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Cesário Verde, Cânticos do Realismo

(O Livro de Cesário Verde)

Exposição sobre um tema (p. 244) FAIXA 4

O Portugal de Cesário
Em 1886, Portugal era um país predominantemente rural. Fora de Lisboa e do Porto, não havia verdadeiramente cidades.
A maior parte da população – oito em cada dez portugueses – vivia no campo, trabalhando uma terra pouco fértil mal
distribuída. A norte do Mondego predominava a pequena propriedade, cultivada por camponeses e rendeiros pobres; a sul,
o latifúndio.
Ao contrário do que sucedia nalguns países europeus, a maioria dos senhores residia nas cidades, administrando as suas
terras por intermédio de feitores; só um punhado de proprietários rurais se interessava o suficiente pelas suas explorações
para aí tentar introduzir as inovações que sabia estarem a ser utilizadas no estrangeiro. Mas, num país que dispunha de uma
mão de obra barata inesgotável, como Portugal, a mecanização raramente foi um êxito. Apesar de, em 1843, na Granja Real
de Mafra, terem sido exibidas várias máquinas agrícolas, quarenta anos mais tarde o seu número era extremamente
reduzido. Dos três produtos cultivados em grande escala, o trigo, a vinha e o arroz, só com o primeiro era possível utilizá-las.
Assim, a maioria dos trabalhos agrícolas continuou a ser feita por trabalhadores rurais, camponeses ou assalariados, com os
métodos que os seus pais e avós usavam há séculos.
Nas cidades, a Civilização penetrou mais facilmente. Depois das tempestades da primeira metade do século, Portugal
atravessou um período calmo, durante o qual um grupo de políticos enérgicos se entregou à exaltante tarefa de modernizar
o país. Durante alguns anos, a realidade correspondeu às expectativas. A indústria desenvolveu-se: Lisboa especializou-se na
estamparia de tecidos e na metalurgia; o Porto, na fiação e tecelagem de algodão. Apesar do esforço do Fontismo, no que
diz respeito a vias de comunicação, o mercado interno estava longe de se encontrar unificado. Em muitas aldeias, os
camponeses continuavam a comer o que produziam e a vestir o que o artesanato local lhes fornecia, como sempre haviam
feito.
No litoral, as fábricas produziam alguns bens de consumo simples, tecidos, pás e enxadas, tabaco, papel e rolhas. Apenas
se exportavam conservas de peixe e de cortiça.
Entre 1850 e 1880, a indústria crescera vagarosamente, mas crescera: em 1850, o total de cavalos-vapor existentes era
de 938; em 1880 subira para 7000. No têxtil, cortiças e tabacos existiam agora fábricas com mais de 500 operários.
Infelizmente, Portugal estava suficientemente perto da Europa para que os progressos destes países ensombrecessem o que
aqui se passava. Em 1881, um membro da comissão do Inquérito Industrial que o Governo mandou efetuar escrevia
desencantadamente: «Levam-nos um grande avanço as nações industriais, tocaram quase a meta, quando nós principiámos
ainda a caminhar», e acrescentava «Esforços e energias de que valem, se os passos que nós damos para diante são sempre
fartamente compensados por outros mais largos e mais rápidos que eles dão no mesmo sentido?».
Na agricultura, as coisas não tinham corrido mal. O Minho exportava quantidades razoáveis de vinho e de gado para os
ricos mercados europeus; o Sul, laranjas, maçãs, figos, azeite e amêndoas. Mas em meados de 1880, Portugal começou a ter
rivais temíveis nos mercados europeus. A exportação de gado ressentiu-se imediatamente, sofrendo o Minho uma severa
recessão: nos «leilões dos estrangeiros», o concorrente consegue vencer-nos «por uma cotação que nos desvia». O modelo
fontista entrava em crise.

Maria Filomena Mónica, in Revista Prelo, nº 12, 1986

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