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O filme Abril Despedaçado, retrata uma história de duas famílias

sertanejas que moram no Riacho das Almas e que prezam por uma
espécie de código de honra, onde os componentes das duas famílias
respeitam tais regras sob pressão coercitiva, particularmente dos chefes
dessas famílias, assim, caracterizando um sistema patriarcal, que as
pessoas obedecem por medo ou por tradição, num ritual que remonta à
lei do talião.
A história é fundamentada em um conflito de duas famílias por disputas
de terras, onde, nessas disputas, ocorre a morte de um dos parentes e por
uma questão de honra, baseado na lei do “olho por olho”, que é
mencionado no filme, na qual o filho primogênito da família do morto tem
que matar o primogênito da outra família para libertar a alma do falecido
e para lavar a honra. Mas este deve vingar a morte apenas quando o
sangue da camisa do falecido, que é estendido ao sol, amarelar,
respeitando o momento do luto e configurando um elemento simbólico
desta tradição.
Numa das cenas do filme, o filho mais velho que mata o primogênito da
outra família, entra com o seu pai no velório daquele que ele assassinou,
pede permissão ao chefe da família para rezar pela alma do morto, algo
comum na época e, ao fim do velório, o assassino pede uma trégua para
que só mate ele e se encerre a contenda, sendo o pedido aceito e
respeitado, este deixa o local com uma faixa preta, marcando-o como o
próximo a morrer.
No filme Ó pai, ó, são tratadas diversas temáticas polêmicas no país, como
as questões de desigualdade social, ilustrados pelo processo de
gentifricação do Pelourinho; a prostituição de mulheres brasileiras em
outros países, que saem em busca de uma melhor condição de vida e
acabam em empregos precários ou sendo exploradas sexualmente; a
hipocrisia cristã e a intolerância religiosa por parte das igrejas evangélicas
contra as religiões de matriz africana; o aborto, propondo uma reflexão a
respeito da moralidade de interromper uma gravidez e da orfandade,
através da personagem que faz abortos clandestinos e adota crianças
abandonadas por pais negligentes ou sem condições de criá-las, pois ela
acredita que é mais moral fazer o aborto do que ter uma criança e
abandoná-la; fala da falta de solidariedade de classe ilustrada pela
incompreensão de um dos personagens em relação à luta dos professores
da rede pública contra o descaso do estado e a precariedade das suas
condições de trabalho; e, por fim, mostra o racismo estrutural na violência
e a corrupção praticadas por policiais.
Tudo isso é contrastado com a forma que os baianos lidam com todo este
sofrimento, ilustrado com a alegria e diversão do carnaval, ainda que o
filme contraponha essas imagens à tensa cena climática do filme, onde
duas crianças são mortas pela polícia, contraposição que pode ser
observada, mas de forma inversa, em Abril Despedaçado, na cena do
balanço, quando o pai da família ri pela única vez durante o filme, após ser
estabelecido ao longo de toda a trama, sua figura de brutalidade e dureza.
Embora os filmes se deem em contextos culturais essencialmente
diversos, podemos localizar pontos de convergência entre eles, tais como
apresentado nas formas violentas de resolução de seus problema e
conflitos, de formas irracional, por tradição ou por moral. No primeiro
filme, vemos a obediência a uma tradição que dizima as famílias,
desumanizando-os, ttransformandse em animais selvagens, as falas do
personagem “Menino” deixa bem exemplificado, “A gente parece os bois,
roda, roda e não sai do lugar” e “Por olho por olho, todos acabam cegos.
Em terra cego, quem tem um olho é visto como louco”. Já no filme Ó pai,
ó, e sobre o agiota que é comerciante possui um estabelecimento que é
frequentado por turistas, sendo que neste lugar também tem a presença
de adolescentes que cometem alguns roubos, e por uma questão de
“moral” o agiota corrompe o policial para “limpar” a área, assim
resultando em uma tragédia por não procurar outras formas racionais
para solucionar os problemas da comunidade.

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