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Recebido em: 02/06/2013

Aprovado em: 21/06/2013

OS EFEITOS PSICOLÓGICOS DA PRÁTICA DO RITUAL MAÇÔNICO

Rafhael Guimarães ¹

Resumo
O presente artigo visa realizar análise comparativa da psicologia junguiana com a simbologia maçô-
nica, mais especificamente com os símbolos contidos em uma Loja Maçônica do Rito Escocês Anti-
go e Aceito e em suas práticas ritualísticas, além de observar os efeitos psicológicos da prática da
ritualística do referido rito maçônico sobre seus adeptos.

Palavras-chaves: psicologia junguiana; simbologia; maçonaria.

Abstract
This paper aims to conduct a comparative analysis of Jungian psychology with Masonic symbol-
ism, more specifically with the symbols contained in a Lodge of the Ancient and Accepted Scot-
tish Rite and its ritual practices, in addition to observing the psychological effects of the practice
of ritualistic on the practitioners of that masonic rite.

Keywords Jungian psychology, symbology, Freemasonry.

¹ Rafhael Guimarães é Mestre Maçom, membro da GLMEES; e Maçom do Real Arco, filiado ao SGCMRAB. Além de per-
tencer a outras Ordens Iniciáticas, ministra cursos e palestras sobre Cabala, Astrologia e Tarô.

C&M | Brasília, Vol. 1, n.1, p. 21-28, Jan/Jun, 2013.


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GUIMARÃES, Rafhael. OS EFEITOS PSICOLÓGICOS DA PRÁTICA DO RITUAL MAÇÔNICO

Introdução ação do inconsciente de uma camada mais pro-


funda, que chamou de Inconsciente Coletivo, que
A definição mais comum de Maçonaria é a são formas ou imagens de natureza coletiva que
de que Maçonaria é ―um belo sistema de morali- se manifestam praticamente em todo o mundo
dade velado em alegoria e ilustrado por símbo- como constituintes dos mitos e, ao mesmo tem-
los‖ (ZELDIS, 2011). Isso já diz muito sobre a ins- po, como produtos individuais de origem incons-
tituição e seu modo de ensino e aprendizagem, ciente, que influenciam toda nossa psique (JUNG,
que ocorre por meio de rituais repletos de alego- 2011c).
rias e expressões simbólicas. No entanto, entre o
desdobramento do ritual e o comportamento Ao contrário da escola freudiana, que afir-
moral de seus praticantes há um mecanismo psi- ma que os mitos estão profundamente enraiza-
cológico que não pode ser ignorado e cuja com- dos dentro de um complexo do inconsciente, pa-
preensão pode colaborar um melhor entendi- ra Jung, a origem atemporal dos mitos reside
mento da razão da Maçonaria atrair ao longo dos dentro de uma estrutura formal do inconsciente
séculos o interesse de tantos distintos homens e coletivo. Torna-se assim uma diferença conside-
a ira de tão perigosos inimigos, como os nazis- rável para Freud, que nunca reconheceu a auto-
tas, papas e o Comintern – Comitê Comunista nomia congênita da mente e do inconsciente,
Internacional (ROBERTS, 1969). enquanto que, para Jung havia uma dimensão
coletiva inata e com autonomia energética.
Este estudo tem por objetivo analisar as
influências psicológicas que a prática ritualística As ideias apresentadas por Jung foram o
maçônica, suas falas, movimentos, símbolos, dra- embasamento científico que o estudioso das Re-
mas e alegorias, pode ter sobre seus praticantes. ligiões e Mitologias Comparadas, Joseph Camp-
bell, adotou para sustentar as similaridades exis-
Muitos talvez possam julgar os rituais ma- tentes entre todas as religiões e mitologias da
çônicos como ingênuos, ultrapassados, estranhos história. Tal conceito chamado anteriormente de
ou até mesmo supersticiosos. Serão apresenta- ―Monomito‖ ² por Jaymes Joyce, foi esmiuçado
dos neste estudo indícios de que tanto os rituais por Campbell, que mostrou todo o roteiro da
como a mitologia possuem as mesmas fontes de manifestação arquetípica do herói, que se encon-
origem — o inconsciente (CAMPBELL, 2007; trava representado em todo o mundo como um
JUNG, 2005). arquétipo do Inconsciente Coletivo (JUNG, 2010;
Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre JUNG, 2011a).
as religiões e mitologias da humanidade, e todas Assim, será com base nas obras de Camp-
essas, de uma forma ou de outra, podem ser en- bell e Jung o desenvolvimento deste artigo, que
contradas em alguma medida, representadas nas visa comparar e reapresentar o simbolismo ma-
alegorias maçônicas (MAXENCE, 2010). çônico sob a ótica científica da Psicologia Jun-
Foi em 1900 que Sigmund Freud apresen- guiana e da Ciência das Religiões.
tou ao mundo sua teoria do Inconsciente, na
obra ―A interpretação dos sonhos‖ (FREUD,
1972). O conceito de Inconsciente já existia de Análise Comparativa da Psicologia Junguiana
alguma forma desde a Grécia Antiga, contudo foi com o Simbolismo Maçônico
somente com Carl Gustav Jung que tal teoria en- O que é um Símbolo? ³
controu sua plenitude, alcançando um sentido
Os símbolos são, em síntese, metáforas e
mais amplo, quando o mesmo diferenciou a atu-
compêndios de um conhecimento sensivelmente
² O termo “Monomito” é de autoria de James Joyce, da obra “Finnegans Wake”.
³ O conceito adotado nesta obra de símbolo é o da Psicologia Junguiana, que difere do conceito semiótico de símbolo instituído
por Ferdinand de Saussure, pai da linguística, bem como também difere parcialmente de certas análises Psicanalíticas de Freud.

