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© Unesco, 1979
© para a tradução portuguesa. Livros Horizonte, Lda., 1979
Livros Horizonte
R u a das Chagas, 17, l.°-Dto. — Lisboa — Portugal
Impresso em Portugal
revista trimestral de educação
.
ÍHÍI Unesco
Posições / Controvérsias
Reflexões sobre o ensino da geografia Jean Dresch 285
O educador e os «slogans» Olivier Reboul 293
Tendências e casos
O ensino pelo método de avaliação Chalva Amonachvili 367
U m exemplo de transformação do ensino:
o caso da Venezuela Gustavo F. J. Cirigliano 374
259
Wincenty Okon
260
Educação global e desenvolvimento da personalidade
261
Wincenty Okon
Percepção da realidade
e assimilação do saber adquirido
262
Educação global e desenvolvimento da personalidade
263
Wincenty Okon
264
Educação global e desenvolvimento da personalidade
265
Wincenty Okon
266
Educação global e desenvolvimento da personalidade
267
Wincenty Okon
268
Educação global e desenvolvimento da personalidade
269
Wincerrty Okon
270
Educação global e desenvolvimento da personalidade
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Wincenty Okon
Notas
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Kjell Eide
A educação e a comunicação
numa perspectiva de futuro*
Inter-relações da educação
e da comunicação
273
Kjell Eide
274
A educação e a comunicação numa perspectiva de futuro
Natureza da comunicação
275
Kjell Eide
276
A educação e a comunicação numa perspectiva de futuro
277
Kjell Eide
278
A educação e a comunicação numa perspectiva de futuro
279
Kjell Eide
280
A educação e a comunicação numa perspectiva de futuro
Os modos de aprendizagem
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Kjeli Eide
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A educação e a comunicação numa perspectiva de futuro
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Posições / Controvérsias
286
Reflexões sobre o ensino da geografia
287
Jean Dresch
288
Reflexões sobre o ensino da geografia
289
Jean Dresch
290
Reflexões sobre o ensino da geografia
291
Jean Dresch
292
Olivier Beboul
O educador e os «slogans»
294
O educador e os «slogans»
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Olivier Reboul
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O educador e os «slogans»
«A escola na vida»
Para testar a ambiguidade de urna das fórmulas pedagógicas
mais correntes, pedia aos meus alunos de ciências da educação
que ipegassem numa folha de papel e escrevessem o que signi-
ficava para eles «a escola na vida», podendo cada uim deles
apontar vários sentidos, se assim o entendessem. A o 1er as
respostas, u m a centena, observei que muitos estudantes não
tinham compreendido que se tratava de u m «slogan» e se inter-
rogavam simplesmente sobre o papel da escola na vida, na vida
do indivíduo, para uns, na vida social, para outros. O s que
compreenderam que a fórmula era simultaneamente optativa
e polémica atrifouíram-lhe sentidos muito diversos, que pode-
mos classificar do seguinte modo:
A vida como escola. Trata-se de u m sentido utópico e vio-
lentamente contestatário, inspirado e m Ivan Hlich: « U m ensino
e m locais e domínios estranhos à escola», escrevia alguém.
«Tirar lições do que vivemos = escola pela vida = escola da
vida». Outros, mais reservados, vêem nesta expressão u m sinó-
nimo de formação contínua: «A auto-educação nunca item fim» ;
«a escola dura toda a vida». Finalmente, u m simples sinónimo
de educação, mas oposta ao ensino escolar: «A vida aprende-se;
é a educação no sentido mais amplo».
A vida na escola. A escola na vida, é a escola vivia, que
favorece a participação, a não directividade, as experiências
concretas, «para recriar na escola condições de existência, de
contacto interpessoal autêntico». Implica o recurso aos métodos
activos, para «suscitar a imaginação e a expressão dos indi-
víduos»; «uma escola que não distingue o trabalho intelectual,
manual e prático»; e, mais lapidar: «aprender aquilo de que se
gosta». E m suma, no segundo sentido, já não se trata de pro-
curar a vida fora da escola, mas de «suscitar a entrada da vida
na escola, u m a vez que ainda lá não está».
A escola aberta para a vida. Neste caso, não se trata de
mudar os métodos, m a s o conteúdo; não se trata de renovar
a pedagogia, mas de «integrar a escola no meio» ; «que a escola
aceite ser posta e m causa pela evolução da sociedade»; «que
esteja e m interacção com o meio»; a escola na vida, é, por-
tanto, «a abertura da escola para o mundo exterior e, rigoro-
samente, a sua inserção no mundo». Certas respostas são mais
precisas : «A adequação dos programas às exigências do mundo
contemporâneo (económicas, sociais, etc.) » ; «sensibilização dos
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Olivier Reboul
«Democratizar o ensino»
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O educador e os «slogans»
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Olivier Reboul
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O educador e os «slogans»
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Olivier Reboul
Bibliografia
R E B O U L , Olivier. Le Slogan, p. 47. Paris, Complexe/PUF, 1975. Sobre os
«slogans» pedagógicos; ibid., pp. 101 e seguintes. Ver também K O M I S A R , B . P.
e M C C L E L L A N . «The logic of slogans», e m Language and concepts in education,
Smith, Chicago, 1961; S C H E F F L E R , Israel, The language of education, C . C .
Thomas, 1960; I S A M B E R T - J A M A T I , Viviane. Crises de la société, crises de
l'enseignement, P U F , Paris, 1970.
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Elementos para u m «dossier»
H á muito que se dedica u m a grande im- das. Estas reformas exerceram u m a in-
portância ao ensino da Matemática na fluência sensível e essencialmente posi-
escola, mas o seu conteúdo e a sua efi- tiva no ensino secundário, em especial
cácia deram sempre origem a vivas con- nas classes preparatórias para a Univer-
trovérsias que, pelo menos a partir de sidade, mas, pelo menos nos Estados
1900, se .traduzem periódica e aproxi- Unidos, não exerceram ¡qualquer efeito
madamente todos os vinte anos, por sé- — positivo ou negativo — sobre o¡ ensino
rias propositas de «reforma», propostas da Aritmética na escola ¡primária. O s
todas elas seguidas de esforços conside- manuais ¡escolares das classes primárias
ráveis para elaborar novos programas de foram, de certo modo, modificados, mas,
estudos ou para melhorar os métodos na maior parte das escolas, os métodos
pedagógicos. Durante os diez anos que pedagógicos efectivamente praticados
se seguem a este ¡grande desenvolvimiento não se alteraram, certamente porque nin-
de actividade reformadoira, as inovações guém se preocupou e m ajudar os ¡prof es-
são habitualmente, e m parte, assimiladas, sores a assimilar e a ensinar os novos
em parte abandonadas, e m parte ultra- temas propostos. O ensino elementar
passadas, devido ao progresso* dos conhe- continuou a baseasse quase exclusiva-
cimentos e ao aparecimento de novas mente, como antes da reforma, na Arit-
exigências originadas pela evolução da mética dos números inteiros, das frac-
sociedade. O último destes períodos de ções e dos números decimais, sem grande
reforma, que se ¡situa nos anos 60, preocupação com as aplicações deste tipo
conduziu à instituição da «¡Matemática de Aritmética.
moderna», simultaneamente vilipendiada Ao aproximarmoMnos dos anos 80,
e saudada coimo grande acontecimento, assistimos a u m a recrudescência do inte-
cujo objectivo essencial consistia em eli- resse pela eficácia do ensino da Mate-
minar dos manuais ¡escolares as noções mática na escola e teremos certamente
incorrectas ou ultrapassadas para ba- ocasião de observar u m novo¡ movimento
sear o ensino da Matemática, a todos os de reformas, cuja necessidade se faz sen-
níveis de estudo, e m estruturas apropria- tir, sem dúvida, não por as reformas pre-
cedentes terem falhado, mas porque urge
Max S. Bell (Estados Unidos da América). Espe- atender às novas exigências e possibili-
cialista no ensino da Matemática, professor asso- dades que surgiram nos anos decorridos
ciado de Pedagogia na Universidade de Chicago. desde 1958. U m ensino utilitário da M a -
Autor de numerosas obras da sua especialidade, temática — para retomar a fórmula de
em particular: Algebraic and arithmetic structures: Hans Freudenthal — é essencialmente
a concrete approach for elementary school teachers
(em colaboração com K. Fuson e R . Lesh). uma necessidade que se impõe cada vez
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Max S. Bell
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Dispensar u m ensino utilitário da matemática
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Max S. Bell
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Dispensar u m ensino utilitário da matemática
objectivos que colectivamente lhes forne- meiro lugar, esforçar-nos por compreen-
cemos. Trata-se de factores responsáveis der os mecanismos graças aos quais as
pelo insucesso das crianças, mas- somos pessoas experimentadas na matéria a
nós, ¡portanto, os responsáveis pelo in- aplicam. Desde 1940 que somos cada vez
sucesso dos professores. mais forçados a utilizar a Matemática
E m vez de nos voltarmos para o pas- em domínios cada vez mais numerosos
sado a fim de examinar ais lacunas do e, simultaneamente, conseguimos perce-
ensino da Matemática na escola, encare- ber mais claramente como a construção
mos o futuro reflectindo sobre os meios e a utilização daquilo a que chamamos
de o melhorar. Se admitimos que u m dos «modelos matemáticos» permitem atingir
principais imperativos consiste e m dis- este objectivo. John Synge, u m dos espe-
pensar u m ensino utilitário da Matemá- cialistas da Matemática aplicada,, forne-
tica, devemos, numa primeira fase, des- ceu u m a breve e pitoresca descrição deste
cobrir como procedem, os que sabem processo: «A aplicação da Matemática a
utilizá-la e determinar, e m seguida, o con- u m problema concreto comporta três eta-
teúdo de u m programa de ensino aplicá- pas: o) mergulhar da realidade no mundo
vel à escola e susceptível de desenvolver da Matemática; b) nadar no mundo da
tais aptidões. Examinemos agora as di- Matemática; c) emergir do mundo da
versas etapas deste processo1. Matemática para regressar à realidade,
sendo portador de u m a previsão.» ''
Objectivos de u m ensino O esquema 1 indica de modo mais poír-
da Matemática menorizado as diversas etapas que a
sublinhando o seu aspecto utilitário aplicação da Matemática icomporta.
Como indica o esquema, as situações
Embora a nossa principal preocupação do mundo real são quase sempre muito
consista em dispensar u m ensino utili- complexas e, portanto, devemos1 ter e m
tário da Matemática, devemos, em pri- Vista a simplificação, ia abstracção e a
O resto do mundo
/
-J +
Abstracção
e representação^
r\ !
A/Interpretação
simbólica /
/ / i ,' e previsão
. i
I \ I u
Teoria matemática
IW
Factos Factos (Na maior parte das vezes,
Indução o ensino da Matemática
(formal ou informal) situa-se exclusivamente
neste estádio)
O mundo da Matemática
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Max S. Bell
E S Q U E M A 2. Mecanismos que a maior parte das pessoas deve adquirir graças a u m ensino utilitário da
Matemática.
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Dispensar u m ensino utilitário da matemática
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Dispensar u m ensino utilitário da matemática
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Dispensar u m ensino utilitário da matemática
suscitarão, em particular, problemas con- semana (ou este ano) na minha classe
sideráveis. Os países e m desmvolvimiento para familiarizar ais crianças coin a no-
talvez experimentem menos dificuldades ção de aproximação?», «Que posso fazer
em operar tais reformais do que os países actualmente para prever aquilo de que
relativamente desenvolvidos, até mesmo as crianças necessitarão mais tarde para
porque as tradições e as concepções erró- utilizar as variáveis?», «Como poderei
neas são menos numerosas e encontram- ajudar as crianças a descobrir que o
rse menos fortemente alicerçadas no sis- 'acaso' faz parte da vida, tal coimo as resu
tema; além disso, é miais fácil assegurar postas exactas, levándolas a compreen-
aos professores uma formação adequada der melhor a probabilidade?». A lista do
quando os efectivos do corpo docente es- esquema 2 deveria manifestamente per-
tão em plena expansão do que quando se mitir organizar a formação dos professo-
mostram estáticos ou em declínio. res antes da sua entrada e m funções, e
O esquema 3 pode fornecer indicações também em exercício. Por outras pala-
úteis quando procuramos elaborar u m vras, ¡se os temas de estudo enumerados
programa de estudos. nesta lista são úteis à maior parte- das
Tratasse sempre de fixar os objectivos pessoas, a maioria dos professores de-
(o que é necessário fazer), as modali- veria conhecê-los profundamente. E m
dades do ensino (como proceder) e os minha opinião, u m a lista que fixasse os
métodos de avaliação (resultados obti- vastos objectivas propostos pelo ensino
dos). Insisto sobretudo1 noís objectivos, da Matemática na escola ajudaria o® pais,
como indica o esquema 2. Não pretendo e também os membros dos conselhos es-
que esta lista particular seja a única uti- colares e de instituições semelhantes, a
lizável em todos os casos, m'as estou con- tomar consciência idos resultados que po-
vencido de que u m a lista mais ou míenos dem e devem sier obtidos nesta materia.
semelhante, fixando o objectivo a atin- Pode ainda ajudar-nos, a nós professo-
gir ao fim de vários anos facilita o or- res, a ligar a Matemática a outras dis-
denamento de u m programa escolar. E m ciplinas escolares, formulando, pior exem-
especial, é muito mais útil do que u m plo, as sieguintes interrogações: «Esta
catálogo que enumere, e m pormenor, cen- lição de ciências poderá contribuir para
tenas de «objectivos a atingir em m a - familiarizar os alunos com a noção de
téria de comportamento» — que, pelo medida?», « U m a lição sobre mapas geo-
menos no Ocidente, têm tendência para gráficos poderá constituir u m a ocasião
representar u m traço predominante do de fazer observações pertinentes sobre
ordenamiento dos programas. Os profes- o sistema de coordenadas?», «A minha
sores podem elaborar u m a lista como a aula dedicada à educação social será
do esquema 2, formulando, por exemplo,
melhor se pedir às crianças que pro^
as seguintes questões: Que fizemos esta
curem informações nos quadros que
figuram e m determinado anuário?»,
Objectivos «Quando ensino as crianças a utilizar
os desenhos munidos de u m a escala, será
possível estabelecer algumas aproxima-
/ \ Aprendizagem ções úteis com o conceito' de 'seme-
/ \ (capacidade lhança'». Estas possibilidades parecem
/ \ de realização)
quase infinitas depois ide despertar a
r * Programa de estudos atenção dos professores para aquilo que,
Avaliação ' -« *- e pedagogia na Matemática, pode apresentar maior
utilidade para a solução dos problemas
E S Q U E M A 3.
