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Ministério da
Mulher, da Família e dos Direito Humanos
O suicídio e a automutilação
tratados sob a perspectiva da
família e do sentido da vida
Brasil
2019
Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
Brasil
2019
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS
Esta publicação integra as “Metas Nacionais Prioritárias” relativas à “Agenda de 100 dias de
Governo”, lançada pelo Governo Federal em 23 de janeiro de 2019, tendo em vista a meta nº 20
que focaliza especificamente o tema em questão, nos seguintes termos: “Campanha nacional
de prevenção ao suicídio e à automutilação de crianças, adolescentes e jovens”. Tal Meta tem
como escopo a atuação governamental no sentido da conscientização e disseminação de
informações, visando à prevenção da autolesão e do suicídio, estando sua implementação sob
responsabilidade da Secretaria Nacional da Família do Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH).
1. Suicídio. 2. Automutilação. 3. Sentido da Vida. 4. Prevenção. 5. Família.
I. Ministério das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos – MDH. II. Título.
CDU 179.7
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA
Coordenação-Geral
Marcel Edvar Simões
Diretor de Desafios Sociais no âmbito Familiar
da Secretaria Nacional da Família.
Coordenadora
Jayana Nicaretta da Silva – Secretária Nacional da Juventude.
Coordenador
Washington Horta de Sá
Diretor de Promoção e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente
da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Colaborador
Guilherme Frassetto da Cunha Lima Freire
Secretário Nacional Adjunto da Juventude.
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS
Abstract: This study aims at laying the foundations for suicide and self-mutilation, emphasizing
cases among young people, seeking an evaluation of the problem from a family point of view
and appreciation of the meaning of life. These bases consist of concepts, statistical data,
characteristics of the victims and preventive actions, raising questions that can provide and
support actions of public policies on the issues addressed here.
Keywords: suicide, self-mutilation, meaning of life, prevention, family.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA
Sumário
PREFÁCIO.............................................................................................................................8
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA A CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA DO SER HUMANO
DR. ANDRÉ DE MATTOS SALLES............................................................................................8
1 MOTIVAÇÃO: PORQUE MAIS UM ESTUDO?........................................................................9
2 INTRODUÇÃO......................................................................................................................9
3 O SUICÍDIO......................................................................................................................10
A. SUICÍDIO E FATO SOCIAL................................................................................................11
B. CASOS DE GRANDE REPERCUSSÃO PÚBLICA...........................................................12
i. O suicídio coletivo de Jonestow - 1978.............................................................12
ii. O suicídio da jovem de 14 anos - Hannah Smith – 2013......................................12
iii. O efeito de Werther e o Papageno..................................................................13
iv. Crenças sobre suicídio...................................................................................13
C. AS ESTATÍSTICAS SOBRE SUICÍDIO..........................................................................14
i. Dados mundiais...................................................................................................14
ii. Dados do Brasil..............................................................................................17
D. SUICÍDIOS EM POVOS INDÍGENAS..................................................................................22
E. TENTATIVAS DE SUICÍDIO NO BRASIL......................................................................23
F. CUSTOS RELACIONADOS AO SUICÍDIO....................................................................24
G. UMA OBSERVAÇÃO ACERCA DOS REGISTROS...........................................................25
H. A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA.....................................................................................25
I. A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS.................................................................25
J. CRIAÇÃO DOS FILHOS.....................................................................................................27
K. LOGOTERAPIA E FAMÍLIA NA PREVENÇÃO AO SUICÍDIO.....................................................29
i. Esvaziamento da pergunta a respeito do sentido da vida........................................30
ii. Vulnerabilidade das redes, crise e ausência de sentido...............................................31
iii. A vida familiar e o sentido da vida.................................................................31
iv. Logoterapia como Política Pública..................................................................32
L. INICIATIVAS QUE PODEM SER ABORDADAS EM TERMOS POLÍTICAS PÚBLICAS...................34
4 CONCLUSÃO.....................................................................................................................35
REFERÊNCIAS . ....................................................................................................................36
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS
8
Prefácio
A construção psíquica das pessoas se faz pela interação social. Todas as sensações iniciais
experimentadas estruturam nossa organização física e psíquica, sendo assim gerados nossos
registros afetivos.
No início da vida é a sensopercepção e a linguagem não verbal que ditarão essa construção.
Expressões faciais, prosódia, intensidade do toque, até mesmo a frequência cardíaca e a
velocidade da respiração terão um significado. O cuidado, o afeto e as respostas primordiais à
fome, ao incomodo de estar sujo, às dores, ao sono, deixarão registros de segurança, confiança
e tranquilidade para o sujeito em formação.
Antes mesmo do nascimento o exercício de imaginar o bebê, seu olhar, suas formas, como
será a voz, como brincará, preparam a família para a chegada do novo integrante sendo
fundamental para o processo de interação e o desejo de cuidar. E é na interação mais íntima,
entre os membros da família, que isso se dará.
