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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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18/03/2014 SEGUNDA TURMA

HABEAS CORPUS 116.090 MINAS GERAIS

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


PACTE.(S) : THALES GARCIA FIALHO
IMPTE.(S) : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSO


PENAL MILITAR. INFRAÇÃO DO ART. 290, CAPUT, DO CÓDIGO
PENAL MILITAR. POSSE DE DROGA EM RECINTO MILITAR.
ALEGAÇÃO DE NULIDADES DECORRENTES DA APLICAÇÃO DO
RITO PREVISTO NA LEI N. 11.719/2008 E DO NÃO
RECONHECIMENTO DO CRIME IMPOSSÍVEL: AUSÊNCIA DE
PLAUSIBILIDADE JURÍDICA E PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO.
PRECEDENTES. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA: INAPLICABILIDADE. HABEAS CORPUS
DENEGADO.
1. A jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal é no
sentido de que não se pode mesclar o regime penal comum e o castrense,
de modo a selecionar o que cada um tem de mais favorável ao acusado,
devendo ser reverenciada a especialidade da legislação processual penal
militar e da justiça castrense, sem a submissão à legislação processual
penal comum do crime militar devidamente caracterizado. Precedentes.
2. O princípio do pas de nullité sans grief exige, sempre que possível, a
demonstração de prejuízo concreto pela parte que suscita o vício.
Precedentes. Prejuízo não demonstrado pela defesa.
3. Não há que se falar em crime impossível, pois, para isso, deve
restar constatada a absoluta impropriedade do meio empregado para a
prática delitiva ou do objeto material do delito, sendo necessário que o
bem jurídico protegido pela norma penal não sofra qualquer risco, em
razão da total inidoneidade do meio ou do próprio objeto.
4. A posse, por militar, de substância entorpecente,
independentemente da quantidade e do tipo, em lugar sujeito à

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administração castrense (art. 290, caput, do Código Penal Militar), não


autoriza a aplicação do princípio da insignificância.
5. Habeas corpus denegado.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência da
Ministra Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade, em denegar a ordem, nos termos
do voto da Relatora. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de
Mello.

Brasília, 18 de abril de 2014.

Ministra CÁRMEN LÚCIA - Relatora

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Relatório

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HABEAS CORPUS 116.090 MINAS GERAIS

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


PACTE.(S) : THALES GARCIA FIALHO
IMPTE.(S) : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

RELATÓRIO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA – (RELATORA):

1. Habeas corpus, com pedido de medida liminar, impetrado pela


DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, em favor de THALES GARCIA
FIALHO, contra acórdão do Superior Tribunal Militar, proferido em
19.9.2012, no julgamento da Apelação n. 0000067-03.2010.7.04.0004,
Relator o Ministro Luis Carlos Gomes Mattos, interposta pela defesa.

2. Tem-se nos autos que o Paciente foi denunciado pela prática do


delito previsto no art. 290, caput, do Código Penal Militar, pela posse de
maconha em local sujeito à administração militar. Expõe a denúncia:

“Conforme noticiam os autos, no dia 04 de agosto de 2010,


estava sendo realizada uma inspeção rotineira nos militares que
chegam no quartel pela manhã.
Quando o SD THALES chegou ao quartel, o CB GEVERTOM
SILVA ALVES, ao revistá-lo, achou dentro de uma caixa de fósforos em
poder do denunciado substância entorpecente (maconha). Ao ser
flagrado, o denunciado pediu que fosse liberado, afirmando que a
substância não lhe pertencia, obtendo resposta negativa por parte do
Cabo GEVERTOM que comunicou o fato ao 3ºSGT ELIAS
FERNANDES TAGLIATI. Este graduado, por seu turno,
encaminhou o denunciado para o interior do Corpo da Guarda para
que pudesse comunicar o fato ao Oficial de Dia e à 2ª Seção, e
aproveitou para realizar uma revista mais minuciosa no denunciado e

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Relatório

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acabou por encontrar mais substância entorpecente, dessa vez dentro


da carteira do SD THALES.
Em face dos fatos, foi-lhe dada voz de prisão, tendo sido
apreendida a substância (nove centigramas de maconha), a qual teve
sua natureza entorpecente confirmada pelo laudo de fls. 14 e 39.
O fato, evidentemente criminoso, encontra correspondência no
tipo penal militar entalhado no art. 290 do CPM, restando, ademais,
incontroversas a autoria e materialidade delitivas, máxime, pela prisão
em flagrante, aliada à prova técnica, confessional e testemunhal”.

