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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


CURSO DE PSICOLOGIA

PRISCILA DIENSTMANN
O SER HUMANO NA VISÃO DE WILHELM REICH

Itajaí
2006
1
PRISCILA DIENSTMANN
O SER HUMANO NA VISÃO DE W
2

Amor, trabalho e sabedoria são as fontes de nossa vida. Deviam


também governá-la.
Wilhelm Reich

3
Agradecimentos
Agradeço a minha superorientadora Professora Maria Glória
Dittrich, pela sabedoria compartilhada comigo, inteligência,
compreensão, entusiasmo, pelas inspiradoras palavras nos momentos
de desânimo, pelo carinho e muito mais teria a dizer, mas
principalmente por servir de exemplo de ser humano e profissional
para mim.
À professora Maria Lúcia e professora Larissa Fernanda por
terem aceitado fazer parte da minha banca.
Agradeço as minhas amigas Liliane Lermen e Rafaela Tinti,
pelos momentos de discussão teórica que praticamente tornaram-se
uma constante em nossas vidas. Agradeço pelo carinho, amizade e
incentivo.
Agradeço aos meus amigos David Tiago Cardoso, Ilana Karen
Morona e Nadja Huhn pelo apoio que deram a esse trabalho.
Por fim, agradeço a meu Anjo de Luz
4
Orientador(a): Maria Glória Dittrich
Defesa: novembro de 2006
Resumo:
O presente trabalho propõe a investigar o ser humano na concepção de Wilhelm
Reich. Concentra-se na pesquisa bibliográfica em que se pretende compreender que
m é o ser humano a partir da energia orgone e extrair da literatura reichiana a
compreensão de caráter e couraça muscular. Para este estudo utilizou-se a
pesquisa sobre os conceitos de Wilhelm Reich, sua história, sua visão de mundo e
ser humano, bem como alguns autores que estudaram Wilhelm Reich. Reich
trabalhou com os conceitos de caráter e denominou-os de caráter neurótico e caráter
genital. Concebeu a neurose como processo de determinantes num contexto
patriarcal-capitalista e o caráter genital como auto-regulado. Chegou-se
reflexivamente apresentar o ser humano como um ser orgonômico mostrando a sua
identidade funcional entre sensação, emoção e fluxo plasmático. Constatou-se que o
ser humano, psicologicamente na visão reichiana, é fundamentado pela energia
orgone, que constitui a dinâmica do fluxo plasmático onde circulam as emoções das
sensações e da razão de ser. Assim como na couraça muscular a dinâmica da
energia orgone encontra-se fixada na contração muscular. O resultado foi o
entendimento de que o ser humano é complexo na sua estrutura psíquica e
dinamiza em todas as suas funções pelo fluxo do orgone que é vida em movimento e
no corpo.
Palavras-chave: Orgone, ser humano, Wilhelm Reich.
5
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO.........................................................................
..............................06
2 PERCEPÇÕES SOBRE A VIDA E OBRA DE WILHELM REICH......................... 08
3 ORGONE, CARÁTER E SER HUMANO ORGONÔMICO.................................... 18
3.1 Energia
Orgone.............................................................................
..................... 18
3.2 Caráter
Neurótico .........................................................................
......................22
3.3 Caráter
Genital............................................................................
........................33
3.4 O Ser Humano
Orgonômico.........................................................................
...... 38
4 MATERIAIS E
MÉTODOS............................................................................
.........41
5 CONSIDERAÇÕES
FINAIS.............................................................................
......43
6 REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................
.47
6
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho investigou, na visão reichiana, a concepção de ser
humano. A pesquisa se justifica por atingir uma área de conhecimento em Psicologia
pouco divulgada no meio acadêmico. Também pela motivação em conhecer como
se constitui a energia orgone no corpo, energia essa que dinamiza todo ser humano
na sua saúde psíquica.
O trabalho teve como objetivo geral pesquisar a visão de ser humano em
Wilhelm Reich, visando entender os fundamentos psicoantropológicos do ser
humano. Os objetivos específicos foram: apresentar referenciais sobre a vida e obra
de Wilhelm Reich; apresentar fundamentos psicológicos e conceituar características
do ser humano para Wilhelm Reich.
Para a realização deste trabalho a metodologia empregada foi à pesquisa
bibliográfica, mais especificamente a obra de Wilhelm Reich e também autores que
trabalham com a sua proposta.
Wilhelm Reich, psiquiatra que viveu entre 1897 a 1957, desenvolveu a teoria
denominada de Psicoterapia Corporal. Essa se denominou assim, devido ao fato de
Reich perceber que os acontecimentos psíquicos possuem um componente
somático funcionalmente idêntico. Em seus estudos, iniciou na Psicanálise e
posteriormente seguiu com pesquisas físicas sobre energia, batizada de orgone.
