Pesquisa Operacional: Modelagem Matemática na Tomada de
Decisão de Ações Administrativas
Operational Research: Mathematical Modeling In Making
Management Actions Decisions
Evilane Leão Cordeiro*
Resumo
Este artigo aborda a temática modelagem matemática na
Administração de Empresas e tem por objetivo analisar as principais técnicas matemáticas utilizadas no processo de tomada de decisão de ações administrativas, tendo em vista que a teoria matemática da administração, denominada Pesquisa Operacional, dispõe de ferramentas que fornecem modelos matemáticos que representam situações cotidianas; tais modelos possibilitam a tomada de decisão mediante parâmetros seguros. Além disso, pretende-se ainda investigar o desenvolvimento da modelagem matemática na área administrativa, que teve sua origem no estudo de questões logísticas e estratégicas na Segunda Guerra Mundial por um grupo multidisciplinar de cientistas, e o sucesso fez com que esse método fosse adotado posteriormente em várias áreas do conhecimento, auxiliando o processo decisório em algumas áreas administrativas, principalmente em problemas possíveis de serem analisados quantiativamente.
Palavras-Chave: Teoria Matemática, Administração, Processo Decisório.
Abstract
This article approaches the mathematical modeling theme in the
_______________________________________ * Especialista em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras-MG. Professora da Faculdade Católica Dom Orione (FACDO) e do Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos (ITPAC), ambos em Araguaína-TO.
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Company Management, it has the aim to analyze the main math
techniques used in the decision taking of the management actions, keeping in mind that the management mathematics theory called Operational Research offers tools that provide mathematical models that represent daily situations, such models made possible decision taking before the safe parameters. Moreover, it is intended to investigate the mathematics modeling development in the management area, which had its origin in the Second World War logistic and strategy situations by a multidisciplinary group of scientists, and the success caused this method to be later on adopted in several knowledge areas, helping in decision processes in some management areas, mainly the possible problems to be analyzed in quantities.
Key-words: Mathematical theory, Management, Decision Making
Process
1. Origem da Teoria Matemática
O marco inicial do surgimento da Teoria Matemática da
Administração denominada Pesquisa Operacional (PO) foi a convocação feita pela Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, de uma equipe multidisciplinar de cientista (matemáticos, físicos e engenheiros), a missão da mesma era solucionar de forma eficaz problemas de estratégia e tática, tendo em vista que os recursos militares naquele momento eram limitados, necessitando, portanto, de parâmetros seguros para a tomada de decisão do uso de tais recursos. Sobre a origem da Pesquisa Operacional Andrade (2002) destaca ainda que:
Desde o seu nascimento, esse novo campo de análise de
decisão caracterizou-se pelo uso de técnicas e métodos científicos qualitativos por equipes multidisciplinares, no esforço de determinar a melhor utilização de recursos limitados e
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para a programação otimizada das operações de uma
empresa. Essa característica multidisciplinar das aplicações de Pesquisa Operacional deu origem a um novo enfoque – o enfoque sistêmico – dos problemas de tomada de decisão das empresas, pois ultrapassou as fronteiras da especialidade. O especialista tem tendência natural a enquadrar todos os problemas nos limites da sua cultura, mesmo porque é nesse campo que ele se sente mais confortável. Dessa forma, a tomada de decisão que tem por base o uso de modelos matemáticos e estatísticos representou a possibilidade de simulação de situações reais, o que tornou mais fácil o processo de análise e de decisão, pois permite a experimentação da solução proposta. A respeito da influência da Pesquisa Operacional (PO) nas decisões, MOREIRA (2007) enfatiza que a pesquisa operacional, lida com problemas de como conduzir e coordenar certas operações em uma organização, tem sido aplicada à diversas áreas, tais com indústria, transportes, telecomunicações, finanças, saúde, serviços públicos, operações militares, etc., utilizando-se para tanto do método científico para tratar seus problemas. Destacando-se que a observação inicial e a formulação do problema estão entre os mais importantes passos da solução de um problema por Pesquisa Operacional. Os estudos iniciados pelos ingleses foram um sucesso, tanto que os Estados Unidos deram início a estudos semelhantes, com a convocação de uma equipe liderada por George B. Dantzig. O trabalho desta equipe foi concluído em 1947 e resultou em um método que foi denominado Método Simplex que até os dias atuais é muito importante. Após o término do conflito, a pesquisa operacional foi adotada por várias áreas da sociedade, dada a semelhança dos problemas surgido na sociedade no Pós-Guerra com aqueles solucionados durante o conflito. Nesse contexto, na atualidade, a pesquisa operacional é uma das alternativas de métodos quantitativos de enorme aplicação dentro da Administração, por meio de variadas técnicas, como Teoria dos Jogos, Teoria das Filas, Teoria dos Grafos, Programação Linear, Análise Estatística e Cálculo de Probabilidade e Programação Dinâmica.