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elevado (CAMPBELL, 2007), mas que em outras outra visão dos arquétipos, que se encontra cen-
palavras, são manifestações exteriores dos ar- trada nos três arquétipos relativos ao chamado
quétipos. Os arquétipos só podem se expressar ―Complexo de Édipo‖, que, por suas característi-
através dos símbolos em razão de se encontra- cas peculiares, possui proximidades com a antro-
rem profundamente escondidos no inconsciente pologia e com a linguística, ao passo que a visão
coletivo, sem que o indivíduo os conheça ou apresentada neste artigo, Junguiana, possui pro-
possa vir a conhecer (JUNG, 2011b). Dessa forma, ximidades com os conceitos do Inconsciente Co-
em nosso nível comum de consciência, para letivo sustentados pelo sociólogo francês Émile
compreendermos um elevado sentimento conti- Durkheim, um dos pais da Sociologia Moderna,
do no Inconsciente Coletivo, necessitamos dos onde em sua obra o define como o conjunto de
símbolos, gestos existentes desde o início da hu- crenças e sentimentos autônomos de uma socie-
manidade (CAMPBELL, 2008; JUNG, 2011a). dade (DURKHEIM, 2004). Suas teorias também
Essas afirmações precedentes necessitam influenciaram Freud, mas com devido efeito,
de um exemplo hipotético: O amor da mãe para acham-se proficuamente delineadas nas obras de
com seu filho jamais seria compreendido por pa- Jung.
lavras ou descrições objetivas, como números ou
letras. Em vez disso, podemos, ao invés de escre- O Templo Maçônico do Rito Escocês e a Psi-
ver sobre tal amor, apenas apresentar o conheci- que Humana
do símbolo do coração. Deste modo, mesmo que
parcialmente, a noção que teremos a respeito do Os maçons são unanimes em dizer que o
amor de uma mãe para com seu filho, será muito Templo Maçônico´ é simbólico, e como já vimos,
mais próxima do que as expressadas por meras o símbolo é muito mais do que mera ornamenta-
palavras (JUNG, 2011d). ção artística para representar algo (JUNG, 2012).
Importante registrar que o templo maçônico não
As mitologias e sentimentos são comu- é uma réplica do Templo de Salomão, se não
mente manifestados por meio de símbolos e apenas simbolicamente inspirado no Templo de
gestos. Do mesmo modo, a Maçonaria atua atra- Salomão, mas contendo muitas outras influên-
vés da ritualística das suas iniciações e instru- cias, de acordo com o Rito adotado (ISMAIL,
ções. Os símbolos e gestos atuam como um ca- 2012). No caso do presente estudo, refere-se a
talizador de sentimentos de seus praticantes um templo do Rito Escocês Antigo e Aceito.
através do mito trabalhado pelo grupo-cultura
(CAMPBELL, 2008). O avanço moral que a Maço- Portanto, toda a ornamentação e divisão
naria proporciona a seus adeptos é, além de do templo não é fruto do acaso, a começar pela
consciente, educativo e ético, também um refor- Sala dos Passos Perdidos, mais adiante o Átrio, a
ço psicológico. Câmara ou Caverna de Reflexões, e finalmente o
Templo em si. Todos estes compartimentos são
A diferença crucial entre símbolo e arqué- estágios há muito tempo utilizados para separar
tipo é que o primeiro pode ser visto e em alguns o sagrado do profano (VAN GUENNEP, 2011).
casos também tocado e sentido, ao passo que o
segundo pode ser apenas sentido, e mesmo as- Nesse contexto, o ritual tem por objetivo a
sim, somente por intermédio do primeiro. Por- realização da passagem de um estado de consci-
tanto, para que haja símbolos, deve antes haver ência para outro, estados esses chamados maço-
arquétipos, pois aqueles são a manifestação des- nicamente de profano e sagrado, e em última
tes em menor escala (JUNG, 2011d; JUNG, 2012). análise, o templo com suas divisões simboliza o
Contrariamente a esta teoria junguiana agora estado de consciência em que nos encontramos.
apresentada, observamos na psicanálise de Freud Desta forma, o templo em si representa um esta-
´ O termo “templo maçônico” é comumente usado nos ritos maçônicos de origem latina. Os de origem anglo-saxônica costumam
chamar o local de reuniões de “Sala da Loja”.

