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FACULDADE DE TECNOLOGIA
APROVADA POR:
_________________________________________
EVANGELOS DIMITRIOS CHRISTAKOU, DSc. (UnB)
(ORIENTADOR)
_________________________________________
CLÁUDIA MÁRCIA COUTINHO GURJÃO, DSc. (UnB)
(EXAMINADOR INTERNO)
_________________________________________
ALBERTO DE FARIA, MSc. (UniCEUB)
(EXAMINADOR EXTERNO)
ii
FICHA CATALOGRÁFICA
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
PINTO, B. F. (2018). Avaliação dos Benefícios da Manutenção Preventiva Apoiada em Modelo
BIM. Monografia de Projeto Final, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília, Brasília, DF, 65 p.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Bianca Fonseca Pinto
TÍTULO DA MONOGRAFIA DE PROJETO FINAL: Avaliação dos Benefícios da
Manutenção Preventiva Apoiada em Modelo BIM.
GRAU / ANO: Bacharel em Engenharia Civil /2018
_____________________________
Bianca Fonseca Pinto
SHJB Condomínio Jardim Botânico VI conjunto A casa 18
71680-369 - Brasília/DF - Brasil
iii
RESUMO
A manutenção predial sempre foi uma atividade de extrema importância para a preservação
adequada de edificações. Porém, com a chegada da Norma de Desempenho no cenário
brasileiro, o assunto passou a ser fundamental na vida de qualquer profissional da construção
civil. Pode-se compreender o processo construtivo como uma indústria invertida, em que o
produto é fixo no local em que foi produzido e a fábrica é quem tem mobilidade (ao contrário
do que ocorre em processos de fabricação convencionais). A edificação é, portanto, o produto
e, como qualquer outro bem produzido numa indústria, precisa ter manuais de utilização,
preservação e garantias. Aliado a isso, há o conceito trazido pelo Building Information
Modeling, que agrega ferramentas de gestão às informações técnicas da construção, trazendo
dados relativos a custos de implementação, cronograma da obra, desempenho da edificação e
planos de manutenção. Esta última característica foi a explorada no presente trabalho: elaborou-
se um plano de manutenção simplificado para uma edificação habitacional, comparando os
valores despendidos nas correções de falhas com os valores que seriam investidos na execução
deste plano. Com isso, foi possível verificar a vantagem financeira da aplicação deste plano,
em vez de realizar intervenções apenas depois da falha dos sistemas ou dos componentes da
edificação. Além disso, verificou-se a aplicabilidade do BIM, por meio do software Autodesk
Revit, no aspecto da inserção desses custos no modelo virtual 3D da edificação.
iv
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 Considerações Iniciais 1
1.2 Objetivos 2
1.2.1 Objetivo Geral 2
1.2.2 Objetivos Específicos 2
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3
2.1 BIM (Building Information Modeling) 3
2.1.1 Definindo o BIM 4
2.1.2 Aplicações do Building Information Modeling 6
2.1.3 Impactos Avaliados com a Aplicação do BIM 10
2.1.3.1 Visão Geral 10
2.1.3.2 BIM no Brasil x no Mundo 14
2.2 Manutenção de Edificações 15
2.2.1 Tipos de Manutenção 16
2.2.2 Aspectos da Manutenção 17
2.2.2.1 Vida Útil de Projeto 18
2.2.2.2 Desempenho 20
2.2.2.3 Manifestações Patológicas 22
2.2.3 O Planejamento da Manutenção 23
2.2.4 Manual do Proprietário 28
3 MATERIAIS E MÉTODOS 30
3.1 Recursos 35
4 RESULTADOS 36
4.1 Manutenção Corretiva 36
4.1.1 Infiltração: manchamento do piso cerâmico 36
4.1.2 Trincas e fissuras na alvenaria 37
4.1.3 Enferrujamento de esquadrias 39
v
4.1.4 Hidrossanitárias: vertimento de ralos e instalações elétricas: falta de aterramento 40
4.2 Manutenção Preventiva 41
5 DISCUSSÃO 44
6 CONSIDERAÇOES FINAIS 48
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 49
Apêndice 56
vi
LISTA DE FIGURAS
Figuras Página
vii
LISTA DE QUADROS
Quadros Página
LISTA DE TABELAS
Tabela Página
viii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ix
1 INTRODUÇÃO
As edificações são um dos principais bens gerados pela indústria da Construção Civil, e podem
ter diversas finalidades, como habitação, comércio, serviços e indústria. Entretanto, por se
tratarem de produtos tão versáteis e diferenciados, em que a fábrica possui mobilidade e o
edifício não, muitas vezes o fato de que elas precisam de manuais para melhor uso é esquecido
pelos próprios profissionais da área. Além disso, como qualquer outro bem complexo e de alto
valor agregado, elas necessitam de manutenção adequada e constante para que se mantenham
em pleno funcionamento. Aliando, então, a falta de conhecimento do usuário com a falta de
transmissão de informações do construtor para o proprietário do imóvel, criou-se um cenário
totalmente desfavorável para a durabilidade adequada das construções brasileiras.
Neste contexto, foram desenvolvidos normativos para corrigir essas questões, sendo o mais
relevante deles a Norma de Desempenho, a NBR 15.575:2013. Ela apresenta uma série de
determinações e métodos para avaliar o desempenho da edificação em diversos aspectos. Além
disso, há também recomendações quanto à execução, o uso e a manutenção desses bens,
abordados na própria Norma de Desempenho e também nas NBR 5674:2012 – Manutenção de
Edificações e NBR 14.037:2011 – Manual de Operação, Uso e Manutenção. Apesar de
relativamente recentes, essas regulamentações já trouxeram resultados positivos, como a maior
conscientização dos usuários e proprietários, melhorando o estado de conservação das
edificações.
1
Outro ponto importante a se levar em consideração é a de que no Brasil, em linhas gerais, não
se leva em conta o gasto com manutenção nos custos anuais de operação de uma edificação –
apesar de este valor ser pequeno em relação ao custo de operação. O presente trabalho, irá,
portanto, unir as três questões: elaborar um plano de manutenção para uma edificação já
existente, levantar os custos deste plano e compará-los com os valores despendidos com
intervenções anteriores na edificação. Com isso, será possível avaliar os benefícios de se aplicar
um plano de manutenção em vez de apenas corrigir falhas constatadas.
