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Lista de Revisão Português ENEM

Prof Cláudio Neves

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Capítulo CXIX / Parêntesis

Quero deixar aqui, entre parêntesis, meia dúzia de máximas das muitas que escrevi por esse tempo. 1São bocejos de enfado;
podem servir de epígrafe a discursos sem assunto.
***
2
Suporta-se com paciência a cólica do próximo.
***
3
Matamos o tempo; o tempo nos enterra.
***
Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem.
***
Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros.
***
4
Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro.
***
5
Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um terceiro andar.
MACHADO DE ASSIS. In: MACHADO DE ASSIS. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1971 (Obra
completa. v.I.) p. 617.
1. (Uece 2014) Escreva V ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que se diz sobre o texto.

( ) Na primeira máxima (ref. 2), a obviedade é um dos elementos responsáveis pela ironia.
( ) Na segunda máxima (ref. 3), a ironia se expressa por meio do paradoxo.
( ) Na quinta máxima (ref. 4), a ironia se constrói pela quebra de expectativa.
( ) Na sexta máxima (ref. 5), a ironia se instaura pela quebra de paralelismo, que leva à quebra de expectativa.
A sequência correta, de cima para baixo, é:
a) V – V – F – F.
b) V – V – V – V.
c) F – F – V – V.
d) F – V – V – F.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O urubu mobilizado

Durante as secas do Sertão, o urubu,


de urubu livre, passa a funcionário.
O urubu não retira, pois prevendo cedo
que lhe mobilizarão a técnica e o tato,
cala os serviços prestados e diplomas,
que o enquadrariam num melhor salário,
e vai acolitar os empreiteiros da seca,
veterano, mas ainda com zelos de novato:
aviando com eutanásia o morto incerto,
ele, que no civil quer o morto claro.

Embora mobilizado, nesse urubu em ação


reponta logo o perfeito profissional.
No ar compenetrado, curvo e conselheiro,
no todo de guarda-chuva, na unção clerical,
com que age, embora em posto subalterno:
ele, um convicto profissional liberal.

MELO NETO, João Cabral de. O urubu mobilizado. In: A educação pela pedra. Rio de Janeiro:
Alfaguara, 2008, p. 209.

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2. (Upe 2014) Considerando o vocabulário empregado no texto e os sentidos promovidos pelo uso da linguagem figurada,
analise as proposições a seguir.

I. O poeta se vale da associação entre urubu e morte para construir a metáfora do “urubu funcionário”, que trabalha
intensamente no período da seca.
II. Verifica-se o emprego de um vocabulário relacionado ao mundo do trabalho ao lado de palavras associadas à morte.
III. O trecho “O urubu não retira” destaca a ideia de que “o urubu funcionário” age diferentemente de outras aves que,
durante a seca, abandonam o Sertão.
IV. O urubu (funcionário) “vai acolitar os empreiteiros da seca”, isto é, vai acompanhá-los e ajudá-los.
V. A representação do urubu como um “perfeito profissional” constitui uma expressão de admiração por quem trabalha com
profissionalismo e afinco.

Estão CORRETAS, apenas:


a) I, II e III.
b) I, II, III e IV.
c) I e V.
d) II, III, IV e V.
e) IV e V.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o poema Legado, de Carlos Drummond de Andrade, abaixo.

Que lembrança darei ao país que me deu


tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.

E mereço esperar mais do que os outros, eu?


Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.

Não deixarei de mim nenhum canto radioso,


uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.

De tudo quanto foi meu passo caprichoso


na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.

3. (Ufrgs 2014) Considere as seguintes afirmações sobre o poema.

I. No primeiro quarteto, o poeta pergunta pelo legado que deixará para o país a que deve tudo o que lhe é caro; no segundo
quarteto, há uma invocação um tanto irônica do mundo, não se trata mais apenas do país: há uma ampliação da referência
que atravessaria os limites geográficos para lidar com o mundo/realidade.
II. A forma soneto e a referência a Orfeu, o mitológico poeta grego capaz de encantar a todos com o som da sua lira, revelam
que o modernismo de Drummond agora se associa com o parnasianismo, o que permite ao poeta reivindicar uma posição
fixa na tradição, em contraste com Orfeu, perplexo entre o talvez e o se.
III. No último terceto, o poeta alega que, da sua trajetória um tanto instável, restará uma pedra que havia em meio do
caminho, o que equivale a uma paráfrase, agora em registro formal e sério, dos versos do célebre poema do início de sua
carreira modernista: No meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho (...).

