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Discussão crítica do caso "Estudo de Doenças Venéreas na Guatemala"

Disciplina: Bioética
Docente: Raquel Vecchio Fornari

Dafne Allane de Souza 21030616

Dorimarques Júnior 11121216

Israel Morilha 11009714

Marcos Kenji Kuribayashi 11002416

Matheus Chagas 21013616

Natasha Toledo dos Santos 21004414

Pamela Camargo 21004416

Vitor Correia Dias 21077613

São Bernardo do Campo


2019
Discussão crítica do caso "Estudo de Doenças Venéreas na Guatemala"

O caso analisado foi um estudo sobre sífilis e outras doenças venéreas na


Guatemala realizado pelo doutor norte-americano John Cutler, ​pesquisador do Estudo
de Sífilis de Tuskegee,​ entre os anos de 1946 e 1948.
A seguir, serão retratados os fatos que envolvem esse caso. Para o estudo da
penicilina em doenças venéreas como sífilis, gonorréia e cancro, foram utilizados 696
participantes. Esses eram pacientes psiquiátricos, presidiários, prostitutas e soldados.
Alguns deles ainda participaram mais de uma vez. Desses 696 participantes, 532 foram
utilizados no estudo sobre a sífilis, na qual diversas prostitutas foram inoculadas com
as bactérias e tiveram a autorização para realizar visitas íntimas a presidiários. Após a
estratégia de contaminação ter dado errada foram infectados intencionalmente
presidiários e pacientes psiquiátricos. Desses infectados, 93% foram tratados com
penicilina, que ainda estava sendo testada, mas só 26% foram tratados
adequadamente e, no fim, houveram 71 mortes.
Os estudos sobre gonorréia e cancro foram tratados da mesma maneira que o
de sífilis, mas dessa vez apenas com 142 pessoas. Não houve consentimento dos
participantes sob alegação de que eles não tinham condições de entender o
procedimento.
Posteriormente, foram realizados outros estudos envolvendo sífilis, mas dessa
vez com crianças de orfanatos.
Já sobre as circunstâncias envolvidas destacam-se a utilização de população
humana vulnerável, que os participantes foram infectados propositalmente, que
cigarros eram oferecidos como incentivo à participação no estudo, que nem todos os
participantes foram tratados de maneira adequada e que a penicilina ainda estava
sendo testada.
O principal problema bioético observado é a pesquisa em seres humanos de
maneira não consensual ou sem que os participantes saibam as reais consequências
dos experimentos.
Os quatro princípios básicos, descritos por Tom L. Beauchamp e James F.
Childress no livro “Principles of Biomedical Ethics”, são violados neste caso (não
maleficência, beneficência, respeito à autonomia e justiça). O primeiro trata de não
causar mal ou danos a pacientes ou a pessoas submetidas a experimentos, o dano
apenas é aceitável quando os benefícios advindos dele se sobrepõem, como é o caso
de um exame de mamografia, que submete as pacientes ao desconforto e a dor da
compressão que provoca o aparelho para o diagnóstico de anomalias.
O segundo trata de “fazer o bem”, agir em benefício do outro, fazendo o que for
melhor para a pessoa que participa da pesquisa. Em vez de remover o mal (as
doenças venéreas), os pesquisadores inocularam o mal dentro de suas “cobaias” e
nem mesmo ofereceram tratamento digno posteriormente, sendo responsáveis por no
mínimo 71 mortes. Os benefícios devem sobrepor-se aos riscos sempre.
O princípio da autonomia diz que deve-se dar aos envolvidos em pesquisas
todas as informações necessárias para que escolham o que julgam ser o melhor para
si mesmos, como quais são os efeitos colaterais de quaisquer drogas, quais são os
objetivos da pesquisa, etc. A pessoa não deve ser influenciada a tomar quaisquer
decisões, deve ter aptidão mental para decidir, ou seja, não pode ser criança e nem
detentora de limitações psíquicas, devendo compreender, racionalizar e deliberar a
respeito das questões que lhe são propostas. Esse princípio foi absolutamente ferido
durante o experimento, já que a maior parte dos participantes, senão todos, não tinham
consciência do mal que se lhe poderia ser causado, nem quais eram os objetivos para
tal, e também havia integrantes de instituições mentais, que não poderiam por si
mesmo tomar essa decisão. Muito provavelmente muitos também não consentiram em
ter objetos médicos entrando em seus corpos via intrauretral direta, por exemplo.
O princípio de justiça foi violado na medida em que os participantes do
experimento eram pessoas marginalizadas pela sociedade, presidiários, prostitutas,
pacientes de hospitais psiquiátricos e foram escolhidos justamente por não haver
preocupação comum a respeito dessas classes. Todas as pessoas devem ter direito
aos cuidados de sua saúde. Deve haver preocupação com a equidade social
(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 1994).
Como nenhum indivíduo foi submetido e nem mesmo apresentado a algum
termo de consentimento esclarecido para participar dos experimentos, ninguém teve a
liberdade de escolha e, portanto, de consentir ou recusar qualquer intervenção
realizada sobre eles. Os pesquisadores alegaram que os participantes não tinham
condições necessárias para entender o propósito do estudo e o que ocorreriam com
eles durante o processo e por esta razão, não forneceram qualquer tipo de informação
e esclarecimento a eles sobre a pesquisa. Além disso, os participantes foram
infectados intencionalmente com doenças sexualmente transmissíveis com grande
potencial de gerar complicações às suas saúdes e consequentemente risco às suas
vidas. Sendo assim, pode-se considerar que o direito à não discriminação, o direito à
liberdade e o direito à não ser submetido a nenhum tratamento desumano ou
