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As eleições de 1975 e a

Constituição de 1976
[Escrever o subtítulo do documento]
Catarina

[Ano]
Catarina Ferreira

Nº8,12ºD

Área de Projecto

Professora Ana Paula

2º Período (Ano Lectivo


2009/2010)

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As eleições de 1975 e a
Constituição de 1976

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Índice
Introdução ........................................................................................................................................................... 4
O surgimento dos partidos políticos em 1974 .................................................................................................... 5
Início da Campanha para a Assembleia Constituinte ......................................................................................... 6
Campanha Eleitoral [Quarta-Feira, 2 de Abril] ................................................................................................. 7
Acordo consagra MFA ...................................................................................................................................... 7
Campanha ao rubro ......................................................................................................................................... 8
PS vence primeiras eleições .............................................................................................................................. 10
O voto é a arma do povo ................................................................................................................................ 10
Incidentes no 1º de Maio .................................................................................................................................. 12
PS desce à rua ................................................................................................................................................ 12
O verão de 1975................................................................................................................................................. 14
Golpe e contragolpe a 25 de Novembro ........................................................................................................ 15
Comandos anulam Polícia Militar e Pára-Quedistas .................................................................................. 15
O «Compromisso» Constitucional .................................................................................................................... 17
Constituição e evolução constitucional ............................................................................................................ 17
A consagração da III República ................................................................................................................... 18
A Constituição de 1976 e as revisões constitucionais de 1982 e de 1989 (a transição
democrática) .................................................................................................................................................. 18
A revisão constitucional de 1982 e as modificações nas relações entre o poder político e a
instituição militar ....................................................................................................................................... 24
O Poder Central ................................................................................................................................................. 29
O Triângulo Conflitual da Instabilidade: Eanes, Soares e Sá Caneiro (1976-1980) ......................................... 30
Conclusão ........................................................................................................................................................... 32
Bibliografia ......................................................................................................................................................... 33
Relatórios das aulas ........................................................................................................................................... 34

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Introdução

Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Área de Projecto, a partir de um tema proposto
pela Professora.
Neste trabalho vou abordar o período compreendido entre 1975 (até ao fim do PREC) e meados dos
anos 80, quando se realizam as revisões constitucionais. Vou tratar, portanto, do período da nossa história
referente à transição democrática, que se caracteriza pela separação das esferas militar e civil do Estado. No
início refiro o período de 1974 apenas na tentativa de contextualizar o período em questão. De referir que
apenas será abordado os aspectos políticos que marcaram esta época conturbada.
Espero que a leitura seja do seu agrado.

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O surgimento dos partidos políticos em 1974

A 25 de Abril de 1974, quando o Programa do MFA previu que a formação de associações pacíficas
constituiria o embrião de novos partidos políticos, verifica-se que entre as organizações políticas existiam em
actividade o PCP, o recém-criado PS, o movimento unitário nascido das candidaturas de 1969 e 1973 (MDP)
e vários pequenos partidos e movimentos, designadamente de obediência maoísta. A Associação para o
Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), constituída em 1970, por defensores da evolução gradual do
regime, entre cujos membros se contavam deputados da «ala liberal», como Francisco Sá Carneiro, e jovens
técnicos que tinham colaborado na primeira fase do marcelismo, era a associação política mais influente.
Poucos dias após a revolução, três deputados da referida «ala liberal» (Sá Carneiro, Magalhães Mota e
Francisco Balsemão) anunciaram a constituição de um novo partido – o Partido Popular Democrático, que se
auto-afirma como de centro-esquerda.
O I Governo Provisório civil, presidido pelo Prof. Adelino da Palma-Carlos, formou-se com base nas
grandes correntes político-ideológicas que viriam a transformar-se nos principais partidos da democracia: PS,
dirigido por Mário Soares; o PCP, cujo secretário-geral era Álvaro Cunhal, e o novo PPD – isto além do
MDP/CDE e da participação individual de membros da SEDES e de independentes. Os cinco executivos
provisórios que se seguiram até à entrada em vigor da Constituição de 1976, presididos pelo general Vasco
Gonçalves (II a V) e pelo almirante Pinheiro de Azevedo (VI), viriam a basear-se em idêntica composição,
salvo o V Governo (Agosto de 1975), apenas apoiado pelo PCP e pelo MDP/CDE. Além dos partidos com
assento nos governos provisórios, as eleições para a Assembleia Constituinte (Abril de 1975) deram
representação ao Partido do Centro Democrático Social, de inspiração de democrata-cristã e centrista (16
deputados e 7,6%) e à União Democrática Popular, de orientação marxista-leninista radical (1 deputado). O
PS, com cerca de 38% dos votos, obteve 116 lugares, o PPD, com 26%, alcançou 81 deputados, o PCP
conseguiu 30 representantes (12% dos votos) e o MDP/CDE teve 5 lugares (4,1%).

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Início da Campanha para a Assembleia Constituinte

A campanha eleitoral para a Assembleia Constituinte tem início a 2 de Abril. Às primeiras eleições
livres no último meio século apresentam-se 12 partidos. A disputa arranca com uma até então desconhecida
“guerra” de cartazes. Outra estreia absoluta é o tempo de antena, na rádio e na televisão. No mesmo dia, o
Conselho de Revolução apresenta aos partidos o projecto de uma Plataforma de Acordo Constitucional. Aos
partidos é concedido um prazo de apenas dois dias para a apresentação de respostas. O texto estabelece a
independência do poder militar face ao poder civil. Este é ponto que mais críticas suscita ao PS, enquanto
três partidos de extrema-esquerda – UDP, Liga Comunista Internacionalista (LCI) e MES recusam o pacto.
Continua o corrupio de intelectuais, desejosos de observar o balão de ensaio lusitano. Só no espaço
de uma semana, chegaram Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Michel Foucault, Victor Serge, Ernest
Mandel, Louis Althusser. Em plena fase pró-chinesa, Sartre vem a convite do Instituto Francês do Porto e
participa, a 2, numa sessão na Faculdade de Letras. O director, Óscar Lopes, faz-se substituir por Arnaldo
Saraiva. “Na altura, eu ainda era assistente”, conta este. “Lembro-me que estava muita gente, ávida, mas o
que ele queria era ouvir. Praticamente não falou.”. Catedrático de Licenciaturas Modernas, Arnaldo Saraiva,
de 65 anos, retém:
“Ele já estava um pouco cego e trôpego, mas lúcido. Andou sempre acompanhado e controlado por
um dos secretários, que era, digamos, o encarregado maoísta de o orientar. Sartre era um homem muito
gentil e humilde, de grandes qualidades humanas e inteligência muito aguda.” O filósofo francês dá a sua
única entrevista colectiva, a 4, na Casa da Imprensa, em Lisboa. Em plena campanha eleitoral, diz que “o
sufrágio universal como modo de expressão do público está ultrapassado (…)” “Sou pela democracia
directa”, que, enfatiza, “é mais do que o sufrágio directo”. Quando um jornalista pretende saber o que é
preferível, eleições ou revolução, Sartre discorda da dicotomia: “Será assim que a questão se deve pôr? Não
será antes: revolução e eleições?” Fascinado com a Revolução, mas pouco impressionado com os militares,
não hesita em declarar que “Portugal alargou o campo do possível”.
Companheira de Sartre, Simone de Beauvoir dá uma única entrevista, à escritora e militante
feminista Maria Teresa Horta, que a publica no Expresso.
Iniciam-se contactos entre o Governo e o Episcopado, no sentido de resolver o conflito da Rádio
Renascença. A tentativa inclui uma cimeira entre o primeiro-ministro, Vasco Gonçalves, e o patriarca de
Lisboa, D.António Ribeiro, que, em entrevista ao jornal Le Figaro, avisa: “Torna-se evidente que o Governo
não controla inteiramente a situação actual”.
O embaixador dos EUA em Lisboa dá uma insólita conferência de Imprensa para “pôr fim aos
boatos” a seu respeito. Frank Carlucci afiança que não esteve ligado ao 11 de Março e que não pertence à
CIA. Na edição de 5, o Expresso passa a abrir as suas colunas à opinião de enviados especiais estrangeiros.
Serge July, director do diário francês Libération, sugere a criação de um “movimento ‘apartidário’, uma
espécie de ‘MFA civil’ o qual teria a tarefa de construir, com o MFA, o socialismo português”. A primeira
Assembleia do MFA reúne-se a 7. Juntamente com o Conselho da Revolução, é um dos novos órgãos de
poder, saídos da conjuntura política posterior ao 11 de Março. Constituído por 240 elementos (120 do
Exército, 60 da Armada e outros tantos da Força Aérea), inclui oficiais, sargentos e praças e reúnem-se
mensalmente. O assunto principal é a formação de um Tribunal Militar Revolucionário, destinado a julgar os
implicados no 11 de Março e constituído exclusivamente por militares.

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Campanha Eleitoral [Quarta-Feira, 2 de Abril]
Às zero horas do dia 2 de Abril começou, em todo o País, a primeira campanha eleitoral
politicamente livre em 48 anos. Apesar da diversidade de tendências, a imprensa parece de acordo: o
primeiro partido a colar cartazes foi o PPD e o primeiro a organizar um comício foi o PS.
Mário Soares presidiu em Faro, no primeiro minuto desse dia, ao arranque da campanha para a
eleição dos deputados que hão-de redigir a Constituição. Em Lisboa, os fotógrafos captam o momento em
que três das principais figuras do PPD – Francisco Pinto Balsemão, Magalhães Mota e Jorge Sá Borges –
fixavam nas paredes da cidade os primeiros cartazes da propaganda eleitoral.
Uma delegação da Lotta Continua, partido da extrema-esquerda italiana, assegura, no final de uma
visita de uma semana, que “é falso dizer que a liberdade e a democracia estão ameaçadas em Portugal”.

Acordo consagra MFA

A Sibéria é grande e Estaline é o seu profeta, diz Álvaro Guerra em entrevista ao jornal República de
9 de Abril. Jornalista e escritor ligado ao PS, demitira-se dias antes de director adjunto de Informação da
RTP, em protesto contra a substituição das chefias em plena campanha eleitoral. A entrevista é a primeira
denúncia frontal da escalada do PCP nos principais órgãos de comunicação social. No dia seguinte, José
Saramago toma posse como director adjunto do DN, surgindo no cabeçalho ao lado do novo director, Luís de
Barros, igualmente conotado com os comunistas. A anterior direcção era formada por José Ribeiro dos
Santos e José Carlos Vasconcelos, próximos do PS. Como refere Mário Mesquita (Portugal. Vinte Anos de
Democracia), a demissão de Ribeiro dos Santos é feita “sob pressão” do “plenário de trabalhadores”, por ter
escrito um editorial condenando propostas de fuzilamentos de oficiais implicados no 11 de Março.
As sequelas do frustrado golpe de direita prosseguem. A 9, são detidos mais 28 oficiais e sargentos
envolvidos, bem como alguns civis. No dia seguinte, o RAL 1 comemora o dia da unidade. O comandante,
coronel Leal de Almeida, fala às tropas do regimento: “ Insistir (…) no regresso às casernas, constitui uma das
muitas formas de traição criptocapitalista.” Uma lápide confere à parada do quartel o nome do soldado
Joaquim Carvalho Luís, “morto pelo fascismo em 11 de Março de 1975”. A Plataforma de Acordo
Constitucional é assinada a 11 pelo Presidente da República, em nome do Concelho de Revolução, e por
representantes de seis partidos: PS, PPD, PCP, CDS, MDP/CDE e FSP. Uns, fazem-no convictos e
entusiasmados; outros, resignados e mais ou menos coagidos. Em causa está a tensão entre duas
legitimidades: a eleitoral e a revolucionária.
Nas vésperas, Vasco Gonçalves definira o alcance do pacto: “Não poderíamos perder por via eleitoral
o que tanto tem custado a ganhar ao povo português.” Válido por três a cinco anos, o acordo deverá
“integrar a futura Constituição”. É consagrada constitucionalmente a existência do Concelho de Revolução e
da Assembleia do MFA, assim como a independência do poder militar em relação ao poder civil. A maioria
dos observadores não tem dúvidas em ver o pacto como uma imposição dos partidos. No livro Ditadura e
Revolução, Mário Soares explica por que assinou: “Estava disposto a aceitar tudo, desde que houvesse
eleições.” Era a estratégia de Salgado Zenha, a que Soares rendera. Prossegue a campanha eleitoral. O
Concelho de Revolução suspende, por cinco dias, o tempo de antena da FEC, um partido da extrema-
esquerda maoísta, devido aos seus “ataques ao MFA”. A grande novidade é o apelo ao voto em branco. O
principal teórico é César Oliveira, um dissidente do MES. Nas suas memórias (Os anos Decisivos), o
historiador assume a autoria, mas também o erro, de “ter apelado ao voto em branco, identificando tal voto
a um voto no MFA”. A ideia, lamenta, “foi logo aproveitada por alguns sectores do MFA”, em especial pelo

