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Introdução - A Importância da provocando, portanto, a corrosão de


João Ricardo Quintal
história da ciência no uma riqueza americana sem igual. [1,
Colégio Pedro II e CEFET,
aprendizado de física p. 556]
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
No intuito de resolver tal crise, alguns
E-mail: joaoricardoquintal@yahoo.com.br

É
notório verificar que a história da países como a Inglaterra e os Estados Uni-
ciência vem ganhando espaço nas dos implementaram novos programas
Andréia Guerra
últimas décadas nos livros-texto de educacionais, tais como, o novo Currículo
CEFET, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
todos os níveis. Porém, qual será o motivo Nacional Britânico de Ciências e o projeto
E-mail: amoraes@cefet-rj.br
dessa tendência? Em relação aos outros 2061 (da Associação Americana para o
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
países, existe a preocupação de introduzir Progresso da Ciência - AAAS), respectiva-
a história da ciência mente. Embora de
nos seus currículos? Nas últimas décadas, houve naturezas distintas, os
Quais as relações en- iniciativas significativas de dois projetos, entre
tre a história da ciên- aproximação entre a história da outras determinações,
cia e as diretrizes edu- ciência e o ensino das ciências. englobaram propostas
cacionais em nosso Essa tendência é bastante que visam ao enga-
país? O que os pes- oportuna devido à crise do jamento da história,
quisadores em educa- ensino contemporâneo de da filosofia e da socio-
ção falam sobre a his- ciências, evidenciada pela logia (HFS) ao ensino
tória da ciência e o en- evasão de alunos e de de ciências nos cursos O artigo descreve uma pesquisa sobre a rele-
sino? Enfim, quais professores das salas de aula de ensino fundamen- vância da implementação da história da ciência,
são as vantagens e bem como pelos índices tal e médio. Porém, como agente influenciador no processo de ensi-
desvantagens da in- assustadoramente elevados de essas recomendações no-aprendizagem dos conteúdos do eletromag-
serção da história da analfabetismo em ciências não se tratam de uma netismo no ensino médio. Um curso, de caráter
ciência no processo de mera inclusão da HFS, histórico-filosófico-sociológico, utilizou a histó-
ensino-aprendizagem de ciência? como sendo mais um item do programa ria da ciência como eixo condutor e apresentou
a evolução do pensamento científico no estudo
Nas últimas décadas, houve inicia- do estudo das ciências, mas trata-se de
do eletromagnetismo, desde as principais desco-
tivas significativas de aproximação entre uma incorporação mais rica e abrangente bertas sobre os fenômenos elétricos e magnéticos
a história da ciência e o ensino das ciências. das questões históricas, filosóficas e da Antiguidade Clássica até o conceito de campo
De acordo com Michael Matthews, essa é sociológicas que permearam a construção criado por Maxwell em meados do século XIX.
uma tendência bastante oportuna, devido da ciência. Para Matthews, essa iniciativa A sua elaboração foi norteada pelos Parâmetros
“à crise do ensino contemporâneo de ciên- é bastante frutífera, pois: Curriculares Nacionais (PCN’s) de física para o
cias, evidenciada pela evasão de alunos e A história, a filosofia e a sociologia da ensino médio e apresentou a história da ciência
de professores das salas de aula bem como ciência não têm todas as respostas para de forma contextualizada, através de uma meto-
dologia elaborada, mesclando experimentos com
pelos índices assustadoramente elevados essa crise, porém possuem algumas de-
a teoria. Nesse sentido, o eletromagnetismo foi
de analfabetismo em ciências” (Matthews, las: podem humanizar as ciências e discutido a partir da construção, pelos alunos,
1995). Esse distanciamento da ciência é aproximá-las dos interesses pessoais, de experimentos históricos como o versorium de
corroborado com dados oficiais norte- éticos, culturais e políticos da comu- Gilbert, a garrafa de Leyden, a pilha de Volta, os
americanos, nos seus programas de for- nidade; podem tornar as aulas de ciên- experimentos de Oersted, de Ampère e os de in-
mação de professores: cias mais desafiadoras e reflexivas, dução de Faraday. O objetivo desse trabalho foi
A Fundação Nacional Americana de permitindo deste modo, o desenvolvi- o de levantar questões a respeito do desenvolvi-
Ciências denunciou que os programas mento do pensamento crítico; podem mento do eletromagnetismo e motivar os alunos
acerca das questões científicas abordadas em sala
dos cursos de graduação em Ciências, contribuir para um entendimento mais
de aula. Ao longo do projeto, os resultados da
Matemática e Tecnologia existentes no integral da matéria científica, isto é, pesquisa sobre a inserção da história da ciência
país tiveram seu escopo e qualidade podem contribuir para a superação do são relatados e avaliados através de uma abor-
reduzidos a tal ponto que não mais cor- “mar de falta de significação” que se dagem qualitativa e quantitativa, avaliando o
respondem às necessidades nacionais; diz ter inundado as salas de aula de seu impacto sobre os alunos.