1.2 OBJETIVOS
2
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para que se compreenda o BIM, primeiramente é importante estabelecer diferenças entre a sua
tecnologia e a do CAD. Em meados dos anos 60, foi criado o Sketchpad, o primeiro sistema de
CAD (Computer Aided Design), a partir de uma tese de doutorado. Porém sua utilização só foi
ampliada quase 20 anos depois, durante as décadas de 80 e 90, quando ocorreu a consolidação
desses sistemas no mercado (SIMÕES, 2013). Essencialmente, o CAD tem a característica de
criar formas geométricas precisas, podendo ser em 2 ou 3 dimensões, de maneira que cada
trabalho é elaborado separadamente (SILVEIRO, 2010). Daí para a frente, foram aplicados nas
mais variadas funções, levando a uma busca por processos mais eficientes e específicos para
cada caso em que era empregado (SIMÕES, 2013).
Este processo tradicional para implementar uma edificação passa por diversas etapas e depende
muito da comunicação entre os projetistas – que é, basicamente, por meio do papel. Assim, é
frequente ocorrerem erros e omissões nesses documentos, aumentando o custo das obras e
atrasando-as – além de enfraquecer as relações comerciais. Desta forma, se tornava muito
trabalhoso fazer qualquer intervenção, visto que uma pequena alteração no projeto estrutural,
por exemplo, poderia impactar nos sistemas hidráulico e elétrico, demandando tempo para a
adaptação de todos esses e tornando-os mais suscetíveis a falhas de compatibilização
(EASTMAN et. al, 2014).
Numa tentativa de sanar tais problemas, surgiram algumas ferramentas, como o CAD 3D, que
trouxeram definições mais avançadas e ferramentas mais complexas para a representação
virtual de superfícies. Apesar de terem melhorado um pouco a troca de informações técnicas da
construção, as incompatibilidades continuaram ocorrendo (EASTMAN et. al, 2014). Dentro
desse contexto, em meados de 1992 foram desenvolvidas as primeiras versões de softwares
baseados no Building Information Modeling, ou simplesmente BIM. Apesar de os conceitos por
trás desta metodologia remontarem dos anos 1970, pode-se dizer que ele foi a evolução do
CAD, aplicado à construção civil e englobando suas mais diversas etapas. (SANTOS, 2012 e
SIMÕES, 2013).
3
2.1.1 Definindo o BIM
Especificamente sobre esta metodologia, o BIM pode ser definido como um processo virtual
que engloba todos os aspectos, as particularidades e os sistemas de uma edificação, por meio
de um único modelo, permitindo a colaboração mais precisa e eficiente de todo o corpo técnico
responsável. Ao contrário do que se realiza hoje, os sistemas e seus respectivos projetos são
compatibilizados já no modelo, de modo que a visualização de possíveis erros é muito
facilitada. O BIM, ao simular a construção em ambiente virtual, sintetiza aquilo que a
engenharia e a arquitetura, bem como a indústria da construção como um todo, têm buscado
nas ferramentas disponíveis atualmente. (AZHAR, 2011)
Outra visão deste assunto afirma que o BIM pode ser descrito como um sistema técnico-social,
devido à sua capacidade de abranger tanto dimensões técnicas, como a modelagem em 3D,
quanto dimensões de impacto social, como o processo de reengenharia. A chamada “tendência
BIM” levou a mudanças na maneira como projetistas (arquitetos, engenheiros e designers) e
contratantes interagem, agora de forma colaborativa, em que as informações são compartilhadas
(LIU et. al, 2016).
Santos (2012), por outro lado, compreende este cenário como a integração entre dois setores: a
Tecnologia de Informação e a Construção Civil, e define a Modelagem da Informação da
Construção (tradução brasileira para BIM) como:
Baseado no trabalho de Azhar (2011), a definição apresentada por Gerrish et. al (2017) é a de
que o BIM é um processo sistemático de gerenciamento e disseminação de informações globais
e abrangentes, extraídas a partir de um modelo da construção desenvolvido em um ambiente
virtual, incluindo seu desenvolvimento e sua operação. Para este autor, em linhas gerais, esse
processo serve para trocar, interpretar e gerir dados de forma mais complexa que os modelos
em CAD, abordando múltiplas funções para produzir conteúdo de interesse às partes envolvidas
no processo construtivo e operacional de obras.
Percebe-se, por meio de todas essas definições, que não há um consenso preciso a respeito do
significado e do conceito de BIM, por ser uma metodologia ampla e abrangente. Diante disso,
Suermann (2009) avaliou, por meio de questionários online, algumas impressões que os
usuários têm sobre o BIM. Os participantes foram divididos em categorias: gestores, designers,
acadêmicos e outros e, por fim, submetidos a perguntas a respeito do conceito e das aplicações
do BIM. Como não há uma definição precisa sobre esse assunto, foram colocadas três opções
para que os participantes escolhessem a que mais se alinhava às suas percepções:
5
No próximo tópico, serão abordadas com mais detalhes as aplicações do BIM, aprofundando
na temática das dimensões que compõem esta metodologia.
Azhar (2011), de maneira bastante concisa, citou algumas das diversas aplicações de BIM:
a) Visualização do modelo em 3D fácil e rápida;
b) Organização da sequência construtiva, com informações detalhadas a respeito dos materiais,
fabricantes e cronogramas de montagem dos componentes da edificação;
c) Processos mais rápidos e eficientes, devido ao recurso de "autoavaliação" e de
compartilhamento de informações dessas ferramentas;
d) Orçamento e estimativa de custos com pequena margem de erro (cerca de 3%);
e) Possibilidade de programação e de descrição de custos de programas de manutenção da
edificação;
f) Recursos para simulação do funcionamento dos sistemas prediais;
g) Representação geométrica da construção com a influência das condições do meio em que
está inserida.