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comandante Ramiro Correia, um dos estrategos da 5ª Divisão. A Igreja intervém na campanha. A 12, a
Assembleia Plenária do Episcopado apela ao voto como um dever, mas esclarece que “ninguém deveria
votar em branco”. No mesmo dia, o Expresso publica uma extensa entrevista com Rosa Coutinho, conduzida
por Augusto Carvalho. Para este influente membro do Conselho de Revolução, as eleições “não vão
representar realmente a vontade do povo, porque ele, coitado, ainda não tem realmente o poder de
análise”. Ainda mais clara é a afirmação de que “nós não fizemos uma Revolução (…) para que numa
parvoíce eleitoral percamos, de um momento para o outro, todos os ganhos alcançados. Seria, digamos,
uma táctica de avestruz”. Daí, a necessidade do pacto. Na mesma edição, o dirigente do PPD, Francisco Pinto
Balsemão, afirma, numa entrevista ao semanário de que é director: “Essa identificação que agora se faz aí
entre o voto em branco e o voto no MFA parece-me forçada, falsa e perigosa.”

Campanha ao rubro
À entrada da última semana de campanha eleitoral, os partidos investem tudo. Ministro sem Pasta e
sem função específica no IV Governo, Mário Soares beneficia dessa situação para se dedicar “quase
exclusivamente” às eleições – como explica em Ditadura e Revolução. Soares dá a sua “primeira grande volta
a Portugal”. “A minha filha Isabel era o meu motorista. Não tínhamos segurança. Utilizávamos o meu próprio
automóvel, um Renault 16, vermelho” – hoje exposto no museu de Cortes. “Foi um esforço tremendo,
altamente gratificante e com alguns lances dramáticos”, incluindo rebentamento de uma bomba em Ponta
Delgada. No final, “não só tinha o PS na mão, como a quase certeza da vitória eleitoral”. Sem tradição
democrática, nem experiência eleitoral, os media ainda não publicam sondagens à opinião pública. Os
militares, porém, têm um inquérito, atribuído ao Centro de Estudos de Administração e Desenvolvimento.
No final de uma reunião do Concelho de Ministros, Vasco Gonçalves aproveita para falar com Mário Soares
sobre as eleições. Quando este lhe manifesta a sua convicção de que o PS vai ganhar, o general refuta, com
base naquela sondagem, que dava vitória ao MDP/CDE. “Em segundo lugar, surgiria o PCP. Ao PS, concedia
um terceiro lugar honroso”, recorda Soares. À margem das eleições, a actividade legislativa é intensa. O
Concelho de Ministros decide, a 15, expropriar as “propriedades de sequeiro de área superior a 500
hectares”, bem como as “rústicas irrigadas de área superior a 50 hectares”.
No mesmo dia, o Diário do Governo publica o decreto que define as normas a que deve obedecer a
eleição de uma assembleia representativa do povo de Cabo Verde, dotada de poderes soberanos e
constituintes; a eleição é marcada para 30 de Junho. Outros decretos contemplam o novo regime do
arrendamento rural; a nacionalização das empresas do sector petrolífero, transportes (ferroviário, marítimo
e aéreo) e electricidade, bem como da Siderurgia Nacional; a repressão dos actos de sabotagem económica
por parte do patronato. Publicado ainda o tratado entre a Índia e Portugal, relativo ao reconhecimento da
soberania sobre Goa, Damão e Diu; é o ponto final no diferendo criado com a anexação, pela força, daqueles
três territórios coloniais pela Índia, em 1961. O 25 de Abril é declarado o novo Dia de Portugal e feriado
obrigatório. A cronologia O Pulsar da Revolução regista que, a 18, “são congelados os bens de alguns
administradores do grupo Champalimaud”. E a 21, a folha oficial traz o diploma que cria o provedor de
Justiça.
O primeiro jornal diário criado depois de 25 de Abril (1974) surge a 17 de Abril de 1975. Dirigido por
Artur Portela Filho, chama-se Jornal Novo. Na semana anterior, estreara-se o semanário A Rua, de extrema-
direita, dirigido por Manuel Maria Múrias. “Tentar responder a quantos, e são cada vez mais, reclamam uma
imprensa livre, e crítica, e profissional”, tal é o propósito do Jornal Novo, fixado no editorial. O jornalista e
escritor Portela Filho recorda: “A ideia partiu de um grupo restrito, de que eu fazia parte com o José
Sasportes e o Francisco Agarez. Eu e no Francisco trabalhávamos numa empresa de publicidade que tinha

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contactos com a Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), presidida por Vasco de Mello. Surgiu a ideia de
eles financiarem um jornal crítico, aberto, moderno, europeu, cosmopolita, de tendência socialista,
democrática e independente, objectivos consagrados no estatuto editorial.” Portela rejeita a ideia de uma
dependência do jornal face àquela organização patronal: “A administração nunca teve influência nos
conteúdos editoriais.” Da redacção fazem parte nomes como Mário Mesquita, Diogo Pires Aurélio, António
Mega Ferreira e Alexandre Pomar. Inovadora é a fotomontagem que ilustra regularmente a capa. A mais
famosa é uma reprodução dos painéis de Nuno Gonçalves em que todas as caras são de Mário Soares. Artur
Portela recorda que só assumiu a direcção depois de se terem malogrado duas outras soluções que ele
próprio propôs: Eduardo Lourenço e Vitorino Magalhães Godinho. Rejeita, por outro lado, a ideia, muito
divulgada, de uma ligação do jornal à CIP: “A administração sempre foi discreta, imprecisa, vaga, mesmo
ausente, sem nenhuma influência no conteúdo e aspectos editoriais.”
O Congresso Nacional de Trabalhadores Pró-Conselhos Revolucionários reúne-se a 19 e 20. O
objectivo fixado é “a conquista do poder pela classe operária e pelos soldados e marinheiros a partir dos
locais de trabalho”. Participam representantes de 165 empresas e 26 unidades militares. A iniciativa é
dinamizada pelo PRP/BR um partido defensor da luta armada.

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PS vence primeiras eleições

O voto é a arma do povo


A 22 de Abril são divulgados dois relatórios: o do 28 de Setembro e o preliminar (mas que viria a ser
o único) do 11 de Março. Nas vésperas, alguns membros do grupo conhecido como ex-MES, reúnem-se em
casa de Jorge Sampaio, preocupados com a eventualidade do relatório incriminar o PS. César Oliveira conta
(Os Dias Decisivos) que Nuno Brederode Santos e Nuno Portas são enviados à Comissão que ultima o texto,
com o objectivo de “explicar, seja o carácter absurdo de tal tentativa incriminatória, seja o erro político que
consistia em incriminar dirigentes de um partido indispensável à da democracia”, e, ainda por cima, provável
vencedor das eleições.
Do relatório nada consta dobre o PS, mas sugere-se uma ligação do Expresso à intentona. Uma
entrevista com o general Spínola, publicada em Janeiro, é incluída nas acções de “preparação da opinião
pública”. O jornal reage energicamente e promove uma conferência de Imprensa, a que comparecem a
direcção (Francisco Balsemão, Augusto de Carvalho e Marcelo Rebelo de Sousa), jornalistas e outros
trabalhadores. São rejeitadas todas as alegações e garantida “a independência do jornal”.
Na vaga de ocupações de terras, chega a vez, a 23 de Abril, de uma herdade em Aveiras de Cima, que
irá dar origem à Cooperativa Agrícola Torre Bela – um ícone da esquerda radical. No mesmo dia, Costa
Gomes recebe o núncio apostólico, monsenhor José Maria Sensi. Um dos temas é a Rádio Renascença. Uma
delegação do MFA, chefiada pelo coronel Varela Gomes, desloca-se a Cuba, para as comemorações do
primeiro aniversário da revolução. O tema dominante da semana, porém, são as eleições para a Assembleia
Constituinte, realizadas a 25 de Abril. Ninguém lhes fica indiferente. Incluindo o MFA, onde há quem apela
ao voto em branco. Na véspera do sufrágio, o presidente dirige-se ao país. Apela à escolha “entre os partidos
autênticos que não barram a via socialista e que nos prometem o pluralismo essencial ao exercício da
liberdade”.
Para Costa Gomes, “a vontade popular é a verdadeira fonte de poder político”. O Expresso antecipa a
saída para 25 e publica um editorial na primeira página. É uma declaração de princípios, a que se manterá
fiel: “ Como jornal independente e apartidário que é, não aconselha, como é óbvio, a votar em qualquer dos
12 partidos”. O acto eleitoral fundador da democracia política é coberto por cerca de um milhar de
jornalistas estrangeiros. O centro de operações é na Fundação Gulbenkian e o principal pivô da RTP é o
Carlos Cruz.
A participação é impressionante: 91,66% dos eleitores inscritos. O PS é o grande vencedor, com
37,9% e 116 deputados. Seguem-se o PPD (26,4%), o PCP (12,5%), o CDS (7,6%), o MDP/CDE (4,1%) e a UDP
(0,8%). Os grandes derrotados são o MDP e os defensores do voto em branco – que, somando os nulos,
perfazem 6,9%. “Foi uma vitória histórica! Esperava um excelente resultado. E foi”, recorda Mário Soares.
“Quando cheguei à Gulbenkian, o Concelho de Revolução estava um bocado caído. Percebi logo que o PS
tinha vencido.” Ao falar da Madrugada de 26, Soares reconhece que as eleições foram “um ponto de honra
do MFA”, mas manifesta a esperança de que os resultados conduzam a uma “clarificação” e a “modificações
na coligação”. Trinta anos depois, Soares lembra que fez “declarações muito prudentes”. “Não pedi a
substituição do Governo nem reclamei o lugar de primeiro-ministro, como muitos camaradas meus pediam.
Fiquei com uma força formidável.”
Oposta é a avaliação de Freitas do Amaral. O resultado do CDS, de 7,16%, foi “uma decepção
profunda – e dolorosa (…) Era um péssimo resultado”, escreve em O Antigo Regime e a Revolução. Freitas e
outros dirigentes interrogam-se mesmo “se valeria a pena continuar com o partido”. Vale a intervenção de
Rui Pena, que “dando um murro na mesa, exclamou enfurecido: Mas que raio de partido é este, que está
sempre a discutir se vale a pena existir?”

10 | P á g i n a
Importantes sectores militares, contudo, insistem em menorizar as eleições. No próprio dia, Otelo
frisa que “as pessoas não vão votar conscientemente”. Horas depois, deixa os vencedores gelados: “Não
temos confiança nos partidos políticos existentes (…) e por isso continuamos, é por isso que somos o MFA.”
Marcelo Rebelo de Sousa estreia-se como comentador eleitoral. “É evidente a viragem à direita”, observa (A
Revolução e o Nascimento do PPD), só que “o MFA age como se as eleições não alterassem nada”. Para
António Reis (em Portugal – 20 Anos de Democracia), “os portugueses davam o primeiro sinal claro e
insofismável da via que pretendiam seguir”.

