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O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

Ministério da
Mulher, da Família e dos Direito Humanos

O suicídio e a automutilação
tratados sob a perspectiva da
família e do sentido da vida

Brasil
2019
Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

O suicídio e a automutilação tratados sob a


perspectiva da família e do sentido da vida

Brasil
2019
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS

Esta publicação integra as “Metas Nacionais Prioritárias” relativas à “Agenda de 100 dias de
Governo”, lançada pelo Governo Federal em 23 de janeiro de 2019, tendo em vista a meta nº 20
que focaliza especificamente o tema em questão, nos seguintes termos: “Campanha nacional
de prevenção ao suicídio e à automutilação de crianças, adolescentes e jovens”. Tal Meta tem
como escopo a atuação governamental no sentido da conscientização e disseminação de
informações, visando à prevenção da autolesão e do suicídio, estando sua implementação sob
responsabilidade da Secretaria Nacional da Família do Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH).

M665t Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos


O Suicídio e automutilação tratados sob a perspectiva da
família e do sentido da vida / Ministério das Mulheres, da Família e dos Direitos
Humanos; Brasília: 2019.
53 p.



1. Suicídio. 2. Automutilação. 3. Sentido da Vida. 4. Prevenção. 5. Família.
I. Ministério das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos – MDH. II. Título.

CDU 179.7
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

Ministra de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos


Damares Regina Alves
Secretária Nacional da Família
Ângela Vidal Gandra da Silva Martins
Secretária Nacional da Juventude
Jayana Nicaretta da Silva

Grupo de Trabalho de Valorização da Vida e Prevenção da


Violência Autoprovocada por Crianças, Adolescentes e Jovens

Coordenação-Geral
Marcel Edvar Simões
Diretor de Desafios Sociais no âmbito Familiar
da Secretaria Nacional da Família.
Coordenadora
Jayana Nicaretta da Silva – Secretária Nacional da Juventude.
Coordenador
Washington Horta de Sá
Diretor de Promoção e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente
da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Responsáveis pelo conteúdo


Daniel Celestino de Freitas Pereira
Coordenador-Geral de Enfrentamento a Vícios e Impactos Negativos do Uso
Imoderado de Novas Tecnologias da Diretoria de Desafios Sociais no âmbito
Familiar
da Secretaria Nacional da Família.
Miriã Alves Ramos de Alcântara
Coordenadora-Geral de Estudos, Pesquisa e Avaliação da Diretoria de Equilíbrio
Trabalho-Família da Secretaria Nacional da Família.

Colaborador
Guilherme Frassetto da Cunha Lima Freire
Secretário Nacional Adjunto da Juventude.
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS

Resumo: Esse estudo visa levantar as bases fundamentais do suicídio e da automutilação,


dando ênfase aos casos entre os jovens, buscando uma avaliação do problema sob a perspectiva
familiar e da valorização do sentido da vida. Tais bases consistem em conceitos, dados estatísticos,
características das vítimas e ações de prevenção, trazendo à tona questões que podem contribuir
com a adequação das políticas públicas sobre a problemática aqui abordada.
Palavras-chaves: suicídio, automutilação, autolesão, sentido da vida, prevenção, família.

Abstract: This study aims at laying the foundations for suicide and self-mutilation, emphasizing
cases among young people, seeking an evaluation of the problem from a family point of view
and appreciation of the meaning of life. These bases consist of concepts, statistical data,
characteristics of the victims and preventive actions, raising questions that can provide and
support actions of public policies on the issues addressed here.
Keywords: suicide, self-mutilation, meaning of life, prevention, family.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

Sumário

PREFÁCIO.............................................................................................................................8
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA A CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA DO SER HUMANO
DR. ANDRÉ DE MATTOS SALLES............................................................................................8
1 MOTIVAÇÃO: PORQUE MAIS UM ESTUDO?........................................................................9
2 INTRODUÇÃO......................................................................................................................9
3 O SUICÍDIO......................................................................................................................10
A. SUICÍDIO E FATO SOCIAL................................................................................................11
B. CASOS DE GRANDE REPERCUSSÃO PÚBLICA...........................................................12
i. O suicídio coletivo de Jonestow - 1978.............................................................12
ii. O suicídio da jovem de 14 anos - Hannah Smith – 2013......................................12
iii. O efeito de Werther e o Papageno..................................................................13
iv. Crenças sobre suicídio...................................................................................13
C. AS ESTATÍSTICAS SOBRE SUICÍDIO..........................................................................14
i. Dados mundiais...................................................................................................14
ii. Dados do Brasil..............................................................................................17
D. SUICÍDIOS EM POVOS INDÍGENAS..................................................................................22
E. TENTATIVAS DE SUICÍDIO NO BRASIL......................................................................23
F. CUSTOS RELACIONADOS AO SUICÍDIO....................................................................24
G. UMA OBSERVAÇÃO ACERCA DOS REGISTROS...........................................................25
H. A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA.....................................................................................25
I. A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS.................................................................25
J. CRIAÇÃO DOS FILHOS.....................................................................................................27
K. LOGOTERAPIA E FAMÍLIA NA PREVENÇÃO AO SUICÍDIO.....................................................29
i. Esvaziamento da pergunta a respeito do sentido da vida........................................30
ii. Vulnerabilidade das redes, crise e ausência de sentido...............................................31
iii. A vida familiar e o sentido da vida.................................................................31
iv. Logoterapia como Política Pública..................................................................32
L. INICIATIVAS QUE PODEM SER ABORDADAS EM TERMOS POLÍTICAS PÚBLICAS...................34
4 CONCLUSÃO.....................................................................................................................35
REFERÊNCIAS . ....................................................................................................................36
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS

8
Prefácio

A importância da família para a constituição psíquica do ser humano

Dr. André de Mattos Salles


Psiquiatra
Consultor do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

A construção psíquica das pessoas se faz pela interação social. Todas as sensações iniciais
experimentadas estruturam nossa organização física e psíquica, sendo assim gerados nossos
registros afetivos.
No início da vida é a sensopercepção e a linguagem não verbal que ditarão essa construção.
Expressões faciais, prosódia, intensidade do toque, até mesmo a frequência cardíaca e a
velocidade da respiração terão um significado. O cuidado, o afeto e as respostas primordiais à
fome, ao incomodo de estar sujo, às dores, ao sono, deixarão registros de segurança, confiança
e tranquilidade para o sujeito em formação.
Antes mesmo do nascimento o exercício de imaginar o bebê, seu olhar, suas formas, como
será a voz, como brincará, preparam a família para a chegada do novo integrante sendo
fundamental para o processo de interação e o desejo de cuidar. E é na interação mais íntima,
entre os membros da família, que isso se dará.
São essas relações iniciais que darão base para percepções mais complexas, como entender
e interpretar os sentimentos de seus pares, e conseguir, através disso, colocar-se no lugar do
outro, conceito básico da empatia. As relações também desenvolvem a percepção de que o
outro tem uma mente, tem desejos, pensamentos e necessidades diferentes e que eu posso
ajudá-lo, desenvolvendo altruísmo. Preservar as relações íntimas iniciais, as relações nucleares
familiares, é garantir a humanização e, consequentemente, um mundo melhor.
Já na adolescência, entramos em um período dos mais multifacetados da vida. Nela temos
alterações hormonais e corporais intensas, raciocínio abstrato em seu ápice, relações afetivas
mais íntimas, e o indivíduo vai deixando de ser criança e começa a se organizar para a vida
adulta. Isso se dá em um contexto social que tende a estimular o prazer momentâneo e o agora,
cercado de incertezas acadêmicas, afetivas e profissionais.
Nesse contexto, o jovem pode ficar mais vulnerável às tensões da vida, ao adoecimento
psíquico e lidar de maneira extremada com seus sentimentos, buscando substâncias de abuso,
se machucando ou mesmo pensando que a vida não vale a pena. Por isso: escutar, acolher e
cuidar desses indivíduos faz toda a diferença. A família é central neste processo, por isso, o
Governo Federal, através do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos inova, ao
formular uma política pública a esse respeito, e ao publicar um trabalho que trata a questão do
suicídio e autolesão sem intenção suicida de adolescentes e jovens na perspectiva da saúde,
família e direitos humanos, em abordagem interdisciplinar.


