Vous êtes sur la page 1sur 8

1

PROPORCIONANDO HOLDING À DUPLA MÃE-BEBÊ

Roberta Kehdy1

Ao receber um bebê e sua mãe, o médico pediatra pode se ver diante de uma
situação complexa com demandas e angústias da mãe ou sintomas psicossomáticos do
bebê que podem ultrapassar os limites de sua atuação e se beneficiar da participação do
psicólogo perinatal para auxiliá-lo a prestar uma assistência mais adequada ao bebê e
sua família. Consideramos importante, por se tratar de uma clínica com especificidades,
que o psicólogo tenha uma formação especializada em psicologia perinatal. Este
profissional ao trabalhar os laços desde os primórdios tem mais chances de estabelecer
uma relação na qual aquele que se vê sendo cuidado, no caso a mãe, encontra mais
disponibilidade para cuidar de seu bebê. Sabemos que há um aspecto de urgência
quando se trata da constituição psíquica de um novo ser humano, porque o investimento
libidinal interfere no desenvolvimento das potencialidades somáticas do bebê e a
intervenção precoce pode evitar possíveis problemas no vínculo mãe/bebê e por
consequência no desenvolvimento global deste.

Winnicott pediatra e psicanalista inglês definiu em meados da década de 1950


alguns conceitos fundamentais para pensarmos a qualidade do cuidado materno e sua
importância para a saúde psíquica do bebê que orientam nosso trabalho com mães e
bebês. São eles: preocupação materna primária, mãe suficientemente boa e ambiente
de Holding (sustentação).

A mãe suficientemente boa é aquela que Winnicott (1956) descreve como


tendo no final da gravidez e primeiras semanas de vida do bebe, desenvolvido um
estado psíquico particular de extrema sensibilidade com importante função de
identificar e acolher as necessidades de seu filho, a que ele denomina de "preocupação
materna primária".

1
Psicóloga Perinatal , Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes
Sapientiae onde é supervisora do Curso Psicopatologia Psicanalítica e clínica contemporânea, Professora
e Coordenadora da Clínica Social do Instituto Gerar: psicanálise, perinatalidade e parentalidade
2

Bydolowski (2002) enriquece este conceito ao apontar que na perinatalidade o


psiquismo da mulher apresenta grande plasticidade e favorece a aliança terapêutica com
os profissionais. Mas há também uma intensificação das angústias, pois acontece como
que um afrouxamento das defesas psíquicas caracterizando um funcionamento
denominado por ela de transparência psíquica.

Esta sensibilidade aumentada possibilita que a mãe realize bem sua função,
atendendo às necessidades do bebê quando ele precisa, mas também o desiludindo
quando é necessário. O suficientemente, do suficientemente boa, é fundamental na
medida que traz a ideia de que mãe sempre falha e que a mãe perfeita além de não
existir, seria prejudicial ao bebê, pois não contemplaria sua humanidade e as frustações
que fazem parte da realidade.

Outro aspecto que Winnicott enfatiza é a importância da qualidade do ambiente


de cuidado que é oferecido pela mãe suficientemente boa denominado por ele de
ambiente de Holding. Este ambiente é proporcionado pelos pais e vai de encontro às
necessidades específicas do bebê incluindo: proteção das agressões fisiológicas, a
maneira de tocar, a temperatura, a sensibilidade auditiva, a sensibilidade visual. O
ambiente de Holding inclui toda a rotina de cuidado que se estende pelo dia e pela noite.
Como cada bebê é único, o que uns necessitam, não é o mesmo que outros, assim é
necessário que a mãe se adapte às necessidades próprias de seu bebê. Este ambiente
possui uma qualidade afetiva importante e inclui necessariamente o pai que tem a
função de oferecer Holding para a mãe. Este aspecto é fundamental, pois a mãe para
exercer uma maternagem suficientemente boa, precisa estar ela também sustentada por
um ambiente de Holding.

Contudo, ser mãe hoje não é nada fácil, pois vivemos um momento histórico
caracterizado pela fragilidade dos laços sociais e pelo aumento da velocidade das
comunicações que produz isolamento. Para as mulheres no ciclo gravídico-puerperal,
este isolamento pode ser ainda maior, devido às intensas mudanças na condição da
mulher nas últimas décadas. A ampliação dos métodos contraceptivos permitiu uma
vida sexual menos atribulada por uma gravidez indesejada, possibilitando que o
momento da gravidez seja percebido como uma escolha especifica. Com a entrada no
mercado de trabalho, surgiram novas maneiras de realização da feminilidade que não
3

apenas a maternidade, o que muitas vezes, leva a uma postergação da mesma para uma
etapa onde o relógio biológico pode não corresponder. Assim, quando a mulher decide
ser mãe, geralmente, há uma enorme expectativa e grande idealização deste desejo.

