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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Disciplina: História Social da Cultura


Discente: Julia Neves Toledo

Resenha de THOMPSON, E. P. A economia moral da multidão inglesa no século


XVIII. In: Costumes em comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.

O historiador Edward Palmer Thompson nasceu na cidade de Oxford, na


Inglaterra, no dia 3 de fevereiro de 1924 e veio a falecer em 28 de agosto de 1993,
Worcester, Reino Unido. Marxista por convicção, Thompson é considerado por
muitos como o maior historiador inglês do século XX, devido a sua grande
contribuição para a historiografia e inovações metodológicas, atuando no campo da
história social e cultural. A Segunda Guerra Mundial marcou de forma significativa a
trajetória de Thompson, quando adere ao Partido Comunista Britânico e luta na Itália
contra o fascismo de Benito Mussolini.
Já no pós-guerra, em 1946 formou um grupo de estudos históricos marxistas
junto com Christopher Hill, Eric Hobsbawm, Perry Anderson,Rodney Hilton, Dona
Torr, dentre outros. Esses intelectuais se reuniam para discutir abertamente a teoria
marxista, tendo por pressuposto popularizar a pesquisa histórica, além de possuir uma
problemática em comum, transcender a estreita noção economicista de classe.
Objetivavam construir uma historiografia marxista distanciada do determinismo
econômico, pela qual o marxismo se tornou tão associado.
A trajetória política de Thompson influenciou significativamente seu
pensamento e orientou seus estudos ao longo de sua vida. Apesar de ter rompido com
o Partido Comunista Britânico em 1956, após as denúncias de Nikita Khrushchev
sobre as práticas de Stalin, permanece marxista e funda a revista chamada New Left
Review, nos anos 1960. A luta de classes sempre esteve presente nos estudos de
Thompson, assim como a chamada história vista de baixo ou from below, dando
espaço para as classes menos abastadas, muitas vezes excluídas das narrativas
históricas.
Thompson possui uma vasta produção de livros, ensaios e artigos. Sua obra
mais conhecida e de maior fôlego foi a Formação da Classe Operária Inglesa. Livro
lançado em 1963 em três volumes, que inovou a análise sobre as origens da classe
operária inglesa no período de 1790 a 1832. Famoso pela renovação historiográfica e
pela composição da chamada História Social Inglesa, devido sua narrativa histórica
sobre os trabalhadores ingleses como parte ativa do processo histórico.
O referido autor está inserido no campo da Nova História Cultural,
desenvolvida a partir dos anos 1980 e herdeira direta da História Social dos anos 1960
e 1970, que prioriza a construção histórica a partir das manifestações das massas
anônimas, por aquilo que é considerado popular. Observa-se dentro desse novo campo
de estudos a preocupação em retratar os conflitos e as estratificações existentes nas
classes sociais, através de uma história plural que apresenta caminhos alternativos
para a investigação do problema. Historiadores como Carlos Ginzburg, Robert Darton
e Natalie Davis também se inserem no campo da Nova História Cultural através de
seus objetos de investigação, métodos e fontes historiográficas.
O ensaio que iremos analisar intitula-se A economia moral da multidão inglesa
no século XVIII e foi escrito em 1971, trazendo temáticas que se inserem tanto no
campo da História Social Inglesa quanto na Nova História Cultural, estabelecendo
uma ponte entre as duas vertentes. A obra traz reflexões sobre a história do trabalho,
os motins da fome, os costumes partilhados, as culturas populares, entre outros. Este
ensaio é bastante influente entre historiadores, sociólogos e antropólogos, justamente
por abarcar temas que dialogam fortemente com essas áreas.
Em A economia moral da multidão inglesa no século XVIII Thompson analisa
o povo enquanto agente do processo histórico para estudar os motins da fome na
Inglaterra do séc. XVIII, períodos de perturbação social que surgiram como reação
dos populares às crises econômicas. O historiador inglês se propõe a explicar estes
fatos fugindo do reducionismo econômico e buscando o sentido cultural dos motins
populares.
Thompson mostra que a ação popular era legitimada por um consenso em prol
da defesa dos direitos do povo e diz respeito ao que ele chama de “economia moral”:
O motim da fome na Inglaterra do séc. XVIII era uma forma altamente
complexa de ação popular direta, disciplinada e com objetivos claros
(...) É certamente verdade que os motins eram provocados pelo
aumento dos preços, por maus procedimentos dos comerciantes ou pela
fome. Mas essas queixas operavam dentro de um consenso popular a
respeito do que eram práticas legítimas e ilegítimas na atividade do
mercado, dos moleiros, dos que faziam o pão, etc. (THOMPSON,
1998, p.152)