11 | P á g i n a
Incidentes no 1º de Maio

PS desce à rua
Numa análise às eleições, o MFA conclui que “o povo votou o socialismo” mas que, “por uma
maioria de dois terços, recusou a social-democracia”. A seu ver, “o PPD e o CDS são os grandes derrotados”.
Uma das primeiras consequências do sufrágio é o pedido de demissão do governador de Ponta Delgada,
António Borges Coutinho, ligado ao MDP/CDE, mas que o Governo confirma no lugar. A “lei da unicidade
sindical” é publicada a 30 de Abril. Muitíssimo contestada pelos socialistas, mas aprovada por unanimidade
pelo então Conselho dos Vinte (precursor do CR), o decreto reconhece a “Intersindical Nacional como a
confederação geral dos sindicatos portugueses”.
O 1º de Maio é celebrado em todo o país, com destaque para a manifestação de Lisboa, que, tal
como na jornada inesquecível de 1974, desemboca no estádio com o mesmo nome. Na falta de um acordo
entre os promotores, o PS, que na semana anterior vencera as eleições, convoca um desfile autónomo. Ao
chegarem ao estádio, os socialista são recebidos com hostilidade e até com alguma violência. Uma
delegação, constituída por Mário Soares, Salgado Zenha e Marcelo Curto, é impedida de entrar em tribuna.
Segundo o relato do Expresso, o sindicalista José Gomes é quem lhes barra o caminho, por “não haver lugar
nos camarotes para os partidos divisionistas”. Um comunicado da Intersindical confirma: “O nosso dirigente
não permitiu a entrada o dr. Mário Soares.”
José Luís Judas era um dos principais dirigentes da Inter e assistiu a tudo. “Quem deu ordem para
não deixar entrar Mário Soares foi o major responsável da segurança da tribuna, ligado aos sectores
esquerdistas”, conta. O major em causa era Campos Andrada que, segundo um documento da Comissão
Política do CR, “se declarou contrário à entrada fosse de quem fosse na tribuna, temendo consequências
desagradáveis para o PR”. Os socialistas reagem e retiram-se do estádio. Hoje, afastado das lides sindicais e
políticas, Judas considera que “esse 1º de Maio marca o início da ruptura do PS com o resto da esquerda. O
PS percebeu que era um excelente pretexto para começar a separar as águas”. Para Soares, essa foi “a
primeira grande confrontação de rua, entre socialistas e comunistas” (Ditadura e Revolução).
No dia seguinte, Soares e Zenha são recebidos por Costa Gomes e Vasco Gonçalves, após o
que o PS convoca a sua primeira manifestação de rua, em protesto contra os incidentes de véspera.
“Central sindical só por via eleitoral” é uma das palavras de ordem mais gritadas, só suplantada por
outra que perdurará: “É preciso respeitar a vontade popular”. No desfile incorporaram-se
militantes do PPD e dos grupos maoístas AOC e PCP (m-1), que se destacam ao exigirem “Nem
Kissinger, nem Brejnev”. Ao passar em frente da sede do DN, a multidão apupa o jornal, enquanto,
na Rua Braamcamp, saúda o Expresso. A “manif” termina na sede do PS, na Rua São Pedro de
Alcântara, onde Soares defende a realização de eleições nas autarquias e nos sindicatos.
Entretanto, no dia 1 saíra um novo semanário, O Jornal. Propriedade dos próprios
jornalistas, estes elegem como director Joaquim Letria. Outros fundadores são José Carlos
Vasconcelos, Cáceres Monteiro, Manuel Beça Múrias, José Silva Pinto, Afonso Praça. No editorial,
propõe-se fazer “um jornalismo independente, livre, vivo, criador, alegre, lúcido, desapaixonado,
que participe nesta apaixonante tarefa de ajudar a construir a nossa revolução democrática,
socialista e portuguesa”. Na Emissora Nacional, o presidente, comandante Calvão Borges, pede a
demissão, no que é acompanhado por vários directores. Nos meios políticos, admite-se como
provável que a rádio do Estado fique na órbita da 5ª Divisão. No rescaldo do 1º de Maio, realiza-se
a 5 uma cimeira entre o PS e o PCP, a pedido desde. Por seu lado, o ministro do Trabalho promove

12 | P á g i n a
uma conferência de Imprensa. Em tempo de “batalha da produção”, diz Costa Martins, não se
compreende o frequente recurso à greve, que classifica “como um acto contra-revolucionário”. As
duas principais cronologias sobre o PREC assinalam, a 5, a constituição do Movimento Democrático
de Libertação de Portugal (MDLP). O seu presidente é António Spínola.

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O verão de 1975
Com o 11 de Março mudou o curso político e abriu-se um período em que as relações de forças que
se estabeleceram local e regionalmente se sobrepuseram às decisões tomadas em Lisboa. Nas aldeias do
Centro e do Norte do país reacenderam-se as bandeiras que, no plano ideológico, haviam alimentado o
Estado Novo. O Estado e as suas políticas pouco conseguiam influir nas dinâmicas locais. As comunidades
rurais funcionavam, de novo, como formas sociais integradoras dos diferentes grupos sociais e o
anticomunismo alimentava, de novo, esta coesão, para o que contribuíam também os rumores e as notícias
que chegavam dos campos do Sul dobre as ocupações de terras e pequenos agricultores. O aglomerado de
forças políticas, de militares e de interesses que veio a impor-se no 25 de Novembro de 1975 teve grande
apoio nestas dinâmicas, em que a Igreja Católica teve um papel central, promovendo autênticas cruzadas
ideológicas e apoiando as organizações terroristas. Contribuiu, assim, para o clima de violência que se gerou.
No verão de 1975, multiplicaram-se os fogos florestais de origem criminosa e os ataques bombistas,
acumularam-se os assaltos a sedes do Partido Comunista, de sindicatos e de outras organizações e
instituições identificadas com a esquerda, e sucederam-se os distúrbios e os desacatos nas vilas e cidades do
Norte e do Centro de Portugal. A turba dos assaltos e das acções de rua era geralmente a população agrícola
e rural das aldeias e lugares. Foi, por exemplo, o que se passou na Batalha, que «aconteceu 48 horas de
distúrbios graves, os quais provocaram vários feridos». O pretexto para o início dos motins foi «desalojar os
empregados grevistas que ocupavam um pequeno hotel de luxo»; o móbil dos assaltantes era «matar os
comunistas um a um» e «maltratavam os grevistas, entre os quais tinham descoberto “um estrangeiro”
(empregado originário do Norte do País que vivia no concelho há cinco anos)».
«Os invasores da vila eram camponeses enquadrados por um grupo de negociantes alugadores de
tractores e comerciantes. Durante dois dias, a vila foi ocupada por essas pessoas, que, para se revezarem,
iam buscar outras às freguesias, em camiões. O sinal de ajuntamento era dado pelo toque do sino, como
acontece sempre que a aldeia julga pressentir um perigo imediato. O alvo eram os “barbudos”, “os
cabeludos”, os que traziam fato tipo blue jeans (vistos como não conformistas) e camisas de cor vermelha.»
Depois do 25 de Novembro o clima de violência foi-se atenuando e as primeiras eleições autárquicas
(Dezembro de 1976) conduziram a que, a nível local, se retomassem disputas e rearranjos em detrimento do
consenso ideológico que haviam marcado o Verão de 1975. A política agrária foi, até finais de 1976, uma
interveniente menor na questão social das aldeias do Centro e Norte do país.

Do que antecede não se tiram conclusões. Nem há que fazê-lo dado o modo como se optou por
abordar assuntos. Convém, no entanto, explicitar três fios que percorrem a análise feita. O primeiro, é o
facto de as relações de forças que se estabelecem regional e mesmo localmente terem prevalecido com
frequência, sobre as orientações dos Governos. Nessas dinâmicas, e é o segundo fio, o económico foi
subordinada à ideologia e ao político no comando dos processos sociais. Finalmente, regista-se o peso dos
modelos e ideias que se sentiu tanto pela sua presença, quando os existentes moldaram acontecimentos e
traçaram os contornos das opções tomadas, como quando faltaram para permitir ao novo, que emergiu
nalguns processos e movimentos, consolidar-se e persistir. Dois bons exemplos, como atrás de viu, destas
presenças e ausências relacionam-se com a agricultura familiar e com as unidades de produção dos
trabalhadores da Reforma Agrária. No primeiro caso a falta de reflexão sobre a ligação das famílias
agricultoras aos fluxos monetários de previdência rural e dos salários ganhos nos mercados de trabalho da
indústria e dos serviços conduziu à incapacidade de perspectivas estas dimensões políticas do Estado. No
segundo exemplo, muitos dos contornos destas unidades derivaram dos modelos herdados e
simultaneamente houve uma incapacidade de delinear a compatibilização da democracia directa, que
aflorou nestas unidades, com a democracia representativa.

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Golpe e contragolpe a 25 de Novembro
Comandos anulam Polícia Militar e Pára-Quedistas
Matutinos do dia 18 de Novembro, ligados ao PCP, anunciam, “para amanha”, um “golpe militar de
direita”, prontamente desmentido por Costa Gomes. Exercícios de fogos reais decorrem na Arrábida e
deflagra uma bomba na livraria do DN no Chiado. O general Morais da Silva determina a passagem de 1.200
pára-quedistas de Tancos à situação de licença. Mário Soares avista-se com elementos dos Nove e é
equacionada a possibilidade de o Governo entrar em greve. A nomeação de Vasco Lourenço para o lugar de
Otelo, como governador militar de Lisboa, é o centro de múltiplas reuniões militares. Otelo avalia a hipótese
no Copcon e dispõe-se a deixar aquele cargo desde que seja para um oficial de sua confiança. “Organizados,
daremos as armas aos trabalhadores, sendo estes soldados – ou se for preciso aos próprios trabalhadores.
Acabemos com as conversas!” – escreve o capitão Duran Clemente no DN de 19. Uma portaria legaliza o
horário de trabalho da panificação, o que evita uma nova manifestação em São Bento; outra expropria mais
96 prédios rústicos no distrito de Portalegre. Várias unidades aprovam moções de repúdio pela tentativa de
afastamento de Otelo. Por proposta de Pinheiro de Azevedo, o Governo decide entrar em greve. Em
comunicado, o Executivo explica que resolveu “suspender o exercício da sua actividade” até que Costa
Gomes lhe garanta “as condições indispensáveis”. Esta decisão é comunicada, a 20, ao Presidente, que
revela a sua discordância. “Estou farto de brincadeiras…” – desabafa Pinheiro de Azevedo aos jornalistas.
“Fui sequestrado duas vezes, já chega! Não gosto de ser sequestrado, é uma coisa que me chateia.” Sá
Carneiro reclama uma “reestruturação das mais altas cúpulas militares” e Álvaro Cunhal regressa a Lisboa,
interrompendo uma viagem a vários países socialistas. Os pára-quedistas de Tancos, em plenário, recusam a
passagem à situação de licença e colocam-se às ordens do Copcon.
No Regimento de Comandos, Jaime Neves informa dos preparativos desenvolvidos pelos moderados
e, perante as câmaras da RTP, exige Gomes da Costa que ponha termo à “desordem”. “Todos parecem
acreditar ma iminência de um golpe de Estado”, escreve Inácia Rezola, em O CR e a Transição para a
Democracia em Portugal. Manifestação em Belém, contra a greve do Governo, apoiada pelo PCP e extrema-
esquerda, enfatizada por uma paralisação de trabalho na cintura industrial de Lisboa e em todo o Alentejo. É
reclamada a presença de Costa Gomes, cujo discurso desagrada aos manifestantes. “A única alternativa para
a presente crise é uma alternativa de esquerda, nunca de direita”, lê-se numa moção. O capitão Cabral e
Silva lê um manifesto de “oficiais revolucionários”: “O poder popular nunca será verdadeiramente poder se
não for armado.” O CR toma várias decisões de sinal contrário, entre as quais avulta a substituição de Otelo
por Vasco Lourenço à frente da Região Militar de Lisboa. Este apresenta, como condição, que Otelo o apoie
juntos das unidades da região.
A reforma Agrária prossegue: uma nova portaria determina a expropriação de mais 89 prédios
rústicos, desta feita no distrito de Castelo Branco.
Juramento de bandeira, a 21, dos soldados-recrutas do Ralis, que, de punho fechado, utilizavam uma
nova “fórmula revolucionária”: “Juramos estar sempre, sempre ao lado do povo, ao serviço da classe
operária (…) pela vitória da Revolução Socialista”. Reunidos no Copcon, comandantes de várias unidades
repudiam com veemência a nomeação de Vasco Lourenço, o que faz Otelo mudar de opinião. Este transmite
a Costa Gomes a sua mudança de posição, o que leva Vasco Lourenço a renunciar o cargo. Álvaro Cunhal
considera que o VI Governo Provisório deve dar lugar a um VII Governo Provisório, Governo da Esquerda”. O
jornal A Capital anuncia a formação, para breve, de uma nova associação política; baptizada de Intervenção
Socialista (IS), integra dissidentes do MÊS como Jorge Sampaio. Vasco Lourenço recebe, a 22, o precioso
apoio dos comandantes das regiões militares do Norte e do Sul. Além disso, na sede da região de Lisboa,
comandantes de 12 das 16 unidades põem em causa a reunião da véspera do Copcon e avisam Otelo que