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do intransponível de pureza e santidade para vida e usada em nossas interações mundanas, ou


seus membros. As funções-cargos expressas no profanas, no vocabulário maçônico. É nossa face
ritual e as disposições do templo são personifica- externa consciente, nossa máscara social, como
ções simbólicas das leis psicológicas que atuam veículo não de nossa real vontade, mas da nossa
na psique (CAMPBELL, 2007; MAXENCE, 2010), necessária aceitação (JUNG, 1978; HALL & NOR-
conforme será demonstrado neste estudo. DBY, 2010). Assim que, nas iniciações maçônicas,
Rituais ou simples gestos simbólicos iden- o gesto dos candidatos serem despidos de todos
tificam nossa consciência com o campo essencial os metais, e iniciarem todos exatamente da mes-
de ação. O soldado que retorna da guerra, ao ma forma, significa que, naquele momento, o in-
passar pelo Arco do Triunfo, um rito de passa- divíduo despe-se de suas personas. Esse des-
gem, acaba deixando a guerra para trás. Da mes- prendimento se faz necessário visto que, confor-
ma forma, ao passarmos pela sala dos passos me Jung, no nível do inconsciente pessoal – que
perdidos e posteriormente pelo átrio, sabemos citaremos logo adiante – não há persona, a qual
que estamos em um local consagrado para a se manifesta apenas no nível consciente.
prática do bem, o Templo Maçônico. Assim, as O crescimento psicológico ocorre, de
salas que antecedem o templo, cumprem a fun- acordo com Jung, quando alguém tenta trazer o
ção psicológica de devidamente introduzir o conteúdo-conhecimento do inconsciente, para o
adepto em um local que, por meio de seus sím- nível consciente, e estabelecer uma relação entre
bolos, colabora para o ingresso a um estado da a vida consciente e o nível arquetípico da exis-
consciência necessário para que o ritual cumpra tência humana (JUNG, 1978; JUNG, 2011b). O ho-
seu dever cognitivo de forma efetiva (JUNG, mem que assim o fizer, haverá de reconhecer as
1978; VAN GUENNEP, 2011). origens de seus problemas no próprio inconsci-
De acordo com a psicologia analítica de ente, pois a pessoa que não torna consciente su-
Carl G. Jung, a psique divide-se em três níveis: A as limitações e defeitos, acaba por projetar sobre
consciência, o inconsciente pessoal e o inconsci- os outros tais percepções negativas (HALL &
ente coletivo (HALL & NORDBY, 2010). Conforme NORDBY, 2010). Fazendo o devido paralelo, o
se segue abaixo, tais divisões se conciliam em crescimento na senda maçônica somente ocorre
significados e funções com os cômodos de uma quando se aplica no chamado mundo profano o
Loja Maçônica do Rito Escocês Antigo e Aceito, que se estuda e aprende no mundo maçônico,
ou seja, sala dos passos perdidos, átrio e templo, que é neste quadro comparativo o referido in-
sendo que na parte interior, teremos o ocidente consciente pessoal, e assim tem-se a oportunida-
e o oriente. de de transformar o conhecimento em sabedoria.