Wilhelm Reich foi um inovador para sua época, sua teoria marginalizada, hoje,
retoma o meio acadêmico e se identifica como uma ciência que engloba o biológico,
psicológico e social.
Na prática clínica terapêutica se percebe, nos dias contemporâneos , muitas
vezes, a fala de psicólogos confirmando muitos limites das teorias psicológicas
para
atender eficientemente o ser humano, que busca ajuda diante dos seus males,
crises e sofrimentos. Cada vez mais se percebe a complexidade que o ser humano
apresenta no seu comportamento e na sua forma de ser e ver o mundo. Este
problema também traz impactos na área de atendimento psicológico.
Diante dos novos desafios, a ciência é concebida no paradigma da
complexidade holística, e que vai além de uma visão cartesiana que concebe o ser
humano fragmentado, dividindo corpo e alma. Lança para o cuidado à saúde do ser
humano, no campo da Psicologia se levanta uma reflexão sobre a pertinência de
7
pesquisar mais sobre o que é esse ser humano que se apresenta diante dos
profissionais da saúde. Para tanto, esta pesquisa investigou sobre a concepção de
ser humano em Reich, buscando referenciais teóricos para poder entender o ser
humano como um todo, emoção e razão, espírito e matéria indissociáveis.
O primeiro capítulo apresenta aspectos da vida e obra de Wilhelm Reich,
como iniciou seus estudos e desenvolveu sua teoria, buscando demonstrar
cronologicamente os aspectos de sua vida e obras publicadas.
O segundo capítulo refere-se à energia orgone e tipos de caráteres.
Apresentam-se características da energia orgone, o que é e como é manifestada.
Depois, mostra-se o caráter neurótico, como se constituiu na sociedade, bem como,
no ser humano e como a energia orgone encontra-se ligada a ele. Não cabe a esse
estudo explorar os subtipos de caráter neurótico, uma vez que delinear todos os
tipos de caráter abarca a vastidão das obras de Reich, fato este, que não pode ser
esgotado neste ensaio teórico. Por último, discorre-se sobre o caráter genital,
demonstrando características e identificando a energia orgone em livre fluxo.
Na quarta parte, conceitua-se o ser humano como um ser orgonômico que
apresenta a identidade funcional entre sensação, emoção e fluxo plasmático.
Nas considerações finais apresentam
8
2 PERCEPÇÕES SOBRE A VIDA E OBRA DE WILHELM REICH
Wilhelm Reich nasceu no dia vinte quatro de março de 1987 em Dobrzynca,
uma aldeia da Galícia, na região ucraniana do império austro-húngaro. Mais tarde a
família mudou-se para a cidade de Jujitnetz, na província de Bukovina, lado
germano ucraniano da Áustria.
Filho de pais camponeses de língua alemã foi o primeiro de três filhos, o
segundo, uma menina que morreu logo após o nascimento, e o terceiro, Robert,
sendo três anos mais novo que ele. Sua mãe Cäcile Roninger Reich era uma pessoa
generosa e submissa ao poder do marido Leon Reich, que não permitia que a
família tivesse contato com os vizinhos, nem que falassem o iídiche um dialeto
judeu.
Reich foi educado através de instrutores e junto com seu primeiro instrutor
montaram um laboratório experimental de plantas e insetos.
Quando Reich estava com doze anos sua mãe se suicida. Com este fato a
família tomou outro rumo, Reich deixa de ter aulas particulares e é enviado para a
cidade de Czernowitz, e mais tarde seu irmão Robert também é enviado. Enquanto
Leon passa a punir Cäcile, que não suportando a situação aos trinta e três anos
conseguiu se suicidar ingerindo uma dose de veneno.
Um ano após, Reich foi comunicado que seu pai estava com tuberculose. Isso
levou ao internamento de Leon num sanatório localizado no sul do Tirol (VOLPI,
2000). Em 1914 ocorre a morte de Leon e Reich participa nos trabalhos do campo e
prossegue os estudos. Em 1915 obtém seu primeiro diploma em Ciências Naturais
(REICH, 1927). Nesse mesmo ano, com o início da Primeira Guerra Mundial enviou
Robert a Viena e permaneceu na fazenda até a invasão da infantaria do exército
russo, mas nada lhe aconteceu (VOLPI, 2000).
Mesmo antes de ter concluído o segundo grau, meio ano antes do
prazo obrigatório, Willy alistou-se no exercito e logo recebeu o
comando de um pelotão no batalhão da infantaria. Ao fim da guerra,
cansado da atividade militar, pediu dispensa temporária e seguiu
para Viena onde alugou um quarto de pensão dividindo-o com Robert
e outro estudante (VOLPI, 2000, p.23).