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“deve ouvir os seus homens”. O Presidente da República prorroga por mais 90 dias a sessão da Assembleia
Constituinte. Chegam a Lisboa, a 23, meio milhar de pára-quedistas vindos de Luanda. Na gare de Alcântara
são aguardados por camaradas seus, que pretendem levá-los para Tancos. Após alguma tensão, o
contingente segue para a base da Ota. “É hora de avançar”, dizem os SUV, em apoio do manifesto dos
oficiais revolucionários.
No fim-de-semana, o PS organiza comícios numa dezena de capitais de distrito; a jornada culminaria
na Fonte Luminosa, em Lisboa, com Soares a reclamar de Costa Gomes o fim das ambiguidades. “A
revolução não avança. E não avançando, morre”, lamenta José Saramago, na sua coluna no DN de 24.
Paralisação de duas horas na cintura industrial de Lisboa, contra a nomeação de Vasco Lourenço e a
desmobilização dos pára-quedistas. Em resposta, agricultores levantam barricadas em Rio Maior e impedem
a circulação na Estrada Nacional nº1. O CR volta a reunir-se para apreciar a nomeação de Vasco Lourenço.
De acordo com a acta, chegou-se ao consenso de que a nomeação deveria ser mantida, pelo que foi
aprovada por maioria”. Um comunicado, lido ás 4h da madrugada de 25, confirma a nomeação de Vasco
Lourenço para comandante da Região de Lisboa e promete “uma decidida acção militar, contra quem quer
que seja que desencadeie acções de rebelião armada ou guerra civil”. Pouco depois, os pára-quedistas da
Base Escola ocupam as bases aéreas de Tancos, Monte Real e Montijo. O Ralis controla os acessos à auto-
estrada do Norte e o aeroporto da Portela, e a Escola Prática de administração Militar (EPAM) ocupa os
estúdios da RTP. Em resposta militares ligados aos Nove, organizados em torno dos conselheiros Melo
Antunes e Vasco Lourenço, desencadeiam uma série de acções a partir de um posto de comando da
Amadora, chefiado pelo tenente-coronel Ramalho Eanes. O regimento de comandos, comandado por Jaime
Neves, neutraliza, uma a uma, as unidades rebeldes. Na Polícia Militar há mesmo confrontos, que fazem 3
mortos. Pela primeira vez desde o 25 de Abril, é declarado o estado de sítio na região de Lisboa, com
“suspensão parcial das garantias constitucionais”, e que se prolonga por uma semana.
A pouco e pouco, clarificado o poder militar – com o afastamento e prisão de numerosos oficiais
“gonçalvistas” e “revolucionários” –, o país retoma a normalidade possível. É o fim do PREC – o Processo
Revolucionário em Curso, iniciado na noite de 11 de Março, e que se prolongou por 260 dias.

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O «Compromisso» Constitucional
A Constituição de 2 de Abril de 1976 foi inspirada por ideais democráticos e socializantes,
consagrando, por via de um compromisso complexo, uma organização política, social e económica
orientada, a um tempo, para a afirmação da democracia pluralista-representativa, assente no respeito dos
direitos e liberdades fundamentais, e para um objectivo histórico de maior justiça social e de igualdade de
oportunidades - «o socialismo». Trata-se de um texto «não neutro» quanto à necessidade de
transformações, no qual adquirem um elevado grau de concretização aspectos como os respeitantes ao
conteúdo dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e alguns princípios essenciais relativos à estrutura
da economia e da sociedade. Se é certo que há um encontro dos princípios liberal-democrático e socialista, a
verdade é que se notam as influências dos diversos partidos políticos com assento na Assembleia
Constituinte: os direitos, liberdades e garantias e a democracia política resultam da confluência PS, PPD e
CDS; o socialismo, do encontro PS, PCP e PPD; os aspectos colectivistas, do entendimento PS-PCP; o sentido
personalista, do contributo do PPD e do CDS; os direitos sociais, a autogestão e o planeamento foram
defendidos pelo PS; as autonomias regionais e locais e as garantias jurisdicionais pelo PPD; a defesa das
nacionalizações, a Reforma Agrária e as organizações populares de base pelo PCP, e a Declaração Universal
dos Direitos do Homem e a livre iniciativa económica pelo CDS. Estes vários contributos são evidentes e dão
ao texto constitucional de 1976 uma conformação poliédrica e aberta, que se tem adaptado bem à evolução
das realidades – permitindo, em 1982 e 1989, que as revisões constitucionais tenham sido oportunidade
para estabilizar – pacífica e gradualmente – a ordem jurídica democrática e para consolidar o Estado de
direito. Sendo certo que em 1975 e em 1976 foram celebrados dois pactos entre o MFA e os partidos
políticos, que consagraram um período de transição, caracterizado pela separação das esferas militares e
civil do Estado e pela existência do Conselho da Revolução, a verdade é que a revi~são constitucional de
1982 pôs termo, sem grandes sobressaltos, a esta situação – abrindo caminho ao predomínio das
instituições civis e do Estado de direito, numa lógica pluralista, na qual os partidos políticos desempenharam
uma função importante na representação e na participação cívicas. Segundo a própria Constituição, «a
liberdade de associação compreende o direito de constituir ou participar em associações e partidos políticos
e de, através deles, concorrer democraticamente para a formação da vontade popular e a organização do
poder político» (art. 51.º, nº1), participando os partidos «nos órgãos baseados no sufrágio universal e
directo de acordo com a sua representatividade eleitoral» (art.117.º, n.º1).

Constituição e evolução constitucional


Nascida sob o signo de uma revolução sem sangue, a III República portuguesa não pôde furtar-se ao
legado de quase cinco décadas de totalitarismo e isolamento internacional, nem escapar à influência das
clivagens que então rigidamente opunham, de cada um dos lados do muro de Berlim, duas mundividências,
dois sistemas, duas visões da Constituição, da lei e da justiça.
Delineada e revista nos momentos finais um ciclo histórico que antecipou politicamente a entrada
noutro século, a nova ordem jurídico-institucional reflectiu assim, no plano nacional, os rumos e vicissitudes
desse contínuo afrontamento entre sistemas.
As cristalizações normativas alcançadas no decurso do processo aberto pelo 25 de Abril não
deixaram de colher, no entanto, o património útil do constitucionalismo liberal e republicano português, os
ensinamentos da experiência ditatorial liberticida (1926-1974) e alguns dos melhores frutos do debate
constitucional europeu do pós-guerra (designadamente no tocante à opção por um Estado-Providência e à
consagração do semipresidencialismo).

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A primeira fase da transição democrática portuguesa (assente na dupla recusa da «normalização» e
do modelo da democracia popular) decorreu em circunstâncias que propiciaram tanto soluções
antecipadoras de grandes sínteses (liberdade/igualdade, democracia representativa/ participação cívica,
separação de poderes/interdependência, unidade do Estado/autonomias regionais) como numerosos
mecanismos de salvaguarda do pluralismo político, da liberdade de sufrágio, do equilíbrio entre poderes e da
paz cívica, cuja valia se comprovou ao longo dos anos.
Entre o derrube da ditadura e a consumação e aprofundamento da opção europeia, inscrevem-se
quatro etapas de transformação:
- 1974-1976 (ruptura com a ordem totalitária/aprovação da lei fundamental pela Assembleia
Constituinte);
- 1976-1982 (vigência do texto originário da Constituição da República Portuguesa/primeira revisão
constitucional);
- 1982-1986 (primeira revisão constitucional/adesão à CEE);
Vertiginosamente, em apenas 12 anos passou-se da supressão dos elementos característicos da
ditadura (desmantelamento do aparelho repressivo, dissolução dos organismos corporativos, restauração
das liberdades e direitos fundamentais) à aproximação crescente entre o regime constitucional português e
as democracias existentes nos demais Estados comunitários.

A consagração da III República


Em 2 de Abril de 1976, a aprovação da Constituição fixou os contornos iniciais do regime,
consagrando direitos fundamentais, definindo e programando transformações da organização económica e
social, assegurando a coexistência entre órgãos representativos emanados do sufrágio popular e estruturas
como o Conselho da Revolução e as forças emanadas (então autónomas em relação ao poder civil e com
missões de intervenção política). Medidas de excepção típicas de situações pós-revolucionárias (como o
saneamento da função pública ou a restrição de direitos políticos de responsáveis da ditadura) foram
integradas transitoriamente no texto constitucional
Embora com o cunho próprio de uma ordem constitucional que proclamava como objectivo supremo
a transição par um socialismo sui generis, foi delineamento da Constituição política que atingiu expressão
menos frágil o compromisso político entre os diversos partidos que participaram no processo constituinte.
Esse compromisso reflectiu-se tanto no plano negativo (rejeição das componentes fundamentais do modelo
institucional da Constituição de 1933 e da confusão partido/Estado própria do figurino soviético), como
positivo (opção pelo estado de direito democrático, pluripartidarismo, eleições livres, sistema de governo
misto, mecanismos de democracia participativa, garantias de alternância política, descentralização política e
administrativa).

