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30/05/2019 John Locke, o pai do Liberalismo – Libertarian Space

Libertarian Space

A Blog by EDUARDO CHAVES

POLITICAL PHILOSOPHY

John Locke, o pai do Liberalismo

AGOSTO 19, 2005


EDUARDO CHAVES
1 COMENTÁRIO
Muito se fala em Adam Smith como o pai do liberalismo – com base no fato de que, em 1776, ano da
Revolução Americana, ele publicou seu clássico A Riqueza das Nações. Mas quase cem anos antes dele,
em 1689, John Locke publicou seu não menos clássico Dois Tratados sobre Governo, que havia escrito,
ou vinha escrevendo, há vários anos – provavelmente desde que passou a ser Secretário do Duque de
Shaftesbury. (Na verdade, mais do que Secretário: consultor, confidente, amigo, tutor e mentor dos netos
do Duque – inclusive do famoso Terceiro Duque de Shaftesbury, que veio a influenciar Adam Smith – e
David Hume — com sua teoria dos sentimentos morais).

Adam Smith, é verdade, deu mais atenção ao Liberalismo Econômico – a Economia de Livre Mercado.
Mas foi John Locke que fixou as bases do Liberalismo Político que, inquestionavelmente, inclui o
Liberalismo Econômico.

Há uma outra questão histórica importante e interessante. Enquanto Adam Smith publicava seu livro no
ano da Revolução Americana, fato que demonstra que sua obra não pode ter tido impacto na deflagração
da revolta das Colônias Americanas contra a Inglaterra, John Locke era muito bem conhecido dos que
fundaram a primeira República das Américas — que, na mente deles, americanos, ficou conhecida
simplesmente como America. Thomas Jefferson, o autor da Declaração da Independência das Colônias,
que oficialmente passaram a se denominar Estados Unidos da América, era um leitor atento de Locke – e
traços da influência de Locke estão presentes na própria Declaração de Independência.

Vejamos no que consiste o Liberalismo de Locke descrevendo algumas de suas teses mais importantes:

a) Locke defendia a tese de que o ser humano é naturalmente livre. Na ausência de governo, reina a
liberdade. O que caracteriza, portanto, o chamado “estado da natureza” é a liberdade – não (como
pretendia Hobbes) a guerra de todos contra todos.

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A tese da “liberdade natural” do ser humano se sustenta no argumento de que a liberdade não é um
bem outorgado por um governo, por uma autoridade civil, mas é inerente à própria natureza humana –
e, portanto, inseparável da condição humana. O homem é naturalmente livre – não naturalmente
escravo, nem, muito menos, dividido em duas classes, a dos livres e a dos escravos. É isso que se quer
dizer quando se afirma que o ser humano nasce livre – ou que foi criado livre por Deus.

É bom que se esclareça aqui que o “estado da natureza” não é, para Locke, necessariamente um estado
histórico, que tenha de fato existido e que possa ser localizado e datado. É um estado imaginado em
contraposição ao estado em que existe governo e, portanto, uma sociedade civil. Na realidade, o estado
da natureza nada mais é do que uma imaginada sociedade anárquica, sem governo.

b) A liberdade natural se expressa na forma de alguns direitos individuais básicos e inalienáveis: o


direito à vida, o direito à liberdade, e o direito à propriedade.

Na verdade, esses três direitos, no fundo, são um só: o direito à vida. O direito à vida é o reconhecimento
de que cada um é proprietário único e inquestionável de seu próprio corpo e espírito (mente) – isto é, de
si mesmo. A propriedade básica que o ser humano possui é a de si mesmo. É isso que significa o direito à
vida.

O direito à liberdade é uma explicitação desse direito à vida – é o esclarecimento de que o indivíduo tem
direito não só à sua integridade física mas à sua liberdade, que inclui o direito de se expressar como
queira, de se associar com quem queira, de ir e vir como queira, de buscar a realização pessoal (a
felicidade) como queira.

O direito à propriedade é também uma explicitação desse direito à vida: como é que posso ter direito à
minha vida, e direito à liberdade, se não tenho direito à propriedade daquilo que é fruto de meu
trabalho – daquilo que (no contexto do século XVII), não sendo de ninguém, é “apropriado” por mim na
justa medida em que eu misturo o meu trabalho com algum elemento natural (em especial a terra). Aqui
está a gênese da famosa teoria lockeana que vincula a propriedade ao trabalho exigido para transformar
a natureza.