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2. Técnicas de Pesquisa Operacional
2.1. Teoria dos Jogos
1 A Teoria dos Jogos proposta pelos matemáticos Johann von Neumann (1903 – 1957) e Oskar Morgenstern (1902 – 1962) tem como proposta uma formulação matemática para a estratégia e a análise dos conflitos. É imprescindível destacar que conflito aqui envolve oposição de forças ou de interesses ou de pessoas que origina uma ação dramática. A Teoria dos Jogos é aplicada aos conflitos (chamados jogos) que envolvem disputa de interesses entre dois ou mais intervenientes, no qual cada jogador pode assumir uma variedade de ações possíveis, delimitadas pelas regras dos jogo.
2.2. Teoria das Filas
A Teoria das Filas tem como foco prever o comportamento das
filas, ou seja, preocupa-se com o tempo médio de espera dos clientes a um determinado serviço, buscando modelar tais situações. Na Teoria das Filas os pontos de interesse são: o tempo de espera dos clientes, o número de clientes na fila, e a razão entre o tempo de espera e o tempo de prestação de serviço. A abordagem matemática de fila se iniciou em 1908 em Copenhague, Dinamarca, através de A. K. Erlang, considerado o pai da Teoria das Filas, quando trabalhava em uma companhia telefônica estudando o problema de redimensionamento de centrais telefônicas. Foi somente a partir da segunda guerra mundial que a teoria das filas foi aplicada a outros problemas de filas.
_________________________________ 1 A definição de Teoria dos jogos e as demais dessa seção foram fundamentadas em CHIAVENATO (2004).
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2.3. Teoria dos Grafos
A Teoria dos Grafos é baseada em redes e diagramas de flechas,
utilizando as mesmas para várias finalidades. Oferece técnicas de planejamento e programação por redes (COM, PERT, etc.) comumente utilizadas na construção civil e na montagem industrial. As redes ou diagrama de flechas são aplicáveis em projetos que envolvam várias operações e etapas, vários recursos, diferentes órgãos envolvidos, prazos e custos mínimos. Chiavenato (2004) relaciona as seguintes vantagens das redes ou diagramas de Flechas:
a) Execução do projeto no prazo mais curtos e ao menor custo.
b) Permitem o inter-relacionamento das etapas e operações do projeto. c) Distribuição ótima dos recursos disponíveis e facilitam a sua redistribuição em caso de modificações. d) Fornecem alternativas para a execução do projeto e facilitam a tomada de decisão. e) Identificam tarefas ou operações “criticas” que não oferecem folga de tempo para a sua execução para nelas concentrar a atenção. As tarefas ou operações “criticas” afetam o prazo para o término do projeto global. f) Definem responsabilidade de órgãos ou pessoas envolvidos no projeto.
2.4. Programação Linear
É uma técnica matemática que visa a análise dos recursos de
produção para que se possa maximizar o lucro e minimizar o custo. É uma técnica de solução de problemas que requer a definição dos valores das variáveis envolvidas na decisão para otimizar um objetivo a ser alcançado dentro de um conjunto de limitações ou restrições, que constituem as regras do jogo.
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2.5. Análise estatística e cálculo de probabilidade
A análise estatística consiste no método matemático utilizado
para obter a mesma informação com a menor quantidade de dados. Uma das aplicações mais conhecidas é o controle estatístico de qualidade, que tem por objetivo localizar desvios, erros, defeitos ou falhas no processo produtivo, comparando o desempenho com o padrão estabelecido.