A Constituição de 1976 e as revisões constitucionais de 1982 e de 1989 (a


transição democrática)

O papel da Constituição Portuguesa na consolidação da democracia é simultaneamente um papel


central e rodeado de controvérsia.
Se se pretender determinar quais os principais ciclos de evolução da nossa recente vida
constitucional, decerto não haverá, desde logo, consenso quanto à caracterização desses períodos de
evolução.
Na opinião de António Vitorino, licenciado em Direito, advogado e político português, pode-se
identificar nesta evolução um padrão global e cinco específicos ciclos de evolução:

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- o padrão geral pode ser caracterizado pelo papel progressivamente menos relevante da luta
política em torno da Constituição na vida política contemporânea portuguesa, o que se verificou ao longo de
cinco distintos e conturbados ciclos de evolução:
- primeiro: a luta pela Constituição e a consolidação do sistema de partidos (1974-1975);
- segundo: a «normalização democrática» depois da aprovação da Constituição (1976-1978)
- terceiro: a controvérsia constitucional (1979-1982);
- quarto: a primeira revisão constitucional centrada na organização do poder político e o progressivo
reforço da componente civil do sistema democrático (1983-1986);
- quinto: a consumação do referido padrão geral pela aprovação da segunda revisão constitucional
centrada principalmente em questões económicas e ideológico-programáticas.
A própria existência e o concreto papel de uma Constituição em 1974 e 1975 ocupou um plano
principal na luta política desses anos, sobretudo em torno da preocupação de assegurar que as eleições para
uma Assembleia Constituinte, nos temos previstos no próprio Programa do Movimento das Forças Armadas,
tivesse lugar no dia 25 de Abril de 1975, eleições essas que constituíram relevante factor de genuína
avaliação democrática de representatividade dos partidos políticos na sociedade portuguesa numa fase de
transição de um regime autoritário para um regime plenamente democrático.
A elaboração da Constituição durante o período de 1975/1976 esteve sujeita a duas diferentes
espécies de envolventes de ordem externa:
- De um lado, relevaram de forma determinante para a sua elaboração os acordos celebrados entre
os partidos políticos representados na Assembleia Constituinte e o Movimento das Forças Armadas,
representado pelo Conselho da Revolução (o primeiro pacto MFA/partidos em Abril de 1975 e o segundo em
Fevereiro de 1976, depois dos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975);
- Do outro lado, a inegável influência do meio político, económico e social envolvente, caracterizado
pelo exacerbamento das definições ideológicas e pela procura de identidade própria dos partidos políticos,
por um pendor do sistema partidário «descaído» sobre a esquerda do espectro político e pelas exacerbadas
expectativas populares de obtenção de benefícios sociais e económicos imediatos decorrentes da abertura
provocada pelo novo regime democrático, numa altura que, por contraste, o mundo experimentava os
primeiros períodos de recessão económica internacional após o progresso alcançado durante a década de
sessenta.
A aprovação da Constituição conferiu aos partidos que mais tinham contribuído para a sua elaboração um
papel proeminente na vida política nacional desde então até hoje, e o sistema partidário definido em 1975 é ainda,
nas suas características fundamentais, o ainda existente hoje em dia. Neste aspecto não se pode negar o contraste
evidente entre o caso português e a transição espanhola: aqui, uma revolução acentuadamente reformista acabou
afinal por sacrificar o seu principal protagonista, a expressão do centro político e moderado personificada na UCD,
enquanto em Portugal o ambiente de tipo revolucionário acabou por reforçar o sistema de partidos de transição,
assente principalmente na relação das duas forças políticas que entre si disputaram a área política central (o PS e o
PSD).
Numa síntese necessariamente incompleta pode-se dizer que a Constituição de 1976 é definida na sua
versão originária pelos seguintes elementos fundamentais:
a) Um carácter marcadamente ideológico dos seus Princípios Fundamentais e de inúmeros normativos
constitucionais inspirados em ideologias políticas de sinal divergente e cuja conciliação no mesmo texto
constitucional em diversos momentos se revelou difícil ou, no mínimo, tensa e conflitual;
b) Sem embargo, a Constituição foi assumida pelos seus «pais fundadores» como um texto compromissório, de
base interpartidária, onde o partido então maioritário (o PS) tinha tentado conciliar convergências com o
PSD por um lado e com o PCP por outro, definidas em função das concretas matérias (com o primeiro

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partido especialmente na sistemática constitucional e no domínio dos Direitos Fundamentais, com o
segundo no plano dos Princípios Fundamentais e da Organização Económica);
c) A consagração de um amplo catálogo de Direitos Fundamentais e a consagração de uma especial vinculação
do ordenamento jurídico aos seus valores, à sua garantia e efectivação, englobando não só os direitos civis e
políticos de tipo clássico mas também uma ampla gama de direitos económicos, sociais e culturais de
inspiração diversa;
d) Uma organização económica concebida pela Constituição como «de transição» e «em transição», assente
num assinalável pendor estatista, no domínio da iniciativa económica pública (com uma especial garantia de
irreversibilidade das nacionalizações efectuadas após 1974), da planificação democrática da economia e do
papel da reforma agrária;
e) Um modelo de «duplo compromisso», entre os próprios partidos políticos, por um lado, e, por outro, entre a
vontade destes e os compromissos por eles assumidos perante o MFA no segundo pacto de 1976, de que
resultou um sistema de «checks and balances» de tipo semipresidencial (ou de parlamentarismo
racionalizado), sujeito a um relevante condicionamento da componente militar (apontando-se para a
convivência, durante um período entendido como «de transição», entre uma legitimidade revolucionária
emergente do golpe de Abril e a legitimidade democrática decorrente do sufrágio directo e universal):
- foi assim conferido ao Conselho da Revolução (representante do MFA e assente na legitimidade
revolucionária) um papel órgão de governo próprio das Forças Armadas, de órgão de consulta e de
condicionamento da acção do Presidente da República (designadamente no plano da nomeação do Governo e
da dissolução do Parlamento) e de garante do «espírito da Revolução», expresso na função de garantia da
Constituição mediante o controlo da constitucionalidade dos diplomas normativos;
- consagrou-se a eleição directa e por sufrágio universal do Presidente da República (por contraponto ao
regime do Estado Novo na sua fase posterior a 1958), conferindo-se assim ao Chefe do Estado um complexo
relevante de poderes próprios, exercidos «a se» ou enquanto Presidente do Conselho da Revolução
(designadamente os poderes referentes à nomeação e exoneração do Governo, à dissolução do Parlamento, ao
veto político e à iniciativa de fiscalização preventiva da constitucionalidade dos diplomas legislativos);
- acolheu-se um sistema eleitoral para a Assembleia da república de representação proporcional segundo o
método da média mais alta de Hondt, onde manifestamente se pretendeu sobrelevar a componente da
representatividade da vontade popular sobre a da governabilidade;
- consagrou-se um regime com um Parlamento extremamente dependente do protagonismo partidário e
dotado de um relevante papel no domínio da função legislativa e da função de direcção e controlo político,
convivendo com um Governo dependente de uma dupla fiança (do Presidente da República e do Parlamento em
simultâneo), mas dotado de um complexo de poderes legislativos assinalável, na tradição do regime da
Constituição de 1933;
- acolheram-se na Constituição formas de autonomia política e legislativa das regiões dos Açores e da
Madeira, consideradas regiões autónomas;
- foi consagrado um modelo de poder local democrático assente nas tradicionais divisões administrativas
(município e freguesia), de base electiva e de novo de acordo com a matriz da representação proporcional e
prevista a criação de uma nova instância administrativa no continente (a região), com órgãos também
emergentes do sufrágio popular;
- finalmente consagraram-se garantias de independência dos juízes e tribunais que administram a justiça em
nome do povo, segundo um modelo de autogoverno das magistraturas;
f) A ideia do poder constituinte sobre a sua própria função ficou plasmada, por último, na consagração num
artigo da Constituição de limites materiais (explícitos) ao futuro poder de revisão, questão que desempenhou
um relevante papel na controvérsia constitucional subsequente. A conjugação destes limites com a decisão de
não submeter a Constituição aprovada pela Assembleia Constituinte a um referendo popular condicionaram,
significativamente, os termos da subsequente luta política a propósito da natureza e da função da Constituição.

20 | P á g i n a
A «normalização democrática» pós-Revolução começou, assim, em 1976, nos termos da própria Constituição
no contexto de um «período de transição» (destinado, em princípio, a prolongar-se por quatro anos, até ao
termo da primeira legislatura da Assembleia da República e até à primeira revisão constitucional), com as
primeiras eleições para o Parlamento e para a Presidência da República. Aqueças eleições determinaram a
constituição do Parlamento de uma maioria relativa do PS, e as segundas levaram à Chefia do Estado o general
Ramalho Eanes, que à data representava o acordo possível entre os três maiores partidos democráticos (PS, PSD
e CDS) e a maioria dos membros do Conselho da Revolução.
Entre 1976 e 1978 o Parlamento aprovou algumas das leis mais importantes para a consolidação do regime
democrático após a aprovação da Constituição (verificada em 2 de Abril de 1976), não apenas nos aspectos
políticos e institucionais, mas também nos domínios económico e social. Essas leis expressavam, em função das
suas maiorias de aprovação diversificadas, o possível consenso parlamentar, uma vez que não existia nenhum
partido maioritário, embora na generalidade dos casos fossem consequências de negociações entre socialistas e
social-democratas.

O terceiro período começou com a vitória eleitoral da Aliança Democrática (PSD, CDS e PPM) em Dezembro
de 1979 e caracterizou-se principalmente pelo reforço da controvérsia constitucional sob a liderança do então
primeiro-ministro e líder do PSD, Francisco Sá Carneiro. A contestação da Constituição protagonizada pelos
partidos da Aliança Democrática assentou em três ordens de argumentos principais:
a) O ambiente político não-democrático que rodeara o processo de elaboração da Constituição (o seu
«pecado original» para o PSD e para o CDS) e que tinha marcado impressivamente o seu texto: uma tal
situação só poderia ser ultrapassada ou pela elaboração de uma nova Constituição, um acto
«refundacional» do regime, ou, pelo menos, por uma profunda revisão da Constituição de 1976 através
de uma subsequente aprovação por referendo popular;
b) As características não-democráticas da organização política se 1974/1975 e a sua matriz «de transição» e
em si mesma transitória, em virtude principalmente da existência do Conselho de Revolução e dos seus
poderes relevantes que haviam limitado a capacidade de livre decisão política dos governos apoiados e
legitimados pelo voto popular desde 1976;
c) A organização económica excessivamente baseada na acção do Estado e que comportava sérias
discriminações contra a propriedade privada bem como contra a iniciativa privada, dando protecção
especial à planificação central estatal e generalizando a interferência pública na vida económica.

Opunha-se a estes objectivos da então Aliança Democrática o Partido Comunista, que sempre esteve contra
qualquer alteração substancial da Constituição, e o Partido Socialista, além da maioria dos membros do
Conselho da Revolução.
A controvérsia protagonizada essencialmente pela direita parlamentar e pelos socialistas assentou
assim principalmente nos seguintes aspectos:
- primeiro, na própria metodologia de revisão constitucional e na recusa da aceitação da teoria do
«pecado original» da Constituição. Os socialistas recusaram frontalmente o «referendo» de revisão
constitucional e defenderam, em alternativa, uma revisão da Constituição através de negociações
parlamentares, que lhe dariam um papel decisivo, uma vez que se encontravam na oposição, mas eram
imprescindíveis à maioria de dois terços dos deputados necessária para efectivar a revisão. Esta questão foi
definitivamente resolvida depois das eleições presidenciais de 1980, uma vez que o candidato vencedor, o
general Eanes, se comprometeu, mesmo antes da campanha, face ao apoio à sua recandidatura do Partido
Socialista, no sentido de recusar qualquer tipo de «referendo» constitucional;
- segundo, a abolição do protagonismo militar: existia um claro acordo sobre esta questão entre o
PSD, o CDS e a facção ligada a Mário Soares no PS. Mas esta era precisamente uma das questões centrais da
própria discórdia interna ao Partido Socialista. Mário Soares acabaria por ganhar o Congresso do Partido em
Maio de 1981, sendo reeleito seu secretário-geral, e, por isso, foi possível forjar no Parlamento um acordo
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de base entre o PS e a Aliança Democrática que viabilizou a primeira revisão da Constituição em Agosto de
1982;
- terceiro, no que respeita à organização económica a controvérsia substituiu mesmo após a revisão
constitucional 1982, em virtude da recusa do Partido Socialista em negociar nessa altura uma profunda
modificação do sistema económico constitucional. Para a liderança de Mário Soares, (aliás em questões
essenciais defrontando oposição maioritária dentro do próprio grupo parlamentar socialista), era
absolutamente necessário centrar esforços no objectivo prioritário que havia elegido – a revisão das regras
atinentes à organização do poder político, especialmente na extinção do Conselho de Revolução, e, por isso,
necessitava de obter um acordo equilibrado dentro do seu próprio partido o que, sobre as temáticas de
ordem económica, social e ideológica não se figurava fácil.

