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Sermão nº 03
Ministrado na manhã do domingo de 4 de janeiro de 1855, pelo
Rev. C. H. Spurgeon, na Capela da
New Park Street, Southwark, Londres, Inglaterra
“Aquele capitão respondera ao homem de Deus: Ainda que o SENHOR fizesse janelas no
céu, poderia suceder isso, segundo essa palavra? Dissera o profeta: Eis que tu o verás com
os teus olhos, porém disso não comerás”. ━ 2 Reis 7:19
Um sábio pode livrar uma cidade inteira; um justo pode ser segurança para milhares de
outras. Os santos são “o sal da terra”, o meio de preservação dos perversos. Sem aqueles
que temem a Deus para conservá-la, a raça humana seria totalmente destruída. Na cidade
de Samaria havia um homem temente a Deus — Eliseu, o servo do Senhor. Toda piedade
fora extinta da corte. O rei era um pecador da pior espécie, sua iniquidade era flagrante e
infame. Jeorão andava nos caminhos de seu pai, Acabe, e tinha feito para si falsos deuses.
O povo de Samaria estava caído como seu monarca: eles tinham se afastado de Jeová;
tinham abandonado o Deus de Israel; não mais se lembravam do lema de Jacó: “o Senhor
teu Deus é o único Deus”; e, em vil idolatria, tinham se dobrado aos deuses dos ímpios; por
isso, o Senhor dos Exércitos os entregou à opressão de seus inimigos até a maldição de
Ebal se cumprir nas ruas de Samaria, pois “a mais mimosa das mulheres e a mais delicada
do teu meio, que de mimo e delicadeza não tentaria pôr a planta do pé sobre a terra”,
olhava com maldade para seus próprios filhos e devorava sua descendência por causa da
fome extrema (Dt. 28:56-58). Nessa situação terrível, aquele único santo foi o meio de
salvação. Aquele único grão de sal preservou toda uma cidade; aquele único guerreiro de
Deus foi o meio para livrar todo um povo sitiado. Por amor a Eliseu, o Senhor prometeu que,
no dia seguinte, o alimento que não poderia ser comprado por qualquer preço seria
adquirido por preço insignificante — à porta de Samaria. Podemos imaginar a alegria
daquela multidão quando ouviu o vidente fazendo esta predição. Eles sabiam que ele era
profeta do Senhor; ele tinha as credenciais divinas; todas as suas profecias anteriores
tinham se cumprido. Eles sabiam que ele era um homem enviado por Deus e que
proclamava a mensagem de Jeová. Com certeza, os olhos do monarca brilhavam de prazer,
e a multidão esfomeada dava pulos de alegria ante a perspectiva de se ver livre da fome
com tanta rapidez. “Amanhã”, gritavam, “amanhã nossa fome será saciada e faremos uma
grande festa”.
Nesta manhã, quero chamar sua atenção para duas coisas — o pecado do homem e
seu castigo. Talvez eu fale um pouco sobre este homem, já que tenho os detalhes das
circunstâncias, mas o foco será o pecado da incredulidade e sua punição.
E então, finalmente, a incredulidade atinge a perfeição, e vemos como ela realmente é, pois
sua menor forma é da mesma natureza da maior.
Fico surpreso e, com certeza vocês também ficarão, quando lhes disser que há
algumas pessoas esquisitas neste mundo que não acreditam que incredulidade é pecado.
Eu as chamo de esquisitas porque são sadias na fé em todos os outros aspectos, mas, para
tornar consistentes os artigos da sua confissão de fé, como imaginam, negam a
pecaminosidade da incredulidade. Lembro-me de um jovem que entrou numa roda de
amigos e ministros que discutiam sobre se quem não acredita no evangelho tem pecado.
