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POÉTIKAS

Abaetê Queiroz
Bárbara Gontijo
Juliana Drummond
Larissa Mauro
Márcio Minervino

Prólogo

CLÓDIA (Márcio)
Hilda Hilst

(Apavorado)

Ó conas e caralhos, cuidai-vos! Clódia anda pelas ruas, pelas


avenidas, olhando sempre abaixo de vossas cinturas! Cuidai-vos,
adolescentes, machos, fêmeas, lolitas-velhas! Colocai vossas
mãos sobre as genitálias! A leoa faminta caminha vagarosa,
dourada, a úmida língua nas beiçolas claras! Os dentes, agulhas
de marfim, plantados nas gengivas luzentes! Cáustica, Clódia
atravessa ruas, avenidas e brilhosas calçadas. Ó, pelos deuses,
adentrai vossas urnas de basalto porque a leoa ronda vossas
salas e quartos! Quer lamber-vos a cona, quer adestrar caralhos,
quer o néctar augusto de vagina e falo! Centuriões, moçoilos,
guerreiros, senadores, atentai! Uma leoa persegue tudo o que é
vivo mole incha e cresce! Trançai vossas pernas, trançai vossas
mãos atentas sobre as partes pudendas! Não temais a vergonha
de andar pelas ruas em torcidas posturas, pois Clódia está nas
ruas!
POUR MÉMOIRE (Bárbara)
Ana Cristina Cesar

Não me toques
nesta lembrança.
Não perguntes a respeito
que viro mãe-leoa
ou pedra-lage lívida
ereta
na grama
muito bem-feita.
Estas são as fazes da minha fúria.
Sob a janela molhada
passam guarda-chuvas
na horizontal,
como em Cherbourg,
mas não era este
o nome.
Saudade em pedaços,
estação de vidro.
Água
As cartas
não mentem jamais:
virá ver-te outra vez
um homem de outro continente.
Não me toques,
foi minha cortante resposta
sem palavras
que se digam
dentro do ouvido
num murmúrio.
E mais não quer saber
a outra, que sou eu,
do espelho em frente.
Ela instrui:
deixa a saudade em repouso
(em estação de águas)
tomando conta
desse objeto claro
e sem nome.
EM CELEBRAÇÃO DO MEU ÚTERO (Larissa)
Anne Sexton

Tudo em mim é um pássaro.


Adejo com todas as minhas asas.
Queriam extirpar-te
mas não o farão.
Diziam que estavas incomensuravelmente vazio
mas não estás.
Diziam que estavas doente prestes a morrer
mas estavam errados.
Cantas como uma colegial
Tu não estás desfeito.
Doce peso,
em celebração da mulher que sou
e da alma da mulher que sou
e da criatura central e do seu prazer
canto para ti. Atrevo-me a viver.
Olá, espírito. Olá, taça.
Fixar, cobrir. Cobre o que contém.
Olá, terra dos campos.
Bem-vindas, raízes.
Cada célula tem uma vida.
Há aqui bastantes para satisfazer uma nação.
Chega que a populaça possua estes bens.
Qualquer pessoa, qualquer grupo diria:
Está tudo tão bem este ano que podemos plantar de novo
e pensar noutra colheita.
Uma praga tinha sido prevista e foi eliminada.
Por isso muitas mulheres cantam em uníssono:
uma numa fábrica de sapatos amaldiçoando a máquina,
uma no aquário cuidando da foca,
uma aborrecida ao volante do seu FORD,
uma cobradora na portagem,
uma no Arizona enlaçando um bezerro,
uma na Rússia com uma perna de cada lado do violoncelo,
uma trocando panelas num fogão no Egipto,
uma pintando da cor da lua as paredes do quarto,
uma no seu leito de morte mas recordando um pequeno almoço,
uma na Tailândia deitada na esteira,
uma limpando o rabo ao seu bebé, (...)
uma olhando pela janela do comboio,
no meio do Wyomming e uma está
em qualquer lado e algumas estão em todo o lado e todas
parecem estar cantando, embora haja quem
não possa cantar uma nota sequer.
Doce peso
em celebração da mulher que sou
deixa-me levar uma echarpe de três metros,
deixa-me tocar o tambor pelas que têm dezanove anos,
deixa-me levar taças para oferecer
(se é isso o que me toca).
deixa-me estudar o tecido cardiovascular,
deixa-me calcular a distância angular dos meteoros,
deixa-me chupar o pecíolo das flores
(se é isso o que me toca).
Deixa-me imitar certas figuras tribais
(se é isso o que me toca).
Pois o corpo precisa disso,
que me deixes cantar
para a ceia,
para o beijo,
para a correta
afirmação.