A primeira revisão da Constituição neutralizou temporariamente a controvérsia constitucional nos


aspectos políticos e institucionais, embora desde o preciso momento da sua conclusão (Setembro de 1982)
tenha ficado claro que se tratava de uma revisão «a meio caminho» entre a «guerra aberta» sobre a
Constituição e a desejável «paz constitucional» ainda não alcançada.
No plano político, e numa perspectiva de síntese dos seus elementos essenciais, a revisão de 1982:
- aboliu o Conselho da Revolução;
- redefiniu consequentemente o sistema de governo, agora todo ele assente na exclusiva
legitimidade democrática, salvaguardando as suas características principais enquanto sistema de tipo
semipresidencial ou de parlamentarismo racionalizado;
- embora mantendo o modelo semipresidencial, ficou claro que o acordo básico entre o PSD, o PS e o
CDS decorria do objectivo central de conferir uma certa proeminência à componente parlamentar do regime
(os governos passavam a depender primordial e quase exclusivamente da relação de forças partidárias no
Parlamento, não podendo o Presidente da República demitir o Governo a não ser em situações-limite de
crise institucional grave) e concebia a instituição presidencial sobretudo como uma «instância de
salvaguarda» do regular funcionamento das instituições políticas, uma espécie de «poder moderador»
permanente da vida política (daí o poder de veto político e o direito de iniciativa de fiscalização preventiva
da constitucionalidade, entre outros), mas com poderes suficientes de crise político-institucional (tais como
o poder de dissolver o Parlamento e de convocar as subsequentes eleições);
No plano económico:
- a revisão aboliu a maioria dos elementos que se baseavam na ideia de que o sistema económico
constitucional era meramente transitório, sujeito a uma inevitável evolução em direcção ao socialismo, um
certo «modelo terminal» de organização económica baseado na iniciativa estatal, cooperativa e
autogestionária, embora tenha deixado inalteradas algumas disposições programáticas que revelavam um
certo encantamento pela liderança económica do Estado, não obstante a política dos sucessivos governos
desde 1978 estar cada vez mais afastada nas medidas concretas adoptadas e na sua retórica desse tipo de
modelo; acima de tudo, a revisão deixou inalterados os normativos que pretendiam prevenir eventuais
retrocessos na construção do socialismo (principalmente o preceito que proibia a privatização das empresas
públicas e nacionalizadas após 1974, e as normas referentes à planificação económica e à reforma agrária);
- os elementos programáticos e ideológicos da Constituição, especialmente certos princípios de
inspiração mais marcadamente socialista, permanecem inalterados, com excepção de algumas disposições
de menor alcance, cuja revisão foi apresentada como consequência directa da então abolida condicionante
militar no exercício do poder político democrático.
Após a primeira revisão constitucional pode-se dizer que, no decorrer dos quatro anos seguintes, o
principal objectivo da luta política democrática consistiu no reforço da componente civil e da vertente
parlamentar do regime, depois de um período caracterizado por uma assinalável condicionante de tipo
militar e de um «medir de forças» entre a dinâmica partidária centrada no Parlamento e a afirmação de uma
leitura «presidencializante» da Constituição expressa na conduta do então Presidente da República. Esta fase
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culminou quer com a eleição do Presidente Mário Soares em 1986, não só por ser o primeiro Presidente da
República civil em cinquenta anos em Portugal (numa eleição em que todos os candidatos eram civis), mas
também por se tratar do principal crítico das leituras «presidencializantes» do anterior titular do cargo, quer
com a constituição, em 1987, da primeira maioria parlamentar de um só partido (o PSD liderado por Aníbal
Cavaco Silva).
Contudo, neste período assistimos à renovação da controvérsia sobre a questão constitucional,
muito embora com características diferentes das da fase anterior.
Nesta fase já não se tratou de uma «controvérsia global» sobre a legitimidade da Constituição no seu
conjunto, mas apenas de uma «controvérsia parcial», centrada principalmente nas disposições sobre a
organização económica e sobre os direitos dos trabalhadores.
A controvérsia sobre os temas ideológicos e programáticos foi, na retórica envolvente dos discursos
partidários sobre a revisão, menos relevante e não foi retomada, pelo menos em termos significativos no
plano nacional, a tese do «pecado original» da Constituição. De facto, desde as eleições parlamentares de
1985, nem o PSD nem o CDS defenderam a necessidade de um «referendo» para proceder à reforma da
Constituição, e todos os partidos políticos começaram a preparar-se efectivamente para as negociações
parlamentares que inevitavelmente iriam ter lugar num futuro próximo.
Depois do Governo do «bloco central» (PS/PSD – 1983/1985) tornara-se claro que os socialistas
estavam disponíveis para cooperarem numa segunda revisão constitucional que pudesse completar a
primeira, abrangendo sobretudo as áreas económicas e ideológicas da Lei Fundamental. Uma revisão que
nascia, assim, ao contrário da primeira, despida da controvérsia quanto à própria metodologia, sendo aceite
como natural que a mesma assentasse em negociações parlamentares a ocorrerem nos prazos previstos pela
própria Constituição, ou seja, a partir de Setembro de 1987, cinco anos após a primeira revisão.

Neste contexto, é possível dizer que a segunda revisão é essencialmente complementar da primeira.
Antes do mais, ratificou o acordo a que se havia chegado em 1982 sobre a organização do poder
político:
a) Não houve modificações relevantes no modelo político global, mantendo-se inalterados os
«checks and balances» dos poderes dos órgãos de soberania definidos em 1982 após a extinção
do Conselho de Revolução;
b) Estabilizou o regime constitucional referente à lei eleitoral para a Assembleia da República,
tornando as futuras alterações da definição dos círculos eleitorais dependentes da votação
favorável de uma maioria de dois terços dos deputados, em vez da regra anterior da maioria
simples;
c) Ratificou a existência e a composição do Tribunal Constitucional, que tinha sido uma das
questões mais controversas na 1.ª revisão no tocante à forma de designação dos respectivos
juízes (dez escolhidos pelo Parlamento por uma maioria de dois terços e os restantes três
cooptados pelos dez iniciais);
d) Institucionalizou-se o «referendo» deliberativo para matérias não-constitucionais.

Por outro lado, a segunda revisão completou a primeira no capítulo dos Direitos Fundamentais, em especial
na integração dos direitos dos consumidores enquanto direitos económicos, sociais e culturais, no reforço dos
direitos de petição e de acção popular, na regulação da protecção dos dados pessoais face à informática e na
consagração de um princípio de «administração aberta» que exprime uma melhor garantia dos direitos dos
administrados (para além da ampliação das condições de acesso ao contencioso administrativo).
No entanto, o tema principal da segunda revisão constitucional foi, sem dúvida, a organização económica:
a) A segunda revisão adoptou expressamente um modelo de economia mista, de acordo com as regras que
caracterizam o tipo de economias dos países da CEE;

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b) Permitiu em sede constitucional a privatização total das empresas públicas nacionalizadas após 1974,
abolindo assim o princípio da «irreversibilidade das nacionalizações» e consagrando concomitantemente
um conjunto de princípios a que deverão obedecer as reprivatizações;
c) Tornou mais flexível o sistema de planeamento económico, adaptando-o a algumas regras referentes ao
regime de acesso aos fundos comunitários;
d) Procedeu a uma clara subavaliação do papel da reforma agrária no contexto global da política agrícola;
e) Deixou inalterados os direitos dos trabalhadores e introduziu algumas modificações em certas normas da
constituição social (principalmente dobre a saúde e a segurança social), de acordo com preocupações
relacionadas com a designada «crise fiscal» do Estado moderno.
Finalmente, a segunda revisão suprimiu praticamente todos os preceitos de cariz ideológico e programático
que suscitavam controvérsia, especialmente todas as referências ao socialismo e outras expressões que, de forma
directa ou indirecta, se poderiam considerar de inspiração marxista.

A revisão constitucional de 1982 e as modificações nas relações entre o poder político e a instituição
militar

Os Governos da Aliança Democrática e a preparação da revisão constitucional no domínio militar


Os Governos da AD assumiram especiais responsabilidades na preparação da revisão constitucional e na
elaboração da Lei de Defesa Nacional, ou seja, na alteração das relações entre o poder político e a instituição militar.
Os nomes de Adelino Amaro da Costa, Azevedo Coutinho e Diogo Freitas do Amaral, todos do CDS, estão
indissoluvelmente ligados a essa preparação. Já no que diz respeito à aplicação da Lei da Defesa, tudo foi feito
durante a formação do Governo PS/PSD, em 1983, para que fosse um elemento do PSD a implementá-la. Numerosas
e diferentes pressões foram levadas a efeito para impedir a nomeação de um socialista como ministro da Defesa.
A primeira grande oportunidade de controlo por parte da AD vai aparecer com a chegada de Amaro da Costa
a ministro da Defesa Nacional, em Janeiro de 1980. Com efeito, Amaro da Costa aproveita plenamente a arma do
Orçamento do Estado para dar um peso político excessivo ao MDN e faz deste o centro principal da preparação do
lançamento da candidatura presidencial de Soares Carneiro, em 1980; finalmente, Amaro Costa utiliza a fundo as
relações externas no âmbito da NATO para imprimir a sua influência na reorganização dos ramos das Forças
Armadas.
Em primeiro lugar, e no que diz respeito à utilização da arma orçamental, Amaro Costa apresenta-se
consciente do seu manejo. Assim, em discurso proferido no Mosteiro da Batalha, a 9 de Abril de 1980, perante as
mais altas individualidades militares, anuncia, antes de o fazer na Assembleia da República que:

… O Governo entendeu propor à Assembleia da República que aprove um acréscimo de quatro por
cento, em termos reais, das despesas de funcionamento de vários sectores da defesa nacional.
Sabendo-se que é nula, em termos reais, a proposta de acréscimo do consumo da administração
central, para 1980, a fim de se permitir um crescimento efectivo da capacidade do consumo privado,
fácil é compreender que nos encontramos perante um projecto de apoio financeiro às Forças
Armadas portuguesas de sentido fortemente positivo, ainda que escasso à luz das necessidades e das
carências com que elas se debatem…

Em segundo lugar, Amaro Costa não deixa de pretender agir na preparação das novas relações a estabelecer
entre o poder político e a instituição militar. É ele que o diz:

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«Preparar, desde já, essa normalização é também um dever. O Governo não se furta a ele, na certeza de que
está assim contribuindo para evitar vazios ou improvisações perigosas no momento em que, findo o período de
transição, se estabeleça uma relação nova entre o poder político democrático e a instituição militar.»

Para essa relação nova entre o poder político democrático e a instituição militar irá ter muita importância a
eleição presidencial de Dezembro de 1980 e a revisão constitucional após o fim da primeira legislatura. Para Amaro
da Costa, a eleição presidencial e a revisão constitucional estão intimamente ligadas entre si e à questão militar:

Desde sempre me inclinei, como cidadão e como político, a dar o meu apoio, mas próximas eleições
presidenciais, a um candidato que fosse uma personalidade militar (…). Penso que se poderá realizar
uma mais fácil, mais segura e mais profunda condução do País para uma vida constitucional
integralmente democrática e representativa sem vínculos de acento revolucionário, se a chefia do
Estado for ocupada não por um civil, mas por um militar bem inserido na instituição (…) A tese de um
candidato militar (…) não corresponde, pois, em 1980, à reedição do método que levou à escolha do
general Ramalho Eanes como candidato em 1976.