Iniciação ao ordenamento dos progra-
mas de estudos. da vida real.
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Hans Freudenthal
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Hans Freudenthal
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Matemática nova ou educação nova?
tore que somo® capazes de imaginar é mente estruturas cada vez mais ricas.
determinado conjunto particular, embora Pela minha parte, esta hipótese parece-
seja possível dotar qualquer conjunto de -me muito improvável. A s experiências
uma estrutura rica. Como estrutura rica, de Piaget, embora especialmente conce-
podemos citar, por exemplo, a Geometria bidas para o apoiar, nem sempre forne-
euclidiana, com as suas linhas, planos, ceram resultados convincentes.
círculos, quadrados, esferas, corpos re- Confirma-se que a noção de número
gulares, arranjos ¡em xadrez, isometrias, se adquire como a linguagema, à maneira
notações e simetrias. A s estruturais po- de u m vocabulário; é graças a este vo-
bres são aplicáveis a numerosos casos, cabulário e à sua constância, por outras
mas a sua aplicação não é das mais sim- palavras, é graças ao sistema decimal,
ples: consiste e m enriquecer u m a estru- que a criança aprende a dominar os nú-
tura pobre de maneira apropriada. Por meros e a Aritmética. Ora, nenhuma
outro lado, existem estruturas matemá- hierarquia da Matemática considera uma
ticas tão ricas que podem ser imediata- característica tão antropomórfica na
mente aplicáveis, m a s unicamente em aquisição da noção de número — com
casos muito específicos. efeito, a Matemática é universal, por
O ensino da Matemática moderna assim dizer, cósmica. N e m Piaget, nem
apoia-íse numa hierarquia poderosa. Co- a sua escola, nem outras escolas de Psi-
meça-se pelais estruturas e pelo® conjun- cologia prestaram atenção ao papel de-
tos matemáticos mais pobres, gradual- sempenhado pela estrutura decimal no
mente enriquecidos por u m a rede cada desenvolvimento e na aquisição da noção
vez mais complexa de ramificações. de número.
A construção desta hierarquia exige Para dar outro exemplo, o plano e o
opções. Ë u m modo de apresentação m a - espaço são, segundo Piaget, figurações
temática que pode, contudo, efectuar-se mentais no sistema que ide conhecia,
de múltiplas maneiras, e m função de isto é, no sistema de coordenadas carte-
objectivos variados. sianas. Não obstante esta certeza, todas
¡Piaget, de início profundamente in- as observações indicam u m a estrutura-
fluenciado pela hierarquia geométrica ção polar e não cartesiana do plano e do
elaborada ¡por Klein, propôs-ise provar espaço no decorrer do desenvolvimento
experimentalmente que esta hierarquia mental.
correspondia exactamente à maneira Ainda neste caso, colocam-se na mesma
como os conceitos 'espaciais se desenvol- perspectiva errónea: passam de estrutu-
vem no plano psicológico. K m seguida, ras pobres para estruturas ricas. Trata-se
confrontando com a hierarquia da M a - de u m a perspectiva essencialmente de-
temática elaborada por Bourbaki, tentou dutiva da Matemática, concebida como
fazer o mesmo quanto ao desenvolvi- «produto acabado» e não de u m a pers-
mento dos conceitos matemáticos. A teo- pectiva histórica ou evolutiva de desen-
ria geral de Piaget afirmava que o de- volvimento matemático. Esta concepção
senvolvimento mental do indivíduo acom- não é válida no plano didáctico. Contudo,
panha uma evolução epistemológica e a justificada pelos argumentos de Piaget,
epistemologia da Geometria e da Mate- adquiriu direitos de cidadania na Mate-
mática confundianse, para ele, com as mática moderna, pelo míenos em princí-
hierarquias de Klein e de Bourbaki as pio.
únicas de que tinha conhecimento. Assim, O derrotismo actual de certo® meios é
seguindo Piaget, o desenvolvimento cogni- tão pouco justificável como a euforia
tivo devia começar pelas estruturas mais dois anos 60, ligada à falsa ideia se-
pobres e progredir até atingir gradual- gundo a qual podemos modificar o en-
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Hans FreudentM
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Matemática nova ou educação nova?
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Hans Freudenthal
FIG.
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FIG. 4
Matemática nova ou educação nova?
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Hans Freudenthal
o 1 3 4 5 6 7 S 9 10 11 12
FIG. 8
—&V
FIG. 9
XP^oao^
cubos pelo lado direito (fig. 5) ? D e
quantos 'blocos se compõe? Como se po- FlG.
derão descrever as construções de blo-
cos (fig 6) ? Que vêem deste ponto da
ilha e donde foi tirada esta fotografia
(fig. 7) ? Quantas viaturas se encontram
neste parque de estacionamento? H á fi-
las de autocarros com pessoas que sobem
e descem: é u m a maneira de abordar a X
Aritmética (fig. 8).
Os conjunto® consitituem u m a noção
f undamental nas diversas concepções da
«Matemática moderna». É inútil subli-
f /
G
\
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Matemática nova ou educação nova?
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Hans Freu den thai
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Rolf Hedrén
A s calculadoras de bolso
e a matemática na escola primária
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Rolf Hedrén
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A s calculadoras de bo'lso e a matemática na escola primária
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Rolf Hedrén
por exemplo, permitir que os alunos uti- pensar a falta de prática que surgirá com
lizem a sua calculadora para multiplicar a redução do número de exercícios algo-
números decimais, ou u m número inteiro rítmicos. Se verificarmos que os alunos
por u m número decimal, e descobrir o das classes experimentais possuem menor
número de decimais do produto. Poderão, preparação e m determinados aspectos,
assim, «descobrir» a regra da colocação devemos procurar os meios de compen-
da vírgula na multiplicação. sar este handicap.
N o cálculo das potências, a calculadora Aplicaremos igualmente testes de tipo
de bolso constitui u m excelente auxiliar tradicional nas classes experimentais e
da aprendizagem do valor da potência. nas classes de controlo. Tentaremos de-
Concorrentemente, os alunos poderão terminar o nível de habilidade atingido
compreender o ritmo de progressão de não só no cálculo algorítmico, mas tam-
u m a potência, e, assim, iniciar-se incons- bém nas operações que nãoi se encontram
cientemente nas funções exponencial e ¡directamente ligadas a algoritmos, como
kígarítmica. a resolução de problemas escritos, a clas-
sificação de números por ordem de gran-
deza, o emprego de unidades adequadas,
Trabalho experimental
a estimação da proporcionalidade, a in-
O conteúdo do programa do quarto ano terpretação de diagramas, etc.
aqui esboçado foi preparado pela nossa D e assinalar ainda que u m a equipa
equipa e encontrasse em experimentação, especial elaborou u m teste sobre oi nível
este ano, e m oito classes. Os resultados de habilidade e m cálculo não algorítmico
desta experiência, incluindo as críticas e a utilizar no 6.° e no 8.° anos. A expe-
sugestões dos alunos ,e dos professores, riência já foirealizadae m muitas classes
vão permitir a revisão do conteúdo do em que a calculadora de bolso não era
programa que experimentaremos e m utilizada. Empregá-la-emos, como é óbvio,
muitas outras classes no proximo* ano quando os nossos trabalhos de experi-
escolar. Assim, e m todas ais classes su- mentação atingirem o 6.° ano de estudos,
periores do ensino primário serãoi expe- mas também esperamos poder conferir
rimentados programas. a este teste u m campo de aplicação bem
Observamos e conservamos os resul- mais extenso. .Sejam quais forem os re-
tados dos testes gravando as aulas, para sultados da experiência a que a minha
as estudar mais atentamente; também equipa procede, estamos convencidos de
efectuamos séries de observações direc» que a calculadora de bolso será introdu-
tas, nas aulas, assim como mquéritos e zida, por u m ou outro meio, na sala de
entrevistas com os professores e os alu- aula. Assumirá, então, o maior interesse
nos. Algumas classes de controlo são* poder comparar os níveis de habilidade e
estudadas do mesmo modo. Procuramos de conhecimentos dos alunos de amanhã
informar-nos, graças a este programa, com os dos alunos que não tiveram a pos-
sobre a maneira como os professores e sibilidade de empregar u m a calculadora.
os alunos utilizam a calculadora de bolso,
e sobre o interesse que o seu emprego
Ensinamentos
pode apresentar em diferentes contexto®.
a colher da experiência
Esperamos, assim, descobrir as falhas
que os métodos possam comportar e re- Como é evidente, ainda não nos encon-
comendar, então, melhores ¡técnicas. Por tramos e m condições de avaliar comple-
outro lado, esperamos poder descobrir os tamente os resultados desta experiência,
efeitos secundários do cálculo algorítmico embora, de momento, sejam muito posi-
e descobrir se será ou não .possível com- tivos. Os alunos interessaram-se pelo
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A s calculadoras de bolso e a matemática na escola primária
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Zbigniew Semadeni
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O s «media» na formação matemática dos professores
do ensino primário na Polónia
gern abstracta. Contudo, a maior parte apreciar métodos pedagógicos miais com-
doe professores das primeiras classes plexos. O enunciado dos princípios gerais
são fracos e m Matemática e demonstram deve basear-ise no estudo prévio de situa-
falta de Confiança n a sua capacidade ções concretas. Assim, as sessões de la-
para a aprender. boratório ou de trabalhos práticos, se-
Admite-se geralmente que, nos pro- guidas de breves explicações destinadas
gramas de Matemática dirigidos aos a todos os alunos, parecem preferíveis
professores do ensino primário, deve-se aos cursos formais — os quais se deve-
respeitar u m a certa progressão, e m pri- riam seguir às actividades práticas. A f as-
meiro lugar, estudar a lógica, depois os tamo-nos, aasim, do modelo universitário
conjuntos, depois os números naturais, tradicional segundo o qual as aulas de
etc. Sou ¡contra este tipo de apresentação, Matemática se realizavam a partir de
pois a ordem das teorias dedutivas não teoremas gerais cuja aplicação surgia,
¡reflecte a ordem pela qual as crianças e m seguida, sob a foirma de exercícios.
aprendem Matemática. U m professor do Muitas vezes, os futuros professores
ensino primário não necessita de fazer do ensino primário não possuem expe-
u m a apresentação matemática dais defi- riência suficiente para compreender cer-
nições, dos teoremas, das provas — que tas relações e regras matemáticas. O m e -
são difíceis de ensinar e cuja utilização lhor método consiste, então', e m lhes
na aula não está determinada. proporcionar a possibilidade de efectuar
H á meio século, muitas universidades exercícios análogos aos que deveriam
europeias propunham cursos de «Mate- ter feito n a sua infância. Obtênvsie,
mática elementar de nível superior» (por assim, melhores resultados do que limi-
exemplo, como construir fracções su- tando-nos a explicar estas noções por
pondo conhecidos os números naturais). meio de palavras e símbolos. Como> é
E m minha opinião, semelhante atitude é evidente, o exercício proposto ao adulto
mais prejudicial do que benéfica, e m par- não deve reproduzir simplesimente o que
ticular nas classes primárias. É raro que se destina à criança: é preciso atender
os professores a compreendam ¡bem. Pior aos conceitos adquiridos, assim icomo às
ainda, este tipo de Aritmética teórica diferenças de ritmo de trabalho e de
conduz frequentemente a ideias falsas motivação. O adulto parece capaz de
apreender os novos conceitos de Mate-
sobre a maneira de ensinar ais crianças.