3. Em 8.3.2012, o juízo da Auditoria da 4ª Circunscrição Judiciária


Militar condenou o Paciente à pena de um ano de reclusão, a ser
cumprida em regime aberto, concedido o sursis pelo prazo de dois anos e
o direito de recorrer em liberdade.

4. A defesa interpôs a Apelação n. 0000067-03.2010.7.04.0004, Relator


o Ministro Luis Carlos Gomes Mattos, à qual o Superior Tribunal Militar
negou provimento em 19.9.2012:

“Ementa: Porte de entorpecente. Inconstitucionalidade de


norma. Lei especial. Princípio da insignificância.
Hipótese em que a Defesa não indicou que tipo de prejuízo lhe
foi causado pela realização do interrogatório na forma do art. 302 do
CPPM, desvelando-se meramente teórica a proposição sobre a sua
inconstitucionalidade.
A Lei n. 11.343/2006 possui caráter geral, não tendo, pois, o
condão de revogar um preceito contido em lei especial, vale dizer, no
Código Penal Militar.
Delito de porte de entorpecentes delineado e provado, sendo
incabível aplicar, na hipótese, o princípio da insignificância.
Rejeição das preliminares.
Desprovimento do Apelo.
Decisão unânime”.

5. Essa julgado é o objeto da presente ação, na qual a Impetrante

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Relatório

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alega que:

“foi violado o direito de autodefesa do ora paciente, porquanto


negada a realização do interrogatório ao fim da instrução processual, o
que foi postulado em tempo oportuno, antes da feitura de tal ato
processual, conforme provam as cópias em anexo.
Tem-se, pois, que a ação penal em tela está contaminada por
nulidade absoluta, a qual acarretou ao ora paciente o prejuízo de não
poder exercer plenamente a sua autodefesa, manifestando-se acerca das
declarações fornecidas pelas testemunhas da acusação, além do
prejuízo de ver-se condenado no bojo de uma ação criminal que não
respeitou as regras do devido processo legal substancial. E prejuízo
maior há para toda a sociedade quando um ramo do Poder Judiciário
brasileiro nega, sistematicamente, vigência a importantes dispositivos
da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José
da Costa Rica)”.

Afirma que a ínfima quantidade de substância entorpecente


apreendida implica em crime impossível.

Sustenta que a pena imposta ao Paciente seria desproporcional e que


“o artigo 290, caput, do Código Penal Militar, não tem por destinatário o ‘jovem
soldado, prestador do serviço militar obrigatório’, mas, sim, o ‘militar engajado
ou profissional das Forças Armadas’”.

6. Este o teor dos pedidos:

“1. a concessão de medida liminar para determinar a suspensão


dos efeitos da condenação imposta ao ora paciente no bojo da ação
penal militar autuada sob o número 0000067-03.2010.7.04.0004, com
o sobrestamento do início da execução penal, até o julgamento final da
presente impetração;
2. seja, ao fim da tramitação do presente pedido de habeas
corpus, proferida decisão de mérito, concessiva da ordem, para
decretar a nulidade do processo e o trancamento da ação penal, dada a

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existência de crime impossível, porquanto a ínfima quantidade da


substância vegetal apreendida evidencia a absoluta impropriedade do
objeto para ensejar qualquer lesão à saúde pública ou aos invocados
princípios de hierarquia e disciplina, com fundamento no artigo 32 do
Código Penal Militar; bem como por violação ao princípio
constitucional da proporcionalidade, nos termos das razões acima
expendidas;
3. subsidiariamente, seja concedida a ordem para decretar a
nulidade do processo, desde o interrogatório do réu, inclusive, por
violação ao artigo 8.º, item 2, alíneas “b”, “d” e “g”, do Pacto de São
José da Costa Rica, combinado com o artigo 5.º, incisos LIV e LV, da
Constituição da República”.

9. Em 11.12.2012, indeferi o requerimento de medida liminar,


requisitei informações e determinei, na seqüência, vista dos autos ao
Procurador-Geral da República.