Quais estão corretas?


a) Apenas II.
b) Apenas III.
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c) Apenas I e II.
d) Apenas I e III.
e) I, II e III.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

A arquitetura da cana-de-açúcar O bicho Cidadezinha qualquer

Os alpendres das casas-grandes Vi ontem um bicho Casas entre bananeiras


de par em par abertos, anchos, Na imundície do pátio mulheres entre laranjeiras
cordiais como a hora do almoço, Catando comida entre os detritos. pomar amor contar.
apesar disso não são francos.
Quando achava alguma coisa, Um homem vai devagar.
O aberto alpendre acolhedor Não examinava nem cheirava: Um cachorro vai devagar.
no casarão sem acolhimento Engolia com voracidade. Um burro vai devagar.
tira a expressão amiga, amável
do que é fora e não dentro: O bicho não era um cão, Devagar... as janelas olham.
Não era um gato,
dos lençóis de cana, tendidos, Não era um rato. Eta vida besta, meu Deus!
postos ao sol até onde a vista,
e que lhe dão o sorriso aberto O bicho, meu Deus, era um homem. (Carlos Drummond de Andrade)
que disfarça o que dentro é urtiga.
(Manuel Bandeira)
(João Cabral de Melo Neto)

4. (Upe 2014) Considerando o poema de Manuel Bandeira, “O bicho”, analise as afirmativas a seguir:

I. Trata-se de um poema em que o lirismo amoroso é mais forte que a crítica social reveladora de uma situação humana
execrável, dado que o homem vive momentos que o igualam, na linguagem do poeta e nos versos metrificados, aos
animais irracionais.
II. Homem e animais distinguem-se nos versos em redondilha maior, de Manuel Bandeira, ao buscarem a subsistência no
mesmo espaço físico. Esse fato demarca a degradação humana por meio de ações zoomórficas.
III. O Bicho é um título que conduz a temática da zoomorfização do homem, desenvolvida em cinco estrofes de versos
decassílabos, em que o eu poético equipara o homem ao animal.
IV. Ao expressar que [...] “O bicho não era um cão”, / “Não era um gato”, / “Não era um rato” [...] e concluir que se tratava de
um homem, o eu lírico evoca Deus, demonstrando surpresa por meio de orações que se relacionam à cadeia alimentar
cão, gato, rato, cuja ruptura ocorre quando, no último verso, constata se tratar de um ser humano.
V. Composto por três tercetos e um monóstico, o poema de Manuel Bandeira revela uma crítica social intensa quando atribui
ao homem faminto as mesmas atitudes inerentes ao animal que não consegue examinar o que está ingerindo, apenas
engole.

Estão CORRETOS
a) IV e V.
b) I, II, III, IV e V.
c) I, II e V.
d) III, IV e V.
e) I, IV e V.

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5. (Enem 2013)

O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto à questão da
identidade nacional, as anotações em torno dos versos constituem
a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais.
b) forma clássica da construção poética brasileira.
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética.
e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das originais.

6. (Enem 2013) Lusofonia

rapariga: s.f., fem. de rapaz: mulher nova; moça; menina; (Brasil), meretriz.
Escrevo um poema sobre a rapariga que está sentada
no café, em frente da chávena de café, enquanto
alisa os cabelos com a mão. Mas não posso escrever este
poema sobre essa rapariga porque, no brasil, a palavra
rapariga não quer dizer o que ela diz em portugal. Então,
terei de escrever a mulher nova do café, a jovem do café,
a menina do café, para que a reputação da pobre rapariga
que alisa os cabelos com a mão, num café de lisboa, não
fique estragada para sempre quando este poema atravessar o
atlântico para desembarcar no rio de janeiro. E isto tudo
sem pensar em áfrica, porque aí lá terei
de escrever sobre a moça do café, para
evitar o tom demasiado continental da rapariga, que é
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uma palavra que já me está a pôr com dores


de cabeça até porque, no fundo, a única coisa que eu queria
era escrever um poema sobre a rapariga do
café. A solução, então, é mudar de café, e limitar-me a
escrever um poema sobre aquele café onde nenhuma rapariga se
pode sentar à mesa porque só servem café ao balcão.