mática moderna se, previamente, tiver
N a educação dos professores, os concei-
realizado u m certo número de exercícios
tos matemáticos devem ser apresentados
baseados e m exemplos concretos.
de maneira correcta e .adaptada à menta-
lidade da criança; devem ser correctos É muito difícil encontrar professores
quanto ao fundo m a s sem formalismos. e m número suficiente capazes de ensinar
¡Devemos saber que os professores en- a didáctica d a Matemática. U m a abor-
sinam provavelmente c o m o lhes ensina- dagem mais realista consiste em, separar
ram. É muito importante ter ¡em conta o curso de Matemática do curso de Peda-
este facto n a elaboração dois planos de gogia e da experiência escolar prática.
estudo para alunos-professores. Estes O objectivo do primeiro curso (confiado
devem exercer actividades concebidas a u m a pessoa competente e m M a t e m á -
para as crianças, m a s novas para eles, tica, m a s não necessariamente a u m pro-
a u m ritmo de adultos, evidentemente, fessor) consiste e m mostrar aos profes-
e c o m espírito didáctico. Ê o melhor meio sores como praticar a Matemática para
de garantir a compreensão dos conceitos crianças e, e m particular, como- resolver
matemáticos pelos ¡professores, e é u m certos problemas por meio de manipula-
'bom ponto de partida para aprender e ções concretas seguidas de raciocínios;
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do ensino primário na Polónia
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do ensino primário rta Polónia
sentava 5 a 10 minutos die antena. Deste -se sobretudo de versões modificadas das
m o d o , podíamos apresentar até 5 lições aulas televisivas, comportando u m a expo-
diferentes e m meia hora.! sição mais pormenorizada do tema tra-
Todavia, a supressão dos elementos tado, u m a apresentação mais completa
desprovidos de interesse pedagógico ti- das lições filmadas. Puíblicou^se igual-
nha o efeito de acelerar o ritmo da lição: mente toda u m a g a m a de material di-
as crianças pareciam mais brilhante® do verso, e m particular correcções pormeno-
que na realidade eram. Muitos ¡professo- rizadas de exercícios (já não contando
res não acreditavam que as crianças não para as notas finais) e deveres de exame.
tivessem sido preparadas. Ficavam mais
convencidos quando eram organizadas, Exercícios
na aula, pelos colegas, actividades c o m -
paráveis. O trabalho individual era considerado o
elemento mais importante do curso. O seu
Emissões de rádio principal objecto consistia e m substituir
os trabalhos de laboratorio. Compreen-
Iniciaimente, tínhamos a impressão de díamos que os professores dois .primeiros
que, tendo e m conta a natureza do en- anos deviam começar por exercícios c o m -
sino da Matemática, a rádio seria pouco paráveis aos que devem executar as
útil ; limitava-se a poder substituir a tele- crianças. Seria u m ponto de partida
visão nas passagens faladas. Produzimos donde poderíamos passar aos conceitos
oito emissões de rádio por ano, de 20 m i - abstractos, às representações simbólicas
nutos cada u m a (às 20 horas, repetidas e às discussões pedagógicas. Pretendía-
às 6 horas n o dia seguinte). A radiodi- m o s , assim, proporcionar ao professor
fusão revelou-se, contudo, extremamente toda u m a g a m a de exemplos concretos
útiil para duais categorias de programas: que, mediante certas modificações, p u -
a) respostas às perguntas dos auditores, dessem ser utilizados n a escola. Estáva-
enviadas por carta» expressas e m reu- m o s convencidos de que, deste m o d o , o
niões ou directamente. Infelizmente, a professor se sentiria mais motivado e
maior parte das questões referiam-se a obteria melhores resultados. E r a ainda
problemas de organização e não de necessário elaborar exercícios adaptados
fundo; b) discussão de questões pedagó- ao ensino à distância—quando, n a maior
gicas alvo de controvérsias, c o m o o papel parte das vezes, o professor não tem nin-
do cálculo no novo programa. g u é m para ajudar, além dos colegas to-
talmente incompetentes.
Alguns meses depois, soubemos que as
emissões radiodifundidas interessavam os O s exercícios incluíam poucos proble-
pais que, por acaso, as escutavam. A par- m a s tipicamente matemáticos. Tratava-
tir daí, escolhemos temas que pudessem -«e. na maior piarte das vezes;, de exer-
motivar o 'grande público e popularizar cícios comparáveis aos que passamos aos
a ideia de u m a reforma do ensino da alunos, m a s mais difíceis: completar re-
Matemática n a escola primária, reser- gras de funções, utilizar gráficos, sotas,
vando as questões técnicas para o mate- manipular ou seleccionar blocos lógicos,
rial publicado. utilizar u m a régua de cálculo. N o con-
junto, os exercícios1 não tinham por ob-
Material publicado
jectivo consolidar os conhecimentos ad-
quiridos graças aos cursos televisivos.
O material foi publicado c o m u m a fre- Pelo contrário, e m muitos casos, eram
quência de cerca de vinte vezes por ano extercíeios preparatórios para as aulas
(16 a 40 páginas de cada vez) ; tratava- sobre determinado t e m a ; o seu ságnifi-
339
Zbigniew Semadeni
caído matemático era explicado e m se- integradas nas questões. Assim, 'ELS C A "
guida. plicações podiam ser concisas e o auditor
Só os problemas mais importantes sabia melhor o que devia fazer.
constituíam motivo de exercícios; nnuiltas A s soluções-modelo serviam, e m par-
aulas televisivas não incluíam exercícios. ticular, para introduzir conceitos novos:
Alguns auditoires não recebiam o texto o auditor encontrava-se e m condições de
impresso das aulas e dificilmente podiam resolver problemas seguindo os modelos
acompanhar as emissões. Assim, os exer- sem possuir ainda os conhecimentos teó-
cícios eram concebidos como u m curso ricos requeridos.
completo, independente. Por exemplo, u m problema da primeira
O s exercícios eram preparados pelo série era enunciado do seguinte m o d o :
Instituto de Formaçãoi dos Professores. «Escrever: a) todos os símbolos que se
E r a m corrigidos e classificados pelos ins- encontram no interior ide u m a só curva
pectores das secções -regionais do Insti-
tuto de Formação dos Professores.
Todas as quinzenas, os auditares re- a ß
cebiam u m a série de problemas sob a — •
-*
forma de dossier de 8 páginas. E m geral, — .
bastava u m serão para resolver toda a i / / \ \\
l a
série. O s auditores deviam enviar as res- /*) \
1 n 1
postas aos inspectores designados n u m \ /
prazo de duas semanas. O o m o muitos \
\ \\ y / .,
¡ /
/
professores tinham dificuldade e m obter \
\. ,--^\
y /
os textos, os prazos não eram cumpridos
e as respostas eram admitidas até m e s m o
passados alguns meses. N o total, durante N u m a curva fee hada: TI, <p, V
os três anos do curso, foram enviadas
44 séries de 8 páginas. O s auditores de- E m pelo m e n o s
viam obter pelo menos a média no con- u m a curva f ech ada: r., 5. /. • <? ^
junto dos exercícios.
O s exercícios iniciavam-se com pro- FlG. I
blemas muito fáceis (quase infantis) e,
e m seguida, to¡mavam-se mais complexos.
Pensavanse que os auditores deveriam 1 6
começar por adquirir confiança nas suas
aptidões, a fim de poderem superar os
receios e de tentarem resolver os pro-
blemas. Estavam autorizados a procurar 5 (
auxílio, ou a trabalhar e m equipa, m a s ', v3 U 4)
não era aconselhável que copiassem.
E m geral, o exercício cornipunha-se
de u m único problema e m várias partes, 2
apresentado n u m a só página. Após u m a
curta explicação:, u m a das partes (por N u m a curva fechada:
vezes, duas ou três partes) era resolvida
a título de exemplo; o resto do problema E m pelo m e n o s
devia ser resolvido pelo auditor. urna curva fechada.
A s soluções-modelo correspondiam a
partes essenciais do problema e eram FlG. 2
340
Os «media» na formação matemática dos professores
do ensino primário na Polónia
341
Zbigniew Semadeni
FIG. 6
O • O O • o o
• •
o
-3 2 0
FlG. 7
342
O s «media» na formação matemática dos professores
do ensino primário na Polónia
Exames Resultados
Os exames tinham por objectivo esti- Não é possível avaliar o que os profesa
mular o estudo, e m vez de controlar os sores aprenderam efectivamente e qual
conhecimentos adquiridos. Este objectivo a influência destes novos conhecimentos
revelounse difícil de atingir. O s exames sobre o seu ensino'. Pensamos, contudo,
eram organizados, com a participação da que o curso desempenhou u m importante
343
Zbigniew Semadeni
344
George S. Eshiwani
Os objectivos do ensino
da matemática em África:
necessidade de u m reexame
U m a das questões de educação que des- merosos países de África terem sido
pertou mais atenções e m Africa, nos introduzidos apressadamente e por repre-
últimos anos, foi a da adaptação da edu- sentarem u m simples decalque dos do
cação às exigências do desenvolvimento. Ocidente. Ninguém parece ter dado pro-
Muitos foram o© que, junto de diversas vas de imaginação e de reflexão para
instâncias locais e internacionais, defen- adaptar o ensino à cultura e às necessi-
deram a causa de u m ensino público que dades locais. D e facto, poderíamos afir-
correspondesse, pelo seu conteúdo, méto- mar que a atitude então prevalecente
dos e valores, às necessidades presentes consistiu e m acreditar naquilo que era
e futuras de Africa. Foi frequentemente bom para a Europa ou a América também
salientado que os novos programas pro- o seria para a Africa. É precisamente
postos devem não só estar em relação esta concepção que hoje é contestada
com as exigências socioeconómicas do pela nova geração de especialistas afri-
país, como ser concebidos de modo a sa- canos de programas.
tisfazê-las. Devem servir as carências da Antes de iniciar u m estudo aprofun-
maioria, e não os interesse® de u m a pe- dado sobre esta questão de interesse: capi-
quena camada da sociedade. Se os pro- tal, como nos propomos fazer no pre-
gramas dos anos 60, em particular os sente artigo — quanto aos objectivos do
de Ciências e Matemática, foram criti- ensino da Matemática em Africa — deve-
cados, parece ter sido por responderem mos examinar dois fenómenos não menos
às necessidades de u m a fraca proporção importantes: a crise que atravessa, a edu-
da população escolar e desconhecerem, cação nos países de Africa e as finalida-
em geral, as da maioria, que inclui imen- des da educação neste continente.
sas crianças que abandonaram a escola
sem ter podido atingir os níveis supe-
riores do1 ensino. A crise actual
da educação e m África
Esta anomalia deve-se, em grande
parte, ao facto de o® programas de Ciên- Dificilmente poderemos negar a existên-
cias e de Matemática adoptados em nu- cia de u m a grave crise da educação em
Africa. Embora este fenómeno varie con-
soante os países, comporta causa® comuns
que nos são familiares.
George S. Eshiwani (Quénia). Especialista e profes- Assinalemos, e m primeiro lugar, a es-
sor de Matemática. Professor no Departamento de pectacular «explosão» dos efectivos esco-
Tecnologia e dos Meios de Comunicação em Maté-
ria de Educação no Kenyatta University College. lares experimentada por muito® países
345
George S. Eshiwani
de Africa nos últimos vinte anos. N o sete anos. Os novos programas devem
Quénia, por exemplo, o número de alunos ter em conta, portanto, as dificuldades
inscritos na escola primária passou de apresentadas pelas classes superlotadas
870 000, em 1961, para 2,9 milhões, em e heterogéneas.
