,
pois podem ensinar bons valores e muitas vezes, observamos que os alunos se sentiam
felizes pelo o amigo vencer e não necessariamente desejavam a derrota do próximo. E,
ainda percebemos que a competição ensina bons valores dependendo do modo de como
é ensinada; como respeitar as regras do jogo sem querer ganhar a qualquer custo e
aprenderam a lidar com conflitos surgidos nos jogos.
O equilíbrio almejado pela pesquisa, não foi totalmente alcançado,
pois apesar dos alunos terem tido um avanço em relação às atitudes de cooperação e aos
valores éticos da competição, ainda ficavam receosos quando perdiam e nem sempre
cooperavam quando necessário. Mas nem por isso deixaram de avançar enquanto
sujeitos críticos e autônomos, pois em função de uma relação horizontal entre
professoras e alunos, foram se percebendo como parte de uma totalidade, como explicita
a fala de uma aluna: “eu me senti vivendo o jogo”.

6. Conclusão

Dado o exposto, ao analisar o desempenho das crianças frente aos jogos


competitivos, constatamos que a competição não é hegemonicamente negativa, pois
podem ensinar bons valores e muitas vezes, observamos que os alunos se sentiam
felizes pelo o amigo vencer e não necessariamente desejavam a derrota do outro. E,
também notamos que a competição ensina bons valores dependendo do modo de como é
orientada, pois os alunos respeitaram as regras do jogo sem querer ganhar a qualquer
custo e aprenderam a lidar com conflitos ocorridos durante os jogos. O equilíbrio
almejado pela pesquisa, não foi totalmente alcançado, pois apesar dos alunos terem um
avanço em relação às atitudes de cooperação e aos valores éticos da competição, ainda
ficavam receosos quando perdiam e nem sempre cooperavam quando necessário.
As vivências propostas foram muito significativas no entendimento de todos
os participantes dessa pesquisa como; professora, diretora e alunos. Além disso, com a
problematização de questões que foram provenientes das aulas os alunos conseguiram

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visualizar um sentido maior nas vivências, pois o diálogo se fazia presente de uma
forma horizontal e autêntica. Com a conscientização puderam perceber que são sujeitos
capazes de intervir na sua realidade, de maneira crítica e respeitando a opinião do outro.
Neste trabalho, não podemos afirmar que houve equilíbrio ao final do programa de
jogos cooperativos e competitivos, pois os alunos não se tornaram totalmente
cooperativos e não eram em todos os momentos que a alegria, diversão, prazer em estar
jogando se faziam presentes e alguns alunos não tiveram muitas atitudes de cooperação
nos jogos e nas relações interacionais. E, também não podemos afirmar que a
competição os tornou menos individualistas, pois alguns ainda ressentiam quando
perdiam jogos. No entanto, como educadores não podemos desanimar e nem
desacreditar da nossa capacidade de transformação, pois somos seres inacabados em
processo de humanização. Temos que considerar o aluno como um ser que pensa,
sente, ama e que é capaz de criar sua própria história.

7. Referências

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convivência. 1999. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Faculdade de
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