10. As informações foram prestadas e a Procuradoria-Geral da


República opinou “pela denegação da ordem”.

É o relatório.

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VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - (Relatora):

1. Razão jurídica não assiste à Impetrante.

2. Quanto à suposta nulidade do processo, por cerceamento de


defesa, dada a inobservância da ordem da instrução probatória
introduzida pela Lei 11.719/2008, com a realização do interrogatório do
Paciente antes da oitiva das testemunhas, a jurisprudência deste Supremo
Tribunal é firme no sentido de que “[n]ão se pode mesclar o regime penal
comum e o castrense, de modo a selecionar o que cada um tem de mais favorável
ao acusado. Tal proceder geraria um "hibridismo" incompatível com o princípio
da especialidade das leis. Sem contar que a disciplina mais rigorosa do Código
Penal Castrense funda-se em razões de política legislativa que se voltam para o
combate com maior rigor daquelas infrações definidas como militares” (HC
86.854, Rel. Min. Ayres Britto, DJ 2.3.2007).

Nesse sentido:

“HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR. USO DE


DOCUMENTO FALSO (ART. 315 DO CPM). REVELIA DO
ACUSADO. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO ART. 366 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COMUM.
IMPOSSIBILIDADE. RESOLUÇÃO DO CASO PELO CRITÉRIO
DA ESPECIALIDADE DA LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL
CASTRENSE. ORDEM DENEGADA.
1. O princípio da especialidade impede a incidência do art. 366
do Código de Processo Penal comum, no caso dos autos. O art. 412 do
Código de Processo Penal Militar é o regramento específico do tema no
âmbito da Justiça castrense. Somente a falta de um regramento
específico em sentido contrário é que possibilitaria a aplicação da

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legislação comum. Impossibilidade de se mesclar o regime processual


penal comum e o regime processual penal especificamente militar,
mediante a seleção das partes mais benéficas de cada um deles, pena de
incidência em postura hermenêutica tipificadora de hibridismo ou
promiscuidade regratória incompatível com o princípio da
especialidade das leis. Precedentes: HCs 76.368, da relatoria do
ministro Maurício Corrêa; e 91.225, da relatoria do ministro Eros
Grau.
2. Ordem indeferida” (HC 105925, Rel. Min. Ayres Britto,
Segunda Turma, DJe 5.4.2011).

“HABEAS CORPUS. PENAL MILITAR E PROCESSUAL


PENAL. CRIME DE PORTE DE SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE PARA USO PRÓPRIO PREVISTO NA LEI N.
11.343/06: LEI MAIS BENÉFICA. NÃO-APLICAÇÃO EM
LUGAR SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR: ART. 290 DO
CÓDIGO PENAL MILITAR. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE.
HABEAS CORPUS DENEGADO.
1. O art. 290 do Código Penal Militar não sofreu alteração em
razão da superveniência da Lei n. 11.343/06, por não ser o critério
adotado, na espécie, o da retroatividade da lei penal mais benéfica, mas
sim o da especialidade. O cuidado constitucional do crime militar -
inclusive do crime militar impróprio de que aqui se trata - foi previsto
no art. 124, parágrafo único, da Constituição da República. Com base
nesse dispositivo legitima-se, o tratamento diferenciado dado ao crime
militar de posse de entorpecente, definido no art. 290 do Código Penal
Militar.
2. A jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal
é no sentido de reverenciar a especialidade da legislação penal militar e
da justiça castrense, sem a submissão à legislação penal comum do
crime militar devidamente caracterizado.
3. Habeas corpus denegado” (HC 91767, de minha relatoria,
DJe 10.10.2007).

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Ademais, a Impetrante sequer demonstrou o prejuízo eventualmente


experimentado pela parte a possibilitar a decretação da requerida
nulidade.

Assim, apesar de existir entendimento do Supremo Tribunal Federal


no sentido de que o prejuízo de determinadas nulidades seria de “prova
impossível” (HC 84.835, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 26.8.2005; e HC
85.443, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 13.5.2005), este Supremo
Tribunal assentou que, “no sistema processual penal vigorante em nosso país,
a declaração de nulidade depende da ocorrência e demonstração de prejuízo
efetivo para a defesa ou acusação; ou ainda, de comprovação de interferência
indevida na apuração da verdade substancial e na decisão da causa (cfr. CPP,
arts. 563, 565 e 566)” (HC 68152, Rel. Min. Célio Borja, DJ 28.9.1990), pois
“não se declara nulidade processual por mera presunção” (HC 88.755, Rel. Min.
Celso de Mello, DJ 15.12.2006).