É preciso que se esclareça aqui, especialmente contra análises marxistas, que o fundamental, em Locke, é
a liberdade, que é fundamentada na propriedade que todo indivíduo tem da própria vida. A
propriedade dos frutos do trabalho é meio necessário indispensável de preservar a liberdade,
sustentando a vida.

Locke não escreveu seus Dois Tratados exclusiva ou primariamente para defender a propriedade
privada: escreveu-os para defender a liberdade – mas a defesa desta implica a defesa daquela.

c) Locke reconhecia, porém, que, na ausência de governo, ou seja, no “estado da natureza”, a liberdade
de alguns – exatamente os mais fracos, os menos poderosos — não fica protegida. Defende, portanto, a
existência do governo, desde que este tenha, como finalidade precípua, a garantia da liberdade de todos
– ou seja, a defesa dos direitos naturais básicos que todo indivíduo possui.

A existência de um governo — ou uma autoridade civil — depende, portanto, do consentimento


daqueles que pactuam ou contratam para criá-lo. Estes, os agora cidadãos da sociedade civil, outorgam
certos poderes – poucos e limitados – ao governo em troca da garantia e da defesa da liberdade – dos
direitos individuais – de todos.

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Locke, embora fale em pacto ou contrato social, não imagina que esse pacto ou contrato seja um evento
histórico que tenha acontecido num determinado lugar e momento. O pacto ou contrato social é tácito.
Sua existência é tacitamente reconhecida quando se reconhece mais um direito — este um direito civil do
cidadão, não um direito natural do homem: o direito à rebelião, ou seja, à destituição de um governo que
está abusando dos poderes que lhe foram outorgados, indo além da garantia e da defesa dos direitos
naturais individuais.

Locke, ao defender a tese de que o estado da natureza, embora seja um estado onde reina a liberdade, é
uma condição em que a liberdade de todos não é garantida e protegida, está, na verdade, defendendo a
tese da inviabilidade da opção anarquista.

d) A teoria política liberal proposta por Locke tem, portanto, um primeiro contraponto: o anarquismo,
representado pela alternativa, sempre possível, de uma sociedade sem governo (o chamado estado da
natureza). Contra essa alternativa, Locke defende a tese da necessidade de uma sociedade civil, ou seja,
de uma sociedade com governo – ou, em outras palavras, de uma sociedade política.

Mas a teoria política liberal de Locke tem outro contraponto – talvez até mais importante. Há um outro
perigo para a liberdade além do estado livre mas anárquico da natureza – tão grande quanto este ou,
talvez, ainda maior. Esse é perigo representado pela possibilidade, contra a qual o cidadão deve estar
sempre vigilante, de que o governo criado para garantir, defender e proteger a liberdade e os direitos
individuais, extrapole essas funções assumindo outros poderes que acabam por representar um risco
maior para a liberdade e os direitos individuais do que o anarquismo do estado da natureza (em que
alguma liberdade sempre existe – pelo menos para alguns, os capazes de defendê-la na inexistência de
governo).

Essa terrível ameaça de que a própria instituição criada para garantir, defender e assim proteger a
liberdade possa ser tornar inimiga da liberdade se expressa, para Locke, em duas vertentes (claramente
relacionadas entre si).

De um lado, está a vertente do poder absoluto, e, portanto, ilimitado do governo. A luta de Locke contra
o absolutismo do poder estatal é bem conhecida e dispensa maior explicitação. Basta dizer que tão
conhecida quanto seus Dois Tratados é sua Carta sobre a Tolerância, em que defende a liberdade
religiosa contra a pretensão do estado de determinar a religião que os cidadãos podem e devem praticar.

Na realidade, a tese é claramente defensável de que o Liberalismo de Locke tem raízes mais profundas
na defesa da liberdade religiosa, que implica a liberdade de consciência, ou seja, do pensamento e de sua
expressão, do que na defesa da propriedade privada – embora, como vimos, para ele as duas estejam
intrinsecamente associadas.

No estado absolutista, o indivíduo não é cidadão: é súdito. Nele o indivíduo perde sua liberdade por
inteiro. Só o detentor do poder estatal é livre e soberano. O indivíduo, para todos os fins, é súdito, o que
equivale a escravo. Ele não tem direitos: tem apenas deveres. Na verdade, tem apenas um dever:
obedecer às determinações do detentor do poder estatal.

É evidente, portanto, por que Locke se opunha ao absolutismo do poder estatal.

Mas qual é a outra vertente que, no entender de Locke, faz com que o governo venha a representar uma
ameaça para a liberdade? É a tese do estado “patriarcal”. Na verdade, o primeiro dos dois Tratados (em
geral menos prestigiado que o segundo) é todo ele um ataque à teoria patriarcal do estado defendida
por, entre outros, Robert Filmer.