SEM TÍTULO (Juliana)


Conceição Evaristo

Uma gota de leite


me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes – agora – o que há de vir.
Eu fêmea-matriz. (...)
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.

SEM TÍTULO (Márcio)


Alice Ruiz

Tem os que passam


e tudo se passa
com passos já passados
tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido
e tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado

A ARTE DE PERDER (Larissa)


Elizabeth Bishop

A arte de perder não é nenhum mistério


tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por mais que pareça muito sério.

TRAVELLING (Bárbara)
Ana Cristina César

Tarde da noite recoloco a casa toda em seu lugar.


Guardo os papéis todos que sobraram.
Confirmo para mim a solidez dos cadeados.
Nunca mais te disse uma palavra.
Do alto da serra de Petrópolis,
com um chapéu de ponta e um regador,
Elizabeth reconfirmava, “Perder
é mais fácil que se pensa”.
Rasgo os papéis todos que sobraram.
“Os seus olhos pecam, mas seu corpo
não”,
dizia o tradutor preciso, simultâneo,
e suas mãos é que tremiam. ‘É perigoso”,
ria Carolina perita no papel Kodak.
A câmera em rasante viajava. (...)
A voz em off nas montanhas, inextinguível
fogo domado da paixão, a voz
do espelho dos meus olhos,
negando-se a todas as viagens,
e a voz rascante da velocidade,
de todas três bebi um pouco.

SEM TÍTULO (Márcio)


Maria Gabriela Llansol

Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém.


Compor o corpo, os objetos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objeto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti -------------------
----------------------------- até que a dor alegre recomece.

QUERIDA ANGÉLICA (Abaetê)


Angélica Freitas

querida angélica não pude ir fiquei presa


no elevador entre o décimo e o nono andar e até
que o zelador se desse conta já eram dez e meia
querida angélica não pude ir tive um pequeno
acidente doméstico meu cabelo se enganchou dentro
da lavadora na verdade está preso até agora estou
ditando este e-mail para minha vizinha
querida angélica não pude ir meu cachorro
morreu e depois ressuscitou e subiu aos céus
passei a tarde envolvida com os bombeiros
e as escadas magírus
querida angélica não pude ir perdi meu cartão
do banco num caixa automático fui reclamar (...)
para o guarda que na verdade era assaltante
me roubou a bolsa e com o choque tive amnésia
querida angélica não pude ir meu chefe me ligou
na última hora disse que ia para o havaí
de motocicleta e eu tive que ir para o trabalho
de biquíni portanto me resfriei
querida angélica não pude ir estou num
cybercafé às margens do orinoco fui sequestrada
por um grupo terrorista por favor deposite
dez mil dólares na conta 11308-0 do citibank
agência valparaíso obrigada pago quando voltar.

ESCREVENDO UM CURRÍCULO (Juliana)


Wislawa Szymborska

O que é preciso?
É preciso fazer um requerimento
e ao requerimento anexar um currículo.

O currículo tem que ser curto


mesmo que a vida seja longa.

Obrigatória a concisão e seleção dos fatos.


Trocam-se as paisagens pelos endereços
e a memória vacilante pelas datas imóveis.

De todos os amores basta o casamento,


e dos filhos só os nascidos.

Melhor quem te conhece do que o teu conhecido.


Viagens só se for para fora.
Associações a quê, mas sem por quê.
Distinções sem a razão.

Escreva como se nunca falasse consigo


e se mantivesse à distância.

Passe ao largo de cães, gatos e pássaros,


de trastes empoeirados, amigos e sonhos.