1976, enquanto os efectivos do ensino se- A terceira consequência da explosão
cundário passavam de 22 200 alunos para da população escolar diz respeito aos
200 000 durante o mesmo período. E m professores. C o m efeito, a expansão de
outros países, os número® testemunham todo o sistema de ensino exige u m au-
o mesmo fenómeno. mento proporcional do número de pro-
IDeste aumento dos efectivos decorrem fessores. Ora, muitos países de Africa
três efeito® principais. experimentam uma penúria aguda de
E m primeiro lugar, o ensino escolar proifessores qualificadas para ensinar M a -
não garante emprego assalariado no sec- temática e Ciências. A carreira de profes-
tor urbanizado da economia; também não sor não é procurada. Os diplomados que
conduz a estudos mais aprofundados. possuem a competência requerida para
Devemos admitir que, para a maioria das ensinar Matemática podem facilmente en-
crianças que frequentam a escola, o en- contrar u m bom emprego fora do ensino-.
sino que lhes é dispensado ao' nível pri- Os que seguem u m a formação conducente
mário ou secundário apresenta u m carác- ao ensino a u m nível elementar carecem,
ter terminal. Ora, muitas delas não muitas vezes, de entusiasmoi e só reali-
encontrarão emprego nos centro urba^ zam estes estudos à falta de melhor.
nos. N o Quénia, por exemplo, perto de A s matérias que estes professores irão
ensinar deverão ser-lhes apresentadas
250 000 crianças saídas da escola apresen-
sob forma acessível e compreensível. Não
tam-se anualmente no mercado de tra-
nos devemos poupar a esforços para
balho ; apenas 50 000 poderão encontrar
tornar a sua tarefa tão simples e tão
emprego ou adquirir u m a formação. Que
interessante quanto possível.
tipo de programa deveríamos conceber
para as restantes 200 000, as quais serão A segunda causa da crise deve-oe ao
obrigadas a ganhar a vida em zonas ru- enorme desfasamento que existe entre
rais do país? a procura da educação por parte *das
A segunda consequência do aumento populações e a capacidade limitada dos
dos efectivos é o abaixamento' do' nível países em desenvolvimento para respon-
atingido. Este fenómeno pode ser obser- der a esta procura, devido aos magros
vado sob dois aspectos. Por u m lado, u m recursos de que dispõem e às exigên-
aumento rápido dos efectivos escolares, cias concorrentes que devem satisfaizer.
que não se acompanhe de uma expansão Surge, então, u m problema interessante:
das instalações, traduz^se por classes a quem devemos ensinar Matemática?
superlotadas, o que torna impraticável A crise apresenta como terceira causa
a aplicação de métodos modernos de a falta de adaptação ao contexto afri-
ensino, como o métodoí heurístico ou o cano das instituições e das estruturas
método activo. Além disso, limita a liber- importadas. O ensino escolar, tal como
dade de manobra do professor quanto o conhecemos, é, em grande parte, uma
à escolha do método de ensino: deverá criação da sociedade industrializada, e os
limitar-se a dar aulas de tipo> clássico. sistemas de ensino utilizados e m África
Por outro lado, como o acesso à educação não são mais, por conseguinte, do que
foi ampliado, os estabelecimentos aco- transplantações de sistemas educativos
lhem agora crianças com aptidões muito emanando dessa sociedade. Não sur-
diversas, podendo a diferença de idade preende, portanto, que a transplantação
entre alunos da mesma classe atingir de programas que se efectuou durante
346
O s objectivos do ensino da matemática e m África
dezenas de anos tenha gerado vivas ten- mente ainda válida hoje e m dia, Estes
sões. A o conceber novos programas de objectivos assentavam e m dois postula-
ensino para África, devemos procurar, dos de base:
e m especial, OÍS meios próprios paira eli- O ensino da Matemática deve decorrer
minar estas tensões. de métodos activos e não da repetição
e da memorização. O s alunos devem
Finalidades da educação compreender a razão* de ser dos méto-
dos que utilizam e não se limitarem
Podemos afirmar, e m resumo, que, e m a aplicá-los mecanicamente.
toda a sociedade, a educação tem, por Todo o princípio matemático, por muito
Objectivo essencial preservar e trans- abstracto que seja, pode ser apresen-
mitir a cultura, inculcar valores e ati- tado sob forma interessante aos alu-
tudes apropriadas, conferir certas1 c o m - nos, seja qual for a sua idade. Deve-
petências e desenvolver as aptidões m o s , portanto, familiarizar os alunos
inovadoras, criadoras e críticas. Scopes 1 c o m os grandes princípios que consti-
classificou estes objectivos de modo* li- tuem a base de toda a teoria m a t e m á -
geiramente diferente, qualificando-os de tica e c o m os conceitos que estabelecem
utilitários, sociais, culturais e pessoais. a unidade da Matemática; poderemos,
Considera-se natural que toda a ver- então, dispensar a maior parte dos
dadeira reforma de programas deve ter exercícios e práticas do ensino tra-
e m conta u m destes esquemas, ou os dois dicional.
simultaneamente; m a s e m que medida A maior parte dos programas modernos
devemos atender às finalidades nacionais de Matemática aplicados e m África têm
da educação quando se trata de ordenar por fim:
os programas de ensino da Matemática?
Inculcar os mecanismos de base da, M a -
A Matemática pode desempenhar u m
temática, desenvolver a compreensão
papel na comunicação dos conhecimentos
das noções de número, de estrutura
necessários ao desenvolvimento tecnoló-
e de forma, e ensinar simultaneamente
gico ou no desenvolvimento das aptidões
as aplicações sociais', pessoais e comer-
criadoras e críticas, m a s e m que medida
ciais destes mecanismos;
contribui para preservar e transmitir a
cultura? C o m o contribui para inculcar Incutir nos alunos o raciocínio dedutivo
valores e atitudes apropriadas? Talvez e o espírito crítico, condições de inde-
fosse conveniente examinar certas maté- pendência intelectual;
rias ensinadas para ver se correspondem Ensinar os alunos a generalizar;
aos objectivos nacionais. Poderíamos per- Despertar o interesse dos alunos e esti-
guntar, por exemplo, e m que medida os mular a sua curiosidade pela Mate-
ofbjectivos actualmente atribuídos ao en- mática;
sino da Matemática se adaptam às fina- Permitir que os alunos se exprimam mais
lidades nacionais da educação, quais os facilmente e c o m mais precisão na lin-
limites impostos a estes objectivos e como guagem natural, n a linguagem cientí-
alargar o seu alcance. fica e com a ajuda de gráficos e dia-
gramas;
Estimular os alunos a procurar os ele^
Objectivos actuais e seus limites
mentos essenciais de todo o problema
Devido à transformação radical, nos concreto.
anos 60, da concepção do ensino da M a - Parece não ter havido qualquer preo-
temática, os objectivos pretendidos foram cupação quanto ao conteúdo efectivo do
enunciados sob nova forma, provavel- ensino e ao desenvolvimento cognitivo
347
George S. Eshiwani
348
O s objectivos do ensino da matemática e m Africa
ou o francês é a língua de ensino, trata- sejam mais numerosos do que no> pas-
-se, na maior parte dos casos, de u m a sado. A Matemática representa u m a lin-
segunda língua para o aluno, que en- guagem eficaz correntemente utilizada
frenta, então, enormes problemas de vo- e m outros domínios. O programa adop-
cabulário, de estruturas e de símbolos. tado no ensino secundário deveria melho-
Além disso, os alunos têm imensa difi- rar a comunicação através da linguagem
culdade e m compreender os (problemas da Matemática, tanto como auxiliar das
enunciados sob forma de adivinha, pois Ciências c o m o na utilização dos meios
os factores culturais criam, dificuldades visuais c o m o os gráficos e os diagramas.
suplementares. C o m efeito, alguns destes A Matemática implica muitas genera-
problemas referem-se a objectos e situa- lizações. Interessa, pois, que os alunos
ções que só os alunos dos meios urbanos aprendam, tendo- e m vista a sua vida
e de rendimentos elevados têm oportuni- de adultos, a fazer generalizações e a
dade de conhecer. Vejamos u m exemplo : avaliá-las. A investigação matemática,
«Nove crianças tinham sido convidadas e o ensino deveria acentuar a importân-
para u m a festa. Cada criança comeu dois cia da investigação dos elementos essen-
bolos e sobraram oito bolos. Quantos ciais de todo o problema concreto.
bolos tinha comprado a mãe?» E m Africa, a Matemática, matéria es-
colar obrigatória, ocupa u m lugar de des-
Apanhado das soluções possíveis taque no horário dos alunos. Todos es-
tudam os mecanismos de ¡base e muitos
A partir do que ficou dito, poderiam deles necessitam de receber uni; ensino
prqpor-se muitos objectivos ao ensino da miais aprofundado e m Matemática se
Matemática. quiserem adquirir u m a sólida formação
C o m o já indicámos, este ensino deveria de empregado de escritório, técnico, qua-
consistir e m inculcar os mecanismos fun- dro, cientista, etc.
damentais do cálculo e da compreensão O programa deveria atender a estes
das estruturas e das formas, assim, como imperativos e o seu conteúdo deveria
as suas aplicações individuais, sociais e corresponder às necessidades da agricul-
comerciais. O s alunos deveriam t a m b é m tura, da indústria, do comércio e das
adquirir noções elementares sobre a cor- universidades. Além disso, devemos evi-
respondência entre os modelos m a t e m á - tar dispensar u m ensino da Matemática
ticos e as situações reais. demasiado especializado, pois corremos
O s cursos de Matemática deveriam o risco de atingir o resultado contrário
também inculcar nos alunos o método do pretendido se o conteúdo das lições
dedutivo e o espírito crítico, factores de for demasiado difícil de assimilar.
independência intelectual e ensinar4b.es O professor deveria empenhar-jse so-
a pensar por ¡abstracção, a fim de pode- bretudo e m favorecer o desenvolvimento
rem, mais tarde, passar pelo crivo da pessoal da criança, e m estimular a sua
razão tudo o que se refira a determinado curiosidade e e m suscitar o seiu espírito
problema e tomar decisões racionais. crítico. Ora, a Matemática adapta-ise b e m
E m nossa opinião, a Matemática cons- a este processo. O conteúdo das lições
titui u m tema atraente e m si, e u m pro- deveria apresentarrsie sempre de maneira
grama b e m concebido deveria suscitar a interessar os alunos e a obrigá-los a
o interesse e estimular a curiosidade dos pensar por si mesmos 1 , m a s , muita® vezes,
alunos. Esperemos que os que são obri- a Matemática é ensinada como verdade
gados a abandonar a escola ali encon- revelada. Encontra-se fórmulas como
trem u m interesse duradouro e que os C = 2 n r, produzidas como por encanta-
alunos destinados a prosseguir os estudos mento e seguidas de séries de problemas.
349
George S. Eshiwani
O programa não deveria incluir nenhuma parte dos programas de formação com-
questão que não pudesse ser explicada de plementar.
maneira compreensível para os alunos. O exame final do ensino primário san-
O raciocínio lógico e dedutivo é u m a cionará o nível atingido pelos alunos que
aptidão que todos os alunos que termi- abandonem a escola, m a s , atendendo à
n a m os estudos primários deveriam ter grande diversidade das aptidões, talvez
adquirido; ora, n e m m e s m o os estudan- seja necessário organizar duas provas,
tes universitários parecem dominá-lo. das quais u m a destinada a todos os alu-
O que não significa que os professores nos e a outra aos que pretendem efectuar
não devam passar aos alunos exercícios estudos a nível secundárioi, juntando-ae
para fazer e m casa, m a s competejlhes esta segunda prova à primeira. O s alu-
tornar o conteúdo doe cursos tãoi inte- nos interessados e m estudar Matemática
ressante e tão fácil de assimilar quanto no secundário deveriam, submeter-sie a
possível. O s alunos menos dotados sen- esta segunda prova, excepto no caso de
tir-se-ão rapidamente perdidos se enfren- terem obtido u m a nota muito elevada
tarem operações algébricas complexas. na primeira.
Tal c o m o os objectivos do ensino da
Matemática, outra questão essencial deve
Incidências sobre o programa
despertar a nossa atenção': a do material
Partimos da hipótese de que, no futuro, pedagógico. C o m o as aptidões são muito
os efectivos das escolias primárias não variáveis, tanto entre o® alunos como en-
deixarão de aumentar e de que oi ensino tre os professores, convém dedicar a
secundário será extremamente selectivo. maior atenção à produção de imaterial.
A experiência mostra que o® manuais de
O programa deveria compreender os auto-instrução apresentam vários incon-
seguintes elementos: números e opera-
venientes.