Nível 1 – Consciência: Sala dos Passos Perdidos Nível 2 - Pré-consciência: Átrio


A consciência é a única parte da psique a Para Freud, a consciência humana se sub-
qual conhecemos direta e objetivamente (HALL divide em três níveis, chamados de Consciente,
& NORDBY, 2010), e nela tudo ocorre geralmen- Pré-Consciente e Inconsciente. O estado inter-
te de forma racional e lógica. Da mesma forma, mediário entre a Consciência, abordada no Nível
isso também ocorre antes de adentrarmos ao 1, e o Inconsciente, que será abordado no Nível
templo, pois é na sala dos passos perdidos que 3, é o de Pré-consciência, o qual tem por caracte-
tudo ainda ocorre de forma desprovida de ques- rística uma experiência munida de relativo equilí-
tões oníricas, sem sinais ou gestos simbólicos. brio entre um material perceptível e um material
latente (FREUD, 1972).
O significado psicológico de persona, para
Jung, é aquela parte da personalidade desenvol- Dessa forma, tem-se o átrio do templo

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maçônico como representativo desse estado de Assim como o ritual maçônico não é literal
pré-consciência, visto o átrio, apesar de muitas e tem por objetivo transmitir instruções morais,
vezes interpretado como sendo uma extensão do os sonhos também não o são e, segundo Jung
templo, é fisicamente um cômodo intermediário (2011d), o crescimento e amadurecimento moral
entre a sala dos passos perdido e o templo ma- são a real e efetiva finalidade dos sonhos. Des-
çônico. Nele ocorre o momento de transição en- tarte, em ambos os casos perde-se o efeito do
tre os estados psicológicos, em que os maçons lógico e racional, para com isso, trabalhar o sim-
se concentram, geralmente com as luzes apaga- bólico e onírico. Sendo assim, interpretar o ritual
das, para se desvencilharem dos problemas e maçônico de forma literal é um erro lastimável,
pensamentos do chamado ―mundo profano‖ e ao passo que o sonho, inexoravelmente, também
adentrarem ao interior do templo. Assim, o átrio deve ser interpretado de forma não literal (JUNG,
se assemelha em correspondência com o pré- 2012).
consciente na medida em que ambos não possu- Os conceitos de Anima e Animus foram
em uma natureza específica, mas sim transitória. talvez as duas mais importantes descobertas de
Portanto, este estado intermediário tem por ob- Jung. Ambos são aspectos inconscientes de um
jetivo introduzir o personagem no recinto onírico indivíduo. O inconsciente do homem encontra
e simbólico seguinte. ressonância com o arquétipo feminino, chamado
de Anima, enquanto que a mulher associa-se
Nível 3 – O Inconsciente Pessoal: O Templo com o arquétipo masculino, chamado de Animus.
Maçônico Cabe notar que quando se fala de masculino e
feminino, em se tratando de Animus e Anima,
Todas as experiências que se têm, mesmo está se referindo às expressões e características,
aquelas consideradas esquecidas, mas que toda- e não algo literal (JUNG, 2011b; JUNG, 2012),
via não deixaram de existir, são armazenadas no pois, como supramencionado, o inconsciente re-
inconsciente pessoal. É nesse nível que ocorrem side em um nível atemporal, inteiramente psico-
os sonhos quando se está dormindo, e como to- lógico, portanto não material.
dos sabem, tais eventos sonhados são dotados
de acontecimentos surreais e ilógicos perante a A Anima manifesta-se na psique de forma
nossa realidade objetiva (JUNG, 2005). emocional, passiva e intuitiva, por outro lado, o
Animus manifesta-se de forma racional, ativa e
Assim o Inconsciente Pessoal encontra objetiva. Jung costuma relacionar Anima ao deus
correspondência com o templo maçônico, onde grego Eros, o deus do Amor, ao passo que Ani-
a ritualística e os símbolos alcançam a totalidade mus é relacionado com o termo Logos, que sig-
dos trabalhos, e estes retratam bem o estado fic- nifica verbo, razão (JUNG, 1978). No templo ma-
tício e mítico do drama maçônico, estado este çônico tal equilíbrio dual é conhecido pelas duas
que – paralelamente – também é encontrado nos colunas, Boaz e Jaquim. No Rito Escocês, os
sonhos, com seus símbolos abstratos, passagens Aprendizes Maçons tomam assento do lado da
ilógicas e surreais, onde tanto no estado onírico coluna Boaz, e ali são instruídos sobre a educa-
como na ritualística, pode-se viajar do Oriente ao ção moral, espiritualidade e ética maçônica, con-
Ocidente com alguns poucos passos, e do ama- ceitos perfeitamente associados ao arquétipo de
nhecer ao pôr do sol, vai-se em alguns minutos, Anima. Já do lado da coluna Jaquim tomam as-
semelhante ao que ocorre nos sonhos, pois no sentos os Companheiros Maçons, que, ao contrá-
nível do inconsciente pessoal não há uma limita- rio dos aprendizes, possuem suas instruções vol-
ção objetiva. Da mesma forma o simbolismo da tadas para as artes ou ciências liberais, bem co-
ritualística não possui um senso lógico. Ambas mo para algum conhecimento esotérico, que são
linguagens (sonhos e ritualística) são figuradas. características de Animus. Ao Oriente vê-se o Sol
e a Lua, que são símbolos conhecidos do Animus