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Iniciou no curso de Direito o qual não concluiu por falta de aptidão. Em 1918
ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena, levando uma vida
muito rígida e estudiosa. Por ter lutado na guerra cursou em quatro anos ao invés
dos seis habituais.
Quando estava no segundo ano do curso, em janeiro de 1919 começou a
participar do Seminário de Sexologia dirigido por Otto Fenichel que na época era
estudante de Medicina e depois se tornou psicanalista. No final do ano Reich
assumiu a presidência dos seminários, o que o levou à sua primeira visita a Freud.
Foi partir desse encontro que Reich se dedicou completamente a Psicanálise. Em
treze de outubro de 1920 apresentou sua comunicação “O Peer Gynt de Ibsen”
quando analisou a vida da personagem Henrik Ibsen, do ponto de vista da
Psicanálise, para fazer parte da Sociedade Psicanalítica. Então em vinte de outubro
de 1920 aos vinte e três anos oficializou sua entrada na Psicanálise. Nesse ano fez
análise com Paul Federn.
Em junho de 1921, Reich conheceu Annie Pink que foi tratada por ele durante
seis meses, a relação transformou-se em namoro e mais tarde em casamento. Reich
continuou seu estudo na Universidade de Viena, como assistente na Faculdade de
Medicina, estudou neuropsiquiatria junto à clínica Universitária de neurologia e
Psiquiatria dirigida pelo professor Wagner-Juaregg. E durante um ano assistiu
pacientes sob a supervisão do professor Paul Schilder. Dedicou-se aos cursos de
Biologia e às conferencias do professor Kammarer e de outros docentes, na
Faculdade de Zoologia, da Universidade de Viena. Por algum tempo trabalhou
também em uma clínica para gagos dirigida por Dozent Froschels.
No ano de 1923 apresentou seu estudo “A Genitalidade do Ponto de Vista do
Prognóstico e da Terapia”; “O Relatório Sobre a Especificação da Forma Onanista”;
o artigo “Observações Complementares ao artigo Complexo de Castração e Caráter”
(VOLPI, 2000).
Em 1924 tornou-se diretor do seminário de psicoterapia da policlínica, onde
realizou conferências sobre suas teorias bio-psiquiátricas e etiologia social das
neuroses (REICH, 1927).
Em dezembro de 1926 apresentou uma conferência sobre a análise das
resistências e couraças (caracterológicas) Freud assiste mas não admite a sua
teoria. Orienta-se para uma profilaxia das neuroses pela liberdade sexual (REICH,
1927).
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Em quinze de julho de 1927, Reich participou do manifesto de indignação pela
absolvição dos assassinos da extrema direita de Schattendorf, quando o Palácio de
Justiça de Viena é incendiado Nesse ano ingressa no Partido Comunista Austríaco.
Escreve um prefácio de “A Função do Orgasmo-Sobre uma Psicopatologia
Sociologia da Sexualidade” (DADOUN 1991).
No dia onze de março de 1928 tornou-se subdiretor da Policlínica
Psicanalista, mesmo dia que nasceu sua segunda filha, Lore. Sem deixar o partido
socialista, ingressou no partido comunista, e passou a nomear sua teoria de
economia sexual.
Em 1929 com a aprovação de Freud cria o movimento de higiene mental e
também centros de higiene sexual. Junto com Partido Comunista Austríaco criou a
Sociedade Socialista para Consulta Sexual e Pesquisa Sexológica. Em setembro
deste ano realizou uma viagem à Rússia onde palestrou sobre a profilaxia das
neuroses, e encontrou a pedagoga Vera Schmidt. Publica “O Caráter Genital
Neurótico’’; “Tensão Satisfação Sexuais”; “Sob a Bandeira do Marxismo”.
O ano de 1930 é marcado por sua expulsão do Partido Social Democrata
quando realizou sua última visita a Freud. Em setembro se estabeleceu em Berlim,
onde participou do partido Comunista Alemão realizando um trabalho de política de
base. Dadoun (1991) nos traz que:
No próprio meio psicanalítico, reúne um certo numero de analistas de
tendência marxista ou simpatizantes, tais como Erich Fromm, Otto
Fenichel, Siegfried Berfeld, Bárbara Lantos. Participa das reuniões
organizadas por grupos de estudantes, movimentos de jovens,
médicos socialistas etc. Ministra cursos na Escola Marxista dos
Trabalhadores, promovendo a sua divulgação através de toda
Alemanha (Ibid, p. 114).
