Vous êtes sur la page 1sur 6

Supremo Tribunal Federal

HABEAS CORPUS 144.227 RIO DE JANEIRO

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


PACTE.(S) : VAGNER VIEIRA BRAGA RAMOS
IMPTE.(S) : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
ADV.(A/S) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Decisão:

Trata-se de habeas corpus impetrado contra acórdão proferido no HC


394.575/RJ, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, assim ementado
(eDOC 04):
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO
PRÓPRIO. DESCABIMENTO. ROUBO SIMPLES. REGIME
PRISIONAL MAIS GRAVOSO. CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL
DESFAVORÁVEL. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO
LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
1. Diante da hipótese de habeas corpus substitutivo de
recurso próprio, a impetração não deve ser conhecida, segundo
orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal – STF e
do próprio Superior Tribunal de Justiça – STJ. Contudo,
considerando as alegações expostas na inicial, razoável a análise
do feito para verificar a existência de eventual constrangimento
ilegal que justifique a concessão da ordem de ofício.
2. Firmou-se neste Tribunal a orientação de que é
necessária a apresentação de motivação concreta para a fixação
de regime mais gravoso, fundada nas circunstâncias judiciais
do art. 59 do Código Penal ou em outra situação que demonstre
efetivamente um plus na gravidade do delito.
3. A condenação transitada em julgado, depois de
ultrapassado o prazo determinado no art. 64, inciso I, do
Código Penal, não pode ser usada para reincidência, mas pode
ser usada como maus antecedentes. Nesse sentido: 'no que tange

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 13812170.
Supremo Tribunal Federal

HC 144227 / RJ

à validade da condenação anterior para valorar negativamente os


antecedentes, o tempo transcorrido após o cumprimento ou
extinção da pena não elimina essa circunstância judicial
desfavorável, tendo em vista a adoção pelo Código Penal do
sistema da perpetuidade: ao contrário do que se verifica na
reincidência (CP, art. 64, I), o legislador não limitou
temporalmente a configuração dos maus antecedentes ao
período depurador quinquenal' (HC 357.043/SP, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, DJe 23/08/2016).
4. No caso dos autos, as instâncias ordinárias fixaram a
pena-base acima do mínimo legal, tendo em vista a existência
de circunstância judicial desfavorável. Não olvidando que a
reprimenda corporal tenha sido estabelecida em 4 (quatro) anos
e 4 (quatro) meses de reclusão, o regime inicial fechado foi
fixado a partir de motivação concreta extraída dos autos,
exatamente nos termos do que dispõe o art. 33, §§ 2º e 3º do
Código Penal.
Habeas corpus não conhecido.

Narra o impetrante que: a) o paciente foi condenado pela prática do


delito previsto no art. 157, caput, do CP, à pena de 04 (quatro) anos e 04
(quatro) meses de reclusão, em regime inicial fechado, e multa; b) o TJRJ
desproveu a apelação defensiva; c) foi impetrado habeas corpus perante o
STJ, postulando o abrandamento do regime inicial, mas o writ não foi
conhecido; d) a sentença utilizou condenação anterior, já atingida pelo
período depurador de 05 (cinco) anos, como maus antecedentes na
dosimetria e o STJ considerou que esses servem de fundamento para a
fixação do regime inicial fechado, situações que configuram flagrante
ilegalidade.

Requer, em liminar, a imediata alteração do regime para o


semiaberto e, no mérito, a concessão da ordem para confirmar a liminar.

É o relatório. Decido.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 13812170.
Supremo Tribunal Federal

HC 144227 / RJ

1. Cabimento do habeas corpus:

A Corte compreende que, ordinariamente, o habeas corpus não se


presta a rescindir provimento condenatório acobertado pelo manto da
coisa julgada, daí a impossibilidade de figurar como sucedâneo de
revisão criminal. Acerca do tema:

“O Supremo Tribunal Federal não admite a utilização do


habeas corpus em substituição à ação de revisão criminal.”
(HC 128693 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 04/08/2015, grifei)

“O habeas corpus não pode ser utilizado como


sucedâneo de revisão criminal.” (HC 123430, Relator(a): Min.
LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 14/10/2014, grifei)

“(...) habeas corpus não pode ser utilizado, em regra,


como sucedâneo de revisão criminal, a menos que haja
manifesta ilegalidade ou abuso no ato praticado pelo tribunal
superior.” (HC 86367, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE,
Segunda Turma, julgado em 30/09/2008, grifei)

No caso concreto, por contrariar frontalmente a jurisprudência do


Supremo Tribunal Federal, o habeas corpus não merece conhecimento, na
medida em que funciona como sucedâneo de revisão criminal.

2. Possibilidade de concessão da ordem de ofício:

Ainda que ausentes hipóteses de conhecimento, a Corte tem


admitido, excepcionalmente, a concessão da ordem de ofício.