São essas relações iniciais que darão base para percepções mais complexas, como entender
e interpretar os sentimentos de seus pares, e conseguir, através disso, colocar-se no lugar do
outro, conceito básico da empatia. As relações também desenvolvem a percepção de que o
outro tem uma mente, tem desejos, pensamentos e necessidades diferentes e que eu posso
ajudá-lo, desenvolvendo altruísmo. Preservar as relações íntimas iniciais, as relações nucleares
familiares, é garantir a humanização e, consequentemente, um mundo melhor.
Já na adolescência, entramos em um período dos mais multifacetados da vida. Nela temos
alterações hormonais e corporais intensas, raciocínio abstrato em seu ápice, relações afetivas
mais íntimas, e o indivíduo vai deixando de ser criança e começa a se organizar para a vida
adulta. Isso se dá em um contexto social que tende a estimular o prazer momentâneo e o agora,
cercado de incertezas acadêmicas, afetivas e profissionais.
Nesse contexto, o jovem pode ficar mais vulnerável às tensões da vida, ao adoecimento
psíquico e lidar de maneira extremada com seus sentimentos, buscando substâncias de abuso,
se machucando ou mesmo pensando que a vida não vale a pena. Por isso: escutar, acolher e
cuidar desses indivíduos faz toda a diferença. A família é central neste processo, por isso, o
Governo Federal, através do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos inova, ao
formular uma política pública a esse respeito, e ao publicar um trabalho que trata a questão do
suicídio e autolesão sem intenção suicida de adolescentes e jovens na perspectiva da saúde,
família e direitos humanos, em abordagem interdisciplinar.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA
O suicídio e a autolesão são temas que desafiam especialistas do mundo inteiro, que se
deparam com elevados índices, independente de credo, classe social, cultura etc. Nesse contexto,
o presente estudo visa disponibilizar ferramental teórico que contempla conceitos-chave, casos
importantes, fatos e dados estatísticos a fim de possibilitar uma imersão basilar no assunto.
Faz-se necessário também analisar os números sob a perspectiva da família, pois as estatísticas
apontam que grande parte dos casos ocorre em um ambiente familiar que merece atenção,
motivo pelo qual políticas públicas acerca do tema devem promover a valorização dos laços
familiares, pauta defendida precipuamente pela Secretaria Nacional da Família deste Ministério.
Nesse contexto, conceitos como o efeito Werther e o Papageno, o estado psíquico Psychache,
assim como a análise de casos de suicídio de grandes repercussões, as teorias psicológicas, a
teoria sociológica, o perfil das vítimas, os dados estatísticos relacionados, as questões históricas
que envolvem o tema, além de possíveis abordagens que possam ser trabalhadas no enfretamento
dos índices, podem ser de grande valia no entendimento do cenário da sociedade atual, em
especial a brasileira, e buscar políticas públicas que se somem às aplicáveis atualmente, de
forma a cada vez alcançar maior efetividade nas ações.
Grande parte das políticas públicas de enfrentamento ao suicídio e autolesão dá grande
ênfase a aspectos psíquicos e de saúde física e mental dos pacientes, analisando, muitas
vezes, a causa recente do fato. Embora não se negue a importância dessa abordagem, muitos
especialistas alertam para a especial relevância da busca pelo sentido da vida como elemento
chave para o contorno da problemática. É fato que as ações públicas têm começado a se
preocupar com essa perspectiva, planejando e promovendo ações de valorização da vida nas
escolas e em alguns outros meios; no entanto, tais ações ainda são, de certa forma, incipientes,
exigindo novas abordagens que garantam a integralidade e, portanto, a maior efetividade da
política pública de prevenção.
2 Introdução
11
12 Durkheim entende que os casos de suicídio mais comuns são os dois primeiros (Egoístas e
Anômicos). Ele ainda constatou que quanto maior a intensidade do vínculo de pertencimento a
um grupo solidamente constituído, menor é a probabilidade de ocorrência de suicídio. Em outras
palavras: indivíduos solteiros teriam maior probabilidade de praticar suicídio do que indivíduos
casados, assim como pais de um maior número de filhos teriam menor chance de suicidar-se
do que pais sem filhos. Esta abordagem foi pioneira ao indicar a centralidade do vínculo social
constituído na família, a qual através das relações significativas nela estabelecidas, ofereceria
ao indivíduo o sentido de pertencimento, fator que ainda hoje é reconhecido como relevante
para a diminuição do suicídio ou autolesão. Vale ressaltar que a literatura indica fatores que
podem moderar o risco, porém, tais fatores não são suficientes para determinar os motivos ou
o contexto no qual o suicídio ocorre.
Alguns casos de suicídio marcaram a opinião pública, e revelam alguns aspectos ligados
ao tema, decisivos para sua compreensão. Conhecê-los pode jogar luz sobre fatos ocorridos
em épocas pretéritas, relevantes para a atualidade, auxiliando na discussão de ações públicas
efetivas.