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e da Anima. ros e Mestres, onde se encontra o chamado Tro-


Desta forma, Boaz e Jaquim, representam no de Salomão e que possui estampado o olho
Anima e Animus, e a consecução entre ambas que tudo vê no Rito Escocês Antigo e Aceito.
colunas representa o Casamento Alquímico, a Assim como o inconsciente coletivo dis-
totalidade do ser, ou seja, o Equilíbrio Perfeito, o põe da pré-formação psíquica da psique (JUNG,
Mestre. Aquele que caminha com tal união, anda 1978), o direcionamento dos trabalhos vem do
pelo caminho ou câmara do meio (CAMPBELL, Oriente da Loja, além de que as informações ori-
2008), no nosso caso, o Mestre Maçom. ginais da Loja, presentes na carta constitutiva,
também se localizam na região do sólio.

Nível 3 – Inconsciente Coletivo: Sólio do Ori-


ente Os efeitos e sinais da Ritualística Maçônica no
Teoria proposta pela Psicologia Analítica, Inconsciente
o inconsciente coletivo difere do inconsciente Os rituais praticados e todas as suas repe-
pessoal, visto que não se trata de experiências tições centram o indivíduo dentro dos propósitos
individuais, mas, como o nome sugere, são expe- do mito, pois o ritual é a simples representação
riências coletivas (JUN, 1978). Trata-se de uma do mesmo. Ao participar de um ritual, vivencia-
espécie de reservatório de imagens, essas cha- se sua mitologia. Assim, tais gestos e movimen-
madas de imagens arquetípicas. Tais imagens e tos transcendem os adeptos (CAMPBELL, 2008),
concepções são herdadas pelo homem de forma como, por exemplo, na execução mito de Hiram
inconsciente através do inconsciente pessoal. O Abiff, que ocorre no grau de Mestre Maçom. Tor-
inconsciente coletivo estimula no homem desde nar-se Mestre Maçom é o mesmo que Jung cha-
o nascimento um comportamento padrão pré- mava de processo de individuação para realiza-
formado. Assim, recebemos a forma do mundo ção do Si mesmo (MAXENCE, 2010).
em uma imagem virtual e essa imagem transfor- Quanto à ritualística e seu potencial psico-
ma-se em realidade consciente quando, durante lógico, Jung (2011b), discorre sobre a psicologia
a vida, identificamos os símbolos a ela corres- analítica e as formas de atuar no inconsciente
pondentes (JUNG, 2011b). pessoal do indivíduo:
Os conteúdos do inconsciente coletivo Outra forma de transformação é alcançada
são denominados de arquétipos. Um arquétipo é através de um ritual usado para este fim. Em vez
compreendido como um modelo original que de se vivenciar a experiência de transformação
conforma outras coisas do mesmo tipo, seme- mediante uma participação, o ritual é intencio-
lhante a um protótipo (JUNG, 2011b). Tanto o nalmente usado para produzir tal transformação.
inconsciente coletivo como o arquétipo se con- (...) Se recebe um novo nome e uma nova alma,
fundem com aquilo que chamamos de egrégora. ou ainda passa-se por uma morte figurada,
Jung acreditava que tanto a experiência transformando-se em um ser semidivino, com
quanto a prática religiosa eram fenômenos que um novo caráter e um destino metafísico trans-
tinham sua fonte no inconsciente coletivo (JUNG, formado. (Os Arquétipos e o Inconsciente Coleti-
2011c). O céu, o inferno, o Jardim do Éden, o vo, CARL GUSTAV JUNG, 2011, p. 231)
Olimpo, são interpretados pela psicologia jun- Desta forma, o indivíduo que vivencia o
guiana e freudiana como símbolos do inconsci- ritual, as iniciações, elevações e exaltações, acaba
ente (JUNG, 2011c; FREUD, 1972), e se enqua- por se transformar, seja pelas convicções consci-
dram ao simbolismo do dossel e do sólio no Ori- entes ou pela influência do inconsciente (JUNG,
ente, localizado a sete degraus acima do nível 1978).
onde se encontram os Aprendizes, Companhei-

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Os maçons devem, portanto, realizar refle- te em torno da Terra. Assim, essas civilizações,