Física na Escola, v. 10, n. 1, 2009 A história da ciência no processo ensino-aprendizagem 21


ciências, onde fórmulas e equações são no estudo didático dos resultados cien- conscientização se deveu principalmente
recitadas sem que muitos cheguem a tíficos (conforme apresentados nos aos trabalhos de Jean Piaget, aos quais
saber o que significam; podem melho- livros-texto de todos os níveis). Os Martins resume da seguinte maneira:
rar a formação do professor auxiliando livros didáticos enfatizam os resultados Os educandos não são uma “tábua ra-
o desenvolvimento de uma epistemo- aos quais a ciência chegou - as teorias sa” [5]. Trazem consigo certas estrutu-
logia da ciência mais rica e mais autên- e conceitos que aceitamos, as técnicas ras operatórias mais ou menos desen-
tica, ou seja, dar uma maior compre- de análise que utilizamos - mas não volvidas, de acordo com seu estágio
ensão da estrutura das ciências bem co- costumam apresentar alguns outros cognitivo; e também trazem certas
mo do espaço que ocupam no sistema aspectos da ciência. De que modo as concepções que, em geral, conflitam e
intelectual das coisas. [2] teorias e os conceitos se desenvolvem? resistem à sua substituição pelas con-
Ao relacionar essa situação de refor- Como os cientistas trabalham? Quais cepções da ciência atual. Essas con-
mulação da educação, as ideias que não cepções prévias (anteriores ao ensino
em alguns países de- “A história da ciência não pode aceitamos hoje em científico sistemático) não podem ser
senvolvidos e no Bra- substituir o ensino comum das dia e que eram acei- apagadas ou ignoradas. Se elas não
sil, é possível verificar ciências, mas pode tas no passado? forem reconhecidas e gradativamente
que ela trouxe conse- complementá-lo de várias Quais as relações en- transformadas nas outras, podem con-
quências também ao formas. O estudo adequado de tre ciência, filosofia tinuar a existir, paralelamente às con-
nosso sistema educa- alguns episódios históricos e religião? Qual a cepções científicas impostas pelo pro-
cional, pois essa crise permite compreender as inter- relação entre o de- fessor, interferindo constantemente
que levou os Estados relações entre ciência, senvolvimento do com sua efetiva compreensão, aceita-
Unidos e vários outros tecnologia e sociedade...” pensamento cientí- ção e aplicação [4].
países da Europa a fico e outros desen-
Tanto para Matthews quanto para
reformularem suas diretrizes educacionais volvimentos históricos que ocorreram
Martins, a história da ciência pode auxiliar
na década de 80, também obrigou os paí- na mesma época? [4]
no processo da mudança conceitual dos
ses subdesenvolvidos a rever seus concei-
Embora de maneira lenta e às vezes alunos. Matthews argumenta sua posição
tos educacionais, sendo este um dos fato-
superficial, é possível detectar uma peque- através da epistemologia genética de Piaget
res condicionantes para o envio de verbas
na tendência de inclusão da história da [6], destacando o seguinte trecho do citado
pelo Banco Mundial. Dentro deste contex-
ciência nos diversos materiais didáticos em livro: “A hipótese fundamental da episte-
to, o Brasil formulou os Parâmetros Cur-
nosso país, o que na opinião de Martins, mologia genética é de que existe um para-
riculares Nacionais, onde foram estabele-
é algo positivo, pois: “a história da ciência lelismo entre o progresso alcançado na
cidas algumas regras a serem seguidas,
não pode substituir o ensino comum das organização lógica e racional (história da
tais como: ênfase na interdisciplinaridade,
ciências, mas pode complementá-lo de ciência) e os processos psicológicos forma-
ligação com o cotidiano, desenvolvimento
várias formas. O estudo adequado de al- tivos correspondentes” (p. 13). Enquanto
de competências (como, por exemplo, a
guns episódios históricos permite compre- Martins defende que “o processo pelo qual
compreensão de textos, gráficos, tabelas)
ender as inter-relações entre ciência, tec- o aluno precisa passar é semelhante ao
e o aprendizado de conteúdos importantes
nologia e sociedade, mostrando que a ciên- processo de desenvolvimento histórico da
para o exercício da cidadania e para o tra-
cia não é uma coisa isolada de todas as própria ciência” [7]. E destaca que estu-
balho.