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30/05/2019 John Locke, o pai do Liberalismo – Libertarian Space

Embora alguns autores, como Nathan Tarcov (Locke´s Education for Liberty) afirmem que a tese de
Filmer pareça hoje “irrelevante e absurda” (p.9), ela, a meu ver, está longe de ser irrelevante e absurda
hoje. Vou mostrar por quê.

A tese de Filmer se chama de “patriarcalismo” por uma razão simples e facilmente inteligível. Segundo
ele, há uma clara analogia entre o poder do estado sobre seus súditos e o poder do pai sobre seus filhos –
daí o rótulo de patriarcalismo.

Eis um resumo exemplar da tese de Filmer, em suas próprias palavras:

“Se compararmos os deveres naturais de um Pai com aqueles de um Rei, veremos que esses deveres são
idênticos, não tendo nenhuma diferença – a não ser em sua abrangência, na extensão que cobrem. Como
um Pai para com sua família, o Rei, como pai de muitas famílias, tem o dever de preservar, alimentar,
vestir, instruir e defender toda a comunidade do reino. . . . Assim, os deveres de um Rei se resumem no
cuidado paterno e universal do seu povo” (apud Tarcov, op.cit., p. 11 – ênfase acrescentada).

Ora, essa tese só é “irrelevante e absurda” por usar uma analogia – e, portanto, uma terminologia – que
caiu em desuso: a comparação dos poderes do governante com os poderes do pai de família. Mas, em
sua essência, o que é a tese de que o governo “tem o dever de preservar, alimentar, vestir, instruir e
defender” todos os cidadãos senão aquilo que é expresso pelos defensores da doutrina do “estado
previdenciário” ou do “estado do bem-estar social”, que tem como dever prover o cidadão com saúde,
educação, seguridade social, e, quando não, com alimento, vestimenta, moradia, transporte e sabe-se lá
mais o que (a lista dos chamados “direitos sociais” cresce a cada dia). Embora o termo não seja usado
com freqüência, a doutrina do estado previdenciário ou do estado do bem-estar social é profunda e
inerentemente patriarcalista: considera os cidadãos como crianças incapazes que não têm condições de
prover para si próprias aquilo que é indispensável para a vida.

Assim, longe de ser “irrelevante e absurda”, a tese do patriarcalismo, que Locke sagazmente combateu,
está presente, com outras roupagens, hoje em dia – e mais do que presente: está extremamente bem
difundida. Na realidade, apesar de os esquerdizantes dizerem que o Liberalismo é hoje o pensamento
hegemônico (chamado de “pensamento único”), a realidade mostra que é a tese patriarcalista do estado
previdenciário ou do bem-estar social que está muito mais próxima de ser hegemônica hoje do que a tese
liberal lockeana.

Disse atrás que as duas vertentes combatidas por Locke como ameaças à liberdade – na realidade, mais
do que ameaças: incompatíveis com a liberdade –, a do poder estatal absoluto e a do poder estatal
paternalista, estão claramente relacionadas entre si, embora Locke não tivesse como ver isso com clareza.

A tese do poder paternalista do estado gera, como vimos, reivindicações crescentes de “direitos sociais”
adicionais que, se atendidos, fatalmente levam o estado a assumir poderes absolutos sobre os cidadãos,
transformando-os em súditos, totalmente dependentes do estado para tudo. Friedrich von Hayek viu
isso com clareza no século XX, registrando sua tese no também clássico O Caminho da Servidão (1944): o
Socialismo pode até começar com boas intenções, mas, independentemente das intenções, seu resultado
inevitável é o totalitarismo estatal, com a inevitável perda da liberdade dos cidadãos, transformados em
súditos dependentes do estado para tudo.

Para terminar este artigo já longo, devo concluir que Locke não só foi o pai do Liberalismo dito Clássico
mas seu pensamento, até hoje, é extremamente relevante – porque as teses que combateu ainda fazem
parte do ideário do século XXI, mais de 300 anos depois de ele ter escrito sua obra prima em defesa do
Liberalismo.

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30/05/2019 John Locke, o pai do Liberalismo – Libertarian Space

Em Campinas, 20 de agosto de 2005 (data do 38º aniversário de minha primeira chegada aos Estados
Unidos)

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Um comentário sobre “John Locke, o pai do Liberalismo”

eliana braun disse:


ABRIL 9, 2010 ÀS 8:01 PM
gostaria de saber qual foi a verdadeira relação entre locke eo liberalismo político!!!mais precisamente!

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