JÚDICE, N. Matéria do Poema. Lisboa: D. Quixote, 2008.

O texto traz em relevo as funções metalinguística e poética. Seu caráter metalinguístico justifica-se pela
a) discussão da dificuldade de se fazer arte inovadora no mundo contemporâneo.
b) defesa do movimento artístico da pós-modernidade, típico do século XX.
c) abordagem de temas do cotidiano, em que a arte se volta para assuntos rotineiros.
d) tematização do fazer artístico, pela discussão do ato de construção da própria obra.
e) valorização do efeito de estranhamento causado no público, o que faz a obra ser reconhecida.

7. (Enem 2013) Capítulo LIV — A pêndula

Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas
todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno,
vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo,
sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-las assim:
— Outra de menos…
— Outra de menos…
— Outra de menos…
— Outra de menos…
O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu
pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições
morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na
algibeira, para saber a hora exata em que morre.
Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá
dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não
ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).

O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo trocado com Virgília, casada com Lobo Neves.
Nesse contexto, a metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque
a) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros adúlteros.
b) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do tempo.
c) na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e acumular riquezas.
d) o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de Brás Cubas.
e) o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


[…] No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de
marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede,
a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do
dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após
outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão
inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos
braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se
preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário, metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas
e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, eram um abrir e fechar
de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias;

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as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem
ou no recanto das hortas.

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1979. p. 44-45.

8. (Ufg 2013) Considerados os papéis sociais das personagens do romance, a frase “era um zunzum crescente” resume um
aspecto contextual relevante para a configuração da cena retratada, pois
a) demonstra a plasticidade sonora de um ambiente em que vozes dispersas, sem ressonância, deixam de ser distintas e são
condensadas em rumor.
b) descreve uma cena típica de um grupo social que reconhece seu discurso como arma de resistência contra a elite
dominante da época.
c) envolve o leitor em uma atmosfera conflituosa, em que homens e mulheres representam opiniões divergentes diante da
realidade imposta.
d) convida o leitor para um passeio panorâmico a uma sociedade envolta em sons bucólicos, de referência árcade, que dão
um tom singelo ao ambiente.
e) revela traços fundamentais na caracterização de uma comunidade centrada em uma atmosfera que inspira suspense e
fantasia.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao livro Nova antologia poética, de Vinícius de Moraes.

9. (Cefet MG 2013) SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto


Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro de 1938.

Sobre os recursos de linguagem empregados na construção do poema, afirma-se:

I. As semelhanças sonoras entre palavras como “espalmadas” e “espanto”, “branco” e “bruma” exemplificam o uso de
aliterações no texto.
II. A repetição, ao longo do poema, da expressão “de repente”, acentua a ideia do espanto trazido pela separação.
III. O uso de algumas antíteses no texto demonstra o contraste entre os momentos antes e depois da separação.
IV. No primeiro verso da segunda estrofe, a palavra “vento” metaforiza a tranquilidade anterior à separação.

Estão corretas apenas as afirmativas:


a) I e II.
b) I e IV.
c) III e IV.
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d) I, II e III.
e) II, III e IV.

10. (Enem PPL 2012) Sambinha

Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras.


Afobadas braços dados depressinha
Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua.
As costureirinhas vão explorando perigos...
Vestido é de seda.
Roupa-branca é de morim.

Falando conversas fiadas


As duas costureirinhas passam por mim.
—Você vai?
—Não vou não?
Parece que a rua parou pra escutá-las.
Nem trilhos sapecas
Jogam mais bondes um pro outro.
E o Sol da tardinha de abril
Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens.
As nuvens são vermelhas.
A tardinha cor-de-rosa.

Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas...


Fizeram-me peito batendo
Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras!
Isto é...
Uma era ítalo-brasileira.
Outra era áfrico-brasileira.
Uma era banca.
Outra era preta.

ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988.

Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao fazer poético, como parte
de seu projeto de configuração de uma identidade linguística e nacional. No poema de Mário de Andrade, esse projeto
revela-se, pois
a) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de duas costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o andamento
dos versos é truncado, o que faz com que o evento perca a naturalidade.
b) a sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante das costureirinhas — depressinha — que, em última
instância, representam um Brasil de “todas as cores”.
c) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação, prejudica a
compreensão do poema.
d) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava a sociedade do início do século XX, machismo expresso
em “que até dão vontade pros homens da rua”.
e) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver moças “tão modernas, tão brasileiras”, pois faz questão de afirmar as
origens africana e italiana das mesmas.

11. (Enem 2011) Lépida e leve

Língua do meu Amor velosa e doce,


que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,

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de que és, há tanto, habilidosa aranha...


[...]
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó lingua-resplendor,
pela carne de som que à ideia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...

MACHADO. G. In: MORICONI, I. (org). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001
(fragmento).

A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o texto selecionado incorpora
referências temáticas e formais modernistas, já que, nele, a poeta
a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona o cuidado formal.
b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e questiona o poder da palavra.
c) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a construção do verso livre.
d) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e propõe a simplificação verbal.
e) explora a construção da essência feminina, a partir da polissemia de “língua”, e inova o léxico.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


A ROSA DE HIROXIMA

Pensem nas crianças


Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Vinicius de Moraes, Antologia poética.

12. (Fuvest 2011) Neste poema,


a) a referência a um acontecimento histórico, ao privilegiar a objetividade, suprime o teor lírico do
texto.
b) parte da força poética do texto provém da associação da imagem tradicionalmente positiva da rosa
a atributos negativos, ligados à ideia de destruição.
c) o caráter politicamente engajado do texto é responsável pela sua despreocupação com a
elaboração formal.
d) o paralelismo da construção sintática revela que o texto foi escrito originalmente como letra de
canção popular.
e) o predomínio das metonímias sobre as metáforas responde, em boa medida, pelo caráter concreto
do texto e pelo vigor de sua mensagem.

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13. (Fuvest 2011) Dentre os recursos expressivos presentes no poema, podem-se apontar a sinestesia e a aliteração,
respectivamente, nos versos
a) 2 e 17.
b) 1 e 5.
c) 8 e 15.
d) 9 e 18.
e) 14 e 3.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Texto

O “Adeus” de Teresa

A vez primeira que eu fitei Teresa,


Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...

E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...


E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”

Passaram tempos... séc’los de delírio


Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei... era o palácio em festa!...


E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

(CASTRO ALVES, Antonio Frederico. Espumas flutuantes. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. p. 51.)

14. (Uel 2011) Considerando os recursos de composição utilizados no poema, assinale a alternativa correta.
a) As reticências acentuam a emotividade do par amoroso e assinalam suspensões temporais.
b) O uso do verso decassílabo reproduz o ritmo da valsa que embala o casal durante todo o poema.
c) A alternância do comportamento de Teresa entre amor e ódio é marcada pelo refrão.
d) As inversões sintáticas são utilizadas para intensificar o sofrimento de Teresa.
e) O uso da comparação na primeira estrofe revela o caráter firme de Teresa.

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15. (Enem 2ª aplicação 2010) Texto I

Chão de esmeralda

Me sinto pisando
Um chão de esmeraldas
Quando levo meu coração
À Mangueira
Sob uma chuva de rosas
Meu sangue jorra das veias
E tinge um tapete
Pra ela sambar
É a realeza dos bambas
Que quer se mostrar
Soberba, garbosa
Minha escola é um cata-vento a girar
É verde, é rosa
Oh, abre alas pra Mangueira passar

BUARQUE, C.; CARVALHO, H. B. Chico Buarque de Mangueira. Marola Edições Musicais


Ltda. BMG. 1997. Disponível em: www.chicobuarque.com.br. Acesso em: 30 abr. 2010.

Texto II

Quando a escola de samba entra na Marquês de Sapucaí, a plateia delira, o coração dos componentes bate mais forte e o
que vale é a emoção. Mas, para que esse verdadeiro espetáculo entre em cena, por trás da cortina de fumaça dos fogos de
artifício, existe um verdadeiro batalhão de alegria: são costureiras, aderecistas, diretores de ala e de harmonia, pesquisador
de enredo e uma infinidade de garantem que tudo esteja perfeito na hora do desfile.

AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores. Revista de Carnaval 2010:


Mangueira. Rio de Janeiro: Estação Primeira de Mangueira, 2010.

Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a tradição e o compromisso dos dirigentes e de todos os componentes com a
escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Uma das diferenças que se estabelece entre os textos é que
a) o artigo jornalístico cumpre a função de transmitir emoções e sensações, mais do que a letra de música.
b) a letra de música privilegia a função social de comunicar a seu público a crítica em relação ao samba e aos sambistas.
c) a linguagem poética, no Texto I, valoriza imagens metafóricas e a própria escola, enquanto a linguagem, no Texto II,
cumpre a função de informar e envolver o leitor.
d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da escola, o Texto I acende a rivalidade entre escolas de samba, enquanto o Texto
II é neutro.
e) o Texto I sugere a riqueza material da Mangueira, enquanto o Texto II destaca o trabalho na escola de samba.

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Gabarito:

Resposta da questão 1:
[B]

[I] Verdadeira, pois, se a dor é do próximo, o máximo que se pode fazer é a suportar pacientemente; daí vem a ironia.

[II] Verdadeira, uma vez que o paradoxo é uma figura de pensamento que relaciona termos de maneira ilógica, absurda; isso
ocorre porque o tempo é personificado: o homem o mata, figurativamente, porém o tempo resiste e enterra o próprio
homem.

[III] Verdadeira, pois, ao mencionar um costume indígena, não se espera que seja feito por um joalheiro.

[IV] Verdadeira, pois, ao defender que é melhor “cair das nuvens”, figurativamente perder a ilusão, espera-se que o segundo
elemento seja mais grave – no entanto, para o narrador, o pior seria uma queda física.

Resposta da questão 2:
[B]

É correta a alternativa [B], pois apenas o item V é improcedente. A representação do urubu como um “perfeito profissional”
constitui uma forma irônica de caracterizar o animal, comedor de seres putrefatos, mortos ou semimortos e que, pelo zelo
com que desempenha a sua tarefa, pode ser considerado aplicado e responsável no exercício de sua profissão.

Resposta da questão 3:
[D]

O item [II] é incorreto, já que o último verso do poema “Legado”, inserido na obra “Claro Enigma” (3º fase de Carlos
Drummond de Andrade), apenas pretende dar resposta às perguntas iniciais do eu lírico sobre o que restaria de seu para a
posteridade. A referência ao poeta mitológico Orfeu e a forma do poema em soneto não permitem associar Drummond à
escola parnasiana, apenas enfatizam a liberdade criativa, formal e temática, a que o poeta tem direito: “Esses monstros
atuais, não os cativa Orfeu,/a vagar, taciturno, entre o talvez e o se”. Assim, é correta apenas [D].

Resposta da questão 4:
[A]

As proposições [I], [II] e [III] são incorretas, pois, no poema “O bicho”,

[I] o eu lírico faz denúncia contundente da vida miserável de grande número de moradores dos centros urbanos, em versos
brancos e sem métrica regular;
[II] existe semelhança entre homens e animais na luta pela subsistência, associando a degradação humana à condição de
bicho;
[III] Bandeira desenvolve a temática da zoomorfização do homem em três tercetos com versos brancos e livres, e um verso
único no final, que exprime o horror e a indignação pelo fato de o bicho ser um homem.

Resposta da questão 5:
[A]

As anotações em torno dos versos sugerem associação da brasilidade com as vitórias conseguidas no futebol contra times
nacionais e estrangeiros. Desta forma, constituem direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-
culturais, como se afirma em [A].

Resposta da questão 6:
[D]

A função metalinguística está presente em textos cujo foco é o próprio código, ou seja, o conjunto de signos utilizado para
transmissão e recepção da mensagem. No poema de Nuno Júdice, o eu lírico debruça-se sobre a própria obra para tecer
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considerações sobre o fazer artístico, o que lhe provoca conflitos pela conotação que o termo “rapariga” pode adquirir em
outros países lusófonos: “Escrevo um poema sobre a rapariga”, “não posso escrever este/poema sobre essa rapariga”, “e
limitar-me a/escrever um poema sobre aquele café onde nenhuma rapariga se/pode sentar à mesa”. Assim, é correta a
opção [D].