outras, mas, sim faz parte de um desen- dando apropriadamente alguns exemplos
Em relação à “reformulação” da edu-
volvimento histórico, de uma cultura, de históricos, o estudante “pode perceber que,
cação brasileira, também existiu a preo-
um mundo humano, sofrendo e influen- na história, sempre houve discussões e
cupação de aproximar a história da ciên-
ciando por sua vez muitos aspectos da so- alternativas, que algumas pessoas já tive-
cia e o ensino de ciências. Os Parâmetros
ciedade”. Essa huma- ram ideias semelhan-
Curriculares Nacionais enfatizam em suas Os livros científicos didáticos
nização quebra o tes às que ele próprio
diretrizes o uso da história da ciência, para enfatizam os resultados aos
paradigma de que “a tem, mas que essas
que o ensino de física: quais a ciência chegou, mas não
ciência é algo atem- ideias foram substi-
[...] na escola média, contribua para a poral, que surge de costumam apresentar alguns tuídas por outras
formação de uma cultura científica forma mágica e que outros aspectos da ciência, como mais adequadas e
efetiva, que permita ao indivíduo a está à parte de outras de que modo as teorias e os mais coerentes com
interpretação dos fatos, fenômenos e atividades huma- conceitos se desenvolvem? um conjunto de ou-
processos naturais, situando e di- nas” [4]. Como os cientistas trabalham? tros conhecimen-
mensionando a interação do ser huma- A utilização da Quais as idéias que não acei- tos” [7].
no com a natureza como parte da história da ciência no tamos hoje em dia e que eram Embora muitos
própria natureza em transformação. ensino e a psicologia aceitas no passado?, e muitas pesquisadores em
[3, p. 229] da aprendizagem outras questões educação exponham
também possui uma suas justificativas a
Porém, será que tal intento é alcan-
estreita relação. A primeira pode, não só, favor da inserção da história da ciência
çado? De acordo com Roberto de Andrade
auxiliar no aprendizado dos conteúdos no processo de ensino-aprendizagem,
Martins, pode-se destacar os seguintes
científicos, como também no próprio outros não aprovam a sua implementação
aspectos do material de história da ciência
processo de desenvolvimento cognitivo como estratégia de ensino. De acordo com
produzido no Brasil:
individual do educando. De acordo com Matthews [2], em 1970, o MIT realizou
A história das ciências nos apresenta Martins [4], nos últimos quarenta anos, um simpósio, sobre a questão da utilidade
uma visão a respeito da natureza da os educadores tornaram-se mais conscien- da história da ciência para o seu ensino,
pesquisa e do desenvolvimento cien- tes dos estágios de cognição presentes na nele a HC foi exposta a um duplo ataque:
tífico que não costumamos encontrar formação do indivíduo. Para ele, essa “de um lado, dizia-se que a única história

22 A história da ciência no processo ensino-aprendizagem Física na Escola, v. 10, n. 1, 2009


possível nos cursos de ciência era a pseu- Nacionais para o Ensino Médio. Foi apli- do magnetismo, da eletricidade, e do ele-
do-história; de outro lado, afirmava-se cado em 90 alunos da terceira série do tromagnetismo. Esse pré-teste verificou
que a exposição à história da ciência enfra- ensino médio, pertencentes à Rede Pública se os alunos conheciam algumas proprie-
quecia as convicções científicas necessárias Federal. dades dos ímãs, as aplicações tecnológicas
à conclusão bem sucedida da aprendiza- O curso foi composto de várias partes: do eletromagnetismo em aparelhos do
gem da ciência” [2]. aulas expositivas sobre os conteúdos da cotidiano, o nome de alguns dos cientistas
No âmbito nacional, mesmo os que eletricidade, do magnetismo e do eletro- envolvidos no desenvolvimento do eletro-
defendem a implementação da história da magnetismo, demonstração de experiên- magnetismo e o processo de geração da
ciência nas salas de aula, como recomenda cias históricas confeccionadas pelo pro- energia elétrica.