Reich fundou em 1931 em Berlim a SEXPOL Associação para uma Política
Sexual Proletária, onde apresentou uma espécie de Manifesto Comunista da política
sexual. “Seu interesse era criar na Alemanha um amplo movimento político sexual
formado por jovens nazistas, trabalhadores de esquerda e estudantes cujo objetivo
era a união entre os membros dos principais partidos políticos” (VOLPI, 2000). Este
foi um movimento pela liberdade sexual, pois para Reich, a opressão sexual leva a
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angústia, e produz em massa os comportamentos de submissão. No outono de 1931
em Düsseldorf, Reich participou do Congresso Comunista quando oito organizações
representavam cerca de vinte mil membros, que mais tarde se duplica contando com
quarenta mil membros, e expôs seus programas de higiene mental e sexual.
Ramificações da SEXPOL se formam em Berlim e nos subúrbios e também em
cidades como Leipzig, Dresdem e Stettin. Assim Reich passa a treinar líderes, mas
por ocorrer uma intervenção da polícia, o movimento é instinto (DADOUN, 1991).
Nesse mesmo ano publicou os artigos “Sobre o Ataque Epilético”, e “O
Caráter Masoquista”, onde contesta o livro “Além do Princípio do Prazer”, de Freud.
É nesse ponto que ocorreu a ruptura da teoria de Reich com a de Freud.
Em 1932 fundou a sua própria editora a Verlarg für Sexualpolitik (Editora de
Política Sexual) a Sexpol-Verlag. E publicou os livros: “O Combate Sexual da
Juventude” e “As Origens da Moral Sexual” (REICH, 1927).
Em 1933, Reich foi oficialmente expulso do Partido Comunista Alemão. Com
a chegada de Hitler no poder, Reich abandonou a Alemanha e retornou a Viena,
onde não encontrou a atenção de seus colegas psicanalistas que alegaram o uso da
Psicanálise para fins alheios a sua essência. Junto a isso, chegou o fim do seu
casamento com Annie. “No dia primeiro de maio, Reich chegou a Copenhague,
Dinamarca, acompanhado de Elza Lendemberg, uma professora de dança que havia
conhecido em Berlim no ano anterior. Elza tornou-se sua segunda esposa” (VOLPI,
2000, p.43).
Transferiu sua editora para Copenhague, onde reuniu artigos já divulgados e
publicou a “Análise do Caráter”, onde se encontra sua técnica e base para
psicanalistas. Depois viajou para Londres onde ocorreu seu encontro com
Malinowski demonstrando seu interesse pelas experiências de laboratório sobre o
orgasmo. Seguiu para Paris, Áustria, Checoslováquia e Polônia. Escreveu o artigo
“O que é Consciência de classe” pelo pseudônimo Ernest Parell. Em 1934 mudou-se
para Malmöe na Suécia onde continuou com seu trabalho clínico. Criou a revista
Psicologia Política e Economia Sexual. Desse tempo Reich (1927, p.16) nos diz:
Depois de ser obrigado a abandonar a Suécia, estabelece-se em
Oslo (onde residira cinco anos, inicialmente com o pseudônimo de
Peter Stein), em cuja universidade (Instituto de Psicologia) se
entrega aos seus estudos de biogênese, crendo ter descoberto um
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fenômeno novo relativo à natureza bioelétrica de certos influxos
nervosos. Agosto assiste ao Congresso Psíquico e Corrente
Vegetativa, onde lhe comunicam que foi expulso da Associação
alemã e da internacional.
O livro “Psicologia de Massas do Fascismo” para Volpi (2000) foi publicado
em agosto de 1933, já para Reich (1927) foi publicado no ano de 1934.
No ano de 1935, com o propósito de investigar o potencial elétrico da pele em
estados de prazer e ansiedade, Reich en
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Publicou em 1937, “Resultados Experimentais a Propósito da Função Elétrica
da Sexualidade e da Angústia”, “Reflexo Orgástico, Tônus Muscular e Expressão
Corporal Sobre a Técnica da Vegetoterapia Caracterial” e “O Materialismo Dialético
na Investigação Sobre a Vida-Informe Acerca da Experiência sobre Bíons” (REICH,
1927).
O livro “Os Bíons”, publicado em 1938, mostra a fórmula de tensão-carga.
Seus experimentos foram publicados com o título “Diagnóstico Orgonômico da
Biopatia do Câncer”.
Em janeiro de 1939 descobriu o orgon cósmico que é uma energia cósmica
primordial que foi demonstrada visível, térmica e eletroscopicamente, uma energia
de ação biológica que foi descoberta em pesquisas sobre bions 1
.
A partir das características dos bions, Reich partiu da hipótese de uma
energia biológica universal. Suas observações foram realizadas com um
microscópio, e observou o fenômeno carga e descarga. Essas experiências publicou
no artigo “Três Experiências com o Eletroscópio Estático”. A convite de Theodore
Wolfe mudou-se para os Estados Unidos e trabalhou como professor na New School
for Social Research de Nova Iorque, onde ministrou aulas sobre Análise do Caráter.
