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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO
PEDAGOGIA – LICENCIATURA

ARTE/EDUCAÇÃO

APROXIMAÇÃO EM RELAÇÃO A PERSONALIDADE ARTÍSTICA/CULTURAL

NATAL-RN
2018
JÉSSICA BÁRBARA VALENTIM DOS SANTOS DELERINO

APROXIMAÇÃO EM RELAÇÃO A PERSONALIDADE ARTÍSTICA/CULTURAL

Trabalho apresentado à disciplina


Arte/Educação, como requisito de avaliação,
referente a segunda unidade.

Docente:
Prof. Dr. Jefferson Fernandes Alves

NATAL-RN
2018
1ª ATIVIDADE AVALIATIVA DA 2ª UNIDADE

ORIENTAÇÕES:
1. Você realizará um exercício de aproximação em relação a personalidade artística/cultural
CHICO ANTONIO (CULTURA POPULAR - RN) e de sua obra. Para tanto, considere
duas dimensões: aspectos biográficos e leitura/fruição da(s) obra(s). Para tanto, investigue
textos, imagens, livros, registros videográficos, etc, fazendo uso, principalmente, da
internet. Depois, faça um pequeno diário ou caderno de, no mínimo, 10 páginas, (podendo
incrementá-lo com desenhos, colagens, apliques, etc), cujo conteúdo seja centrado nos
seguintes tópicos:

1.1. Aspectos principais da biografia


1.2. Apontamentos contextuais sobre a(s) obra(s)
1.3. Impressões de sua leitura/fruição da(s) obra(s)
1.4. Reflexões sobre a(s) obra(s) dialogando com a ideia da arte como provocação,
(re)invenção de mundos possíveis e área de conhecimento.

2. Em separado, você fará uma carta, na qual você vai apresentar o(a) artista escolhido(a) para
um(a) amigo(a) indefinido(a) e contar sobre a experiência construída. O diário/caderno e a
carta deverão ser entregues (fisicamente) no dia 29/10.
1.

1.1

1.2

Francisco Antônio Moreira, Chico Antônio, nasceu no povoado de Côrte, no município


de Pedro Velho, no dia 20 de setembro de 1904. Desde criança mostrou inclinação para a
música, para o canto, particularmente para os cocos-de-embolada, gênero musical muito em
voga no Nordeste brasileiro de então.
Seu pai, homem prático, agricultor honesto e trabalhador, em cuja família não havia
precedentes de manifestações artísticas, procurou desde cedo encaminhar o filho para a escola,
a fim de assegurar-lhe um futuro melhor. Estudar não era a sua vocação, o seu desejo era “cantar
cocos”. Trabalhando na enxada, no sítio do pai, o menino Chico Antônio não perdia a
oportunidade de ver as grandes pelejas entre os famosos emboladores de coco que, na época do
verão, excursionavam por todo o Estado. Sonhava com o dia em que pudesse, também ele
próprio, participar daqueles desafios.
Chico Antônio e Dona Amélia, sua mulher há mais de 50 anos, que já o conheceu
coqueiro: “Eu me engracei dela e ela de mim, era hora, digo: Num tem jeito! Fui, comprei uma
casa, tinha dois cavalo junto; assim eu casei”.
Quando jovem, Chico desafiou muitos coqueiros e tornou-se célebre animando as festas
do sertão. A encantadora obra “O coco eu não aprendi a cantá com ninguém, fui aprendendo
mais fui puxando na cabeça, do juízo”
Aos 89 anos de idade, Chico Antônio estava impossibilitado de trabalhar na enxada, o
que fez praticamente a vida inteira, em sua pequena propriedade rural em Pedro Velho (RN). O
ganzá, instrumento musical que muitos coqueiros usam, é feito de uma lata ou um cilindro de
folha-de-flandres, fechados nas duas extremidades e cheios de chumbo fino. Chico Antônio
viveu os últimos dias de sua existência na cidade de Canguaretama, no RN, vindo a falecer no
dia 15 de outubro de 1993.
Marta Viana Moreira de Meireles, neta de Chico Antônio, guarda uma bengala e um
ganzá do avô, ela guarda parte da herança de Chico Antônio e luta pelos direitos autorais do
avô, e até criou um Instituto de Cultura que levou o nome de Chico Antônio, na cidade de Pedro
Velho, mas hoje se encontra desativado.