os PCN’s de física, veem dificuldades em fessor, realização de experiências históricas Após a aplicação dessa primeira ava-
sua plena efetivação no ensino brasileiro, executadas pelos alunos, debate histórico liação, o curso de eletromagnetismo teve
pois conforme Martins, existem algumas com a turma e exercícios. Os exercícios seu início. As primeiras aulas expositivas
barreiras a serem enfrentadas: “(1) carên- foram elaborados abordando questões de tiveram como objetivo apresentar as prin-
cia de um número vestibular, questões cipais descobertas sobre a eletrização e as
suficiente de profes- Na crença de que a inclusão da históricas e outras a propriedades dos ímãs, pesquisadas desde
sores com a formação história e a filosofia da ciência respeito das conclu- a Antiguidade Clássica até o início do
adequada para pes- é um fator de melhora sões das experiências século XVII. Nas aulas subsequentes, fo-
quisar e ensinar de significativa no processo de realizadas em sala de ram elaboradas atividades histórico-expe-
forma correta a histó- ensino-aprendizagem, aula. rimentais e textos histórico-filosóficos
ria da ciência; (2) a elaborou-se o projeto “Física No que se refere à sobre os caminhos trilhados pelos diversos
falta de material didá- na História” confecção do material filósofos naturais e cientistas, onde foi
tico adequado (textos elaborado para os alu- analisado o processo histórico pelo qual
sobre história da ciência) que possa ser nos, a estratégia adotada pelo professor culminou o surgimento do eletromagne-
utilizado no ensino; e (3) equívocos a res- foi a construção de um texto histórico que tismo.
peito da própria natureza da história da apresentou a evolução do pensamento
ciência e seu uso na educação” [8]. científico no estudo do eletromagnetismo, Estrutura do curso
Na crença de que a inclusão da histó- desde as principais descobertas sobre os I - Aplicação de um pré-teste.
ria e a filosofia da ciência é um fator de fenômenos elétricos e magnéticos da Anti- I.1 - Introdução ao tema. Comentários:
melhora significativa, no processo de ensi- guidade Clássica até o conceito de campo estudo dos fenômenos elétricos e magné-
no-aprendizagem, um dos autores (JRQ) criado por Maxwell em meados do século ticos da Antiguidade Clássica até o início
elaborou o projeto “Física na História” que XIX. O texto serviu como um suporte efi- do século XVII.
fez parte integrante de uma dissertação caz para a preparação das aulas, sendo I.2 - Gilbert e o versorium. Comentários:
de mestrado, na qual foram relatados e que ele foi construído de forma diferente estudo da importância de Gilbert na sis-
avaliados os resultados de uma pesquisa da encontrada nos mais diversos livros tematização das propriedades dos fenô-
em ensino, sobre a relevância da inserção didáticos, onde usualmente apenas são menos elétricos e magnéticos, descritos no
da história da ciência, como agente influ- destacados os resultados científicos, sem livro De Magnete. Análise do versorium e a
enciador no processo ensino-aprendiza- uma conexão com o contexto histórico- terella.
gem dos conteúdos do eletromagnetismo social da época das descobertas. Os con- I.3 - Eletroscópio x versorium. Comen-
no ensino médio. teúdos do eletromagnetismo foram tários: construção, pelos alunos, através
Como produto, o curso gerou a pro- trabalhados de forma contextualizada, no de um roteiro, de um pêndulo elétrico que
dução de um material didático, no qual a sentido de levantar questões internas e serviu como artefato para pesquisar as
história e a filosofia da ciência foram apre- externas ao processo propriedades elétricas e
sentadas de maneira não alegórica, onde da produção científi- “Física na História” é parte magnéticas apresenta-
se fez presente a contextualização do pro- ca. Estas levaram ao integrante de uma dissertação das por alguns mate-
cesso de construção da produção cien- ambiente dos alunos onde foram relatados e riais.