O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

1 Motivação: Porque mais um estudo? 9

O suicídio e a autolesão são temas que desafiam especialistas do mundo inteiro, que se
deparam com elevados índices, independente de credo, classe social, cultura etc. Nesse contexto,
o presente estudo visa disponibilizar ferramental teórico que contempla conceitos-chave, casos
importantes, fatos e dados estatísticos a fim de possibilitar uma imersão basilar no assunto.
Faz-se necessário também analisar os números sob a perspectiva da família, pois as estatísticas
apontam que grande parte dos casos ocorre em um ambiente familiar que merece atenção,
motivo pelo qual políticas públicas acerca do tema devem promover a valorização dos laços
familiares, pauta defendida precipuamente pela Secretaria Nacional da Família deste Ministério.
Nesse contexto, conceitos como o efeito Werther e o Papageno, o estado psíquico Psychache,
assim como a análise de casos de suicídio de grandes repercussões, as teorias psicológicas, a
teoria sociológica, o perfil das vítimas, os dados estatísticos relacionados, as questões históricas
que envolvem o tema, além de possíveis abordagens que possam ser trabalhadas no enfretamento
dos índices, podem ser de grande valia no entendimento do cenário da sociedade atual, em
especial a brasileira, e buscar políticas públicas que se somem às aplicáveis atualmente, de
forma a cada vez alcançar maior efetividade nas ações.
Grande parte das políticas públicas de enfrentamento ao suicídio e autolesão dá grande
ênfase a aspectos psíquicos e de saúde física e mental dos pacientes, analisando, muitas
vezes, a causa recente do fato. Embora não se negue a importância dessa abordagem, muitos
especialistas alertam para a especial relevância da busca pelo sentido da vida como elemento
chave para o contorno da problemática. É fato que as ações públicas têm começado a se
preocupar com essa perspectiva, planejando e promovendo ações de valorização da vida nas
escolas e em alguns outros meios; no entanto, tais ações ainda são, de certa forma, incipientes,
exigindo novas abordagens que garantam a integralidade e, portanto, a maior efetividade da
política pública de prevenção.

2 Introdução

O suicídio e a autolesão sem intenção suicida tornaram-se problemáticas mundiais, desafiando


os países do globo independentemente de cultura, política ou aspectos econômicos. Em 2008,
o Mental Health Gap Action Programme (mhGAP), da Organização Mundial da Saúde (OMS),
publicou um documento com orientações técnicas baseadas em evidências científicas, com o
objetivo de tornar a saúde mental uma prioridade mundial (WHO, 2009). Em pouco tempo, o
plano de ação (2013 - 2020) englobou a prevenção ao suicídio e passou a indicar estratégias
para tornar mais ágeis as ações coordenadas em todo o mundo (WHO, 2018).
Não se tem atualmente, entre os especialistas, uma visão uniforme sobre o suicídio e
a automutilação, no que tange a políticas de prevenção, mitigação dos casos pelo mundo.
Tanto que, segundo Botega (2015), embora predomine a ideia de que profissionais de saúde
devam avaliar o risco de suicídio e reunir esforços para prevenção, ainda é possível encontrar
argumentos que remontam aos ideais filosóficos estoicos.
Diante do cenário, levanta-se questionamentos que devem direcionar as ações governamentais
no tratamento do tema, entre os quais:
• Quais são os números de suicídio e automutilação no Brasil e no mundo? Como são
produzidos e como acessar as bases de dados?
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10 • Quais os indícios ou principais fatores de risco para o suicídio?


• Como avaliar as abordagens utilizadas para a prevenção?
• Existem abordagens inovadoras e eficazes que podem ser somadas às políticas públicas
atualmente utilizadas?
• Quais os custos públicos relacionados ao problema entre crianças e jovens?
• A perspectiva do sentido da vida pode contribui com as políticas públicas?
• Qual a melhor estratégia para aliar as famílias à prevenção?

Tais questionamentos serão enfrentados nos dois volumes dedicados ao suicídio e a
automutilação entre crianças e jovens no Brasil. O primeiro volume, reúne dados divulgados
pelos principais institutos que tratam da temática com o objetivo de delinear o panorama do
suicídio e da autolesão sem intenção suicida no país. Traz, ainda, as principais hipóteses acerca
das causas e ressalta a busca do sentido da vida como elemento chave para o planejamento de
ações de promoção da vida social e familiar que levem em conta a integralidade. No conjunto de
ações do movimento “Setembro Amarelo”, será lançado o segundo volume que reúne abordagens
científicas e orientações aos profissionais e familiares.

3 O Suicídio

Antes de evidenciar o panorama mundial e nacional acerca da problemática, é importante


levantar bases históricas, a fim de serem lançadas luzes sobre o tema, entendendo-se o caminho
do crescimento e da relevância do assunto ao longo do tempo. Tais aspectos auxiliam na
construção de um diálogo mais profundo com instituições, população e meios de difusão da
informação em geral.
O termo “suicídio” apareceu pela primeira vez em textos ingleses com a finalidade de
substituir a expressão “homicídio de si próprio” até então utilizada. A etimologia da palavra
suicídio vem do latim, “sui” = de si próprio, “caedere” = matar (KOVACS, 2002).
No século XIX, a Revolução Industrial gerou uma grande mudança na sociedade, o que
estimulou análises acerca da transformação social sob a ótica dos novos acontecimentos.
Percebeu-se, então, a influência do fato social na vida dos indivíduos, constatando-se que
questões como o suicídio não são assuntos relativos apenas à subjetividade, mas sim uma
temática diretamente ligada a temas sociais, em outras palavras, um Fato Social (BOTEGA, 2015).
Na chamada “pós-modernidade”, a questão do suicídio ganhou ainda um novo agravante:
o advento das novas tecnologias. Na atualidade, assiste-se a diversos casos de jovens que se
automutilam ou até mesmo praticam suicídio, motivados por postagens de outras pessoas em
redes sociais ou com o fim de obter maior visibilidade para o seu ato.
O fato é que o tema é complexo, assim como apoiar a pessoa que passa por tais processos
requer formação especializada. Botega (2015) relata, por exemplo, que em um curso de prevenção
ao suicídio, com carga horária de 6 horas, realizado no Hospital das Clínicas (HC) da UNICAMP,
em um universo de 544 profissionais de enfermagem, apenas 317 aceitaram participar do
treinamento. Ao final do curso, não mais que 17% dos profissionais julgavam estar aptos
para lidar com essa situação. O acompanhamento aos profissionais que lidam com pacientes
potencialmente suicidas deve ser constante, para evitar que o envolvimento emocional afete
também o profissional ou voluntário que apoia o paciente.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

11

a. Suicídio e Fato Social

O sociólogo francês Émile Durkheim formulou conceitos que revolucionaram o pensamento


existente à época. Considerado um dos pensadores clássicos da sociologia, Durkheim propôs
a formulação desta ciência, preocupando-se em criar um método sociológico que tem como
objeto de estudo o chamado Fato Social (DURKHEIM, 2014).
Segundo a definição de Durkheim, o Fato Social diz respeito a instrumentos sociais e culturais
que determinam as maneiras de agir, pensar e sentir na vida de um indivíduo caracterizado
por três dimensões: 1. Generalidade: o Fato Social tem abrangência coletiva e não individual;
2. Exterioridade: os Fatos Sociais podem ser percebidos como externos ao indivíduo; 3.
Coercitividade: sua ocorrência implica, por força do poder cultural de uma determinada sociedade,
em decorrência de ações impostas aos integrantes de um grupo.
Nesse contexto, Durkheim elencou alguns exemplos de Fato Social importantes em uma
coletividade, tais como: família, idioma, educação, direito, desemprego, crime e, até mesmo, o
suicídio.
Em 1897 surgiu uma obra fundamental para o estudo em questão, denominada “O Suicídio”,
escrita pelo próprio Durkheim. Com esta obra o autor provocou um inédito deslocamento do
foco associado ao suicídio, do indivíduo para a sociedade. Com base em uma grande amostra
de dados estatísticos, o autor constatou que o número de suicídios em uma sociedade variava
de acordo com aspectos econômicos, culturais e sociais; entretanto, esse quantitativo obedecia
a uma tendência local, isto é, o número de casos obedecia a uma certa constante, variando
para mais ou para menos em virtude da ocorrência de outros Fatos Sociais. Assim, surgiu uma
constatação: se o suicídio fosse apenas uma questão psicológica do indivíduo, esses números
deveriam sofrer grandes oscilações e não obedecer a uma curva constante. Baseando-se nessa
perspectiva, Durkheim (2000) definiu três tipos de suicídios:
• Suicídio Egoísta: é aquele em que o ego do indivíduo se afirma em demasia, face ao coletivo.
As buscas pessoais do indivíduo se tornam maiores que os objetivos da sociedade à qual
pertence. Pode ser agravado por descrença com as instituições públicas e com a sociedade
como um todo. O indivíduo mantém suas questões particulares (objetivos materiais, por
exemplo) como sua meta de vida acima de todas as outras, e suas frustações nesse campo
podem acarretar a falta de sentido na vida, não tendo, assim, mais razões para viver.
• Suicídio Anômico: é aquele em que há uma anomia social, isto é, uma ausência de regras
na sociedade, ou mesmo uma crise moral que gere uma grande descrença das instituições
públicas. Tal fato pode ser gerado por uma grande mudança social, como uma grave crise
econômica, em há uma grande desregulação das normais da sociedade. Habitualmente,
esse tipo de suicídio ocorre mais em países com melhores condições econômicas.
• Suicídio Altruísta: é aquele em que o indivíduo assume que sua vida possui um valor
menor em detrimento de um determinado grupo ao qual pertence ou um ideal ao qual
defenda. Um possível exemplo são os kamikazes japoneses, os terroristas que colidiram
com o World Trade Center em Nova Iorque, em 2001, ou, até mesmo, o caso de Jonestown,
considerado o maior suicídio coletivo da história.
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12 Durkheim entende que os casos de suicídio mais comuns são os dois primeiros (Egoístas e
Anômicos). Ele ainda constatou que quanto maior a intensidade do vínculo de pertencimento a
um grupo solidamente constituído, menor é a probabilidade de ocorrência de suicídio. Em outras
palavras: indivíduos solteiros teriam maior probabilidade de praticar suicídio do que indivíduos
casados, assim como pais de um maior número de filhos teriam menor chance de suicidar-se
do que pais sem filhos. Esta abordagem foi pioneira ao indicar a centralidade do vínculo social
constituído na família, a qual através das relações significativas nela estabelecidas, ofereceria
ao indivíduo o sentido de pertencimento, fator que ainda hoje é reconhecido como relevante
para a diminuição do suicídio ou autolesão. Vale ressaltar que a literatura indica fatores que
podem moderar o risco, porém, tais fatores não são suficientes para determinar os motivos ou
o contexto no qual o suicídio ocorre.

