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ÓRGÃOS DE MÁQUINAS I
Terceira versão da brochura da disciplina
Monte de Caparica
2012
Introdução
Comparativamente à segunda versão esta contém um capítulo sobre rolamentos, o qual ainda
está numa fase inicial de desenvolvimento. No capítulo relativo às transmissões com correias
foram incluídas algumas expressões normalmente utilizadas no cálculo. Na maioria dos
restantes capítulos foram introduzidas modificações mais ou menos significativas.
O autor considera que este documento ainda está incompleto no universo e no pormenor com
que as matérias são apresentadas. A disponibilização deste documento aos alunos justifica-se
pelo compromisso assumido em apresentar um elemento complementar de estudo antes da
data de exame. O autor solicita aos leitores as suas sugestões para a melhoria deste trabalho.
Introdução ................................................................................................................................iii
Índice .........................................................................................................................................v
1 Fusos ......................................................................................................................................1
1.1 Características Gerais dos Fusos ..................................................................................1
1.2 Outras Características dos Fusos..................................................................................5
1.3 Relações entre Forças Generalizadas e as Características dos Fusos........................... 6
1.4 Aperto e Desaperto de Pares Conjugados de Fusos .....................................................7
1.5 Característica de Algumas Aplicações com Roscas...................................................10
1.6 Outras Particularidades das Roscas............................................................................12
1.7 Tensões nos Fusos ......................................................................................................14
1.7.1 Normal no Fuso Macho ....................................................................................15
1.7.2 Corte nos Filetes dos Fusos ..............................................................................16
1.7.3 Pressão nos Flancos .......................................................................................... 17
1.7.4 Uma Condição de Igual Resistência em Roscas Triangulares .........................18
3 Ligações Rebitadas............................................................................................................. 37
3.1 Cálculo de Ligações Rebitadas .................................................................................. 39
6 Molas ................................................................................................................................... 73
6.1 Molas Helicoidais ...................................................................................................... 75
6.2 Tensões em Molas Helicoidais .................................................................................. 75
6.3 Alongamento em Molas Helicoidais de Tracção e de Compressão........................... 78
6.4 Tensão Admissível em Molas Helicoidais................................................................. 79
6.5 Molas de Compressão................................................................................................ 81
6.6 Molas de Tracção....................................................................................................... 83
6.7 Molas Helicoidais de Torção ..................................................................................... 85
9 Rolamentos .......................................................................................................................125
Tabela 8.7 – Correias Trapezoidais. Potência Característica de uma Correia H tab (Hp). ....123
1 Fusos
Neste capítulo são apresentadas as principais características dos fusos.
(a) (b)
(c)
Figura 1.2 – Fusos. (a) Traçado de uma Hélice no Torno. (b) Obtenção de uma Rosca
Triangular. (c) Perfil de Rosca Triangular e Respectiva Figura Primitiva.
3
(a) (b)
Figura 1.3 – Fusos. (a) Rosca de Várias Entradas (Múltipla). (b) Roscas Triangulares de Três,
Duas e uma Entrada.
(a) (b)
Figura 1.4 – Fusos. (a) Rosca Exterior ou Macho (Parafuso) e Rosca Interior ou Fêmea (Porca).
(b) Elementos Geométricos do Perfil.
Figura 1.6 – Fusos. Figura primitiva, Perfil e Vista dos Tipos Mais Importantes de Roscas
(Além da Triangular).
As roscas podem ser cilíndricas ou cónicas. As roscas são esquerdas ou direitas consoante o
sentido do hélice.
Existem roscas para funcionamento com folga e outras para funcionamento com aperto. As
roscas cónicas são normalmente para funcionamento com aperto muitas vezes para garantir a
estanquidade de fluidos.
Para o mesmo diâmetro nominal cada sistema de roscas apresenta por vezes vários passos. O
passo normal e os passos finos. O passo mais fino é mais resistente, mais irreversível e mais
difícil de obter. Utiliza-se muitas vezes com vantagem em peças ocas (tubos).
6 FUSOS
(a) (b)
Figura 1.10 – Fuso Macho. (a) Características Fundamentais. (b) Duas Entradas (…).
7
O passo real obtém-se pelo produto do passo aparente pelo número de entradas:
l = Np (1.1)
p = passo aparente;
l = passo real;
d = diâmetro exterior (nominal);
di = diâmetro inferior;
N = número de entradas;
(a) (b)
d m = diâmetro médio;
F = força axial;
N = reacção normal entre as superfícies;
μ = factor de atrito;
l = passo real (avanço por rotação);
α = ângulo de rosca ( 2α = ângulo dos flancos);
λ = ângulo de hélice: λ = tan −1 (l /(π d m )) .
μ + l /(π d m ) μ − l /(π d m )
Pa = F Pd = F (1.2)
1 − μ l /(π d m ) 1 + μ l /(π d m )
dm dm
Ta = Pa Td = Pd (1.3)
2 2
d m (πμ d m + l ) d m (πμ d m − l )
Ta = F Td = F (1.4)
2 (π d m − μl ) 2 (π d m + μ l )
(1.5)
d m (πμ d m sec(α ) − l )
F ≤0 ⇔ πμ d m sec(α ) ≤ l
2 (π d m + μ l sec(α ) )
(1.6)
Ta.0
e=
Ta
(1.7)
onde:
Ta = momento de aperto.
Verifica-se que a eficiência é sempre inferior à unidade e tende para este valor com a
diminuição do factor de atrito.
Quando se utilizam roscas é frequente existir uma coroa circular de atrito como
exemplificado na Figura 1.13.
11
(a) (b)
Quando existe uma coroa de atrito os momentos de aperto e de desaperto são superiores aos
dados pelas expressões (1.4) e (1.5). Assim, deve-se somar àqueles momentos um termo TC
dC
TC = F μC (1.8)
2
onde:
F = força axial;
μC = factor de atrito na coroa;
dC = diâmetro característico da coroa de atrito; (muitas vezes considera-se o diâmetro
médio d C = (d1 + d 2 ) / 2 ).
(1.9)
Para o conjunto formado pela rosca e pela coroa de atrito os momentos de aperto e de
desaperto obtêm-se através da expressão (1.9). Neste caso o conjunto é reversível quando se
verifica a condição:
(1.10)
A eficiência do conjunto obtém-se pela expressão (1.7) sendo neste caso os momentos Ta.0 e
Se o passo do fuso for muito grande deixa de se poder apertar os fusos através da aplicação
de momento de aperto Ta .
13
(a) (b)
Característica Auto-Centrante
Enviesamento
Quando o fuso macho trabalha à compressão existe uma tendência para que os eixos dos dois
fusos fiquem desalinhados a qual é designada de enviesamento. Na condição de fuso macho
mais longo que o fuso fêmea os riscos de ocorrência de enviesamento aumentam com a
diminuição da altura do fuso fêmea.
Dado o menor ângulo de hélice as roscas de passo fino são mais irreversíveis que as roscas
de passo normal. As roscas de passo fino apresentam também maior resistência aos esforços
que as roscas de passo normal. São muitas vezes utilizadas em peças ocas como por exemplo
em tubos. Apresentam como principal inconveniente o custo mais elevado.
Na Tabela 1.2 apresenta-se uma comparação entre os tipos de roscas mais comuns.
Na apresentação seguinte considera-se a rosca triangular (ver Figura 1.15) numa aplicação
em que a altura do fuso fêmea é menor que a do fuso macho (maioria das aplicações). No
entanto a adaptação da formulação a outros casos é relativamente simples.
Os estados de tensão que se consideram resultam unicamente da força axial nos fusos não
incluindo outros efeitos. Assim, as tensões produzidas pelos momentos de aperto e de
desaperto dos fusos não são considerados na análise que a seguir se apresenta. No entanto,
também neste caso, a inclusão de outros efeitos é relativamente simples.
15
O par conjugado de fusos representado na Figura 1.15 pode ser dimensionado considerando
vários modos de falha. Muitas vezes consideram-se os modos de falha relacionados com as
seguintes tensões:
F
σm = (1.11)
A
A área A pode-se calcular através de duas expressões: uma mais conservadora, aqui
identificada por hipótese 1 (h1), e outra menos conservadora identificada por hipótese 2 (h2).
