Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
1 A personagem chama-se George e caminha numa rua longa, mas familiar, uma vez
que é a “rua onde George volta a passar depois de mais de vinte anos” (ll. 3-4).
2.2 As sensações visuais dominam a construção do retrato, tal como se de uma pintura
se tratasse, desde a descrição dos vestidos, “claros, amplos” (l. 9), ao seu movimento e à
composição do rosto, “vago e sem contornos” (l. 12), “pincelada clara” (ll. 12-13), “mancha
pálida” (l. 16), “olhos largos” (l. 20) e “pescoço alto” (l. 21). Existe também o recurso à
sensação auditiva na referência à voz “real e viva” (l. 17).
4. Ironia, uma vez que pretende evidenciar as diferenças culturais entre George, que
era conhecedora de literatura, cinema e pintura, e os seus pais, que ela considera quase
ignorantes, o que acaba por influenciar a sua decisão de partir.
6. George desloca-se à vila após a morte dos pais, para vender a casa que herdou. Esta
ação originou o reencontro da mulher adulta com a jovem que foi no passado (“cujo nome
quase quis esquecer, quase esqueceu”, ll. 8-9), mas de quem nunca se tinha libertado
(guardou sempre a sua fotografia), o que acabará por suceder agora, já que o frágil elo que
ainda a ligava ao passado (a casa) se quebrou, afastando por completo Gi (“o esquecimento
desceu sobre ambas”) e o espaço natal (“Árvores, casas e mulher acabam agora mesmo de
morrer”, ll. 123-124).
7.1 Ambos ambicionam coisas diferentes da vida. Carlos pretende “criar” raízes na vila;
construir uma casa, o que poderá ser entendido com obtenção de estabilidade e fixação ao
local. Gi, por seu lado, pretende ver o mundo, partir, vontade que não concretizará se tiver a
casa; por isso, vive em casas arrendadas, não estando presa a pormenores: a casa alugada é a
certeza de “rua nova à espera dos seus pés” (l. 48).
11. As três fases da vida humana aparecem fragmentadas e são corporizadas pela
memória e pela imaginação, estando representadas no nome que a personagem vai
assumindo ao longo dos tempos: Gi, uma jovem de 18 anos, repleta de sonhos e de projetos,
que anseia abandonar a terra natal para os cumprir. George, adulta, no apogeu da vida, tem 45
anos, pintora bem-sucedida, “já com nome nos marchands das grandes cidades da Europa”,
mulher independente a todos os níveis – financeiro, profissional, amoroso. Georgina,
precursora do futuro de George, antevendo os temores emocionais, anuncia a solidão (“vivo
tão só”) e o envelhecimento físico.
12. A viagem física de George dá origem a uma viagem interior. Desta forma, por um
lado, dá-se o reencontro com o seu passado e a revisitação, através da memória, desse tempo
e dos sonhos que a povoavam e a impeliam a partir; por outro, através de uma idealização, é
possível antever o envelhecimento físico e a solidão causadas pelo desprendimento emocional
em que George vive. Comprova-se, assim, prevalência do espaço psicológico.