b. Casos de grande repercussão pública

Alguns casos de suicídio marcaram a opinião pública, e revelam alguns aspectos ligados
ao tema, decisivos para sua compreensão. Conhecê-los pode jogar luz sobre fatos ocorridos
em épocas pretéritas, relevantes para a atualidade, auxiliando na discussão de ações públicas
efetivas.

i. O suicídio coletivo de Jonestow - 1978

No ano de 1978, mais precisamente em 18 de novembro, registrou-se o maior caso de


suicídio coletivo da história. Esse acontecimento ocorreu em Jonestown, uma comunidade
situada no território da Guiana, fundada por Jim Jones, um pastor de uma seita pentecostal
cristã de orientação socialista. A seita de Jones, inicialmente situada na Califórnia, despertou
muita curiosidade da imprensa americana, que investigava o estilo ditatorial do pastor. Assim,
ele decidiu mudar seu templo para o território da Guiana em 1974.
Em 1978, o deputado federal Leo Ryan, viajou a Jonestown para verificar denúncias do estilo
messiânico e ditatorial de Jones. Foi então que o deputado e mais algumas pessoas da delegação
foram mortas a tiros. Temendo alguma ação internacional ou dos EUA, Jones convenceu o seu
povoado a tomar um ponche de frutas misturado com veneno. Os que resistiram, embora um número
pequeno, foram mortos a facadas e tiros. Ao todo, foram cerca de 918 mortes, em um suicídio que
poderia ser classificado no âmbito da modalidade denominada por Durkheim como altruísta.

ii. O suicídio da jovem de 14 anos - Hannah Smith – 2013

Em 2013, a jovem britânica Hannah Smith, de 14 anos, praticou o suicídio motivada por
diversos ataques de cyberbullying em uma rede social denominada Ask.fm. No perfil da jovem,
moradora de Leicestershire, estariam algumas mensagens anônimas de incentivo ao suicídio.
A jovem foi encontrada morta em agosto de 2013 e investigou-se a possibilidade de que as
mensagens tenham sido enviadas pela própria jovem, que sofria de problemas de autoestima
(CRUZ; RESTIVO, 2014).
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iii. O efeito de Werther e o Papageno 13

Em 1774, o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, escreveu a obra “Die Leiden des
jungen Werthers”, traduzida para o português com o título “Os sofrimentos do Jovem Werther”.
No enredo, o protagonista da história se suicida após a rejeição da mulher que amava.
Após a publicação da história, observou-se que diversos jovens passaram a utilizar as
mesmas calças amarelas e jaquetas azuis do personagem da história, assim como se percebeu
um aumento do número de suicídios nos países em que o livro fora publicado. As análises
convergem para indicar que, neste caso, o ensimesmamento do protagonista constitui uma
formulação reativa à subjetividade moderna (VALE DA SILVA, 2013) o que, de certo modo, atrai
a perspectiva de alguns jovens. O termo “efeito Werther” foi, então, cunhado pelo pesquisador
David Phillips em 1974, dois séculos depois do romance de Goethe ser publicado, para exprimir
um efeito de contágio, de alastramento e estímulo a casos de suicídio, a partir da divulgação
pública de determinado caso-base ou de relatos relacionados com o tema.
Esses casos implicam em cautela sobre a abordagem do tema, inclusive ao se falar em
políticas públicas sobre o assunto, com o fim de evitar que mais casos sejam motivados em
consequência dos equívocos da abordagem empregada.
Por outro lado, o efeito Papageno consiste, justamente, no contrário. A perspectiva aqui está
associada ao exemplo de superação sob o viés positivo. Trata-se da conduta de uma pessoa que
ao relatar como superou ideações suicidas passa a propagar formas de prevenção ao suicídio
(MAIA; ROCHA; ARAUJO; MAIA, 2017).

iv. Crenças sobre suicídio

Segundo Botega (2015), com base em informações da World Health Organization (WHO,
2014), algumas crenças podem ser consideradas equivocadas e, portanto, dificultar a eficácia
das ações preventivas. São elas:
• Se eu perguntar sobre suicídio, poderei agir de modo a induzir a pessoa: existe um temor
na abordagem sobre o assunto. O questionamento sobre ideias suicidas, se feito de
modo sensato e franco, fortalece o vínculo com a pessoa que se sente acolhida por um
profissional preocupado com seu sofrimento.
• A pessoa ameaça se suicidar apenas para manipular: nem sempre é assim. Muitas pessoas
que se suicidaram haviam dado sinais verbais ou não verbais de sua intenção para amigos,
familiares e médicos.
• Quem quer se matar, se mata mesmo: ao contrário dessa ideia, as pessoas que pensam
em suicídio estão ambivalentes entre viver e morrer. Se obtêm um apoio emocional
adequado e tempestivo, podem desistir de fazê-lo. A prevenção não consiste em evitar
todos os suicídios, mas sim aqueles que podem ser evitados.
• O suicídio só ocorre quando há uma doença emocional: isso não é requisito, ainda que
algum tipo de transtorno possa estar presente em grande parte dos casos. O suicídio
está mais ligado a um sofrimento profundo do que a um transtorno mental. Em geral, as
pessoas acometidas de transtornos mentais não eliminam a própria vida.
• No lugar dele, eu faria o mesmo: em alguns casos, o envolvimento emocional do familiar
ou do profissional de saúde faz com que surjam dificuldades em lidar com o caso, o que
indica a necessidade de atuação em rede multiprofissional.
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14 • Veja se da próxima vez você acerta: o comportamento suicida pode suscitar críticas
decorrentes do desconhecimento acerca dos motivos que levam a pessoa a tomar essa
decisão. Tais críticas, por vezes, desencadeiam sentimentos de hostilidade e rejeição, o
que, por sua vez, cria barreiras para a escuta, a acolhida e a orientação eficaz.
• Quem conclui o ato é bem diferente de quem apenas tenta: de um modo geral, as pessoas
que praticam o suicídio encontram-se em condições distintas de quem empreendeu
uma tentativa. Na verdade, observa-se certa heterogeneidade nos dois grupos, por isso
é um equívoco manter uma análise genérica. Muitos estudos apontam que a tentativa
de suicídio pode aumentar o fator de risco de um suicídio concreto.
• É difícil mudar: a situação adversa que induz à falta de esperança e de desejo de viver
é, em geral, passageira e relacionada a situações ou condições de vida que podem mudar
de acordo com as políticas públicas e com o suporte psicossocial.

c. As estatísticas sobre suicídio

i. Dados mundiais

De acordo com estimativas da World Health Organization (WHO, 2018), cerca de 800 mil
mortes ao ano se devem ao suicídio, o que implica em um suicídio a cada 40 segundos. Estima-
se que mais de 2 mil pessoas vem a óbito por suicídio ao dia em algum lugar do mundo e que,
para cada indivíduo que morre por suicídio, há aproximadamente 20 pessoas com ideações
suicidas.
Em termos globais, o suicídio é responsável por 1,4% do total de mortes no mundo. Embora
trate-se de um fenômeno que atinge as pessoas ao longo do ciclo de vida, especialmente idosos
e grupos étnicos como os indígenas, recentemente crianças e jovens preocupam as políticas
públicas, pois nesta fase da vida os índices de crescimento do suicídio chegaram a ocupar a
segunda causa de morte entre pessoas de 19 a 25 anos (WHO, 2014). O total de mortes por
suicídio supera a soma de todas as mortes causadas por homicídios, acidentes de transporte,
guerras e conflitos civis (BOTEGA, 2015).
Na figura abaixo, encontram-se as taxas de suicídio por 100 mil habitantes. Observa-se que
os índices variam bastante entre países, no entanto, são mais elevados em países de capitalismo
avançado e em países cuja população possui nível socioeducacional médio e baixo.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

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Figura 1: Taxa de suicídio por 100.000 habitantes (Fonte: WHO, 2016a).