Por outro lado, ocorreu uma grande cientificização da maternidade. Atualmente,


muitas gestantes não têm nenhuma familiaridade com o processo do parto ou com o
mundo dos bebês. As famílias, geralmente reduzidas e isoladas, oferecem pouca rede de
apoio no pós-parto. O aleitamento e os cuidados com bebês, que as mulheres aprendiam
em casa com suas mães e tias no convívio com a família estendida, passam a ser
informações técnicas, a serem adquiridas em livros ou com especialistas. Assim,
somando-se todas essas mudanças, muitas mulheres consideram-se pouco aptas para
desempenhar a função materna. Não é raro nos depararmos com mulheres que contam
que seu bebê é o primeiro que vão carregar...

Observamos que na gravidez e principalmente depois do parto, a existência de


uma rede social que dê sustentação para a futura mãe e seu bebê é muito importante.A
chegada de um bebê é um evento que afeta consideravelmente não só os pais, mas todo
o entorno social, pois o bebê, pelo seu desamparo constitucional é totalmente
dependente e necessita de cuidados intensos, que mobilizam “sentimentos ligados à
capacidade do cuidar incondicional”. Há ainda implicações transgeracionais como a
passagem do lugar de filha para mãe e de filho para pai. A rotina da casa e das pessoas
que a frequentam é bastante modificada. São transformações significativas que, muitas
vezes, expõem a fragilidade da rede social pessoal.

Consideramos que em situações onde a falha na rede original acontece, é


necessário criar uma rede substituta profissional visando restaurar o ambiente de
Holding, pois este é um período onde estamos diante de um novo ser e da constituição
de seu psiquismo. A Intervenção do psicólogo neste momento da perinatalidade é
importantíssima, pois o psiquismo da puérpera se vê inundado por projeções maciças
que, se não forem recebidas e trabalhadas junto à mulher/mãe, poderão ser depositadas
no bebê.

Ilustraremos a seguir como um médico pediatra trabalhou em parceria com um


psicólogo perinatal que ao realizar uma intervenção precoce, colaborou para que um
4

psiquismo incipiente pudesse se constituir e não se cristalizar como um Transtorno


Global de Desenvolvimento:
Márcia chegou no período final de sua segunda gestação, encaminhada pelo
pediatra de Pedro, seu filho mais velho, que apresentava transtorno global do
desenvolvimento, pois se sentia muito angustiada diante da proximidade do novo
parto/nascimento. Agendamos para a semana seguinte uma entrevista através deste
médico, mas no dia marcado, a paciente não compareceu. Por saber que as situações em
torno da mesa do parto e do berço do bebê são sempre de muita urgência, optamos por
pedir a este pediatra que passasse o nosso telefone para Márcia.

Passados quinze dias, Márcia ligou contando que já tinha dado à luz, e mesmo
sendo este seu primeiro contato, narrou em detalhes suas preocupações e ansiedades, o
que parecia indicar uma forte ligação afetiva com a psicóloga, sugerindo a transparência
psíquica apresentada acima. Na entrevista agendada para a semana seguinte, Márcia
compareceu com o bebê de dez dias, falou sem parar, apresentando um discurso
bastante confuso que indicava intenso sofrimento psíquico.

Ela relatou que estava com medo de sair de casa, pois achava que os vizinhos
poderiam fazer mal a ela e aos filhos e também referiu estar ouvindo vozes, mas
apresentava certa crítica, identificando que eram coisas da cabeça dela. Falou-nos que
não estava conseguindo cuidar dos afazeres domésticos e que era chamada de
preguiçosa pelo marido, Pascoal.