Antes o preço que o valor


e o título que o conteúdo.
Antes o número do sapato que aonde vai, (...)
esse por quem você se passa.

Acrescente uma foto com a orelha de fora.


O que conta é o seu formato, não o que se ouve.
O que se ouve?
O matraquear das máquinas picotando o papel.

AS PESSOAS SENSÍVEIS (Bárbara)


Sophia De Mello Breyner

As pessoas sensíveis não são capazes


De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira


À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

“Ganharás o pão com o suor do teu rosto” Assim nos foi imposto
E não:
“Com o suor dos outros ganharás o pão”

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoais–lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

DO AMOR (Abaetê)
Hilda Hist

Aflição de ser eu e não ser outra.


Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha (...)
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha


Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra


E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.


Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

MUITAS FUGIAM AO ME VER… (Juliana)


Carolina De Jesus

Muitas fugiam ao me ver


Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia
Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quis fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto
Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.

POEMA (Larissa)
Noémia De Souza

Bates-me e ameaças-me
Agora que levantei minha cabeça esclarecida
E gritei: “Basta!” (…) Condenas-me à escuridão eterna
Agora que minha alma de África se iluminou
E descobriu o ludíbrio E gritei, mil vezes gritei: _Basta!”.
Armas-me grades e queres crucificar-me
Agora que rasguei a venda cor-de-rosa
E gritei: “Basta!”

Condenas-me à escuridão eterna Agora que minha


alma de África se iluminou E descobriu o ludíbrio..
E gritei, mil vezes gritei: _Basta!_

Ò carrasco de olhos tortos,


De dentes afiados de antropófago
E brutas mãos de orango:

Vem com o teu cassetete e tuas ameaças,


Fecha-me em tuas grades e crucifixa-me,
Traz teus instrumentos de tortura
E amputa-me os membros, um a um…

Esvazia-me os olhos e condena-me à escuridão eterna… –


que eu, mais do que nunca,
Dos limos da alma, (...)
Me erguerei lúcida, bramindo contra tudo:
Basta! Basta! Basta!
COR-RESPONDENCIAS (Bárbara)
Elisa Lucinda

Remeta-me os dedos
em vez de cartas de amor
que nunca escreves
que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes
que parecem repetir
o amor bem feito
que você tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo
se era o seu jeito
ou de propósito
mas era bom, sempre bom
e assanhava as tardes.
Refaça o verso
que mantinha sempre tesa
a minha rima
firme
confirme
o ardor dessas jorradas
de versos que nos bolinaram os dois
a dois.
Pense em mim
e me visite no correio
de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida
outra vez meta
Remeta.

SEDUÇÃO (Márcio)
Adélia Prado

A poesia me pega com sua roda dentada,


me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta (...)
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.

DESEJO (Abaetê)
Tainá Lopes

O que é o desejo?
O que é o desejo? Perguntou Hilda Hilst, que respondeu na cama,
na boca de outros, na poesia, na vida; respondeu vivendo,
flexionando o infinitivo, presenteando o verbo, dizendo sim.

O que é o desejo? Perguntam os adolescentes, entre bitocas atrás


da porta, amassos no muro da escola e segredos embaixo da
cama. Perguntam os jovens, entre o amor eterno, o nunca mais e
o só essa noite.

O que é o desejo? Perguntam os químicos, que gastam seus


dedos em tubos de ensaio e buscam respostas na acidez da
saliva, no sal do suor, nos milagres do período fértil, e tudo isso
com luvas, de máscara, ao longe, na ignorância da equação já
balanceada que produz mais desejo a partir do elemento-tato;
explosivo.
(...)

O que é o desejo? Perguntam quase todas as mulheres que


queimam, com seus colos vermelhos e os seios atentos; a boca
seca e os meios das pernas afogando o próprio desejo enquanto
elas perguntam o que é, vai entender, e duvidam!, e vacilam!, e
mal sabem que isso tudo é resposta.

O que é o desejo?
Passa o dedo e lambe: não é o que, mas que gosto.