ções sobre os números; fracções, taxas
E m primeiro lugar, surge u m problema
e percentagens; números decimais; m e -
de língua, que prejudica a compreen-
didas e aproximações; leitura de gráficos
são, sobretudo quando o manual introduz
e tabelas simples, e Aritmética social;
números negativos; (utilização das fór- muitos termos novos.
mulas; Geometria elementar; medição; E m segundo lugar, o conteúdo dos
por fim, algumas noções de estatística. capítulos encontra-se muitas vezes en-
coberto pelos assuntos tratados. Para o
Paira preparar os alunos para o ensino professor experimentado, esta apresen-
secundário, o programa de estudos pri- tação não originará dificuldades, m a s a
mários deveria incluir t a m b é m noções ausência de qualquer indicação assina-
não formais ide Algebra, Geometria e Tri- lando os pontos essenciais pode conduzir
gonometria elementar. u m principiante a omitir estes pontos,
O programa de estudos secundários ou a perder tempo a estudar todo o
deve admitir como hipótese que o aluno capítulo, c o m medo de esquecer alguma
é capaz de assimilar suficientemente b e m coisa importante.
noções de Gometria dedutiva para com- E m terceiro lugar, é necessário evi-
preender o que é u m a cadeia dedutiva tar que os manuais estejam na origem
e os argumentois e m que assenta, de u m conflito entre a ideia da relação
O programa deve inculcar conhecimen- aluno^prof essor tal c o m o a apresentam,
tos de Algebra mais sólidos do que esltá e a concepção que a sociedade possui
previsto na maior parte dos manuais desta relação, K a y 2 evoca, por exemplo,
utilizados. C o m efeito, a Álgebra é ne- o novo programa de Inglês adoptado nas
cessária ao estudo das Ciências e à maior escolas primárias do Quénia, segundo o
350
O s objectivos do ensino da matemática e m África
qual o professor deveria ser para os alu- mentados do que para os principiantes.
nos mais u m amigo do que u m a autori- Deveria necessariamente incluir u m ín-
dade. Ora, segundo a (tradição local, os dice completo. Segue-se u m exemplo do
alunos devem respeitar os professores e que o livro do professor poderia conter:
obedecer -lhes prontamente, uma vez que Equivalência de fracções. Para poder
são mais velhos e, por conseguinte, mais adicionar fracções adicionando denomi-
sensatos. nadores diferentes, os alunos devem co-
Também não devemos esquecer que o meçar por compreender o que são frac-
ensino, tal como é concebido pelos pro- ções equivalentes. Estas podem ser apre-
fessores, é o produto1 de onze ou doze sentadas do seguinte modo:
anos de instrução extremamente formal 1. Dar a cada aluno u m a folha de papel
sobre a forma de cursos magistrais, que rectangular. Pedir-flhes que a dobrem
reduziam frequentemente a Matemática e m quatro, que a desdobrem e que
à aplicação de fórmulas dadas. Só muito preencham a tracejado três quartos
progressivamente nos poderemos libertar da folha:
desta concepção. Finalmente, como o le-
que de aptidões: é cada vez mais amplo,
é desejável que os manuais apresentem
as questões a ensinar segundo u m a pro- 7777/7
gressão rigorosa, fornecendo exemplos
múltiplos em cada nova etapa. Este modo
de apresentação seria benéfico tanto para
777/77 '//////,
351
George S . Eshiwani
Assim 1/2 = 2/4 = 4/8 = 8/16, etc. Os cadernos de exercícios são parti-
3/4 = 6/8 = 12/16, etc. cularmente úteis ao nível elementar. Per-
Através <ie exemplos como os pre- mitem que os professores e os alunos
cedentes, os alunos deveriam com- ganhem muito tempo, acrescentam ao
preender que, por exemplo, 5/7 = trabalho u m cunho pessoal e incitam o
= 10/14 = 15/21, ©tic. aluno a realizar u m trabalho limpo e cui-
Os exercícios de revisão podem apre-dado; também são particularmente indi-
sentar-se sob a forma de u m a 'colectânea cados para o ensino da Geometria.
ou de stencils e serão reproduzidos pela
escola. Estes impressos propõem u m a sé-
rie de exercícios graduado®, fáceis de
classificar. Os alunos respondem às ques- Notas
tões numa folha especial que, e m se-
guida, pode ser inserida na página cor- 1. P. G . S C O P E S , Mathematics in secondary schools,
respondente de u m a colecção composta Cambridge University Press.
de folhas cuja disposição permita ver 2. S. K A Y , «Curriculum innovation and traditional
culture», Comparative education, Outubro de
apenas a resposta correcta. 1975.
352
Ricardo Losada Márquez
e Mary Falk de Losada
Programas de matemática:
primeiros cuidados
353
Ricardo Losada Márquez
e Mary Falk de Losada
354
Programas de matemática: primeiros cuidados
355
Ricardo Losada Márquez
e Mary Falk de Losada
356
Programas de matemática: primeiros cuidados
357
¡Vlanmohan Singh Arora
358
Para onde vai o ensino da matemática?
A experiência indiana
359
Manmohan Singh Arora
360
Para onde vai o ensino da matemática?
A experiência indiana
361
Manmohan Singh Arora
362
Para onde vai o ensino da matemática?
A experiência indiana
363
Manimohan Singh Arora
364
Para onde vai o ensino da matemática?
A experiência indiana
365
Tendências e casos
367
Tendências e casos
comparação entre o resultado das activi- des de avaliação dos alunos das classes
dades escolares e critérios que servem elementares. Esta situação decorrerá de
de padrão. dificuldades inerentes ao grupo etário
Por vezes, dá-se a este método o n o m e considerado? D e facto, a acção de ava-
de ensino «sem notas». M a s , não sie trata liação encontra-se excluída do conjunto
tanto de elaborar u m método de ensino do processo de aprendizagem proposto
«sem notas» como de conferir à criança às crianças: estas vêem-se, à partida,
certo® traços de personalidade entre os dispensadas deste género de actividade,
quais o desejo de se instruir n o âmbito que é inteiramente assumida peto pro-
de u m ensino e m que o papel regulador fessor. Ë este que transmite conhecimen-
é desempenhado por u m sistema de acti- tos, controla a sua aquisição', classifica
vidades e de julgamentos de avaliação. os progressos e as lacunas, detecta os
Importa, e m primeiro lugar, definir erros e julga os resultados da actividade
claramente os conceitos de avaliação' e escolar sem entrar na análise d a activi-
dade propriamente dita. O resultado de
de classificação. Consideramos a avalia-
todas estas operações, muitas vezes efec-
ção integrada na actividade escolar como
tuadas isoladamente, é u m a nota pela
u m a actividade cognitiva particular, que
qual se manifesta a autoridade aibsoluta
tem por objectivo analisar o resultado
do professor.
da actividade escolar, ou esta actividade
e m si m e s m a , consoante já tenha sido A actividade escolar que se desenvolve
realizada, ou se encontre e m preparação'; nestas condições sofre, como é evidente,
e isto a partir de critérios precisos, de- de rigideiz e apresenta lacunas. O aluno
sempenhando o papel de padrões. A acti- realiza o seu trabalho, m a s não se en-
vidade de avaliação permite que o aluno contra e m condições de avaliar os resul-
enriqueça a sua experiência, aperfeiçoe tados que obtém, de efectuar verificações
os métodos que utiliza para atingir os e de descobrir os seus erros. N a s pri-
seus objectivos evite certas erros ou os meiras classes, os alunos bem, podem
corrija a tempo. perguntar porque tiveram determinada
A avaliação integrada na actividade nota! N ã o podemos deixar de frisar que
escolar não intervém n o fim d o processo esta m e s m a situação se verifica c o m os
de aprendizagem, fazendo intimamente mais velhos, incluindo as classes termi-
parte dele e m todas as suas fases. Esta nais.
avaliação entra mais especialmente e m E m geral, atribui-se à nota u m valor
jogo para determinar a justeza de ope- de incitamento para o estudo. Pode tam-
rações precisas de ordem abstracta ou b é m originar reacções negativas abalando
concreta já realizadas ou ainda por e m - a confiança que o aluno deposita nas suas
preender e a exactidão dos seus resul- capacidades. A s boas notas não frequen-
tados. Ê ao comparar estes resultados, temente procuradas pelas crianças menos
ou estas operações, c o m os critérios que por amor ao saber do que para asse-
lhe servem de padrão que o aluno adquire gurar o seu prestígio ou para O' elevar.
u m a informação pertinente que lhe in- Este é u m dos factores psicológicos que
dica se o seu método era correcto ou conduzem os alunos dos primeiros anos
erróneo. A avaliação 'em exercício de- a atribuir u m a importância exagerada
termina o prosseguimento d a actividade aos seus resultados escolares e a recorrer
empreendida, introduzindo os correctivos a meios desleais para obter boas notas
necessários e justificando esse prosse- (sem relação c o m a realidade). Investi-
guimento. gações empreendidas neste campo con-
N o sistema educativo tradicional, de- firmaram este facto: 78 % dos alunos
senvolvenvse muito pouco as capacida- das primeiras classes regressam diaria-
368
Tendências e casos
369
Tendências e casos
ras classes; o seu aparecimento e o seu podem preparar-se desde já, ajudar-nos-
desenvolvimento, primeiramente incons- -ão, e m seguida, a compreender b e m a
cientes, só mais tarde se tornam evi- questão»; «Não sei se conseguirão des-
dentes e adquirem, então, formas múl- cobrir sozinhos as regras de concor-
tiplas e b e m conhecidas. N o ® alunos dância das palavras n a proposição. Se
destas classes traduz-se por u m estado quiserem, podem tentar!»; « Q u e m não
de tensão e de ansiedade, falta de se- gostar desta poesia pode muito simples-
gurança, agitação e distracção. Conforme mente aprender outra d a sua preferên-
as crianças, estes estados emotivos serão cia!».
mais ou menos importantes e m função A s crianças foram iniciadas na uti-
do nível de estruturação das estereoti- lização do método de avaliação; neste
pias dinâmicas. aspecto, atribuiu-ise u m a grande impor-
 luz destas observações, o objectivo tância aos critérios que permitem avaliar
das nossas investigações pode formular- as actividades escolares e os seus resul-
-se do seguinte m o d o : criar u m tipo de tados. Estes critérios assumiram a forma
ensino destinado a suscitar u m a atitude de regras, de esquemas, de modelos ou
positiva e m relação aos estudos, utili- até de objectos concretos e m função do
zando o método de avaliação c o m o factor tipo de actividade, do procedimento ou
de regulação da actividade cognitiva dos do material didáctico. Pela sua utilização
alunos. sistemática, os alunos aprenderam pro-
gressivamente a compreender melhor os
Princípios critérios que deviam observar.
e desenvolvimento da experiência Realizou-se, na aula, a avaliação co-
lectiva de diversos resultados ligado® à
A nossa experiência desenvolveu-sie se- actividade escolar ou desta actividade
gundo os três seguintes eixos: modifi- propriamente dita. O s alunos aprende-
cação da relação entre o professor e ram, por meio de exercícios apropriados,
os alunos; modificação dos métodos de a exercer a sua faculdade ide crítica ou
apresentação da matéria de estudo; m o - de autocrítica, a descobrir os erros come-
dificação da relação entre os pais e a tidos e a corrigi-los, a encontrar as
instrução escolar. palavras que faltam n u m texto e a jus-
A relação educativa professor-alunos tificar a sua escolha, a apresentar u m
fundamentou-se na orientação da acti- problema n u m a fornia lógica, a analisar
vidade cognitiva dos alunos por meio de e a justificar a sua acção, a realizar acti-
actividades e m c o m u m , devendo o pro- vidades complexas de tipo abstracto ou
fessor esforçar-se muito particularmente de tipo concreto segundo u m plano, etc.
por suscitar tomadas de posição pessoais, Outros exercícios consistiam e m desco-
julgamentos e pontos de visita individuais brir ¡um erro, e m remontar às suas causas
sabre a questão estudada e, e m seguida, e e m indicar os meios de o corrigir. Pro-
contribuir para a sua definição. Incen- curou-se desenvolver na criança a aptidão
tivaram-se as discussões c o m o profes- para formular juízos de carácter pros-
sor. O s problemas eram colocados de pectivo, isto é, para prever as conse-
m o d o a despertar o interesse cognitivo quências de diversos métodos ou solu-
das crianças e o seu desejo de prestígio, ções.
utilizando formas de incitamento c o m o : Criaram-se diferentes actividades de
«Tentem resolver estes problemas; uns avaliação: controlo e avaliação dos re-
são fáceis e outros difíceis, há por onde sultados escolares dos colegas; crítica
escolher»; « A m a n h ã , vamos começar a dos seus trabalhos escritos; interrogação
aprender as igualdades; os que quiserem oral de u m aluno por outro c o m avaliação
370
Tendências e casos
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Tendências e casos
372
Tendências e casos
sobre a fonmação, nos alunos idas pri- 3. O êxito de u m ensino deste ¡tipo é de-
meiras classes, de latitudes positivas terminado pela utilização doi método
e m relação aos estudos e ide incita- de avaliação, que exige, d a parte d o
mentos internos para participar nas aluno, a faculdade de transpor os
actividades escolares; resultados d a sua actividade escolar
2. Este tipo de ensino dispensa estímu- para critérios que deve interiorizar;
los externos que não decorram das o desenvolvimento deslta aptidão^ im-
tendências cognitivas próprias d a plica a criação de ¡um sistema, peda-
criança, c o m o notas, recompensas, gógico apropriadoí;
sanções; estes estímulos podem, pelo 4. Este tipo de ensino contribui para a
contrário, inibir o desenvolvimento d a formação, n a criança, de qualidades
actividade cognitiva e do gosto pelos morais e pessoais positivas, de capa-
estudos ao substituírem o desejoi d a cidades criadoras e de u m a atitude
criança de participar nas ¡actividades objectiva e consciente face à reali-
escolares; dade.