Ao longo das primeiras sessões constatamos que, devido à gravidade da


situação e à intensidade de seu sofrimento, precisaríamos encaminhá-la para um
psiquiatra. Explicitamos ao marido que, neste momento, Márcia não estava em
condições nem de cuidar da casa e nem dos filhos sozinha, não por preguiça, mas por
ser um momento de crise que exigia cuidado e atenção de todos nós para com ela. Esse
homem mostrou-se colaborativo, tirou férias no primeiro mês e depois chamou a mãe
dele do Pará para vir ajudar a todos nessa nova configuração familiar. A postura do
marido, tomando algumas decisões fundamentais foi muito importante para Márcia, que
podia ir se percebendo numa situação diferente daquela vivida com seu primeiro filho,
quando se sentiu completamente sozinha e desamparada.
5

Observamos que Paulo começava a apresentar indícios de sofrimento psíquico:


um olhar fixo, os olhos arregalados e uma postura rígida que o mantinha com seu
corpinho voltado para um mesmo lado e com um tônus mais alto, sem conseguir olhar
sequer para sua mãe ou em direção a ela. Realizamos, então, alguns atendimentos onde
Márcia ficava com sua psicóloga perinatal numa sala e, na sala ao lado, outra
psicanalista que se ocupava com o laço mãe/bebê, fazia um trabalho de “banho de
palavras” diretamente com Paulo. Esta possibilidade de separarmos a dupla ao longo
desses atendimentos se deu por termos já garantido um vínculo dela conosco e com seu
bebê. Foi um período do trabalho onde ela retomou através de suas ‘lembranças-relatos’
sua primeira gestação que aconteceu logo que tinha se mudado para São Paulo num
período repleto de adaptações e turbulências e também os primeiros meses de Pedro que
ainda com poucos dias de vida na maternidade teve uma parada cardiorespiratoria e
quase morreu. Contava histórias de vivências muito sofridas de solidão e abandono,
algumas que pareciam fantasias, mas que indicavam uma intensa vivência de
desamparo e dor.

À medida que Márcia foi melhorando, foi realizada uma mudança no enquadre, na
qual a dupla mãe-bebê/Márcia-Paulo passou a ser atendida simultaneamente por uma só
psicóloga perinatal, com o intuito de favorecer o desenvolvimento do laço entre eles.
Nas sessões, ela trazia sua percepção de como Paulo interagia mais que Pedro. Chegava
muitas vezes, encantada com a responsividade do bebê na relação com ela, o que ficava
evidente na interação entre eles na nossa presença. Ela lhe propunha jogos constituintes
como cadê-achou e também jogos simbólicos e acompanhávamos como Paulo estava se
desenvolvendo bem, tendo deixado de apresentar os sinais que nos preocuparam quando
era menor. Foi um período na qual trabalhamos, principalmente, a separação de Márcia
com o filho mais velho e também o reconhecimento das diferenças entre o bebê Paulo e
seu irmão. Ela tinha muito medo que Paulo também ficasse autista como Pedro, e já
conseguia explicitar esse medo de forma mais organizada. Foram muitas e muitas
conversas onde ela parecia precisar do aval da psicóloga tanto para se certificar de que
Paulo podia ter um destino diferente de Pedro, quanto para se tranquilizar de sua
capacidade de cuidar bem dos filhos. Era visível que apesar de sua fragilidade psíquica,
Márcia conseguia propor nas sessões: brincadeiras e conversas com Paulo, sugerindo
maternagem “suficientemente boa”. Era-nos muito gratificante reconhecer as
6

possibilidades dela, que amparada por uma equipe de sua confiança, podia no segundo
pós-parto desenvolver uma relação com Paulo muito distinta da que experimentava com
Pedro.

Este atendimento durou cerca de 2 anos e finalizou com o encaminhamento para


um serviço próximo a nova residência da família.

Missonier (2004) enfatiza que devido à grande sensibilidade do psiquismo


materno no puerpério, este é um período de vulnerabilidade. Assim é muito importante
que a mulher conte com uma rede de apoio e sustentação, pois o ciclo gravídico–
puerperal redimensiona as relações da mulher com todas as pessoas de sua confiança.
Em situações, onde a mulher não dispõe de alguém confiável com quem partilhar suas
emoções e suas reflexões sobre as crises que atravessa, a gestação e pós-parto serão
vividos com mais sofrimento.