Embora os índices de suicídio tenham aumentado nos últimos 60 anos, a partir de meados da
década de 1990, começara a apresentar leve decréscimo, o que se deve a políticas de prevenção
junto aos idosos. Os coeficientes mais altos estão presentes na Europa Oriental e Ásia, e em alguns
países da África e América Latina. Índia e China são os países com maior número de mortes por
suicídio. Na Coréia do Sul, a taxa de suicídio dobrou ao longo dos últimos anos (WHO, 2018).
A Figura 2 representa a taxa de mortalidade por suicídio entre crianças e jovens. Observa-se
que a medida que os grupos de idade avançam, a tendência é de crescimento. Ao considerar-se
o gênero, constata-se um maior número de suicídios entre pessoas do sexo masculino, exceto
para a faixa de 15 a 19 anos.

Figura 2: Número de suicídios globais em pessoas jovens (Fonte: WHO, 2016b).


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16 Os dados da OMS apontam, ainda, que a taxa global de suicídios tende a aumentar de
acordo com a idade, especialmente em países de nível socioeconômico médio e baixo, o que
está representado na Figura 3.

Figura 3: Suicídios por idade e nível de renda. (Fonte: WHO, 2016c).


Apesar de o Japão figurar como a terceira economia global por PIB mundial é o primeiro país
em taxas de suicídio por mil habitantes entre os países de capitalismo avançado. Antecedem
o Japão oito países em vias de desenvolvimento e dois países – Índia e Rússia – que formam
o grupo com forte possibilidade de crescimento em virtude dos recursos naturais e humanos
e do grande potencial econômico (BRICS).

Figura 4: Países com maiores coeficientes padronizados de mortalidade por suicídio, estimado em 2012. Total de
óbitos por suicídio e percentual de mudança dos coeficientes entre 2000 e 2012. (Fonte: WHO, 2014 e BOTEGA, 2015).
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

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Entre os países da América Latina, o Brasil ocupa o oitavo lugar em coeficiente de mortalidade
por suicídio por 100 mil habitantes. O país se mantém nesta posição e o Ministério da Saúde
constata que os índices tendem a crescer de acordo com a idade do grupo analisado.

Figura 5: Estimativa de coeficientes padronizados de mortalidade por suicídio. Total de óbitos por suicídio e variação
percentual entre 2000 e 2012 de alguns países selecionados. (Fonte: WHO, 2014 e BOTEGA, 2015).

ii. Dados do Brasil

Embora o Brasil ocupe a 8ª posição em número de suicídios, entre 2000 e 2012, o coeficiente
padronizado global de mortalidade por suicídio diminuiu 28%, pois este índice considera o
aumento da população e da esperança de vida. Por outro lado, a análise de números absolutos
indica que o Brasil permanece entre 29 países em que há um constante aumento do suicídio.
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18

Figura 6: Ranking dos países com maior número de suicídio. (GAZETA DO POVO. 2014).

Em termos absolutos, a mortalidade por suicídio vem crescendo no Brasil ao longo das
décadas. Um estudo de seguimento realizado a partir de 1980 mostra um aumento de 21%
até o ano de 2000 e de 29,5% até 2006 (BOTEGA, 2015).

Tabela 1: Índice de suicídios (por 100 mil) segundo Faixa Etária. Brasil. 1980/2012.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

19

Fonte: WAISELFISZ (2014)

Observa-se que, na década de 1980, havia tendência negativa à mortalidade por suicídio em
quase todas as faixas etárias. No entanto, a partir de 1990, houve um significativo crescimento,
especialmente entre crianças de 10 a 14 anos.

Figura 7: Gráfico do Número e taxas de suicídio (por 100 mil) segundo Faixa Etária. Brasil. 1980/2012.
Fonte: Waiselfisz (2014).

Segundo Waiselfisz (2014), entre 2000 e 2012, o total de suicídios no país saiu de 7.726
para 10.321, o que significa um aumento de 33,6%. Esse aumento foi superior ao crescimento
populacional do país no mesmo período, índice que foi de 11,1%.
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20 O maior índice de aumento do suicídio se encontra na região Norte, onde passou de 390 para
693, o que representa um aumento de 77,7%. Amazonas, Roraima, Acre e Tocantins praticamente
duplicaram o número de casos.
Na Região Nordeste, o crescimento também foi expressivo, sendo de 51,7%. Nessa região,
Paraíba e Bahia, superaram em mais de duas vezes a média nacional. Na região Sudeste, o
crescimento foi de 35,8%, embora Minas Gerais tenha obtido índices acima da média (58,3%)
e Rio de Janeiro praticamente manteve estável o crescimento. As regiões Sul e Centro-Oeste
são as de menor crescimento decenal: 15,2% e 16,3%.

Tabela 2: Número de suicídios na População Total, por UF e Região. Brasil. 2002/2012.

Fonte: Waiselfisz (2014).


O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

Na figura 10, observa-se a distribuição da mortalidade por suicídio na população total. 21

Destaque para dois estados do Nordeste (Paraíba e Bahia) nos primeiros lugares do ranking,
muito acima da média nacional. Seguem-se outros estados do Norte e do Sudeste (Minas Gerais
que ocupa o 9º lugar e São Paulo, em 14º). Por outro lado, os estados que possuem tendência
negativa são Ceará, Goiás, Rio de Janeiro e Amapá.

Figura 8: Gráfico de Crescimento das taxas de suicídio. População total por UF. 2002/2012
(Fonte: WAISELFISZ, 2014).

Ao considerarmos a mortalidade por suicídio na população jovem, a Paraíba permanece


ocupando o primeiro lugar do ranking, seguido por Amazonas, Tocantins e Acre. A Bahia está
em quarto lugar. Novamente dois estados do Sudeste aparecem com média superior a nacional,
Minas Gerais (11º lugar) e São Paulo (14º lugar).
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS

22

Figura 9: Gráfico de Crescimento das taxas de suicídio. População jovem por UF. 2002/2012
(Fonte: WAISELFISZ, 2014).

d. Suicídios em povos indígenas

Os vários relatos contemporâneos de suicídio entre povos indígenas, opõem-se à ideia de


que o fenômeno resultaria do conflito com o mundo civilizado. Entre os motivos dos casos
analisados encontram-se: desonra, reações de luto, fuga da escravidão e frustação amorosa.
Existem algumas tribos nômades, em que o suicídio de idosos ocorre em forma de ritual.
No Brasil, a maioria dos casos (65%) de suicídios em povos indígenas concentra-se em Roraima,
Mato Grosso do Sul e Amazonas. Em 1980, houve uma epidemia de suicídio nas comunidades
Guarani, na região de Dourados (MS), sendo que as taxas nas tribos Guarani, Kaiowá e Ñandeva
permanecem elevadas até os dias atuais (BOTEGA, 2015).
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

e. Tentativas de suicídio no Brasil 23

Como parte do programa de prevenção ao suicídio, a OMS lançou em 2002, o Suicide


Prevention – Multisite Intevention Study on Suicide (SUPRE-MISS). Esse projeto aplicou diferentes
abordagens em 9 cidades dos cinco continentes: Brisbane (Austrália), Campinas (Brasil), Chennai
(Índia), Colombo (Sri Lanka), Durban (África do Sul), Hanoi (Vietnã), Karaj (Irã), Talin (Estônia)
e Yuncheng (China). Os resultados confirmaram a tendência mundial de maior frequência de
tentativas de suicídios entre mulheres em comparação ao sexo masculino. Porém, os resultados
avançam em relação a estudos anteriores por analisar categorias específicas como ideação
suicida, planos de suicídio e tentativas de suicídio. Constatou-se que, no caso da cidade de
Campinas, as mulheres tendem a apresentar índices significativamente superiores nas três
categorias em comparação com os homens (Tabela 3).