Enquanto debatiam, o rapaz lhes disse: “Cavalheiros, estou na presença de cristãos? Vocês
acreditam na Bíblia, ou não”? Eles responderam: “Sim, somos cristãos, é claro”. “Então”,
disse ele, “a Escritura não diz do pecado: ‘porque não creram em mim’? E o pecado não
condena os pecadores porque não acreditam em Cristo”? É difícil acreditar que haja
pessoas tão tolas a ponto de dizer que “não é pecado um pecador não crer em Cristo”. Por
mais que queiram valorizar seus sentimentos, não dá para imaginar que possam dizer uma
mentira para sustentar uma verdade e, em minha opinião, é exatamente isso o que elas
estão fazendo. A verdade é uma torre poderosa e jamais terá necessidade de ser apoiada
pelo erro. A Palavra de Deus se opõe a todo artifício humano. Eu nunca inventaria um
sofisma para provar que não é pecado o ímpio não crer, pois tenho certeza de que é,
quando as Escrituras me ensinam: “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os
homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más” (Jo. 3:19), e
quando leio: “o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho
de Deus”. Eu afirmo, e a Palavra de Deus declara: a incredulidade é pecado, sim!
Certamente, para pessoas racionais e imparciais, não é preciso uma discussão para provar
esse ponto. Por ventura, não é pecado uma criatura duvidar da palavra de quem o fez? Não
é um crime e insulto à Divindade que eu, um átomo, um grãozinho de pó, ouse negar Suas
palavras? Não é o cúmulo da arrogância e do orgulho um filho de Adão dizer, mesmo no
seu íntimo: “Deus, duvido da tua graça; duvido do teu amor; duvido do teu poder”? Ah,
cavalheiros, creiam-me, mesmo que todos os pecados — assassinato, blasfêmia, luxúria,
adultério, fornicação, e tudo o que há de mais abjeto — sejam unidos numa única e vasta
bola negra de corrupção, ainda assim isso não é igual ao pecado da incredulidade. A
incredulidade é a rainha de todos os pecados, a quintessência da culpa, a mistura do
veneno de todos os crimes, a borra do vinho de Gomorra, o pecado acima de todos os
outros pecados, a obra-prima de Satanás, o trabalho de mestre do diabo.
Nesta manhã, portanto, tentarei mostrar por alguns momentos a terrível natureza do
pecado da incredulidade.
2. Mas, em segundo lugar, a incredulidade não apenas gera o pecado, ela também o
fomenta. Como podem os homens continuar em seus pecados sob o trovejar do pregador
do Sinai? Como, quando um Boanerges está atrás do púlpito e, pela graça de Deus,
1
Phaeton era filho de Hélios [deus do sol] e da ninfa Climene. Um dia o pai lhe entregou as rédeas
do carro do sol e ele aproximou-se tanto da Terra que criou um enorme incêndio, dando o fogo ao
homem. Zeus fulminou-o com um raio, e Phaeton precipitou-se sobre o rio Eridano [rio Pó].
vocifera: “maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da
lei” — como, ao ouvir as terríveis ameaças da justiça de Deus, pode o pecador continuar
endurecido e andando em seus maus caminhos? Vou lhes dizer: é por causa da
incredulidade, que impede as ameaças de surtirem efeito sobre ele. Quando nossos
sapadores (soldados que abrem trincheiras) e mineiros vão para Sebastopol, não podem
trabalhar defronte os muros se não tiverem alguma coisa para protegê-los dos tiros; por
isso, eles levantam trincheiras, atrás das quais podem fazer o que quiserem. Com os ímpios
acontece a mesma coisa. O diabo lhes dá incredulidade e eles a usam como trincheira para
se esconder atrás dela. Ah, pecadores, quando o Espírito Santo derrubar sua incredulidade
— quando Ele trouxer à tona a verdade, em demonstração e poder, como a lei irá fustigar a
sua alma! Se pelo menos o homem cresse que a lei é santa, e os mandamentos santos,
justos e bons, seria sacudido sobre a boca do inferno e não haveria tanta gente
esquentando banco e dormindo na casa de Deus; não haveria ouvintes desatentos; nem
pessoas indo embora e logo se esquecendo de como é a natureza humana. Ah, uma vez
expulsa a incredulidade, os canhões de artilharia da lei atacariam o pecador e seriam
muitos os mortos da parte do Senhor. Além do mais, como os homens podem ouvir o
convite da cruz do Calvário e não vir a Cristo? Como é que, quando falamos sobre os
sofrimentos de Jesus e concluímos dizendo: “ainda há tempo”; quando falamos sobre a cruz
e a paixão de Cristo, não há quebrantamento no coração das pessoas? Dizem que
Creio que a história do Calvário é suficiente para arrebentar uma rocha. As pedras
realmente se partiram ao ver a morte de Jesus. Creio que a tragédia do Gólgota é suficiente
para fazer até uma pedreira romper em lágrimas e o mais duro pecador chorar de
arrependimento; no entanto, mesmo falando e repetindo isso muitas e muitas vezes, quem
se preocupa? Quem se importa? Cavalheiros, vós vos sentais aí despreocupados, como se
isso não tivesse nenhum significado para vós. Ora, olhai e vede tudo que tendes ignorado.