3. O processo decisório sob o ponto de vista da pesquisa operacional
O processo decisório pode ser descrito como sendo a
identificação de um problema ou de uma oportunidade, para que se possa partir daí proceder a escolha de uma linha de ação em busca da resolução do problema. Lachtermacher (2009) nos mostra que a pesquisa operacional pode ser utilizada para ajudar no processo de tomada de decisão dos seguintes tipos de problemas: Problemas de otimização de recursos, problemas de localização, problemas de roteirização, problemas de carteiras de investimento, problemas de alocação de pessoas, problemas de previsão e planejamento e problemas de alocação de verbas de mídia. Dessa forma, a pesquisa operacional tem como finalidade solucionar problemas organizacionais, baseando-se para tanto em equações matemáticas. Conforme destaca CHIAVENATO (2004) A Teoria Matemática não é propriamente uma escola – tal como a Teoria Clássica ou a Teoria das Relações Humana. Ela é uma corrente que localizamos em vários autores que enfatizam o processo decisório e o tratam de modo lógico e racional através da abordagem quantitativa, determinística e lógica.
A construção de modelos matemáticos para a tomada de decisão
é um caminho vantajoso, tendo em vista que ao construir um modelo o decisor é forçado a deixar explícito seus objetivos, assim, o modelo leva a identificar e armazenar as diferentes decisões que influenciam seus objetivos, bem como reconhecer as limitações destas decisões.
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É importante observar que vários fatores influenciam a tomada
de decisão, sobre esses fatores Lachtermacher (2009) destaca os seguintes:
= Tempo disponível para a tomada de decisão: em certas
situações, como a decisão de compra ou venda de uma ação, deve-se fazê-lo instantaneamente, enquanto outras, como a compra de um apartamento, quase sempre dispõem de um tempo maior. = A importância da decisão: algumas decisões impactam nossas vidas ou a vida de nossas empresas de formas distintas. Por exemplo: a instalação de uma empresa em um local inapropriado pode causar prejuízos operacionais por diversos anos, enquanto a seleção do fornecedor de material de escritório pode ter um impacto bem menor na operação da empresa. Normalmente, a importância está associada ao custo ou ao prejuízo que a decisão pode ocasionar. = O ambiente: o local onde a decisão é tomada a afeta. Por exemplo, uma decisão tomada no Japão deve considerar aspectos culturais e sociais japoneses. Já a mesma decisão tomada no Brasil pode ser outra. = Certeza ou incerteza e risco: o grau de certeza que temos sobre os parâmetros relevantes para uma tomada de decisão nos permite agir de forma mais tranqüila. Imagine tomar uma decisão em um período com inflação de 100% ao mês ou 4,5% ao ano, ou ainda a possibilidade de estarmos certos sobre o nível de inflação para o próximo ano. Naturalmente, esse nível de certeza influencia nosso poder de decisão. = Agentes decisores: o número de agentes que tomam a decisão é um fator fundamental na forma como ela é tomada. Por exemplo, uma tomada de decisão individual depende apenas do ponto de vista de um decisor, isto é, de seu caráter, nível cultural e nível de informação, entre outros. Quando a decisão é tomada em grupos maiores, a diversidade de características cresce exponencialmente, já que, em um mesmo grupo decisor, poder ter pessoas com formação cultural ou nacionalidade diferentes, isto é, com maneiras distintas de encarar o mundo, o que, com certeza, leva a um processo de tomada de decisão mais complexo. Além dessas características, uma dimensão é adicionada ao processo: a comunicação entre os
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agentes decisores ser torna uma das principais dimensões de um
processo de decisão em grupo. Dependendo de sua clareza e objetividade, ela pode se transformar em um complicador ou em facilitador do processo. = Conflito de interesses: algumas decisões afetam, de maneira distinta, certos grupos de uma empresa ou de uma sociedade. Por exemplo, a decisão sobre qual filial de uma empresa deve ser fechada em um programa de redução de custos afetará possivelmente mais determinada parte da empresa que outra, aumentando o nível de complexidade do processo de tomada de decisão.
O processo de decisão no âmbito administrativo tem sofrido
mudanças significativas ao longo do tempo, chegando a uma complexidade bem maior na atualidade com a globalização e o desenvolvimento tecnológico, com isso o auxilio de modelos matemáticos na tomada de decisão de ações administrativas, auxiliados pelos recursos tecnológicos disponíveis atualmente tem contribuído para minimizar o erro nas decisões, desde as mais simples até aquelas mais complexas.
