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O panteísmo estóico :
FiloVida
Ivan Moratori |
11-15 minutos

(Ζήνων ὁ Κιτιεύς, 333 a.C. — 263 a.C.)

O estoicismo foi uma escola fundada por Zenão de Cítio,


por volta do século IV a.C, em Atenas, durante o período
helenístico. O Helenismo marca a época em que a
cultura grega, após as conquistas de Alexandre O
Grande, sofre um sincretismo com várias outras culturas
— como a egípcia, a persa e a romana —, e se torna,
portanto, a cultura dominante do mediterrâneo à
Índia. O grego, então, se torna a principal língua falada
no mundo, e algumas cidades se transformam em
verdadeiros centros de debates intelectuais, como
Atenas, Pérgamo e Alexandria. Ademais, numa antiga
stoa desta primeira cidade, num pórtico localizado ao
norte da ágora, a partir dos ensinamentos de Zenão, um
novo pólo de debate intelectual emerge — e é assim
que a filosofia estoica surge, sendo batizada a partir
do nome do local (stoa) onde seus encontros eram
realizados.

Outrossim, o estoicismo, junto com o Cinismo e o


Ceticismo, é uma das filosofias antigas que chega ao
presente não só como uma corrente filosófica, mas
também como um adjetivo. Quem é atribuído com o
adjetivo de estoico é considerado austero; impassível
diante da adversidade e dos infortúnios da vida e que se
destaca pela qualidade de sua ação; pela firmeza moral;
por seu caráter incorruptível; força diante dos reveses da
vida. O estoicismo, contudo, não se limita às suas
caricaturas, que foram construídas durante séculos de
interpretações, principalmente de Cícero, Sexto
Empírico e Plutarco – importantes doxógrafos do início
do império romano, que, por sua vez, também
influenciaram as interpretações cristãs e sua assimilação
ao cristianismo. Nessa chave de interpretação, o estoico
é retratado como um sábio impassível e indiferente, e a
filosofia do Pórtico, reduzida somente ao seu
pensamento ético. Para além das caricaturas, o
estoicismo é uma filosofia que se caracteriza pelo seu
sistema, em que a física, a ética e a lógica são
indivisíveis. E é assim que Diógenes Laércio em seu livro
Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, em que se
refere ao sistema da filosofia estóica como um corpo
único, em que cada parte depende da outra de forma
inseparável:

Eles [os estóicos] dizem que a filosofia é como um


animal, a lógica corresponde aos ossos e tendões, a ética
seria os músculos, e a física seria a alma. De forma
similar, eles a comparam com o ovo: a casca é a lógica, a
clara é a ética, e a gema no centro é a física. Ou, ainda,
comparam com um pomar: a lógica seria a vegetação
circundante, a ética seria o fruto, a física seria o solo ou
a árvore. (Diogenes Laertius, Lives and Opinions of
Eminent Philosophers, livro VII 40 1925, tradução livre
do inglês)

Porém, com essa divisão da filosofia em três partes, os


filósofos da stoá não chegam a hierarquizar as partes,
mas ao contrário, elas possuem igual importância no
conjunto do sistema. A Física estóica trata das
especulações sobre a Natureza do Cosmos; a Lógica trata
do conhecimento e da verdade a partir da Natureza e a
Ética trata do viver conforma a Natureza. O que une as
três partes do sistema estoico de pensamento é o
conceito de Lógos, ou a razão imanente da Natureza.
Dessa forma, Lógos é o princípio de verdade na lógica, o
princípio criativo no cosmo ou na física, e na ética, é o
princípio normativo.