Na hipótese 1 considera-se que a resistência do fuso macho é igual à resistência de um
16 FUSOS
⎧π 2
⎪ 4 di se h1 (Ar no Shigley)
⎪
A=⎨ 2 (1.12)
⎪ π ⎛ di + d m ⎞ se h2 (A t no Shigley)
⎪⎩ 4 ⎜⎝ 2 ⎟⎠
⎧ 4F
⎪π d 2 se h1
⎪⎪ i
σm = ⎨ 4F
⎪ 2
se h2
⎪ π ⎛⎜ di + d m ⎞⎟
⎪⎩ ⎝ 2 ⎠
(1.13)
Admitindo que não existem outros carregamentos no fuso macho a tensão de comparação é
igual à tensão normal obtida através de (1.13) resultando:
σ COM = σ m ≤ σ ADM
(1.14)
⎧π 2
⎪ 4 di σ ADM se h1
⎪
F ≤⎨ 2 (1.15)
⎪ π ⎛ di + d m ⎞ σ se h2
⎪⎩ 4 ⎜⎝ 2 ⎟⎠ ADM
Podem-se obter estimativas das tensões de corte nos filetes do fuso macho e no fuso fêmea
através da expressão:
17
F F
τm = τf = (1.16)
π Di fp′ π dfp′
onde σ ADM.m e σ ADM.f são as tensões admissíveis no fuso macho e no fuso fêmea
π π
F≤ D i fp′σ ADM.m F≤ dfp′σ ADM.f (1.18)
2 2
7π 7π
F≤ dH σ ADM.m F≤ dH σ ADM.f (1.19)
20 16
A pressão média que ocorre entre os filetes em contacto obtém-se através da expressão:
π
pmf =
F
A
; A=
4
(d 2
)
− D i2 f ; f =H/p (1.20)
A pressão deverá ser inferior à pressão admissível a qual é escolhida em função das
características gerais do projecto pmf ≤ pADM.mf . Substituído a relação anterior na expressão
(1.20) obtém-se:
18 FUSOS
πH
F≤
4p
(d 2
)
− D i 2 pADM.mf (1.21)
9π H 2
F≤ d pADM.mf (1.22)
100 p
Naturalmente a pressão nos filetes do fuso macho é igual à pressão nos filetes do fuso fêmea.
Na maioria das aplicações o fuso fêmea é mais curto que o fuso macho e consequentemente
aquele é mais solicitado ao desgaste. Salienta-se no entanto que o desgaste é também
condicionado pelos materiais utilizados.
tensão de comparação correspondente ao corte nos filetes for σ COM.C pode-se escrever:
4F F
=2 ⇔ di 2 = 2 D i fp′ (1.24)
π di 2
π D i fp′
19
16
H= d 0.46d (1.25)
35
Como curiosidade refere-se que as relações entre a altura e o diâmetro nominal das porcas
mais comuns são para os perfis baixo, médio (normal) e alto H = 0.5d , H = 0.8d e H = d
respectivamente.
2 Ligações Aparafusadas
As ligações aparafusadas são desmontáveis completas e indirectas.
Figura 2.1 – Ligações Aparafusadas. Exemplos de Ligações com Parafusos com ou sem Porcas.
Uma das formas de indicar a classe de resistência corresponde à utilização de dois números
separados por um ponto. O primeiro número corresponde à centésima parte do valor mínimo
( )
da tensão de rotura em N/mm 2 (ou MPa): σ ROT / 100 N/mm 2 . O segundo número traduz o
décuplo da relação entre a tensão de cedência e a tensão de rotura: 10σ CED / σ ROT
Na Figura 2.3 apresenta-se uma ligação entre duas chapas realizada por um parafuso. O
carregamento que a ligação aparafusada tem de suportar traduz-se por uma força E paralela
às chapas e consequentemente perpendicular ao eixo do parafuso. Normalmente pretende-se
que a ligação resulte unicamente do atrito entre as chapas, não devendo ocorrer forças de
corte no parafuso. No entanto, por razões de segurança faz-se é por vezes a verificação da
ligação relativamente ao corte no parafuso.
Para que a ligação resulte do atrito entre as chapas deve-se verificar a relação E ≤ μ F , onde
μ representa o coeficiente de atrito entre as chapas e F corresponde à força de tracção no
parafuso. Salienta-se que a força F de tracção no parafuso corresponde à força normal de
compressão entre as chapas.
No exemplo da Figura 2.3 utiliza-se apenas um parafuso, no entanto podem-se utilizar vários
parafusos com os eixos paralelos entre si. Nestas condições a força de compressão entre as
chapas é a soma das forças de compressão exercidas pelos vários parafusos.
26 LIGAÇÕES APARAFUSADAS
Neste caso consideram-se ligações cujos eixos dos parafusos são paralelos entre si e que o
carregamento se pode caracterizar por uma força perpendicular aos eixos dos parafusos e por
um momentos paralelo aos eixos. No exemplo apresentado na Figura 2.4 a força
perpendicular aos eixos dos parafusos é identificada por V e o momento paralelo a esses
eixos corresponde a M .
Figura 2.4 – Ligações Aparafusadas. Força Perpendicular aos Eixos dos Parafusos e Momento
Paralelo aos Eixos dos Parafusos.
Normalmente também neste caso se pretende que a ligação entre os elementos (duas chapas
no caso apresentado na Figura 2.4), resulte do atrito entre estes, não devendo ocorrer forças
de corte nos parafusos. A apresentação deste caso separadamente do anterior resulta da
metodologia utilizada no cálculo da força a que cada parafuso é sujeito.
i = 1, 2,..., n . Admita-se também que a posição dos centros dos elementos de ligação é
conhecida relativamente a um referencial xy definido num plano perpendicular ao eixo dos
parafusos. Nestas condições as coordenadas do centróide G do conjunto dos n parafusos
definem-se através da expressão:
27
∑ Ai xi ∑ Ai yi
n n
Salienta-se que a existência de simetrias na distribuição dos parafusos (ou outros elementos
de ligação) pode ser aproveitada para determinar a localização do centróide. Verifica-se
inclusivamente que em alguns casos a identificação do centróide é imediata, não sendo
nesses casos utilizar a expressão (2.1).
Retomando o exemplo da Figura 2.4 verifica-se que a ligação tem de equilibrar a força V
(perpendicular ao eixo dos parafusos) e o momento M (paralelo a esses eixos) sabendo-se
que tal é possível se cada parafuso assegurar certo valor de atrito entre os elementos ligados.
No cálculo da força resultante em cada parafuso Fi considera-se normalmente que esta
resulta da soma de uma componente primária Fi′ com uma componente secundária Fi′′ ,
cujas direcções e módulos são obtidos considerando o seguinte:
28 LIGAÇÕES APARAFUSADAS
A direcção das forças primárias Fi′ , i = 1,..., n , é igual à direcção da força V sendo o
módulo obtido pela expressão:
V
Fi′ = i = 1, 2,..., n (2.2)
n
ri M
Fi′′ = i = 1, 2,..., n (2.3)
∑1 ri 2
n
As forças resultantes em cada parafuso obtêm-se pela soma vectorial das forças primárias
Neste caso consideram-se ligações cujos eixos dos parafusos são paralelos entre si em que o
carregamento se pode caracterizar por uma força paralela aos eixos dos parafusos. No
exemplo apresentado na Figura 2.4 identifica-se por P a força paralela aos eixos dos
parafusos.
30 LIGAÇÕES APARAFUSADAS
Figura 2.8 – Ligações Aparafusadas. Força Paralela aos Eixos dos Parafusos.
Figura 2.9 – Ligações Aparafusadas. Força Paralela aos Eixos dos Parafusos - Equivalência.
(a) (b)
Figura 2.10 – Ligações Aparafusadas. Força Paralela aos Eixos dos Parafusos – Equilíbrio de
Forças no Ponto A.
kb
Fb = Pb + Fi = P + Fi se Fm < 0 (2.5)
kb + km
km
Fm = Pm − Fi = P − Fi se Fm < 0 (2.6)
k b + km
onde:
P = carga externa;
Fb = força resultante no parafuso;
Salienta-se que nas expressões anteriores se utiliza a convenção que determina que as forças
de tracção são positivas e as de compressão são negativas.
Verifica-se que as expressões (2.4), (2.5) e (2.6) são válidas quando existe compressão nos
elementos comprimidos o que é traduzido pela condição Fm < 0 . Quando não existe
Para determinar a rigidez de um parafuso sujeito à tracção este pode ser considerado uma
associação em série de dois cilindros cujas características dependem da parte traccionada do
parafuso. Assim, um dos cilindros apresenta características associadas à parte não roscada e
o outro traduz as características da parte roscada como se pode observar na Figura 2.11.
32 LIGAÇÕES APARAFUSADAS
(a) (b)
Quando solicitados por forças axiais as rigidezes dos cilindros representados na Figura
2.11(b) podem-se calcular pelas relações:
Ad E At E
kd = ; kt = (2.7)
ld lt
onde:
1 1 1 kd k t
= + ou kb = (2.8)
k b kd k t kd + k t
1 1 1 1
= + + ... + (2.9)
km k1 k2 kn
Para determinar a rigidez de chapas apertadas por um parafuso pode-se considerar que existe
um certo volume onde a deformação é uniforme, cuja forma depende da configuração
particular em estudo. Assim, considera-se que a deformação que ocorre na chapa é igual
àquela que se verifica num tronco de cone com as características ilustradas na Figura 2.12.
dδ = F
dx
EA
( )
A = π r0 2 − ri 2 = π ⎡( x tan(α ) + D / 2 ) − ( d / 2 ) ⎤
⎣
2 2
⎦
(2.10)
Integrando de x = 0 a x = t resulta:
δ=
F
ln
( 2t tan(α ) + D − d )( D + d ) (2.11)
π Ed tan(α ) ( 2t tan(α ) + D + d )( D − d )
π Ed tan(α )
k= (2.12)
ln
( 2t tan(α ) + D − d )( D + d )
( 2t tan(α ) + D + d )( D − d )
0.577 Ed
k= (2.13)
ln
(1.15t + D − d )( D + d )
(1.15t + D + d )( D − d )
Considere-se o caso particular apresentado na Figura 2.13 que corresponde a duas chapas
apertadas por um conjunto parafuso porca de cabeça sextavada.