373
Tendências e casos
U m exemplo de transformação
do ensino: o caso da Venezuela
Gustavo F . J. Cirigliano
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Tendências e casos
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Tendências e casos
Até agora, foram atribuídas quinze mil preço a pagar. M a s , já estamos preveni-
bolsas eau domínios científicos e tecnoló- dos: «existem ainda, na sociedade vene-
gicos de importância decisiva. Apenas zuelana, grupas elitistas que não aceitam,
5 % dos bolseiros são estudantes de Le- que não podem tolerar, que jovens de
tras. E m 1978, 9971 bolseiros seguiam Bobures, de Achaguas, de Delta Amiacuro
cursos e m estabelecimentos prestigiados e de outras localidades do interior, que
de mais de trinta países (na sua maior nunca na vida teriam tido ocasião de
parte nos Estados Unidos, de acordo c o m sair da sua terra, possam fazê-lo igraças
o projecto nacional), ¡constituindo, assim, a este extraordinário programa, que ori-
u m a nova universidade venezuelana que, ginará u m a renovação muito importante
embora situada fora do país, se empenha das camadas sociais na Venezuela; ele
essencialmente e m o servir. Além disso, vai ser u m factor de promoção social» 10.
perto de 7000 'bolseiros prosseguiam os Todo o projecto nacional cria o seu
seus estudos na Venezuela. D o número próprio pessoal. Assim, a Venezuela m o -
total de bolseiros —incluindo os que difica a sua população de acordo c o m as
permaneceram no país— 2631 frequen- necessidades do projecto. F á 4 o através
tavam cursos de nível pós-universitário. de u m a acção decidida e de (grandes pro-
Oitocentos bolseiros que terminaram os porções. Assistirá ao regresso de toda
estudos e m 1977 regressaram à Vene- u m a cidade, de u m exercício numeroso
zuela para .trabalhar na realização, do e inovador que terá visito outros hori-
objectivo político-social do programa; e m zontes, [assimilado outras experiências,
1978, juntaram-se-lhes miais 1500, m e - enfretado outras perspectivas e que, tem-
tade dos quais c o m formação pós-uni- porariamente, terá tido outra percepção
versitária. do munido e da vida. N ã o há dúvidas de
O programa Fundayaicucho representa que o regresso do exército dos bolseiros
u m esforço original iatinoi-<aimericano, e m - de Fundayacucho transformará o pais,
preendido durante o último decénio, para e é precisamente o que este espera, A si-
formar pessoal altamente qualificado. tuação, de resto, não é nova: na época
Pensamos que este projecto e o esforço colonial, muitos jovens sul-americanos de
que implica ainda não são suficiente- talento foram prosseguir os seus estudos
mente conhecidos na América Latina. na metrópole, e, ao regressar, realizaram
a aspiração da América à independência
Se olharmos u m pouco para além do
política, satisfazendo, assim, o que o
presente, é possível prever que, ao re-
povo esperava deles. Dez mil jovens ve-
gressar aos seus países, todos estes nezuelanos adquirem, e m todo o ¡mundo,
bolseiros, c o m experiências culturais di- u m a formação científica e tecnológica
versas e possuindo u m a qualificação de nível elevado. Deveriam não só trans1-
científica ou tecnológica elevada, não formar a Venezuela c o m o influenciar de
deixarão, dado o seu número e a sua maneira decisiva o futuro d a América
qualidade, de suscitar transformações Latina. Assim se apresenta este elemento
muito profundas na vida social da V e - do modelo que procura, de modo- original,
nezuela durante o próximo decénio — transformar a população e criar recursos
transformações ainda difíceis de predi- humanos a fim de atingir o objectivo
zer, m a s que a Venezuela assume o risco central do projecto: a independência eco-
de sofrer. nómica ao serviço do honrem.
Devemos, pois, estar preparados para Importa acrescentar que, c o m o o pre-
receber o impacte qualitativo e quantita- cedente, este elemento d o modelo se ca-
tivo deste imenso contributo e m recursos racteriza pela diversidade e o pluralismo.
humanos. Haverá, c o m o é evidente, u m N ã o se limita a u m país, estendendo-se
378
Tendências e casos
a trinta países que oferecem uma rica plemento de formação que lhes permite
gama de experiências científicas, políti- atingir u m nível equivalente ao do bacca-
cas, sociais e culturais " . lauréat (ver fig 1: processo de admis-
são) . A experiência profissional dos tra-
A universidade do trabalho balhadores é reconhecida como elemento
(INCE Superior) desta formação.
O I N C E Superior começou no ano pasr-
A ideia do I N C E Superior foi lançada aado a dispensar ciclos de ensino curtos,
a 11 de Setembro de 1976, que é o dia com a duração de u m ou dois anos. Tra-
do professor em vários países da A m é - t a i de u m ensino profesional e não
rica Latina. Esta ideia iniciai, esquemá- teórico (formiam^se gestores ou desenha-
tica, foinse desenvolvendo e concretizando dores, e não licenciados). O seu lema
progressivaimente. determina que toda a formação deve
O I N C E (Instituto Nacional de Coope- poder ser prosseguida: por exemplo, o
ración Educativa) — análogo' a outros enfermeiro deve poder tomar-se médico.
organismos de formação dos trabalha- Como mostra a figura 1, esta fórmula
dores, como o Serviço Nacional de Apren- (permite que os estudantes que tenham
dizagem Industrial (SENAI) do Brasil terminado o ciclo curto prossigam es-
ou o C O N E T da Argentina — realizou tudos superiores regulares.
uma obra fecunda e apreciada em m a - A estrutura modular dos programas
téria de formação técnica e profissional. (fig. 1) permite a validação dos estudos
O I N C E Superior comporta u m a ino- a todos os níveis, sem que seja necessá-
vação: u m a acção ao nível do ensino rio seguir u m ciclo completo'. O s módulos
superior ou pós-secundário, nível privi- terminados permitem o acesso a u m a
legiado no modelo operacional de desen- profissão ou a u m emprego: é «reco-
volvimento do ensino criado para o pro- nhecido» por u m «título» ou certificado,
jecto nacional venezuelano. Como se irá conferindo u m a qualificação- profissional
concretizar esta acção? efectiva. Se u m a especialização ou ciclo
Os cursos do I N C E Superior destinar- curto implica que se saiba efectuar trinta
-se-ão a três categorias ide população ou operações e u m trabalhador sabe efec-
públicos distintos: finalistas do ensino tuar doze graças à sua experiência pro-
secundário, diplomados do INCE — o u fissional, o I N C E reconhece esta aqui-
aprendizes— e trabalhadores em acti- sição e assegura O' complemento de
vidade. Neste último caso —é importante formação necessária. N a figura 1, o
sublinhá-lo — a experiência e os conheci- módulo I confere o título de «desenha-
mentos adquiridos por meio do trabalho dor»; o módulo II o de «desenhador de
são reconhecidos e dão origem a «crédi- nível n » ou de «inspector de trabalhos».
tos» para os estudos, que são organizados E m vez de títulos, trata-se de profissões
em módulos. reais. O que a universidade de tipo tra^
dicional ensina como matéria de estudo
O I N C E Superior não pretende con-
é ensinado aqui como u m ofício, u m a
correr com as universidades'—embora
capacidade efectiva, unia profissão. O s
proporcione novas possibilidades aos alu-
títulos correspondem a funções reais,
nas que terminam o ensino secundário— como sucede, por exemplo, com o título
delimitando o seu campo de acção espe- de director de informática».
cífico. Assim, embora permita que estes
estudantes se reorientem para o domínio Segundo esta concepção, que reconhece
das técnicas, das empresas e da indústria, ao trabalho u m valor de ensino, ofere-
oferece aos trabalhadores e aos diploma- cem^se especializações, no ano de 1978,
dos pelo I N C E (aprendizes) u m com- nos seguintes domínios: construção, ges-
379
Tendências e casos
ZT
Formação Formação
complementar complementar
Módulo Desenho
de arquitectura
Desenhador-I
Desenhador-ll
Inspector de trabalhos-l
Desenhador-lll
Assistente topógrafo
Inspector de trabalhos-ll
r Construção
Perspectiva Estágio Oficina
Efeitos de maqueta
de
de cor construção
gráficos
Y
Auxiliar Auxiliar Auxiliar
de arquitecto de engenheiro de construtor
Empresa Estudos
superiores
Aprendizes
Formação
complementar
FiG. 1 Estes gráficos salientam a estrutura modular da formação dos jovens qüe entrarão
para o I N C E Superior.
380
Tertdertoias e casos
tão, secretariado, ¡desenho, informática, Poderíamos pensar que este facto cons-
diversos ramos ¡da indústria (mecânica, titui motivo de desorganização, m a s , na
electromecânica, etc.)- O s jornais de C a - realidade, esta diversidade corresponde
racas anunciaram, e m Abril de 1978, ao desejo de formar recursos humanos
que o I N C E Superior dispensava, para para as profissões científicas e tecnoló-
começar, os seguintes cursos aos alunos gicas prioritárias. Reconhecense que este
que tivessem terminado o ensino secun- objectivo pode ser atingido por diversas
dário e desejassem adquirir rapidamente vias.
u m a especialização profissional de nível O s institutos universitários de tecnolo-
superior : progriamador-informátieoi, ana- gia, os institutos politécnicos e pedagó-
lista de sistemas informáticos, secretário gicos e os colégios universitários, que
de direcção, assistente de controlador fi- se multiplicaram a partir de 1971, são
nanceiro, assistente de responsável orça- testemunho da diversidade das formas
mental, assistente de analista financeiro. ou m o d o s de ensino oferecidos à popu-
Assim, desenvolvem-ise os esforços lação venezuelana para lhe permitirem,
para assegurar a formação tecnológica por meios variados e múltiplos, atingir
exigida pelos níveis mais elevados da a qualidade mais elevada a diferentes ní-
actividade produtiva. Enquanto a univer- veis de qualificação científica e tecnoló-
sidade fornece u m a preparação' profis- gica. Trata-se de formar rápida e efi-
sional baseada na formação intelectual, cazmente os recursos humanos exigidos
o I N C E Superior tem e m conta u m a por u m desenvolvimento independente,
«formação tecnológica orientada para o que se procura efectuar por diferentes
trabalho de produção». Este objectivo vias, embora possa parecer que existem
está claramente de acordo c o m o princí- sobreposições.
pio do projecto nacional que consiste e m E m 1978, contam^se cinco institutos
formar recursos humanos do mais alto universitários padagógicois, dos quais ape-
nível nas profissões científicas e tecno- nas dois criados antes de 1971; quatro
lógicas, a fim de obter o ¡controlo dos institutos universitários politécnicos, for-
recursos económicos-chaves e o seu tra- m a m d o engenheiros e m especialidades di-
tamento técnico. rectamente ligadas à produção; nove
Podemos afirmar que o I N C E Superior institutos universitários de tecnologia
é u m a universidade nova que parte do proporcionando ciclos de estudos curtos
trabalho como meio de aprendizagem para formação de técnicos superiores nos
para atingir o trabalho real e efectivo, sectoresjchave;s do desenvolvimento' in-
co¡mo profissão e como meio de reali- dustrial do país — todos criados depois
zação pessoal, no âmbito dos objectivos de 1971 — formando técnicos superiores
e das prioridades do desenvolvimento da administração e d o ensino que p o d e m
que o país tem e m vista, de acordo c o m ingressar directaimente na vida activa,
o seu projecto nacional. ou prosseguir estudos .mais avançados.
Existem, além disso', quinze colégios e
institutos universitários privados. C o m o
O pluralismo
se vê, o pluralismo do sistema de ensino
das instituições universitárias superior/universitário é b e m real.
Já assinalámos c o m o componente do pro- O presidente da República declarou,
jecto nacional o pluralismo e a diversi- e m Julho de 1978, que o país conta c o m
ficação n a formação dois recursos h u m a - 71 estabelecimentos universitários. Este
nos. N a Venezuela, o ensino superior ou número dá-nos u m a ideia da expansão
pós-secundário é extremamente diversi- sofrida se tivermos e m conta que, e m
ficado. 1958, existiam apenas 6.
381
Tendências s casos
382
Tendências e casos
Especi :icacões
do programa
I 1
Análises Determinação
das características dos objectivos
da população da instrução -«-
t
Elaboração do teste Revisão
de validação por u m comité
—
dos objectivos técnico
, L
i
'
Determinação Elaboração do
— >-
dos conteúdos teste de entrada
'
Sequência
lógica
e psicológica
dos objectivos
Selecção Análise
Avaliação
dos recursos
Avaliação
das estratégias - « — • •
didácticas disponíveis
1 •
Elaboração
dos módulos impressos
e do material de apoio
'
Elaboração
do teste final
'
Experimentação
383
Tendências e casos
384
Tendencias e casos
O futuro dirá se esta estrutura deverá Estão previstos ciclo® curtos, ao nível do
ser confirmada, ou modificada, conser- terceiro ano, assim como a possibilidade
vando o conjunto do ¡projecto o seu ca- de estudos pós-universitário®.
rácter experimental. A abertura d a U N A para o futuro tor-
Cinco domínios de estudo, correspon- nasse evidente ao tentar, de facto, gene-
dendo cada u m deles a u m a orientação ralizar, ou universalizar, u m a inovação,
profissional, foram definido® (o® ciclos transiormando-a no princípio d o sistema
de estudo inicialmente apresentados são de ensino futuro. Normalmente, as ten-
designados pelo sinal + ) como mostra tativas e as experiências só fornecem
do quadro acima. bons resultado® e m escala reduzida; a
Pode parecer estranho que u m a uni- sua generalização n e m sempre é viável.
versidade «aberta» assegure u m a for- A U N A constitui u m desafio, na América
mação profissional. Deve-se ao facto de o Latina, ao «saltar» d o nível experimental
projecto nacional exigir a formação de para o da aplicação generalizada. E m -
recursos humanos para as profissões bora certas universidades comportem
científicas e tecnológicas. M a s a TINA u m a secção «aberta», capaz de fornecer
não continuará necessariamente a f azê-lo. u m ensino a distância a 200 ou 300 es-
Considera-se a possibilidade de u m ciclo tudantes, a U N A conta, à partida, c o m
de estudos «abertos», permitindo que o 17 350 estudantes e m todo o país. A ex-
estudante estabeleça o seu próprio pro- periência, dada a sua escala, exiíge u m
grama, escolha as suas opções e adquira
número elevado de estudantes para ter
ou não u m a qualificação profissional.
sentido.