Em 2013, a jovem britânica Hannah Smith, de 14 anos, praticou o suicídio motivada por
diversos ataques de cyberbullying em uma rede social denominada Ask.fm. No perfil da jovem,
moradora de Leicestershire, estariam algumas mensagens anônimas de incentivo ao suicídio.
A jovem foi encontrada morta em agosto de 2013 e investigou-se a possibilidade de que as
mensagens tenham sido enviadas pela própria jovem, que sofria de problemas de autoestima
(CRUZ; RESTIVO, 2014).
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA
Em 1774, o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, escreveu a obra “Die Leiden des
jungen Werthers”, traduzida para o português com o título “Os sofrimentos do Jovem Werther”.
No enredo, o protagonista da história se suicida após a rejeição da mulher que amava.
Após a publicação da história, observou-se que diversos jovens passaram a utilizar as
mesmas calças amarelas e jaquetas azuis do personagem da história, assim como se percebeu
um aumento do número de suicídios nos países em que o livro fora publicado. As análises
convergem para indicar que, neste caso, o ensimesmamento do protagonista constitui uma
formulação reativa à subjetividade moderna (VALE DA SILVA, 2013) o que, de certo modo, atrai
a perspectiva de alguns jovens. O termo “efeito Werther” foi, então, cunhado pelo pesquisador
David Phillips em 1974, dois séculos depois do romance de Goethe ser publicado, para exprimir
um efeito de contágio, de alastramento e estímulo a casos de suicídio, a partir da divulgação
pública de determinado caso-base ou de relatos relacionados com o tema.
Esses casos implicam em cautela sobre a abordagem do tema, inclusive ao se falar em
políticas públicas sobre o assunto, com o fim de evitar que mais casos sejam motivados em
consequência dos equívocos da abordagem empregada.
Por outro lado, o efeito Papageno consiste, justamente, no contrário. A perspectiva aqui está
associada ao exemplo de superação sob o viés positivo. Trata-se da conduta de uma pessoa que
ao relatar como superou ideações suicidas passa a propagar formas de prevenção ao suicídio
(MAIA; ROCHA; ARAUJO; MAIA, 2017).
Segundo Botega (2015), com base em informações da World Health Organization (WHO,
2014), algumas crenças podem ser consideradas equivocadas e, portanto, dificultar a eficácia
das ações preventivas. São elas:
• Se eu perguntar sobre suicídio, poderei agir de modo a induzir a pessoa: existe um temor
na abordagem sobre o assunto. O questionamento sobre ideias suicidas, se feito de
modo sensato e franco, fortalece o vínculo com a pessoa que se sente acolhida por um
profissional preocupado com seu sofrimento.
• A pessoa ameaça se suicidar apenas para manipular: nem sempre é assim. Muitas pessoas
que se suicidaram haviam dado sinais verbais ou não verbais de sua intenção para amigos,
familiares e médicos.
• Quem quer se matar, se mata mesmo: ao contrário dessa ideia, as pessoas que pensam
em suicídio estão ambivalentes entre viver e morrer. Se obtêm um apoio emocional
adequado e tempestivo, podem desistir de fazê-lo. A prevenção não consiste em evitar
todos os suicídios, mas sim aqueles que podem ser evitados.
• O suicídio só ocorre quando há uma doença emocional: isso não é requisito, ainda que
algum tipo de transtorno possa estar presente em grande parte dos casos. O suicídio
está mais ligado a um sofrimento profundo do que a um transtorno mental. Em geral, as
pessoas acometidas de transtornos mentais não eliminam a própria vida.
• No lugar dele, eu faria o mesmo: em alguns casos, o envolvimento emocional do familiar
ou do profissional de saúde faz com que surjam dificuldades em lidar com o caso, o que
indica a necessidade de atuação em rede multiprofissional.
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14 • Veja se da próxima vez você acerta: o comportamento suicida pode suscitar críticas
decorrentes do desconhecimento acerca dos motivos que levam a pessoa a tomar essa
decisão. Tais críticas, por vezes, desencadeiam sentimentos de hostilidade e rejeição, o
que, por sua vez, cria barreiras para a escuta, a acolhida e a orientação eficaz.
• Quem conclui o ato é bem diferente de quem apenas tenta: de um modo geral, as pessoas
que praticam o suicídio encontram-se em condições distintas de quem empreendeu
uma tentativa. Na verdade, observa-se certa heterogeneidade nos dois grupos, por isso
é um equívoco manter uma análise genérica. Muitos estudos apontam que a tentativa
de suicídio pode aumentar o fator de risco de um suicídio concreto.