Admitindo que as chapas representadas na Figura 2.13 têm o mesmo módulo de elasticidade,
então a rigidez combinada dos dois “cones” descreve-se por:
35
π Ed tan(α )
km = (2.14)
2 ln
( l tan(α ) + d w − d )( d w + d )
( l tan(α ) + d w + d )( d w − d )
0.577 Ed
km = (2.15)
⎛ 0.577l + 0.5d ⎞
2 ln ⎜ 5 ⎟
⎝ 0.577l + 2.5d ⎠
d 2 ( d1 < d 2 ) e pela espessura e . Para o caso particular (pouco comum) de d 2 < d w a rigidez
pode-se obter pela expressão:
k=
AE
e
(
A = π / 4 d 2 2 − d12 ) (2.16)
subconjunto. Assim, por exemplo, se forem considerados dois subconjuntos com o mesmo
número de parafusos pode-se considerar que cada um terá de suportar metade do
carregamento total. Os cálculos relativos a cada subconjunto são de acordo com os casos
apresentados nos pontos 2.2.1, 2.2.2 e 2.2.3.
3 Ligações Rebitadas
As ligações rebitadas são ligações permanentes completas e indirectas. Na Figura 3.1
apresenta-se um exemplo de uma estrutura construída com ligações rebitadas.
das duas chapas é igual verifica-se o mesmo estado de tensão em ambas. Nas expressões que
se seguem a tensão admissível nas chapas e no rebite identificam-se respectivamente por
σ ADM.Chapa e σ ADM.Rebite .
Assim, para cada um dos mecanismos de falha considerados pode-se obter um majorante da
força F que traduz o carregamento da ligação. O menor dos majorantes traduz a força que
se pode aplicar na ligação. Quando se pretende um bom aproveitamento dos materiais os
majorantes obtidos considerando os vários modos de falha, não devem apresentar grandes
diferenças relativas. Uma eventual condição de igual resistência ocorre quando todos os
majorantes são iguais. Salienta-se que muitas vezes existem condicionantes de natureza
geométrica ou outras que conduzem ao afastamento da condição de igual resistência referida.
A) Rebite ao Corte
8F
≤ σ ADM.Rebite ⇔ F ≤ π d 2 / 8σ ADM.Rebite (3.1)
πd2
A expressão (3.1) traduz um majorante da força obtido através da tensão de corte que ocorre
na secção transversal do rebite.
B) Rebite ao Esmagamento
F
≤ σ ADM.Rebite ⇔ F ≤ d eσ ADM.Rebite (3.2)
de
C) Chapa ao Esmagamento
Caso semelhante ao anterior em que se considera a tensão admissível nas chapas, o qual se
pode traduzir por:
F
≤ σ ADM.Chapa ⇔ F ≤ d eσ ADM.Chapa (3.3)
de
D) Chapa à Tracção
Considerando que a secção resistente da chapa é afectada pela realização do furo pode-se
admitir que tensão normal na chapa é dada por σ = F / A , onde A = (a − d )e . Nestas
condições σ COM = σ resultando:
F
≤ σ ADM.Chapa ⇔ F ≤ (a − d )eσ ADM.Chapa (3.4)
( a − d )e
42 LIGAÇÕES REBITADAS
E) Chapa ao Corte
A chapa pode também falhar por corte como sugerido pela letra E na Figura 3.7. O estado de
tensão correspondente a este modo de falha pode-se descrever por uma tensão de corte com
intensidade τ = F / A , onde A = 2(b − d / 2)e . Assim, pelo critério de Tresca obtém-se
F
≤ σ ADM.Chapa ⇔ F ≤ (b − d / 2)eσ ADM.Chapa (3.5)
(b − d / 2)e
{
F ≤ min π d 2 / 8 σ ADM.Rebite ; d eσ ADM.Rebite ; d eσ ADM.Chapa ; ( a − d )eσ ADM.Chapa ; (b − d / 2)eσ ADM.Chapa }
4 Ligações Soldadas
As ligações soldadas são permanentes e completas podendo ser indirectas ou directas
consoante se utiliza ou não material de adição.
As peças obtidas por ligação soldada podem ter complexidade equivalente a outras obtidas
por fundição, sendo uma técnica de construção muito interessante na obtenção de pequenos
lotes de peças de grande complexidade.
Nos pontos seguintes considera-se que a tensão admissível do cordão é igual à tensão
admissível dos elementos a ligar. Corresponde a considerar que existe continuidade nas
propriedades dos materiais ligados no que respeita aos valores admissíveis de tensão. Para os
casos apresentados as tensões de comparação indicadas pressupõem que não existem outros
carregamentos além dos indicados.
46 LIGAÇÕES SOLDADAS
A ligação através de cordões de canto exemplifica-se na Figura 4.5. São apresentados dois
tipos de carregamento os quais produzem diferentes estados de tensão nos cordões
respectivos.
47
Nas expressões que se seguem admite-se que a secção transversal dos cordões de canto é um
triângulo rectângulo com dois lados iguais de dimensão h . Admite-se também que o
comprimento total de cordão de soldadura vale Δx .
Este carregamento é caracterizado por uma força paralela a um dos catetos do triângulo
correspondente à secção transversal do cordão de soldadura. Na Figura 4.6 apresenta-se este
tipo de carregamento. Na Figura 4.7 identificam-se outras características do cordão de
soldadura bem como as forças e as tensões que ocorrem em algumas das secções do cordão.
48 LIGAÇÕES SOLDADAS
Figura 4.6 – Ligações Soldadas. Soldadura de Canto – Força Paralela a um dos Catetos do
Cordão. Características Principais.
Figura 4.7 – Ligações Soldadas. Soldadura de Canto – Força Paralela a um dos Catetos do
Cordão. Outras Características.
Na secção BC o estado de tensão corresponde a uma tensão normal cujo valor médio é
σ = F / ( hΔx ) . Admitindo que não existem outros carregamentos além da força F , então
σ COM = σ = F / ( hΔx ) .
Na secção BA o estado de tensão traduz-se por uma tensão de corte com o valor médio
τ = F / ( hΔx ) . Considerando que não existem outros carregamentos além da força F , então
Na secção BO – designada de secção crítica – o estado de tensão traduz-se por uma tensão
normal e uma tensão de corte cujos valores médios são σ xx = Fx / A e τ xy = Fy / A , onde
49
F
σ =τ = (4.1)
hΔx
Considerando novamente que não existem outros carregamentos sobre a ligação, então pelo
Figura 4.8 – Ligações Soldadas. Soldadura de Canto – Força Paralela a um dos Catetos. Tensão
de Comparação nas Secções BC e BA. Critério de Tresca.
Figura 4.9 – Ligações Soldadas. Soldadura de Canto – Força Paralela a um dos Catetos. Tensão
de Comparação na Secção BO. Critério de Tresca.
50 LIGAÇÕES SOLDADAS
Considerando o critério de Tresca verifica-se que das três secções analisadas (BC, BA e BO)
é a secção BO (secção crítica) a que apresenta a tensão de comparação mais elevada. No
entanto, a determinação da tensão da comparação na secção Bθ , onde θ representa o
ângulo que a secção faz com a vertical (ver Figura 4.7), permite determinar a tensão de
comparação máxima σ COM 2.47 F / ( h Δx ) na secção θ 64.0o . Na Figura 4.10 apresenta-
Figura 4.10 – Ligações Soldadas. Soldadura de Canto – Força Paralela a um dos Catetos.
Tensão de Comparação em Função do Ângulo θ . Critério de Tresca.
opções para o dimensionamento da ligação não são únicas, sendo no entanto utilizadas com
alguma frequência no cálculo.
Figura 4.11 – Ligações Soldadas. Soldadura de Canto – Força Paralela a um dos Catetos do
Cordão.
Figura 4.12 – Ligações Soldadas. Soldadura de Canto – Força Paralela a um dos Catetos do
Cordão.
O estado de tensão na secção crítica caracteriza-se por uma tensão de corte τ = F / A , onde
A = h′Δx = ( )
2 / 2 h Δx é a área da secção crítica. Nestas condições o estado de tensão
2F
τ= (4.2)
hΔx
Admitindo que não existem outros carregamentos, então pelo critério de Tresca obtém-se
que a tensão de comparação σ COM = 2τ = 2 2 F /(hΔx) 2.83F /(hΔx) . No exemplo
O estado de tensão na secção crítica caracteriza-se por uma tensão de corte cujo valor se
obtém através da expressão:
Mr
τ= (4.3)
J
onde:
A expressão (4.3) é semelhante àquela que se utiliza no cálculo da tensão de corte num veio
sujeito à torção. Mas neste caso J traduz as características da secção crítica do cordão de
soldadura e no caso de um veio à torção J representa as características desse veio.
O segundo momento polar de área da secção crítica do cordão pode-se calcular por
integração. No entanto o valor de J pode-se obter através da relação J = h′J u , onde
secção crítica. Na Figura 4.14 apresenta-se uma secção do cordão de soldadura para pôr em
Substituindo J = ( )
2 / 2 h J u na expressão (4.3) obtém-se:
2M r
τ= (4.4)
h Ju
55
(
τ = 2 2 M / π hd 2 .) Considerando o critério de Tresca pode-se escrever
( )
σ COM = 4 2M / π hd 2 ≤ σ ADM .
Figura 4.15 – Ligações Soldadas. Soldadura de Canto – Momento Paralelo ao Plano do Cordão.