A nova lei sobre o ensino superior, ao
derrogar certos regulamento® actuais, Depois desta análise de algumas c o m -
'deve permitir o acesso à universidade ide ponentes do modelo de ensino superior
estudantes que não tenham terminado os na Venezuela, é possível formular certas
estudos secundários — o que está total- considerações, que conservarão, no en-
mente de acordo c o m o espírito da U N A . tanto, u m carácter hipotético.
385
Tendências e casos
986
Revista de publicações
Pierre Erny, que possui u m a longa experiência de cias, as quais acrescenta a experiência das casas
ensino e m África (começou como professor do en- familiares rurais francesas, P . Erny tira quatro gran-
sino primário no Alto Volta antes de se tornar pro- des lições.
fessor universitário no Zaire e no Ruanda) apre- A primeira diz-nos que a escola não é — ou não
senta-nos neste livro o essencial da sua reflexão deveria ser— o único recurso educativo. «Não se
sobre os problemas actuais da educação e m África trata, escreve, de suprimir a escola, mas de utilizar
e, mais ainda, e m todos os países de recursos li- todos os recursos educativos disponíveis (p. 95)».
mitados que enfrentam actualmente, devido a u m Corolário lógico: os professores não são os únicos
sistema escolar inadaptado, problemas que parecem detentores de conhecimento e a escola deveria ape-
insolúveis. lar amplamente para o conjunto das pessoas-recurso
N u m a primeira fase, o autor procede ao inven- presentes na zona.
tário das recentes tentativas de renovação do ensino Segunda lição: Se a escola deve estar ligada à
e m diferentes países de África e e m particular das vida, u m a vez que a vida é diversa, a escola tam-
tentativas de «ruralização» do ensino. O s exemplos b é m deve ser diversa. N o âmbito das normas gerais
que fornece mostram b e m tanto a ambiguidade fixadas pelo Estado, devemos, pois, conceder u m a
desta noção como a sua imperiosa necessidade. A m - ampla autonomia às regiões para que definam as
biguidade, porque a ruralização continua a ser en- orientações mais adequadas para atingir os objec-
tendida como u m «reflexo de autodefesa de u m a tivos finais.
neoburguesia dirigente preocupada c o m o seu fu- Terceira lição: a combinação entre o estudo e
turo» (p. 68) ou ainda como « u m discurso da gente as tarefas produtivas deveria constituir u m elemento
da cidade para uso dos rurais» (p. 70) cujas inten- central da nova pedagogia. E P . Erny aproxima-se,
ções reais estes percebem claramente. M a s também neste ponto, de muitas das conclusões apresentadas
necessidade, se não queremos que a escola continue n u m dossier da presente revista '.
a multiplicar aqueles que, já e m 1947, Emmanuel Ultima lição: é necessário inventar outro tipo
Mounier classificava de «semi-hábeis sem eira n e m de escola que já não seja «factor capital de dife-
beira que apenas vivem de palavras» (p. 65). renciação social», mas escola de promoção colectiva.
Devemos, pois, alterar a denominação mas pros- «Alicerçada no meio, escreve Erny, a escola deve
seguir na m e s m a direcção e Erny analisa c o m lu- dinamizá-lo através da análise que provoca e con-
cidez as causas dos insucessos e as condições que tribuir para a criação de u m a necessidade perma-
devem ser reunidas para levar a b o m termo u m a nente de transformação. Ligando estreitamente for-
transformação mais do que nunca necessária. Entre mação, educação e desenvolvimento, transforma-se
as causas de insucesso, para além da ambiguidade n u m dos órgãos que asseguram a tomada de cons-
política já sublinhada, Erny sublinha muito jus- ciência pela comunidade dos seus valores e das suas
tamente a falta de formação dos professores («um insuficiências e a responsabilidade da sua própria
ensino ruralizado, escreve, exige por parte do corpo evolução» (p. 98).
docente u m a competência incontestável simultanea- São estas as principais proposições apresentadas
mente pedagógica, agrícola e técnica que os pro- por Erny, proposições que pormenoriza no último
fessores formados segundo os métodos habituais capítulo, agrupando-as n u m projecto pedagógico si-
nunca tiveram», p . 69), a ausência de ligação entre multaneamente inovador e realista.
projecto educativo e projecto de desenvolvimento Lamentamos, contudo, dois factos. Pensamos que
rural («o fundo da ruralização consiste e m desen- a sua demonstração teria ganho e m força se o autor
volver a economia rural. É a transformação da agri- a tivesse aplicado concretamente a u m país (o
cultura que conferirá à educação o seu verdadeiro Ruanda, por exemplo, onde permaneceu durante
significado e não o inverso» (p. 70) e, no plano muito tempo). Além disso, de u m especialista e m
estritamente pedagógico, a ausência de ligação entre antropologia da educação 2 , seria de esperar que de-
estudo do meio e trabalhos práticos agrícolas). A s dicasse mais importância à educação tradicional e,
páginas que dedica ao estudo do meio, tanto no e m particular, às associações de jovens. Estes dois
capítulo sobre a ruralização como nos dois últimos pontos farão parte de u m projecto adiado?
capítulos de propostas pareceram-nos as mais ricas
da obra e contêm, sem dúvida, alguns temas es- Guy BELLONCLE
colhidos que deveriam passar a figurar e m todas as (França)
bibliotecas das escolas de formação da professores.
Depois desta análise das tentativas de renovação
da escola africana, Pierre Erny refere mais três ex- Notas
periências de transformação dos sistemas de ensino 1. Aprender a trabalhar : escola e produção, Perspec-
(o Peru, Cuba e a China) não para as copiar, mas, tivas, vol. VII, n.o 3, 1977.
2. Ver, e m particular, L'enfant et son milieu en Afri-
escreve, para «mostrar o que é possível e estimular que noire. Essais sur l'éducation traditionnelle,
a imaginação» (p. 7). Deste conjunto de experiên- Payot, Paris, 1972.
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Revista de publicações
388
Revista de publicações
psicológico foi confiado a Antoine Léon. Jean Vial ginais. N o conjunto, toda esta parte contribui c o m
encarregou-se dos aspectos sociológicos, assim como abundante matéria de reflexão e completa c o m
da alfabetização dos adultos. Foi a equipa de êxito u m a empresa que, dentro dos limites que
Schwartz e de Scheffknecht que, com u m a compe- apontámos, responde c o m competência a u m a ne-
tencia muito especial, tratou da «formação con- cessidade, a de apresentar u m quadro da educação
tínua dos adultos». Quanto ao director do Traité, dos adultos na França dos nossos dias.
G . Mialaret, consagrou u m capítulo à apresentação
de u m a realização particular, o programa T E V E C Neste m e s m o ano de 1978, foi publicada u m a
no Quebeque, experiência de educação dos adultos obra igualmente importante, embora de carácter re-
por sistema multi media. solutamente diferente. C o m Gaston Pineau sentimo-
O s diferentes capítulos fornecem u m a informação -nos b e m dentro do problema. O seu livro Éduca-
abundante que deverá prestar grandes serviços a tion ou aliénation permanente? penetra no âmago
todos os que sentem a necessidade de se manter da questão. Recorda-nos oportunamente que não
ao corrente do que se passa e m França. Lamenta- podemos estudar parcialmente u m tema que inte-
remos apenas que, n u m «tratado de ciências peda- resse ao conjunto da questão educativa, e que não
gógicas», tenha sido reservada u m a importância tão é legítimo designar pelo termo educação permanente
restrita às experiências estranhas à França. Capí- u m sector estreito e limitado da formação de adul-
tulos inteiros desenvolvem-se sem a menor alusão tos. G . Pineau é de formação filosófica. O s seus
ao que se passa na Inglaterra, nas Alemanhas, na interesses são manifestamente orientados para a ex-
Escandinávia, nos Estados Unidos. O carácter «cien- ploração dos fundamentos ideológicos da educação
tífico» da obra é provavelmente limitado, sobretudo permanente. O leitor não iniciado pode sentir-se ra-
quando se trata de u m domínio e m que, contraria- pidamente desarmado por declarações c o m o «estes
mente ao da educação das crianças e dos adoles- discursos projectam integrar n u m a vasta sistemati-
centes, reinam a diversidade e a particularidade. zação a totalidade do tempo humano (dimensão
Mais u m a vez se impõem, para a compreensão e a mítica) segundo u m esquema racional (dimensão
reflexão, aproximações e comparações entre as ex- lógica), embora estas duas dimensões não se mis-
periências desenvolvidas nos diferentes tipos de ci- turem para se reforçar e governar e m conjunto:
vilização e de cultura. o elemento mitológico confere eficácia às operações
teórico-práticas e a sua eficiência reforça o poder
A parte mais original e, neste aspecto, a que soli- daquele». O leitor não deve deixar-se desmobilizar.
cita mais a atenção, é a que diz respeito à animação A reflexão de G . Pineau é substancialmente rica
sociocultural. N ã o lhe aplicaremos as reservas já e vale a pena mantermo-nos atentos para adquirir
formuladas, até porque os autores nos indicam a u m a rede de ideias particularmente esclarecedoras.
«cor». É da animação e m França que se trata. C o m O centro desta reflexão é u m a meditação sobre o
efeito, a animação é u m domínio e m que os edu- tempo. Devemos reconhecer que esta é inevitável
cadores franceses desempenham u m papel de pio- se atribuirmos ao segundo termo do díptico «edu-
neiros, do ponto de vista dos objectivos pretendidos cação permanente» o seu pleno significado. Q u e
e dos meios aplicados. Q u e se entende por ani- fazer deste tempo que temos a possibilidade de
mação? O s especialistas encarregados desta parte, viver? C o m o utilizá-lo para realizar a nossa vocação
a Sra. Poujol e os Srs. Besnard, Simonot e Labourie, de homens e transformar e m actos o que virtual-
respondem amplamente a esta questão, cada u m à mente se encontra e m cada u m de nós? C o m o rea-
sua maneira, e c o m as perspectivas que lhes são lizar, através de u m esforço contínuo e para além
próprias. Besnard empenha-se e m expor a proble- de toda a delegação, os poderes do pensamento, de
mática deste sector. N ã o consegue evitar as defini- expressão corporal e mental, de comunicação c o m
ções. Fixemos esta, retirada de u m relatório de o outro e c o m as obras, que se encontram e m
J. P. Imhof, citado por Besnard: «Designa-se por estado embrionário na maior parte dos seres hu-
animação toda a acção n u m ou sobre u m grupo manos, porque ignoram aquilo de que são capazes
(uma colectividade ou u m meio) destinada a de- e porque não tiveram ocasião de exercer estas
senvolver a comunicação e a estruturar a vida capacidades? C o m o realizar estas propostas por
social, recorrendo a métodos semidirectivos; é u m nossa própria conta e que vias seguir para ajudar
método de integração e de participação». os outros nesta conquista de si m e s m o ? Para tal,
Para além destas definições, encontraremos u m a não existe outra solução além de se instalar n u m
descrição sugestiva dos fundamentos, dos campos devir que confere ao tempo humano o seu pleno
de aplicação, das funções e dos modelos da ani- significado.
mação sociocultural, assim como das reflexões rela-
tivas aos agentes desta acção, os animadores. Ë à Nesta perspectiva e a este preço a educação per-
formação destes últimos, que ocupam u m a impor- manente não será u m a «alienação», m a s u m reco-
tância crescente e sempre diversificada na vida do nhecimento de si m e s m o . Nesta via de pensamento,
país, que a Sra. Poujol consagra u m capítulo. G . Pineau, que é u m jovem investigador da Univer-
Sobre estes mesmos temas, os dois últimos cola- sidade de Montreal, encontra muitos companheiros
boradores da obra, os Srs. Simonot e Labourie, for- de viagem. À partida, apoia-se nas análises de Pla-
necem informações preciosas e pontos de vista ori- tão ao longo da República e muito especialmente no
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Revista de publicações
inesgotável mito da caverna. O G . Bachelard da europeia. As três correntes convergem para salientar
Formation de l'esprit scientifique e o G . Durand das a necessidade de repensar de alto a baixo a acção
Structures anthropologiques de l'imaginaire desem- educativa.