3. Quanto à alegação de crime impossível, estabelece o art. 32 do


Código Penal Militar que:

“Quando, por ineficácia absoluta do meio empregado ou por


absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime,
nenhuma pena é aplicável”.

Ao prever a figura do crime impossível, o legislador


infraconstitucional adotou a Teoria Objetiva Temperada ou Intermediária,
de modo que a sua configuração exige a escolha de um meio executório
absolutamente inidôneo e/ou a constatação de um objeto material
absolutamente impróprio.

As duas variáveis devem, necessariamente, tornar a consumação de


todo impraticável.

Para Mirabete:

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“O crime impossível, também denominado de tentativa


impossível, tentativa inidônea, tentativa inadequada e quase crime,
em que o agente de forma alguma conseguiria chegar à consumação,
motivo pelo qual a lei deixa de responsabilizá-los pelos atos praticados,
apresenta-se em duas espécies diferentes: pela ineficácia absoluta do
meio e pela absoluta impropriedade do objeto.
(...)
A inidoneidade do meio deve ser perquerida no caso concreto, já
que um meio pode ser ineficaz em determinadas situações e possível de
eficácia em outras, em que se incluem as condições pessoais da
vítima.“ (MIRABETE, Júlio Fabrini. Código Penal Interpretado.
5ª ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 185)

No caso, identificaram as instâncias antecedentes que a) o material


encontrado na posse do Paciente se tratava da planta Cannabis Sativa
Linneu, conhecida como “maconha”; e b) o composto (Delta-9-
tetrahidrocanabinol) encontrado naquela é capaz de causar dependência
física ou psíquica a quem dele fizer uso.

Rogério Greco assinala que no crime impossível por absoluta


impropriedade do objeto, “por mais que o agente quisesse alcançar o resultado
por ele pretendido, jamais conseguiria” (Curso de Direito Penal, Volume I,
Parte Geral. 9.ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007, p. 290).

Assim, não há que se falar em crime impossível, pois, para isso,


deve restar constatada a absoluta impropriedade do meio empregado
para a prática delitiva ou do objeto material do delito, sendo necessário
que o bem jurídico protegido pela norma penal não sofra qualquer risco,
em razão da total inidoneidade do meio ou do próprio objeto.

4. Por derradeiro, em 21.10.2010, ao julgar o Habeas Corpus n. 103.684,


Relator o Ministro Ayres Britto, DJe 13.4.2011, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal, por maioria, assentou que a posse, por militar, de
substância entorpecente, independentemente da quantidade e do tipo, em

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lugar sujeito à administração castrense (art. 290, caput, do Código Penal


Militar), não autoriza a aplicação do princípio da insignificância.

Decidiu-se, ainda, nesse julgamento, que o art. 290, caput, do Código


Penal Militar não contraria o princípio da proporcionalidade e que, em
razão do critério da especialidade, não se aplica a Lei n. 11.343/2006. Esta
a ementa desse julgado:

“HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR. CONSCRITO OU


RECRUTA DO EXÉRCITO BRASILEIRO. POSSE DE ÍNFIMA
QUANTIDADE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE EM
RECINTO SOB ADMINISTRAÇÃO CASTRENSE.
INAPLICABILIDADE DO POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA
PENAL. INCIDÊNCIA DA LEI CIVIL Nº 11.343/2006.
IMPOSSIBILIDADE. RESOLUÇÃO DO CASO PELO CRITÉRIO
DA ESPECIALIDADE DA LEGISLAÇÃO PENAL CASTRENSE.
ORDEM DENEGADA. 1. A questão da posse de entorpecente por
militar em recinto castrense não é de quantidade, nem mesmo do tipo
de droga que se conseguiu apreender. O problema é de qualidade da
relação jurídica entre o particularizado portador da substância
entorpecente e a instituição castrense de que ele fazia parte, no
instante em que flagrado com a posse da droga em pleno recinto sob
administração militar. 2. A tipologia de relação jurídica em ambiente
castrense é incompatível com a figura da insignificância penal, pois,
independentemente da quantidade ou mesmo da espécie de
entorpecente sob a posse do agente, o certo é que não cabe distinguir
entre adequação apenas formal e adequação real da conduta ao tipo
penal incriminador. É de se pré-excluir, portanto, a conduta do
paciente das coordenadas mentais que subjazem à própria tese da
insignificância penal. Pré-exclusão que se impõe pela elementar
consideração de que o uso de drogas e o dever militar são como água e
óleo: não se misturam. Por discreto que seja o concreto efeito
psicofísico da droga nessa ou naquela relação tipicamente militar, a
disposição pessoal em si para manter o vício implica inafastável pecha
de reprovabilidade cívico-funcional. Senão por afetar temerariamente a
saúde do próprio usuário, mas pelo seu efeito danoso no moral da

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corporação e no próprio conceito social das Forças Armadas, que são


instituições voltadas, entre outros explícitos fins, para a garantia da
ordem democrática. Ordem democrática que é o princípio dos
princípios da nossa Constituição Federal, na medida em que normada
como a própria razão de ser da nossa República Federativa, nela
embutido o esquema da Tripartição dos Poderes e o modelo das Forças
Armadas que se estruturam no âmbito da União. Saltando à evidência
que as Forças Armadas brasileiras jamais poderão garantir a nossa
ordem constitucional democrática (sempre por iniciativa de qualquer
dos Poderes da República), se elas próprias não velarem pela sua
peculiar ordem hierárquico-disciplinar interna. 3. A hierarquia e a
disciplina militares não operam como simples ou meros predicados
institucionais das Forças Armadas brasileiras, mas, isto sim, como
elementos conceituais e vigas basilares de todas elas. Dados da própria
compostura jurídica de cada uma e de todas em seu conjunto, de modo
a legitimar o juízo técnico de que, se a hierarquia implica superposição
de autoridades (as mais graduadas a comandar, e as menos graduadas
a obedecer), a disciplina importa a permanente disposição de espírito
para a prevalência das leis e regulamentos que presidem por modo
singular a estruturação e o funcionamento das instituições castrenses.
Tudo a encadeadamente desaguar na concepção e prática de uma vida
corporativa de pinacular compromisso com a ordem e suas naturais
projeções factuais: a regularidade, a normalidade, a estabilidade, a
fixidez, a colocação das coisas em seus devidos lugares, enfim. 4. Esse
maior apego a fórmulas disciplinares de conduta não significa perda
do senso crítico quanto aos reclamos elementarmente humanos de se
incorporarem ao dia-a-dia das Forças Armadas incessantes ganhos de
modernidade tecnológica e arejamento mental-democrático. Sabido que
vida castrense não é lavagem cerebral ou mecanicismo
comportamental, até porque – diz a Constituição – ‘às Forças
Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos
que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de
consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e
de convicção filosófica ou política para se eximirem de atividades de
caráter essencialmente militar’ (§ 1º do art. 143). 5. O modelo
constitucional das Forças Armadas brasileiras abona a idéia-força de

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que entrar e permanecer nos misteres da caserna pressupõe uma clara


consciência profissional e cívica: a consciência de que a disciplina mais
rígida e os precisos escalões hierárquicos hão de ser observados como
carta de princípios e atestado de vocação para melhor servir ao País
pela via das suas Forças Armadas. Donde a compatibilidade do maior
rigor penal castrense com o modo peculiar pelo qual a Constituição
Federal dispõe sobre as Forças Armadas brasileiras. Modo
especialmente constitutivo de um regime jurídico timbrado pelos
encarecidos princípios da hierarquia e da disciplina, sem os quais não
se pode falar das instituições militares como a própria fisionomia ou a
face mais visível da idéia de ordem. O modelo acabado do que se
poderia chamar de ‘relações de intrínseca subordinação’. 6. No caso, o
art. 290 do Código Penal Militar é o regramento específico do tema
para os militares. Pelo que o princípio da especialidade normativo-
penal impede a incidência do art. 28 da Lei de Drogas (artigo que, de
logo, comina ao delito de uso de entorpecentes penas restritivas de
direitos). Princípio segundo o qual somente a inexistência de um
regramento específico em sentido contrário ao normatizado na Lei
11.343/2006 é que possibilitaria a aplicação da legislação comum.
Donde a impossibilidade de se mesclar esse regime penal comum e o
regime penal especificamente castrense, mediante a seleção das partes
mais benéficas de cada um deles, pena de incidência em postura
hermenêutica tipificadora de hibridismo ou promiscuidade regratória
incompatível com o princípio da especialidade das leis. 7. Ordem
denegada”.