6
possibilidade de detectar conflitos, por meio do clash detection; ele verifica inconsistências
entre projetos, como pilares passando no meio de uma esquadria, por exemplo (MATTOS,
2014).
A quarta dimensão, 4D, está relacionada à interação de elementos gráficos da edificação com
informações do tempo e das tarefas a serem executadas na construção, ou seja, o cronograma
da obra (JUSTI, 2017; MATTOS, 2014). Isso possibilita ao gestor o acompanhamento do
avanço físico da construção e até mesmo gerar um pequeno filme que simula a evolução das
fases de construção da edificação. Esta ferramenta é bastante atraente no ponto de vista
comercial, visto que o filme torna a construção bastante visual e, de certa forma, encantadora
para os prováveis clientes (MATTOS, 2014).
7
Figura 2.2: Exemplo de aplicação do BIM 4D (McCULLEN, 2014).
8
Por fim, o BIM 6D envolve o processo de alimentar o modelo virtual com informações para dar
suporte às atividades de uso e manutenção da edificação após ser entregue (JUSTI, 2017). Ele
está associado ao gerenciamento do ciclo de vida de todos os bens envolvidos na construção,
por meio da ferramenta facilities management. Com ela, é possível controlar a garantia de
equipamentos, organizar planos de manutenção, armazenar dados de fabricantes e fornecedores,
além de custos de operação e fotos (MATTOS, 2014).
Alguns autores consideram ainda a existência de uma sétima dimensão do BIM, o 7D – por
vezes é associado também ao 6D. Ele envolve estudos sobre eficiência e sustentabilidade da
edificação, com o armazenamento de informações sobre os elementos da construção. É possível
simular seu funcionamento quanto ao consumo energético, desempenho térmico, entre outros
(JUSTI, 2017).
Em suma, pode-se associar cada dimensão do BIM descrita acima com termos que a
representem resumidamente, como no Quadro 2.1 a seguir.
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Quadro 2.1 – As dimensões do BIM e suas palavras-chave.
Dimensão
3D 4D 5D 6D 7D
BIM
Orçamento e
Modelo Cronograma Manutenção e
Palavra-chave virtual da obra
custo de
operação
Sustentabilidade
atividades
De acordo com Santos (2012), os benefícios do BIM são amplos e variados, favorecendo a
todos os que participam do empreendimento, de formas e graus diferentes. No Quadro 2.2
apresenta-se um resumo das colocações do autor a respeito dos benefícios da aplicação desta
metodologia, a partir da atuação de diversos profissionais envolvidos na indústria da
construção.
Para ilustrar essas informações, o gráfico da Fig. 2.5 mostra uma série de relações entre o tempo
investido e o tipo e a tecnologia empregada nas diversas fases de execuções de projetos de
construção. Na curva que representa a tecnologia 2D do CAD, percebe-se que não há
investimento inicial anterior à fase de concepção da edificação, além de a maior parte do tempo
ser consumido na produção de documentos (plantas, cortes, detalhamentos e fachadas, por
exemplo) e na coordenação entre os diferentes projetos.
10
Quadro 2.2 – Vantagens da aplicação do BIM para profissionais da construção.
Já na curva que representa o BIM sem templates1 que seria uma fase de transição entre essa
metodologia e o CAD, há ainda bastante demanda de tempo na concepção e na documentação
dos projetos, entretanto a coordenação já se mostra bastante facilitada. Por outro lado, as curvas
que envolvem a tecnologia BIM, tanto os cenários com início na fase de configuração dos
templates quanto a de BIM idealizado (ou seja, com os templates já estabelecidos), é possível
perceber que o tempo investido em cada fase (templates, concepção, documentação e
coordenação) é consideravelmente menor, reduzindo o tempo de execução total do projeto.
O formato desse gráfico se assemelha bastante à curva de MacLeamy, representado na Fig. 2.6
e pode ser feito um paralelo entre cada aspecto deles. A linha tracejada, correspondente à
1
Template: uma espécie de arquivo inicial a partir do qual se desenvolve o projeto em BIM. Apresenta uma série
de elementos pré-configurados, como materiais e representações gráficas de elementos e componentes.
11
metodologia tradicional para design de projetos, é análoga à tecnologia do CAD: despende-se
muito tempo nas fases de detalhamento do projeto e na documentação; nesse caso, o custo de
uma intervenção no projeto é bastante alto e, quanto mais próxima da fase de implementação
do projeto (a construção propriamente dita), menos funcional é essa alteração. Já a linha
contínua representa a tecnologia do BIM, em que se investe mais tempo nas fases de concepção
e detalhamentos do projeto, facilitando intervenções e viabilizando a redução de custos.
Figura 2.5: Tempo despendido nas diversas fases de projeto – CAD x BIM (BANKS, 2015)
Esta tecnologia, apesar de muito benéfica, não possuía grande aderência por parte dos
projetistas até meados da década passada, principalmente em empresas de pequeno porte
(adaptado de EASTMAN et. al, 2014). O BIM não é a solução plena dos problemas atuais de
projetos na construção civil, tampouco traz só vantagens, e deve-se considerar que a
implementação de novas tecnologias requer tempo, além de investimentos financeiros e de
aprendizados (SIMÕES, 2013).
Os maiores motivos para os profissionais não adotarem o BIM são: a falta de demanda, o alto
custo de implementação e algumas falhas de interoperabilidade (ou seja, a falta de comunicação
adequada e recíproca entre dois sistemas diferentes). Alguns profissionais que aderiram ao uso
de softwares com essa metodologia inclusive se queixam de falta de retorno financeiro em
relação ao investimento feito, devido à pequena experiência dos projetistas na aplicação dessa
12
metodologia e à falta de aderência por parte das empresas ou órgãos públicos com os quais se
relacionam (GHAFFARIANHOSEINI et. al, 2017).
