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Estranhamento

pt.wikipedia.org/wiki/Estranhamento

Estranhamento ou Ostranenie (остранение) foi um termo utilizado pelo formalista russo


Viktor Chklovski em seu trabalho “Iskusstvo kak priem” (“A Arte como processo”) ou ("A Arte
com procedimento"), publicado pela primeira vez em Poetika (1917). Este artigo está
publicado em português na coletânea Teoria da literatura: formalistas russos (Porto Alegre,
1971; São Paulo, 2013) e em Todorov (Lisboa, 1999).

O conceito nasce das discussões entre os formalistas russos com as idéias do crítico
ucraniano Aleksandr Potebnia ou Oleksander Potebnia (1835–91) sobre a função da arte na
sociedade e a mimesis. Potebnia afirmava que “As imagens não têm outra função senão
permitir agrupar objetos e acções heterogéneas e explicar o desconhecido pelo conhecido”.
Segundo o Poetbnia a arte apresentava o desconhecido como referência da natureza
conhecida pelo homem (in Chklovski em “A arte como processo”, em Teoria da Literatura I:
Textos dos Formalistas Russos apresentados por Tzvetan Todorov, Edições 70, Lisboa, 1999,
p.75).

Para Chklovski, ao contrário, “A finalidade da arte é dar uma sensação do objecto como
visão e não como reconhecimento; o processo da arte é o processo de singularização
ostranenie - (estranhamento) dos objectos e o processo que consiste em obscurecer a
forma, em aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O acto de percepção em arte é
um fim em si e deve ser prolongado; a arte é um meio de sentir o devir do objecto, aquilo
que já se ‘tornou’ não interessa à arte.” (ibid., p.82).

O estranhamento para Chklovski seria então o efeito criado pela obra de arte literária para
nos distanciar (ou estranhar) em relação ao modo comum como apreendemos o mundo e a
própria arte, o que nos permitiria entrar numa dimensão nova, só visível pelo olhar estético
ou artístico.

Conforme esclarece Carlos Ceia, O termo é de difícil tradução: a palavra original, ostranenie,
não existe na língua russa (quer como substantivo, ostranenie, quer como verbo, ostranit’; a
palavra russa para “estranhar” é otstranit). Maiores detalhes sobre o termo russo podem
ser acompanhados na introdução de Gerald L. Burns a Theory of Prose (Dalkey Archive
Press, Illinois, 1998).

A tradução do termo ostranenie, para o português ou para o inglês tem sido escolhida
como singularização ou desfamiliarização (defamiliarization) e estranhamento
(estrangement).

A tradutora portuguesa (Isabel Pascoal) opta pelo termo “singularização”, mas este é
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limitador. Burns considera o termo desfamiliarização (introduzido por Lee T. Lemon e
Marion J. Reis em inglês, na publicação Russian Formalist Criticism, 1965) também incorreto,
porque a acepção que Chklovski pretendia era precisamente a de um efeito contrário a uma
desfamiliarização.

Burns firma que "ao contrário, o seu significado procede do que é cognitivamente
conhecido (a linguagem das ciências), as regras e fórmulas que sobressaem da procura de
uma economia do esforço mental, pela familiaridade conhecida, ou seja, ao real
conhecimento que expande e 'complica' nosso processo perceptivo pelo rico uso de
metáforas, similares e múltiplas figuras de linguagem da fala". ("on the contrary, it proceeds
from the cognitively known (the language of science), the rules and formulas that arise from
a search for an economy of mental effort, to the familiarity known, that is, to real knowledge
that expands and ‘complicates’ our perceptual process in rich use of metaphors, similes and
a host of other figures of speech.” (ibid., p.xix).

Burns apresenta como alternativa, na língua inglesa, o neologismo enstrangement,


também intraduzível ao português, parecendo mais apropriada a forma portuguesa
“estranhamento”.

O termo de Chklovski está próximo do conceito de desautomatização proposto por


Mukarovskýy e também não distante do conceito de efeito de des-alienação V-effekt, que
mais tarde Bertolt Brecht vai propor.

Este conceito não era totalmente novo pois os poetas românticos ingleses (Coleridge,
Biographia Literaria, 1817), faz o elogio da poesia de Wordsworth chamando a atenção para
uma capacidade especial do poeta enquanto criador único de um discurso único (The
Defense of Poetry - 1840).

O estranhamento é essa forma singular de ver e apreender o mundo e aquilo que o


constitui, visão que a literatura e a arte alargam, porque desafia e transforma as idéias pré-
concebidas sobre o mundo e sobre as próprias formas da Arte.

verbete estranhamento de Carlos Ceia

Teoria da literatura: formalistas russos, organização de Dionísio de Oliveira Toledo e


prefácio de Boris Schnaiderman. Porto Alegre, Editora Globo, 1971.
Chklovski in “A arte como processo”, em Teoria da Literatura I: Textos dos Formalistas
Russos apresentados por Tzvetan Todorov, Edições 70, Lisboa, 1999.
Shklovskij, Viktor. “Art as Technique.” Literary Theory: An Anthology. Ed. Julie Rivkin
and Michael Ryan. Malden: Blackwell Publishing Ltd, 1998.
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KOTHE, F. R. . Estranho estranhamento, ensaio sobre Chklóvski.. Suplemento Literário
de Minas Gerais, Imprensa Oficial., Belo Horizonte, v. 1, p. 1 - 1, 20 ago. 1977.
Texto de Huang Zuolin: Brecht e o Estranhamento no Teatro Chinês - versão ao
português por Robson Corrêa de Camargo - 1982 - Conferência Brecht e o Teatro na
Ásia
R. H. Stacy: Defamiliarization in language and literature (1977)
Victor Erlich: Russian Formalism: History, Doctrine (4ªed., 1980).
Modern literary theory: a reader, editado por Philip Rice e Patricia Waugh. Londres,
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Margolin, Uri. “Russian Formalism .” The Johns Hopkins Guide to Literary Theory and
Criticism. Ed. Michael Groden, Martin Kreiswirth, and Imre Szeman. Baltimore,
Maryland: The Johns Hopkins University Press, 1994.

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