xões da simbologia maçônica. Ao executar um tendo sempre o aparente movimento do Sol co-
ritual de alto valor cultural, com gestos e passa- mo referência, adotavam a circulação em sentido
gens incomuns à sociedade, o qual, sob um olhar horário, tendo altares, fogueiras, totens ou sacri-
cético e profano, pode ser considerado como in- fícios como eixo de seus templos (ISMAIL, 2012).
fantil e ingênuo, deve o maçom analisar tais mo- A função psicológica da ritualística maçô-
vimentos a nível psicológico, onde reside sua nica é a de restaurar um equilíbrio psicológico
maior força e resultado. Ademais, abordar o ritu- por meio do sistema mitológico proposto pela
al maçônico ou qualquer outro ritual sem um en- instituição, de modo a produzir um material oní-
tendimento psicológico e simbólico do seu signi- rico no inconsciente de seus membros (JUNG,
ficado, é como ver animais nas nuvens, ou seja, 2005). Desta forma, o conhecimento da Maçona-
um exercício de vontade e imaginação sem mai- ria retrata um estudo do inconsciente, tanto do
ores resultados. inconsciente pessoal, através dos efeitos diretos
Conhecendo a antropologia das socieda- da ritualística, como do inconsciente coletivo,
des primitivas, Jung comparou a vida com a tra- através do estudo da Mitologia Maçônica.
jetória do sol em um dia. A primeira parte, do Nos rituais tribais de iniciação os mem-
nascimento para a sociedade, é semelhante ao bros recebem uma marca, que nos tempos atuais
amanhecer do sol. A segunda parte, da participa- figura como simbólica (VAN GUENNEP, 2011), e
ção efetiva no mundo e na sociedade, é seme- que distinguem o iniciado dos não iniciados. Na
lhante ao meio dia. E, enquanto o desafio da pri- iniciação no Rito Escocês isso ocorre com uma
meira metade da vida é a própria vida, o desafio chancela no peito esquerdo. Seja uma marcação
da segunda metade é a própria morte, represen- física ou apenas simbólica, tais atos ritualísticos
tada pelo anoitecer (CAMPBELL, 2008; JUNG, operam igualmente no inconsciente (JUNG,
2005). 2005).
Para o primitivo não bastava ver o Sol A prática de diferentes termos linguísticos
nascer e declinar. Esta observação exterior cor- também é usada para separar o sagrado do pro-
respondia a um acontecimento anímico, isto é, o fano nos grupos religiosos (VAN GUENNEP,
Sol representava em sua trajetória o destino de 2011). Este exemplo é um dos diferenciais da ri-
um Deus. Todos os acontecimentos mitologiza- tualística maçônica, onde uma linguagem própria
dos da natureza, tais como o verão, inverno, é comumente adotada. Inúmeros são os exem-
amanhecer, meio dia e por do sol, as fases da lua, plos disso no Rito Escocês, como justo e perfeito,
as estações, não são alegorias destas experiên- tronco, Huzzé, sólio, pálio, veneralato e muitos
cias objetivas, mas sim, expressões simbólicas do outros.
drama interno e inconsciente da alma, que a
consciência humana consegue apreender através
da dramatização dos rituais maçônicos (JUNG, Conclusões
2011b). Em síntese, a mitologia pode ser entendi-
Outro detalhe ritualístico curioso relativo da, sob a ótica da Psicologia Junguiana, como
ao sol é a circulação em sentido horário, também um sonho coletivo, sintomático dos impulsos ar-
chamada de dextrocentrica. Uma prática tão anti- quetípicos existentes no interior das camadas
ga quanto a Maçonaria. Os gregos e romanos profundas da psique humana (JUNG, 1978), ou,
tinham o lado direito como favorável, visto que numa visão religiosa, como a revelação de Deus
este, de forma geral, favorece mais seu dono do aos seus filhos. Tanto a mitologia como os seus
que o esquerdo. Relacionaram tal procedimento símbolos são metáforas reveladoras do destino
ao aparente movimento que o Sol faz diariamen- do homem e nas diversas culturas são retratadas

