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Educadora popular e estudante de graduação no curso de Ciências Sociais na Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita.
oposição e a concórdia na vida comunitária e é um mecanismo de manutenção da
família.
Por isso é possível comparar a instalação da escravidão no Brasil e a sua
permanência com um fato de covardia constante das elites brasileiras em diversos
âmbitos da sociedade. No aspecto financeiro contribuem para que os trabalhadores
“livres” utilizem da violência e da força para ter acesso a produtos que são comprados
pelo dinheiro, uma vez que o dinheiro não é acessível. No aspecto social, a soberba da
certeza da compreensão de que, se diversos anos essa rotina demonstrou sustento e
fortuna, não há porque ser modificada, porquanto a preservação se dá pela violência
entre a vizinhança e casa.
Concatenando ainda mais as ideias sobre essa afirmação, as relações sociais de
alguma maneira são forjadas por acordos que envolvem trocas materiais ou de pessoas
para que aconteçam outras relações que envolvam espaço territorial e relações de poder
em ordem de grupos. Pensar a condição da mulher para essa formação é conectar-se
àquilo que até hoje é considerado a porta de entrada para cultura que é o incesto e por
isso há relações matrimoniais tendo-as como moeda de troca. Pode parecer um tanto
simplista detectar algo evidente e tão testado na ciência e nas análises do papel de
submissão da mulher, mas para discorrer as violências e a importância dela para manter
a elite brasileira agrária é essencial dotar-nos no contexto histórico esse movimento para
assim aplicar, em continuidade com a reflexão da autora Maria Sylvia de Carvalho
Franco, o entendimento dessa parcela da sociedade que depois de escravizada torna-se
livre, porém sem direitos.
A partir de agora podemos introduzir que mesmo tendo um recorte racial e social
colocado para o texto pode dizer que todas as mulheres são envolvidas para o sustento
ou mudança dessas relações sociais comentadas, as que deram um primeiro momento a
liberdade às pessoas escravizadas e também essas que por sua condição mantiveram
algumas trabalhadoras livres para a sua condição submissão. Abrindo mais o leque, as
mulheres de todas as classes mantiveram vários serviços antes feitos por escravizados e
escravizadas e deram condições de alguma maneira de não deixá-las em pobreza
extrema. Semelhante, as amas de leite, trabalhadoras domésticas e as damas de
companhia continuam se apoiando na da casa grande para a sua sobrevivência. Em
contrapartida quem vai a cidade encontra os bordéis, o trabalho doméstico e as
quitandas nas vias públicas para manterem suas famílias.
A família colocada aqui é diferente daquela que as subsidia em sua existência.
As mulheres negras, em sua maioria não tinham a tradição familiar, mesmo tendo isso
como ideal em seu imaginário, isto é, a família constituída por pai, mãe e filhos. Essas
associações de família perfeita, tendo um dos espaços de construção a igreja, e por isso
a bíblia, refletem bem o espaço da mulher que não é perguntada sobre suas vontades e
nem sobre como pensar a formação da estrutura familiar e apenas possui o encargo de
manter a estrutura fixa e coerente as necessidades pré-estabelecidas pela sociedade. Por
aí podemos discorrer sobre os aspectos formadores que criam e recriam as narrativas
sobre os costumes, tradições e relações políticas no Brasil, pois aqui é uma “questão de
berço” e os berços são cuidados por nós mulheres.
Não há como não pensar o maior ato de violência em uma mulher do que ela ser
entendida em todos os espaços como sendo sempre a metade que deve servir ao todo. E
as violências de tratamento na hierarquia familiar e também dentro dos aspectos sociais
públicos confirmam isso. Em diversos momentos no livro a autora discorre sobre a
violência contra a mulher quando ela tenta falar sobre como se sente no relacionamento.
Por fim, quando falamos em todas as mulheres até as mulheres abastadas
também tiveram processos violentos para a sua manutenção nessa posição. Elas tinham
uma posição de mando dentro do lar, em que o trabalho doméstico deveria ser feito por
mulheres e homens escravizados ou recém-libertos. Mas a cultura do lugar era parecida
para todas até as suas vestimentas, a diferença estava fora da representação e
personificação da classe que representa. Talvez a violência esteja em se comportar de
acordo com as necessidades e não como eram verdadeiramente.
Finalizamos dizendo que a violência faz parte dos mecanismos de sobrevivência
no Brasil. Agora, cabe estudarmos a fundo propostas que fujam a essa alternativa de
existência.
Referência Bibliográfica
FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. “O homem comum, a administração e o Estado”
(cap. 3) In: FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem
escravocrata. São Paulo: Unesp, 1997.