MULATA EXPORTAÇÃO (Márcio e Juliana)


Elisa Lucinda

MÁRCIO

Mas que nega linda


E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dentro ainda te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar!
(Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu
dendê?)
Minha tonteira minha história contundida
Minha memória confundida, meu futebol, entendeu meu gelol?
Rebola bem meu bem-querer, sou seu improviso, seu karaoquê;
Vem nega, sem eu ter que fazer nada. Vem sem ter que me
mexer
Em mim tu esqueces tarefas, favelas, senzalas, nada mais vai
doer.
Sinto cheiro docê, meu maculelê, vem nega, me ama, me colore
Vem ser meu folclore, vem ser minha tese sobre nego malê.
Vem, nega, vem me arrasar, depois te levo pra gente sambar.

JULIANA

Imaginem: Ouvi tudo isso sem calma e sem dor.


Já preso esse ex-feitor, eu disse: “Seu delegado…”
E o delegado piscou.
Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou pequena pena
com cela especial por ser esse branco intelectual… (...)
Eu disse: “Seu Juiz, não adianta! Opressão, Barbaridade,
Genocídio
nada disso se cura trepando com uma escura!”
Ó minha máxima lei, deixai de asneira
Não vai ser um branco mal resolvido
que vai libertar uma negra:
Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo-oprimido
que vai aliviar seu passado.
Olha aqui meu senhor:
Eu me lembro da senzala
e tu te lembras da Casa-Grande
e vamos juntos escrever sinceramente outra história
Digo, repito e não minto:
Vamos passar essa verdade a limpo
porque não é dançando samba
que eu te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
Meu engodo cultural!
Minha lavagem de lata!
Porque deixar de ser racista, meu amor,
não é comer uma mulata!

QUEIXA DAS ALMAS JOVENS CENSURADAS (Larissa)


Natália Correia

Dão-nos um lírio e um canivete


e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário


que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade.

Dão-nos a honra de manequim


para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência. (...)

Dão-nos um barco e um chapéu


para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro.

Penteiam-nos os crânios ermos


com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós.

Dão-nos um bolo que é a história


da nossa história sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo.

Temos fantasmas tão educados


que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro.

Dão-nos a capa do evangelho


e um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco.

Dão-nos um cravo preso à cabeça


e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura.

Dão-nos um esquife feito de ferro


com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante.

Dão-nos um nome e um jornal,


um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão


com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
não é a vida. Nem é a morte.
HOLA, SPLEEN (Bárbara e Abaetê)
Marília Garcia

ABAETÊ
um dia
ela me disse
“hola, spleen”
e eu demorei mas depois
percebi que era uma
frase sobre
o tempo.

talvez
um jeito de dar
as boas-vindas,
mas a gente nunca sabe
o que vem depois.
um dia quis ler em voz alta
um poema chamado
“hola, spleen”,
mas quando chegou a hora
fiquei muito muito gripada,
e o que foi pior
o que me impediu de ler
foi que fiquei
sem voz.

se tivesse gravado
o poema antes,
podia ligar a voz
e tocar em vez de ler,
mas eu não tinha
uma voz gravada
e não havia como produzir
voz.

então, combinei
que faria a leitura outro dia
e ainda faltava um mês
para chegar a leitura que vou chamar (...)
aqui de caixa-preta
e eu não tinha ideia
de como eu estaria no dia da caixa-preta
e pensei que se este mês
seguisse o ritmo acelerado
e catastrófico deste e do último ano
tanta coisa já teria
acontecido hoje,
que me dava medo
imaginar.

BÁRBARA
assim,
esta voz que fala aqui
é a voz de uma marília de um mês atrás
é a minha voz falando a partir do passado,
é a minha voz,
mas sem controle.

há um mês eu não tinha


como prever nada
e fiquei me
perguntando:
— como fazer para essas palavras escritas
há um mês dizerem algo
sobre estar aqui
agora?
e eu não soube responder.
então, fiquei me perguntando
se hoje estaria chovendo
ou fazendo sol,
se faria frio ou não,
e se haveria poeira no ar.
eu sempre me surpreendo
com a poeira que turva a vista:
de repente no meio do dia
uma poeira que se ergue,
uma nuvem
de poeira,
pode ser a poeira vinda das coisas quebradas
todos os dias na vida das pessoas
e eu fiquei pensando
se estaria muito seco nesse dia ou não (...)
e pensei que talvez a gente pudesse
fazer silêncio
e deixar a escuta aberta
para ouvir.

