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Teatro na prisão: Experiências de internos do Conjunto Penal de Juazeiro/Ba

Valdeir Gomes de Oliveira

Licenciando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São


Francisco-UNIVASF

E-mail: oliveiravaldeir@outlook.com

Palavras-Chave: Práticas educacionais; Teatro na prisão; Memória oral.

INTRODUÇÃO

O escrito que aqui se apresenta, discursa sobre a experiência de um


Licenciando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São
Francisco-UNIVASF que em seu Trabalho de conclusão de curso-TCC, traz como
lócus e sujeitos de pesquisa o Conjunto Penal de Juazeiro-CPJ, em que faço um
recorte com 10 internos que se dispuseram a participar e colaborar com a pesquisa.

Pesquiso a educação no CPJ, desde abril de 2015 possibilitado pelos


estágios supervisionados II e III, este último de regência em que atuei como
professor nas turmas de Ensino Médio com a disciplina de Sociologia em celas de
aula. A partir desse contato, identifiquei a arte como uma forte aliada nas práticas
socioeducacionais dos internos. Assim, fui analisando tais produções com um olhar
mais sensível e crítico.

Assim, comecei a analisar a relação dos internos com as produções artísticas.


Quis compreender quais são os caminhos traçados por estes sujeitos que
transgrediram regras e infringiram leis de nosso país, bem como estes se percebem
em nossa sociedade e se a arte possibilita um reflexão de si mesmo frente a
situação que se encontram. Para tanto, estou trabalhando desde maio de 2016 com
um grupo de 10 internos que se dispuseram espontaneamente a se aventurar e a
desbravar o universo do teatro, a estes chamo de Atuantes por fazer uma junção
das palavras ator e estudante, e, reconhecendo que qualquer indivíduo estando
encarcerado ou não, de certo modo atua em nossa sociedade. Dessa forma, é com
esta nova empreitada que sigo com minha pesquisa monográfica: teatro dentro de
um conjunto penal.

METODOLOGIA

Por ter formação em teatro (3 ciclos de estudo formativo em um Ponto de


Cultura em minha querida cidade Capim Grosso/BA) pude sistematizar e organizar
todo o processo e recursos metodológicos para a prática do fazer teatral no
Conjunto Penal de Juazeiro. Saliento que mais do que ministrar oficinas, minha
postura precisava ser de Professor-pesquisador. Quis saber como os internos se
veem, se percebem em nossa sociedade e, se as práticas artísticas e sócio
educacionais contribuem para estas afirmações, bem como contribuem na
construção da identidade.

De início, busquei autoras e autores que discursam sobre teatro na prisão,


que por sinal também embasam este escrito, são eles/as: Maria de Lourdes Rocha
(2008), que versa sobre seu projeto “Teatro na prisão” no Rio de Janeiro, também
Bonini et al (2006), que discursa sobre experiências teatrais de participantes
(professores, atores, internos) em presídios no estado de São Paulo e Paulo Freire
(2005) na perspectiva da educação como forma de reflexão crítica. Organizei os
encontros com os internos em oficinas teatrais, por considerar um espaço formativo
e construtor de ideias, pois mais do que estar ali para ensinar, buscava também
aprender com os internos que se dispuseram a participar.

Para dar corpo ao projeto de TCC, estruturei a pesquisa em 3 partes: a


primeira com oficinas que mediaram o mergulho no fazer teatral com as rodas de
conversas compostas pelas narrativas de vida. Após alguns estudos e
planejamentos, fui estruturando as oficinas a partir de uma sequência didática.
Nomeei-as para uma melhor compreensão, bem como para marcar cada momento
de formação. Assim, realizei 5 oficinas de preparação entre os meses de maio e
junho de 2016 com o objetivo de relacionar as práticas teatrais com as vivências dos
internos. Assim, munido de câmera fotográfica para registro de foto e vídeo, diário
de bordo, caneta, pen driver contendo músicas que foram utilizadas durante as
oficinas e, sempre com os documentos para a realização de minha pesquisa
autorizados pelada direção do CPJ e pelo Juiz da Vara de Execução Penal para
eventuais consultas.