Em agosto mudou-se para Forest Hills. Separou-se de Elza que não quis
acompanhá-lo e em outubro casou-se com Ilse Ollendorf.
Em 1940 construiu o acumulador de orgone. Dadoun (1991, p.17) o
descreveu como:
O esquema de um acumulador apresenta então, quaisquer que
sejam as suas dimensões e complexidade, a seguinte disposição:
uma parede metálica interna que transmite a energia para o interior
do volume e uma camada externa de matéria orgânica (lã, algodão,
madeira, etc.) que absorve o orgônio e transmite uma parte dela ao
metal, que remete uma parte ao interior, num processo permanente
de concentração. A multiplicação de elementos metálicos e de
elementos orgânicos dispostos assim em alternância permite obter
uma concentração mais rápida e mais forte da energia orgônio.
Em Nova Iorque fundou o Instituto Orgone de Pesquisas, em Florest Hills.

1
Esses são cropúsculos vivos elementares e os define como vesículas carregadas de
energia (DADOUN, 1991).
14
No dia treze de janeiro de 1941, Reich encontrou-se com Albert Einstein
numa entrevista que durou cinco horas, quando foi explicado as experiências com os
bions e com o acumulador de orgone. Mais tarde em primeiro de fevereiro Reich
emprestou um acumulador e um orgonoscópio para Einstein comprovar a existência
da energia orgone, mas Eintein não levou a sério seus experimentos. No dia doze de
dezembro, Reich é preso pelo F.B.I, na prisão de Ellis Island. No dia seguinte
alguns
artigos foram publicados acusando-o de insanidade e maltrato aos pacientes. Sua
liberdade se deu em cinco de janeiro de 1942 e um dia depois dois agentes do F.B.I
invadiram sua casa e levaram dois livros de Hitler e um de Trotsky, um alfabeto
russo para crianças. Por esse fato Reich foi interrogado explicando que um
psiquiatra necessita de informações sobre a conduta de massas sobre os líderes de
esquerda e de direita que manipulavam as massas.
Depois disso ele publicou o livro “A Função do Orgasmo” e construiu um
centro de Investigação da Energia Orgone em Rangeley, Maine, e deu o nome de
Orgonon (VOLPI, 2000).
Em 1944 construiu em Orgonon o Instituto Orgonon de Pesquisa. Nesse
mesmo ano Wolfe, amigo, colaborador e tradutor de Reich decide publicar
correspondência entre Einstein e Reich, mas Einstein não permitiu a divulgação de
seu nome. O Instituto Orgone de Pesquisa publicou a correspondência apenas após
a morte de Einstein em 1955 com o titulo “O Caso Einstein” (DADOUN, 1991).
Em 1947, continuando seus trabalhos com a vegetoterapia, ficou evidente que
a 2
energia orgone circulava verticalmente pelo corpo e a couraça muscular está
disposta em segmentos horizontais, impedindo o reflexo orgástico da pelve.
Em abril desse ano, Reich recebeu a visita de Mildred Edie Brandy, jornalista
que depois de conhecê-lo escreveu dois artigos a respeito; “O Novo Culto do Sexo e
da Anarquia” e “O Estranho Caso de Wilhelm Reich”; que além de criticar, exigiam a

2
a energia orgônica está presente na atmosfera, relaciona-se ao sol, penetra em
todos os
espaços como o éter, é absorvida por todos os organismos e é responsável pelo
movimento
de contração e expansão de todos os ser vivos. Flui através dos organismos, cria um
campo
em torno deles e pode ser transmitida de um organismo para o outro (entre seres
humanos
pela imposição das mãos, por exemplo). Governa o organismo total e se expressa nas
emoções assim como em movimentos estritamente biofísicos. No orgasmo sexual,
acontece
uma grande descarga de orgônio, cuja função biológica é de resgatar o equilíbrio
energético
do organismo. Crê-se que o orgônio tem uma poderosa afinidade com a água. Mantém
unidos os elementos úmidos das nuvens. É o elo básico entre a matéria orgânica e
inorgânica (MANN, 1989, p. 29).
15
proteção das autoridades. Com esse fato FDA (administração de drogas e
alimentos) decidiu investigar o uso dos acumuladores e abriu um processo contra
Reich.
No início de 1948 com a ajuda do físico William Washigton, Reich conseguiu
fazer funcionar o motor de energia orgone, publicando esse fato no artigo “Um Motor
pela Energia Orgone”. Escreveu os livros “O Éter, Deus e o Diabo” e a “Biopatia do
Câncer”.