ABAETÊ
talvez a gente pudesse fazer silêncio
e de repente neste silêncio
acontecer de ouvir algo por detrás
dos ruídos das máquinas voadoras que
cruzam o céu.

BÁRBARA
talvez não desse para ouvir as máquinas voadoras
neste dia,
foi o que pensei,
mas eu me enganei
porque hoje
desde cedo
os helicópteros estão voando.

ABAETÊ
— vocês estão ouvindo?
um som infernal
estrelas caindo do céu
em cima da cabeça
com as pontas viradas
para baixo.
o som está cada vez mais perto,
posso encostar a mão
se me viro vejo a sombra
em câmera lenta
sobre a cabeça.

BÁRBARA
imaginem que isso aqui é um quadrado
com drones volantes,
ou uma cena congelada
com o céu cheio de zepelins,
mas o som é um só:
barulho de máquinas
voadoras
pelo céu.

ABAETÊ
se a gente prestar atenção e fizer silêncio
— se a gente prestar atenção e fizer
silêncio —
pode ser que ouça
alguma mensagem
perdida no ar.

SEM TÍTULO (Larissa)


Alice Sant’anna

quando faltou luz


ficou aquele breu e eu
com as mãos tremendo
morta de medo
de tudo se iluminar
de repente

CADELA ROSADA (Juliana)


Elizabeth Bishop

Sol forte, céu azul. O Rio sua.


Praia apinhada de barracas. Nua,
passo apressado, você cruza a rua.

Nunca vi um cão tão nu, tão sem nada,


sem pêlo, pele tão avermelhada...
Quem a vê até troca de calçada.

Têm medo da raiva. Mas isso não


é hidrofobia — é sarna. O olhar é são
e esperto. E os seus filhotes, onde estão?

(Tetas cheias de leite.) Em que favela


você os escondeu, em que ruela,
pra viver sua vida de cadela?

Você não sabia? Deu no jornal:


pra resolver o problema social,
estão jogando os mendigos num canal.

E não são só pedintes os lançados


no rio da Guarda: idiotas, aleijados,
vagabundos, alcoólatras, drogados.

Se fazem isso com gente, os estúpidos,


com pernetas ou bípedes, sem escrúpulos,
o que não fariam com um quadrúpede?

A piada mais contada hoje em dia


é que os mendigos, em vez de comida,
andam comprando bóias salva-vidas.

Você, no estado em que está, com esses peitos,


jogada no rio, afundava feito
parafuso. Falando sério, o jeito
mesmo é vestir alguma fantasia.
Não dá pra você ficar por aí à
toa com essa cara. Você devia

pôr uma máscara qualquer. Que tal?


Até a quarta-feira, é Carnaval!
Dance um samba! Abaixo o baixo-astral!

Dizem que o Carnaval está acabando,


culpa do rádio, dos americanos...
Dizem a mesma bobagem todo ano.

O Carnaval está cada vez melhor!


Agora, um cão pelado é mesmo um horror...
Vamos, se fantasie! A-lá-lá-ô...!

I LIKE MY BODY (Márcio)


Ana Martins Marques

o meu corpo tão mais bonito


junto ao seu
músculos, pelos
meus seus cabelos
encostados nossos
joelhos juntos
densos, compactos (...)
acidentes de ossos
nos seus braços
os meus braços
tão melhores
mãos encontradas
ao acaso das vértebras
um caminho
áspero, liso
pela pela
(sua língua
lenta
entre
entra)
o meu corpo tão mais bonito
junto ao seu
côncavas, iguais
nossas bocas
se recebem

SEM TÍTULO (Bárbara)


Eliane Potiguara

Que faço com a minha cara de índia?


E meus espíritos
E minha força
E meu Tupã
E meus círculos? [...] Brasil,
o que faço com a minha cara de índia?