Mc
σ =τ = (4.5)
I
onde:
A distância do plano neutro ao ponto mais afastado do cordão de soldadura é muitas vezes
determinada considerando que a espessura do cordão é pequena comparativamente às outras
dimensões. Assim, no exemplo apresentado na Figura 4.15 pode-se considerar c = a / 2 .
2
I = h′I u = h Iu (4.6)
2
Substituindo (4.6) em (4.5) verifica-se que as tensões normal e de corte na secção crítica da
soldadura se podem obter por:
Mc
σ =τ = 2 (4.7)
hI u
Admitindo que não existem outros carregamentos, então pelo critério de Tresca obtém-se
Pode-se recorrer ao teorema dos eixos paralelos para determinar o segundo momento de área
em soldaduras cujo centróide é deslocado relativamente a uma configuração cujo segundo
momento é conhecido.
I X = I x + Ad 2 (4.8)
onde:
2
I uX = I ux + Δxd 2 , IX = hI uX (4.9)
2
59
Exemplo
3
2 ⎛D⎞
IX⎧ o ⎫ = 2IX⎧o ⎫ , IX⎧o ⎫ = hI uX ⎧ o ⎫ , I uX ⎧ o ⎫ = I ux{0} + Δxd = π ⎜ ⎟ + π Dd 2
2
⇔
⎨ ⎬ ⎨ ⎬ ⎨ ⎬ 2 ⎨ ⎬ ⎨ ⎬ ⎝2⎠
⎩o ⎭ ⎩ ⎭ ⎩ ⎭ ⎩ ⎭ ⎩ ⎭
⎡⎛ D ⎞ 3 ⎤
I X ⎧ o ⎫ = 2π h ⎢⎜ ⎟ + Dd 2 ⎥
⎨ ⎬
⎩o ⎭ ⎢⎣⎝ 2 ⎠ ⎥⎦
(4.10)
Torção
Quando existe torção pode-se também aplicar o teorema dos eixos paralelos. Assim, seja J x
o segundo momento polar de área de um cordão de soldadura relativamente a um eixo xx
que passa pelo centróide do cordão. O segundo momento polar de área desse cordão
relativamente a um eixo XX paralelo a xx pode-se obter pela expressão:
J X = J x + Ad 2 (4.11)
onde:
Na Figura 4.18 exemplifica-se um carregamento que não corresponde a nenhum dos casos
apresentados anteriormente. No entanto pode-se considerar um carregamento equivalente ao
apresentado na figura que produz na ligação soldada os mesmos efeitos. Assim, a força
aplicada na extremidade da viga é equivalente a um momento flector conjugado com uma
força vertical aplicada no centróide da soldadura. O momento flector a que a viga está sujeita
é paralelo ao plano do cordão e a força vertical é paralela ao cateto do cordão.
As tensões na secção crítica produzidas por cada um dos carregamentos são representadas na
Figura 4.20.
61
Considerando a acção de uma parte do cordão sobre a outra é possível marcar os sentidos das
tensões normais e de corte de cada carregamento parcial. A intensidade das tensões
correspondentes a cada carregamento parcial obtém-se pelas expressões apresentadas
anteriormente, as quais aplicadas a este caso particular permitem escrever:
σ F = τ F = F / ( hΔx ) , Δx = 2 a
Mc a a 2b (4.12)
σ MF = τ MF = 2 , M = Fl , c= , Iu =
hI u 2 2
Quando o estado de tensão não é o mesmo em todo o cordão é necessário identificar o ponto
mais solicitado e considerar no cálculo a tensão de comparação correspondente. Salienta-se
62 LIGAÇÕES SOLDADAS
σ COM = σ 2 + 4τ 2 = (σ MF + σ F )2 + 4 (τ MF − τ F )2 ≤ σ ADM
Nos casos antes apresentados os cordões de soldadura estão num mesmo plano. No entanto
existem muitos casos em que a ligação de duas peças por soldadura se faz através de cordões
de soldadura que não definem um único plano.
Nestes casos utiliza-se algum critério para distribuir o carregamento pelos vários cordões e
em seguida utilizam-se as técnicas de cálculo antes apresentadas.
Outra técnica para distribuir o carregamento pelos vários cordões corresponde a admitir que
se devem verificar iguais valores de tensão de comparação nos vários cordões. Pode-se
admitir que os resultados obtidos por esta técnica se aproximam mais da realidade que no
caso anterior. No entanto a diferença de resultados obtidos por uma ou por outra técnica é
muitas vezes pequena. Assim, escolhe-se frequentemente a técnica correspondente à
distribuição do carregamento na proporção do comprimento soldado por ser mais simples de
implementar.
5 Ligações com Chavetas Cavilhas e
Troços
As chavetas utilizam-se para ligar veios (ou hastes) de secção circular a outras peças, com
furos da mesma secção, designadas de cubos (ou coroas).
(a) (b)
Nas peças a ligar são abertas ranhuras ou orifícios onde são introduzidas as chavetas. As
aberturas nos veios e nos cubos têm a designação de escateis (ver Figura 5.9).
Em certas condições pode ser vantajoso fixar a chaveta ao veio – por exemplo quando
existem choques, casos em que a chaveta se designa de chaveta fixa ou cavalete (ver Figura
5.5).
Normalmente as arestas das chavetas e dos cavaletes são chanfradas ou boleadas para
facilitar a montagem. Nos enchavetamentos forçados podem-se utilizar chavetas com ou sem
cabeça (ver Figura 5.3, Figura 5.7 e Figura 5.8).
(a) (b)
Figura 5.3 – Ligações Enchavetadas Transversais. (a) Chaveta Normal. (b) Chaveta com
Fixação.
(a) (b)
Quando se utilizam duas chavetas em enchavetamentos longitudinais estas não devem ser
montadas a 180º uma da outra, para melhorar o contacto entre o veio e o cubo.
Efectivamente, uma montagem a 180º permitiria que o contacto entre o veio e o cubo fosse
residual, o que pode ser inconveniente em muitos casos como por exemplo quando o
funcionamento é intermitente.
Na Figura 5.10 representa-se uma ligação com veio canelado. Este tipo de ligação pode ser
considerado como uma generalização das ligações enchavetadas. Contudo, contrariamente às
ligações com chavetas as ligações com veios canelados são directas. As ligações com veios
canelados permitem transmitir grandes momentos, mas apresentam custos elevados quando
produzidas em pequenas séries.
Na Figura 5.11 apresentam-se outras formas de ligação directa que pelos grandes custos de
produção só raramente são utilizadas.
As cavilhas podem apresentar várias formas. No entanto é comum que as cavilhas sejam
montadas em furos cilíndricos ou cónicos.
Os troços são normalmente utilizados para impedir que outros elementos se desmontem. Por
essa razão são normalmente sujeitos a pequenos esforços e a sua escolha é muitas vezes
condicionada pelas características geométricas e não pela capacidade resistente.
(a) (b)
Figura 5.14 – Ligações com Troços. (a) Algumas Formas. (b) Exemplos de Utilização.
70 LIGAÇÕES COM CHAVETAS CAVILHAS E TROÇOS
As tensões que ocorrem nas chavetas ou nas cavilhas podem-se classificar em tensões de
montagem e em tensões de funcionamento. Enquanto as primeiras resultam do processo de
montagem dos vários componentes envolvidos na ligação as segundas decorrem do
carregamento da ligação quando em funcionamento normal.
B) Tensões normais na chaveta ou a cavilha e nas peças a ligar. Estas tensões resultam
do contacto entre as chavetas ou as cavilhas e as peças a ligar. No cálculo deve-se ter
em atenção que muitas vezes os materiais das chavetas e das cavilhas são diferentes
dos das peças ligadas.
As características das chavetas e das cavilhas devem assegurar que as tensões de comparação
obtidas pelos cálculos anteriores não excedem as tensões admissíveis. As dimensões das
chavetas e das cavilhas são estabelecidas em normas que devem ser seguidas sempre que
possível.
Exemplo
Verifica-se que a resultante da força tangencial de contacto entre o veio e a chaveta Fvc é
maior que a força correspondente entre a chaveta e o cubo Fcc . No entanto admitindo h d
hv = h c = h / 2 .
F M 2M
τ= , F= , A = bl ⇔ τ= (5.1)
A d /2 dbl
4M dbl
σ COM = 2τ = ≤ σ ADM.Chaveta ⇒ M≤ σ ADM.Chaveta (5.2)
dbl 4
F M h 4M
σ= , F= , A= l ⇔ σ= (5.3)
A d /2 2 dhl
4M
σ COM = σ = ≤ min {σ ADM.Chaveta ; σ ADM.Veio } ⇒
dhl
(5.4)
dhl
M≤ min {σ ADM.Chaveta ; σ ADM.Veio }
4
F M h 4M
σ= , F= , A= l ⇔ σ= (5.5)
A d /2 2 dhl
4M
σ COM = σ = ≤ min {σ ADM.Chaveta ; σ ADM.Cubo } ⇒
dhl
(5.6)
dhl
M≤ min {σ ADM.Chaveta ; σ ADM.Cubo }
4
Assim, o momento que a ligação com chaveta representada na Figura 5.15 pode transmitir
corresponde ao menor dos valores obtidos pelas expressões (5.2), (5.4) e (5.6).