13
Figura 2.7: Tempo de Uso do BIM por Parte dos Projetistas (Adaptado de McGRAW HILL CONSTRUCTION,
2014, p. 10)
Quanto aos tipos de projeto, no Brasil, em geral, não se aplicam ferramentas associadas ao BIM
em todos os níveis de projeto; apenas 26% dos projetos relacionados à indústria da construção
civil utilizam essa metodologia, enquanto no França este número chega a 64%. O nível de
implementação do BIM no Brasil também se encontra atrasado em relação aos parâmetros
14
mundiais: 17% de empresas mundiais investem pesadamente2 na implementação, enquanto no
Brasil apenas 2% reproduzem essa prática (McGRAW HILL CONSTRUCTION, 2014).
Apesar deste notável atraso do Brasil em relação aos outros países avaliados, foi publicado no
DOU de 06/06/2017 o decreto presidencial que institui o Comitê Estratégico de Implementação
do BIM (CE-BIM), cujo caráter é temporário e terá a função de propor, no âmbito do Governo
Federal, a disseminação do BIM. Além disso, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da
Construção) tem promovido palestras em diferentes cidades brasileiras, divulgando os
benefícios do BIM e elaborando programas para a promoção desta metodologia.
2
Segundo o boletim Smart Market Report 2014, considerou-se investimento pesado aqueles cujas empresas
possuem 60% (ou mais) dos projetos executados com ferramentas de aplicação do BIM.
15
e controle do trabalho. Enquanto isso, a terceira geração baseou-se no monitoramento de
condições, análise de falhas e de riscos para a concepção da manutenção preditiva.
Ainda, é importante salientar o papel da inspeção predial neste contexto. Esta atividade
classifica as deficiências constatadas na edificação, aponta o grau de riscos observados para
cada uma delas e gera uma ordem de prioridades técnicas com orientações e recomendações de
correção (PARANÁ, 2016). Logo, a atividade de inspeção é um instrumento por meio do qual
a manutenção predial se faz necessária.
As terminologias que determinam os tipos de manutenção por vezes variam, porém é importante
padronizá-las para auxiliar na escolha do tipo de manutenção mais conveniente para
determinado equipamento, instalação ou sistema. (TROJAN, MARÇAL e BARAN, 2013). A
NBR 5462:1994: Confiabilidade e Mantenabilidade define diversos tipos de manutenção, e os
principais encontram-se resumidos no Quadro 2.3.
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Com base nas definições da NBR 5462:1994, alguns autores ampliam as categorias relativas
aos tipos de manutenção. Para Gomide (2009), há subcategorias e combinações dentro de cada
uma dessas:
a) Corretiva não-planejada: efetuada após a falha do sistema ou componente (exemplo:
substituição de lâmpadas após a queima);
b) Corretiva planejada: ocorre após o desempenho do sistema ou componente reduzir-se a um
patamar mínimo aceitável (exemplo: substituição de lâmpadas após os primeiros sinais de
desgaste, como a redução da luminosidade);
c) Preventiva preditiva: baseada na análise da evolução de um sistema ou de uma degradação
(exemplo: substituição de lâmpadas pouco antes do final da vida útil, ou seja, antes de
mostrarem sinais de desgaste);
d) Preventiva detectiva: desenvolvida para apurar falhas ocultas por meio de ensaios, atuando
na causa da anomalia (exemplo: substituição de lâmpadas que apresentarem desempenho
inferior ao esperado, após a atividade de monitoramento).
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2.2.2.1 VIDA ÚTIL DE PROJETO
A Vida Útil de um item qualquer é definida na NBR 5462:1994 como o intervalo de tempo
desde o instante em que um item é colocado pela primeira fez em estado de disponibilidade, até
o instante em que a intensidade de falha3 torna-se inaceitável ou até que o item seja considerado
irrecuperável depois de uma pane4.
Já a Vida Útil de Projeto é definida pela NBR 15.575:2013 como o período estimado de tempo
em que um determinado sistema é projetado para atender aos requisitos normativos de
desempenho, seguindo o estado da arte no momento do projeto, também supondo o atendimento
às prescrições de manutenção. O normativo traz alguns parâmetros relativos à vida útil mínima
de diversos sistemas que compõem as construções habitacionais, conforme mostra a Tabela 2.1.
3
Falha: Término da capacidade de um item desempenhar a função requerida.
4
Pane: Estado caracterizado pela incapacidade de desempenhar a função requerida, excluindo a incapacidade de
durante a manutenção preventiva ou outras ações planejadas, ou pela falta de recursos externos. Em geral, é o
resultado de alguma falha ocorrida no item.
18
Quadro 2.4 – Custo de Manutenção e Reposição ao Longo da Vida Útil
Categoria Descrição Exemplos Típicos
A Baixo custo de manutenção Vazamentos em metais sanitários
B Médio custo de manutenção ou reparação Pintura de revestimentos internos
Médio ou alto custo de manutenção ou reparação
Pintura de fachadas, esquadrias de
C Custo de reposição (do elemento ou sistema)
portas, pisos internos e telhamentos
equivalente ao custo inicial
Alto custo de manutenção e/ou reparação Revestimentos de fachada e
D
Custo de reparação superior ao custo inicial estrutura de telhados
Alto custo de manutenção ou reparação
E Custo de reposição muito superior ao custo Impermeabilização de piscinas
inicial
(Adaptado de ABNT NBR 15.575:2013 – parte 1)
2.2.2.2 DESEMPENHO
A partir da demanda para a padronização de critérios de avaliação deste quesito, em 1997 foi
publicado nos Estados Unidos o Operation Breakthroug, documento que continha definições
importantes acerca deste tema. No Brasil, porém, esses critérios foram estabelecidos já nos anos
2000 (BORGES, 2010).
Com base numa publicação técnica do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) de 1998, foi
criada uma comissão de estudos na ABNT dois anos depois e o fruto deste trabalho foi a NBR
15.575:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho, popularizada no meio técnico como a
Norma de Desempenho. O objetivo deste normativo é estabelecer padrões de eficiência para
edificações, promovendo o aumento da qualidade na oferta de moradias e adequando os
procedimentos de execução, uso e manutenção desses imóveis. Com isso, a Norma de
Desempenho tornou-se uma das regulamentações técnicas mais relevantes promovidas no
Brasil (NETO et. al, 2013; KELCH, 2016).