5. Nesse sentido, o parecer ministerial:

“(...) Preliminarmente, não prosperam as alegações acerca da


nulidade do interrogatório do paciente, efetuado nos termos do art.
302 do Código de Processo Penal Militar, in verbis:
(...)
Com efeito, o legislador especial estabeleceu o início da instrução
criminal como o momento para a realização do interrogatório,
circunstância que, contudo, não implica no desconhecimento do réu
quanto as acusações que lhe são imputadas. A leitura do dispositivo

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 16

HC 116090 / MG

deve ser realizada de forma conjunta com os demais dispositivos da


referida lei adjetiva, que, em seu art. 306, caput, dispõe:
(...)
E ainda, em seu art. 404:
(...)
Outrossim, garante-se-lhe o direito de permanecer em silêncio
quando interrogado em juízo (arts. 305, caput, e 308, CPPM1; art. 5º,
LXIII, CF/19882), de requerer a produção de provas que contradigam
os elementos trazidos pelo autor da ação penal militar, de apresentar
alegações escritas ao final da instrução (art. 428, CPPM3), dentre
outros atos voltados à promoção de sua ampla defesa. Insubsistente,
portanto, a alegada ofensa ao art. 8º do Pacto de São José da Costa
Rica.
Conforme bem consignou o voto condutor do acórdão
impugnado, traçando um paralelo com a recente alteração no
procedimento ordinário instituído no Código de Processo Penal
comum:
(…)
No mérito, tampouco prospera a impetração.
O paciente, então soldado do Exército Brasileiro, foi denunciado
e condenado por incorrer no art. 290 do Código Penal Militar, porque
portava, no interior de local sujeito à administração militar, pequena
quantidade de substância entorpecente.
(…)
Após a regular instrução da ação penal, os julgadores ordinários
reputaram procedente a acusação, concluindo que, de fato, o ora
paciente portava, no interior do 4º Batalhão Escola de Comunicação,
droga entorpecente de uso proscrito no país, circunstância que, por si
só, basta a configurar o crime militar em comento. Vale dizer, a posse
do entorpecente, independentemente de sua quantidade ou qualidade,
basta à consumação do tipo penal especial, não havendo que falar na
absoluta impropriedade do meio para a sua configuração.
De outro lado, não se vislumbra a suscitada ofensa ao princípio
da proporcionalidade. A opção do legislador ordinário por reunir as
figuras do traficante e do usuário de substâncias ilícitas no mesmo
tipo penal decorre de política criminal específica, autorizada pela

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 16

HC 116090 / MG

Carta Magna (art. 124, parágrafo único4), destinada à erradicação do


uso e circulação de tais substâncias na vida de caserna, flagrantemente
nocivas à disciplina e à manutenção da ordem militar.
Por conseguinte, não há que falar em revogação do art. 290 do
Código Penal Militar pela Nova Lei de Tóxicos (Lei 11.343/06), dada
a natureza especial da lei castrense.
(…)
Ante ao exposto, opina-se pela denegação da ordem (...)”.

6. Pelo exposto, encaminho a votação no sentido de denegar a


ordem.

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Extrato de Ata - 18/03/2014

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 16

SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

HABEAS CORPUS 116.090


PROCED. : MINAS GERAIS
RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
PACTE.(S) : THALES GARCIA FIALHO
IMPTE.(S) : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

Decisão: A Turma, por votação unânime, denegou a ordem, nos


termos do voto da Relatora. Ausente, justificadamente, o Senhor
Ministro Celso de Mello. 2ª Turma, 18.03.2014.

Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presentes à


sessão os Senhores Ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e
Teori Zavascki. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Celso
de Mello.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Edson Oliveira de


Almeida.

Ravena Siqueira
Secretária Substituta

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