• É difícil mudar: a situação adversa que induz à falta de esperança e de desejo de viver
é, em geral, passageira e relacionada a situações ou condições de vida que podem mudar
de acordo com as políticas públicas e com o suporte psicossocial.
i. Dados mundiais
De acordo com estimativas da World Health Organization (WHO, 2018), cerca de 800 mil
mortes ao ano se devem ao suicídio, o que implica em um suicídio a cada 40 segundos. Estima-
se que mais de 2 mil pessoas vem a óbito por suicídio ao dia em algum lugar do mundo e que,
para cada indivíduo que morre por suicídio, há aproximadamente 20 pessoas com ideações
suicidas.
Em termos globais, o suicídio é responsável por 1,4% do total de mortes no mundo. Embora
trate-se de um fenômeno que atinge as pessoas ao longo do ciclo de vida, especialmente idosos
e grupos étnicos como os indígenas, recentemente crianças e jovens preocupam as políticas
públicas, pois nesta fase da vida os índices de crescimento do suicídio chegaram a ocupar a
segunda causa de morte entre pessoas de 19 a 25 anos (WHO, 2014). O total de mortes por
suicídio supera a soma de todas as mortes causadas por homicídios, acidentes de transporte,
guerras e conflitos civis (BOTEGA, 2015).
Na figura abaixo, encontram-se as taxas de suicídio por 100 mil habitantes. Observa-se que
os índices variam bastante entre países, no entanto, são mais elevados em países de capitalismo
avançado e em países cuja população possui nível socioeducacional médio e baixo.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA
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Embora os índices de suicídio tenham aumentado nos últimos 60 anos, a partir de meados da
década de 1990, começara a apresentar leve decréscimo, o que se deve a políticas de prevenção
junto aos idosos. Os coeficientes mais altos estão presentes na Europa Oriental e Ásia, e em alguns
países da África e América Latina. Índia e China são os países com maior número de mortes por
suicídio. Na Coréia do Sul, a taxa de suicídio dobrou ao longo dos últimos anos (WHO, 2018).
A Figura 2 representa a taxa de mortalidade por suicídio entre crianças e jovens. Observa-se
que a medida que os grupos de idade avançam, a tendência é de crescimento. Ao considerar-se
o gênero, constata-se um maior número de suicídios entre pessoas do sexo masculino, exceto
para a faixa de 15 a 19 anos.
16 Os dados da OMS apontam, ainda, que a taxa global de suicídios tende a aumentar de
acordo com a idade, especialmente em países de nível socioeconômico médio e baixo, o que
está representado na Figura 3.
Figura 4: Países com maiores coeficientes padronizados de mortalidade por suicídio, estimado em 2012. Total de
óbitos por suicídio e percentual de mudança dos coeficientes entre 2000 e 2012. (Fonte: WHO, 2014 e BOTEGA, 2015).
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA
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Entre os países da América Latina, o Brasil ocupa o oitavo lugar em coeficiente de mortalidade
por suicídio por 100 mil habitantes. O país se mantém nesta posição e o Ministério da Saúde
constata que os índices tendem a crescer de acordo com a idade do grupo analisado.
Figura 5: Estimativa de coeficientes padronizados de mortalidade por suicídio. Total de óbitos por suicídio e variação
percentual entre 2000 e 2012 de alguns países selecionados. (Fonte: WHO, 2014 e BOTEGA, 2015).
Embora o Brasil ocupe a 8ª posição em número de suicídios, entre 2000 e 2012, o coeficiente
padronizado global de mortalidade por suicídio diminuiu 28%, pois este índice considera o
aumento da população e da esperança de vida. Por outro lado, a análise de números absolutos
indica que o Brasil permanece entre 29 países em que há um constante aumento do suicídio.
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Figura 6: Ranking dos países com maior número de suicídio. (GAZETA DO POVO. 2014).
Em termos absolutos, a mortalidade por suicídio vem crescendo no Brasil ao longo das
décadas. Um estudo de seguimento realizado a partir de 1980 mostra um aumento de 21%
até o ano de 2000 e de 29,5% até 2006 (BOTEGA, 2015).
Tabela 1: Índice de suicídios (por 100 mil) segundo Faixa Etária. Brasil. 1980/2012.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA
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Observa-se que, na década de 1980, havia tendência negativa à mortalidade por suicídio em
quase todas as faixas etárias. No entanto, a partir de 1990, houve um significativo crescimento,
especialmente entre crianças de 10 a 14 anos.
Figura 7: Gráfico do Número e taxas de suicídio (por 100 mil) segundo Faixa Etária. Brasil. 1980/2012.
Fonte: Waiselfisz (2014).
Segundo Waiselfisz (2014), entre 2000 e 2012, o total de suicídios no país saiu de 7.726
para 10.321, o que significa um aumento de 33,6%. Esse aumento foi superior ao crescimento
populacional do país no mesmo período, índice que foi de 11,1%.
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20 O maior índice de aumento do suicídio se encontra na região Norte, onde passou de 390 para
693, o que representa um aumento de 77,7%. Amazonas, Roraima, Acre e Tocantins praticamente
duplicaram o número de casos.