6 Molas
As molas permitem a realização de ligações elásticas. As molas utilizam-se em dispositivos
que combinam a capacidade de aplicar forças e a flexibilidade. São também empregadas para
armazenar energia, como acontece em alguns relógios e brinquedos. Dado que podem
apresentar relações bem conhecidas entre deformação e força são também utilizadas em
dispositivos de medição de forças.
Pela frequência com que ocorrem nas aplicações dedica-se a parte restante deste capítulo à
apresentação das molas helicoidais cilíndricas com arame de secção circular. Salienta-se que
muitos dos conceitos adiante apresentados podem-se facilmente adaptar a molas helicoidais
de outros tipos.
Para apresentar as tensões que ocorrem no arame utiliza-se uma mola que funciona à
compressão como esquematizado na Figura 6.5(a). Salienta-se no entanto que o estado de
tensão que ocorre em molas helicoidais de compressão é equivalente ao que ocorre em molas
sujeitas à tracção.
Na Figura 6.6 representam-se as tensões que ocorrem na secção transversal do arame. São
considerados os pontos A, B, C e D da superfície do arame. No modelo utilizado considera-
-se que a tensão de corte τ F que resulta do esforço transverso na secção do arame é
constante em toda a secção e que a tensão de corte τ T que resulta do momento torsor é
linearmente proporcional à distância ao centro do arame. Assim, dos pontos (A, B, C e D)
considerados é no ponto A que ocorre a tensão de cote máxima, cujo valor corresponde a
τ = τ T + τ F . Verifica-se que o ponto A é aquele que se encontra mais próximo do eixo do
arame podendo-se demonstrar que é neste ponto que ocorre a tensão de corte máxima dada
por:
rT F D d πd4 πd2
τ= + , T = F, r= , J= , A= ⇔
J A 2 2 32 4 (6.1)
8D 4
τ = 3F+ 2 F
πd πd
8D 2C + 1 D
τ = ks F, ks = , C= (6.2)
π d3 2C d
onde ks pode ser interpretado como um factor de concentração de tensões para o efeito do
esforço transverso. Salienta-se que ks − 1 é uma quantidade superior a zero que quando
A tensão de corte máxima que ocorre no arame é dada por (6.1) ou por (6.2) devendo ser
inferior à tensão admissível. Na secção 6.4 apresenta-se a metodologia que se pode utilizar
para determinar a tensão admissível em molas helicoidais.
78 MOLAS
A energia potencial elástica numa mola helicoidal sujeita a compressão (ou a tracção) tem
uma componente devida à torção do arame e outra devida ao esforço transverso. A expressão
(6.3) descreve as duas componentes da energia potencial elástica.
T 2l F 2l D πd4 πd2
U= + , T = F, l = π DN , J= , A= ⇔
2 JG 2 AG 2 32 4
3
(6.3)
4D N 2 DN
U = 4 F2 + 2 F2
d G d G
8D3 N 4 DN
y= 4
F+ 2 F (6.4)
d G d G
⎛ 1 ⎞ 8D3 N 8D3 N
y = ⎜1 + 2 ⎟ 4 F 4 F (6.5)
⎝ C ⎠ d G d G
d 4G
F= y (6.6)
8D3 N
d 4G
k= (6.7)
8D3 N
A expressão (6.7) traduz a rigidez de uma mola helicoidal de arame de secção circular sujeita
à compressão ou à tracção.
Verifica-se que a tensão de rotura de certo material depende mais ou menos acentuadamente
das características geométricas do corpo em análise. Assim, por exemplo, num veio de
secção circular a tensão de rotura aumenta na razão inversa do diâmetro. A variação na
tensão de rotura é pequena para certos valores das dimensões características das peças. No
entanto, quando as dimensões características são pequenas as tensões de rotura podem variar
significativamente com as dimensões.
Figura 6.7 – Molas Helicoidais. Tensão de Rotura / Diâmetro do Arame. Relação Típica.
Por vezes a relação entre a tensão de rotura e o diâmetro do arame traduz-se por uma
expressão do tipo:
A
σ ROT = (6.8)
dm
onde:
Nas molas é comum utilizar a tensão normal de rotura obtida por (6.8) para determinar a
tensão de corte admissível. Shigley [2], propõe as seguintes relações válidas para condições
de funcionamento estático: (a) τ ADM = 0.45σ ROT para arame corda de piano e aço carbono
estirado a frio; (b) τ ADM = 0.50 σ ROT para aço carbono endurecido e temperado e para aço de
baixa liga; (c) τ ADM = 0.35 σ ROT para aço inoxidável austenítico e para ligas não ferrosas;
81
(d) τ ADM = 0.65σ ROT para todos os materiais antes referidos quando apropriadamente
encruados por deformação plástica.
O bom dimensionamento obriga a que o valor da tensão de corte obtido através da expressão
(6.1) ou (6.2) não sejam superiores à tensão admissível, i.e., τ ≤ τ ADM .
Nas molas de compressão o índice de mola e o número de espiras verificam muitas vezes as
relações: 6 ≤ C ≤ 13 e 3 ≤ N ≤ 15 . No entanto, os intervalos referidos não são
necessariamente cumpridos podendo por exemplo construir-se uma mola com índice C = 4
ou com 30 espiras.
As molas de compressão podem instabilizar para certos valores da força aplicada. Assim, se
a força for sucessivamente aumentada pode ocorrer um fenómeno de instabilidade
semelhante ao que ocorre em vigas sujeitas à compressão.
Nas molas é comum definir a instabilidade através do valor da deformação que a produz:
⎛ C ⎞ E 2π 2 ( E − G ) α L0
yCR = L0C1 ⎜1 − 1 − 22 ⎟⎟ , C1 = , C2 = , λef = (6.9)
⎜ λef 2( E − G ) 2G + E D
⎝ ⎠
onde:
L0 = comprimento em repouso;
α = valor adimensional que depende da forma dos apoios das extremidades (Tabela 6.1);
D = diâmetro de enrolamento do arame;
λef = coeficiente de esbelteza.
Quando se verifica C2 / λef 2 > 1 a deformação yCR é um valor imaginário. Esta situação
traduz a condição de estabilidade absoluta de uma mola que se pode descrever como a
situação em que a mola não instabiliza para valor algum de deformação. A condição de
estabilidade absoluta é muito útil em certas aplicações com molas e pode-se traduzir pela
expressão:
π D 2( E − G )
L0 < (6.10)
α 2G + E
onde as variáveis têm o mesmo significado que em (6.9). Para os aços pode-se utilizar a
relação L0 < 2.63D / α para traduzir a condição de estabilidade absoluta de molas helicoidais
sujeitas à compressão.
Em muitos dos casos a forma das extremidades da mola produz uma curvatura adicional no
arame. Assim, a tensão de corte no arame deve ser aumentada relativamente ao valor dado
pelas expressões (6.1) ou (6.2). Quando a extremidade da mola apresenta formas dos tipos
representados na Figura 6.10 pode-se considerar o factor k = rm / ri para majorar a tensão de
corte dada por (6.1) ou por (6.2). Neste tipo de molas deve-se verificar a relação
(rm / ri )τ ≤ τ ADM , onde τ se obtém através de (6.1) ou de (6.2), rm e ri representam os raios
84 MOLAS
que nos casos (c) e (d) da Figura 6.10 a tensão de corte τ varia nas últimas espiras da mola
sendo mínima na espira de menor diâmetro. Desta forma, é possível minimizar os efeitos da
concentração de tensões resultantes da curvatura adicional do arame na extremidade da
mola. Efectivamente, as formas ilustradas na Figura 6.10 (c) e (d) asseguram uma melhor
distribuição das tensões em toda a mola sendo estas soluções muitas vezes utilizadas em
molas sujeitas a solicitações cíclicas.
As molas de tracção são por vezes construídas de forma tal que a mola só apresenta
deformação para forças superiores a Fi como exemplificado na Figura 6.11. Frequentemente
As molas com a relação força / deformação do tipo traduzido na Figura 6.11 são obtidas
através da torção do arame aquando do enrolamento deste. A torção do arame durante o
enrolamento produz uma tensão τ i que se relaciona com a força Fi através da relação (6.1)
ou (6.2). A esta tensão corresponde um momento de torção cujo valor se pode calcular
através de T i = τ iπ d 3 /16 .
Como vimos o carregamento das molas de tracção e de compressão corresponde a uma força
paralela ao eixo da mola. No entanto existem molas cujo carregamento corresponde a um
momento paralelo ao eixo da mola. São as designadas molas de torção de que se apresentam
exemplos na Figura 6.12.
86 MOLAS
Também neste caso as extremidades da mola são adaptadas a cada aplicação particular.
É interessante notar que numa mola de torção o momento torsor M a que a mola é sujeita
produz no arame um estado de tensão equivalente ao que ocorre numa viga sujeita a um
momento flector. No caso das molas de tracção / compressão a força axial traduz-se num
carregamento no arame semelhante ao que ocorre numa viga à torção.