4. Modelagem Matemática para a Administração
A Pesquisa Operacional visa à construção de modelos
matemáticos capazes de simular situações reais na empresa, ajudando com isso os executivos a tomarem as melhores decisões. Dessa forma, o foco da criação de modelos matemáticos que possam simular a resolução de problemas, garantem decisões mais eficazes. Modelagem matemática é definida por BIEMBENGUT (2003) como sendo o processo que envolve a obtenção de um modelo. Destaca- se aí o fato de que o modelo depende do conhecimento matemático que se tem, se tal conhecimento é restrito a matemática elementar, o modelo tendo a ficar delimitado a esses conceitos, ou seja, quanto maior o conhecimento matemático, maiores serão as possibilidades de resolver questões.
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O processo de elaboração de um modelo pode ser representado pelas
seis fases da metodologia da Pesquisa Operacional como relaciona Chiavenato (2004):
1. Formular o problema. Através da análise do sistema, seus objetivos
e alternativas de ação. 2. Construir um modelo matemático para representar o sistema. O modelo expressa o sistema como um conjunto de variáveis, das quais uma, pelo menos, está sujeita a controle. 3. Deduzir uma solução do modelo. A solução ótima de um modelo através do processo analítico ou do processo numérico. 4. Testar o modelo e a solução. Construir o modelo capaz de prever com exatidão o efeito das mudanças no sistema e a eficiência do sistema. 5. Estabelecer controle sobre a solução. A solução de um modelo será adequada enquanto as variáveis incontroladas conservarem seus valores e as relações entre as variáveis se mantiverem constantes. 6. Colocar a solução em funcionamento (implementação). A solução é testada e transformada em uma série de processo operacionais.
Os modelos matemáticos têm a característica de representar
logicamente os mais diversos problemas, ou seja, são modelos de idéias e simbolizam a relação das variáveis envolvidas.
5. Considerações Finais
A matemática utilizada como uma ferramenta na resolução de
problemas do cotidiano das empresas é cada vez mais comum, com isso a modelagem matemática como uma área do conhecimento tem se desenvolvido de forma acentuada. A Administração de Operações é uma área que tem se utilizado das diversas técnicas matemáticas disponíveis para a resolução de questões das mais simples às mais complexas. Com relação a essa aplicabilidade dos modelos matemáticos CHIAVENATO (2004) destaca que:
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A Teoria Matemática é uma abordagem recente no campo da
Administração. Antes conhecida apenas pela Pesquisa Operacional, hoje representa um importante campo de atuação da teoria administrativa: a Administração de Operações. Sua Principal área de aplicação na Administração é o processo decisorial, principalmente quando as decisões são programáveis ou quantitativas. Há um enorme potencial dos modelos matemáticos em Administração. O desenvolvimento de técnicas matemáticas baseadas em modelos passíveis de aplicação na resolução de problemas do cotidiano das empresas, representou um avanço no que refere-se ao processo de tomada de decisão, pois a possibilidade de simulação tende a minimizar o erro. Vale ressaltar que a pesquisa operacional oferece técnicas matemáticas para auxiliarem o processo de tomada de decisões, porém não podemos esquecer que nas empresas muitos problemas não podem ser equacionados, ou seja, não podem ser expressos em termos quantitativos, impossibilitando o uso das referidas técnicas. Enquanto ferramenta auxiliar, a pesquisa operacional fornece parâmetros seguros e não decisões prontas e acabadas. Referências Bibliográficas ANDRADE, Eduardo Leopoldino de. Introdução à Pesquisa Operacional. Rio de Janeiro: LTC, 2002. BIEMBENGUT, Maria Salett. Modelagem matemática no ensino/ Maria Salett Biembengut, Nelson Hein – 3 ed. – São Paulo: Contexto, 2003.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma
visão abrangente da moderna administração das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. LACHTERMARCHER, Gerson. Pesquisa operacional na tomada de decisões. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
MOREIRA, Daniel Augusto. Pesquisa operacional: Curso Introdutório.
São Paulo: Thomson Learning, 2007.
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