O sentido que mais se aproxima do Lógos estóico tem


um sentido semelhante ao que Heráclito propõe: o
Lógos está presente tanto no cosmos quanto no homem.
O Lógos é, então, a forma de compreender a existência
da vida humana, mas também é a forma de
compreender o devir cósmico. Destarte, o sentido de
Lógos vai além da razão puramente pensante e
discursiva, atuando num sentido mais amplo: pois é o
Lógos que dá forma, cria a si mesma e ordena o Todo do
universo, de forma racional e rigorosa e que fixa em
cada criatura a sua destinação, é princípio imanente e
ordenador da Natureza. Segundo Marco Aurélio, é a
razão que rege a Substância Universal, que “tudo produz
e tudo completa”, e, com efeito, sabe como o Todo “está
disposto, o que com ele faz e com que matéria” o faz
(Meditações, livro VI, I e V). O Lógos e a Natureza são a
mesma coisa, isso ficara mais claro adiante, o Todo em
sua totalidade representa a realidade total e compreende
o Todo, que representa a realidade do mundo, em que
compreende os corpos e o vazio. É importante dar
ênfase, sem cair em termos técnicos, que o Todo em sua
totalidade que representa a realidade total é a noção de
tó pan e a noção do Todo em que compreende o mundo
e o vazio é a noção de tó hólon, o que nos importa é a
concepção de tó pan, do Todo em sua totalidade
absoluta.

O termo Lógos é significativo em seu emprego, pois


expressa um princípio de imanência e racionalidade. Ao
invés dos estoicos utilizarem o termo nous, ou seja, um
termo que signifique pensamento e inteligência, eles
optam por manter o sentido heraclitiano de Lógos. O
termo Lógos, como já indicado, possui um significado
polissêmico, além de indicar um princípio de verdade,
criador e normativo, pode vir a indicar, dentro da
tripartição da filosofia, o “objetivo e o subjetivo, o
antropológico e o cosmológico, o gnosiológico e o
ontológico”. Assim, no estoicismo o termo Lógos possui
um sentido diferente do comumente usado na filosofia
antiga, em especial aos sofistas que entendem que o
lógos diz somente ao discurso; ou ainda a Platão que
entende o lógos como parte superior da alma e também
a parte racional, que sobrevive após da morte; e a
Aristóteles, que entende o lógos como conhecimento
universal que é o objetivo da ciência.

O estoicismo conceitua o Ser como um corpo, ou seja,


tudo que existe é aquilo é capaz de agir e de sofrer uma
ação de outro corpo, isto é, tudo que é e que existe
possui uma existência corpórea, ou seja, em termos
técnicos, é uma ontologia corporealista. Isso implica em
que se o mundo existe ele é, consequentemente, em sua
constituição, um corpo único, uma totalidade, e o que os
une é própria Natureza, logo, ela [a Natureza] se
apresenta como a lei que regula os fenômenos, como a
lei ordenadora e como a alma que vivifica os corpos
(pneuma), ou seja, o Lógos é inerente e inseparável na
Natureza, portanto, o Lógos é imanente à Natureza.

O estoicismo mantém a dualidade causal do


hilemorfismo, em outras palavras, tudo é causa e
matéria. O estoicismo aceita somente a noção de causa
eficiente. A causa imprime uma forma à matéria (hýle).
Nos termos estoicos, o Lógos ou a racionalidade
imanente imprime uma forma aos corpos materiais, ou à
matéria. Se o mundo é um corpo, e corpo é matéria que
possui uma forma, o mundo (to hólon) recebe a forma
pela razão divina, ou pela Natureza, pois “a razão
(Lógos) que rege sabe como está disposta, o que faz e
com que matéria” (Meditações, Livro VI, 5). Com efeito:

A substância do universo (to hólon) é dócil e maleável; a


razão (Lógos) que a rege não tem em si nenhum motivo
de fazer o mal; não tem maldade, não faz mal nenhum e
dela nada recebe nenhum dano. Tudo se produz e
completa de acordo com ela. Assim, a Física estoica
elabora uma visão dinâmica, orgânica e racional da
Natureza, ela é governada e ordenada de maneira
inteligível e providencial, ou seja, a Providência rege de
forma que tudo ocorra da melhor maneira possível.
(Marco Aurélio, Meditações, Livro VI, 1).