Não sou violência/ Ou estupro/


Eu sou história/ Eu sou cunhã/
Barriga brasileira/ Ventre sagrado/
Povo brasileiro./ Ventre que gerou/
O povo brasileiro/ Hoje está só...

CONVERSA COM A PEDRA (Abaetê e Juliana)


Wislawa Szymborska

ABAETÊ

Bato à porta da pedra.


- Sou eu, me deixa entrar. (...)
Quero penetrar no teu interior
olhar em volta,
te aspirar como o ar.
JULIANA

Vai embora.

ABAETÊ

Diz a pedra.

JULIANA

Sou hermeticamente fechada.


Mesmo partidas em pedaços
seremos hermeticamente fechadas.
Mesmo reduzidas a pó
não deixaremos ninguém entrar.

ABAETÊ

Bato à porta da pedra.


- Sou eu, me deixa entrar.
Venho por curiosidade pura.
A vida é minha ocasião única.
Pretendo percorrer teu palácio
e depois visitar ainda a folha e a gota d´água.
Pouco tempo tenho para isso tudo
Minha mortalidade devia te comover.

JULIANA
Sou de pedra
E forçosamente devo manter a seriedade
Vai embora.
Não tenho os músculos do riso.

ABAETÊ
Bato à porta da pedra.
- Sou eu, me deixa entrar.
Soube que há em ti grandes salas vazias,
nunca vistas, inutilmente belas,
surdas, sem ecos de quaisquer passos.
Admite que mesmo tu sabes pouco disso.

JULIANA
Salas grandes e vazias
mas nelas não há lugar.
Belas, talvez, mas para além do gosto
dos teus pobres sentidos.
Podes me reconhecer, nunca me conhecer.
Com toda a minha superfície me volto para ti
mas com todo o meu interior permaneço de costas.

ABAETÊ
Bato à porta da pedra.
- Sou eu, me deixa entrar.
Não busco em ti refúgio eterno.
Não sou infeliz.
Não sou uma sem-teto.
O meu mundo merece retorno.
Entro e saio de mãos vazias.
E para provar que de fato estive presente,
não apresentarei senão palavras,
a que ninguém dará crédito.

JULIANA
Não vais entrar.
Te falta o sentido da participação.
Nenhum sentido te substitui o sentido da participação.
Mesmo a vista aguçada até a onividência
de nada te adianta sem o sentido da participação.
Não vais entrar, mal tens ideia desse sentido,
mal tens o seu germe, a sua concepção.

ABAETÊ
Bato à porta da pedra.
- Sou eu, me deixa entrar.
Não posso esperar dois mil séculos
para estar sob teu teto.

JULIANA
Se não me acreditas,
fala com a folha, ela dirá o mesmo que eu.
Com a gota d´água, ela dirá o mesmo que a folha.
Por fim pergunta ao cabelo da tua própria cabeça.
O riso se expande em mim, o riso, um riso enorme,
eu que não sei rir.
ABAETÊ
Bato à porta da pedra.
Sou eu, me deixa entrar.

JULIANA
Não tenho porta.

RETRATO (Larissa)
Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,


assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

SEM TÍTULO (Márcio)


Alice Ruiz

falta de sorte
fui me corrigir
errei

VIDA/TEMPO (Juliana)
Viviane Mosé

Quem tem olhos pra ver o tempo


Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos?
O tempo andou riscando meu rosto (...)
Com uma navalha fina
Sem raiva nem rancor.
O tempo riscou meu rosto com calma
Eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença.
Acho que a vida anda passando a mão em mim.
A vida anda passando a mão em mim.
Acho que a vida anda passando.
A vida anda passando.
Acho que a vida anda.
A vida anda em mim.
Acho que há vida em mim.
A vida em mim anda passando.
Acho que a vida anda passando a mão em mim.
E por falar em sexo
Quem anda me comendo é o tempo
Na verdade faz tempo
Mas eu escondia
Porque ele me pegava à força
E por trás.
Um dia resolvi encará-lo de frente
E disse: Tempo,
Se você tem que me comer
Que seja com o meu consentimento
E me olhando nos olhos
Acho que ganhei o tempo
De lá pra cá
Ele tem sido bom comigo
Dizem que ando até remoçando.