Suas obras:

“Boi Tungão”, “Coco de Usina”, “Adeus Luquinha”, “Balão, mané mirá”, “A pisada é essa
(esse é bom pueta)”, “Amador Maria”, “Eu vou, você num vai”, “Jurupanã”, “Dois tatú”, “Eh
tum”, “Ôh mana, deixa eu ir”, “Pr’onde vais, mulé?”, “Iaiá, dá no boi”, “Êh boi!”, “Engenho
novo”, “Justino Grande” e outros. Chegou até a fazer um CD.

A sua obra mais famosa foi "Boi Tungão", que chegou a ser a trilha sonora do filme "O
homem que desafiou o diabo" com Marcos Palmeira que foi gravado no Rio Grande do Norte.

Coco do Boi Tungão (trechos)


Estribilho:
Ai, li-li-ô, Boi Tungão
boi do maiorá
Bunito não era o boi
Como era o aboiá
Eu chamava e ele vinha
pra purteira do currá
Trechos do “Boi Tungão”
Eu ´stava lá em casa
deitado no quente
eu tava bebo de aguardente
quando eu vi chamar
Saí pra fora,
meu amigo e camarada,
era uma nega marvada,
que veio me buscá.
Adonde tinha a nega
a nega Marçalina
Também tinha a Bernardina
E: “Chico Antônio, vá”.
Estribilho
Entrei pra dentro,
sem pensar em nada
à meia-noite, meu estado
vou lhe avisar
eu fui ao torno,
peguei o mineiro
saí quase na carreira,
balançando o meu ganzá.
Aonde veio
uma nega menina
“hum, hum, hum” no meu ouvido
pegou cochichar.
Estribilho.
A admiração de Antônio Bento

“(...) Vida poética, gosta tanto das mulheres, como elas dele, bom na cachaça. Bom
companheiro para brincadeiras e afetuoso, segundo dizem seus companheiros. Gasta à-toa todo
dinheiro que ganha. O coco que Chico Antônio gosta mais de cantar e acha mais bonito é “Iaiá
pega o Boi”. O que faz maior impressão é o “Boi Tungão”, descrição do inferno. Por causa
desse coco, é que dizem que ele tem um “trato com o diabo”
Tanto gosta de cantar o coco solto (toada quadrada, parcela, cocos de solos pequenos) como o
coco de amarração (embolada). Prefere improvisar, sem saber o que está dizendo. Me disse
mesmo que prefere cantar esquecendo, tirando as emboladas rapidamente, no momento”. Notas
de Antônio Bento em "Os cocos" de Mário de Andrade.

A Barca e Mário de Andrade

O livro Os cocos, editado por Oneyda Alvarenga, reúne 245 peças, quase todas anotadas
por Mário de Andrade na viagem ao Nordeste. Esse livro foi a principal fonte de estudo e
exercício criativo para A Barca e nele sobressai a figura de um cantador: Chico Antônio.
Estou divinizado por uma das comoções mais formidáveis da minha vida. Chico Antônio
apesar de orgulhoso:

"Ai, Chico Antônio Quando canta Istremece Esse lugá!..."

Não sabe que vale uma dúzia de Carusos. Vem da terra, canta por cantar, por uma
cachaça, por coisa nenhuma e passa uma noite cantando sem parada. Já são 23 horas
e desde às 19 que canta. Os cocos se sucedem tirados pela voz firme dele.

Mário de Andrade conheceu Chico Antônio no Rio Grande do Norte e anotou por volta
de 50 cocos "tirados" por ele. E descreveu o encontro com o cantador em várias crônicas
entusiasmadas, conforme se lê na edição de O turista aprendiz elaborada por Telê Porto Ancona
Lopez.