Calha enfatizar que tal providência tem sido tomada tão somente em
casos absolutamente aberrantes e teratológicos, em que “a) seja premente a
necessidade de concessão do provimento cautelar para evitar flagrante
constrangimento ilegal; ou b) a negativa de decisão concessiva de medida liminar

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 13812170.
Supremo Tribunal Federal

HC 144227 / RJ

pelo tribunal superior importe na caracterização ou na manutenção de situação


que seja manifestamente contrária à jurisprudência do STF” (HC 95009, Rel.
Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 06/11/2008, grifei).

Devido ao caráter excepcional da superação da jurisprudência da


Corte, a ilegalidade deve ser cognoscível de plano, sem a necessidade de
produção de quaisquer provas ou colheita de informações. Nesse sentido,
não pode ser atribuída a pecha de flagrante à ilegalidade cujo
reconhecimento demande dispendioso cotejamento dos autos ou, pior,
que desafie a complementação do caderno processual por meio da coleta
de elementos externos.

Como reforço, cumpre assinalar que o Código de Processo Penal, ao


permitir que as autoridades judiciárias concedam a ordem de ofício em
habeas corpus, apenas o fez quanto aos processos que já lhes são
submetidos à apreciação:

“Art. 654. (…)


(…)
§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir
de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de
processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de
sofrer coação ilegal.”

De tal modo, ao meu sentir, não se admite que o processo tenha


como nascedouro, pura e simplesmente, a alegada pretensão de atuação
ex officio de Juiz ou Tribunal, mormente quando tal proceder se encontra
em desconformidade com as regras de competência delineadas na
Constituição da República. Em outras palavras: somente se cogita da
expedição da ordem de ofício nas hipóteses em que não se desbordar da
competência do órgão, de modo que essa não pode ser a finalidade
precípua da impetração.

3. Análise da possibilidade de concessão da ordem de ofício no

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 13812170.
Supremo Tribunal Federal

HC 144227 / RJ

caso concreto:

No caso dos autos, a apontada ilegalidade não pode ser aferida de


pronto.

Verifico que, muito embora o impetrante alegue que os maus


antecedentes decorrem de condenação transitada em julgado há mais de
cinco anos, essa situação fática não pode ser constatada prontamente. Isso
porque as decisões das instâncias ordinárias fazem remissão a certidões
dos autos principais que não constam deste writ, bem como porque o TJRJ
consigna que há duas anotações na folha de antecedentes criminais do
paciente, as quais serviram como fundamento à manutenção da
dosimetria nos moldes em que realizada pelo magistrado (eDOC 3, p.
188):

“Em relação à pena base, a FAC acostada no e-doc. 000052


comprova que, além deste feito, constam mais duas anotações,
sendo que a de número 2 possui condenação também pelo
crime de roubo, conforme esclarecimento constante no e-doc.
59. A condenação é antiga e, portanto, a juíza sentenciante, de
forma correta, a utilizou na primeira fase da dosimetria para
aumentar um pouco a pena base.”

Dessa forma, a impugnação, por parte do impetrante, de apenas


uma das anotações não permite afastar, de ofício, os maus antecedentes;
pois, ainda que se desconsiderasse a ação transitada em julgado há mais
de cinco anos, persistiria a outra anotação, que não pode ser identificada,
seja porque não fora especificada pelo Juízo a quo, seja porque não consta
nestes autos a folha de antecedentes criminais em que se embasou a
condenação. De tal modo, não há como reconhecer de plano o suposto
constrangimento ilegal.

Consoante reiterada jurisprudência da Corte, “constitui ônus do


impetrante instruir adequadamente o writ com os documentos necessários ao

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 13812170.
Supremo Tribunal Federal

HC 144227 / RJ

exame da pretensão posta em juízo” (HC 95.434/SP, Primeira Turma, Relator


o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 2/10/09). Na mesma linha: HC
130240 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma,
julgado em 24/11/2015 e HC 131202 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI,
Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2016.

A instrução deficiente do feito atrai a incidência da orientação,


consolidada na jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, pela não
concessão da ordem, quando ausentes documentos indispensáveis para
análise do feito. Precedentes: HC 103.240-AgR/RS, Rel. Min. Ayres Britto,
2ª Turma, DJe 11.4.2011; HC 116152/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
2ª Turma, DJe 01.5.2013; e HC 104.913/SP, Rel. Min. Marco Aurélio,
Relatora para acórdão Ministra Rosa Weber, 1ª Turma, DJe 13.6.2013.

Destarte, como não se trata de decisão manifestamente contrária à


jurisprudência do STF ou de flagrante hipótese de constrangimento ilegal,
não é o caso de concessão da ordem de ofício.

4. Posto isso, com fulcro no art. 21, §1º, do RI/STF, nego seguimento
ao habeas corpus.

Publique-se. Intime-se.

Brasília, 11 de outubro de 2017.

Ministro Edson Fachin


Relator
Documento assinado digitalmente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 13812170.

Vous aimerez peut-être aussi