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Seu objetivo neste ensaio, nos parece ser também analisar a cultura política
(tradições, costumes, superstições, expectativas) dos trabalhadores envolvidos em
ações diretas, através dos motins da fome. A maneira como os trabalhadores rurais
responderam às determinadas pressões e imposições se configuraram em costumes
partilhados que deram origem a cultura popular, segundo a argumentação Thompson.
As respostas à fome, porém, são diferenciadas em seus contextos, que podem ser
desde a morte silenciosa, esmola, roubos dos ricos ou o protesto social enquanto
estratégia de sobrevivência.
Thompson nos mostra uma concepção sofisticada de cultura, não como algo
estático, determinado, mas como resposta, como reação. O conceito de cultura para o
autor pode ser explicado através de um conjunto de práticas partilhadas por grupos
que sofrem pressões similares e estão inseridos em um mesmo contexto, ou seja, a
maneira como determinados grupos reagiram a eventos de forma semelhante e
comum. A partir disso é possível observar um raciocínio diacrônico no pensamento do
autor, os costumes em comum, partilhados por grupos, dão origem à cultura popular e
posteriormente contribuem na formação da consciência de classe.
O autor defende que as tradições culturais são selecionadas, recombinadas e
inventadas como parte ativa da formação da classe trabalhadora e se constituem
enquanto versões selecionadas ativamente do passado, construídas e reconstruídas
através de conflitos sociais que se projetam do passado para um futuro imaginado.
Thompson reconstitui a racionalidade para os sujeitos, mesmo antes da formação da
classe e sua tomada de consciência, divergindo assim do marxismo ortodoxo que
defende que o sujeito só existe enquanto classe.
Atribuindo racionalidade aos motins, o historiador inglês empreende um
esforço de entender de que maneira a economia moral compõe e a fornece
mecanismos para a construção da cultura popular, dos camponeses. Tal racionalidade
ressignificava o modelo paternalista e contestava, portanto, a racionalidade
instrumentalizada do “livre mercado”, regime que havia surgido recentemente.
De acordo com Thompson, os motins da fome ocorreram no momento em que
o modelo paternalista estava se rompendo e possuía, na prática, somente um efeito
simbólico. Possuía a intenção de demonstrar para os pobres que as autoridades agiam
vigilantemente para defender os seus interesses. O mercado, onde o pão devia ser
vendido sem mediação e respeitando o preço taxado, muitas vezes era uma farsa.
Ideologicamente, o liberalismo de Adam Smith emergia com a tentativa de se
se libertar dos pressupostos “morais” que regulavam as relações entre produtores e
consumidores, minando assim a economia moral das multidões camponesas.
__________, E.P. A economia moral revisitada. In: In: Costumes em comum. Estudos
sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
__________, E.P. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.