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GUIMARÃES, Rafhael. OS EFEITOS PSICOLÓGICOS DA PRÁTICA DO RITUAL MAÇÔNICO

de diferentes formas (CAMPBELL, 2007). Sendo Junguiana. São Paulo: Cultrix, 2010.
assim, a vivência do drama de um mito nada ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo:
mais é do que uma ferramenta de compreensão Universo dos Livros, 2012.
e promoção do crescimento psicológico do indi- JUNG, Carl Gustav. Interpretação psicológica do Dogma da
viduo, sendo esta a função principal do mito Trindade. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
(CAMPBELL, 2008). Assim, a análise para toda JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Rio de Ja-
questão mitológica, como também, este estudo neiro: Editora Nova Fronteira, 2005.
da ritualística maçônica em questão, é, por derra- JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo.
deiro, o estudo da psique humana. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
Em várias sociedades e cultos primitivos, a JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente. Rio de Ja-
neiro: Vozes, 1978.
prática religiosa consistia em vivenciar a Mitolo-
gia de forma direta, pois o mito poderia influen- JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia. Rio de Janeiro:
Vozes, 2012.
ciar o executor da prática religiosa de forma indi-
reta no decorrer das cerimônias, por intermédio JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião. Rio de Janeiro:
do inconsciente. Assim o crescimento e a finali- Vozes, 2011.
dade da Mitologia aconteciam de forma particu- JUNG, Carl Gustav. Símbolos e interpretação dos sonhos.
lar em cada um, como uma semente que aos Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
poucos iria germinando (JUNG, 2005). Entendi- LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. 20ª Edição.
mento similar ocorre na Maçonaria e é explicita- São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2012.
do quando maçons dizem aos neófitos na Pala- MAXENCE, Jean-Luc. Jung é a aurora da Maçonaria. São
vra a Bem da Ordem que ―hoje você entrou para Paulo: Madras, 2010.
a Maçonaria, mas precisa deixar que a Maçonaria MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São
entre em você‖. A tradição maçônica conserva Paulo: Pensamento, 2007.
esses costumes como forma de instrução aos ROBERTS, J. M.: Freemasonry: Possibilities of a Neglected
seus membros, sendo atualmente uma das pou- Topic. The English Historical Review, Vol. 84, No. 331, p.
323-335, 1969.
cas instituições em que o homem pode ter con-
tato com tais experiências (BLAVATSKY, 2009). STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maçonaria. São Pau-
lo: Pensamento, 2011.
VAN GUENNEP, Arnold. Os Ritos de Passagem. Rio de Ja-
Referências Bibliográficas neiro: Editora Vozes, 2011.
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