Banco do Bradesco S.A. interpõe recurso extraordinário, com
fundamento na alínea “a” do permissivo constitucional, contra acórdão da Décima Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, assim ementado:
“ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - DECRETO-LEI 911/69 -
RECEPÇÃO PELA CR/88 - CONSIDERAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE APENAS DO § 1º, DO ART. 3º DO DEC.-LEI APÓS A ALTERAÇÃO TRAZIDA PELA LEI 10.931/04 - MANTIDA A POSSIBILIDADE DA CONCESSÃO LIMINAR DA BUSCA E APREENSÃO COM A COMPROVAÇÃO DA MORA - PROVIMENTO PARCIAL DO AGRAVO. (VOTO VENCIDO) - Somente considero inconstitucional no Dec.-Lei 911/69 o § 1º do seu art. 3º, no que tange à consolidação da propriedade e posse plenas nas mãos do credor, sendo o seu caput constitucional, permanecendo possível o requerimento pelo proprietário fiduciário da busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor, sem os efeitos do §1º mencionado. V.v.: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. LIMINAR DE BUSCA E APREENSÃO. INCONSTITUCIONALIDADE E ILEGALIDADE DO ART. 3º, §1º, DO DECRETO-LEI 911/69. ALTERAÇÃO INTRODUZIDA PELA LEI 10.931/04. 1- A alteração introduzida pela Lei 10.931, de 02/08/04, ao art. 3º do Decreto-Lei 911/69, fere, frontalmente, o devido processo legal (art. 5º, LV, da CF), o direito de propriedade (art. 5º, LVI, da CF), além de outras normas constitucionais e infraconstitucionais, pois, instituiu a possibilidade da perda do patrimônio do devedor, sem qualquer manifestação judicial. 2- Desse modo, a concessão da liminar de busca e apreensão é medida temerária. 3- Agravo a que se nega provimento” (fl. 79/80).
Sem contrarrazões (fl. 150), o recurso extraordinário (fls. 125 a 131)
foi admitido (fls. 157 a 159). Alega o recorrente, em suma, que “o comando contido no § 1º do art. 3º do Decreto-lei nº 911/69, fruto na redação conferida pela Lei nº 10.931/04, não ofende os princípios elencados nos incisos LIV e lV, do art. 5º da Constituição Federal” (fl. 130). Decido. Anote-se, inicialmente, que o acórdão recorrido foi publicado em 8/2/06, conforme expresso na certidão de folha 93, não sendo exigível a demonstração da existência de repercussão geral das questões constitucionais trazidas no recurso extraordinário, conforme decidido na Questão de Ordem no Agravo de Instrumento nº 664.567/RS, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 6/9/07. Pelo momento, o apelo extremo não merece trânsito. É que o acórdão recorrido foi proferido em agravo de instrumento contra decisão que indeferiu liminar de busca e apreensão, sob o argumento da inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º do artigo 3º do Decreto-Lei nº 911/69. O Tribunal de origem deu parcial provimento ao recurso para deferir a liminar de busca e apreensão, afastando, contudo, a aplicabilidade do § 1º do artigo 3º do Decreto-Lei nº 911/69 no que diz respeito à consolidação da posse e propriedade plena do bem dado em garantia ao credor fiduciário. Com efeito, aplica-se à hipótese dos autos a disciplina do artigo 542, § 3º, do Código de Processo Civil, que determina a retenção dos recursos especiais e extraordinários interpostos contra decisão interlocutória proferida em processos de conhecimento, cautelar e embargos à execução. Nesse sentido, anote-se:
“RECURSO EXTRAORDINÁRIO - DECISÃO
INTERLOCUTÓRIA - RETENÇÃO. Consoante dispõe o § 3º do artigo 542 do Código de Processo Civil, tratando-se de extraordinário interposto contra decisão interlocutória, ou seja, pronunciamento que não se mostra definitivo - deixando, assim, de pôr termo ao processo, com ou sem julgamento do mérito -, o recurso há de ficar retido, pouco importando a origem da decisão proferida” (AI nº 585.453/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJ de 1/2/08).
“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO RETIDO. ART. 542, § 3º, DO CPC. AFASTAMENTO DA RETENÇÃO. INEXISTÊNCIA DE SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. PROVIMENTO LIMINAR. SÚMULA N. 735. 1. Aplicação do § 3º do art. 542 do CPC, que determina a retenção do recurso extraordinário interposto contra decisão interlocutória aos autos. 2. Ausência de excepcionalidade a ensejar a flexibilização da regra do art. 542, § 3º, do CPC. 3. Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que concede medida liminar. Súmula n. 735 desta Corte. Agravo regimental a que se nega provimento” (AI nº 631.411/RJ-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 17/8/07).
Retenção. Descabimento. Art. 542, § 3º, do CPC. Agravo regimental improvido. Nega-se provimento a agravo regimental tendente a destrancar recurso extraordinário contra decisão interlocutória que não causar prejuízo irremediável ao recorrente” (AI nº 492.751/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Cezar Peluso, DJ de 14/3/06).
A norma do artigo 542, § 3º, do Código de Processo Civil tem por
finalidade jurídico-política impedir a superposição de juízos de delibação e de mérito em órgão jurisdicional de cúpula, quando o processo não se encontra maduro na origem, como é o caso dos autos. Sua pretendida flexibilização, por conseguinte, além de excepcional, deve vir fundamentada, pelo recorrente, em robustas razões, a demonstrar sua necessidade, sob pena de se fragilizar a própria essência dessa figura jurídica, criada por uma das reformas processuais efetuadas em nossa legislação. Ressalte-se, que o recorrente não trouxe aos autos quaisquer fundamentos suficientes para afastar a incidência, in casu, dessa norma. Sobre o tema, em caso análogo ao dos presentes autos: AI nº 583.908/RJ, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 9/3/06. Ante o exposto, suspendo o conhecimento do presente recurso e determino a remessa dos autos ao Tribunal de origem para que proceda a retenção do recurso extraordinário nos autos do processo principal, devendo a parte, caso mantenha o interesse no seu processamento, reiterá-lo no prazo para a interposição de recurso contra a decisão final. Publique-se. Brasília, 23 de fevereiro de 2011.