Resposta da questão 7:
[D]

Através da simbologia do relógio, Brás Cubas faz uma distinção entre o tempo qualitativo, repleto de sensações agradáveis
pelo beijo com Virgília, com o tempo quantitativo, mensurável e mecânico que assinala a brevidade da vida. Ou seja, o tempo
que antes era encarado com enfado pelas sensações de perda que provocava, passa a ser objeto de prazer quando, através
da memória, revive os momentos passados com a mulher amada. Embora o escapismo, idealização e subjetividade sejam
características do Romantismo, o fato de estarem associados ao amor por uma mulher adúltera desconstrói esses
paradigmas. Assim, é correta a opção [D].

Resposta da questão 8:
[A]

É correta a alternativa [A], pois a frase “era um zunzum crescente” reproduz sonoramente o coletivo, (“vozes dispersas, sem
ressonância, deixam de ser distintas”), personificando o próprio cortiço, que vai nascer, crescer, reproduzir-se e morrer.

Resposta da questão 9:
[D]

Apenas a proposição [IV] é inadequada, pois, no contexto, a palavra “vento” sugere a perturbação e a desarmonia que irão
desencadear a separação. Assim, é correta a alternativa [D].

Resposta da questão 10:


[B]

Ao descrever o andar dançante das duas mulheres, o eu lírico capta com a sua sensibilidade o movimento sincopado, em
passos curtos e rápidos, o ritmo ditado pela velocidade cosmopolita. Na combinação dos tecidos, morim e seda, fundem-se o
algodão da terra com o fio da seda estrangeira, revelando a heterogeneidade da cultura brasileira através da mistura de
raças e culturas. Assim, é correta a alternativa [B].

Resposta da questão 11:


[E]

No poema “Lépida e Leve”, o eu lírico estabelece aproximações sugestivas entre o exercício erótico e o fazer poético
("carícias supremas","formosos poemas"). Assim, o elemento-imagem “língua” é explorado polissemicamente no sentido de
fonte de prazer e ideia, expressando o total envolvimento do criador com a obra criada (“Língua que me cativas, que me
enleias /os surtos de ave estranha, /em linhas longas de invisíveis teias, /de que és, há tanto, habilidosa aranha...”). O eu
lírico, feminino, projeta-se como “frase” e une-se ao discurso de todas as mulheres (“amo-te como todas as mulheres”),
expressando o direito de desfrutar inteiramente do prazer.

Resposta da questão 12:


[B]

A imagem da rosa é tradicionalmente associada à beleza em contextos em que se pretenda acentuação de impressões
positivas. No entanto, ao associá-la a Hiroshima, cidade que protagonizou um dos episódios mais cruéis e destruidores da
Segunda Guerra Mundial, o autor subverte esse sentido emprestando-lhe conotações negativas, aumenta a sua força poética
e causa impacto no leitor pela estranheza que produz. Termos e expressões como “objetividade”, despreocupação formal,
“originalmente letra de canção popular” e “caráter concreto” são improcedentes e eliminariam todas as outras opções.

Resposta da questão 13:


[C]

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No verso 8, caracteriza-se a sinestesia em “rosa cálida”, figura de linguagem que funde sensações percebidas através de
órgãos diferentes: visual e tátil, respectivamente. A aliteração está presente na paronomásia, (figura de linguagem que
aproxima palavras com som e grafia semelhantes), “rosa com cirrose”, através da repetição dos sons consonantais [r] e [s].

Resposta da questão 14:


[A]

Apenas na primeira estrofe existe menção à valsa para estabelecer uma analogia entre o ritmo da música e a correnteza que
arrasta as plantas, o que invalida as opções [B] e [E]. Também [C] e [D] estão erradas, pois em nenhum momento o poema
faz referência à alternância de sentimento de amor e ódio, e as inversões sintáticas são recurso de exigência métrica e
rimática em um poema constituído por versos decassílabos com rimas emparelhadas e interpoladas.

Resposta da questão 15:


[C]

O uso de recursos expressivos como a metáfora (“pisando/Um chão de esmeraldas”, “Minha escola é um cata-vento a girar”),
a hipérbole (“Meu sangue jorra das veias”) e a metonímia (“Quando levo meu coração/À Mangueira”) contribui para a
predominância da função poética da linguagem no texto I, enquanto que o II, ao privilegiar o referente (situação de que trata
a mensagem), cumpre a função de informar e envolver o leitor.

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