Tabela 3: Prevalência de ideação, plano e tentativa de suicídio, ao longo da vida, em habitantes


da zona urbana do município de Campinas

Fonte: BOTEGA (2015)

Figura 10: Prevalência de comportamento suicida na região urbana de Campinas


(Fonte: BOTEGA, 2015).
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24 O estudo revelou, ainda, que para cada atendimento em pronto socorro, um conjunto de
comportamentos relacionados ao suicídio surgem na população. Em média a cada 100 habitantes,
para cada indivíduo atendido, 17 apresentam pensamento relacionado ao suicídio (OMS, 2012).

f. Custos relacionados ao suicídio

Um estudo realizado pelo Hospital das Clínicas da UNICAMP avaliou os custos econômicos
de 17 casos de tentativas graves de suicídio (intencionalidade suicida e letalidade elevadas).
Entre os custos, considerou-se diárias hospitalares, medicamentos, exames, procedimentos,
honorários, entre outros, além dos custos indiretos relativos a perdas econômicas para o
indivíduo e sua família. Os resultados obtidos foram:

Tabela 4: Tabela de custos da tentativa de suicídio

CUSTOS DIRETOS

Atendimento pré-hospitalar R$ 758,00

Medicação R$ 1.394,00

Procedimentos R$ 826,00

Diárias Hospitalares R$ 6.747,00

Próteses R$ 37,00

Exames Laboratoriais de Imagem R$ 553,00

Custo Total Hospitalar R$ 9.560,00

Seguimento ambulatorial R$ 316,00

Custo indireto individual R$ 1.186,00

Custo indireto familiar R$ 599,00

Custo total (direto + indireto) R$ 12.351,00

Fonte: Botega (2015).


O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

Em termos internacionais, segundo a JMIR (2017), nos Estados Unidos, estima-se que os 25

custos relacionados a tentativas e mortes por suicídios chegam a US$ 26 bilhões de dólares,
levando-se em consideração as despesas médicas e absenteísmos no trabalho.

g. Uma observação acerca dos registros

Ao analisar as estatísticas acerca do suicídio e da autolesão provocada sem intenção suicida,


uma indagação vem à mente: há diferenças na forma de registro de casos entre os países?
Haveria casos de suicídios e autolesão não registrados? A resposta de Botega (2015) é sim,
para todas as perguntas. Este é, de fato, um problema enfrentado ao se interpretar e comparar
índices de suicídios e automutilação. Já em 1970, a OMS enfatizava as diferenças entre os países
no que tange ao registro de morbidade e de mortalidade por causas externas, especialmente
nos casos em que havia incerteza ou desconhecimento (WHO, 1974). Muito desenvolvimento
ocorreu ao longo do tempo, porém, vale ressaltar que alguns casos permanecem em aberto,
especialmente em países nos quais os registros são, por vários motivos, assistemáticos ou
não seguem critérios internacionais. Neste ponto, merece destaque o fato de que os dados
produzidos no Brasil acerca da mortalidade têm fidedignidade comparável a países de longa
tradição na elaboração dessas estatísticas (LAURENTI; MELO JORGE; GOTLIEB, 2004).
Porém, o que se pretende chamar atenção é para o subnotificação dos casos de suicídio e
autolesão. No Brasil, esses dados resultam da síntese de informações que constam no atestado
de óbito, sendo compiladas no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), mantido pelo
Ministério da Saúde. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima que 9,5%
dos óbitos não são registrados.

h. A importância da família

Estudiosos de diferentes correntes compartilham a perspectiva de que a família é central


para o enfretamento das temáticas do suicídio e automutilação, assim como entendem que
processos de risco relacionados ao contexto familiar se destacam entre os fatores que predispõem
a ocorrência de ambos. Grande parte dos adolescentes vítimas do suicídio enfrentavam algum
problema familiar ou sofriam por necessitar de proteção ou de algum tipo de apoio psicossocial.
Por outro lado, embora não seja plausível tratar da família de casos em abstrato, é certo
que a família de vítimas de suicídio precisa de atenção, o que passa por orientação e cuidado,
inclusive em vista da prevenção de novos casos (BOTEGA, 2015). Uma das principais estratégias
para a prevenção do suicídio e da autolesão é a elaboração da dor por meio do discurso. Nesse
ponto, o diálogo, a escuta e a acolhida tornam-se centrais, por permitir que a pessoa expresse
e compreenda a extensão do problema. Há relatos de casos de abordagem familiar em que o
tratamento é altamente eficaz (GONÇALVES, SILVA; FERREIRA, 2015).

i. A influência das novas tecnologias

O uso imoderado das novas tecnologias pode acarretar diversos prejuízos à saúde do ser
humano, sobretudo no que diz respeito à saúde mental. Gonçalves (2018) associa o mau uso
de tecnologias a transtornos como: alienação humana, amnésia digital, ansiedade, compulsão
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26 e depressão, déficit de atenção, demência digital, nomofobia, transtornos urbanos, visão


comprometida, sono sem qualidade, obesidade, entre outros.
A nomofobia consiste na fobia causada pelo incômodo ou angústia gerada pela incapacidade
de acesso à celulares e computadores em geral ou, até mesmo, à falta de comunicação através
destes. Tal situação pode acarretar crises de ansiedade e depressão.
Tratando especificamente da depressão, que em alguns casos apresenta relação direta com
os temas tratados nesse estudo, embora não se tenham achados relevantes que assegurem
o nexo entre nomofobia e depressão, pesquisas evidenciam duas situações que as envolvem
(GONÇALVES, 2018):
• Numa primeira situação, um indivíduo com características de tristeza, falta de prazer,
sensação de desânimo, dificuldade de concentração e isolamento social, pode desenvolver
nomofobia. Isolado e com dificuldades de interação, o indivíduo poderia recorrer à internet
para diminuir o isolamento, agravando progressivamente a condição de dependência e
depressão.
• Em um segundo caso, a nomofobia surgiria primeiro. O indivíduo usaria dos recursos
tecnológicos para se comunicar de forma prazerosa, com progressiva dependência,
acarretando isolamento, solidão, baixa autoestima, estresse e, por fim, depressão.
Vale ressaltar que cada vez mais os estudos tendem a relacionar o aumento
uso de novas tecnologias entre os jovens a casos de transtornos de conduta e, inclusive, de
depressão, embora ainda não existam fortes evidências dessa relação (UMAÑA; ANDRÉS, 2017).
Para alguns especialistas, a vida nas redes sociais, tende a criar no jovem um sentimento de
que a vida dos amigos (embora muitas vezes fantasiosa) é sempre muito melhor que a sua,
deixando o adolescente mais triste ainda.
Por outro lado, se faz importante mencionar que diversos problemas relacionados a suicídio
e automutilação em adolescentes têm uma relação direta com o cyberbullying, que é o uso
da internet (mídias sociais em especial) para a intimidar e hostilizar uma pessoa. Importante
citar que diversos casos retratam jovens praticando esses atos para serem transmitidos online
com o fim de chamar a atenção de algumas pessoas em especial ou, até mesmo, como forma
de pedir ajuda.
Em resposta ao aumento da autolesão e suicídio entre jovens e, em especial, na internet,
algumas mídias sociais têm atuado para combater essa problemática. Recentemente o Instagram
anunciou medidas que impedem imagens de automutilação em sua plataforma (FOLHA DE
SÃO PAULO, 2019B). O Facebook, que é proprietário do Instagram, tem utilizado recursos de
inteligência artificial na busca de identificar pessoas com potencial tendência à prática de
tentativa de suicídio ou automutilação (SPRINGER LINK, 2018). Esse recurso consiste em
detectar posts nos quais a pessoa demostre estar precisando de ajuda a fim de atuar de forma
preventiva. O Twitter também tem atuado nessa linha. Ao observar usuários que busquem
conteúdos sobre suicídio ou automutilação, a plataforma os redireciona para a página com
informações sobre o CVV (GAUCHAZH, 2018).
Embora cada vez mais as plataformas de internet se preocupem com o tema do suicídio e
da automutilação, em especial entre os jovens, ainda se registram vídeos de incentivo a essas
práticas, isto é, em que crianças e adolescentes são ensinados a se automutilarem (PAIS E
FILHOS, 2019).
Importante citar que o mundo atual, proporciona acesso rápido às informações, o que
acarreta nos jovens um sentimento de celeridade, e a não posse de forma imediata, de algo
que se pretende, tende a gerar ansiedades e, até mesmo, traços depressivos entre os jovens.
Como exemplo, atualmente jovens ficam horas em frente a telas e seus seriados prediletos
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

estão todos disponíveis a um click, não havendo necessidade de aguardar o próximo episódio 27

