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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS E ARTES


SETOR DE LITERATURAS AFRICANAS
DISCIPLINA: OPTATIVA EM FICÇÃO AFRICANA
ESTUDANTES: ALINE MARTINS JUVINO DRE: 116.027.011 e ALINE
CARVALHO DRE: 114.181.209
PROFESSORA: VANESSA TEIXEIRA

Resenha: “Função do racismo” in Colonialismo e alienação: Contribuição para a


teoria política de Frantz Fanon. 1976.

O texto “Função do Racismo”, do livro Colonialismo e Alienação, de Renate


Zahar pode ser analisado, em primeira análise como uma proposta de trazer à luz a
dimensão sociopsicológica das contribuições de Frantz Fanon sobre a temática
decolonial. O termo ‘decolonial’ é aqui empregado haja visto o compromisso do autor
com formulações e propostas de combate ao projeto da máquina colonizadora que se
entranha com violência não apenas nos corpos, mas também nas mentes negras.

Ainda que a proposta da autora seja de uma análise através desta perspectiva, cabe
a ressalva feita pela mesma de que não havia uma intenção por parte do filósofo de
postular contribuições aos trabalhos psicanalíticos até então desenvolvidos. Assim, Zahar
nos apresenta em seu trabalho um “óculos” psicossocial e psicanalítico a partir do qual
incidirá sobre as obras por ela analisadas. Esta atitude torna possível o paralelo com a
contribuição de Sartre na obra Os Condenados da Terra, visto que o filósofo francês
desempenha semelhante movimento – o de incidência através de uma perspectiva
específica – mobilizando uma obra de destinatário específico de forma a ampliar os
limites de alcance de público leitor.

Disto isto, buscar-se-á, ainda que de maneira sintetizada, relacionar a postura da


autora de Colonialismo e Alienação e a postura de Sartre no tocante às respectivas
estratégias de mobilizações das obras de Fanon.

Atendo-se ao texto de Zahar, observa-se que há a preocupação na investigação das


chagas psicológicas deixadas pelo projeto colonial. Elas encontram sua gênese na relação
de poder – marcada pela violência não apenas física – entre um Eu dominante, que detém
o verbo e as estratégias de dominação e um Outro dominado, que não tem valorizada a
fala e ainda que se aproprie da língua dominante segue silenciado.

A “epidermização”, como bem emprega a Socióloga, é a consequência


psicológica da violência simbólica que opera em função da consolidação do projeto de
Alienação do colonizado. Quando o colonizado internaliza o discurso do colonizador, sua
história passa a ter origem no próprio processo de colonização, quando o europeu chega
para “salvá-lo” do perigo da sociedade “não-civilizada”.

"Quando ao Negro é sugerida a sua inferioridade, ele sofre por não ser
Branco. O desejo que tem o Negro de ser Branco revela que a estrutura
social racista é a causa da sua nevrose. Fanon chega aí a uma conclusão
semelhante à de Sartre: <É o racista que cria a inferioridade>."
(ZAHAR, 1976, p. 73)

O projeto de Fanon é justamente o de revelar aos colonizados como se articulam


as minúcias da engenharia colonial, e é, também, o de revelar que para que o Negro se
construa verdadeiramente enquanto Eu, ele deve despir-se de sua construção enquanto
Outro. Em outras palavras, ele deve entender que o processo de alienação é decorrente
do colonialismo e que é também através de sua superação que se poderá pensar a
descolonização dos corpos e do pensamento.

O texto caminha ainda sob a perspectiva psicanalítica atentando para a questão da


inferiorização do negro e de suas capacidades produção como construções do Branco. É
frisada a formação de um imaginário coletivo Branco que é cunhado no estereótipo e que
se relaciona com o Outro através do espelhamento de si. “projetando as suas intenções no
Preto o Branco comparta-se como se o preto as tivesse realmente.” (ZAHAR, 1976, p.
76)

Dito isto, pode-se depreender do trabalho realizado por Zahar, um movimento de


tradução das propostas Fanonianas. Ao propor aos seus entender os processos históricos
que produziram as subjetividades Negras, Fanon revela também os processos que
constroem as subjetividades do colonizador. A autora realiza um movimento de tradução
justamente porque faz ressoar através de sua voz as dimensões psicossociais do racismo
estrutural, o qual Fanon declara ser “uma surda emanação ideológica que reveste uma
realidade econômica”. Ela cria uma ponte que permite que seus leitores se relacionem
com Fanon através da sua incidência, de seus “óculos”.
A respeito da contribuição de Sartre para o prólogo de Os condenados da terra,
observa-se que mais do que conscientizar os europeus de que a descolonização dos corpos
e do pensamento é inevitável, de que os colonizados estão se unindo, se pensando e se
conhecendo para se reinventar, Sartre, assim como Zahar, colabora no sentido de fazer
ecoar através de sua própria voz, e portanto, através de seu lócus epistemológico
(MUDIMBE, 2013), os movimentos que Fanon propõe aos seus: O de pensar sua própria
ontologia para, a partir daí, construir seu próprio Eu.

Só a partir da voz de Sartre, um filósofo francês, que tal empreitada poderia se


concretizar. Em outras palavras, é pelo fato de Sartre ser um europeu que sua fala chega
aos ouvidos dos ‘seus’ com familiaridade, uma vez que compartilham o mesmo lugar de
pensamento no mundo.
O mesmo se aplica à Zahar. É a partir da leitura de Colonialismo e Alienação que
se torna possível utilizar Fanon em função de uma ressignificação do Eu europeu. Tal
qual o de Sartre, o texto da socióloga opera como um “óculos epistemológico” a partir
do qual os europeus irão vivenciar as propostas de Fanon de maneira genuína. Sartre
ensina aos seus, os europeus, a tomarem a obra como uma ferramenta de auto gnose, que
tem por objetivo não só a tomada de consciência, mas, e principalmente a possibilidade
de se reinventarem, pois como afirma Sartre: “[...] há isto que talvez ele [europeu] jamais
tenha sabido: nós não nos tornamos o que somos senão pela negação íntima e radical do
que fizeram de nós.” (FANON, 1961.). É, portanto, um movimento observado em ambos
os textos, no qual a mobilização das ideias de Fanon pela voz de europeus se configura
um alargamento do público leitor assim como a possibilidade de utilização das ideias em
função de uma ressignificação do Eu europeu.

BIBLIOGRAFIA:

FANNON, Frantz. Os condenados da Terra. Civilização Brasileira, 1968.


MUDIMBE, Valentin Yves. A invenção de África: gnose, filosofia e a ordem do
conhecimento. Lisboa: Edições Pedalgo, 2013.
ZAHAR, Renate; SANTO, Amadeu Espirito. Colonialismo e alienação: Contribuição
para a teoria política de Frantz Fanon. 1976.

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