O autor afirma que a economia moral girava em torno do bem-estar comum,


diretamente ligada ao preço do pão. As ações possuiam objetivos claros, sendo
realizadas em prol de benefícios para as multidões camponesas. “Não era o homem
econômico que empreendia tais revoltas, mas pessoas envolvidas num tecido de
normas e reciprocidades sociais que eram acionadas para coibir o lucro em cima da
miséria de tantos” (Schenato, 2010, p.2). A ideia de preço justo surge quando já se
observa a perda de direitos, ou seja, quando a relação com o preço justo do pão deixa
de ser entendida como dádiva e passa a ser reivindicado enquanto direito da população
O motim aparece na obra de Thompson não somente enquanto revolta, mas
como ações políticas, ameaças que interferiam diretamente na lógica política e
econômica do século XVIII. A ação direta ser tachada de “motim” é inadequada
segundo Thompson, pois, além de incidir de forma muito geral sobre o governo e o
pensamento naquele momento, trata-se de “um padrão sofisticado de comportamento
coletivo, é uma alternativa coletiva as estratégias individualistas ou familiares de
sobrevivência” (THOMPSON,1998b, p.208).
Thompson em seu ensaio critica os historiadores economistas que analisaram
os movimentos populares na Inglaterra do século XVIII de forma reducionista
enquanto reação a uma situação de falta de alimentos e consequente fome, sem
considerar os aspectos sociais e culturais que causavam as revoltas. O autor contesta
as teses de que tais ações diretas eram espontaneístas e espasmódicas, ou seja, que
eram uma reação a uma situação biológica da necessidade de comida, mostrando que
tais protestos eram baseados em referências morais e éticas da multidão que tomavam
como justas e legítimas tais práticas em períodos de escassez. (Schenato, 2010)
Contra essa visão espasmódica, oponho minha própria visão. É
possível detectar em quase toda ação popular do século XVIII uma
noção legitimadora. Por noção de legitimação, entendo que homens e
mulheres da multidão estavam imbuídos da crença de que estavam
defendendo os direitos ou costumes tradicionais; e de que em geral,
tinham o apoio do consenso mais amplo da comunidade.
(THOMPSON, 1998, p.152)

Seu objetivo neste ensaio, nos parece ser também analisar a cultura política
(tradições, costumes, superstições, expectativas) dos trabalhadores envolvidos em
ações diretas, através dos motins da fome. A maneira como os trabalhadores rurais
responderam às determinadas pressões e imposições se configuraram em costumes
partilhados que deram origem a cultura popular, segundo a argumentação Thompson.
As respostas à fome, porém, são diferenciadas em seus contextos, que podem ser
desde a morte silenciosa, esmola, roubos dos ricos ou o protesto social enquanto
estratégia de sobrevivência.
Thompson nos mostra uma concepção sofisticada de cultura, não como algo
estático, determinado, mas como resposta, como reação. O conceito de cultura para o
autor pode ser explicado através de um conjunto de práticas partilhadas por grupos
que sofrem pressões similares e estão inseridos em um mesmo contexto, ou seja, a
maneira como determinados grupos reagiram a eventos de forma semelhante e
comum. A partir disso é possível observar um raciocínio diacrônico no pensamento do
autor, os costumes em comum, partilhados por grupos, dão origem à cultura popular e
posteriormente contribuem na formação da consciência de classe.
O autor defende que as tradições culturais são selecionadas, recombinadas e
inventadas como parte ativa da formação da classe trabalhadora e se constituem
enquanto versões selecionadas ativamente do passado, construídas e reconstruídas
através de conflitos sociais que se projetam do passado para um futuro imaginado.
Thompson reconstitui a racionalidade para os sujeitos, mesmo antes da formação da
classe e sua tomada de consciência, divergindo assim do marxismo ortodoxo que
defende que o sujeito só existe enquanto classe.
Atribuindo racionalidade aos motins, o historiador inglês empreende um
esforço de entender de que maneira a economia moral compõe e a fornece
mecanismos para a construção da cultura popular, dos camponeses. Tal racionalidade
ressignificava o modelo paternalista e contestava, portanto, a racionalidade
instrumentalizada do “livre mercado”, regime que havia surgido recentemente.
De acordo com Thompson, os motins da fome ocorreram no momento em que
o modelo paternalista estava se rompendo e possuía, na prática, somente um efeito
simbólico. Possuía a intenção de demonstrar para os pobres que as autoridades agiam
vigilantemente para defender os seus interesses. O mercado, onde o pão devia ser
vendido sem mediação e respeitando o preço taxado, muitas vezes era uma farsa.
Ideologicamente, o liberalismo de Adam Smith emergia com a tentativa de se
se libertar dos pressupostos “morais” que regulavam as relações entre produtores e
consumidores, minando assim a economia moral das multidões camponesas.

Hoje não damos importância os mecanismo extorsivos de uma


economia de mercado não regulado, porque causam à maioria de nós
apenas inconveniências, simples incômodos. Não era o caso do século
XVIII. (...) os preços altos significam barrigas inchadas e crianças
doentes que tinham por alimento o pão ordinário feito com farinha
estragada. (Thompson, 1998, p.200)
.

Em suma, Thompson ao atribuir racionalidade e agência aos motins da fome,


analisou a economia moral da multidão inglesa e sua dinâmica própria de
funcionamento. Homens e mulheres, nos motins, estavam defendendo seus direitos em
uma forma altamente complexa de ação popular direta, com objetos claros e bem
definidos. Limitar sua análise à uma perspectiva economicista e espasmódica significa
excluir os protagonistas desse processo, os trabalhadores do campo da Inglaterra do
século XVIII.
Bibliografia

THOMPSON, E. P. A economia moral da multidão inglesa no século XVIII. In:


Costumes em comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.

__________, E.P. A economia moral revisitada. In: In: Costumes em comum. Estudos
sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

__________, E.P. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.

SCHENATO, Vilson Cesar. "Economia moral e resistências cotidianas no


campesinato: Uma leitura a partir de EP Thompson e James Scott." I Conferência
Nacional de Políticas Públicas contra a Pobreza ea Desigualdade. Natal, UFRN.
2010.

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