degradante, estabelecidos, respectivamente, pelos artigos II, III e V da Declaração
Universal dos Direitos Humanos foram expressamente violados.
As virtudes devem ser entendidas a busca pela excelência da ação humana,
busca pelo auto aprimoramento (GOLDIM, 2009). Pode ser visto que essas virtudes
não são aplicadas nos experimentos, como, por exemplo, a justiça (tratar as diferentes
pessoas de forma não desigual), já que os pacientes são praticamente tratados apenas
como um objeto de pesquisa, ao contrário dos pesquisadores. Outras virtudes não
utilizadas são a temperança (usar os recursos na medida da necessidade) e a
sabedoria (uso do conhecimento de forma adequada), uma vez que não havia
necessidade de infectar tantas pessoas com doenças venéreas. Desse modo, também
não é encontrada a presença da alteridade, que significa, ainda de acordo com Goldim
(2009), reconhecer-se no outro, mesmo que em um primeiro momento existam
diferenças físicas, psíquicas e culturais.
No Brasil, a legislação atual a respeito do tema é a resolução 196/96 do
Conselho Nacional da Saúde. Esta resolução se fundamenta nos principais
documentos internacionais sobre o tema como o Código de Nuremberg (1947), a
Declaração de Direito do Homem (1948) a Declaração de Helsinque (1964 e suas
versões posteriores), o Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
(ONU,1966, aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro em 1992), as Propostas de
Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres
Humanos (CIOMS/OMS 1982 e 1993) e as Diretrizes Internacionais para Revisão Ética
de Estudos Epidemiológicos (CIOMS, 1991), além de cumprir disposições da da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e da Legislação brasileira
correlata: Código de Direitos do Consumidor, Código Civil e Código Penal, Estatuto da
Criança e do Adolescente, Lei Orgânica da Saúde 8.080, de 19/09/90 entre outras.
Ela incorpora os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não
maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar os direitos e deveres
que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
Em seu inciso III são elaborados os aspectos éticos da pesquisa em seres
humanos, onde encontra-se o desenvolvimento dos referencias básicas além de
normas baseadas nos documentos internacionais.
O inciso IV é sobre o Consentimento Livre e Esclarecido, estabelecendo todas
as normas e procedimentos para que de fato haja o consentimento, como a utilização
de uma linguagem acessível, o que deve ser feito em pesquisas envolvendo crianças e
adolescentes, em casos em que é impossível registrar o consentimento livre e
esclarecido além de outros.
O inciso V discursa sobre como o pesquisador deve agir quanto aos possíveis
riscos e suas responsabilidades. Os incisos VI a IX tratam, respectivamente do
protocolo de pesquisa e como o mesmo deve ser elaborado; sobre os Comitês de Ética
e pesquisa (o que são, como devem ser compostos, quais são suas atribuições e como
devem atuar); sobre a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (o que são, como
devem ser compostos, quais são suas atribuições e como devem atuar; e indicações
de como os pesquisadores e o CEP devem atuar (o pesquisador deve aguardar o
pronunciamento do CEP, que serão considerados co-responsáveis, o desenvolvimento
será como delineado entre outras coisas).
Por fim, a respeito das crenças e valores envolvidos, é possível citar que, de
acordo com o professor Goldim (2009), os sistemas de crenças lidam no presente
simultaneamente com o passado e o futuro. Na visão dos pesquisadores, o uso de
pessoas consideradas descartáveis pela sociedade dos anos 1940 e 1950, tais como
presidiários, soldados e prostitutas de países de terceiro mundo ou de camadas
socioeconômicas inferiores da sociedade americana, pode ser justificado uma vez que
as pesquisas estariam sendo feitas usando esses poucos em prol dos muitos que
poderiam ser beneficiados por estas. A forma como os tratamentos e testes foram
conduzidos indicam um afastamento dos pesquisadores e daqueles que visavam
beneficiar dos sujeitos aos testes. Porém, na visão dos sujeitos dos testes, o seu
tratamento inadequado não poderia vir a seu conhecimento porque não se
submeteriam a tais condições por evidentemente não se verem nas mesmas condições
que seus experimentadores os viam. Um valor que vale a pena ser citado é a
afetividade, porque, uma vez que os pesquisadores não enxergavam a si mesmos
naquelas pessoas, eram impossibilitados de ter este sentimento. No caso foi possível
notar que não havia nem afeto, familiar ou não, nem algum tipo de emoção envolvendo
os pesquisadores e os participantes usados como objeto de estudo.
REFERÊNCIAS

BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F. ​Principles of Biomedical Ethics​. 4ed. New


York: Oxford University Press, 1994.

Conselho Nacional de Saúde (Brasil). Resolução 196/96 versão 2012. Disponível


em: <​https://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm​>. Acesso em: 31 mar. 2019.

Declaração Universal dos Direitos Humanos​. Assembleia Geral das Nações Unidas
em Paris. 10 dez. 1948. Disponível em: <​https://www.ohchr.org/EN/UDHR/
Documents/UDHR_Translations/por.pdf​>. Acesso em: 31 mar. 2019.

GOLDIM, J. R. ​Bioética Complexa: uma abordagem abrangente para a tomada de


decisão​. Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 53 (1): 58-63, jan.-mar. 2009. Disponível
em: <​https://www.ufrgs.br/bioetica/complexamrigs09.pdf​>. Acesso em: 01 abr. 2019.

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