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Cf. Huisman, A Estética, Lisboa, Edições 70, 2000.
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Huisman parte, desde logo, de uma assunção simples,
mas fundamental, ao procurar traçar um breve percurso
da História da Estética: toda a reflexão filosófica
sobre a arte tem procurado definir os conceitos de
belo e de beleza. Se, para Sócrates, acima do Belo
particular existe a Beleza em si, para Platão só a
existência de uma beleza primeira, na origem de toda
a beleza, pode justificar que as coisas sejam belas.
À beleza chega-se pelo Amor, único garante da beleza
ideal. O amor platónico é, pois, ascético,
pressupondo que a procura do belo é um desejo de
eternidade e uma ânsia de purificação.
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grande expoente desta idade crítica, de pendor
idealista. Para Hegel, por exemplo, a Beleza é a
aparição perceptível da ideia. O conteúdo da arte é,
portanto, a ideia. Hegel procura a racionalidade no
interior do real e a arte é, assim, revelação do
Absoluto na sua forma intuitiva.
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Sobre o pensamento de Croce, vidé Aguiar e Silva, 1990: 30.
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Ora, a posição que aqui assumimos vai numa linha que
recupera alguns dos vectores do neo-platonismo atrás
referidos, tanto na sua vertente classicista, como no
pensamento agustiniano e tomasiano e,
particularmente, na forma que eles assumiram em
algumas das flexões verificadas desde os finais do
século XIX até ao século XX.
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simples “embater”: vemos uma coisa, percebemos as
suas características peculiares, a grandeza, a
beleza, a necessidade – e subitamente, como um eco
vivo, qualquer coisa responde em nós mesmos,
desperta, eleva-se, desenvolve-se. Na realidade pode
precisamente definir-se o homem como aquele ente que
é capaz, com o seu ser interior, de responder às
coisas do mundo e, desse modo, de realizar-se. Quanto
mais um homem é excelente, tanto mais forte, rica,
profunda, refinada é a sua capacidade de encontrar,
de responder e, assim, de “voltar a si próprio”...
Ora, no artista este processo de resposta tem uma
particular intensidade». (Guardini, 2003: 17-18)
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Esta revelação que a arte produz não é de carácter
“reprodutivo” ou “figurativo”, mas sim
“transfigurativo”, na medida em que, como diz
Huisman, «ultrapassa a realidade vulgar por meio de
uma idealização, por mínima que seja». (2000: 74). De
facto, se uma obra procura reproduzir especularmente
o real, não é arte, porque não atinge a essência da
realidade, aquele ponto mais verdadeiro. É neste
sentido que Aristóteles diz que «a poesia é mais
verdadeira do que a história».
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seja, concreta, que dá “carne” aos acontecimentos,
tornando-os, assim, visíveis. Este aspecto da
“concretude” e “visibilidade” dos acontecimentos, tal
como representados na obra de arte, é comum ao cinema
e à literatura e pode ser relacionado com outras
formas de arte, como adiante será desenvolvido.
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universal que a aproxima das literaturas ou culturas
do resto do mundo.
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dentro dos Estudos Literários, a que se convencionou
chamar Literatura Comparada, muito tem que ver com a
metodologia adoptada. Também sobre esta questão são
elucidativos os comentários feitos pelos autores
referidos: a Literatura Comparada não tem um método,
no sentido estrito e exclusivo que a palavra assume;
antes estabelece o seu percurso de análise consoante
o objecto de estudo que define. «No que diz respeito
ao comparativista, é importante que ele saiba
“seccionar” o campo de investigação. Antes de mais,
deverá construir um corpus literário» (1988:167).
Assim, «o método não dev[e] ser o ponto de partida,
mas sim a opção do investigador por um determinado
terreno de investigação, a partir do qual o
investigador construirá o seu método próprio»
(1988:166). Ou, para dizer de outro modo: não é o
investigador que decide previamente “impor” um
determinado método ao seu objecto de investigação; é
antes o próprio objecto de investigação que, estando
bem definido, “mostrará” ao investigador qual o
método a adoptar.