Amaro Costa, posto perante a questão concreta da possível candidatura do general Soares Carneiro,
responde:

A meu ver, o general António Soares Carneiro reúne características que o permitem antever como um
Presidente da República capaz de assegurar dignamente a chefia do Estado português, o comando
supremo das Forças Armadas, a consolidação e o fortalecimento das instituições democráticas no
nosso País (…) sem ambiguidades nem tergiversações.

Estávamos em Abril de 1980. Através de Amaro Costa, a AD revelava conhecer bem o papel das eleições
presidenciais na escolha de um militar que comandaria as Forças Armadas e asseguraria um certo tipo de relações
entre a instituição militar e o poder político.
Em Terceiro lugar, Amaro da Costa utilizou a fundo a arma das alianças internacionais de Portugal,
nomeadamente a NATO, para orientar o enquadramento da instituição militar portuguesa através do MDN.
Inaugura-se, em princípios do ano de 1976, o período de reestruturação das Forças Armadas portuguesas
assente na ajuda externa proveniente de países da NATO, e que teve então a sua principal expressão na activação da
Brigada Mista Independente do Exército, na qual desempenhou papel decisivo o entendimento entre o general
Eanes, chefe do Estado-Maior do Exército, e Frank Carlucci, embaixador dos EUA em Lisboa.
Ora, a activação da Brigada Mista Independente, em Fevereiro de 1976, constituiu uma mudança
significativa no enlace entre as Forças Armadas portuguesas com as missões militares da Aliança Atlântica até então
estabelecidas através da Armada. Era, com efeito, a Armada o ramo das FA portuguesas com maior empenhamento
operacional nas missões da NATO, mantendo-se o ramo do Exército praticamente desactivado, entre outras razões
pela hipertrofia Ada sua dimensão no teatro de operações africano. Acresce que a constituição dessa brigada,
prevista para actuar fora das fronteiras portuguesas no flanco sul da NATO, dava uma grande oportunidade de
reconversão e de modernização do ramo Exército após a Guerra Colonial. Pela importância política que havia
adquirido após o derrube da ditadura e pela forma como, apesar de tudo, conseguiria conter em Portugal as
veleidades anti-ocidentais, o Exército será credor de uma prioridade na reconversão das missões militares que não
será do agrado dos outros ramos nem das antigas oligarquias portuguesas. Mas é o preço da conduta desse ramo,
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que se impusera, em 25 de Novembro de 1975, às sublevações em unidades da Força Aérea e ao radicalismo político
na altura vigente na Armada.
Coube a Amaro da Costa a defesa e execução da tese contrária, perante responsáveis da Aliança Atlântica,
segundo a qual Portugal necessitava sobre tudo de meios aeronavais. Esta tese irá ser sistematicamente defendida
pelo ministro da Defesa no decorrer do ano de 1980 nas reuniões internacionais e Amaro da Costa irá fixar como
objectivo da sua acção externa a aquisição de três fragatas para a Armada, chegando a receber algumas promessas
nesse sentido.
Conseguirá a Força Aérea também alguma ajuda externa no referente a aviões de combate e sobretudo de
transporte, mas a acção do general Lemos Ferreira não terá sido menor do que a de Amaro da Costa na altura.
Em suma, a passagem de Amaro da Costa pela pasta da Defesa demonstrou a grande plasticidade da
situação político-militar e a importância da MD na orientação das Forças Armadas.

A revisão constitucional de 1982: do Pacto MFA – Partidos ao Pacto Interpartidário CDS – PSD – PS
A concepção de um período de transição após as eleições para a Assembleia Constituinte em 1975 cedo se
apoderou da maior parte dos estrategos militares, desde Rosa Coutinho e Vasco Gonçalves até Melo Antunes e Vítor
Alves. Só Otelo Saraiva de Carvalho dará expressão militar a diferente tendência, embora bastante mais tarde,
quando, no Verão de 1975, desposa o Plano-Guia MFA/Povo em que se propõe um novo tipo de regime político
assente no poder popular e na democracia directa, que consagrava a influência militar no plano político sem limite
de tempo.

O período de transição foi considerado necessário pelo general Costa Gomes no discurso que proferiu na
sessão inaugural da Assembleia Constituinte, a 2 de Junho de 1975, nos seguintes termos:

Queremos que a nossa revolução progrida para um socialismo pluripartidário, em simbiose fecunda
entre as vias revolucionárias e eleitoral, pois as condições pactuais são o contributo revolucionário para
a nova Constituição (…)
Este acordo constitucional é, pois, um esquema de segurança e um contributo revolucionário, um
fecundo padrão que marca a originalidade da revolução socialista portuguesa.

A maior consequência do período de transição foi o estabelecimento de uma osmose entre a instituição
militar e o poder político destinada a vigorar num prazo de tempo limitado.

Pode hoje dizer-se ter sido a existência deste período de transição um dos factores que permitiram o
entendimento entre o Partido Socialista, o Partido Social Democrata e o Centro Democrático Social para a revisão
constitucional de 1982. O essencial dessa revisão resumiu-se nesse autêntico pacto interpartidário de 1982 em
substituição do II Pacto MFA – Partidos de Fevereiro de 1976.
No Pacto Interpartidário ente a AD e o Partido Socialista residiu o essencial da revisão constitucional: tratou-
se de diminuir os poderes de iniciativa institucional do Presidente da República (nomeação e demissão do primeiro-
ministro; nomeação e demissão dos chefes militares), vistos estes como derivados da influência militar na vida
política portuguesa; tratou-se de extinguir o Conselho da Revolução e de distribuir as suas funções por diversos
órgãos – Conselho de Estado, Tribunal Constitucional, Governo e Assembleia da República. Para todas estas
modificações funcionou uma maioria de mais de dois terços dos deputados, constituída pela aliança interpartidária
atrás mencionada.
Pela primeira vez desde a queda da ditadura, em 1974, não seriam as Forças Armadas a determinar o tipo de
relacionamento com o poder político. Se bem que com o II Pacto MFA/Partidos, de Fevereiro de 1976, as Forças
Armadas tivessem optado pela defesa de um regime de democracia política pluralista, ainda aí determinaram os

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termos da sua inserção no sistema de poder, ao passo que agora vão assistir ao evoluir da consolidação do Pacto
Interpartidário entre a AD e o PS, entendimento centrado sobre o fim da influência militar na vida política
portuguesa e a instauração de um regime político de partidos, de características eminentemente parlamentares.

Os militares e a revisão constitucional de 1982


Paradoxalmente, a única cautela tomada sobre o fim do período de transição pelos estrategos responsáveis
do II Pacto MFA/Partidos consubstanciou-se num tópico do protocolo eleitoral entre o Presidente da República e o
PS, elaborado no Verão de 1980 e no qual se garantia a manutenção dos poderes presidenciais após a revisão
constitucional.
É de salientar que os militares que se haviam rodeado de tantas precauções no processo constituinte em
1975 não foram além de algumas declarações individuais no período preparatório da revisão constitucional. Pode
mesmo falar-se de alheamento da instituição militar face ao processo da revisão constitucional, em geral, e face às
relações entre o poder político e as Forças Armadas em particular.
As poucas declarações individuais não tiveram, aliás, qualquer efeito na orientação dos trabalhos da
comissão parlamentar da revisão constitucional, criada pela Assembleia da República em 1981, logo o ministro da
Defesa, Freitas do Amaral, pronunciou importante discurso através da RTP, em 16 de Julho de 1982. Declarou então:

A Assembleia da República, no legítimo exercício dos seus poderes de revisão constitucional, aprovou
anteontem, por maioria qualificada superior a dois terços dos deputados, duas alterações fundamentais
à Constituição da República – a extinção do Conselho da Revolução e a atribuição da competência para
nomear e exonerar os chefes de Estado-Maior ao PR, sob proposta do Governo.

De imediato, o ministro da Defesa equaciona três dos problemas levantados pela extinção do CR: o destino a
dar ao serviço de apoio deste, a guarda dos arquivos da antiga polícia política da ditadura, a criação do Tribunal
Constitucional. Para todas estas questões haverá entendimento entre o Governo AD e o Partido Socialista.
De facto, o PR promulga, em Setembro de 1982, a Lei da Revisão Constitucional que fora aprovada pela
Assembleia em Junho do mesmo ano, e até Novembro não se pronuncia sobre ela. Só o faz no início desse mês,
quando recebe a lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas.
Assim, a 5 de Novembro de 1982, o general ramalho Eanes dirige-se aos portugueses num discurso em que
não menciona qualquer aspecto da Lei de revisão constitucional relacionado com as Forças Armadas, mas critica
certas soluções encontradas para a revisão constitucional.

Como nota final, será que podemos dizer eu a controvérsia em torno da Constituição terá acabado após a
segunda revisão constitucional? Existirá finalmente uma verdadeira estabilidade no «arco constitucional» em
Portugal, uma vez que sabemos quem em 1976, a Constituição teve o voto favorável do PS, do PSD e do PCP, que,
em 1982, a 1.ª revisão teve o voto favorável do PS, do PSD e do CDS e que, em 1989, a 2.ª revisão teve mais uma vez
o voto favorável do PS, do PSD e do CDS?
A história política portuguesa mostra que, desde o período liberal no início do século passado, tivemos seis
constituições, cinco das quais com origem em acontecimentos de tipo revolucionário (1822, 1836, 1933 e 1976) e
apenas uma (a de 1826) não teve origem revolucionária (tendo sido outorgada pelo Rei). Todas estas constituições
portuguesas estiveram sempre sob pressão política muito significativa, sujeitas a intensas controvérsias, uma vez
que visavam legitimar novos regimes políticos emergentes em situações de rotura constitucional e por isso foram,
em distintos momentos históricos, contestadas ou rejeitadas mesmo por diversos protagonistas políticos e por
distintos sectores sociais.
A «paz constitucional» não é das mais relevantes características políticas da nossa vida pública.

27 | P á g i n a
Não obstante, a resposta à questão colocada pode tentativamente procurar-se em torno de três tópicos de
análise.

Primeiro: do texto original da Constituição, apenas 45 de 300 artigos permanecem inalterados: há mesmo
quem afirme que já não se trata propriamente da mesma Constituição, mas que teria ocorrido em Portugal uma
espécie de «transição» (pacífica) de um sistema constitucional para outro, ainda que formalmente de acordo e
dentro das regras da própria Constituição. Pelo contrário, é de entender que, não obstante a profundidade das
alterações introduzidas nas duas revisões constitucionais, continuamos ainda, sem dúvida, perante a mesma
Constituição, não só por razões de ordem formal que se prendem com a expressa preocupação de os legisladores
das revisões se manterem no quadro emergente da Lei Fundamental de 1976, mas também porque o seu elemento
definitório, assente no compromisso originário, foi mantido nas duas revisões constitucionais, tendo sido observado
em ambos os casos, e não apenas num mero conceito formalista, os limites materiais do poder de revisão contidos
no texto da Lei Fundamental. Ambas as revisões permitiram demonstrar a «adaptabilidade» do texto constitucional
à evolução da conjuntura política, económica e social envolvente, sem postularem para tal adaptação uma rotura
com o «modelo genético» de 1976.
No entanto, é generalizada a ideia de que a «questão constitucional» tem vindo a perder a sua projecção e o
seu lugar central na luta política contemporânea em Portugal.