Na Região Nordeste, o crescimento também foi expressivo, sendo de 51,7%. Nessa região,
Paraíba e Bahia, superaram em mais de duas vezes a média nacional. Na região Sudeste, o
crescimento foi de 35,8%, embora Minas Gerais tenha obtido índices acima da média (58,3%)
e Rio de Janeiro praticamente manteve estável o crescimento. As regiões Sul e Centro-Oeste
são as de menor crescimento decenal: 15,2% e 16,3%.
Destaque para dois estados do Nordeste (Paraíba e Bahia) nos primeiros lugares do ranking,
muito acima da média nacional. Seguem-se outros estados do Norte e do Sudeste (Minas Gerais
que ocupa o 9º lugar e São Paulo, em 14º). Por outro lado, os estados que possuem tendência
negativa são Ceará, Goiás, Rio de Janeiro e Amapá.
Figura 8: Gráfico de Crescimento das taxas de suicídio. População total por UF. 2002/2012
(Fonte: WAISELFISZ, 2014).
22
Figura 9: Gráfico de Crescimento das taxas de suicídio. População jovem por UF. 2002/2012
(Fonte: WAISELFISZ, 2014).
24 O estudo revelou, ainda, que para cada atendimento em pronto socorro, um conjunto de
comportamentos relacionados ao suicídio surgem na população. Em média a cada 100 habitantes,
para cada indivíduo atendido, 17 apresentam pensamento relacionado ao suicídio (OMS, 2012).
Um estudo realizado pelo Hospital das Clínicas da UNICAMP avaliou os custos econômicos
de 17 casos de tentativas graves de suicídio (intencionalidade suicida e letalidade elevadas).
Entre os custos, considerou-se diárias hospitalares, medicamentos, exames, procedimentos,
honorários, entre outros, além dos custos indiretos relativos a perdas econômicas para o
indivíduo e sua família. Os resultados obtidos foram:
CUSTOS DIRETOS
Medicação R$ 1.394,00
Procedimentos R$ 826,00
Próteses R$ 37,00
Em termos internacionais, segundo a JMIR (2017), nos Estados Unidos, estima-se que os 25
custos relacionados a tentativas e mortes por suicídios chegam a US$ 26 bilhões de dólares,
levando-se em consideração as despesas médicas e absenteísmos no trabalho.
h. A importância da família
O uso imoderado das novas tecnologias pode acarretar diversos prejuízos à saúde do ser
humano, sobretudo no que diz respeito à saúde mental. Gonçalves (2018) associa o mau uso
de tecnologias a transtornos como: alienação humana, amnésia digital, ansiedade, compulsão
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estão todos disponíveis a um click, não havendo necessidade de aguardar o próximo episódio 27
(CBSN, 2018). Cada vez menos as crianças têm estado preparadas para frustrações, inclusive
ligadas à espera, isso tem sido muito prejudicial à juventude moderna. Vale ressaltar que a
agitação tecnológica faz com que o adolescente não consiga passar um tempo a sós, recorrendo
a meios tecnológicos com o fim de evitar o silêncio e a solidão. Essa prática torna cada vez
mais a pessoa dependente dos recursos tecnológicos e incapaz de enfrentar o mundo a sua
volta (ABREU; YOUNG, 2019).
Nesse contexto, especialistas têm feito recomendações às famílias sobre o uso de tecnologias
para crianças e adolescentes (SCIENCEDAILY, 2016):
• Evite o uso de mídia digital em crianças menores de 24 meses;
• Evite deixar crianças a sós na frente da TV;
• Escolha programas de qualidade;
• Tecnologia quanto mais tarde melhor, não precisa disponibilizar celulares, por exemplo,
para crianças o mais cedo possível;
• Para crianças de 2 a 5 anos, 1h máxima de televisão é o ideal;
• Evite programas e aplicativos acelerados e com muito conteúdo de violência;
• Evite o uso de mídias como meio de acalmar os filhos, isso pode causar nas crianças,
dificuldades de auto se acalmar ou regular emoções;
• Teste o aplicativo antes de disponibilizar ao filho;
• Mantenha os quartos, refeições e brincadeiras longe de dispositivos eletrônicos;
• Não permitir o uso dessas tecnologias próximas ao horário de sono.
Criar filhos no mundo atual é o desafio cada vez maior para os pais. As novas tecnologias
trouxeram ainda um novo complicador nesse cenário, inserindo novas variáveis na educação que
não existiam anteriormente. Diversos benefícios também são advindos das novas tecnologias,
mas desde que usadas de maneira correta.
Tratar questões de educação desde a mais tenra idade, dentro do contexto familiar, é uma
condição sine qua non para a sociedade, e é inclusive um trabalho preventivo ao suicídio e
a automutilação. Com essa temática, Dr. Alexander Lynford-Pike deixa algumas orientações
aos pais. Importante deixar claro que não se trata de uma intervenção política dentro do seio
familiar, mas sim de apresentação de um caminho que pode auxiliá-las.