Que artista. A voz dele é quente e duma simpatia incomparável. A respiração é tão
longa que mesmo depois da embolada inda Chico Antonio sustenta a nota final
enquanto o coro entra no refrão. O que faz com o ritmo não se diz! Enquanto os três
ganzás, único acompanhamento instrumental que aprecia, se movem
interminavelmente no compasso unário, na "pancada do ganzá", Chico Antonio vai
fraseando com uma força inventiva incomparável, tais sutilezas certas feitas que a
notação erudita nem pense em grafar, se estrepa. E quando tomado pela exaltação
musical, o que canta em pleno sonho, não se sabe mais se é música, se é esporte, se é
heroísmo. Não se perde uma palavra que nem faz pouco, ajoelhado pro "Boi Tungão",
ganzá parado, gesticulando com as mãos doiradas, bem magras, contando a briga
que teve com o diabo no inferno, numa embolada sem refrão, durada por 10 minutos
sem parar. Sem parar. Olhos lindos, relumeando numa luz que não era do mundo
mais. Não era desse mundo mais.

O coco, nas suas várias formas, é ainda hoje muito vivo no Nordeste brasileiro. Uma das
formas é o coco de roda, quando os dançadores/coro se colocam em roda respondendo ao
cantador num refrão simples. Outra forma é o coco de embolar, quando o cantador, também
chamado de coqueiro, improvisa versos numa segunda parte melódica, alternando com o refrão
cantado pelo coro. Em ambas as formas, o coco pode ser considerado como uma proto-canção,
já que não chega ao acabamento da canção popular, constituindo-se como "obra aberta",
sobretudo quando a improvisação é seu elemento central. Dessa maneira, cada performance
de um coco é uma obra única, tanto maior seja o talento do cantador como improvisador. Em
2005, A Barca registrou a manifestação através do trabalho de cantadores como Mestre
Verdelinho (Alagoas), Biu Roque (Pernambuco), Odete do Pilar (Paraíba) e das cantadeiras
do quilombo de Caiana dos Crioulos (Paraíba).

Mas o primeiro cantador que A Barca conheceu, em 1998, foi Chico Antônio, através dos
livros de Mário de Andrade.

Bom Jardim, 11 de janeiro - Passei hoje o dia com Chico Antonio, conversando,
grafando algumas das melodias que ele canta. Agora ele está de novo giragirando no
coco e vou dedicar mais esta crônica a ele. Principiou a cantar faz pouco e até onde o
vento leva a toada, os homens do povo vem chegando, mulheres, vultos quietos na
escureza, sentam no chão, se encostam nas colunas do alpendre e escutam sem cansar.
A encantação do coqueiro é um fato e o prestígio na zona, imenso. Se cantar a noite
inteira, noite inteira os trabalhadores ficam assim, circo de gente sentada, acocorada
em torno de Chico Antonio uirapuru, sem poder partir.
Chico Antônio, foto de Mário de Andrade.

Ê Tum: duelo de emboladas

Mário de Andrade já havia publicado o refrão de "Ê Tum" em seu Ensaio sobre a música
brasileira, provavelmente tendo-o recebido de algum colaborador. Mas é de Chico Antônio a
versão que está n'Os cocos, a qual, além do refrão, apresenta ainda uma segunda parte.
Base para o trabalho do grupo A Barca

A versão d' A Barca para o coco "Ê Tum" de Chico Antônio, gravada no disco Turista
aprendiz, fez um embate de dois cantadores na segunda parte, alternando estrofes entre eles,
como acontece na cena cantada no coco "Justino Grande". Esses versos vieram de outros cocos
de Chico Antônio, mas também vieram de outros cantadores anotados por Mário de Andrade.

(Juçara Marçal) corre, menina pra casa do véio, meu sogro bote a chalera no fogo
faiz café pra nóis tumá (Sandra Ximenez) corre, menina na casa do funileiro chegue
lá, pergunte a ele por quanto faiz um ganzá

(Marcelo Pretto, Juçara Marçal e Sandra Ximenez - refrão)

(Juçara Marçal) fala, coquero da cabeça de cumbuca você hoje se amaluca

na pancada do ganzá fala, coquero da barriga de monturo você fala no escuro porque
meu talento dá
(Sandra Ximenez) olha, coquero na bolada americana si o esp'rito num m'ingana eu
também sei embolá bolada num bolada num, bolada notro atirei com bola solta num
jogo de rebolá

(Juçara Marçal) tome cuidado diz, é poco mais o meno minha bola tem veneno
quando eu pego no ganzá eu dei um tombo quatro tombo no martelo eu sô feito no
duelo rimeiro, vamo rimá