tífica, e a exposição das inquietações, as inquietações filo- avaliados os resultados de uma I.4 - Eletrização e
interesses e métodos utilizados na inter- sóficas que permea- pesquisa em ensino sobre a carga elétrica. Comentá-
pretação da natureza. Além da produção ram as investigações relevância da inserção da rios: estudo da conser-
desse material, o projeto também estabe- científicas sobre a história da ciência como agente vação da carga elétrica,
leceu uma proposta curricular em sala de natureza, num espa- influenciador no processo das pesquisas de Ben-
aula que trouxe subsídios para que uma ço e tempo especí- ensino-aprendizagem dos jamin Franklin e os
metodologia, com enfoque histórico- ficos da história. As conteúdos do eletromagnetismo processos de eletrização
filosófico, seja trabalhada na escola. discussões acerca do no ensino médio por atrito, contato e
tema foram condu- indução.
Metodologia do curso histórico- zidas focando o processo evolutivo de des- I.5 - Otto Von Guericke, máquinas
filosófico coberta das principais teorias eletromag- eletrostáticas e a garrafa de Leyden. Co-
A proposta metodológica desenvolvi- néticas [9, p. 147-148]. mentários: estudo da máquina eletrostática
da para o curso histórico-filosófico, visou Para o encaminhamento e avaliação de Guericke e da garrafa de Leyden. Tendo
a despertar nos alunos um maior interes- do curso de eletromagnetismo, foi apli- sido apresentado pelo professor, os dois
se pela ciência, assim como, estabelecer cado na primeira aula, um questionário artefatos experimentais.
uma aprendizagem significativa dos abordando temas que iriam ser trabalha- I.6 - Exercícios de vestibular sobre
conteúdos do eletromagnetismo. O proje- dos ao longo do período letivo. A elabora- eletrização por atrito, contato e indução.
to foi elaborado de acordo com as reco- ção do questionário pretendeu levantar o II - Contexto histórico-cultural da Eu-
mendações dos Parâmetros Curriculares conhecimento prévio dos alunos a respeito ropa na época de Coulomb (em colabo-

Física na Escola, v. 10, n. 1, 2009 A história da ciência no processo ensino-aprendizagem 23


ração com professor de história) e a determinação do vetor indução magnética encerrado e teve o início da semana de
apresentação da lei de Coulomb. Comen- em um fio condutor reto. E sobre a força provas e o pré-teste foi reaplicado junto
tários: estudo da balança de torção, e a magnética entre dois fios retos. com a 3ª certificação de física.
formulação de lei de Coulomb. Lei de Cou- VI - A experiência da lei da indução
lomb x lei da gravitação universal de New- eletromagnética de Faraday. Comentários: Avaliação do curso histórico-
ton. a apresentação de um experimento, con- filosófico
II.1 - Exercícios de vestibular sobre a feccionado pelo professor, que demons- A avaliação do curso histórico-filo-
lei de Coulomb, mesclando com a lei da trou o fenômeno de indução eletromag- sófico de eletromagnetismo foi composta
gravitação universal, e os processos de ele- nética. de análises qualitativas e quantitativas. A
trização por atrito, contato e indução. VI.1 - O contexto histórico-cultural primeira foi baseada na metodologia de
III - Discussão histórico-cultural de Faraday e as leis da indução e o conceito observação [11]. Construiu-se, então, um
sobre Galvani e seus trabalhos. Comentá- de linhas de força. diário com anotações do professor após
rios: estudo das expe- VI.2 - Repercus- cada uma das aulas realizadas, contendo
riências de Galvani Na implementação inicial do são (principalmente comentários sobre o andamento do curso
sobre eletricidade ani- curso, um pequeno grupo, nas indústrias) das leis e a atitude dos alunos durante a aplicação
mal. Análise da obra formado principalmente pelos da indução (dínamo/ do projeto “Física na História”. E a pes-
literária Frankenstein. alunos mais ligados à área de motor elétrico). quisa quantitativa foi realizada através de
III.1 - Resposta exatas, ficou desmotivado. E VI.3 - Lei de Lenz. um tratamento estático dos acertos de
dos mecanicistas ao um outro maior, formado por VI.4 - Exercícios questões contidas no pré-teste, ao qual foi
trabalho de Galvani: alunos ligados às áreas de de vestibular sobre a aplicado antes e depois do curso.