Pensamos que Márcia não pôde contar com uma rede social que lhe desse uma
sustentação mínima ao longo da gestação e no nascimento do primeiro filho. Somado à
experiência traumática de quase morte desse seu primeiro bebê no início da vida, viveu
uma grave crise psíquica que dificultou, e muito, o estabelecimento do laço com ele.
Assim, quando nos procurou estava com muito medo que isto se repetisse no segundo
pós-parto. A possibilidade de contar com uma escuta e um acolhimento para estas
lembranças permitiu que Márcia, ao ser legitimada em sua dor, fosse se organizando
lentamente e pudesse estabelecer com Paulo um laço mais saudável e consistente. Ela
pôde ampliar os sentidos dados à primeira gestação: “fome, solidão e agressão” para
fome da comida de sua mãe, solidão por estar longe dos seus entes queridos e confiáveis
e agressão por ter perdido tanta coisa: vida estruturada, independência financeira, lugar
de caçula.

Pudemos também contar com a presença do marido que esteve próximo ao longo
de todo o processo, principalmente porque o sofrimento de Márcia pedia uma
continência robusta ao nascimento de seu segundo filho. Dessa forma, este homem pôde
funcionar como agente paterno, não somente por fazer cortes no excesso materno para
com o bebê deles, como também comparecendo sempre que solicitado nas cenas
clínicas para dar Holding a sua mulher, para que esta pudesse maternar seu novo bebê.
7

Ele compôs com nossa equipe uma rede de sustentação e de acolhimento muito
continente e firme para que sua mulher fosse se sentindo mais segura e enlaçasse seu
segundo filho.

Consideramos que no acompanhamento com esta família, funcionamos como


metáfora de rede - oferecendo continência, flexibilidade e sustentação - que embalou,
aconchegou e sustentou Márcia e Pascoal para que eles propiciassem Holding para
Paulo, além é claro de colocar palavras em todo o sofrimento desta mulher, deste bebê e
por que não, de toda a família. Ofereceremos o Holding robusto que eles precisavam
para receber Paulo e não reproduzissem com ele, os desencontros pelos quais
caminharam com o primeiro filho. Assim, construíram com Paulo um laço que o
possibilitou iniciar sua constituição psíquica como sujeito, diferente de seu irmão Pedro.

Para encerrar gostaríamos de apontar que o atendimento psicológico que


proporciona Holding à dupla mãe bebe pode ser importante, não só em situações tão
explícitas de fragilidade materna como no caso acima, mas também é muito útil em
situações onde a dupla mãe-bebê se encontra com rede social precária (sem presença de
família ou amigos) ou quando o bebê apresenta sintomas físicos que sugerem quadros
psicossomáticos que podem comprometer seu desenvolvimento.

Assim a postura atenta do pediatra é de grande importância, pois ele é o


profissional que primeiro está em contato com a dupla mãe- bebê e pode identificar
situações em que há algum risco para integração psicossomática do bebê. Quanto antes,
esta dupla puder ter uma escuta psicológica, menor o prejuízo para a constituição
psíquica do bebê!
8

BIBLIOGRAFIA

ABRAM, J – A linguagem de Winnicott Rio de Janeiro Editora Revinter, 2000


BYDLOWSKY, M. – O olhar interior da mulher grávida, In Novos olhares sobre a
gestação e a criança até os 3 anos - Saúde perinatal, educação e desenvolvimento do
bebê, Laurista Correa Filho e col. (org), Brasília, Editora LEFE, 2002, cap. 11
BYDLOWSKY, M- Da transparência psíquica à preocupação materna primária - uma
via de objetalização In Novos olhares sobre a gestação e a criança até os 3 anos-Saúde
perinatal, educação e desenvolvimento do bebê, Laurista Correa Filho e col. (org),
Brasília,Editora LEFE 2002 Cap 12-
DEBREY,R - Bebês/ Mães em Revolta – Porto Alegre Ed Artes Médicas, 1988

MISSIONIER, S. – “O início da parentalidade, tornar-se mãe, tornar-se pai. As


interações dos pais e da criança antes do nascimento”, In Solis-Ponton, L., Ser pai, ser
mãe - parentalidade: um desafio para o terceiro milênio, São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2004, cap. X- pp. 115-122.

SZEJER, M - 9 meses na vida de uma mulher Abordagem psicanalítica da gravidez e


do nascimento São Paulo: Casa do Psicólogo,1997

SZEJER, M - Palavras para nascer: a escuta psicanalítica na maternidade São Paulo:


Casa do Psicólogo, 2006
WINNICOTT, D.W – “Preocupação materna primária” (1956) In Da pediatria à
psicanálise –Ed Francisco Alves, 1982 cap 24 pp491 a498

Vous aimerez peut-être aussi