20
dos resultados e descrição da metodologia dos ensaios realizados, e os resultados servirão de
fundamento para o parecer do desempenho.
Além dos pontos já citados, a NBR 15.575:2013 estabelece também recomendações para prazos
de garantia, um de seus pontos mais importantes. Durante a garantia, a responsabilidade dos
reparos fica a cargo do construtor ou do incorporador, caso não haja mau uso, falta de
manutenção, atos de terceiros ou força maior. A partir do vencimento desse prazo, deve-se
apurar e comprovar ao construtor ou incorporador o porquê de ele ser responsável por essa
intervenção.
21
Tomemos alguns exemplos da norma: as paredes de vedação e estruturas de cobertura devem
permanecer seguras e íntegras no prazo de 5 anos de utilização; já instalações hidráulicas de
água quente devem permanecer também íntegras e garantir a estanqueidade por pelo menos 5
anos, e a mesma regra vale para impermeabilização. Esquadrias de madeira devem permanecer
sem empenamento, indeslocáveis e fixas por 1 ano, bem como esquadrias de aço, que devem
permanecer fixas e inoxidáveis também por 1 ano.
Nota-se, portanto, que o desempenho, de uma forma geral, está diretamente ligado à qualidade
da edificação, seja no nível técnico ou até mesmo em níveis de percepção do próprio usuário,
afinal, um prédio malconservado não transmite segurança aos que circulam por ele.
Elas estão geralmente associadas aos materiais componentes e ao processo construtivo, reflexo
da falta de controle de qualidade técnica e executiva (SILVA, 2011). Neste sentido, as normas
NBR 15.575:2013, NBR 5674:2012 e NBR 14.037:2011 citadas anteriormente são
importantíssimas no processo de reversão deste cenário: com o estabelecimento de critérios de
desempenho e instruções para manter a edificação funcionando plenamente, os imóveis
apresentarão menos problemas, os custos de operação e manutenção serão menores e a vida útil
do bem aumenta (SANTOS, 2012).
Essas manifestações patológicas podem ter origens distintas e, em geral, as origens endógenas
prevalecem, ou seja, as inerentes da própria edificação. Elas podem vir desde a fase de projeto
até a operação predial, abrangendo a qualidade dos materiais empregados, o gerenciamento
22
(controle de qualidade) e também o próprio processo construtivo (PAULA E SILVA e JONOV,
2016; SILVA, 2011).
Segundo Gomide (2009), o planejamento dessa atividade deve ser definido em planos de curto,
médio e longo prazos, para que seja possível:
a) Coordenar os serviços de manutenção para reduzir a necessidade de sucessivas intervenções;
b) Minimizar a interferência dos serviços de manutenção no uso da edificação e a interferência
dos usuários sobre a manutenção;
23
c) Otimizar o aproveitamento de recursos humanos, financeiros e equipamentos.
Este assunto é de tamanha relevância e tão amplo que órgãos públicos brasileiros elaboram
padrões com alguns requisitos, como o Plano Mínimo de Manutenção da ANEEL. Nele são
definidas as atividades básicas de manutenção preditiva e preventiva, com suas respectivas
periodicidades, para cada elemento que compõe o produto (BRASIL, 2014). Por fim, é possível
elaborar um resumo das atividades relativas à manutenção, com observações rápidas, a fim de
facilitar sua identificação, como na Fig. 2.9.
Por fim, os autores supracitados descreveram os procedimentos e as rotinas para cada item que
compunha a edificação (seus sistemas). Por exemplo, o item referente a Alvenaria de Vedação
possuía as seguintes rotinas:
25
● Levantamento de anomalias;
● Correções e limpeza;
Figura 2.10: Periodicidade de Manutenção dos Sistemas Prediais (CAMPO e VARGAS, 2014)
26
Com esta proposta, os autores concluíram que o plano de manutenção promove a
conscientização dos usuários e proprietários, levando a uma maior conservação dos imóveis.
Além disso, o maior controle sobre as atividades de intervenção predial ajuda a diminuir os
custos não planejados.
Para avaliar a importância deste planejamento em termos financeiros, a Figura 2.11 mostra a
evolução do custo das diferentes fases de uma edificação: projeto, execução e manutenções.
Percebe-se que a relação de custo da manutenção preventiva em relação à corretiva é de 25:125,
ou seja, é possível economizar em cinco vezes o valor despendido se a manutenção for realizada
antes da falha do elemento, componente ou sistema.
27
2.2.4 MANUAL DO PROPRIETÁRIO
As edificações apresentam uma característica diferente dos outros produtos das indústrias
convencionais: elas são construídas para atender usuários durante muitos anos, devendo
apresentar condições adequadas de uso ao qual se destinam. Assim, sob o ponto de vista
econômico e ambiental, não se pode tratá-las como um produto descartável e facilmente
substituível (ABNT NBR 5674, 2012).
Além disso, mesmo com o avanço tecnológico dos materiais e aprimoramento de técnicas
construtivas, são recorrentes as ocorrências de manifestações patológica em edificações. Isso é
reflexo da falta de cuidados e do uso incorreto dos elementos e sistemas prediais, fatores que
levam os condomínios a ter despesas extras com reparos (FONSECA et. al, 2013). É a partir
deste contexto que surgem os Manuais de Usuários (ou Proprietários) das Edificações.
28
O conteúdo deste Manual deve contemplar, minimamente, segundo a NBR 14.037:2011:
É válido ressaltar que, independentemente do modelo adotado, é importante que o manual seja
sucinto e claro; para facilitar a compreensão dos usuários, é possível fazer uso de explicações
complementares, fotos e ilustrações. Além de tornar a leitura mais agradável, esta abordagem
diminui a possibilidade de má compreensão por parte dos leitores, já que nem sempre eles serão
membros do meio técnico da construção civil.
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3 MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizado um estudo de caso aplicado a uma edificação habitacional popular de pequeno
porte, projeto padrão oriundo do Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. O
Programa tem o objetivo de reduzir o déficit habitacional brasileiro, concentrado fortemente
nas classes sociais menos favorecidas. Por isso, as especificações visam atender aos municípios
de recursos escassos e necessitam de uma habitação de baixo custo de produção, para que seja
possível atender um maior número de famílias.