Alessandro Volta. humanas, biomédicas e alguns lei da indução eletro- No início do curso, os alunos se cho-
III.2 - A pilha de de exatas, se apresentaram magnética de Faraday caram com a metodologia adotada, pois
Volta. Comentários: motivados com as aulas! e da lei de Lenz, para nas duas outras séries do ensino médio
estudo do desenvolvi- determinação do sen- haviam estudado física, baseando-se
mento do primeiro artefato capaz de pro- tido da corrente induzida. exclusivamente em fórmulas e teorias aca-
duzir corrente contínua. VII - O contexto histórico-cultural de badas e inquestionáveis. Por isso, inicial-
III.3 - Pilha elétrica, ddp, corrente elé- Maxwell. O conceito de campo. Sistema- mente essa diferença bloqueou parte deles,
trica. Comentários: estudo da corrente tização das teorias de campo elétrico e pois sempre estiveram acostumados a ver
elétrica. magnético. a física como “algo” produzido por seres
III.4 - Energia e potência da corrente VII.1 - Exercícios de vestibular sobre privilegiados, que num momento de
elétrica. campo elétrico e magnético e linhas de for- inspiração ou por alguma necessidade téc-
III.5 - Exercícios de vestibular sobre ça. Comentários: a apresentação no forma- nica (desconhecida pelos educandos),
corrente elétrica, gráficos i x t, funciona- to histórico-filosófico é encerrada nessa criaram as mais diversas equações. Equa-
mento das pilhas elétricas, energia e potên- seção. ções estas que devem ser decoradas e apli-
cia da corrente elétrica. VIII - Lei de Ohm, lei de Joule, e cir- cadas em exercícios de fixação. Até aquele
IV - A experiência de Oersted. Comen- cuitos elétricos. Comentários: a partir desse momento, esse era o principal processo
tários: execução, pelos alunos, através de tópico, as aulas foram ministradas de for- de aprendizagem conhecido pelos alunos.
um roteiro, da experiência de Oersted. ma tradicional. Na implementação inicial do curso
IV.1 - Contexto histórico-cultural de IX - Geradores e Receptores elétricos. houve, portanto, duas vertentes em sala
Oersted. A experiência da agulha iman- X - Projeto de final de Curso. Comen- de aula: um pequeno grupo, formado
tada como algo não casual. tários: No intuito de revisar de forma principalmente pelos alunos mais ligados
IV.2 - O impacto no meio científico significativa os prin- à área de exatas, que
do experimento e sua interpretação. A rea- cipais conceitos apre- No início do curso, os alunos se ficaram desmotiva-
ção dos mecanicistas: formulação da lei sentados durante o chocaram com a metodologia dos. E um outro
de Biot-Savart. curso, o professor ela- adotada, pois nas duas outras maior, formado por
IV.3 - Discussão de questões, inter- borou um projeto de séries do ensino médio haviam alunos ligados às
disciplinares, apresentadas no roteiro ex- final de curso, com estudado física, baseando-se áreas de humanas,
perimental sobre a experiência de Oersted. vários trabalhos his- exclusivamente em fórmulas e biomédicas e alguns
Realização de exercícios de vestibular sobre tórico-experimentais teorias acabadas e de exatas, que se apre-
a determinação do vetor indução magné- para que os alunos, inquestionáveis sentaram motivados
tica em espiras e bobinas. em grupos desenvol- com as aulas. Portan-
V - A experiência de Ampère. Comen- vessem em casa e apresentassem o resul- to, se uma parte dos alunos se mostrou
tários: a apresentação da experiência de tado de suas pesquisas à turma. relutante em aderir à introdução da his-
Ampère, relacionando -a como uma Os projetos finais constaram da re- tória da ciência no curso de eletromagne-
iniciativa de continuação do estudo dos solução de questões contidas no suple- tismo, a outra parte, que em sua maioria
resultados de Oersted. mento de trabalho do livro Faraday e Max- era formada por alunos que iriam prestar
V.1 - Contexto histórico-cultural da well - Eletromagnetismo da Indução aos vestibular para a área de humanas, foi
França e na Europa na ocasião das desco- Dínamos [10] e da construção de diversos cativada logo de início e se tornou mais
bertas de Ampère. A apresentação da lei aparatos experimentais. Os alunos tive- participativa durante as aulas, o que pro-
de Ampère. ram como suporte didático para a cons- porcionou uma pequena diminuição nas
V.2 - Força magnética entre condu- trução dos experimentos, os roteiros conversas paralelas na turma durante as
tores paralelos e a definição, no sistema apresentados no referido paradidático e em aulas.