(CBSN, 2018). Cada vez menos as crianças têm estado preparadas para frustrações, inclusive
ligadas à espera, isso tem sido muito prejudicial à juventude moderna. Vale ressaltar que a
agitação tecnológica faz com que o adolescente não consiga passar um tempo a sós, recorrendo
a meios tecnológicos com o fim de evitar o silêncio e a solidão. Essa prática torna cada vez
mais a pessoa dependente dos recursos tecnológicos e incapaz de enfrentar o mundo a sua
volta (ABREU; YOUNG, 2019).
Nesse contexto, especialistas têm feito recomendações às famílias sobre o uso de tecnologias
para crianças e adolescentes (SCIENCEDAILY, 2016):
• Evite o uso de mídia digital em crianças menores de 24 meses;
• Evite deixar crianças a sós na frente da TV;
• Escolha programas de qualidade;
• Tecnologia quanto mais tarde melhor, não precisa disponibilizar celulares, por exemplo,
para crianças o mais cedo possível;
• Para crianças de 2 a 5 anos, 1h máxima de televisão é o ideal;
• Evite programas e aplicativos acelerados e com muito conteúdo de violência;
• Evite o uso de mídias como meio de acalmar os filhos, isso pode causar nas crianças,
dificuldades de auto se acalmar ou regular emoções;
• Teste o aplicativo antes de disponibilizar ao filho;
• Mantenha os quartos, refeições e brincadeiras longe de dispositivos eletrônicos;
• Não permitir o uso dessas tecnologias próximas ao horário de sono.

j. Criação dos filhos

Criar filhos no mundo atual é o desafio cada vez maior para os pais. As novas tecnologias
trouxeram ainda um novo complicador nesse cenário, inserindo novas variáveis na educação que
não existiam anteriormente. Diversos benefícios também são advindos das novas tecnologias,
mas desde que usadas de maneira correta.
Tratar questões de educação desde a mais tenra idade, dentro do contexto familiar, é uma
condição sine qua non para a sociedade, e é inclusive um trabalho preventivo ao suicídio e
a automutilação. Com essa temática, Dr. Alexander Lynford-Pike deixa algumas orientações
aos pais. Importante deixar claro que não se trata de uma intervenção política dentro do seio
familiar, mas sim de apresentação de um caminho que pode auxiliá-las.
Há na sociedade contemporânea, uma crise de autoridade na família, o que implica em
efeitos graves para a sociedade como:
• Desqualificação do papel da instituição familiar como núcleo básico da organização social;
• Prejuízos à formação de crianças e jovens para a vida adulta proveitosa;
• Formação de jovens incapazes de educar a geração seguinte, reduzindo progressivamente
a qualidade das relações sociais.
Baseados na obra do Dr. Alexander (LYNFORD-PIKE, 2015), diversas ponderações práticas
a respeito do tema podem ser sugeridas aos pais para proporcionar uma educação saudável
a seus filhos. São elas:
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS

28 • Não há educação sem autoridade;


• Pais precisam traçar limites claros para seus filhos;
• Os pais são os responsáveis pela educação dos filhos, tarefa de responsabilidade do pai
e da mãe, e não de um só.
• É preciso respeitar os direitos dos filhos, assim como fazer-lhes cumprir os deveres;
• Autoridade não significa autoritarismo;
• É preciso ser firme nas ordens e flexível ao dialogar com os filhos;
• Elogie as boas atitudes;
• Dê exemplos;
• Incentive a criatividade;
• Não deixe os filhos expostos a televisão, internet, games ou outros recursos tecnológicos
por longos períodos; estabeleça prazos curtos desde o início.
• Atenção aos conteúdos da televisão, internet ou mesmo dos games do qual seus filhos
são expostos;
• Não dê respostas hostis e agressivas;
• Evite levantar o tom de voz, a autoridade não está no volume;
• Deixe previamente claro, que ações erradas têm consequências;
• Converse previamente sobre os eventos e o que se espera dos filhos;
• Seja prudente nos castigos;
• Carinho, calma e firmeza na comunicação;
• Faça acordos com seus filhos;
• Não tenha medo de dizer “não”;
• Cuidado com excesso de presentes materiais;
• Evite bonificação de boas atitudes com itens materiais
• Não caia na armadilha do: “ainda é uma criança”, em todas as idades é possível obter
algum valor de educação em abstrações diferentes;
• Ensine os filhos a lidarem com as frustrações;
• Ensine seu filho a enfrentar preconceitos e dificuldades, os grandes serem humanos da
história não se acovardaram com isso e se tornaram grandes exemplos.
• Não ceder aos choros;
• Olhe nos olhos;
• Incentive o silencio de forma gradual, os filhos podem aprender a ter um tempo para
refletir e aprender a serem amigos de si mesmo ao invés de atacarem silêncio com
dispositivos eletrônicos;
• Dedique tempo aos seus filhos
• Conte histórias com frequência para eles;
• Perdoe e o ensine a perdoar;
• Abrace, faça carinho, cócegas, risos, etc;
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

• Brinque com seus filhos 29

• Demonstre afeto pelo seu cônjuge. Os filhos ficam mais seguros ao presenciarem a
relação amorosa vivida por seus pais
• Ame seus filhos

“Tome cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais” (Sócrates).

k. Logoterapia e família na prevenção ao Suicídio

A Logoterapia (Logo: sentido/Terapia: cura) é uma teoria psicológica inaugurada por Viktor
Frankl que sintetizou, nesta abordagem, a vasta experiência que acumulou no campo da
psiquiatra após ter enfrentado e sobrevivido a quatro campos de concentração. Influenciado
principalmente pelas ideias de Scheler e Hartman acerca dos processos psíquicos humanos,
Frankl propõe que a personalidade é regulada pela integralidade entre corpo (que expressa
o caráter físico-biológico da personalidade); psiquismo (no qual se encontram os instintos,
impulsos, desejos, sensações); e noésis (termo originário do grego noos que se refere à dimensão
tipicamente humana: liberdade, responsabilidade, decisão, capacidade de amar, religiosidade).
(PEREIRA, 2015; SILVEIRA; MAHFOUD, 2008).
Na análise existencial proposta por Frankl, o centro da pessoa identifica-se com a noésis que
instaura um dinamismo entre acontecimentos, corpo e psiquismo e destaca-se pela capacidade
de resposta singular, marcada pelo caráter humano.
O ser humano é, em essência, ser-responsável (Frankl, 1948/1993,
p.15), e a responsabilidade está na ação no momento presente
(“aqui e agora”), na “concretude de determinada pessoa numa
determinada situação” (p.16). Humano é, também, o “ser que
decide” (Frankl, 1948/1993, p.26). Somente diante daquilo que
é decisão sua a pessoa é responsável, e somente quando ela é
responsável, pode-se dizer que está sendo “ela mesma”. “O ser
humano propriamente dito começa onde deixa de ser impelido,
e cessa quando deixa de ser responsável” (p.19). A existência
humana direciona-se sempre para “além de si mesma, indicando
um sentido”. Então, o importante é primeiramente realizar um
sentido, ou seja, é importante que a pessoa assuma atitudes que
a aproximem da realização daquilo que tem sentido
(Frankl, 1948/1993, p.61). (SILVEIRA; MAHFOUD, 2008, p. 570)

O sentido é ansiado constantemente nos atos momentâneos, nos empreendimentos que


visam abarcar o presente ao futuro e, ao final do percurso de , que reúne e direciona o conjunto
de decisões e relacionamentos estabelecidos ao longo do tempo.
Assim, a Logoterapia propõe abordar integralmente o ser humano com base na perspectiva
de que o transtorno psíquico se instaura em decorrência do sofrimento sem sentido que leva
ao desespero. Esta técnica se mostra eficaz na prevenção ao suicídio, pois enfoca um aspecto
central do conjunto de comportamentos que o antecede: a perda do gosto de viver. Esta falta
de perspectiva acerca da vida, retratada por Frankl (1946/1989) como vazio existencial se deve
ao uso incipiente da dimensão noética. Peculiar e, portanto, exclusiva ao ser humano, a noésis
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30 refere-se à capacidade racional de questionar-se sobre a origem e a finalidade de todas as


coisas, a ponto de reconhecer que tudo possui um sentido que desperta e realiza a profunda
expectativa de completude. O ser humano que vive assim torna-se presença da dimensão
noética para si e para os demais, capaz de expressar-se de modo genuíno e espontâneo, de
reconhecer e abraçar valores, de assumir responsabilidades de modo consciente.
Do ponto de vista da logoterapia inaugurada por Viktor Frankl, o suicídio decorre de uma
dupla dificuldade por parte do ser humano: a de encontrar o sentido da vida e a de responder
de modo livre. Tal impasse possui implicações diretas sobre o indivíduo e a família que, ao lado
dos determinantes sociais e epidemiológicos, impactam diretamente sobre os índices de suicídio.