penham u m papel preponderante neste itinerário. A s posições dos meios críticos da educação per-
M a s , para além destes iniciadores, o autor procurou manente também se encontram representadas. N o
estabelecer aquilo que designa por pontos de refe- conjunto, o trabalho de G . Pineau fornece u m
rência «míticos e políticos», que delimitam a evolu- contributo de primeira ordem para o estudo do
ção da reflexão moderna sobre a educação perma- aspecto teórico da educação dos adultos. Paralela-
nente. Estudou os «discursos dos promotores», de mente à criação, e m diferentes países do m u n d o ,
1950 a 1970, e reproduziu o que considerou essencial. de estruturas institucionais e metodológicas mais
Deste ponto de vista, o livro apresenta-se c o m o u m a ou menos directamente inspiradas n u m a educação
antologia. N a s 200 páginas dedicadas a extractos, permanente, não podemos deixar de desejar que
encontramos o que de essencial se disse sobre o este esforço de aprofundamento dos fundamentos
assunto nos últimos vinte anos. O autor distingue seja prosseguido c o m a extensão e o rigor indis-
três correntes: u m a corrente internacional, parti- pensáveis, no sentido indicado por G . Pineau.
cularmente actuante na medida e m que a Unesco
tomou resolutamente posição a favor deste conceito Paul L E N G R A N D
inovador, u m a corrente americana e u m a corrente (França)
O s serviços de educação e de saúde encontram-se gado e m maior grau do que o acesso ao ensino
cada vez mais desenvolvidos nos países industria- superior e, e m particular, aos estudos médicos, o
lizados. Desde a segunda guerra mundial que se que contribui para o impasse actual. A única ex-
observa o alargamento do acesso ao ensino primário cepção talvez seja a Itália, onde se mantiveram
e secundário, e a necessidade de u m a redistribuição «abertas» as portas conducentes a todos os níveis
geográfica e social dos recursos atribuídos ao sector do sistema educativo, principalmente por razões po-
da saúde e do apuramennto da qualidade dos ser- líticas, a despeito dos limites inevitavelmente im-
viços. A admissão aos estudos médicos tornou-se postos pelas condições de b o m funcionamento dos
u m a questão política e social de primeira plana serviços de saúde. É verdadeiramente lamentável
ligada, por u m lado, ao acesso ao ensino superior ver que os jovens que não tiveram acesso aos es-
(e a u m a situação de prestígio) e, por outro lado, tudos médicos e m outros países v ê m procurar esta
às carências e m pessoal de saúde. Impõe-se, sem estrutura educativa já sobrecarregada. N ã o sabemos
dúvida, a elaboração de u m modelo conceptual- quais os acordos políticos que desencadearam esta
mente viável que permita, pelo menos, avaliar mais estranha migração internacional. N o outro extremo,
sistematicamente este problema tão complexo; ora, a Suécia teve o cuidado de transformar o acesso
neste campo, tudo, ou quase tudo, está por fazer. aos estudos médicos n u m elemento de u m sistema
É na esperança de encontrar esta abordagem sis- elaborado que repartiu ao m á x i m o as oportunidades
temática que iniciamos a leitura desta monografia de acesso à educação. O s outros países situam-se
que resulta de u m estudo multinacional e pluridis- entre estes dois extremos, exigindo alguns deles,
ciplinar do assunto. M a s deparamos simplesmente para determinar o acesso aos mais prestigiosos es-
c o m u m a série de relatos descrevendo o sistema de tudos universitários, critérios múltiplos que se v ê m
acesso aos estudos médicos de dez países (Repú- juntar aos critérios tradicionais de êxito escolar.
blica Federal da Alemanha, Austrália, Canadá, Di- Reconheceu-se que o nível «desconfortavelmente
namarca, Estados Unidos da América, França, Itá- elevado» do dossier escolar exigido no limiar dos
lia, Holanda, Reino Unido, Suécia), precedidos de estudos médicos exerce u m a grande influência sobre
u m a introdução geral. Contudo, estes relatos sobre os estudos pré-universitários, que tendem a trans-
diferentes países, tal c o m o u m a publicação anterior, formar-se n u m «campo de batalha». A considerável
apresentam u m grande interesse para os responsá- experiência adquirida pelos Estados Unidos neste
veis da planificação e do desenvolvimento dos ser- c a m p o durante mais de vinte anos não parece ter
viços de educação e de saúde. Examinaremos alguns impedido o apareceimento de u m fenómeno seme-
aspectos do problema e as soluções expostas nos lhante na República Federal da Alemanha e e m
relatórios. outros países.
E m todos os países estudados, o acesso aos es- O fundamento da importância tradicionalmente
tudos médicos deve ser examinado no âmbito geral atribuída ao dossier escolar — se os resultados são
da igualdade de oportunidades. O acesso ao ensino bons no ensino secundário, também o são, e m geral,
secundário foi, e m toda a parte, facilitado e alar- no ensino superior — é cada vez mais contestado
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Revista de publicações
na selecção dos futuros médicos, sob outro ponto a formação de u m estrangulamento a este nível.
de vista: u m excelente estudante não é necessaria- N a República Federal da Alemanha, nos Estados
mente u m excelente médico. O que se torna tanto Unidos e no Reino Unido foram criados organismos
mais evidente quanto a procura b e m documentada centrais de repartição.
de cuidados de saúde primários parece desempe- N a maior parte dos países, u m sistema de repar-
nhar, na planificação dos serviços de saúde, u m tição segundo critérios «não universitários» c o m o
papel mais importante d o que as carências de tecno- a idade, o sexo e a experiência profissional deveria
logia avançada e de investigação biomédica. Todos produzir, nas atitudes, nos conhecimentos e nas
estão de acordo e m considerar que a destreza m a - competências, u m a heterogeneidade que poderia ser
nual, a justeza das percepções, a capacidade de prometedora. U m sistema de selecção extraordi-
estabelecer contactos interpessoais e u m a atitude nariamente diversificado, baseado e m objectivos
positiva e m relação às carências de saúde d o in- educativos e profissionais, foi experimentado e m
divíduo e da colectividade, contam mais d o que McMaster Medicai School, e m Hamilton (Canadá),
os conhecimentos objectivos na formação de u m onde esforços consideráveis de reflexão, de desen-
b o m médico e são indispensáveis para a optimiza- volvimento e até de investigação parecem ter contri-
ção dos seus serviços. Estas qualidades não deve- buído para evitar os resultados bastante medíocres
riam desempenhar u m papel importante na escolha dos métodos de selecção fáceis — dossier escolar e
dos futuros m e m b r o s da profissão? medidas administrativas o u tecnológicas.
Surgem, assim, graves questões a respeito de C o m excepção deste último modelo e da grande
muitos aspectos dos sistemas educativos, e m parti- experiência social tentada na Suécia, a política de
cular nas fases pré e pós-universitárias. M a s esta admissão às escolas de Medicina parece continuar
monografia atribui a maior importância aos m é - infeliz e aleatória. Neste domínio, as investigações
todos através dos quais se efectua a passagem dos baseadas n u m modelo conceptual útil são quase
estudos secundários aos estudos de Medicina. São inexistentes. Estudos c o m o esta monografia deve-
essencialmente determinados por considerações de riam basear-se n o conhecimento e na compreensão
ordem constitucional, jurídica, organizacional e fi- presentes da estrutura e das funções dos serviços
nanceira. A s soluções são ora tecnológicas, ora de saúde, do papel e das qualidades necessárias dos
conceptuais. A s primeiras salientam geralmente o médicos, assim c o m o a sua socialização n u m a pro-
aspecto numérico, à custa do critério de qualidade. fissão actualmente muito criticada por diversas ra-
N a República Federal da Alemanha, o respeito pelo zões, das quais algumas são justas.
direito —enunciado pela Constituição— de acesso
ao ensino superior conduziu à aceitação c o m o estu- H. G. PAULI,
dantes de medicina de u m a mistura estranha de professor e director,
indivíduos brilhantes e de indivíduos socialmente Institut für Ausbildungs- u n d
privilegiados inscritos n u m a lista de espera cuja Examensforschung, Faculdade de
duração pode atingir seis anos e mais! É possível Medicina da Universidade de Berna,
que os estudantes desta segunda categoria estejam Suíça
mais aptos a exercer nos serviços de saúde pri-
mários do que os da primeira, que parecem orien-
tar-se mais para a especialização e a investigação
biomédica. E m França, devido a disposições cons- Nota
titucionais análogas, a selecção foi adiada para o 1. The selection of students for medical education,
fim d o primeiro ano de Medicina, principalmente Relatório de u m grupo de 'trabalho, Berna, 21-25
de Junho de 1971, Gabinete Regional da O M S para
dedicado às Ciências, o que origina inevitavelmente a Buropa, Copenhaga, 1973.
391
BEP — BIBLIOTECA DO E DUCADOR PROFISSIONAL,
1 A Matemática Moderna no E n - 28
A Educação Estético-Visual no
sino Primário — Z. P. Dienes Ensino Escolar — A. Betámio de
3 Matemática Moderna e Matemá- Almeida
tica Viva — André Revus 29 A Educação, Acto Político—Apos-
3 A Adolescência — W. D. Wall tinho dos Reis Monteiro
4 Educação e Educadores — Rui 30 A Nova Escola Infantil — A s
Orado Crianças dos 3 aos 6 — Francesco
5 A Orientação Escolar e Profis- de BartoiomeUs,
sional — Jean Drévillon 31 A Higiene Mental na Escola —
6 Temas de Peicopedagogia Es- André Berge e João dos Santos
colar—O Professor e os Alu- 32 A Escola na Sociedade de Classes
nos — M. David, Roger Gal,
Louis François, L. Voeltzet e — Anal Benavente
A. Ferré 33 D o Ensino da Filosofia — Fer-
7 A Hecatombe Escolar — Geor- nando Gilot
ges Bastin 34 Educação sem Selecção Social —
8 Testes Sociométricos— U m Guia Bartolo Paiva Campos
para Professores — Mary L. 35 Perspectivas Psioopedagógicas —
Northway e Lindsay Weld Arquimedes Santos
9-10 A Educação Afectiva e Caracte- 36 Educação: U m a Frente de Luta—
rial da Criança — Georges Manco Rogério Fernandes
11 Fundamentação Existencial da 37 Animação Socio-Cultural — Prá-
Pedagogia — Delfim Santo» tica e Instrumentos — Edouard
12 João de Barros — Educador R e - Limbos
publicano — Rogério Fernandes
38 Escola Paralela — Louis Porcher
13 Pedagogia e Psicologia dos
Grupos — A. R. I. P. 39 Formação de Professores: Parti-
cipação na Aprendizagem — Bar-
14 Introdução à Didáctica na Es- rington Kaye
cola Activa — Francesco de
Bartolomeis 40 Educação e Constituição de Abril
15 Ensino Programado e Estudo — Agostinho dos Reis Monteiro
da Sua Didáctica — M. F. M. 41 Para onde Vai a Educação? —
Rubens Jean Piaget
16 A s Três Faces da Pedagogia 42 A Escola Aberta—Bernard Eiiade
— Maria Amália Borges Me-
deiros 43 Pensamento Pedagógico — Vassili
Sukhomlinski
17 Introdução à Educação Perma-
nente — Paul Lengrand 44 Psicologia da Inteligência — Jean
18 A Pedagogia e as Grandes Cor- Piaget
rentes Filosóficas — Bogdan 45 Para o Ensino e Aprendizagem da
Suchodolski Lingua Materna — Dulce Rebelo
19 A Educação nas Escolas Mis- e Lucinda Atalaia
tas — Edouard Breuse 46 Meio Social e Sucesso Escolar —
20 Os Professores e a Reforma do Torsten Husén
Ensino — Rui Grácio 47 Educação Popular e Processo de
21 U m a Nova Compreensão da Arte Consciencialização — Júlio Bar-
Infantil — Arno Stem reiro
22 Aspectos e Técnicas da Pintura 48 U m a Socióloga na Escola Primária
de Crianças — Arno Stern — Ida Berger
23 A Inovação do Ensino — Jean 49 Portugal — A Educação e m N ú m e -
Hanssßnf order ros — José Salvado Sampaio
24 O Fim dos Liceus — Robert 50 Questões de Pesicologia e Peda-
Brechon gogia — Manuel Viegas de Abreu
25 As Relações Humanas na Aula 51 Programas de Ensino e Senso Co-
— Christine Blouet Chápiro m u m — Robin Barrow
26 A Adolescência na Escola e na 52 O Ensino das Ciências Sociais —
Sociedade — W. D. Wall Inovações no Ensino Secundário
27 O Trabalho e m Grupo nas Es- — Denis Glecson e Geoff Whithy
colas Secundárias — Barrington 53 O Contexto Social do Ensino —
Kaye e Irving Rogers Gerald Cortis