(Marcelo Pretto, Juçara Marçal e Sandra Ximenez - refrão)

(Sandra Ximenez) passe pr'aqui passe pr'ali, passe p'o canto que eu daqui num me
alevanto quantas tapa qué levá? ande ligero arrepare, cavalero eu sô um bicho ligero
na pancada do ganzá

(Juçara Marçal) ande ligero arrepare, meu sinhô tando em pé, tando assentado eu sei
dá pulo mortá ande ligero no martelo agalopado abr'u olho, camarada veja o jeito
d'eu bolá

(Sandra Ximenez) caba danado cabo da bola malina você memo é que m'insina lavá
ropa sem moiá é tranca, é bola é tranca, é bola, é parafuso a baleia deu um urro do
out'o lado do má

(Marcelo Pretto, Juçara Marçal e Sandra Ximenez - refrão)

(Juçara Marçal) embola a lua embola o sol, embola o vento meto a cabeça, vô dento
qu'eu também vô guerriá faca de ponta é danada pra custela nego vendo a ponta dela
morre doido, num vai lá

(Sandra Ximenez) poeta novo num monta no meu cangote se montá leva chicote morre
doido de apanhá passe pr'aqui passe pr'ali seu gororoba que você engole cobra com
farinha de imbuá

(Juçara Marçal) no meu cercado cabrito novo num berra nuvíu de pé de serra num
briga com malabá caba valente num me diga desaforo quem num pode com besoro
num assanha mangangá

(...)
(Juçara Marçal, Sandra Ximenez e Marcelo Pretto) ande ligeiro a minha regra é de
coqueiro estremece o mundo inteiro trupelão, rio, caná eu sou coqueiro eu sou bicho
cantadô inda que você num queira eu seria, eu era, eu sô

Voltando a Mário de Andrade:

Porque Chico Antônio não é só a voz maravilhosa e a arte esplêndida de cantar: é um


coqueiro muito original na gesticulação e no processo de tirar um coco. Não canta nunca
sentado e não gosta de cantar parado. Forma os respondedores, dois, três, em fila, se coloca em
último lugar e uma ronda principia entontecedora, apertada, sempre a mesma. Além dessa
ronda, inda Chico Antônio vai girando sobre si mesmo. Ele procura de fato ficar tonto porque,
quanto mais gira e mais tonto, mais o verso da embolada fica sobrerrealista, um sonho luminoso
de frases, de palavras soltas, em dicção magnífica. Poemas que nenhum Aragon já fez tão vivo,
tão convincente e maluco. É prodigioso.

Na versão d'A Barca, a melodia da segunda parte do boi foi transformada em introdução
instrumental e a melodia do coco pernambucano ficou como segunda parte, permanecendo o
refrão do boi como tema central. Tudo como um coco de roda, em andamento acelerado, com
a temática feminina nas estrofes da segunda parte. Mais uma vez, versos de Chico Antônio e de
outros cantadores presentes no livro Os cocos foram rearranjados para a construção do discurso
do cantador sobre "as mulé".

Base para o trabalho do grupo A Barca.


(Marcelo Pretto) a gente chega fica logo impressionado com o olhar enamorado das
menina do sertão muito cuidado por ali ninguém faz fita cada mocinha bonita tem um
tio que é valentão

(Juçara Marçal e Sandra Ximenez - refrão)

(Marcelo Pretto) em riba daquela serra tem um velho gaioleiro quando vê moça
bonita faz gaiola sem ponteiro naquela serra tem três moça encantada uma é minha,
outra é tua outra é de meu camarada

se quisé escolhe noiva escolha pelo andá que aquela que é veiaca pisa no chão
devagá pra casá com moça não case com amarela que ela dá pra lobisome passa a
gente na moela

(Juçara Marçal e Sandra Ximenez - refrão)

(Marcelo Pretto) homem casado que tem amor à família que gosta de suas filha não
devia passiá se saí pra rua deixa a casa em abandono chega outro e banca dono toma
conta do lugá

mulé casada que duvida do marido leva a mão no pé-do-ouvido pra deixá de duvidá
homem solteiro namorou muié casada tá co'a vida atrapaiada na ponta do meu punhá

(Juçara Marçal e Sandra Ximenez - refrão)