Para o presente trabalho, foi considerado o projeto da habitação de 42m², para a cidade de
Vitória, no estado do Espírito Santo, no ano de 2007. As características da residência são as
seguintes:
● Residência térrea unifamiliar;
● Área total construída de 41,87m²;
● 5 Cômodos: uma sala, dois quartos, banheiro e cozinha;
● Estrutura e fundações de concreto armado;
● Alvenaria de blocos de concreto;
● Esquadrias: portas em madeira e janelas de alumínio.
Primeiramente, foi levantada a listagem dos dados referentes aos maiores pontos de demanda
de serviços de manutenção. As informações foram extraídas do Relatório de Avaliação da
Execução de Programa de Governo nº 66, da CGU, em que foram avaliados 55
empreendimentos de estados brasileiros variados. Destes, 90,9% (50 unidades) apresentavam
conservação das características do projeto arquitetônico, porém 56,4% delas continham
30
elementos deteriorados antes do fim do prazo de garantia. No caso dessas habitações, este prazo
é de 5 anos.
31
durabilidade da obra”, “pintura interna”, “pintura externa”, “depressões” e “na cobertura”.
Como esses elementos podem apresentar inconformidades variadas, cujas soluções de
manutenção corretiva variam da mesma forma, seria inviável abranger todos os casos em um
único estudo.
A amostra do estudo realizado pela CGU é abrangente e representativa, pois avaliou os danos
em residências do PMCMV em diversos estados brasileiros. Portanto, no intuito de manter a
amostra e poder considerar adequadamente (ou seja, com a descrição detalhada da patologia)
os itens de maior relevância, adotou-se também o estudo de Soares et al. (2014). Nele o autor
quantifica o percentual de ocorrências das manifestações patológicas de um condomínio
residencial do PMCMV localizado na Baixada Cuiabana, estado do Mato Grosso, como mostra
a Fig. 3.1.
Figura 3.1 – Patologias detectadas no PMCMV de Cuiabá (Fonte: Adaptado de Soares et al., 2014)
32
• Infiltração (46%): consideradas as ocorrências de manchamento do revestimento
cerâmico, conforme levantamento do estudo de Soares et. al (2014);
• Trincas/fissuras (23,6% e 23,1%, respectivamente): agrupados devido à semelhança na
definição técnica e no percentual de ocorrências);
• Enferrujamento de esquadrias (19,8%);
• Instalações elétricas (19,3%): ausência de aterramento.
• Instalações hidrossanitárias (17,6%): considerados os vertimentos de ralo;
De posse da listagem das manifestações patológicas mais recorrentes, sendo estes também os
principais itens que criaram demanda na manutenção corretiva, foram elaboradas, numa
planilha do Excel, as composições de custos unitários para cada um desses elementos (ou seja,
os valores necessários para a execução de cada atividade descrita, por unidade de serviço –
como metro quadrado de parede ou unidade de esquadria, por exemplo). Em seguida, no modelo
3D elaborado no software Revit, cada elemento teve, em suas propriedades no modelo, a
descrição dos itens que foram extraídos das bases de referência (SINAPI e ORSE) para a
elaboração de suas respectivas composições de custos.
Ainda nas propriedades dos elementos, foram incluídos também os custos unitários de
manutenção corretiva, que haviam sido calculados na planilha Excel. Por fim, foram geradas
tabelas automáticas de cálculo de quantitativos. Nestas, os quantitativos foram associados aos
custos unitários, forneceram o custo total da execução de cada serviço de manutenção corretiva
nos elementos considerados (por exemplo: uma atividade de remoção de piso cerâmico que
custa R$ 9,23/m²; multiplicando este valor por uma área de piso de 20m², tem-se o custo total
da remoção do piso, que será de R$ 184,60).
De posse desses dados, foram verificadas as questões propostas nos objetivos deste trabalho:
uma ferramenta de BIM facilita realmente a aplicação dos conceitos de manutenção preventiva?
A manutenção preventiva representa de fato ganhos financeiros aos usuários da edificação?
Quais as limitações desse tipo de modelagem e desse tipo de manutenção?
33
Figura 3.2:Fluxograma das atividades do Projeto Final
34
3.1 RECURSOS
35
4 RESULTADOS
Os custos de manutenção corretiva foram levantados a partir de duas bases de referência para
orçamentos: o SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil,
desenvolvido pela Caixa Econômica Federal) e o ORSE (Sistema de Orçamento de Obras do
Sergipe, desenvolvido pela CEHOP – Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas.
Foram considerados itens de composições de ambas as bases. Nos casos em que o serviço não
estava diretamente contemplado nessas bases de referência, foram elaboradas composições de
próprias de custos unitários, partindo-se de uma composição pronta semelhante que conste no
SINAPI ou no ORSE. A composição de custos completa encontra-se no Apêndice I.
O serviço de correção desta patologia deve consistir em remover o piso danificado, realizar
nova impermeabilização e aplicar o revestimento piso novamente. Por meio de uma composição
própria de custos unitários (Fig. 4.1), constituída pelos itens abaixo, foi obtido o custo por
unidade de serviço (metro quadrado) de R$ 55,63.
- ORSE/0018: demolição de piso cerâmico.
- ORSE/1967: impermeabilização com argamassa polimérica
- SINAPI/93389: execução de novo piso cerâmico de mesmo padrão do anterior, aplicado em
áreas pequenas, incluindo rejuntamento.
36
No modelo 3D da residência, foi possível vincular o custo unitário, a descrição dos itens da
composição de custos e os códigos de composições utilizadas ao elemento de piso cerâmico,
como mostra a Fig. 4.1. Desta forma, visualiza-se rapidamente a composição de custos de forma
sintética, além de criar um tipo de piso diferenciado, delimitando a área em que o serviço será
executado. No caso desta patologia, como a área de piso manchado pode ser variável, foi
considerada toda a região do piso do banheiro (3 m²).