Há na sociedade contemporânea, uma crise de autoridade na família, o que implica em
efeitos graves para a sociedade como:
• Desqualificação do papel da instituição familiar como núcleo básico da organização social;
• Prejuízos à formação de crianças e jovens para a vida adulta proveitosa;
• Formação de jovens incapazes de educar a geração seguinte, reduzindo progressivamente
a qualidade das relações sociais.
Baseados na obra do Dr. Alexander (LYNFORD-PIKE, 2015), diversas ponderações práticas
a respeito do tema podem ser sugeridas aos pais para proporcionar uma educação saudável
a seus filhos. São elas:
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• Demonstre afeto pelo seu cônjuge. Os filhos ficam mais seguros ao presenciarem a
relação amorosa vivida por seus pais
• Ame seus filhos
A Logoterapia (Logo: sentido/Terapia: cura) é uma teoria psicológica inaugurada por Viktor
Frankl que sintetizou, nesta abordagem, a vasta experiência que acumulou no campo da
psiquiatra após ter enfrentado e sobrevivido a quatro campos de concentração. Influenciado
principalmente pelas ideias de Scheler e Hartman acerca dos processos psíquicos humanos,
Frankl propõe que a personalidade é regulada pela integralidade entre corpo (que expressa
o caráter físico-biológico da personalidade); psiquismo (no qual se encontram os instintos,
impulsos, desejos, sensações); e noésis (termo originário do grego noos que se refere à dimensão
tipicamente humana: liberdade, responsabilidade, decisão, capacidade de amar, religiosidade).
(PEREIRA, 2015; SILVEIRA; MAHFOUD, 2008).
Na análise existencial proposta por Frankl, o centro da pessoa identifica-se com a noésis que
instaura um dinamismo entre acontecimentos, corpo e psiquismo e destaca-se pela capacidade
de resposta singular, marcada pelo caráter humano.
O ser humano é, em essência, ser-responsável (Frankl, 1948/1993,
p.15), e a responsabilidade está na ação no momento presente
(“aqui e agora”), na “concretude de determinada pessoa numa
determinada situação” (p.16). Humano é, também, o “ser que
decide” (Frankl, 1948/1993, p.26). Somente diante daquilo que
é decisão sua a pessoa é responsável, e somente quando ela é
responsável, pode-se dizer que está sendo “ela mesma”. “O ser
humano propriamente dito começa onde deixa de ser impelido,
e cessa quando deixa de ser responsável” (p.19). A existência
humana direciona-se sempre para “além de si mesma, indicando
um sentido”. Então, o importante é primeiramente realizar um
sentido, ou seja, é importante que a pessoa assuma atitudes que
a aproximem da realização daquilo que tem sentido
(Frankl, 1948/1993, p.61). (SILVEIRA; MAHFOUD, 2008, p. 570)
A sociedade atual caracteriza-se pela efemeridade e evanescência das relações sociais exceto
para o que diz respeito ao aspecto monetário. Embora isso possa representar um avanço, traz
desafios ao convívio social, e, por conseguinte, à subjetividade. A obra “Uns e outros – quando o
individualismo cria laços” de François de Singly retrata o impacto que a desarticulação operada
pela modernidade com relação aos referenciais trouxe para o indivíduo e suas relações. O
principal foi o surgimento do ‘indivíduo-individualizado’ que, ao buscar a liberdade dispensou
qualquer norma que influenciasse suas opções, porém, necessita de aplicar constantemente
uma alta capacidade reflexiva para liberar-se das práticas totalitárias. Segundo autor, esta é
a força que mais ameaça a liberdade individual e, para tentar contrapô-la com o mínimo de
equidade, os sujeitos estabeleceriam pactos circunstanciais. (SINGLY, 2010).
A fragilidade desses laços, porém, tende a tornar o tecido social vulnerável à disrupção.
Anthony Giddens aponta que a sociedade atual “está repleta de riscos e perigos, para os quais
o termo ‘crise’ - não como mera interrupção, mas como um estado de coisas mais ou menos
permanente - é particularmente adequado” (GIDDENS, 2002, p.19). A sociedade contemporânea
retratada a partir da fluidez dos relacionamentos, da espetacularização da violência, é vista por
um de seus maiores estudiosos, Gilles Lipovetsky, como potencial catalisador do sentimento de
exasperação do sujeito em face da sua impotência e pequenez diante de um império baseado
no consumo. A aquisição contínua de bens e serviços seria o meio de acesso à felicidade ansiada
pelos jovens e veiculada como modelo pelo cinema e publicidade. Os crescentes índices de
suicídio decorrem, segundo o autor, da dissonância entre o modelo veiculado de felicidade
para todos através do consumo e do dado de fato de que poucos podem consumir e entre os
que o fazem, poucos se contentam com os produtos que consomem. Ao lado desta tendência,
crescem as representações da vida cotidiana com base em cenários hostis e ilógicos ocupados
por protagonistas que vivem o ‘non sense’. A subjetividade que trilha esses cenários é marcada
pela exaltação de sentimentos como medo e rancor, ambos necessários para o enfrentamento
de situações marcadas pela adversidade.