A morte de Jesus não vos diz nada? Vós pareceis dizer: “Não, nada”. Por quê? É porque há
incredulidade entre vós e a cruz. Se não houvesse esse espesso véu entre vós e os olhos
do Salvador, seríeis derretidos pelo Seu olhar de amor. A incredulidade é o pecado que
impede o poder do evangelho de trabalhar na vida do pecador: só quando o Espírito Santo
quebra essa incredulidade — só quando o Espírito Santo acaba com essa infidelidade e
coloca tudo abaixo — é que podemos ver o pecador se aproximar e depositar sua confiança
em Jesus.
A fé alimenta cada virtude; a incredulidade mata todas elas. Milhares de orações são
estranguladas ainda no embrião pela incredulidade. A incredulidade é culpada de
infanticídio; ela tem aniquilado muitas súplicas infantes; muitas canções de louvor, que
teriam embelezado o coro dos céus, têm sido sufocadas por um murmúrio incrédulo; muitas
nobres iniciativas, concebidas no coração, têm sido destruídas pela incredulidade antes
mesmo de nascer. Muitas pessoas teriam sido missionárias, teriam resistido e pregado com
ousadia o evangelho do Mestre, não fosse sua incredulidade. Uma vez que um gigante
perde a fé, ele se torna um anão. A fé é o cabelo de Sansão do cristão; quando cortado,
seus olhos podem ser vazados — e ele não pode fazer nada.
Sabiam também que a incredulidade deixou Moisés e Arão fora de Canaã? Eles não
deram glória a Deus; bateram na rocha quando deveriam ter falado com ela. Eles não
acreditaram: por isso, o castigo caiu sobre eles, eles não herdaram aquela boa terra, pela
qual tanto tinham lutado e trabalhado.
Deixem-me levá-los até onde Moisés e Arão estavam — no vasto e árido deserto.
Vamos caminhar por lá durante algum tempo; filhos de pés cansados, seremos como os
beduínos errantes e andaremos pelo deserto por alguns momentos. Eis uma ossada
embranquecida pelo sol; outra ali e mais outra acolá. O que significam esses ossos secos?
Que corpos são esses — de um homem, de uma mulher? E todos aqueles outros? Como
vieram parar aqui? Com certeza, algum magnífico acampamento esteve aqui e foi varrido
durante a noite por uma ventania, ou por um derramamento de sangue. Ah, não! Não pode
ser! Esses ossos são do povo de Israel; são os esqueletos das antigas tribos de Jacó. Eles
não puderam entrar em Canaã por causa da sua incredulidade. Não confiaram em Deus. Os
espias disseram que eles não podiam conquistar a terra. A incredulidade foi a causa da sua
morte. Não foram os anaquins que destruíram Israel; não foi a aridez do deserto que os
consumiu; não foi o Jordão que se tornou uma barreira; muito menos os heveus ou
jebuseus; foi única e exclusivamente a incredulidade que os manteve do lado de fora de
Canaã. Que sentença foi pronunciada sobre Israel, depois de quarenta anos andando pelo
deserto: não puderam entrar por causa da sua incredulidade!
Sem me deter em muitos exemplos, vamos nos lembrar também de Zacarias. Ele
duvidou e o anjo o deixou mudo. Sua boca foi fechada porque ele não acreditou. Contudo,
se quiserem ter a pior imagem dos efeitos da incredulidade — se quiserem ver como Deus
a castiga, preciso levá-los ao cerco de Jerusalém, o pior massacre de todos os tempos,
quando os romanos derrubaram suas muralhas e mataram os habitantes ao fio da espada,
ou os venderam no mercado de escravos. Já ouviram falar da destruição de Jerusalém pelo
imperador Tito? Conhecem a tragédia de Massada, quando os judeus mataram uns aos
outros a facadas para não cair nas mãos dos romanos? Sabiam que até hoje2 eles andam
errantes pela terra, sem lar e sem pátria? Eles foram cortados, como um ramo é cortado da
videira; e por quê? Por causa da sua incredulidade. Quando virem um judeu de semblante
triste e sombrio — quando notarem que ele é natural de outro país, andando como exilado
em nossa pátria — quando o virem, parem e digam: “Ah, foi a incredulidade que te fez
matar a Cristo, e agora te leva a andar como errante; e somente a fé — a fé no nazareno
crucificado — pode te devolver à tua pátria, e restaurá-la à sua antiga grandeza”. Vejam, a
incredulidade tem na testa a marca de Caim. Deus a odeia; Ele tem desferido duros golpes
contra ela e, um dia, vai acabar com ela de uma vez por todas. A incredulidade desonra a
Deus. Todos os outros crimes tocam nas coisas de Deus, mas a incredulidade atinge a Sua
divindade, contesta a Sua veracidade, nega a Sua bondade, blasfema contra os Seus
atributos, mancha o Seu caráter; por isso, de todas as coisas, a que Deus mais odeia é a
incredulidade, seja ela qual for.
2
Século XIX, época em que Spurgeon pregou este sermão. O estado de Israel foi criado em 1948.
estiver cortada em pedaços exatamente iguais, e não for colocada no seu prato de
porcelana favorito, eles não a comem. Por isso, saem sem nada, e vão sair até ficarem
anêmicos. Eles passarão por aflições, as quais agirão como remédio amargo, e serão
obrigados a comer com um gosto horrível na boca; ficarão na prisão por um dia ou dois até
seu apetite voltar e, então, quando voltarem a comer, se satisfarão até com o alimento mais
comum, servido no prato mais simples, ou até mesmo sem prato. No entanto, a verdadeira
razão pela qual o povo de Deus não se alimenta com o ministério do evangelho é porque
eles não têm fé. Quando se crê, mesmo não havendo promessa alguma, isso é suficiente;
quando se ouve apenas uma coisa boa vinda do púlpito, isso se torna alimento para a alma,
pois não é o quanto se ouve, mas o quanto se crê que faz bem para nós — é o que
recebemos em nosso coração com fé viva e verdadeira, este é o nosso benefício.
No entanto, cavalheiros, o pior ainda está por vir! O grande George Whitefield às
vezes costumava levantar as mãos e bradar, como eu poderia fazer, mas me falta voz: “A
ira vindoura! A ira vindoura!” Não é a ira de agora que vocês devem temer, mas a ira
vindoura; e haverá destruição quando “vires com os teus olhos, porém disso não comereis”.
Posso até ver aquele último grande dia. A hora da última badalada. Ouço o sino tocando
sua melodia fúnebre — o tempo acabou, a eternidade chegou; o mar está agitado, as ondas
se elevam com esplendor sobrenatural. Vejo um arco-íris — uma nuvem passando, e nela
há um trono, e no trono está assentado um semelhante ao Filho do Homem. Eu o conheço.
Ele tem uma balança na mão; bem diante dele estão os livros — o livro da vida, o livro da
morte, o livro da lembrança. Vejo Seu esplendor e me regozijo nEle; olho Sua aparência
majestosa e sorrio cheio de júbilo, pois Ele vem para ser “admirado por todos os santos”.