As trincas e fissuras foram consideradas como patologias semelhantes, visto que há pouca
variação em sua definição técnica. Segundo Thomaz (2014), ambas são oriundas de
movimentos de dilatação e contração que são restringidos pelos vínculos dos elementos
37
constituintes do concreto. Assim, surgem tensões no material que o fazem trincar ou fissurar.
Portanto, foram agrupadas devido à similaridade de sua definição.
No ORSE consta uma composição de custos específica para o tratamento de fissuras (código
4114). Trata-se do preenchimento das aberturas com até 5cm de profundidade, aplicando
argamassa com aditivo redutor de permeabilidade. O custo unitário desta composição é de R$
12,13/m, cujos itens se encontram detalhados na Fig 4.2. As trincas e fissuras foram vinculadas
aos elementos de parede do modelo (internas e externas), entretanto, não é possível quantificar
precisamente a extensão das aberturas, nem representá-las graficamente no Revit. Por isso,
foram inseridos manualmente os comprimentos fictícios para as fissuras, na tabela que consta
no modelo 3D, obtendo assim uma estimativa de custos (Fig. 4.3).
Figura 4.2: composição de custos para realização do tratamento de fissuras (ORSE, 2017).
38
Fig 4.3: Tabela no modelo 3D para a correção de fissuras/trincas
39
Fig 4.4: Tabela no modelo 3D para a correção de janelas enferrujadas
Segundo Pereira (2016), o Revit ainda demanda adaptações para que seja completamente
adequado às normas brasileiras relativas a instalações prediais. O mesmo autor afirma que
“ainda é mais viável utilizar outros programas específicos já consolidados no país para
elaboração desses projetos” (PEREIRA, 2016, p.75). Consideradas estas dificuldades, esses
itens não foram representados no modelo 3D.
40
4.2 MANUTENÇÃO PREVENTIVA
Nas bases de referência utilizadas para estimar os custos de manutenção corretiva, SINAPI e
ORSE, não há itens diretamente relacionados à elaboração de manuais do usuário ou a
inspeções para a avaliação do desempenho de componentes e sistemas residenciais. Entretanto,
na planilha de custos da SETOP – Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas –
constam itens relacionados à elaboração de manuais do usuário para utilização, manutenção e
reforma das edificações.
Além disso, como o caso estudado é referente a uma residência unifamiliar, é possível estimar
o custo total da atividade de manutenção preventiva em toda a construção – diferente das
atividades de correção, em que seriam necessários serviços mais específicos envolvendo
profissionais de diferentes especialidades. Portanto, este valor foi calculado como o custo da
mobilização de uma pequena equipe periódica para vistoriar cada uma das unidades do conjunto
habitacional. Os detalhes se encontram na Fig. 4.5.
CUSTO
ITEM FONTE CÓDIGO DESCRIÇÃO UNIDADE QUANTIDADE CUSTO TOTAL
UNITÁRIO
01 Vistoria e relatório R$ 632,58
01.01 SINAPI 90778 Engenheiro C ivil - vistoria h 4 R$ 87,67 R$ 350,68
01.02 SINAPI 90778 Engenheiro C ivil - relatório h 2 R$ 87,67 R$ 175,34
01.03 SINAPI 88255 Auxiliar técnico de engenharia h 4 R$ 26,64 R$ 106,56
02 Manual do usuário R$ 24,50
FiguraMANUAL
4.5: Composição de ÃO
DE USO, OPERAÇ custos
E da manutenção preventiva
MANUTENÇ ÃO DAS
02.01 SETOP REL-TEC -185 EDIFIC AÇ ÕES PARA m² 50,00 R$ 0,49 R$ 24,50
C ONSTRUÇ ÕES NOVAS - AREA
ATÉ 1.000 M2
Por se tratar de uma residência de pequeno porte, constituída de sistemas simples, tomou-se
como referência a proposta de plano de manutenção predial elaborada por Campos e Vargas
(2014), reproduzida na Fig. 2.10. Foram suprimidos os itens que não constam no objeto
estudado, como sistema de prevenção de descargas atmosféricas e instalações de combate a
incêndio. Juntamente ao resumo do plano de manutenção deve haver um Manual de
manutenção, no qual são elencadas as rotinas, os procedimentos e a periodicidade das inspeções
e os procedimentos emergenciais (Fig. 4.6). O exemplo apresentado na Fig 4.7 se aplica a
alvenarias de vedação, porém, cada um dos sistemas ou componentes constantes no resumo do
plano de manutenção deve possuir uma ficha com essas informações.
MESES
SISTEMA/COMPONENTE Frequência
12 24 36 48 60
Reservatório Cada 12 meses
Alvenaria Cada 24 meses
Estrutura Cada 24 meses
Iluminação Cada 6 meses
Instalações Elétricas Cada 12 meses
Instalações Hidráulicas Cada 12 meses
Impermeabilização Cada 12 meses
Esquadrias de madeira Cada 12 meses
Esquadrias metálicas Cada 24 meses
Louças sanitárias Cada 12 meses
Válvulas de descarga Cada 12 meses
Telefonia Cada 12 meses
Revestimentos de piso/parede Cada 24 meses
Pintura Cada 36 meses
Vidros Cada 12 meses
Figura 4.6: Resumo do plano de manutenção para a habitação do PMCMV (Adaptado de CAMPOS; VARGAS,
2014)
42
Figura 4.7: Exemplo para Manual de Manutenção em alvenarias de vedação (CAMPOS; VERAS, 2014).
Salienta-se que, apesar de a manutenção preventiva ter sido orçada como apenas a vistoria nas
residências, este não é o único serviço que constitui essa atividade. Quaisquer intervenções
realizadas após a verificação de suas demandas também fazem parte dos custos desse tipo de
manutenção. Da mesma forma, as atividades de correção, orçadas no item 4.1, devem também
considerar uma vistoria para a realização do levantamento das patologias. Entretanto, como já
havia dados relativos a estes itens, considerou-se que a vistoria já havia sido realizada e,
portanto, o seu custo não foi incorporado à composição.