(Marcelo Pretto) pois é que a vida tá ficando muito cara homem, agora, é coisa rara
não se pode assim achá só macaxera a mulher e a cachaça num instante a gente acha
não carece procurá

cabocla Mariana tem quatro filha solteira tem uma cabocla mais nova nunca vi bicha
faceira anda e remexe quatro palmo de cadeira premita nossa senhora qu'essa
cabocla me queira

Mário de Andrade nunca mais reencontrou Chico Antônio desde sua viagem ao Nordeste,
aliás, a única vez em que esteve na região. Mas em 1943 o escritor voltaria ao cantador,
transformando-o em personagem de uma série de crônicas intituladas "Vida do
Cantador", publicadas na sua coluna "Mundo Musical", no jornal Correio da Manhã.
Chico Antônio ficaria esquecido nas páginas d'O turista aprendiz, só publicado em 1976.
Mas, em 1979, o cantador é novamente localizado no Rio Grande do Norte, pelo poeta e
pesquisador Deífilo Gurgel. Essa "redescoberta" de Chico Antônio, quase octagenário, é tema
do documentário Chico Antônio, o herói com caráter, de Eduardo Escorel. Em 1982, Chico
Antônio grava um LP para o Instituto Nacional do Folclore/Funarte, acompanhado por seu
vizinho Paulírio Sebastião da Silva, onde relembra uma série de cocos anotados por Mário de
Andrade, como "Boi Tungão", "Adeus Luquinha da Lagoa" e "Onde Vais, Helena". Chico
Antônio falece aos 89 anos, em 1993, quando se comemora o centenário de Mário de Andrade.
Em 1998, como na ficção de Vida do cantador, Chico Antônio volta a "cantar" em São
Paulo pelos músicos d'A Barca.

Chico Antônio e Paulírio Sebastião da Silva.


1.3

1.4

Sobre Chico Antônio da Vila Nova (localidade que hoje é a cidade de Pedro Velho-RN),
escreveu o pesquisador Mário de Andrade: “(...) Chico Antônio tem um valor social formidável.
É a expressão mais pura que encontrei da musicalidade litorânea do Nordeste. O canto dele
exerce a função das encantações primitivas, canto de todos num rito de dinamogenias
benfazejas. A gente se deixa encantar e não pode mais sair dali”.

A partir destas colocações feitas por Mario de Andrade, percebemos de Francisco Antônio
fez da arte uma poderosa ferramenta de provocação da humanidade, embora não tenha ido
“longe” no seu tempo, ele convida o sujeito a intrigar-se, a experienciar o comum de uma
perspectiva diferente, com ele mesmo cita nesta fala: “O coco eu não aprendi a cantá com
ninguém, fui aprendendo mais fui puxando na cabeça, do juízo”, esta é mais uma prova de que
a Cultura Popular é uma das expressões mais ricas em qualquer região do planeta. A arte do
cantador de coco é um patrimônio cultural riquíssimo.

O que está notório diante do espectador é sempre produto de uma dedicação que expande
o artista, um convite feito por suas experiências pessoais ou por paisagens culturais e políticas
que lhe transcorrem. Exatamente por este estranhamento, a arte se apresenta como um caminho
importante para incitar debates, dar visibilidade ao não-dito. Ela é um ser de percepção que
existe em si, não é constituída pelo raciocínio, nem pela percepção, não precisa de um agente
externo para lhe dar suporte, a arte faz nascer mundos sem a presença do homem.
REFERÊNCIAS

A INVENÇÃO NA ARTE. Disponível em:


<http://lounge.obviousmag.org/nostalgicas_primicias/2014/01/a-invencao-na-arte-devires-e-
sensacoes-na-filosofia-de-deleuze-e-guattari.html#ixzz5Uu0qT8R7>. Acesso em: 25 out.
2018.

CHICO ANTONIO N’A BARCA MÁRIO DE ANDRADE E OUTROS DIÁLOGOS COM A


TRADIÇÃO MUSICAL POPULAR. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0020-38742014000200419>.
Acesso em: 25 out. 2018.