Segundo: a segunda revisão constitucional baseou-se num princípio de «desregulação constitucional», no


sentido de que designadamente nas áreas económicas a Constituição deveria oferecer aos governos a possibilidade
de usufruírem de uma escolha flexível e ampla das políticas a prosseguir para alcançar os objectivos económicos de
ordem geral constantes da própria Lei Fundamental. Mas esta «pluralização do programa económico constitucional»
não corresponde nem a uma preocupação de «neutralidade» da Lei Fundamental desta sede, nem tão pouco a um
sentido de substituição do modelo original por outro que se lhe contrapusesse em termos de exclusão. O que se
ampliou foi o espectro das escolhas possíveis dentro de grandes balizas constitucionais, as quais, sendo mais
consensuais, possibilitam a convivência de «leituras governativas» de sinal distinto.
Do que fica expresso resulta que o consenso constitucional alcançado em 1989 ficará dependente, na sua
evolução concreta, de três desafios principais:
a) O desafio da estabilidade política, assente na cooperação entre o Presidente e a maioria parlamentar (de
que dimana o Governo), cada um deles apoiado por diferentes sectores da sociedade portuguesa, mas
ambos legitimados pelo sufrágio directo e universal, agora que a prática política concreta demonstrou
que mesmo com um sistema eleitoral assinalavelmente proporcional o eleitorado gerou por vontade
própria e em dois distintos momentos maiorias absolutas (de votos e de mandatos) de um só partido;
b) O desafio de corresponder às reais expectativas de ordem social do povo português, criadas pela efectiva
melhoria das condições de vida decorrente da primeira fase da integração europeia e por vários anos de
crescimento económico continuado.

Terceiro: haverá de certeza uma terceira revisão da Constituição, previsivelmente dentro de cinco anos. Uma
revisão muito menos dramática e mais pontual do que as anteriores. Mas ainda e inevitavelmente caracterizada por
uma certa tensão nos debates, se tivermos em linha de conta as propostas dos partidos políticos que não foram
acolhidas nem na primeira nem na segunda revisão constitucional e que constituem «cadernos reivindicados» em
aberto, em tornos dos quais só a evolução da luta política poderá determinar um concreto desfecho com projecção
no texto constitucional. Não será, contudo, ousado antecipar que a matéria da organização do poder político voltará
então a estar no centro das atenções dos legisladores da futura revisão.

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O Poder Central

A Constituição de 1976 estabeleceu um prudente sistema de pesos e contrapesos para o exercício do poder
central. Por um lado, ao adoptar um sistema semipresidencialista, ou de parlamentarismo mitigado, operou uma
sábia divisão de poderes ao mais alto nível do Estado, criando, assim, um obstáculo institucional à tentação de um
presidencialismo do primeiro-ministro. Por outro lado, ao consagrar o sistema eleitoral proporcional pela média
mais alta de Hondt, tornou difíceis as maiorias monopartidárias, num convite implícito à formação de governos de
coligação, sob pena de riscos de instabilidade política. A experiência de funcionamento deste sistema de presos e
contrapesos encontrou um poderoso aliado no comportamento do próprio eleitorado. Com efeito, este, em
momentos-chave da evolução política entretanto registada, soube escolher para a presidência da República e para o
Governo representantes de correntes políticas de sinais opostos ou divergentes, tendo, por outro lado, superado a
dificuldade de formação de coligações ou executivos minoritários duradouros pela via de uma inusitada
concentração de votos no partido e na personalidade que melhor souberam aproveitar os benefícios da conjuntura
económica, graças a um afortunado calendário eleitoral e a alguma inegável habilidade estratégica: o Partido Social-
Democrata e o seu líder, Cavaco Silva.
A história do exercício do poder central, aquando a vigência da Constituição é, pois, a história da busca de
fórmulas mais ou menos estáveis de governação por parte dos partidos vencedores dos sucessivos actos eleitorais.
Uma busca condicionada pelo cruzamento entre factores conjunturais de ordem institucional e de ordem
económica, a saber por um lado, a oportunidade e o modo com os presidentes da república fizeram o uso da
competência constitucional de dissolução do Parlamento, e, por outro, as incidências no comportamento do
eleitorado dos efeitos dos ciclos de crise ou de expansão da economia. Poderá mesmo dizer-se que, mais do que a
competência própria de cada governo ou o grau de simpatia inspirada pelas alternativas ideológico-programáticas
sujeitas ao juízo dos eleitores, foi o cruzamento daquelas duas ordens de factores que determinou as sucessivas
alterações na composição partidária do Executivo até ao repetido triunfo da fórmula do governo monopartidário de
maioria absoluta do PSD. O eixo da vida política portuguesa deslocou-se, pois, da preocupação pela definição da
arquitectura institucional do novo regime para a dupla preocupação pela definição quer de condições políticas de
estabilidade e equilíbrio no funcionamento das novas instituições, quer de estratégias para a solução de crise
económico-financeira, com vista a um rápido desenvolvimento do País no âmbito do processo de integração
europeia. Intérpretes privilegiados dessa dupla preocupação foram Eanes e Soares.

29 | P á g i n a
O Triângulo Conflitual da Instabilidade: Eanes, Soares e Sá Caneiro (1976-1980)

O primeiro Governo Constitucional, da responsabilidade do


1976 PS e liderado por Mário Soares, passara facilmente a prova da
investidura parlamentar. A ausência de uma alternativa no quadro
28 de Janeiro: O PCP afirma
parlamentar saído da recente consulta eleitoral, a confiança
que ocorreram mais de 300
depositada por uma extensa maioria na personalidade do novo
atentados desde Maio de
presidente da República, o general Eanes, a consciência
1975.
generalizada das dificuldades herdadas da ditadura conservadora e
16 de Fevereiro: A vaga de do processo revolucionário e agravadas pela crise económica
terrorismo alarma a Comissão internacional, aconselhavam um período de acalmia, com a
Nacional de Eleições, que estabilidade mínima necessária ao progressivo restabelecimento da
solicita a máxima vigilância autoridade do Estado, ainda fortemente abalada pela
para as sedes dos partidos. fragmentação do PREC, e dos equilíbrios financeiros indispensáveis
à expansão da economia.
2 de Abril: É aprovada na
Assembleia Constituinte, a Poderá dizer-se que este primeiro Governo, obteve um
Constituição da República certo êxito no que toca ao primeiro objectivo, consolidando as
Portuguesa. novas instituições e regulamentando os direitos, liberdades e
garantias constitucionais através de um imenso labor legislativo,
23 de Abril: O Movimento em que se distinguiu o ministro da Justiça, Almeida Santos; mas viu
Anticomunista Português a sua actuação saldada num relativo fracasso no que respeita ao
(MAP) reivindica a autoria do segundo objectivo. Com efeito, enredado na contradição entre uma
ataque bombista à Embaixada política moderadamente expansionista, que visava satisfazer os
de Cuba. anseios de desenvolvimento e justiça social gerados pela revolução,
e uma política de restrições orçamentais e de controlo do défice da
25 de Abril: Têm lugar as
balança de transacções correntes, que procurava, no mínimo, evitar
primeiras eleições para a
o agravamento dos desequilíbrios financeiros, o Governo dava
Assembleia da República.
mostras de uma paralisante hesitação, que contribuía para o
14 de Maio: Na Avenida da crescendo das oposições à sua direita como à sua esquerda.
liberdade um atentado Hesitação essa a que se juntava uma manifesta incapacidade para
bombista faz um morto superar um certo espírito de triunfalismo auto-suficiente com que
(jovem de 15 anos) e seis iniciara a sua governação, levando-o a descurar o diálogo coma
feridos. Pouco passava das 5 aposição e os parceiros sociais e, sobretudo, a menosprezar a
horas da manhã quando um importante posição institucional do presidente Eanes.
petardo destruiu Apercebendo-se rapidamente das virtualidades a prazo de
completamente um carro uma tal situação, o líder do PSD, Sá Carneiro, procura num primeiro
frente ao Hotel Liz, a poucos momento influenciar o presidente no sentido de o distanciar do
metros do centro do PCP. governo de Soares e encarar a alternativa de um governo de
salvação nacional e de competências, celebrando pouco depois, em
21 de Maio: Um morto, dois Abril de 1977, uma plataforma de convergência com o CDS, de
feridos e um prédio de dois Freitas do Amaral. Eanes, por seu lado, não esconde no discurso de
andares totalmente destruído, 25 de Abril desse ano a incomodidade que lhe começa a causar o
em resultado da explosão de estilo de governação de Soares. O PS, através do seu grupo
uma bomba incendiária na parlamentar, tenta não sacudir a pressão de que se vê alvo,
residência de António Ribeiro propondo ao PSD negociações para a aprovação de duas leis de
Teixeira, conhecido militante regime com vista à definição das regras de jogo no difícil terreno

30 | P á g i n a
económico: a lei de delimitação dos sectores vedados à iniciativa
do MDP/CDE, em São Martinho privada e a lei de bases da Reforma Agrária. Aprovadas ambas no
do Campo (Santo Tirso). Verão de 1977, graças ao acordo estabelecido entre os dois
partidos, à revelia da vontade de Sá Carneiro, irão desencadear
14 de Julho: O general Ramalho uma forte reacção por parte deste último, que via assim
Eanes toma posse como comprometida a sua estratégia de ruptura com o governo do PS,
presidente da República. pela qual visava transformar o PSD no eixo de uma alternativa
futura. Demite-se, em consequência, da liderança do seu partido e
16 de Julho: Mário Soares é inicia um processo de capitalização de apoios à direita através da
indigitado primeiro-ministro pelo agitação da bandeira de uma revisão constitucional antecipada,
presidente da República. ao mesmo tempo que se distancia criticamente de Eanes.
Se, na frente política, o PS parecia ter readquirido algum
controlo da situação, já na frente económica, pelo contrário, tudo corria pior. De tal forma que se tornara inevitável
recorrer a vultosos empréstimos internacionais, com o indispensável aval do Fundo Monetário Internacional (FMI),
um organismo particularmente exigente nas condições a preencher pelos países que se viam obrigados a recorrer.
Necessitando, num tal quadro, de um apoio parlamentar alargado, mas recusando, ao mesmo tempo, qualquer
coligação governamental, Soares opta por propor uma moção de confiança à Assembleia da República, na esperança
de evitar um voto negativo cruzado do PCP com os partidos à sua direita. Não o consegue e o seu governo cai a 7 de
Dezembro de 1977. Estava aberta a primeira crise governamental do novo regime constitucional, que iria por à prova
os mecanismos institucionais previstos para obviar a tais situações.

31 | P á g i n a
Conclusão

Com a realização deste trabalho proposto adquiri vários conhecimentos, nomeadamente a nível de político.
É sempre bom saber um pouco do passado para compreender a política actual. É curioso o facto de a constituição
actual ser a de 1976, embora com algumas alterações realizadas.

Gostei imenso de elaborar este trabalho de pesquisa, uma vez que passei a conhecer um pouco mais do
passado político do nosso país, que foi fortemente marcado pelas influências militares, com épocas caracterizadas
como conturbadas e de grande instabilidade. Consegui reforçar o que conhecia relativamente às posições e
ideologias dos partidos políticos portugueses, e perceber de que modo estes contribuíram para a elaboração da
Constituição de 1976.

Espero que também tenha gostado deste trabalho.

32 | P á g i n a
Bibliografia
20 anos de Democracia, Círculo de Leitores

História Contemporânea de Portugal, por António Vitorino

O País em Revolução, coordenação J.M.Brandão de Brito, Círculo de Leitores

Os dias loucos do PREC, da autoria de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Expresso e Público

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Relatórios das aulas

18.01.2010

Distribuição dos temas e das tarefas por todos os elementos do grupo.


Organização de ideias e planificação do trabalho a desenvolver.

22.01.2010
Início da pesquisa para a elaboração do trabalho, nomeadamente em livros trazidos pela professora.

25.01.2010

Recolha de informação útil para o desenvolvimento do trabalho.

29.01.2010

Análise de toda a pesquisa recolhida e selecção da mesma.

01.02.2010

Continuação do trabalho realizado na aula anterior.

05.02.2010

Conclusão do trabalho realizado na aula anterior.

08.02.2010

Início da orientação do trabalho escrito.

12.02.2010

Não estive presente na aula.

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