A Natureza apresenta uma visão divina, pois, como o


Demiurgo platônico, é o que dá forma a matéria, e como
o Lógos e a Natureza são a mesma coisa, o Lógos é visto
como algo divino e da mesma forma, a Natureza é
relacionada aos deuses. Dessa forma, a Natureza é o
princípio ativo, é causa a imanente e necessária, que
penetra toda a matéria e todos os corpos. Esse princípio
ativo possui vários nomes: mente ou alma, natureza e
principalmente, é referido como o próprio Deus, com
efeito:
Segundo os estoicos, os princípios do universo são dois,
o ativo e o passivo. O principio passivo é substância sem
qualidade, a matéria; o princípio ativo é a razão na
matéria, isto é, deus. E deus, que é eterno, é demiurgo
criador de todas as coisas no processo da matéria.
(Diógenes Laércio, VIII, 134).

Como a Natureza e o Todo representam um corpo só, a


Natureza é a própria totalidade em absoluto (tó pan),
pois o mundo é “um vivente único, composto de uma
única substância e de uma única alma” (Marco Aurélio,
IV, 40). Dessa forma, a ordem que governa o Todo é a
mesma ordem que regula a Natureza, pois “tudo de
cumpre segundo a Natureza do universo” (Marco
Aurélio, VI, 9). Portanto, sendo a Natureza igual ao
Todo, e a Ordem do Todo é o próprio Lógos imanente, e
esse Lógos é a inerente ao Todo, a Natureza e o Todo
possuem a mesma essência, que é a própria razão
imanente ordenadora do Cosmos. E se o Lógos é o
principio racional imanente, criador, ordenador e
necessário, logo, o Lógos é o próprio Deus, e sendo a
Natureza o próprio Lógos, então a Natureza é o próprio
Deus, assim, Deus, ou seja, a Natureza.

Deus é o principio ativo, imanente, necessário, criador e


ordenador. Está presente no Todo e é o próprio Todo
em absoluto, é “todo o Cosmo e o Céu”. E ainda: Cosmo
tem, para os estoicos, um tríplice significado: primeiro,
Deus mesmo, cuja qualidade é idêntica à de toda
substância do universo; ele é por isso, incorruptível e
ingênito, criador da ordem universal, que, em
determinados períodos de tempo, absorve em si toda a
substância do universo e, por sua vez, a gera de si.
(Diógenes Laércio, VII, 148).

Dessa forma, o estoicismo é panteísta, pois acredita que


Deus está no Todo, no tó pan, na Natureza, no homem e
nos corpos do Universo. O estoicismo é a primeira
filosofia que sistematiza essa noção panteísta de Deus.
Essa concepção reaparece na modernidade sobre o
nome de Baruch de Spinoza. O panteísmo estoico pode
ser lido como um ateísmo, pois nega uma divindade
transcendente e também como um teísmo, pois a
divindade é um pressuposto necessário ao sistema
filósofico.

Concluo assim, indicando que essa concepção da


Natureza e de Deus tem implicações na ética, pois
implica na existência do ser humano no mundo. Por que
a Natureza (phýsis) representa o seu sentido além do
estritamente cosmológico, representa também a própria
conotação da essência (phýseos) dos corpos no mundo,
além da própria essência do Universo. Já que a essência,
a natureza do Universo, é o Lógos imanente, a essência
do humano é a também o lógos, ou seja, a razão e a
capacidade de usa-la, e compreendo a nossa própria
natureza é possível compreender a natureza do Todo,
em outras palavras, compreendo o uso da razão, do
nosso lógos, é possível entender como o Lógos, ou a
razão imanente, opera a Natureza. Segundo Marco
Aurélio, que admite essa importante conotação entre a
Natureza e a essência do ser humano e suas implicações
éticas, em suas palavras:

Deves sempre lembrar qual a Natureza do Universo,


qual a minha, qual a relação entre esta e aquela, qual
parte sou de qual universo e que ninguém e impede de
fazer e dizer o que é consequência da natureza de que és
parte. (Meditações, Livro II, 9, 1973).

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Categoria: Espiritualidade, Filosofia, Filosofia Antiga,
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