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pt.wikipedia.org/wiki/Estranhamento
O conceito nasce das discussões entre os formalistas russos com as idéias do crítico
ucraniano Aleksandr Potebnia ou Oleksander Potebnia (1835–91) sobre a função da arte na
sociedade e a mimesis. Potebnia afirmava que “As imagens não têm outra função senão
permitir agrupar objetos e acções heterogéneas e explicar o desconhecido pelo conhecido”.
Segundo o Poetbnia a arte apresentava o desconhecido como referência da natureza
conhecida pelo homem (in Chklovski em “A arte como processo”, em Teoria da Literatura I:
Textos dos Formalistas Russos apresentados por Tzvetan Todorov, Edições 70, Lisboa, 1999,
p.75).
Para Chklovski, ao contrário, “A finalidade da arte é dar uma sensação do objecto como
visão e não como reconhecimento; o processo da arte é o processo de singularização
ostranenie - (estranhamento) dos objectos e o processo que consiste em obscurecer a
forma, em aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O acto de percepção em arte é
um fim em si e deve ser prolongado; a arte é um meio de sentir o devir do objecto, aquilo
que já se ‘tornou’ não interessa à arte.” (ibid., p.82).
O estranhamento para Chklovski seria então o efeito criado pela obra de arte literária para
nos distanciar (ou estranhar) em relação ao modo comum como apreendemos o mundo e a
própria arte, o que nos permitiria entrar numa dimensão nova, só visível pelo olhar estético
ou artístico.
Conforme esclarece Carlos Ceia, O termo é de difícil tradução: a palavra original, ostranenie,
não existe na língua russa (quer como substantivo, ostranenie, quer como verbo, ostranit’; a
palavra russa para “estranhar” é otstranit). Maiores detalhes sobre o termo russo podem
ser acompanhados na introdução de Gerald L. Burns a Theory of Prose (Dalkey Archive
Press, Illinois, 1998).
A tradução do termo ostranenie, para o português ou para o inglês tem sido escolhida
como singularização ou desfamiliarização (defamiliarization) e estranhamento
(estrangement).
A tradutora portuguesa (Isabel Pascoal) opta pelo termo “singularização”, mas este é
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limitador. Burns considera o termo desfamiliarização (introduzido por Lee T. Lemon e
Marion J. Reis em inglês, na publicação Russian Formalist Criticism, 1965) também incorreto,
porque a acepção que Chklovski pretendia era precisamente a de um efeito contrário a uma
desfamiliarização.
Burns firma que "ao contrário, o seu significado procede do que é cognitivamente
conhecido (a linguagem das ciências), as regras e fórmulas que sobressaem da procura de
uma economia do esforço mental, pela familiaridade conhecida, ou seja, ao real
conhecimento que expande e 'complica' nosso processo perceptivo pelo rico uso de
metáforas, similares e múltiplas figuras de linguagem da fala". ("on the contrary, it proceeds
from the cognitively known (the language of science), the rules and formulas that arise from
a search for an economy of mental effort, to the familiarity known, that is, to real knowledge
that expands and ‘complicates’ our perceptual process in rich use of metaphors, similes and
a host of other figures of speech.” (ibid., p.xix).
Este conceito não era totalmente novo pois os poetas românticos ingleses (Coleridge,
Biographia Literaria, 1817), faz o elogio da poesia de Wordsworth chamando a atenção para
uma capacidade especial do poeta enquanto criador único de um discurso único (The
Defense of Poetry - 1840).
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