i. Esvaziamento da pergunta a respeito do sentido da vida

Antes de tratarmos diretamente do suicídio cumpre indicar brevemente o posicionamento


humano a respeito da morte, especificamente do ponto de vista individual-ontológico. A morte
é um fato que conduz a pessoa a conectar-se com dimensões simbólicas e existenciais que
ultrapassam a imediatez do tempo e do espaço. Trata-se de um acontecimento inexorável e
irremediável que marca o fim da existência humana e, portanto, suscita indagações acerca do
sentido do viver, mobilizando tentativas de resposta. Todas as culturas de diferentes épocas
mobilizam-se para lidar com essas indagações, o que produz formas culturalmente novas de
enfrentar os desafios à sobrevivência humana (desenvolvimento da ciência, arte, literatura,
religião).
Na psicologia, a pergunta acerca do sentido da existência humana está no cerne do problema
da motivação. Sem uma hipótese acerca do motivo pelo qual viver ou realizar algo, o vazio e
a angústia existenciais afetam o ser humano, abrindo espaço para problemas e transtornos
psíquicos. Com efeito, dizia Frankl, em todo homem há também uma «vontade de sentido»
ou o desejo de saber o significado da vida, o por que e o para que viver. Tal necessidade de
sentido acerca da vida é um impulso especificamente humano, arraigado nas camadas mais
profundas do psiquismo.
As investigações acerca da origem e evolução do comportamento, no entanto, não chegam a
formular uma resposta ao sentido da vida, deixando espaço para filosofia e metafísica. Atualmente,
há vertentes que apoiam a natureza intrínseca do organismo em valorizar a vida, as quais se
contrapõem a outras abordagens que dão relevo à influência do ambiente. Essas últimas, de
base interacionista, tendem a concordar que dar sentido à própria vida é um gesto que decorre
do envolvimento em grupos capazes de efetivar a inserção da pessoa em situações que a
enraízam. Por exemplo: o bebê manifesta uma irresistível força para manter-se vivo, recorrendo
a todos os meios para ultrapassar a circunscrição da temporalidade e do espaço. O bebê humano
comporta-se não como alguém destinado à morte, marcado pela finitude, mas lança-se na vida
confiando-se àqueles aos quais pertence. Suas interações com o mundo são marcadas pela
certeza de ser apoiado por uma realidade maior que o sustenta. Disso decorre que a perda do
sentido não é imediata; é multideterminada. Porém, do ponto de vista da psicologia, ainda há
muito o que ser desenvolvido acerca da busca do sentido da vida, na acepção da Logoterapia.
Prevalece, na atualidade, a perspectiva na qual a resposta ao “por que vale a pena viver” é uma
questão pessoal colocada por poucos e que não diz respeito à coletividade. Teoricamente, esta
atitude corresponde a desviar a atenção da pergunta para a estrutura psíquica. Ou a atribuir a
questão à desadaptação do sujeito e indicar a falta de oportunidades individuais de estabelecer
trocas com contexto/ambiente (modelo influenciado pela dialética e pragmática). Socialmente,
equivaleria à análise das forças nas instâncias de poder.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

Há ainda um desdobramento dessa questão, do ponto de vista do sujeito. É que a resposta 31

pessoal ao motivo pelo qual se vive, resguardada à vontade ou ao sentimento, conduz à


instabilidade constante decorrente da mudança de opinião, desejo ou afeto. É exatamente nesta
direção que a transformação social proposta como paradigma passou a nortear o comportamento
de indivíduos e do próprio grupo familiar.

ii. Vulnerabilidade das redes, crise e ausência de sentido

A sociedade atual caracteriza-se pela efemeridade e evanescência das relações sociais exceto
para o que diz respeito ao aspecto monetário. Embora isso possa representar um avanço, traz
desafios ao convívio social, e, por conseguinte, à subjetividade. A obra “Uns e outros – quando o
individualismo cria laços” de François de Singly retrata o impacto que a desarticulação operada
pela modernidade com relação aos referenciais trouxe para o indivíduo e suas relações. O
principal foi o surgimento do ‘indivíduo-individualizado’ que, ao buscar a liberdade dispensou
qualquer norma que influenciasse suas opções, porém, necessita de aplicar constantemente
uma alta capacidade reflexiva para liberar-se das práticas totalitárias. Segundo autor, esta é
a força que mais ameaça a liberdade individual e, para tentar contrapô-la com o mínimo de
equidade, os sujeitos estabeleceriam pactos circunstanciais. (SINGLY, 2010).
A fragilidade desses laços, porém, tende a tornar o tecido social vulnerável à disrupção.
Anthony Giddens aponta que a sociedade atual “está repleta de riscos e perigos, para os quais
o termo ‘crise’ - não como mera interrupção, mas como um estado de coisas mais ou menos
permanente - é particularmente adequado” (GIDDENS, 2002, p.19). A sociedade contemporânea
retratada a partir da fluidez dos relacionamentos, da espetacularização da violência, é vista por
um de seus maiores estudiosos, Gilles Lipovetsky, como potencial catalisador do sentimento de
exasperação do sujeito em face da sua impotência e pequenez diante de um império baseado
no consumo. A aquisição contínua de bens e serviços seria o meio de acesso à felicidade ansiada
pelos jovens e veiculada como modelo pelo cinema e publicidade. Os crescentes índices de
suicídio decorrem, segundo o autor, da dissonância entre o modelo veiculado de felicidade
para todos através do consumo e do dado de fato de que poucos podem consumir e entre os
que o fazem, poucos se contentam com os produtos que consomem. Ao lado desta tendência,
crescem as representações da vida cotidiana com base em cenários hostis e ilógicos ocupados
por protagonistas que vivem o ‘non sense’. A subjetividade que trilha esses cenários é marcada
pela exaltação de sentimentos como medo e rancor, ambos necessários para o enfrentamento
de situações marcadas pela adversidade.
Há casos em que prevalece a dependência dos objetos de desejo e evita-se a mediação
a favor de outros objetivos, fazendo surgir um comportamento marcado pela impulsividade.
Em outros casos, a pessoa sente-se desiludida ou traída pela promessa não satisfeita de que
o consumo atrairia participação e felicidade.

iii. A vida familiar e o sentido da vida

A psicologia atual segue a vertente positiva que reconhece o potencial de cada sujeito
em reverter o quadro psíquico no qual se encontra, a partir da ativação das redes internas
(mnemônicas/cognitivas e comportamentais) e psicossociais de suporte.
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32 A família integra a rede psicossocial de suporte das pessoas e pode ser um recurso para
a prevenção do suicídio na perspectiva da Logoterapia. A experiência da pessoa na família
representa um desafio aos modelos mais recentes que demarcam/restringem o problema do
sentido da vida ao sujeito. A morte desvela o aspecto mais dramático, pois atua como ruptura
do fluxo cotidiano de projetos, anseios, sentimentos familiares e requer atitudes que permitam
lidar com a imprevisibilidade e com o caráter evanescente da vida.
Porém, afirmar que a vida tem um aspecto passageiro, não significa cair no vazio. Ao contrário,
implica em aprender a reconhecer que algo permanece entre o fluxo de acontecimentos e
encontros. Estar diante da vida como um novo começo, olhar a cada instante como feito naquele
momento, o fazer-se de cada instante, implica na atitude de valorização de todos os fatos e
encontros como possibilidade de abertura ao Outro, atitude que, na família, traz importantes
consequências.
Crianças e jovens são especialmente perspicazes no diagnóstico da provisoriedade e não
correspondência daquilo que acontece e, caso não encontrem espaços que revelem, ao menos,
uma hipótese acerca do sentido, tudo começa a perder relevância inserindo-se uma grande
falta de referência e de interesse genuíno.
Se, por algum motivo, no convívio entre os membros da família a referência à finitude é
indireta ou recai em esquiva, a provisoriedade da vida, sinal da morte, pode soar como estranha,
insensata, incoerente com relação à potência do sentimento que nos une à vida. Por outro lado,
o sentimento humano conduz a intuir que tudo possui a marca de um “não é por isso”, “tudo tem
inscrito ‘mais além’”, como indicam as poesias de Giacomo Leopardi e Cesare Pavese. Importa
em especial este último que se suicidou após refletir, por décadas, em seu trabalho poético, o
espírito de amplo questionamento a respeito do significado da existência. A exemplo de outros
grandes literatos, Pavese não encontrou resposta ao seu anseio, o que indica que a despeito
do momento histórico, a questão da busca pelo sentido da vida interessa aos seres humanos.
As políticas públicas podem atuar para fortalecer os agentes que oferecem respostas a esses
questionamentos.

iv. Logoterapia como Política Pública

Frankl coloca ênfase na questão da autotranscendência. “Ser homem significa dirigir-se e


ordenar-se a algo ou alguém: entregar-se o homem a uma obra a que se dedica, a um homem
quem ama, ou a Deus, a quem serve.” (FRANKL, 1989, p. 45) O homem não pode ser descrito,
para Frankl, como ser autoreferencial, não está apenas voltado para a autopreservação. O
princípio do prazer, por exemplo, seria um artefato psicológico, não o fim ultimo das ações. Só
ao homem é dado viver sua existência como algo problemático; só ele é capaz de experimentar
a problematicidade do ser. Cada escolha implica uma miríade de possibilidades não tomadas
que serão extintas, a pessoa tem de atingir e captar o sentido, para assim poder efetivar o
sentido apreendido. Além disso, o sentido em Frankl é situacional, a vida concreta e real está
em total relação com ele, por isso se diz que ele é único e irrepetível. A consciência é o que
dá unidade para as vivências e permite a captação deste sentido, sendo a responsável pela
experiência do nous (FRANKL, 1989).
Com essas premissas, um estudo feito com estudantes iranianos sobre os efeitos da aplicação
da logoterapia em grupo mostrou significativa redução dos índices de depressão e melhora dos
indicadores de identificação com um sentido para a vida. O estudo foi realizado com um grupo
de 20 estudantes escolhidos aleatoriamente de um grupo de 121, diagnosticados com altos
índices de depressão. Esses 121 alunos foram selecionados a partir de uma primeira seleção
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

que contou com 506 estudantes iranianos. Dos 20 alunos selecionados, 10 foram submetidos 33

aos tratamentos tradicionais e os outros 10 à logoterapia. Os quadros abaixo demostram os


resultados obtidos:

Figura 11: Gráfico do nível médio de identificação do sentido da vida após os tratamentos.

No gráfico abaixo, a linha tracejada corresponde ao grupo que foi tratado mediante tratamento
médico tradicional (control), enquanto a linha continua, foram pacientes submetidos à logoterapia
de grupo (denominado experimental). Constata-se grandes resultados obtidos com a aplicação do
tratamento por meio da logoterapia, no qual percebe-se o aumento dos índices de identificação
do sentido da vida e diminuição dos índices de depressão

Figura 12: Gráfico de pacientes com nível médio de depressão dos pacientes após os tratamentos.
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS

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I. Iniciativas que podem ser abordadas em termos políticas públicas
Nessa seção, listar-se-á algumas possíveis abordagem citadas por especialistas, como práticas
ligadas às dimensões humanas, que podem servir de base para elaboração de políticas públicas.

i. Dimensão Social
• Valorização da família: Diversos foram os dados listados nesse estudo, que
enfatizam a importância do fortalecimento dos vínculos familiares. A Política Pública
nesse caso se valeria da promoção de cultura de valorização da família.
• Trabalho voluntário: Um estudo publicado pela BMC Public Health (BMC, 2013),
baseado em 40 artigos científicos, contatou que as pessoas que prestam serviço
voluntário com o fim de ajudar aos outros tem 20% menos de propensão à depressão.
No contexto da logoterapia de Frankl (FRANKL, 2013), haveria aqui uma inversão
da lógica de esperar algo da vida, dando lugar ao pensamento de dar algo a vida. A
política pública aqui consistiria em fornecer meios de acesso ao trabalho voluntario
e até mesmo, realizar parceria com Clinicas de Atendimento Psiquiátricos para
facilitar as ações desse tipo..
• Facilitação de acesso ao trabalho: O trabalho tem grande importância na dimensão
social, nesse caso, a política pública de facilitação de acesso ao emprego e aos estudos
(HYPESCIENCE, 2012). Nesse contexto, trabalhos em parceria entre o Ministério de
Economia e o Ministério da Mulher, da Família e dos Diretos Humanos, pode ser de
grande valia.

ii. Dimensão Espiritual


• Parceria com instituições religiosas: As mais diversas instituições religiosas
podem ser grandes aliados na luta contra o suicídio e a automutilação, pensar em
política públicas que levem em considerações essas parcerias podem ter valia na
diminuição dos números (JAMA, 2014).

iii. Dimensão Biológica


• Promoção de ações esportivas: Realizar campanhas com o fim de facilitação das
pessoas ao acesso a esportes ou exercícios físicos pode ser uma grande saída em
termos de políticas públicas (JPP, 2013)
• Melhoria dos Serviços de Saúde: Especialistas acreditam que a melhoria da
qualidade dos serviços de saúde e de acesso a esses serviços pode também ser um
fator de diminuição das taxas de suicídio e automutilação (BOTEGA, 2015).

iv. Dimensão Psicológica


• Ações realizadas pelo Ministério da Saúde: as ações já realizadas pelo Ministério
da Saúde devem ser apoiadas. Há um estudo sobre a notificação dos casos de
suicídio e automutilação, fator que pode ser analisado sob o viés da criação de um
sistema que integre a perspectiva da família para esse fim, o que poderia agilizar
os serviços de levantamento de dados.
O SUICÍDIO E A AUTOMUTILAÇÃO TRATADOS SOB A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA E DO SENTIDO DA VIDA

• Criação de um observatório de dados de violência autoprovocada: O acesso a 35

dados estatísticos, com diversos tipos de análises pode ser um grande aliado na
definição de políticas públicas eficazes e efetivas. Um observatório que apoie as
ações já realizadas e lance novas análises sobre os dados já existentes, pode ser
um excelente instrumento de potencialização das Políticas Públicas.

4 Conclusão

Esse estudo buscou levantar bases teóricas sobre duas questões tão desafiadoras no cenário
atual: o suicídio e a automutilação, destacando os casos ocorridos entre jovens. Tal temática foi
abordada especialmente sobre a ótica da família, buscando trazer à tona conceitos, abordagens,
fatos, dados estatísticos e ações relacionadas ao tema. Noutro giro, buscou-se ainda dar uma
visão sobre a valorização do sentido da vida aplicada a políticas públicas, em complemento
às ações voltadas à saúde mental e física do indivíduo.
Diversas são as ações que podem ser abordadas frente ao grande desafio de reduzir
suicídio e automutilação no Brasil, mas em todas elas se faz indispensável o apoio familiar à
vítima. A grande maioria de jovens vítimas dessas situações, são filhos de famílias em que há
vulnerabilidades, questão muitas vezes não abordada diretamente pelas estatísticas, que em geral,
avaliam os casos concretos com uma visão mais pontual sintomática, nos casos recentemente
ocorridos, isto é, se avalia a condição psicológica do jovens e as ocasiões recentes que podem
ter interferido para o fato, entretanto, muitas vezes a causa está em algo anterior. O fato é que
a complexidade do ser humano não nos permite sistematizar as causas e fornecer soluções
únicas, globais e eficazes a todos os casos, cada pessoa tem seu contexto particular, e não há
causa, nem solução únicas.
É preciso de fato uma atuação junto às famílias com o fim de conscientizar da importância
das ações dos pais com seus filhos, principalmente no que tange à saúde mental deles. Tais
ações devem ser realizadas desde a mais tenra idade com o fim de criar laços fortes que
fomentem uma inteligência emocional, atuando preventivamente em questões de depressão,
baixa autoestima, dificuldade de relacionamentos, dentre outros. É preciso inclusive ter uma
educação tecnológica saudável, na qual os pais, bem informados, auxiliem seus filhos no uso
das tecnologias modernas, evitando diversas doenças inclusive psíquicas.
A qualidade de vida está diretamente relacionada à prevenção de casos de automutilação
e suicídio, nesse aspecto, entender as dimensões humanas pode auxiliar as pessoas na solução
de seus conflitos. Atuar com trabalhos voluntários, por exemplo, pode ser uma ação sob a
dimensão social, que pode ajudar jovens a entender que podem oferecer algo à vida, e que
existem outras pessoas precisando de ajuda. Tal situação pode inverter a lógica de que a vida
não tenha nada a oferecer, tirando a pessoa de uma postura passiva e a levando para uma
atitude ativa, de quem tem algo a dar à vida.
As políticas públicas podem auxiliar as famílias no acesso as essas informações, como
é o caso da facilitação do trabalho voluntário, proporcionando a elas meios de enfrentar as
dificuldades e inclusive conhecendo meios que permitam o fortalecimento dos vínculos familiares.
O Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, especialmente por meio da Secretaria
Nacional da Família, tem o papel de entender o papel da família na temática do suicídio e da
automutilação, atuando como um ente de valorização da instituição família.
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITO HUMANOS

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