FRANCISCO “CHICO ANTONIO” ANTONIO MOREIRA. Disponível em:


<http://coletivomestrepadre.blogspot.com/2015/12/francisco-chico-antonio-antonio-
moreira.html>. Acesso em: 25 out. 2018.
Outubro 29, 2018

Caro amigo,

Através de um trabalho solicitado pelo professor de Arte/Educação, conheci um pouco da


história de Francisco Antônio Moreira, mais conhecido por Chico Antônio, um cantador de
Cocos-de-embola. Ele nasceu em 1904, no estado do Rio Grande do Norte, e desde a infância
teve inclinação para a arte da música, mais precisamente para o cantar coco, um gênero musical
de grande expressão daqueles dias.
Em minhas pesquisas descobri que em sua família, cuja profissão era de agricultores, não
existiam pessoas “estudadas”, por isso seu pai lhe encaminhou para a escola em busca de um
futuro diferente (melhor) para ele, mas Chico tinha prazer mesmo era em cantas cocos. Por não
ter vocação para o estudo, deu continuidade ao oficio da agricultura, assim como os membros
de sua família. Enquanto criança, não perdia a oportunidade de ver os famosos emboladores de
coco nas grandes pelejas, sempre com esperança em um dia poder participar daqueles desafios.
Mais tarde casou-se com dona Amélia. Ainda jovem, entre os cantores de coco, se
tornou conhecido por apresentar qualidades distintas, fora do comum, assim ficou notório por
animar festas do sertão. Já não podendo mais trabalhar na enxada como havia feito sua vida
inteira, Chico faleceu no ano de 1993, na cidade de Canguaretama, no Rio Grande do Norte.
A neta de Chico Antônio, Marta Viana Moreira de Meireles luta pelos direitos autorais
do avô, e até criou um Instituto de Cultura que levou o nome de Chico Antônio, na cidade de
Pedro Velho, mas hoje se encontra desativado.
No filme estrelado pelo ator Marcos Palmeira, de nome "O homem que desafiou o
diabo" sua obra mais famosa “Boi Tungão” chegou a ser trilha sonora, o filme foi gravado no
Rio Grande do Norte. Por causa desse coco, que faz a descrição do inferno, “dizem que ele tem
um trato com o diabo”.
Foi um homem de vida poética, gostava de cachaça, de mulheres, era um bom
companheiro, afetuoso, gastador, segundo relatos. O coco que Chico Antônio gostava mais de
cantar e achava mais bonito é “Iaiá pega o Boi”. Chico preferia o improviso, sem saber bem o
que estava dizendo, também gostava de cantar o coco solto: toada quadrada, parcela, cocos de
solos pequenos; como o coco de amarração, exemplo da embolada. Preferia cantar esquecendo,
tirando as emboladas rapidamente, no momento.
O tirador de coco conheceu Mário de Andrade durante uma visita ao RN, Mario anotou
por volta de 50 cocos tirados por Chico, definiu sua voz como quente e de uma simpatia
incomparável, maravilhosa e de dicção magnífica. O descreveu como um coqueiro muito
original na gesticulação e na arte de tirar um coco, não gostava de cantar parado e nem sentado,
relatou que ele ia girando sobre si mesmo para ficar tonto com a investida que quanto mais gira
e mais tonto, mais o verso da embolada fica sobrerrealista, o via como um prodígio.
Mario de Andrade, no ano de 1943 voltaria ao cantador, transformando-o em personagem
de uma série de crônicas intituladas "Vida do Cantador", publicadas na sua coluna "Mundo
Musical", no jornal Correio da Manhã. Em 1979, Chico, aos quase 80 anos, é novamente
localizado no RN, pelo pesquisador e poeta Deífilo Gurgel, onde foi tema do
documentário Chico Antônio, o herói com caráter, de Eduardo Escorel. Posteriormente, em
1982, Chico Antônio grava um LP para o Instituto Nacional do Folclore/Funarte, acompanhado
por seu vizinho Paulírio Sebastião da Silva, onde relembrou uma série de cocos anotados por
Mário de Andrade, como "Boi Tungão", "Adeus Luquinha da Lagoa" e "Onde Vais, Helena".
Espero que através deste breve relato de parte da minha pesquisa, você, assim como eu,
admire a arte de Francisco Antônio, principalmente por representar nosso estado com o cocos-
de-embolada que até hoje podemos presenciar vivo em grupos de algumas comunidades de
nossa cidade.

Saudações,
Jéssica

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