Em 1949 seus alunos criaram a Fundação Wilhelm Reich em Rangeley,
estado do Maine.
Em 1950, em Nova Iorque, foi fundada a Associação Norte-Americana de
Orgonomia Medica, sendo dirigida por Elswoth F. Baker, aluno e colaborador de
Reich. Essa era uma clínica de energia orgone para tratamento das biopatias. Nessa
época também publicou “Crianças do Futuro”.
Em agosto de 1951 o FDA (administração de drogas e alimentos) aumentou
as investigações contra Reich, que devido a uma crise cardíaca teve que se manter
em repouso por algum tempo. Então escreveu o livro “Superposição Cósmica”.
Em 1952 vários experimentos foram realizados com energia nuclear e energia
orgone. Reich procurava uma forma de modificar a atmosfera, mas no decorrer das
experiências alguns acidentes ocorreram (VOLPI, 2000).
Reich desenvolveu um aparelho com o nome de cloudbuster “um engenho
constituído por duas fileiras de cinco longos tubos com um sistema de cremalheira e
um pinhão para a elevação, bem como uma bandeja giratória que permitia apontar
os tubos em todas as direções” (DADOUN, 1991, p.109).
Em maio de 1945 o FDA (administração de drogas e alimentos)abriu mais um
processo contra quinze membros da Associação Norte-Americana de Orgonomia
Médica, de Nova Iorque, por estarem fazendo uso do acumulador em desobediência
às ordens do tribunal (VOLPI, 2000). Reich não acatou essa ordem, pois não
concordava em ser julgado por juizes, e sim desejava ser julgado por cientistas,
por
isso não compareceu a audiência.
Em dezembro de 1954, Reich recebeu a visita de um agente do F.B.A que
verificou se ele ainda estava fazendo experiências com a energia orgone. E mesmo
com a proibição seu assistente Michael Silvert transportou para Nova Iorque um
caminhão contendo acumuladores de orgone e literatura sobre orgonomia. Então em
16
julho o F.D.A (administração de drogas e alimentos) abriu um novo processo contra
Reich e outro contra Michael Silvert, sucedendo assim várias audiências.
Em novembro de 1955, Reich mudou-se para Washington, e em dezembro
recebeu a intimação da nova audiência. Assim à audiência do dia três de maio,
Reich foi condenado a dois anos de prisão e Michael Silvert há um ano. A Fundação
Wilhelm Reich foi convocada a pagar uma multa de dez mil dólares, e todos os livros
de Reich foram proibidos de serem vendidos.
Em janeiro de 1956 Reich fez uma reunião com os membros da Fundação
Wilhelm Reich onde decidiu que a continuidade da orgonomia seria dada por Baker,
e a administração de seus livros e artigos seria realizada por Eva Reich. Em doze
de
março Reich e Silvert foram presos na Instituição Correcional Federal de Danbury,
em Connecticut.
Em 1957, Reich pediu uma nova apelação de revisão do processo, que não
foi aceita. E Reich foi submetido a exames psiquiátricos e foi tido como paranóico
com prescrição pra tratamento (VOLPI, 2000).
Reich morreu em três de novembro de 1957 na Penitenciaria de Lewisburg,
na Pensilvânia. Com atestado de óbito de infarte (oclusão coronária).
Sua obra se caracteriza por três momentos:
1. A Análise do Caráter. Nesse momento Reich estava de acordo com o
movimento psicanalítico, mesmo com algumas divergências. É nessa etapa que
desenvolve os conceitos de caráter genital, caráter neurótico e couraça
caracteriológica.
2. A Vegetoterapia e a Função do Orgasmo. É onde se separa da Psicanálise
e propõe a Economia Sexual, onde inclui a Psicologia, Biologia, Economia Política.
3. A descoberta do orgone e a orgonoterapia. Dedica-se a pesquisa biofísica
procurando relacionar a descoberta do orgone com todos os aspectos das Ciências
Naturais e Humanas (REIS, 1984).
Reich demonstrou no decorrer de sua obra sua ligação com a natureza e
seres vivos. Desde cedo se interessou pela natureza viva. Passou parte da sua
infância morando no campo e assim observou plantas e animais. Assim como
estudante de medicina centrou-se no funcionamento natural do ser humano. Reich
viveu em um período de guerra, onde sofreu as conseqüências do autoritarismo.
Suas idéias inovadoras e abrangentes foram repudiadas pela Psicanálise bem como
pelo partido comunista. Sua forma de viver chocava a sociedade, pois ia contra os
17
padrões morais da época. Sendo que tudo que Reich viveu marcou sua obra e sua
concepção de ser humano.