43
5 DISCUSSÃO
Para a avaliação dos resultados obtidos, serão retomados os objetivos específicos deste trabalho
(tópico 1.2.2). A respeito destes objetivos específicos:
Por meio deste trabalho, foi possível detectar que as principais causas de demanda de
manutenção nas habitações são infiltrações e fissuras. Como estão diretamente associadas à
aparência dos elementos e componentes em que se manifestam (como pisos, forros, paredes e
estrutura), os usuários, mesmo que leigos, são capazes de percebê-las facilmente e tomar
providências para que sejam corrigidas antes de causarem danos maiores. No caso abordado,
por exemplo, a infiltração no piso poderia levar ao descolamento das placas cerâmicas ou
mesmo causar doenças respiratórias, devido ao surgimento de mofo.
A origem dessas patologias é variada, pois elas podem ocorrer devido à baixa qualidade dos
materiais utilizados na construção, erros de projeto, falhas na execução e até mesmo má
conservação por parte dos usuários. Entretanto, no Relatório nº 66 da CGU foram apontadas
diversas unidades (16,8% de 1051 unidades avaliadas) com destinação indevida dos imóveis
anteriormente financiados, como aluguel e revenda. Esta permuta de usuários devido a aluguéis
e vendas ilegais pode ser também um fator apontado para as recorrências de manifestações
patológicas nessas construções.
Nas bases de referência adotadas neste trabalho (SINAPI e ORSE, citadas anteriormente), há
poucos itens relacionados diretamente à manutenção preventiva das edificações. Como já foi
abordado na revisão bibliográfica, o Brasil ainda caminha lentamente em direção a essas
técnicas, mesmo que elas se mostrem vantajosas financeiramente em relação aos custos de
reparo. Em prédios residenciais de médio e grande porte, é viável para o condomínio manter
44
uma equipe para a realização de manutenções programadas, tanto nas áreas comuns quanto nas
privadas, por conta do custo rateado entre os condôminos. Porém, quando se trata de residências
unifamiliares em que o proprietário arca direta e unicamente com os custos da manutenção,
principalmente as de baixa renda, como é o caso do PMCMV, torna-se mais difícil a
conscientização e a programação destas atividades.
Figura 5.1: Queda do viaduto da Galeria dos Estados, em Brasília (CAMPOREZ; MARIZ, 2018)
45
Em termos comparativos, segundo as informações levantadas, o valor total de uma primeira
inspeção para manutenção preventiva é de R$ 657,08. Já para as atividades corretivas, os custos
variam bastante entre si, porém, considerando um caso em que a residência apresentasse todas
as principais patologias abordadas neste estudo, o custo total seria de R$ 3.072,58. O custo da
correção é 4,68 vezes maior, e com isso verifica-se a informação constante na Fig. 2.11, em que
o gráfico mostra um aumento de 5 vezes do custo de uma intervenção para prevenir patologias
do que uma para corrigi-las.
No caso do objeto de estudo avaliado neste trabalho, por se tratar de uma pequena habitação
unifamiliar, há diversos elementos da construção que podem ser verificados e reparados pelo
próprio usuário, sem a necessidade de mobilização de uma equipe para realizar a vistoria –
como a troca programada de lâmpadas em alguns cômodos, por exemplo. Portanto, é
fundamental que não apenas a equipe técnica tenha a consciência da importância da realização
dessas manutenções, mas também todos os moradores que usufruem da edificação.
A visualização rápida dos custos das atividades de manutenção vinculados à informação e aos
elementos geométricos do modelo 3D indicam que o BIM é uma ferramenta útil para os
responsáveis pela elaboração de planos de manutenção e pela programação dessas atividades,
sejam elas de correção ou de inspeção. Entretanto, as tabelas geradas no Revit (AutoDesk) –
software utilizado no presente trabalho – ainda não são tão versáteis quanto as do Excel
(Microsoft). Por exemplo: não é prático inserir toda a composição de custos detalhada do
serviço de correção no Revit, pois a visualização de todas as informações se torna confusa.
46
detalhes relativos aos custos, apenas o valor total do serviço por unidade em que é orçado (área,
volume, comprimento ou unidades contáveis).
Figura 5.2: Comparativo de detalhes das informações entre tabela no modelo e no Excel
A vantagem da aplicação deste programa se dá, portanto, na atualização rápida dos quantitativos
de cada elemento. Um piso da edificação que tem sua área alterada no modelo, por exemplo, é
automaticamente atualizado na tabela de quantitativo, reduzindo o tempo de execução e revisão
do projeto. Além disso, se cada elemento possuir o custo unitário associado, é possível gerar
orçamento da execução do serviço de correção de forma bastante rápida dentro do próprio
modelo, sem precisar transferir informações entre arquivos do Revit e outros programas como
o Excel ou o Word – e, assim, diminuem-se as chances de ocorrência de erros.
47
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Revit se mostrou uma ferramenta útil para a inclusão de informações rápidas e resumidas no
modelo 3D, entretanto, ainda não é um software totalmente adequado para a elaboração de um
orçamento com composições de custos. Ainda é necessário transferir informações entre ele e
outros programas, o que pode levar a erros durante a elaboração do projeto e comprometer a
qualidade final da obra. Tem que se considerar as limitações de uma ferramenta com base
geométrica como adotada neste trabalho para descrever eventos patológicos das edificações,
fissuras/trincas, por exemplo.
Alguns pontos que não foram abordados neste trabalho, porém são igualmente relevantes e se
enquadram em temas afins. Como as instalações da residência não foram modeladas no Revit
devido à sua incompatibilidade com as normas brasileiras. Sugere-se para trabalhos futuros a
elaboração de uma metodologia para levar estes itens em consideração também no modelo,
elaborando, assim, um modelo completo com os custos das atividades de correção das
patologias detectadas. Outra possibilidade seria avaliar os custos de manutenção em uma
edificação em grande porte, em que as questões financeiras têm maior peso e se mostram com
mais clareza. Neste, pode-se propor um plano de manutenção completo, calculando o custo de
sua implementação ao longo de determinado período.
48
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