DISCUSSÃO

Com a problemática de analisar como os internos se veem em nossa


sociedade fui em busca de questionamentos e afirmações sobre suas vivências
antes, durante e após o enclausuramento para compreensão destes
questionamentos, lanço mão de autores que discursam sobre esta problemática. A
saber, Maria de Lourdes Rocha (2008) que ao coordenar o projeto pela Unirio
“Teatro na Prisão”, teve contato direto com internos em presídios do Rio de Janeiro
e afirma que “o fazer teatral incentiva o preso a pensar sobre si e a prisão” é nesta
linha que sigo neste trabalho. Também Bonini et al (2006), que discursa sobre
experiências teatrais de participantes em presídios no estado de São Paulo, sendo
que estes integrantes contam suas experiências através da memória oral. Esta é
para Bonini:

...uma forma seletiva de contar nossas experiências passadas,


organizando uma narrativa a respeito de nossas trajetórias. A
narração se dá a partir de uma perspectiva atual,
representando, portanto, a re-significação e a transformação
dos sentidos da experiência. Dessa forma, motiva projetos
futuros, pois permite ao narrador, na relação com seus
ouvintes, reconstruir sua história identificando possíveis
continuidades. (BONINI et al, 2006, p.130)

Dessa forma, também utilizo a memória oral com o grupo de Atuantes.


Durante 3 oficinas, entre os meses de maio e junho, os Atuantes em uma roda de
conversa contaram suas histórias, seus desejos, seus sonhos em vários períodos de
suas vidas: antes de estarem enclausurados, dentro do cárcere e fora do mesmo,
aonde apresentaram perspectivas e objetivos que querem alcançar. Em meio às
falas, o retorno ao seio familiar ganhou destaque, todos eles desejam voltar para os
pais, para os filhos, para seus amores. Voltar ao trabalho, também foi bastante
proferido. Alguns até já planejam em como ter seu próprio negócio, alguns por
Juazeiro e região, outros em lugares distintos. Também ouvi de alguns sobre a
continuação dos estudos como forma de obtenção de mais conhecimento, alguns
pensam em dar continuidade até mesmo em universidades.
Possibilitado pela educação pela arte, considero de extrema importância
promover este tipo de educação que é mais livre, menos formal, mas, com disciplina
e métodos próprios. Alicerçado também em Paulo Freire, acredito em uma educação
que permita uma reflexão mais crítica de nossas próprias ações. Para tanto,
comungo da ideia de Freire (2005) que diz:

[...] a pratica da liberdade só encontrará adequada expressão numa


pedagogia em que o oprimido tenha condições de reflexivamente,
descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação
histórica. (2005, p. 07).

Por isso, afirmo que as práticas educacionais precisam caminhar na direção


para uma criticidade dos sujeitos que a fazem. É fundamental que em qualquer
contexto ainda mais em um ambiente de prisão, a educação, a arte possam ser
possibilitadoras de uma reflexão mais apurada, mais crítica e sensível das ações
dos indivíduos.

Acredito que esta minha pesquisa de TCC ajudará na contribuição de


pesquisas em prisões nordestinas, já que são escassas as pesquisas de teatro nas
prisões nesta região, também como parte de material para pesquisas e
desdobramentos do fazer teatral nos espaços prisionais, em especial na região do
Vale do São Francisco aonde se situa o CPJ, bem como das possibilidades e
potencialidades que o teatro pode proporcionar aos internos/as. E ainda, permitir
melhores compreensões a cerca do indivíduo e de sua identidade quando este está
enclausurado. Creio que esta monografia, contribuirá para um olhar mais crítico e
sensível quanto aos sujeitos que dão vida a este escrito. Aposto na ideia de uma
melhor reflexão também pelos próprios internos a partir das concepções cênicas em
que participaram. Esta pesquisa discursa sobre a percepção dos sujeitos, como
estes se enxergam, se identificam em nossa sociedade.
Considerações
A partir desse contato mais aprofundado com os Atuantes, pude compreender
os fatos, as vivências destes antes de estarem enclausurados, pude ver de perto a
dimensão do humano que existe em cada um daqueles homens errantes e
transgressores. Com as histórias de vida e com a prática teatral, percebi a
importância da educação não só a escolar, mas também pela arte para uma reflexão
mais crítica de si mesmo e da sociedade em que estamos inseridos.

Referências
BONINI. Natália, et al. Memórias dos participantes do projeto teatro nas prisões.
São Paulo: Boletim de Iniciação Científica em Psicologia, 2006.
Disponível em:
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Psicologia/boletins/7/7_
memorias_dos_participantes_do_projeto_teatro_nas_prisoes.pdf Acesso em:
02/06/16 às 21:21

FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

ROCHA. Maria de Lourdes Naylor. Teatro na prisão: uma experiência pedagógica. Rio
de Janeiro: Periódico do programa de pós-graduação em artes cênicas PPGAC-UNIRIO,
2008 Disponível em:
http://www.seer.unirio.br/index.php/opercevejoonline/article/view/601/596 Acesso em:
15/10/15 às 21:25.

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