SEM TÍTULO (Bárbara)


Ana Cristina Cesar

olho muito tempo o corpo de um poema


até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas
FUNERAL (TODOS)
Wislawa Szymborska

MÁRCIO - “Tão de repente, quem podia adivinhar?"

JULIANA - "nervos e cigarro, eu bem que avisei"

ABAETÊ - "mais ou menos, obrigado"

LARISSA - "desembrulhe essas flores"

BÁRBARA - "o irmão também foi do coração, deve ser de família"

JULIANA - "com essa barba eu nunca ia reconhecer você"

LARISSA - "a culpa é dele, estava sempre metido em alguma"

ABAETÊ - "aquele novo ia fazer o discurso, não consigo encontrar


ele"

MÁRCIO - "O Kazek está em Varsóvia, o Tadek no exterior"

JULIANA - "só você foi esperta, trouxe o guarda-chuva"

BÁRBARA - "e daí que era o mais talentoso deles"

LARISSA - "um quarto de passagem, a Baska não vai concordar"

ABAETÊ - "claro que ele tinha razão, mas isso ainda não é
motivo"

LARISSA - "com uma portinha esmaltada, adivinha quanto"

JULIANA - "duas gemas, uma colherinha de açúcar"

MÁRCIO - "não era da conta dele, pra que isso"

ABAETÊ - "só azuis e só números pequenos"

BÁRBARA - "cinco vezes, e nenhuma resposta"

LARISSA - "que seja, eu podia, mas você também podia"


JULIANA - "ainda bem que pelo menos ela tinha esse cargo"

MÁRCIO - "não, não sei, talvez parentes"

ABAETÊ - "o padre é a cara do Belmondo"

BÁRBARA - "ainda não estive nessa parte do cemitério"

LARISSA - "sonhei com ele faz uma semana, foi um


pressentimento"

JULIANA - "não é feia a filha"

MÁRCIO - "é que nos espera a todos"

ABAETÊ - "deem pêsames à viúva por mim, tenho que correr


para"

BÁRBARA - "no entanto em latim soava mais solene"

LARISSA - "foi-se, acabou-se"

JULIANA - "adeus, minha senhora"

BÁRBARA - "que tal uma cerveja"

MÁRCIO - "me ligue, a gente se fala"

ABAETÊ - "o número quatro ou o doze"

LARISSA - "vou pra cá"

JULIANA - "nós pra lá".

LIMITE (Bárbara)
Sylvia Plath

A mulher está perfeita.


Seu corpo
Morto enverga o sorriso de completude,
A ilusão de necessidade
Grega voga pelos veios da sua toga, (...)
Seus pés
Nus parecem dizer:
Já caminhamos tanto, acabou.
Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca,
Uma para cada pequena
Tigela de leite vazia.
Ela recolheu-as todas
Em seu corpo, como pétalas
Da rosa que se encerra, quando o jardim
Enrija e aromas sangram
Da fenda doce, funda, da flor noturna.
A lua não tem porque estar triste
Espectadora de touca
De osso; ela está acostumada.
Suas crateras trincam, fissura.

IDENTIDADE (Márcio)
Graça Graúna

agora e pela hora


da minha agonia
louvo trindade
e jorge de lima
cantando
catando
as penas

_ de onde vem, solano, esta agonia?
_ de muito longe, nêga,
de afroamérica sonhada
lá donde crece la palma
plantada em versos de alma
del hombre josé martí
_ de onde vem, solano, esta agonia?
_ vem de longe, nêga,
do comecinho das coisas
de muito longe, minha nega,
muito longe
SEM TÍTULO (Abaetê)
Bárbara Gontijo