Mc 4C 2 − C − 1 4C 2 + C − 1
σ i,o = ki,o , ki = , ko = (6.11)
I 4C (C − 1) 4C (C + 1)
onde:
A expressão (6.11) é geral permitindo calcular a tensão nos vários pontos da secção do
arame considerando − d / 2 ≤ c ≤ d / 2 . Para o caso particular de arame de secção circular de
diâmetro d , então I = π d 4 / 64 e o estado de tensão mais desfavorável ocorre no ponto mais
interior da mola onde c = d / 2 . Este estado de tensão é descrito pela expressão (6.12) sendo
normalmente utilizado para comparação com os valores de tensão admissível.
32 M 4C 2 − C − 1
σ = ki , ki = (6.12)
πd3 4C (C − 1)
σ = tensão normal máxima na secção do arame (ponto mais próximo do eixo da mola);
M = momento de torsor aplicado na mola;
ki = factor de concentração de tensões para o efeito do enrolamento nos pontos do arame
mais próximos do eixo da mola;
d = diâmetro do arame;
C = índice de mola.
64DN
θ= M (6.13)
d 4E
88 MOLAS
d 4E
kθ = (6.14)
64 DN
No caso das molas de torção a tensão normal admissível também se relaciona com a tensão
normal de rotura. Shigley [2], propõe as seguintes relações válidas para condições de
funcionamento estático: (a) σ ADM = 0.78σ ROT para arame corda de piano e aço carbono
estirado a frio; (b) σ ADM = 0.87 σ ROT para aço carbono endurecido e temperado e para aço
de baixa liga; (c) σ ADM = 0.61σ ROT para aço inoxidável austenítico e para ligas não ferrosas.
A deformação angular das molas de torção faz variar o número de espiras da mola podendo
este número aumentar ou diminuir dependendo do sentido da solicitação. Notando que o
comprimento de arame é igual antes e após a deformação resulta que o diâmetro de
enrolamento da mola diminui ou aumentar quando esta se deforma. A expressão (6.15)
traduz a variação no diâmetro de enrolamento em função do número de espiras da mola antes
e após a aplicação do carregamento.
89
N
D′ = D (6.15)
N′
onde:
Os diâmetros interior e exterior da mola após a deformação podem-se obter através de:
onde:
d = diâmetro do arame.
7 Freios e Embraiagens de Atrito
Os freios e as embraiagens de atrito são muito utilizados em virtude de serem relativamente
simples de implementar. Nestes dispositivos as forças de frenagem e de embraiagem
resultam do atrito entre superfícies. Existem também freios e embraiagens em que as forças
resultam do atrito viscoso em fluidos cujas características variam de aplicação para
aplicação.
Os freios e as embraiagens são basicamente constituídos por um comando e por outros dois
componentes. Nos freios existe um veio que se pretende desacelerar quando o freio é
accionado. Nas embraiagens definem-se normalmente o veio motor e o veio movido, os
quais são ligados ou desligados entre si consoante se embraia ou se desembraia. O comando
controla a força de contacto que gera o atrito entre as superfícies que produz o momento de
frenagem ou de embraiagem. A força de contacto varia muitas vezes desde o valor nulo e um
valor máximo que depende das características do dispositivo.
92 FREIOS E EMBRAIAGENS DE ATRITO
Assim, em virtude de uma das partes não apresentar movimento relativamente ao ponto de
onde provém o sinal de comando os freios são normalmente mais simples de implementar
que as embraiagens.
Como vimos utiliza-se o atrito entre superfícies para realizar freios e embraiagens. Em rigor,
qualquer das configurações que adiante se apresentam podem ser utilizadas para realizar
freios ou embraiagens. No entanto existem configurações que são mais adaptadas à
utilização em freios e outras em embraiagens. Assim, na apresentação que se segue
considera-se normalmente a aplicação mais comum para cada configuração. No entanto, com
as devidas adaptações qualquer das configurações pode ser utilizada em freios e em
embraiagens. Salienta-se também que na apresentação seguinte as forças de frenagem não
incluem os efeitos da inércia, os quais tem eventualmente de ser considerados em aplicações
com embraiagens.
7.1 Embraiagem
(a) (b)
As embraiagens axiais de discos podem ter um ou vários discos, os quais podem estar secos
ou em banho de óleo. As embraiagens axiais apresentam grandes áreas de atrito em
pequenos espaços, principalmente quando têm vários discos. Têm também boas propriedades
dissipativas de calor principalmente quando têm poucos discos.
Dado que o movimento que produz as forças de atrito é axial o momento de embraiagem não
é afectado pelas forças centrífugas.
Pressão Uniforme
F π (D2 − d 2 ) 4F
p= , A= ⇔ p= (7.1)
A 4 π (D2 − d 2 )
onde:
p = pressão;
F = força axial de compressão entre as superfícies;
A = área do disco;
d = menor diâmetro da coroa de atrito;
D = maior diâmetro da coroa de atrito.
Ff D3 − d 3
T=
3 D2 − d 2
(7.2)
95
onde T é o momento produzido pelo atrito e as restantes variáveis têm o significado dado no
parágrafo anterior e na expressão (7.1).
Numa embraiagem axial é comum existirem dois ou mais pares de superfícies em contacto.
Assim, o momento transmitido numa embraiagem axial de discos obtém-se através de
Tn = nT , onde Tn é o momento transmitido pelo conjunto dos discos, n é o número de pares
de superfícies em contacto e T é o momento dado pela expressão (7.2).
Desgaste Uniforme
Admitindo que a potência dissipada em cada um dos elementos de área é igual pode-se
escrever p1dA1 f1ω r1 = p2 dA2 f 2ω r2 . Fazendo dA1 = dA2 e admitindo que o factor de atrito é
igual nos dois elementos f1 = f 2 resulta p1r1 = p2 r2 . Assim, pode-se afirmar que nestas
condições o produto da pressão num elemento de área pela distância desse elemento ao eixo
de rotação é constante: pr = constante .
A pressão máxima ocorre nos pontos mais próximos do eixo podendo-se escrever
pa d / 2 = pr ⇔ p = pa d /(2r ) . A força axial de compressão pode-se obter por integração
da pressão em toda a área do disco resultando:
D/2 D/2 pa d πp d 2F
F =∫ pdA = ∫ 2π r pdr , p = ⇔ F = a ( D − d ) ⇔ pa =
d /2 d /2 2r 2 π d (D − d )
(7.4)
F
p= (7.5)
π r(D − d )
Considerando na expressão (7.2) a lei de pressão traduzida por (7.5) o momento transmitido
por um par de superfícies em contacto na condição de desgaste uniforme pode-se obter por:
97
Ff
T= (D + d ) (7.6)
4
Como resultado da forma cónica das superfícies em contacto as forças normais são agora
superiores àquelas que se verificam nas embraiagens de discos. Verifica-se que a
embraiagem de discos corresponde a uma embraiagem cónica em que geratriz da superfície
de contacto faz 90o com o eixo da embraiagem ( α = 90o na Figura 7.5).
Pressão Uniforme
Ff D3 − d 3 4F
T= , pa = (7.7)
3sin(α ) D 2 − d 2 π (D2 − d 2 )
onde:
T = momento transmitido;
pa = pressão de contacto máxima;
F = força axial de compressão entre as superfícies;
f = factor de atrito entre as superfícies;
d = menor diâmetro do tronco de cone onde ocorre o atrito;
D = maior diâmetro do tronco de cone onde ocorre o atrito;
α = ângulo entre a geratriz da superfície de contacto e o eixo da embraiagem.
Desgaste Uniforme
Ff 2F
T= ( D + d ), pa = (7.8)
4sin(α ) π d (D − d )
Em que as variáveis têm o mesmo significado que em (7.7). Também nas embraiagens
cónicas a pressão máxima pa ocorre em r = d / 2 .
99
Como era de esperar os momentos que se obtém através das expressões (7.2) e (7.6) são
iguais aos que se obtém pelas das expressões (7.7) e (7.8) quando se considera α = 90o .
Os freios e embraiagens de calços interiores são do tipo radial; o movimento que está na
origem das forças de atrito tem direcção radial. Na sua constituição estes dispositivos
incluem um tambor e um ou mais calços (ver Figura 7.7).
Na Figura 7.6 apresenta-se uma configuração de freio de calços interiores muito utilizada em
veículos automóveis. Na indústria automóvel este tipo de freios vem sendo substituído por
freios de discos cujo dimensionamento é semelhante ao apresentado no ponto “7.2
Embraiagem Axial de Discos”.
Em freios e embraiagens de calços interiores admite-se que a pressão de contacto num ponto
P da guarnição é proporcional à distância desse ponto à recta OA , i.e., p = k sin θ .