internacional, da unidade Ampère (A). pesquisas na Internet. Após as apresen- A dualidade gerada entre as opiniões
V.3 - Exercícios de vestibular sobre a tações, o curso histórico-filosófico foi dos alunos, comentada anteriormente,

24 A história da ciência no processo ensino-aprendizagem Física na Escola, v. 10, n. 1, 2009


continuou durante as primeiras aulas, tiveram um modelo de prova única para explorado pelos professores que desejam
porém quando o curso passou para a eta- todas as turmas da 3ª série, pertencentes um ensino de física que não se restrinja à
pa da realização da parte histórico-experi- ao mesmo turno. resolução de problemas matemáticos
mental, a situação mudou e uma quase totalmente desvinculados da realidade dos
totalidade dos estudantes se mostrou inte- Conclusão alunos.
ressada nas atividades. Nesta fase, eles O projeto “Física na História” propor- A produção e aplicação do projeto des-
ficaram entusiasmados e motivados em cionou uma oportunidade de reflexão a tacou que a inserção da história da ciência
descobrir na prática as aplicações e utilida- respeito das vantagens e desvantagens da em sala de aula não é algo simples. Uma
des para as diversas teorias da eletricidade, inserção da história da ciência no ensino. prática pedagógica com essa abordagem
do magnetismo e do eletromagnetismo. A abordagem histórica pode gerar exige do professor conhecimento de
Cabe destacar que a construção, realizada certa resistência em alguns alunos, como história geral, de física, de filosofia, de
pelos alunos, das pri- ocorreu inicialmente sociologia e também de história da ciência
meiras experiências Os alunos que, inicialmente, com o referido projeto. e da tecnologia. Dessa forma, requer-se
históricas concernen- rejeitaram a metodologia do Isto porque um traba- uma formação mais abrangente daquela
tes ao conteúdo da curso, mudaram de atitude no lho com esse enfoque, normalmente fornecida durante a licen-
matéria, causaram-lhe decorrer das aulas. Isso por não apresentar ciatura. Nesse sentido, é importante que
um certo sentimento ocorreu, principalmente, verdades prontas e ao se considerar a abordagem histórica
de descoberta da ciên- quando verificaram que a parte acabadas, impõe ao uma possibilidade real de tornar o ensino
cia por eles próprios, histórica servia de arcabouço aluno um pensar mais significativo, criem-se condições
o que abalou a crença para dar um maior significado constante sobre o que para que um maior número de professores
da maioria sobre a a determinadas teorias está sendo discutido, tenha conhecimento capaz de construir
intangibilidade da físi- contrastando com o práticas educacionais dentro dessa pers-
ca. Embora não se possa afirmar que esse ensino tradicional pautado em memo- pectiva.
sentimento tenha propiciado uma motiva- rização e apreensão de algoritmos para re-
ção extra aos estudos, possivelmente ele solver problemas pré-determinados. Essa
gerou uma quebra dos paradigmas dos pro- resistência é notada, entretanto, muitas Referências
cessos de construção da ciência, pois alguns vezes em que uma nova metodologia é [1] J.L. Heilbron, Applied History of Sci-
alunos se mostraram admirados com o fato implantada em sala de aula. ence 78
78, 556 (1987).
de serem capazes de remontar experimen- Apesar da dificuldade apontada, o tra- [2] M.R. Matthews, Caderno Catarinense
tos similares aos executados pelos grandes balho histórico pode ser um elemento im- Ensino de Física 12
12, 164 (1995).