Mas, eis ali uma multidão de miseráveis, encolhendo-se repulsivamente, tentando se
esconder, e ainda assim olhando para Ele, pois seus olhos não conseguem se desviar
dAquele a quem traspassaram; mas quando olham, eles gritam “Esconde-nos da face”. Que
face? “Rochas, escondam-nos da face”. Que face? A face de Jesus, o homem que morreu,
mas que agora vem para julgar. Contudo, não podeis vos esconder da Sua face; precisais
ver com os vossos olhos: porém não vos assentareis à Sua direita, vestidos com vestiduras
magníficas; e quando o cortejo triunfal de Jesus vier por entre as nuvens, não marchareis
com Ele; vós o vereis, mas não estareis lá. Oh, agora me parece que vejo o poderoso
Salvador em Sua carruagem, cruzando o firmamento num arco-íris. Vejam como o trotar de
seus corcéis faz estremecer o céu, enquanto Ele os dirige por suas colinas. Uma comitiva
cingida de branco segue após Ele, e sob as rodas da Sua carruagem Ele arrasta o diabo, a
morte e o inferno. Ouçam como aplaudem. Ouçam como proclamam em alta voz: “Quando
ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro” (Efésios 4:8). Ouçam como cantam com
solenidade: “Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso” (Apocalipse 19:6).
Vejam o esplendor da sua aparência; atentem para a coroa nas suas frontes; observem
suas vestes alvas como a neve; reparem no êxtase do seu semblante, ouçam como seus
cânticos sobem ao céu enquanto o Eterno Se une a eles, dizendo a cada um: “Deleitar-Me-
ei em ti com alegria; regozijar-Me-ei em ti com júbilo; desposar-te-ei comigo para sempre
com benignidade eterna”. E onde estais vós esse tempo todo? Podeis vê-los lá em cima,
mas onde estais vós? Vendo com vossos olhos, mas sem poder comer de tudo aquilo. O
banquete de casamento é imenso; as garrafas dos bons vinhos envelhecidos da eternidade
são abertas; todos se assentam para festejar com o rei; mas lá estais vós, miseráveis e
famintos, sem poder comer. Ah, como torceis as mãos em desespero. Se pelo menos
tivésseis uma migalha — seríeis como os cachorrinhos debaixo da mesa de seus donos. No
entanto, vós sereis cães no inferno, nunca no céu.
Para concluir. Parece-me ver-te em algum lugar do inferno, preso a uma rocha, e o
abutre do remorso consumindo teu coração; e lá em cima, Lázaro no seio de Abraão. Tu
levantas os olhos e vês quem é: “É aquele pobre que ficava no meu monte de lixo e os cães
vinham lamber-lhe as feridas; ei-lo lá no céu, enquanto eu estou aqui aflito. É Lázaro, sim, é
ele; e eu, que era rico em vida, agora estou aqui no inferno. Pai Abraão, ‘manda a Lázaro
que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua’”. Só que não é assim! Não
pode ser assim, não pode! Se existir no inferno alguma coisa pior que todas as outras será
a visão dos santos no céu. Dói só de pensar em ver minha mãe no céu enquanto sou
banido! Ó, pecador, pensa bem, ver teu irmão no céu — aquele que foi embalado no
mesmo berço que tu e que brincava sob a mesma copa das árvores — enquanto tu és
banido. Marido, lá está tua esposa no céu, e tu entre os condenados ao inferno. Vês, pai, o
teu filho diante do trono? E tu? Maldito de Deus e maldito dos homens, estás no inferno. Ah,
o inferno dos infernos será ver nossos amigos no céu e nós mesmos perdidos. Rogo-vos,
meus ouvintes, pela morte de Cristo — pela Sua agonia e pelo Seu sangue — pela Sua
cruz e pela Sua paixão — por tudo que é santo — por tudo que é sagrado no céu e na terra
— por tudo que é solene no tempo e na eternidade — por tudo que é horrível no inferno, ou
glorioso no céu — por aquele terrível pensamento, “para sempre” — rogo-vos que guardeis
estas coisas no vosso coração, e vos lembreis, se fordes condenados, de que foi a
incredulidade que vos condenou. Se vos perderdes, será por não terdes crido em Cristo; e
se perecerdes, esta será a gota mais amarga de fel: não crestes no Salvador.
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