102 FREIOS E EMBRAIAGENS DE ATRITO
pa
p= sin θ (7.9)
sin θa
Verifica-se que a pressão máxima na guarnição ocorre no ponto que mais se aproxima do
ângulo θ = 90o podendo-se definir a localização desse ponto pela expressão:
⎧θ 2 se θ 2 ≤ 90o
⎪⎪
θ a = ⎨90o se θ 2 > 90o e θ1 < 90o (7.10)
⎪
⎪⎩θ1 se θ1 > 90o
Considerando que o calço não tem aceleração, então o conjunto das forças e dos momentos
têm resultante nula. Calculando o momento em torno do eixo da articulação (ponto A )
pode-se escrever: M F + M f + M N = 0 , onde M F corresponde ao momento produzido pela
M N − Mf
c F + Mf − M N = 0 ⇔ F= (7.11)
c
M N + Mf
c F − Mf − M N = 0 ⇔ F= (7.12)
c
103
Na Figura 7.8 pode-se considerar a força normal elementar dN = pdA = pbrdθ , onde p é a
pressão de contacto entre as superfícies. Nestas condições no mesmo elemento de área
resulta a força de atrito elementar f dN = f pbrdθ . Os elementos de forças normais e de
atrito produzem momentos elementares de rotação do calço em torno do ponto de articulação
A dados respectivamente por dN a cos θ e f dN (r − a cos θ ) . A integração destes momentos
elementares estendida à superfície do calço permite obter os momentos M N e M f
referenciados nas expressões (7.11) e (7.12), os quais se podem obter pelas expressões
integrais:
θ
θ2 pa bra θ 2 2 pa bra ⎡θ sin(θ ) cos(θ ) ⎤ 2
MN = ∫
sin θ a ∫θ1
dN a cos θ = sin θ dθ = −
θ1 sin θ a ⎢⎣ 2 2 ⎥⎦
θ1
θ
f pa br ⎡ [ a cos(θ ) − r ] ⎤
2 2
θ2 f pa br θ 2
Mf = ∫
sin θ a ∫θ1
f dN (r − a cos θ ) = sin θ (r − a cos θ ) dθ = ⎢ ⎥
θ1 sin θ a ⎢ 2a ⎥⎦
⎣ θ1
(7.13)
Salienta-se que as variáveis comuns à expressão (7.13) e à Figura 7.8 têm o mesmo
significado.
Como se pode observar pelas expressões (7.11) e (7.12) a força de actuação do freio F
depende do sentido de rotação o mesmo não se verificando relativamente às quantidades
M N e Mf .
Notando que p / sin θ = pa / sin θ a ⇔ p = pa sin θ / sin θ a , então a força normal elementar
pa sin θ pa sin θ
dN = brdθ f dN = f brdθ (7.14)
sin θa sin θ a
O momento elementar de frenagem obtém-se pelo produto da força de atrito elementar pelo
raio do tambor: dT = r f dN . O momento de frenagem obtém-se pela integração destes
momentos elementares. Assim, considerando a relação traduzida na expressão (7.14) o
momento de frenagem obtém-se através da expressão:
104 FREIOS E EMBRAIAGENS DE ATRITO
θ2 f pa br 2 (cos θ1 − cos θ 2 )
T =∫ r f dN = (7.15)
θ1 sin θa
As reacções nos apoios podem-se obter admitindo que a resultante das forças aplicadas no
calço é nulo. Para o sentido de rotação definido na Figura 7.8 pode-se escrever:
Rx = (∫
pa br
sin θa
θ2
θ1
sin θ cos θ dθ − f ∫
θ2
θ1 )
sin 2 θ dθ − Fx
(7.16)
sin θ ( ∫
sin θ cos θ dθ ) − F
p br θ2 θ2
R = y
a
sin θ dθ + f ∫
2
y
θ1 θ1
a
Se o sentido de rotação for o oposto ao representado na Figura 7.8 as reacções nos apoios
podem-se agora obter através de:
Rx = (∫
pa br
sin θa
θ2
θ1
sin θ cos θ dθ + f ∫
θ2
θ1 )
sin 2 θ dθ − Fx
(7.17)
sin θ ( ∫
sin θ cos θ dθ ) − F
p br θ2 θ2
R = y
a
sin θ dθ − f ∫
2
y
θ1 θ1
a
A nomenclatura utilizada é igual à dos freios e embraiagens de calços interiores (ver Figura
7.8 na página 101). Em freios e embraiagens de calços exteriores admite-se que a pressão de
contacto segue a mesma lei que nos freios de calços interiores (ver (7.9) e (7.10)). Nos freios
de calços exteriores são igualmente aplicáveis as expressões de M f e de M N traduzidas por
(7.13). Também o momento de frenagem se calcula com a mesma expressão que a utilizada
nos freios de calços interiores (7.15).
Nos freios de calços exteriores a distância do eixo da articulação do calço ao eixo do tambor
é maior que metade do diâmetro do tambor ( a > r ). Assim, dependendo dos limites de
integração M f pode ser positivo ou negativo. Verifica-se que valores pequenos θ 2 tendem a
originar valores negativos de M f . Refere-se que nos freios de calços interiores (caso
M N + Mf
F=
c
Rx = a (
p br θ2
∫
sin θ a θ1
θ2
sin θ cos θ dθ + f ∫ sin 2 θ dθ − Fx
θ1 ) (7.18)
sin θ ( ∫
sin θ cos θ dθ ) − F
p br θ2 θ2
R =y
a
sin 2 θ dθ − f ∫ y
θ1 θ1
a
M N − Mf
F=
c
Rx = (
pa br θ2
∫
sin θa θ1
θ2
sin θ cos θ dθ − f ∫ sin 2 θ dθ − Fx
θ1 ) (7.19)
sin θ ( ∫
sin θ cos θ dθ ) − F
p br θ2 θ2
R =y
a
sin 2 θ dθ + f ∫ y
θ1 θ1
a
Nestes freios a distância a entre o ponto A do eixo da articulação e o eixo do tambor varia
com a utilização do freio. O desgaste das guarnições está normalmente associado à
diminuição de a . Nestes freios a força de actuação é aplicada no eixo da articulação e tende
igualmente a fazer diminuir a distância a .
107
Nos freios de calço oscilante admite-se que a pressão é proporcional ao desgaste que permite
manter a forma cilíndrica. Assim, o desgaste e a pressão são máximos em θ = 0 = θa e lei de
pressões pode-se traduzir por:
p = pa cos θ (7.20)
metade superior do calço é igual ao da metade inferior. Assim, o momento resultante das
forças de atrito relativamente ao eixo da articulação A pode-se calcular pela expressão
integral:
θ1
M f = 2 ⎡ ∫ f dN (a cos θ − r ) ⎤ (7.21)
⎣⎢ 0 ⎦⎥
Para a configuração mais comum as forças de atrito não produzem momento relativamente
ao ponto de articulação A . Nessas condições o momento dado pela expressão (7.21) é nulo e
a distância do eixo da articulação do calço ao eixo de rotação do tambor verifica a relação:
4sin θ1
a= r (7.22)
2θ1 + sin(2θ1 )
Através de (7.22) verifica-se que quando θ 1 assume os valores 40º, 50º e 60º a distância
Salienta-se que quando se verifica a relação (7.22) as linhas de acção das forças de atrito
resultantes em cada metade do calço passam pelo eixo da articulação, não produzindo
momento de rotação. Os momentos produzidos pelas forças normais em cada uma das
metades do calço anulam-se mutuamente não produzindo também rotação do calço.
Assim, a configuração traduzida por (7.22) representa a condição em que o calço não tende a
rodar em torno da articulação A . Nestas condições, mesmo com um apoio simples do calço
em A este apresenta um desgaste simétrico. Salienta-se no entanto que o desgaste dos calços
tende a diminuir a distância a deixando de se verificar a relação (7.22).
Quando a verifica a relação traduzida por (7.22) as reacções no apoio são dadas por:
θ1
Rx = 2 ⎡ ∫ dN cos θ ⎤ = a ( 2θ1 + sin(2θ1 ) )
p br
⎢⎣ 0 ⎥⎦ 2
(7.23)
θ1
Ry = 2 ⎡ ∫ f dN cos θ ⎤ =
f pa br
( 2θ1 + sin(2θ1 ) )
⎣⎢ 0 ⎦⎥ 2
É interessante notar que Ry = f Rx . Verifica-se também que Rx é igual ao valor integral das
f a pa br
T= ( 2θ1 + sin(2θ1 ) ) = f aRx (7.24)
2
109
Nos freios de cinta existe uma cinta flexível que abraça um tambor. O atrito entre a cinta e o
tambor produz forças que geram um momento de frenagem.
Na Figura 7.11 definem-se algumas das características geométricas fundamentais dos freios
de cinta. Além das características definidas na figura acresce que a cinta tem a largura b , a
qual é medida perpendicularmente ao plano da figura.
Quando o sentido de rotação é o indicado na Figura 7.11 a força P2 é menor que a força P1
verificando-se a relação:
P1
= e fφ (7.25)
P2
Salienta-se que a cinta tem de suportar a força de tracção P1 o que condiciona a escolha das
suas características.
O comando dos freios de cinta está associado à aplicação das forças P1 e P2 preferindo-se
Num freio deste tipo a pressão máxima de contacto entre a cinta e o tambor ocorre no ponto
inicial de contacto entre a cinta e o tambor do lado da força P1 sendo o seu valor dado por
D
T = ( P1 − P2 ) (7.26)
2
7.8 Guarnições
Por vezes os sistemas de frenagem e de embraiagem são concebidos de forma que o atrito
ocorre entre superfícies de materiais diferentes. Quando um dos materiais é metálico e o
outro é não metálico o factor de atrito tende a aumentar. Esta conjugação de materiais
permite igualmente soluções construtivas silenciosas a preços relativamente baixos. O
componente não metálico é muitas vezes suportado por outro elemento mais resistente por
vezes metálico. Nessas condições o componente não metálico designa-se de guarnição.