[3] Ministério da Educação, Parâmetros
“gênios” da eletricidade, o que de alguma portante para uma prática pedagógica que
Curriculares Nacionais: Ensino Médio -
forma, modificou a atitude dos educandos, pretenda trazer a ciência para o contexto Ciência da Natureza, Matemática e suas
tornando-os mais integrados no processo sócio-cultural do aluno. A história da Tecnologias. (MEC/SEMTEC, Brasília,
de aprendizagem da disciplina. ciência, quando não factual, apresenta os 1999).
É importante destacar que os alunos cientistas de forma contextualizada, inse- [4] R.A. Martins, in: Estudos de História e
que, inicialmente, rejeitaram a metodo- rindo-os no tempo e espaço em que vive- Filosofia das Ciências: Subsídios para
logia do curso, mudaram de atitude no ram. Dessa forma, explicita-se a relação Aplicação no Ensino, organizado por
decorrer das aulas. Isso ocorreu, princi- da produção científica com as outras áreas C.C. Silva (Livraria da Física, São Pau-
lo, 2006).
palmente, quando verificaram que a parte do conhecimento, e também a maneira co- [5] J. Piaget and R. Garcia, Psychogenesis and
histórica servia de arcabouço para dar um mo a ciência dialoga com a sociedade em History (Columbia University Press,
maior significado a determinadas teorias. que está sendo construída. Os relatos Nova York, 1989).
E que, dessa forma, eles poderiam assi- bibliográficos, as discussões em torno do [6] J. Piaget, Genetic Epistemology (Colum-
milar e interpretar de forma mais signifi- contexto sócio-cultural da produção cien- bia University Press, London, 1970).
cativa os conteúdos e tífica enfocada e as [7] M.A. Barros e A.M.P. Carvalho, Ciência
aplicá-los em exercí- A produção e aplicação do controvérsias cientí- & Educação 5 , 83 (1998).
cios de vestibular projeto destacou que a inserção ficas proporcionam [8] H. Siegel, Science Education 63 63, 111
da história da ciência em sala de (1979).
com maior clareza em sala de aula debates [9] A.G. Moraes, Contextualizando o Fazer:
dos significados físi- aula não é algo simples. Uma capazes de humanizar Subsídios para uma Educação Científica
cos. Essa mudança de prática pedagógica com essa a ciência. com Enfoque Histórico-Filosófico. Tese de
atitude pode ser bem abordagem exige do professor A avaliação do Doutorado, COPPE, Rio de Janeiro,
ilustrada com o fato conhecimento de história geral, projeto “Física na His- 2002.
de que dois alunos, de física, de filosofia, de tória” mostrou que [10] A. Guerra, M. Braga e J.C. Reis, Fara-
pertencentes ao gru- sociologia e também de história muito do sucesso do day e Maxwell, Eletromagnetismo: Da
po de alunos inicial- da ciência e da tecnologia trabalho de sala de au- Indução aos Dínamos (São Paulo, Atual,
2004).
mente desmotivados, la foi devido à repro- [11] H.M. Vianna, Pesquisa em Educação - A
acabaram por optar pelo curso de física dução dos experimentos históricos. As Observação (Líber Livro, Brasília,
no vestibular da UFRJ. experiências possibilitaram aos alunos 2007).
No que se refere à avaliação quanti- concretizarem muitas das questões apre-
tativa, a aprendizagem dos conteúdos foi sentadas no curso e problematizar suas Nota
aferida, não só pelo pré-teste, como tam- concepções prévias a respeito do tema, O trabalho é parte integrante de uma dis-
bém por quatro provas formais, três certi- destacadas no questionário inicialmente sertação de mestrado profissionali-
ficações, com o conteúdo trimestral e uma aplicado. Dessa forma, defende-se que a zante em ensino de Ciências e Mate-
prova final, com o conteúdo de todo o união da história da ciência com experi- mática, no CEFET-RJ, concluída em
período letivo. Todas as avaliações formais mentos históricos é um elemento a ser julho de 2008.

Física na Escola, v. 10, n. 1, 2009 A história da ciência no processo ensino-aprendizagem 25

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