Há casos em que prevalece a dependência dos objetos de desejo e evita-se a mediação
a favor de outros objetivos, fazendo surgir um comportamento marcado pela impulsividade.
Em outros casos, a pessoa sente-se desiludida ou traída pela promessa não satisfeita de que
o consumo atrairia participação e felicidade.
A psicologia atual segue a vertente positiva que reconhece o potencial de cada sujeito
em reverter o quadro psíquico no qual se encontra, a partir da ativação das redes internas
(mnemônicas/cognitivas e comportamentais) e psicossociais de suporte.
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32 A família integra a rede psicossocial de suporte das pessoas e pode ser um recurso para
a prevenção do suicídio na perspectiva da Logoterapia. A experiência da pessoa na família
representa um desafio aos modelos mais recentes que demarcam/restringem o problema do
sentido da vida ao sujeito. A morte desvela o aspecto mais dramático, pois atua como ruptura
do fluxo cotidiano de projetos, anseios, sentimentos familiares e requer atitudes que permitam
lidar com a imprevisibilidade e com o caráter evanescente da vida.
Porém, afirmar que a vida tem um aspecto passageiro, não significa cair no vazio. Ao contrário,
implica em aprender a reconhecer que algo permanece entre o fluxo de acontecimentos e
encontros. Estar diante da vida como um novo começo, olhar a cada instante como feito naquele
momento, o fazer-se de cada instante, implica na atitude de valorização de todos os fatos e
encontros como possibilidade de abertura ao Outro, atitude que, na família, traz importantes
consequências.
Crianças e jovens são especialmente perspicazes no diagnóstico da provisoriedade e não
correspondência daquilo que acontece e, caso não encontrem espaços que revelem, ao menos,
uma hipótese acerca do sentido, tudo começa a perder relevância inserindo-se uma grande
falta de referência e de interesse genuíno.
Se, por algum motivo, no convívio entre os membros da família a referência à finitude é
indireta ou recai em esquiva, a provisoriedade da vida, sinal da morte, pode soar como estranha,
insensata, incoerente com relação à potência do sentimento que nos une à vida. Por outro lado,
o sentimento humano conduz a intuir que tudo possui a marca de um “não é por isso”, “tudo tem
inscrito ‘mais além’”, como indicam as poesias de Giacomo Leopardi e Cesare Pavese. Importa
em especial este último que se suicidou após refletir, por décadas, em seu trabalho poético, o
espírito de amplo questionamento a respeito do significado da existência. A exemplo de outros
grandes literatos, Pavese não encontrou resposta ao seu anseio, o que indica que a despeito
do momento histórico, a questão da busca pelo sentido da vida interessa aos seres humanos.
As políticas públicas podem atuar para fortalecer os agentes que oferecem respostas a esses
questionamentos.
que contou com 506 estudantes iranianos. Dos 20 alunos selecionados, 10 foram submetidos 33
Figura 11: Gráfico do nível médio de identificação do sentido da vida após os tratamentos.
No gráfico abaixo, a linha tracejada corresponde ao grupo que foi tratado mediante tratamento
médico tradicional (control), enquanto a linha continua, foram pacientes submetidos à logoterapia
de grupo (denominado experimental). Constata-se grandes resultados obtidos com a aplicação do
tratamento por meio da logoterapia, no qual percebe-se o aumento dos índices de identificação
do sentido da vida e diminuição dos índices de depressão
Figura 12: Gráfico de pacientes com nível médio de depressão dos pacientes após os tratamentos.
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I. Iniciativas que podem ser abordadas em termos políticas públicas
Nessa seção, listar-se-á algumas possíveis abordagem citadas por especialistas, como práticas
ligadas às dimensões humanas, que podem servir de base para elaboração de políticas públicas.
i. Dimensão Social
• Valorização da família: Diversos foram os dados listados nesse estudo, que
enfatizam a importância do fortalecimento dos vínculos familiares. A Política Pública
nesse caso se valeria da promoção de cultura de valorização da família.
• Trabalho voluntário: Um estudo publicado pela BMC Public Health (BMC, 2013),
baseado em 40 artigos científicos, contatou que as pessoas que prestam serviço
voluntário com o fim de ajudar aos outros tem 20% menos de propensão à depressão.
No contexto da logoterapia de Frankl (FRANKL, 2013), haveria aqui uma inversão
da lógica de esperar algo da vida, dando lugar ao pensamento de dar algo a vida. A
política pública aqui consistiria em fornecer meios de acesso ao trabalho voluntario
e até mesmo, realizar parceria com Clinicas de Atendimento Psiquiátricos para
facilitar as ações desse tipo..