18
3 ORGONE, CARÁTER E SER HUMANO ORGONÔMICO
3.1 Energia Orgone
Toda a visão de Reich para descrever o ser humano passa por um
fundamento categórico que é a energia vital que também chamou de energia
biológica e psicológica.
Reich trabalhou com o conceito de energia desde o início de seus estudos
aprofundados na Psicologia. Em alguns momentos de sua obra refere-se à energia
biológica, em outros em energia psíquica, em outros ainda usou o termo de energia
biopsíquica. Mas foi através de suas experiências que confirmou a existência de
energia no corpo e a essa denominou de orgone. Foi através do estudo do orgasmo
e abrangendo o estudo da Psicologia para Biologia que Reich descobre o orgone.
“Foi a persistente procura do fenômeno biológico do orgasmo que levou a
descoberta do orgônio e, assim, a energia cósmica que tem um efeito biológico
específico” (REICH, 1995 , p.326).
Foram os pressupostos teóricos psicanalíticos que embasaram o estudo de
Reich. Freud postulou e teoria do desenvolvimento psicossexual, e Reich deu
continuidade, sendo que sua obra inicia desse conceito.
Resumindo a conhecida teoria do desenvolvimento psicossexual de
Freud, temos uma energia psíquica denominada libido (um substrato
das pulsões sexuais provenientes das excitações somáticas)
percorrendo e erotizando o corpo do infantil sujeito, apoiado
inicialmente no desenvolvimento fisiológico desse corpo (WAGNER,
2003, p.43)
Reich deu continuidade a esse pensamento tendo como base o sentido
cefálo-caudal3
e as couraças 4
musculares que são resultado disso.

3
Como na minhoca, na cobra e na célula cancerosa plasmática, as ondas orgonóticas
seguem invariavelmente da
extremidade caudal, passando pelas costas, em direção a cabeça. Bioenergeticamente,
essa disposição do fluxo
orgonótico faz sentido, porque ela está baseada no movimento para frente de todo
corpo em direção a cabeça
(REICH, 2003, p.230).
4
Couraças são espasmos musculares crônicos, que a pessoa desenvolve como defesa
contra as emoções e
sensações como raiva, excitação sexual e ansiedade.
19
Antes de 1939 a energia orgone era chamada de energia psíquica. “A
descoberta do orgônio foi o resultado da firme aplicação do conceito de energia
psíquica” (REICH, 1975, p.9). O termo orgone derivou-se apartir de organismo e
orgasmo.
Pelo seu interesse pela natureza e pelos seus estudos, Reich descobriu o
orgone em pesquisas em laboratório de Fisiologia, Física e Biologia e a partir daí
os
bíons que são corpúsculos vivos carregados de energia orgonal, que se
desenvolvem a partir da matéria inorgânica. Afirma que “de modo inesperado, o
conhecimento da função biológica de tensão-carga levou-me á descoberta dos
processos de energia nos bíons, no organismo humano e na radiação do sol”
(REICH, 1995, p.316). Nesta visão todo organismo apresenta movimento de
contração e expansão. O ser vivo pulsa orgonicamente e se impulsiona a ser o fazer
e viver nos processos vitais desta energia cósmica criadora do ser e dinamizadora
dos seus afetos, pensamentos, atitudes.
Segundo Reich, a energia orgone possui as seguintes propriedades principais:
1. A energia Orgônica é isenta de massa; não tem inércia nem peso.
2. Está presente em toda parte, embora em concentrações diferentes, até
mesmo num vácuo.
3. É o meio para a atividade eletromagnética e gravitacional, o substrato da
maioria dos fenômenos mais fundamentais da natureza.
4. A energia o orgônica está em constante movimento e pode ser observada
sob condições apropriadas.
5. Altas concentrações de energia orgônica atraem a energia orgônica de
ambientes menos concentrados.
6. A energia Orgônica forma unidades que são o foco da atividade criativa.
Essas unidades podem ser vivas ou não-vivas. As vivas incluem células,
plantas, animais e bíons e as não vivas incluem as nuvens, planetas,
estrelas e galáxias.
7. A matéria é criada a partir da energia orgônica.
8. A energia orgônica é a energia vital e assim responsável pela vida e pela
diferença do vivo e do não-vivo.

20
9. Fluxos distintos de energia orgônica podem ser reciprocamente atraídos e
então se superporem.
10. Podem ser manipuladas e controladas por um dispositivo conhecido como
acumulador (MANN, 1989).
a energia orgônica está presente na atmosfera, relaciona-se ao sol,
penetra em todos os espaços como o éter, é absorvida por todos os
organismos e é responsável pelo movimento de contração e
expansão de todos os seres vivos. Flui através dos organismos, cria
um campo em torno deles e pode ser transmitida de um organismo
para o outro (entre seres humanos pela imposição das mãos, por
exemplo). Governa o organismo total e se expressa nas emoções
assim como em movimentos estritamente biofísicos. No orgasmo
sexual, acontece uma grande descarga de orgônio, cuja função
biológica é de resgatar o equilíbrio energético do organismo. Crê-se
que o orgônio tem uma poderosa afinidade com a água. Mantém
unidos os elementos úmidos das nuvens. É o elo básico entre a
matéria orgânica e inorgânica (MANN, 1989, p. 29).