Das características das guarnições as mais importantes para o projecto são: (1) factor de
atrito, f ; (2) pressão de contacto admissível, pADM ; (3) velocidade de escorregamento
Na Figura 8.1 apresenta-se uma transmissão por correia típica, em que existe uma polia
motora ligada à árvore motora e uma polia movida ligada à árvore movida cujos eixos são
paralelos entre si. Na configuração da Figura 8.1 a polia motora tem menor diâmetro que a
polia movida o que se traduz numa relação de transmissão inferior à unidade. Assim, a árvore
movida apresenta uma velocidade angular inferior à árvore motora. A correia abraça
parcialmente as polias exercendo nestas forças tangenciais responsáveis pela transmissão de
momento entre as polias. Na Figura 8.1 a força de tracção na correia na parte situada acima do
plano médio horizontal é menor que o correspondente valor de força abaixo do referido plano.
Esta diferença de forças traduz-se em momentos aplicados às polias proporcionais aos
correspondentes diâmetros. Numa transmissão por correias verifica-se também que as
velocidades tangenciais na polias são iguais ou apresentam pequenas diferenças.
112 TRANSMISSÕES COM CORREIAS
Na Figura 8.2 apresentam-se os tipos de correias normalmente utilizados. Nas correias planas
a secção transversal é rectangular sendo circular e trapezoidal para as correias redondas e
trapezoidais respectivamente. Nas correias dentadas a secção transversal varia ao longo da
correia como se pode perceber através da Figura 8.2 e da Figura 8.3.
A utilização de transmissões com correias permite muitas vezes simplificar os projectos com a
consequente redução de custos. Esta simplificação resulta também da pequena exigência de
posicionamento dos eixos dos elementos motor e movido. Estes órgãos de transmissão
permitem também absorver choque e isolar vibrações.
113
As transmissões por correias permitem relações de transmissão não unitárias. Contudo, nas
transmissões por correia em que funcionamento se baseia no atrito ocorre um fenómeno
denominado escorregamento funcional que impede a utilização destes órgãos de transmissão
quando se pretende sincronismo entre as árvores motora e movida. No entanto a utilização de
correias dentadas (ver Figura 8.3) permite a sincronização entre duas árvores em rotação. As
correias dentadas são utilizadas no comando das válvulas de alguns motores de explosão
interna (correia da distribuição).
Salienta-se no entanto que a sincronização que se consegue com correias dentadas apresenta
perturbações na relação de transmissão. Assim, se uma polia tiver velocidade de rotação
constante a outra polia apresenta intermitências no funcionamento cujo período
correspondente ao tempo de entrada / saída de cada dente da correia nas polias.
As correias são normalmente constituídas por cabos de algodão, nylon ou aço impregnados
com um elastómero. Os cabos asseguram a resistência à tracção e o elastómero dá forma à
correia e produz o atrito com a polia. Os materiais utilizados devem resistir bem à fadiga
sendo também importante que o elastómero tenha bom comportamento ao desgaste.
Quando o funcionamento de uma transmissão por correias se baseia no atrito é necessário que
a correia seja comprimida sobre as polias. Para que essa compressão ocorra é necessário que
as correias sejam montadas com uma força de tracção inicial. Se a força de tracção for inferior
114 TRANSMISSÕES COM CORREIAS
a certo valor ocorre escorregamento durante o funcionamento. Se essa força for demasiado
grande a vida da correia pode ser substancialmente diminuída. Dada a importância da
manutenção da força de tracção na correia, esta é por vezes ajustada durante a vida da correia.
Podem também utilizar-se soluções construtivas que asseguram a força de tracção adequada.
A caracterização de uma transmissão por correias resulta das condições em que vai ser
utilizada e da vida pretendida. Para garantir períodos substituição considerados normais
utiliza-se por vezes referências de 10 000 ou de 24 000 horas de funcionamento.
Tabela 8.1 – Transmissões com Correias. Factores com mais Influência na Capacidade da
Transmissão.
Factor Justificação
Condições de Tipos de máquinas motora e movida. Tipo de serviço: contínuo ou
serviço intermitente, fracção de funcionamento diário etc. Condições ambientais.
Tipo de correia e O tipo de correia condiciona o atrito nas polias e as relação entre a força
características do lado tenso e a do lado frouxo da correia. As características mecânicas
mecânicas condicionam o factor de atrito e a força de tracção admissível e
consequentemente a capacidade de transmissão.
Velocidade da Para que seja transmitida potência entre as árvores motora e a movida é
correia necessário existir movimento, verificando-se para pequenas velocidades
que a potência aumenta quase linearmente com a velocidade. No entanto
para grandes velocidades as forças centrifugas tendem a ser dominantes.
Nestas condições a correia tende a afastar-se da polia com a consequente
diminuição do atrito e da capacidade de transmissão da correia. Este
factor determina limites máximos para a velocidade de funcionamento
destas transmissões.
Ângulo de O ângulo de abraçamento condiciona a relação entre as forças do lado
abraçamento da tenso e do lado frouxo da correia e, desta forma, a capacidade da
polia de menor transmissão de potência. A menores ângulos corresponde menor
diâmetro capacidade da transmissão. Quando o efeito da força gravítica sobre a
correia tende a tornar o arranjo das polias e da correia assimétrico é
preferível que o lado frouxo da correia fique do lado de cima. Desta
forma aumenta-se ligeiramente o ângulo de abraçamento e
consequentemente a capacidade de transmissão.
Diâmetro da polia A deformação na correia a cada ciclo de funcionamento depende deste
de menor diâmetro. Menor diâmetro corresponde a maior deformação e
diâmetro consequente menor vida e/ou capacidade de transmissão.
Com base na potência que se pretende transmitir entre as árvores motora e movida e nas
condições de serviço determina-se a potência de cálculo ou de serviço. Normalmente os
fabricantes apresentam tabelas com os factores que devem ser utilizados para o cálculo da
potência de serviço em função das condições de funcionamento.
velocidade da correia e consequente aumento das forças centrifugas. O aumento destas forças
fazem diminuir a força de contacto entre a correia e a polia com a consequente diminuição do
atrito entre estes elementos. Este efeito está na origem do estabelecimento de limites
superiores de velocidade para as correias, os quais dependem da massa por unidade de
comprimento da correia e são normalmente indicados pelos fabricantes. Assim, a escolha do
diâmetro da polia de menor diâmetro deve-se fazer considerando as condicionantes referidas e
outras como o espaço disponível e o custo.
O perímetro da correia calcula-se a partir dos diâmetros das polias e da distância entre os
respectivos eixos. Quando se pretende utilizar perímetros normalizados escolhe-se o
perímetro da correia e determina-se a correspondente distância entre os eixos das polias.
As transmissões com correias planas podem apresentar rendimentos até 98% e podem ser
utilizadas quando as distâncias entre eixos são grandes. As correias planas podem ser cortadas
à medida e as polias utilizadas com estas correias podem ser cilíndricas ou abauladas. A
forma abaulada aumenta a estabilidade da correia na polia sendo muitas vezes utilizada
quando o eixo da polia não está no plano horizontal.
Figura 8.5 – Correias Planas. Inversão do Sentido de Rotação. Eixos em Planos Diferentes.
Por vezes utiliza-se uma polia tensora para facilitar os ajustamentos e a substituição da correia
(ver Figura 8.6).
As correias trapezoidais existem em perímetros fixos (ver Tabela 8.2) e utilizam-se com
polias simples ou múltiplas. O perímetro nominal das correias trapezoidais identifica-se como
o perímetro medido pelo seu interior. Nas expressões que relacionam a distância entre os
eixos das polias, os respectivos diâmetros e o perímetro da correia utiliza-se o denominado
perímetro primitivo, o qual é superior ao perímetro interior e se pode obter por relações como
as traduzidas na Tabela 8.3.
H d = K s H nom (8.1)
121
onde:
H nom = potência que se pretende transmitir entre as árvores motora e movida (nominal).
Muitas vezes utiliza-se a potência de serviço H d para fazer uma primeira selecção da secção
da correia. Shigley [2], propõe a Tabela 8.5 para fazer essa primeira selecção, a qual pode ser
modificada em fase posterior do processo de caracterização da transmissão.
H a = K 1K 2 H tab (8.2)
onde:
122 TRANSMISSÕES COM CORREIAS
Verifica-se que a potência que uma correia pode transmitir se aproxima da correspondente
potência característica na medida em que o produto K 1K 2 se aproxima da unidade. Em
correia H tab (Tabela 8.7), depende do diâmetro da polia de menor diâmetro e da velocidade
da correia. Como se pode verificar por análise do dados apresentados na Tabela 8.7, para
valores pequenos de velocidade da correia a potência característica tende a aumentar com a
velocidade, invertendo-se esta tendência para valores grandes de velocidade. Assim, pode-se
estabelecer para cada tipo de secção e diâmetro de polia uma velocidade a que corresponde o
máximo de potência característica.
Tabela 8.7 – Correias Trapezoidais. Potência Característica de uma Correia H tab (Hp).
124 TRANSMISSÕES COM CORREIAS
Na Figura 8.10 representa-se a evolução da tensão máxima numa correia trapezoidal num
ciclo completo em torno das polias. São apresentadas as forças que originam as tensões
máximas nas várias localizações. Os aumentos das tensões máximas nos pontos B e E
resultam das flexões a que a correia é sujeita quando “entra” nas polias. As diminuições de
tensões nos pontos C e F são consequência do aumento do raio de curvatura da correia quando
“deixa” as polias.