• Facilitação de acesso ao trabalho: O trabalho tem grande importância na dimensão
social, nesse caso, a política pública de facilitação de acesso ao emprego e aos estudos
(HYPESCIENCE, 2012). Nesse contexto, trabalhos em parceria entre o Ministério de
Economia e o Ministério da Mulher, da Família e dos Diretos Humanos, pode ser de
grande valia.
dados estatísticos, com diversos tipos de análises pode ser um grande aliado na
definição de políticas públicas eficazes e efetivas. Um observatório que apoie as
ações já realizadas e lance novas análises sobre os dados já existentes, pode ser
um excelente instrumento de potencialização das Políticas Públicas.
4 Conclusão
Esse estudo buscou levantar bases teóricas sobre duas questões tão desafiadoras no cenário
atual: o suicídio e a automutilação, destacando os casos ocorridos entre jovens. Tal temática foi
abordada especialmente sobre a ótica da família, buscando trazer à tona conceitos, abordagens,
fatos, dados estatísticos e ações relacionadas ao tema. Noutro giro, buscou-se ainda dar uma
visão sobre a valorização do sentido da vida aplicada a políticas públicas, em complemento
às ações voltadas à saúde mental e física do indivíduo.
Diversas são as ações que podem ser abordadas frente ao grande desafio de reduzir
suicídio e automutilação no Brasil, mas em todas elas se faz indispensável o apoio familiar à
vítima. A grande maioria de jovens vítimas dessas situações, são filhos de famílias em que há
vulnerabilidades, questão muitas vezes não abordada diretamente pelas estatísticas, que em geral,
avaliam os casos concretos com uma visão mais pontual sintomática, nos casos recentemente
ocorridos, isto é, se avalia a condição psicológica do jovens e as ocasiões recentes que podem
ter interferido para o fato, entretanto, muitas vezes a causa está em algo anterior. O fato é que
a complexidade do ser humano não nos permite sistematizar as causas e fornecer soluções
únicas, globais e eficazes a todos os casos, cada pessoa tem seu contexto particular, e não há
causa, nem solução únicas.
É preciso de fato uma atuação junto às famílias com o fim de conscientizar da importância
das ações dos pais com seus filhos, principalmente no que tange à saúde mental deles. Tais
ações devem ser realizadas desde a mais tenra idade com o fim de criar laços fortes que
fomentem uma inteligência emocional, atuando preventivamente em questões de depressão,
baixa autoestima, dificuldade de relacionamentos, dentre outros. É preciso inclusive ter uma
educação tecnológica saudável, na qual os pais, bem informados, auxiliem seus filhos no uso
das tecnologias modernas, evitando diversas doenças inclusive psíquicas.
A qualidade de vida está diretamente relacionada à prevenção de casos de automutilação
e suicídio, nesse aspecto, entender as dimensões humanas pode auxiliar as pessoas na solução
de seus conflitos. Atuar com trabalhos voluntários, por exemplo, pode ser uma ação sob a
dimensão social, que pode ajudar jovens a entender que podem oferecer algo à vida, e que
existem outras pessoas precisando de ajuda. Tal situação pode inverter a lógica de que a vida
não tenha nada a oferecer, tirando a pessoa de uma postura passiva e a levando para uma
atitude ativa, de quem tem algo a dar à vida.
As políticas públicas podem auxiliar as famílias no acesso as essas informações, como
é o caso da facilitação do trabalho voluntário, proporcionando a elas meios de enfrentar as
dificuldades e inclusive conhecendo meios que permitam o fortalecimento dos vínculos familiares.
O Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, especialmente por meio da Secretaria
Nacional da Família, tem o papel de entender o papel da família na temática do suicídio e da
automutilação, atuando como um ente de valorização da instituição família.
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REFERÊNCIAS
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em: https://www.cbsnews.com/news/groundbreaking-study-examines-effects-of-screen-time-
on-kids-60-minutes/?fbclid=IwAR3JL2m5u85a6uBYjshLT5RTYbhJdKU09BKLiTtuvBo7X9lxPma
DMKRazh4 Acesso em: 01/03/2019. Publicado em 2018.
CRUZ, S.; RESTIVO, F. Criminalidade invisível: os jovens e os riscos das redes sociais. Interconexões
– Revista de Ciências Sociais. Vol. 2, n.º 2, 2014.
DURKHEIM, Émile. O Suicídio. Estudo de Sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
FOLHA DE SÃO PAULO. Depressão em adolescentes cresce impulsionada por uso de redes
sociais. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2018/11/depressao-
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Publicado em 2018.
FOLHA DE SÃO PAULO. Pinterest e Instagram bloqueiam buscas sobre automutilação e onda
antivacina. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/02/pinterest-
e-instagram-bloqueiam-buscas-sobre-automutilacao-e-onda-antivacina.shtml. Acesso em:
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA