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ENSAIO
ILHÉUS - BAHIA
2017
Literatura como instrumento para a construção de imaginários
Luiz Henrique Caracas da Silva
Introdução
É fato inegável que José de Alencar cumpriu magistralmente seu papel como
romancista brasileiro no século XIX. Além de escritor de romances, foi jornalista,
político, advogado, cronista e orador. Nascido em Messejana, Ceará, em 1 de maio de
1829, passou a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, então capital do império.
Conforme o próprio Alencar descreveu em sua autobiografia “Como e Porque Sou
Romancista”, é possível que seu páthos1 com a literatura tenha ocorrido ainda em sua
infância, quando costumava ler romances e novelas para as senhoras que frequentavam
sua casa.
José de Alencar é a expressão clara de como a produção artística escrita pode ser,
tanto o fruto de um autor que entendeu o seu público, e, portanto, tem em sua arte a
capacidade de dialogar com as afeições de seus leitores e leitoras, quanto a semente de
alguém que intenta produzir um tipo de público a partir da construção de um imaginário.
Tal intenção, no contexto do romantismo, foi marcada pela construção de uma
ideia de nação, tal como de uma língua pátria. Como refletiu Bakhtin,
1
Padecimento; sentimento que não pode ser expresso por palavras. Segundo o Houaiss, qualidade no
escrever, no falar [...] que estimula o sentimento.
histórica, regionalista e urbana, tornar-se-á perceptível a construção de um imaginário
nacional fundamentado naquilo que, sob a ótica do autor, representava o Brasil, o
indígena, o sulista, o nordestino, o sertanejo, o homem, a mulher, o negro etc. Assim,
torna-se amplamente provável o argumento de que não há literatura desinteressada, bem
como a premissa de que os textos literários são condicionados ao tempo em que foram
escritos, ao lugar social de onde se escreveu e principalmente à ideologia sob a qual o
texto é produzido.
Quando fazemos uma análise deste tipo, podemos dizer que levamos em conta
o elemento social, não exteriormente, como referência que permite identificar,
na matéria do livro, a expressão de uma certa época ou de uma sociedade
determinada; nem como enquadramento, que permite situá-lo historicamente;
mas como fator da própria construção artística, estudado no nível explicativo
e não ilustrativo (ibid., p. 15-16).
Considerações Finais
De acordo com a simples argumentação proposta acima, torna-se possível
confirmar a proposição do título deste ensaio. Como toda expressão artística, a literatura
tem a capacidade de dialogar com as emoções de seus interlocutores, e, portanto, podem
moldar a consciência, construir imaginários, formar sociedades. Cabe-nos,
consequentemente, o esforço intelectual de, na medida do possível, nos deslocarmos
enquanto leitores de textos literários para que possamos perceber que tipo de formação
discursiva tem sido o solo d’onde brotam os dizeres, as estruturas nas quais os gêneros
textuais estão expostos. Tal esforço não se resume à leitura crítica de textos literários,
mas à toda e qualquer formação discursiva, toda e qualquer produção artística,
principalmente as que se apresentarem como desinteressadas, como neutras, como única
possibilidade.
2
Indispensável, essencial.
REFEÊNCIAS:
ALENCAR, José de. Senhora, perfil de mulher. Rio de Janeiro: B. L. GARNIER. 1875.
______. Como e porque sou romancista. Portal Domínio Público. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000311.pdf>. Acesso em: 10 set.
2017.
SOARES, Ana Carolina Eiras Coelho. Nos caminhos da pena de um romancista do século
XIX: o Rio de Janeiro de Diva, Lucíola e Senhora. Revista Brasileira de História, São
Paulo, vol. 30, n. 60, p. 195-209, 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbh/v30n60/a11v3060.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2017.