A dinamização deste elemento vital orgone, nas suas propriedades, constitui
biológicamente e psicologicamente o ser humano em toda a sua forma de pensar,
ser, fazer e conviver consigo mesmo, com os outros, com o mudo e com a dimensão
espiritual. Logo o ser humano como um organismo vivo se constitui numa energia
cósmica que está em si e também fora de si. “O organismo humano está rodeado
por um campo de energia orgonótica, cujo alcance depende da vivacidade
vegetativa do organismo” (REICH, 1995, p.325). Todo movimento do ser humano,
enquanto um organismo vivo expressa um estado biológico e um estado psíquico
emocional que são dinamizados pelo orgone do organismo. Uma energia física
biológica que governa todo o organismo fundamenta o movimento plasmático pelo
fluxo vital, o sangue que vai dinamizar o sistema nervoso, endócrino, circulatório
e
imunológico. No orgone está o fluxo vital na rede psicossomática e especialmente
plasmática do ser humano. Todas as emoções, sentimentos e conceitos
formalizados pelo ser humano passam e são oriundos da dinâmica desta energia.
Essas correntes plasmáticas não dependem da organização anatômica dos nervos e
músculos no ser humano.
21
A energia orgone contém os fluidos do corpo e é nesse fluxo que se formam
as emoções. Emoção no ser humano, enquanto organismo vivo, também é
movimento plasmático. Estes movimentos no organismo ocorrem geralmente do
centro para a periferia quando se dá o prazer e da periferia para o centro quando
se
dá a angústia. “A sexualidade não poderia ser mais que a função biológica de
expansão ‘para fora do eu’, do centro em direção a periferia. Por seu lado, a
angústia não seria se não a direção inversa, i.e., da periferia para o centro, ‘de
volta
para o eu” (REICH, 1995, p.227).
Primeiramente, Reich pesquisou a energia orgone na psiquê e posteriormente
no funcionamento biológico, sendo que a sua pesquisa se deu na sensação dos
órgãos sendo essa uma percepção do ego (REICH, 2003). “A biofísica do orgone
opera com sensações de órgãos como um primeiro sentido de natureza estritamente
fisiológica” (Ibid, p.69).
Reich chegou à conclusão que o sistema nervoso parassimpático5
funciona
quando há expansão, dilatação, tensão e prazer. Ou seja, o sistema nervoso
parassimpático opera na direção da expansão “para fora do eu”. Já os nervos
simpáticos funcionam quando o organismo se contrai, para “dentro do eu”, para a
tristeza e o desprazer (REICH, 1995).
Para Reich (1998, p.331) “uma excitação biofísica do plasma transmite uma
sensação, e uma sensação expressa-se num movimento do plasma”. Isso é uma
excitação do plasma é mobilizada por sensações que provocam movimento da
energia orgone alterando as funções vasomotoras, logo expressam-se na forma de
ser humano.
O organismo vivo contém energia orgonal em cada uma de suas
células e se carrega orgonalmente como energia da atmosfera, por
meio da respiração. Os corpúsculos ‘vermelhos’ do sangue são
vesículas microscópicas carregadas de orgônio, que tem uma
cintilação azul; carregam a energia biológica da superfície dos
alvéolos dos pulmões para os tecidos do corpo. A clorofila das
plantas, que se relaciona com a proteína do sangue animal, que tem
ferro, contém orgônio e o absorve diretamente da atmosfera e da
radiação solar (REICH. 1998 p.324).

5
Parte do sistema vegetativo onde a excitação provoca a expansão do organismo
(BAKER, 1984, p. 308).
22
A forma como o organismo tem de expressar seus movimentos vai além da
palavra falada, pois, a linguagem é limitada a sensações plasmáticas, sendo que o
organismo funciona muito antes da palavra. Essa vai procurar referendar a emoção
plasmática que já aconteceu a priori da comunicação. A linguagem do ser humano
como um ser orgonômico, não é traduzível para a linguagem da consciência verbal.
Este é um organismo vivo, “funciona de maneira autônoma, para além da esfera da
linguagem, do intelecto e da vontade” (REICH, 1998, p.338). Ele apresenta-se um
todo complexo energético, que em si vive e sofre todos os processos vitais
cognitivos trazidos pela dinâmica do seu fluxo plasmático em

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