– a morte é pra quem fica:


há que se ter vida
o bastante
para se virar
e deixar
o corpo
do outro
morrer
(resistência)

a morte é pra quem fica:


e respirar não deve ser uma culpa
nem mesmo um medo
há que se ter vida
o bastante
para se virar
tem que ter um jeito
de continuar a acreditar
(resiliência)

para quem fica, a morte:


além do corpo
as relações morrem
as plantas morrem
as crenças morrem
os alimentos morrem
as esperanças morrem
os espetáculos precisam morrer
pra continuar existindo

as narrativas
são em ciclo
morrem e vivem para que exista
a história
– o carro morreu
enquanto fazia a curva
e o morto caiu:
o sangue brilhava sob o sol
no asfalto
estava pensando sobre como somos sozinhos
tentando sustentar a ideia
da morte;
aprendendo a morrer

o sangue brilhava no asfalto


mais uma vez:
a morte é pra quem fica
e aquele sangue
era para meus olhos
era sangue para meu sangue.
pisei no acelerador
abri os olhos
e descobri
o que penso que esqueci
todas as manhãs

A MANHÃ SEGUINTE À EXECUÇÃO DE MARIELLE FRANCO


(Larissa)
Micheliny Verunschk

uma mulher descerá o morro


como se descesse de uma estrela
uma mulher seus olhos iluminados
suas mãos pulsando vida e luta
sob seus pés a velha serpente
[a baba as armas a covardia de sempre]. uma mulher descerá o
morro
as inúmeras escadarias do morro
os muros arames que separam o morro
e pisará o chão desse país sem nome
desse país que ainda não existe
desse país que interminavelmente não há
uma mulher descerá o morro
o seu vestido é a tempestade
uma mulher descerá o morro
e ainda que seu sangue caia
ferida incessante no asfalto do Estácio
e ainda que anunciem sua morte
[e sim, ainda que a comemorem]
esta mulher ninguém poderá parar.
ATÉ AS RUÍNAS PODEMOS AMAR NESSE LUGAR (Abaetê)
Matilde Campilho

Lembro-me muito bem do tal cantor basco


que costumava celebrar a chuva no verão
Não ligava quase nada para as conspirações
que recorrentemente se faziam ouvir
debaixo das arcadas noturnas da cidade
naquela época do intermezzo lunar
Foi já depois do fascismo, um pouco antes
da democracia enfaixada em magnólias
O cantor, as arcadas, o perfume e os disparos
me ensinaram que se deve aproveitar a época
de transição para destrinçar o brilho
As revoluções sempre foram o lugar certo
para a descoberta do sossego:
talvez porque nenhuma casa é segura
talvez porque nenhum corpo é seguro
ou talvez porque depois de encarar uma arma
finalmente possa ser possível entender
as múltiplas possibilidades de uma arma.

EU NÃO SEREI UM POETA (TODOS)


Bárbara Gontijo

LARISSA
não falarei daquele amor
futuro

não falarei dos futuros amantes


nem mesmo direi
da calmaria

JULIANA
eu não serei um poeta
da alegria
tampouco da prova dos nove

porque sinto o frio seco


me queimando
numa manhã ensolarada e calma
dentro do caos
da minha casa

MÁRCIO
não cantarei a voz mais bela
e doce
porque me calo frente às letras
que ainda não existem
para doer tanto

ABAETÊ
eu não me sentarei
como me acontecia
para escrever poemas
que se pretendem
lidos

porque hoje
eu sempre estarei
exausto de tantas vozes
sintetizadas
metálicas
e inaudíveis

hoje sempre
o mundo não faz silêncio
e num reflexo imediato
me calo
frente aos bombardeios
teus
à enxurrada terrível
de ações tão milimetricamente pensadas
e alegres

JULIANA
não serei um poeta (...)
que se levanta
ao tocar do despertador
porque me demoro
e insisto
no pensamento
- que se estende durante o dia todo –
de que não há mais nada
para ser vivido

então não serei o poeta


que sabe dizer

porque o que tenho


a dizer
é silêncio absurdo
de tudo o que no corpo
deixei doendo

LARISSA
não serei um poeta
que aponta a saída
porque em meu corpo
que envelhece mais rápido
que cada segundo
não há saída para a dor

BÁRBARA
eu não serei o poeta que
tu lerás
porque tudo o que for escrito
por essas mãos trêmulas
não achará lugar
em tua garganta
como na minha
hoje sempre

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